Universidade Federal do Maranhão-UFMA Centro de Ciências Biológicas e da Saúde-CCBS Disciplina: Pediatria Parasitoses Intestinais São Luís 2008 Introdução • • • • • • Problema mundial de saúde pública Cerca de 55% das crianças do Brasil são poliparasitadas Considerada doença emergente em imunossuprimidos Sintomatologia variada Podem levar à desnutrição Sempre atentar durante início de corticoterapia. “Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmam que mais de 2 bilhões de pessoas hoje estão infectadas com algum tipo de verme ou parasita. Estima-se que 60% dessas infecções têm associação a deficiências nutricionais, principalmente carência de ferro e vitaminas. Além disso, 2/3 da mortalidade mundial têm relação com doenças de veiculação hídrica, como as parasitoses.” Introdução NO MUNDO: • 50% está infectada por parasitos (Penna, 2002) • 25% tem ascaridíase (Motta et al., 2000) • 0,5 a 20% tem giardíase (Motta et al., 2000) • 500 milhões têm amebíase (Motta et al., 2000) NO BRASIL: • 30,9% das crianças apresentam parasitose, mais comumente ascaridíase, giardíase e tricuríase. Poliparasitismo em 13,1% (Bresolin et al., 1996) Introdução • Maior prevalência: – Saneamento básico inadequado – Baixo nível de renda familiar e educação – Baixa qualidade dos serviços de saúde • Maior repercussão e gravidade: – – – – – – Idade Estado nutricional Hábitos de vida Imunocompetência Doenças associadas Carga e virulência da cepa infectante Introdução • Suspeita = Epidemiologia • Maioria assintomática ou com sinais clínicos discretos Principais agentes • Protozoários Entamoeba hystolitica Giardia lamblia • Helmintos Ascaris lumbricoides Ancylostoma duodenale e N. Americanus Strongyloides stercoralis Enterobius vermicularis Trichurus trichiura Taenia solium e T. saginata Amebíase • Infecção: ingesta de água ou alimento contaminados com cistos • Habitat: mucosa e submucosa do cólon Entamoeba hystolitica Amebíase • Quadro clínico: – Colite disentérica aguda: dor abdominal, diarréia líquida com muco e sangue. Pode estar associada a tenesmo, vômitos, flatulência e febre. – Forma raras: abcesso hepático, perfuração intestinal e meningite amebiana Diagnóstico: pesquisa de trofozoítos ou cistos do parasita em 1-fezes (EPF: Faust, Richtie ou MIF) , 2-aspirados ou raspados obtidos pela EDA ou proctoscopia, 3-aspirados de abcessos ou 4-cortes de tecidos. Giardíase • Infecção: ingesta de água ou alimento contaminados com cistos • Habitat: epitélio do duodeno e jejuno Giardia lamblia Giardíase • Quadro clínico: – Diarréia com cólica – Fezes explosivas, fétidas com muco – Associada a anorexia, náusea, vômito, distensão abdominal e flatulência – Pode evoluir com esteatorréia e má absorção intestinal (retardo do crescimento) Diagnóstico: achado de cistos ou trofozoítos no EPF (Faust) ou identificação de trofozoítos no fluido do aspirado duodenal. Pelo menos 3 amostras para uma boa sensibiliade. Tratamento • Amebíase – Metronidazol: 35-50mg/kg/dia divididas em 3 tomadas por 5-10 dias Repetir com 20 dias – Secnidazol: 30mg/kg/dia máximo de 2g Dose única Tratamento • Giardíase – Metronidazol: 15-20mg/kg/dia divididas em 2 tomadas por 7-10 dias – Secnidazol: 30mg/kg/dia máximo de 2g Dose única Ascaridíase • Infecção: ingesta de água ou alimento contaminados com ovos • Habitat: duodeno e jejuno Ascaris lumbricoides Ascaridíase • Quadro clínico: – Dor abdominal tipo cólica, distensão abdominal, flatulência, náusea, vômitos, anorexia e comprometimento do estado nutricional – Complicação: obstrução intestinal por enovelamento dos vermes, migração para orifícios naturais (árvore biliar e pancreática) Diagnóstico: achado de ovos no EPF, através dos métodos de sedimentação (ovos inférteis ) Lutz ou Hoffman ou método de suspensão (ovos férteis) como o de Faust. Ascaris lumbricoides visualizada durante colonoscopia Obstrução intestinal por Ascaris lumbricoides Ascaridíase • Tratamento – Mebendazol 100mg, 2x/dia por 3 dias Repetir após 21 dias – Albendazol 400mg dose única Repetir após 21 dias A partir de 2 anos – Semi-obstrução intestinal: óleo mineral (40 a 60mL/dia até eliminação pelo ânus) piperazina (50-100mg/Kg/dia por 2 dias) Ancilostomíase • Infecção: penetração de larvas pela pele do ser humano (espaços interdigitais ou folículos pilosos) • Habitat: duodeno e jejuno proximal Ancylostoma duodenale Ancilostomíase • Quadro clínico: – Dermatite; diarréia com muco, raramente com sangue; dores abdominais; anorexia; náuseas e vômitos; retardo do crescimento; sopros cardíacos; pneumonite; melena nos casos graves – Anemia microcítica hipocrômica = polifagia e geofagia (espolia 0,5ml de sangue p/ verme p/ dia) Diagnóstico: achado de ovos no EPF, através dos métodos Lutz, Willis ou Faust. Realizando também a contagem de ovos pelo Kato-Katz. Ancilostomíase • Tratamento (= Ascaridíase) – Mebendazol 100mg, 2x/dia por 3 dias Repetir após 21 dias – Albendazol 400mg dose única Repetir após 21 dias A partir de 2 anos Estrongiloidíase • Infecção: penetração de larvas filarióides na pele sã do homem – Auto-infestação interna externa • Habitat: mucosa duodenal e jejunal Strongyloides stercoralis Estrongiloidíase • Quadro clínico: – Diarréia crônica ou intermitente com ou sem sangue, dor epigástrica em queimação, dermatite – Graves: síndrome de má absorção ou enteropatia perdedora de proteínas = diarréia profusa e esteatorréia Diagnóstico: achado de larvas rabditóides no EPF, pelo método de BaermannMoraes. EDA pode auxiliar. Nos casos disseminados identifica-se larvas em qualquer tecido ou fluido orgânico. Estrongiloidíase • Tratamento – Tiabendazol 50mg/kg/dia dose única ou em duas tomadas por 3 dias Repetir após 7 dias – Albendazol 400mg/dia por 3 dias Repetir após 2 semanas Síndrome Löeffler Necator americanus Ancylostoma duodenale Strongyloides stercoralis Ascaris lumbricoides NASA • Fase larvária pulmonar: crise asmática ou pneumonia intersticial caracterizada por febre, prostração, tosse improdutiva e dor torácica (desaparecem espontaneamente após 1semana) • Grande quantidade de parasita ou reinfecções freqüentes: hepatomegalia e dor Hipocôndrio D (passagem da larva pelo fígado) Enterobíase ou oxiuríase • Infecção: ingestão de ovos embrionados Fômites Comum auto-infestação • Habitat: mucosa do cólon e reto Enterobius vermicularis Visualização durante colonoscopia Enterobíase ou oxiuríase • Quadro clínico: – Dor abdominal, náuseas, anorexia – Fezes mucossanguinolentas e tenesmo – Prurido anal ou vulvar: migração do verme principalmente à noite devido o calor do corpo hospedeiro. Podendo resultar: lesões cutâneas locais, proctite, vulvovaginite, endometriose e salpingite. Diagnóstico: Principalmente clínico! Pesquisa direta na região perianal pelo método de Hall (swab anal) ou método de Grahan (fita gomada) seguida da leitura em microscópio. Ou material extraído das unhas das crianças. Enterobíase ou oxiuríase • Tratamento (= Ascaridíase e Ancilostomíase) – Mebendazol 100mg, 2x/dia por 3 dias Repetir após 2 semanas – Albendazol 400mg dose única Repetir após 2 semanas A partir de 2 anos Tricuríase • Infecção: ingestão de água ou alimentos contaminados com ovos • Habitat: ceco e cólon ascendente Trichurus trichiura (ovo) Tricuríase • Quadro clínico: – Leve: anorexia, irritabilidade, desconforto e distensão abdominal, náuseas, flatulência e diarréia – Moderado: colite crônica com dor no abdômen inferior e perda de peso + os sintomas anteriores – Grave: diarréia profusa, sanguinolenta com muco e pus, dor epigástrica, cólica, vômitos, tenesmo urgência e prolapso retal Diagnóstico: Pesquisa de ovos (forma de “barril”) nas fezes – Lutz, Faust ou Kato-Katz Tricuríase • Tratamento – Mebendazol 100mg, 2x/dia por 3 dias – Pamoato de Oxipirantel 10mg/kg dose única – Albendazol 400mg dose única A partir de 2 anos Teníase • Infecção: ingestão de carne crua ou mal passada de suínos e bovinos • Habitat: jejuno T. solium e T. saginata Teníase • Quadro clínico: – T. saginata costuma ser mais sintomática – Hipo ou hipersecreção de muco, alterações da motilidade, requerimento nutricional do verme e fenômenos tóxico-alérgicos. – Tontura, fraqueza, insônia, náusea, vômitos, distensão e dor abdominal, cefaléia, irritabilidade, anorexia ou bulimia – Queixa comum é a ansiedade e preocupação de ter visualizado “algo estranho se mexendo” nas fezes ou roupa de cama Teníase • Quadro clínico: – Cisticercose Humana: principal apresentação é no SNC • Epilepsia com crises generalizadas ou focais • Hidrocefalia com sinais de hipertensão intracraniana: cefaléia, náuseas, vômitos, borramento da visão, papiledema e rebaixamento do nível de consciência. Diagnóstico: Encontro das proglotes nas fezes - tamização fecal (T. Solium). Visualização direta de proglotes na região perianal ou encontro de ovos pelo método de Graham (T. saginata). Teníase • Tratamento – Praziquantel 10mg/kg dose única Repetir se continuar eliminando as proglotes – Neurocisticercose • Praziquantel 50mg/kg/dia por 21 dias • Associar: corticóide ( reação inflamatória-morte dos parasitas) e anticonvulsivante Recomendações Finais - Cura: ausência de sintomas e parasitológico repetidamente negativo - Em caso de poliinfecção: tratar primeiro Áscaris e Estrongilóides - Sempre atentar para pacientes que irão receber terapia imunossupressora.