A AFETIVIDADE AMPLIADA ENQUANTO META-TEORIA:
BREVE ENSAIO ACERCA DO QUE NOS FAZ HUMANOS E
REPERCUSSÕES PARA A PSICOLOGIA
Extended Affectivity as a meta-theory: A brief essay about
what make us humans and its repercussions to Psychology
RENÉ SIMONATO SANT’ANA-LOOS1
[email protected]
HELGA LOOS-SANT’ANA2
RESUMO
Defende-se que a falta de uma definição precisa do que, substancialmente, faznos humanos traz sérios problemas à Psicologia, contribuindo para sua
fragmentação e pulverização conceitual. O Sistema Teórico da Afetividade
Ampliada (STAA), tomando como referência o princípio instrumental do
desenvolvimento, apresenta a noção de “evolução invertida ou espelhada” do
ser humano e explica nossa atual condição de “transitoriedade” e
“instabilidade”. Enfatiza, ainda, o papel de uma meta-teoria no esforço de
integralização dos conhecimentos.
Palavras-chave: Psique Humana;
Afetividade Ampliada; Meta-Teoria.
Evolução;
Desenvolvimento
Humano;
ABSTRACT
The lack of a precise definition of what, essentially, makes us human beings
creates serious problems for Psychology, contributing towards its fragmentation
and conceptual pulverization. Stemming from the instrumental principle of
development, the Theoretical System of Extended Affectivity (TSEA) presents
the notion of “inverted (or mirrored) evolution” for humans and explains our
current condition of “transition” and “instability”. The role of a meta-theory in the
efforts of integration of knowledge is also here pointed out.
Keywords: Human Psyche;
Affectivity; Meta-Theory.
1
Evolution; Human
Development;
Extended
Graduado em Filosofia (UFPR); Mestre em Educação, linha de pesquisa: Educação, Cultura e
Tecnologia (UFPR); Doutor em Educação, linha de pesquisa: Cognição, Aprendizagem e
Desenvolvimento Humano (UFPR). E-mail: [email protected]
2
Graduada em Psicologia (UFRN); Mestre em Psicologia, área de concentração: Psicologia
Cognitiva (UFPE); Doutora em Educação, área de concentração: Psicologia, Desenvolvimento
Humano e Educação (UNICAMP). Professora do Departamento de Teoria e Fundamentos da
Educação e da Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Paraná. E-mail:
[email protected]
A AFETIVIDADE AMPLIADA ENQUANTO META-TEORIA:
BREVE ENSAIO ACERCA DO QUE NOS FAZ HUMANOS
E REPERCUSSÕES PARA A PSICOLOGIA
As dificuldades, como as montanhas,
aplainam-se quando avançamos por elas.
(ÉMILE ZOLA).
1 Da Dificuldade de Compreensão Integral do Conceito de Psique e do
Estabelecimento da Psicologia
A questão que aqui se examina é a dificuldade do estabelecimento de um
consenso acerca do que nos faz humanos – nossa identidade fundamental – e,
por conseguinte, da presente da desarticulação interna na Psicologia,
referencialmente à teorização do seu objeto primordial, a psique. Tais
dificuldades emergem, sobretudo, da igual complicação que se torna estabilizar
a apreensão conceitual objetiva de tal objeto. A psique é uma manifestação
que, por apresentar tanta complexidade, parece não ter fronteiras muito claras
e nítidas ou de normalização que possam ser estabelecidas convictamente. O
resultado disso é uma história, ligada à construção de uma lógica disciplinar, de
múltiplas possibilidades teóricas. Ao que se alia o fato de que essas diversas
teorizações, referentes à psicologia humana, travam uma verdadeira batalha
acerca da supremacia paradigmática para a delimitação do objeto (científico)
dessa ciência.
A confusão e a disputa são tantas que algumas linhas teóricas chegam a
por em dúvida que o objeto da Psicologia deva ainda se denominar psique.
Isso ocorre principalmente por se buscar fugir de certa tradição “subjetivista”
ligada a essa palavra, desde a Antiguidade (ARISTÓTELES, 2006a).
Etimologicamente significando „sopro‟ – em referência à ideia de alma, espírito
ou mesmo mente, como algo inapreensível fisicamente –, a psique, entremeios,
tem sido “substituída” por enviesamentos ligados à dita objetividade científica: à
percepção conceitual observável e determinável empiricamente. Neste sentido,
podemos encontrar vieses científicos na Psicologia ligados a termos ou
concepções como:
 Energia primitiva: princípio ligado à pulsão enquanto meta de supressão
de um estado de tensão ou excitação corpórea em um processo dinâmico
e retroalimentador;
 Mente: base de pesquisas direcionadas, sobretudo, para o sentido de
„faculdade intelectiva‟, ou seja, da mente enquanto conjunto de
manifestações intelectuais ou pensamento;
 Cérebro: obliquidade derivada às questões orgânicas, amparando-se,
sobretudo, nas neurociências;
 Comportamento: inclinação que busca compreender basicamente como
se condicionam os princípios da funcionalidade humana;
 Cognição ou cognitivismo: viés com inclinação principal para o sentido do
raciocínio (lógico-matemático) como base da tentativa de explicação dos
fenômenos intelectivos;
 Humanismo: corrente ligada à ideia da busca da compreensão do homem
enquanto agente singular e especial da natureza, como ser de
transformação da realidade natural e social por meio de seu livre-arbítrio;
 Materialismo sócio-histórico: ligado à ideia de que o homem é formado
(ou
se
realiza)
quase
que
exclusivamente
pela
busca
da
existência/sobrevivência em sociedade e que isso se dá historicamente;
 Emoções e sentimentos: visão que busca sustentar que o ser humano é
necessariamente movido por emoções, sentimentos e paixões, e que seu
entendimento permite compreender, igualmente, os indivíduos;
 Desenvolvimento: ponto de vista que defende o princípio da mente
humana como um devir de contínua adaptação e evolução, sempre em
busca da homeostasia.
Desse modo, temos uma pulverização de perspectivas acerca da
condição humana enquanto ser psicológico. Mas não é só isso. Não bastando
um rol de enviesamentos que parecem não se esforçar devidamente em se
integralizar na definição do objeto da Psicologia, ainda se observa outra
divisão, que tem um alcance ainda mais amplo dentro da ciência como um
todo: o dualismo, que tem por consequência a dicotomia da realidade entre
materialismo e idealismo, o que também abarca a dicotomia entre
funcionalismo e estruturalismo. Assim, além das obliquidades conceituais do
objeto de estudo, há uma divisão doutrinária entre os que desejam estudar o
fenômeno psicológico. No que se configura, de um lado, um caminho que
permeia a subjetividade – por parecer ser esta a manifestação mais comum da
psique –, o que leva, na maior parte das vezes, a desconsiderar o mundo
concreto e funcional. E, por outro, um enviesamento que busca se fundar
exclusivamente na objetividade material, ignorando o caráter metafísico do
funcionamento psicológico, que lhe subjaz e lhe dá sentido.
Evidentemente,
cada
um
dos
termos
ou
concepções
citadas
anteriormente já é, digamos, essencialmente, mais ligados ou ao idealismo ou
ao materialismo. Contudo o problema se alastra quando há derivações para o
seu sentido aparentemente antagônico sem o máximo de cuidado em se
estabelecer o alicerce de conexão entre tais elementos dicotômicos; por
exemplo, um “materialismo sócio-histórico subjetivista” – como poderiam ser
consideradas
algumas
tendências
teóricas
baseadas
no
Pensamento
Complexo de Morin (2003, 2005, 2010); ou um “desenvolvimentismo
materialista” – que parece ser um dos alicerces da Psicologia Social e,
também, vem se demonstrando enquanto fundamento para a Educação
Integral (LOOS-SANT‟ANA, SANT‟ANA-LOOS, no prelo) –, entre outras
possibilidades.
Isso tudo nos leva a um quadro bastante caótico no discernimento da
ciência psicológica. Talvez seja por esse motivo que venha emergindo uma
tendência de certa negação teórica nos trabalhos de pesquisa que se vinculam
à Psicologia. Nestes estudos, a regra básica é “discernir” empiricamente algum
fenômeno psicológico atrelado à vida social; como, por exemplo, o bullying na
escola ou as questões de gênero. Frequentemente, em tais casos, observa-se
pouco ou nenhum aprofundamento teórico originado na ciência psicológica
como guia das análises dos dados, ficando apenas certo enquadramento dos
dados no rol das perspectivas de cunho social, ou seja, em uma análise
predominantemente
funcional,
sem
apreensão
estrutural
(teórica)
dos
fenômenos psicológicos.
Assim, segundo tal postura, os dados “dizem por si mesmos” o que
devem significar. E “indicam”, por via do sentido funcional da realidade (por
exemplo, do desenvolvimento histórico-cultural ou das lutas de classe, etc.)
como devem ser analisados. Desse modo, igualmente, os dados “demonstram”
os caminhos a serem seguidos dos e para os mesmos em relação a algum tipo
de uso prático (intervenção) a partir do nicho (ou tipo de nicho) onde a
pesquisa foi conflagrada.
Decerto que esse modo de investigação tem seus méritos. Todavia, é
possível localizar alguns indícios de incompletude científica. Isto é, dificilmente
a analiticidade dos dados irá proceder ao diálogo científico, em um sentido
mais amplo. Pois, se se prescindir de um referencial teórico intimamente ligado
ao objeto de estudo, logo sem um adequado aprofundamento na discussão
científica, o tema pode não ser adequadamente localizado e explorado, a
despeito do cuidado – por vezes exagerado – em se delimitar o recorte de
pesquisa; já que tal trabalho de demarcação precisa ser feito na sintonia
estrutural (teoricamente) e funcionalmente (na realidade). Tudo isso porque a
ciência, acima de qualquer coisa, faz-se por meio do diálogo científico, da
“lapidação” argumentativa: o ajuizamento da universalidade conceitual que
deve emergir de toda cientificidade (ARISTÓTELES, 2006b; KUHN, 2011;
POPPER, 1975). Por isso, podemos dizer que tal postura “a-teórica” é mais um
dos enviesamentos que dificultam o estabelecimento da Psicologia enquanto
uma ciência unificada e bem constituída (VYGOTSKI, 1991; SANT‟ANA-LOOS,
2013).
2 A Afetividade Ampliada3 da Realidade da Identidade Humana
Assim, a propósito da dificuldade da articulação interna na Psicologia,
apresentamos (e defendemos) o resultado dos nossos esforços para contribuir
no avanço rumo, quem sabe, à unificação dos vieses teóricos desta disciplina.
Trata-se da demarcação da Afetividade Ampliada enquanto uma meta-teoria
psicológica. Nesta ocasião, contudo, não iremos nem definir especificamente a
concepção teórica mais abrangente da Afetividade Ampliada nem mesmo o
sentido íntimo (epistemológico) do conceito de meta-teoria, pois já os fizemos
em outros momentos4. Sobretudo, buscaremos denotar tanto a importância da
unificação das tendências teóricas em Psicologia quanto a função de uma
meta-teoria para esse propósito, além de como localizar o possível papel da
Afetividade Ampliada nesse processo.
3
Nome reduzido do Sistema Teórico da Afetividade Ampliada, aporte teorizado pelos próprios
autores deste artigo; vide outras obras das Referências.
4
Ver os outros artigos deste Número Temático da Revista PsicoDom, sobretudo o Sistema
Teórico da Afetividade Ampliada: breve síntese epistemológica. Também recomendamos
aos interessados nossas obras acerca da Afetividade Ampliada. São cinco livros, que ainda
estão no prelo; mas o primeiro deles, Introdução ao Sistema Teórico da Afetividade
Ampliada, está sendo lançado pela Editora Juruá.
Para tanto, construímos nosso argumento no presente trabalho por meio
de três noções fundamentais. A primeira noção que perfaz nossa tese diz
respeito ao diálogo científico, e de como ele, às vezes, mutila a compreensão
de fenômenos mais ou menos óbvios, como a nossa própria identidade
humana. Buscando superar tal “truncamento”, explanaremos acerca da base
de plasticidade que configura a identidade humana.
A segunda delas ensaia o motivo que instiga a fragmentação e o dualismo
nas concepções teóricas psicológicas, a partir da apresentação da tese de que
o ser humano ainda não alcançou estabilidade evolutiva no que o faz
característico, em sua psique. Há, então, a perspectiva de um momento de
transitoriedade, logo de instabilidade; localizado, sobretudo, na disjunção do
conceito de escala na relação entre a evolução humana e a da natureza de
modo geral. Com isso, esperamos que sejam compreendidas as implicações
da necessidade de circunspecção de uma meta-teoria, como defendemos ser o
caminho do entendimento da psique, por excelência.
Por fim, a terceira noção é a síntese do papel de uma meta-teoria
psicológica, com o que evidenciaremos algumas perspectivas que julgamos
fundamentais para, enfim, podermos avançar rumo a uma concepção mais
bem definida do objeto da Psicologia, a psique. Evidentemente, essa é uma
empreita e tanto, uma “longa jornada noite adentro” (O‟NEIL, 1980); por isso,
com toda a certeza, não daremos conta, neste breve manuscrito, de todos os
matizes do problema que estamos perscrutando. Porém, conforme a inspiração
da epígrafe inicial, cada passo dado adentrando-se na dificuldade poderá nos
levar ao desembaraço da problemática; nesse caso, da psique, ou seja, de nós
mesmos.
2.1 A plasticidade da identidade humana
O que nos faz humanos? Evolutivamente, conforme pesquisas recentes e
de ponta, estão “as pistas na linguagem” (POLLARD, 2013, p. 32),
característica desenvolvida nos humanos de forma singular. Isto é, conforme
nossos parâmetros de observação da realidade, tende a ser considerada
superior, ou mais bem elaborada pela seleção natural. De forma complementar,
também podemos dizer que o que nos caracteriza é a abstração, o
pensamento: uma espécie de “outra face da mesma moeda” em relação à
linguagem (DEVLIN, 2004, 2009; VYGOTSKY, 1984, 1993; LOOS-SANT‟ANA,
SANT‟ANA-LOOS, no prelo; SANT‟ANA-LOOS, LOOS-SANT‟ANA, no prelo).
Mas o que vem a ser essa conjecturada distinção evolutiva humana em
comparação às outras espécies? Será, de fato, possível se fazer uma
dicotomização pontual entre nós, humanos, e o “restante” da natureza, como
toda a tradição do conhecimento, tanto religiosa quanto científica, sempre fez?
Em certa perspectiva podemos dizer que sim, e a consideração de que
podemos sentir-nos “especiais”5 pode ser feita a partir da análise de como, a
partir do que somos, fazemos as coisas na “arte de sobreviver” em comparação
às ações existenciais das outras espécies:
Afinal, os animais, de forma geral, não têm dificuldades em se lançarem ao que estão
determinados a serem: animais, dentro de suas especificidades. Por exemplo, um
pássaro tem a particularidade de ser pássaro e nasce relativamente pronto para isso,
pois sabe que deve voar, alimentar-se de determinados alimentos, procriar, etc. E,
ampliando o exemplo, os joões-de-barro fabricam seu ninho sempre da mesma maneira,
com a mesma técnica, em qualquer lugar que sejam avistados, em qualquer lugar do
planeta... Ou seja, não têm dificuldades em reproduzir seu sentido de ser, no caso,
pássaro.
Já o homem, desde que nasce está “perdido”. Precisa de toda sorte de recursos para se
localizar a ser, em seu caso, humano. Necessita de afetividade, do amor dos pais, da
família, da alteridade de sua espécie; da razão, para dominar a loucura que sempre se
aproxima quando são inúmeras as possibilidades de ser; de educação, de uma
condução cognitiva para aprender a analisar a realidade, tão diversificada, segundo a
percepção humana. (SANT‟ANA, LOOS, CEBULSKI, 2010, p. 111).
Mas o que isso significa, exatamente? O que especificamente fomenta
essa aparente distinção da postura existencial entre o humano e as outras
espécies? Entremeios, haveria alguma percepção que nos está escapando
sobre nós mesmos, no traço evolutivo que nos caracteriza, e que poderia estar
fomentando toda a já mencionada espoliação da compreensão integral da
psique humana?
Evocamos tais questões porque, se há algo realmente distinto –
evolutivamente falando, logo também na constituição identitária – entre a
espécie humana e as demais, então há algo de minimamente “estranho” na
abordagem que temos dado à busca do entendimento do que nos faz
humanos. Comumente, de acordo com a ciência moderna, não há razão para
se analisar o ser humano por regras díspares das que usaríamos para estudar
outros fenômenos da natureza: biológica, química e fisicamente. Não há,
5
Isso não significa que concordemos com a postura humana que nos faz apartarmo-nos da
natureza e querer “dominá-la”, como temos feito já há muito tempo.
supostamente, outro mundo, seja ele concreto, metafísico ou espiritual, onde
as regras variem: o método moderno assume “não existir mais nem menos
senão entre os acidentes, e não entre as formas ou naturezas [das coisas
dentro de uma mesma escala de realidade]” (DESCARTES, 1999, p. 36). As
diferenças advêm tão somente de um movimento existencial relativo (nichos,
hábitos adaptativos e contextos existenciais particulares de cada grupo) e, por
conseguinte, as leis da natureza não devem descrever dois casos de maneira
diversa.
É claro que alguns autores expressam a existência de um traço
claramente distinto que só o homem teria; como é o caso, por exemplo, de
Cassirer (1999) e seu conceito de “homem enquanto animal simbólico”. Mas,
ao que nos parece, ninguém consegue apresentar um motivo adequado de
somente o homem apresentar essa derivação evolutiva. Em outras palavras, já
discernimos bastante sobre o que somos, mas não do como nos tornamos o
que somos. Em decorrência disso surgem perguntas como: Que leis naturais
específicas promoveram esse nosso principal traço, relativo à linguagem e ao
pensamento? Se são exatamente as mesmas regras evolutivas que todos os
outros seres utilizam, por que outras espécies não desenvolveram tais
capacidades de uma forma minimamente próxima a nós? O que é e de onde
vem essa perspectiva evolutiva que, aparentemente, nenhum outro ser
apresenta? Definitivamente, se não desenvolvermos um método apropriado
para averiguar a questão não conseguiremos determinar o que realmente está
envolvido no tipo de transposição evolutiva que obtivemos na derivação em
relação às outras espécies.
O problema é que se não entendermos isso, igualmente não
compreenderemos o que, de fato, dá forma ao que somos. Logo, ao não nos
determinarmos precisamente, não saberemos lidar adequadamente conosco
mesmos.
E,
não
nos
esqueçamos,
precisamos
desse
recurso
de
autoconhecimento, pois desenvolvemos os indivíduos de nossa espécie por
meio de princípios que nos autoimputamos: a partir da educação e da cultura,
os quais deveriam ser fundamentados no reconhecimento do que deve ser o
melhor para nós em consonância à nossa constituição.
Entretanto, parece haver um silêncio “calculado” dentro das ciências que
tentam compreender o princípio de nossa humanidade. Para ilustrar, façamos
um paralelo com um episódio mais ou menos conhecido dentro da história da
ciência:
Na época de Einstein, todo mundo – ou pelo menos todos os físicos – sabia que havia
algo de esquisito nisso [uma exceção clamorosa ao princípio segundo o qual as leis da
física deviam ser sempre as mesmas para qualquer estado de movimento uniforme,
referencialmente às leis da eletricidade e do magnetismo, ou eletrodinâmica]. Se o
movimento relativo era tudo o que importava, por que deveriam as leis físicas descrever
os dois casos de maneira diferente? Todo mundo sabia disso, mas ninguém comentava;
a contradição era convenientemente ignorada. Como Ronald W. Clark, um biógrafo de
Einstein, expressou, levantar questões sobre essa dificuldade “era cuspir num lugar
sagrado”.
Mas Einstein nunca foi de aceitar cegamente a autoridade, e levantou questões
incômodas. Enquanto ainda era adolescente, percebeu que havia dalgo de paradoxal
com a teoria eletromagnética aceita. Estava bem estabelecido que as ondas luminosas
eram compostas de campos elétricos e magnéticos rapidamente oscilantes. Mas e se
alguém seguisse uma onda luminosa com a velocidade da luz: nesse caso, os campos
iriam parecer imóveis, tal como uma onda no mar pareceria imóvel a alguém que voasse
sobre ela com velocidade igual à do seu deslocamento. Na ausência de cargas elétricas
e de imãs, porém, não existem campos magnéticos imóveis na natureza. Assim, se o
deslocamento com a velocidade da luz fosse possível, ver-se-ia algo claramente
impossível. (MORRIS, 1998, p. 132-133).
Tal qual Einstein na Física, queremos apontar que nas Ciências Humanas
existe algo de paradoxal nas teorizações acerca do que nos faz humanos –
sobretudo, no que concerne à compreensão da psique. Claro que,
funcionalmente, o que nos faz humanos é algum “hardcore” sobre o qual
orbitam (e laboram) a linguagem, a abstração, o pensamento, nossos recursos
simbólicos e afins6. Mas, estruturalmente, isso não pode ser explicado ao se
aplicar as mesmas regras constituintes e evolutivas das outras espécies.
Senão, alguma outra espécie, em algum dado momento, também apresentaria
algo de tais traços intelectivos. E, até onde sabemos, isso não ocorre (DEVLIN,
2004).
Talvez coincidentemente, assim como na teoria da relatividade de
Einstein, a solução para a questão que anunciamos – acerca do que,
evolutivamente, nos distingue das outras espécies e promulga nossa
identidade humana – gira em torno das noções de Escala e Perspectiva. Estes
conceitos, basicamente, podem ser a chave para a compreensão de alguns
fenômenos complicados, entre eles, a psique humana.
No sentido da Escala, ao observarmos as outras espécies em relação a
nós, poderemos nos deter no “tamanho de seus mundos”. Por conseguinte,
6
Apesar de, mesmo no nível funcional, ainda não compreendermos exatamente como (ou por
que) isso evolui, estabeleceu-se e, por conseguinte, o alcance de tais atributos.
verificamos que as interveniências que os mesmos apresentam são bem
menores, comparativamente a nós. Por esse motivo podem estabelecer (ou a
natureza o faz para elas, por meio da evolução) uma condição existencial
igualmente menor, digamos, mais “singela” no sentido da algoritmização do
que as perfaz.
Conforme Devlin (2009), as outras espécies, de modo geral, apresentam
uma espécie de “matemática natural”7, a qual as capacita a resolverem de
forma rápida, eficiente e espontânea suas questões de sobrevivência pontuais
aos seus nichos existenciais. De outro modo, podemos dizer que as outras
espécies são constituídas, cada uma ao seu jeito, por ferramentas (algoritmos)
eficazes de subsistência. Isso porque possuem técnicas até certo ponto bem
aperfeiçoadas evolutivamente; contudo, são “ferramentas” pouco resilientes,
pois estão fixadas na própria substancialidade (corporeidade) de quem as
apresenta.
Assim os outros seres, de forma geral, “coincidem” tais ferramentas – ou
“matematização natural”, ou instrumentalização pré-estabelecida, ou mesmo
seu algoritmo de ação – com suas próprias identidades: ou seja, são o que são
já nessas ferramentas. Por isso, a individuação ou determinação de uma dada
espécie – menos na humana, conforme o que aqui pretendemos defender – em
boa medida se dá por meio da evolução de um algoritmo “interno” de
sobrevivência. Ou seja, a identidade das outras espécies se dá conforme a
instrumentalização evolutivamente constituída se embute nelas, incluindo-se
nisso a conformação corpórea.
Já no ser humano ocorre algo como o inverso: sua identidade se perfaz
“externamente”, conforme as necessidades do ambiente natural e da
7
Aqui é importante denotar que, fundamentalmente, a matemática deve ser vista como um
“instrumento” processual que “[...] trata de padrões. E é de padrões que a vida é feita. [...]
Quando você ultrapassa os símbolos, a matemática, a ciência dos padrões, transforma-se em
um modo de ver o mundo, tanto o mundo físico, biológico e sociológico em que habitamos
quanto o mundo interno de nossas mentes e pensamentos.” (DEVLIN, 2009, p. 36-38). Ou
seja, a matemática é o instrumento básico de depuração de conceitos, já que refina nossa
percepção acerca das relações de proporções e a constituição, a partir disso, dos padrões. Por
conseguinte, a matemática está intimamente ligada à manipulação mais aprimorada e eficiente
da linguagem e do pensamento; isto é, da possibilidade de administração e execução eficiente
das ações existenciais. Não nos esquecendo, neste caso, que o sentido de exatidão na
matemática é muito mais amplo do que comumente aprendemos em nossa rasa formação na
Educação Básica. Se ampliarmos seu sentido, logo suas regras, localizaremos a exatidão não
especificamente nos números, mas na realidade acontecendo... e a realidade entrelaça as
coisas umas nas outras, logo os conceitos que normalizam a ideia de número são muito mais
dinâmicos, transmutando a todo instante.
complexidade com que erigimos o conceito de sociedade. Essencialmente,
desta feita, somos usuários de uma “matemática abstrata”, diferentemente dos
outros seres, que praticam uma “matemática natural” (DEVLIN, 2009, p. 243).
Com isso, e por conta de nossa escala de mundo ser bem maior (extrapolando
até nosso próprio planeta), para a qual precisamos constantemente encontrar
soluções adaptativas, temos a capacidade criativa de construir algoritmos
“externos” à nossa constituição concreta, física, corpórea. Dito de outra forma,
podemos nos considerar seres de intermediação instrumental (VYGOTSKY,
1984; 1993). Logo, nossa identidade pode ser definida a partir da cultura
instrumental por meio da qual damos conta de nossa adaptabilidade existencial
– que, socialmente falando, pode se dar de forma artística, política, religiosa,
moral, científica e, não esqueçamos, do senso comum.
Portanto, evolutivamente, podemos dizer que funcionamos por regras de
adaptação “invertida” ou “espelhada”. Isto é, enquanto as outras espécies
“esperam” a entropia8 da realidade – as múltiplas possibilidades que se
apresentam sistemicamente resultam em uma medida da variação ou
desordem do sistema em que estão inseridos – provocar atratores de
construção de uma espécie de ergodicidade9 restrita e pontual ao nicho no qual
se desenvolvem (um algoritmo particular que lhes permite solucionar a
existência), a espécie humana “assume a dianteira”, invertendo o jogo da
adaptação ao meio ambiente. Daí, por meio da observação da realidade
(ciência e consciência), os humanos discernem as possibilidades (entrópicas)
do meio e se mobilizam, essencialmente em grupo, para constituir instrumentos
(externos, não já embutidos em seu corpo como nos outros seres) que
intermediam a superação dos problemas ou desorganizações, em relação a si,
oriundas do meio (entropia).
Por isso, desejamos propor que o que temos, no caso humano, tomandose como referência tal princípio instrumental, é uma espécie de “evolução
invertida ou espelhada”. Assim, caracterizaríamos uma regra evolutiva para o
8
Para melhor compreensão deste conceito em relação à Afetividade Ampliada, sugerimos a
leitura de nosso artigo Educação Integral...? Cuidado com a Entropia...! Reflexões em
Afetividade Ampliada sobre a Educação Integral (vide Referências).
9
A capacidade, dentro de certa escala, de se verificar sistemas dinâmicos de medidas
invariantes. Adaptando tal noção ao nosso caso, evolutivo, podemos dizer que é a capacidade
da seleção natural de conformar sistemas (espécies e suas características, por exemplo) com
funcionamento invariante, ou seja, com um algoritmo processual próprio e determinado.
homem também no âmbito da Perspectiva. Isto é, o ser humano evolui em uma
perspectiva “invertida” à das outras espécies. “Despe-se” de instrumentos
substancialmente embutidos em si. Sua identidade está, funcionalmente, fora
de si. Está nas diversas culturas, adaptadas ao bem viver, construídas com
seus pares. Ou seja, uma parte da identidade humana está no resultado
diligente do exercício da linguagem e do pensamento, nas abstrações e
refinamentos matemáticos que nos habilitam a criar instrumentos que perfazem
nossas ações existenciais. A outra parte de nossa identidade é a própria
linguagem, mas agora em seu sentido pleno, conforme já buscamos explicar
em outro momento10.
Deste modo, nossa identidade não advém de um produto estrutural
“pronto”, como o que as outras espécies apresentam; ela é um processo de
plasticidade funcional que se estrutura gradualmente pela linguagem e pelo
pensamento. Assim, poder-se-ia dizer que somos “seres de linguagem e
pensamento” e seus consequentes produtos – em consonância com a
realidade, do modo homeostático. E isso significa que não temos identidade, no
sentido comum do termo: a identidade do ser humano é a não existência de
uma identidade fixa. Nossa identidade “caminha”, é “aventureira”; conforme a
linguagem e o pensamento percorrem todas as possibilidades (adaptativas) da
infinidade que é o universo. Como diz certa canção: “Somos o que podemos
ser; sonhos que podemos ter”11. Acrescenta-se, ainda, que a consciência de
uma instrumentalização “espelhada” nos leva a uma compreensão evolutiva
diferente, a saber, a da necessidade de cuidado externo tão importante quanto
o de nossa interioridade.
No
fundo,
isso
não
deveria
surpreender.
Afinal,
na
natureza,
habitualmente, quando uma reação ou processo é possível, a reação ou
processo inverso é sempre igualmente possível e comumente ocorre
(MORRIS, 1998, p. 152). Havíamos discernido uma possibilidade (a Teoria da
Evolução das Espécies, de Charles Darwin), então, deveríamos atentar à
existência de seu processo contrário, pois, em algum momento, ele se
manifestaria. E olhem a “surpresa”: tal inversão, que permite tanta plasticidade
10
Ver, para maior compreensão, outro artigo desse número especial da PsicoDom: Célula
Psíquica: a face estrutural da unidade básica da psique e da Afetividade Ampliada.
11
“Somos Quem Podemos Ser”, do grupo de rock nacional dos anos 1980, Engenheiros do
Hawaii.
existencial, está “debaixo de nossos narizes”, em nós mesmos. E o infinito –
das possibilidades de ser e das variadas formas de satisfação existencial –
pode estar ao nosso alcance...
2.2 A transitoriedade/instabilidade da identidade humana
Todavia, há certas complicações evolutivas que precisamos superar, se
quisermos que tal salto evolutivo não involua ou decaia, por conta da
complexidade que a espécie assim dotada venha a se deparar. De modo geral,
os problemas humanos giram em torno das noções de transitoriedade e
instabilidade, que dizem respeito ao fato de que o salto evolutivo que nos deu
tal plasticidade adaptativa é muito recente: “teve lugar durante os últimos
200.000 anos, talvez há apenas 75.000 anos.” (DEVLIN, 2004, p. 211). E,
comumente, a evolução estabiliza os avanços evolutivos em uma escala bem
maior, em questão de milhões de anos. Isso significa que é bem possível que
estejamos passando por uma fase de transição evolutiva, ainda não
completamente estabilizada.
Em outras palavras, a espécie humana começou seu processo evolutivo
como as outras, mas, em certa altura, deu um passo diferenciado – de
“instrumentalização invertida ou espelhada” – que, muito provavelmente, ainda
é instável, ou seja, variando entre o que era e o que está para ser. Como um
adolescente – que transita ora pelo caminho de onde veio, a infância, ora para
onde se encaminha, a vida adulta –, o ser humano, por vezes, ainda se vê
apenas como uma identidade fixa em si mesmo e, em outros momentos, toma
consciência de que sua identidade é transcendente a si, dependente do outro e
imanando-se nos instrumentos e culturas que cria. Isso gera conflitos, crises e
grande gasto de energia para o desenvolvimento (filogenético e ontogenético)
se efetivar.
Então, em vez de nos considerarmos uma espécie condenada à
“danação”, como em mitos como os de Sísifo, Prometeu e da Caixa de
Pandora, ou mesmo de Adão e Eva, entre outros que comumente aparecem
em manifestações religiosas, podemos nos ver como seres que se encontram
em transição, logo instáveis. Isso nos empurra à contradição e ao paradoxismo,
à incompatibilidade entre as várias formas da manifestação de ser que
frequentemente manifestamos. Entretanto, uma vez superada tal fase de
transição e instabilidade, poderemos ansiar a homeostase (o equilíbrio, a
estabilidade, a harmonia, a felicidade, ou como se quiser denominar o bem
viver): o devir de todos e de todas as coisas, de todos os fenômenos, de todos
os sistemas. Mas como alcançar tal estágio evolucionário? Temos algum
controle sobre isso?
2.3 O papel de uma meta-teoria, conforme a Afetividade Ampliada
De acordo com a Afetividade Ampliada diríamos que temos, sim, certo
grau de influência sobre nosso próprio desenvolvimento evolutivo, por conta de
podermos, em boa medida, criar nossa própria realidade – e isso é uma ação
meta. Para tanto, precisamos buscar estabilizar aquilo que constrói tal
realidade, ou seja, nossa psique. Aqui, novamente, entram em questão os
sentidos de Escala e Perspectiva que havíamos anunciado.
No sentido da Escala, o que deve ser levado em consideração é que
temos de lidar, ao mesmo tempo, com diversas dimensões. Por exemplo, ainda
somos, de um lado, animais como as outras espécies, então há algo de
identidade fixa em nós. Por outro, somos construtores de uma considerável
parte de nossa identidade e, nesse caso, ela é uma espécie de identidade com
“suspensão ativa”, que varia conforme o caminho que trilhamos e percorremos.
Não podemos usar somente a escala por meio da qual as outras espécies
evoluíram. Temos, concomitantemente, de perscrutar uma escala própria, que
é resiliente e, por isso, a cada momento em que se “distende”, isto é, amplia-se
nas possibilidades entrópicas da realidade, adquire uma nova possibilidade
fatorial, escalar. Portanto, precisamos desenvolver uma visão meta dos
variados aspectos em questão, para podermos, conforme seres de linguagem e
abstração que somos, concluir como os claros e distintos dados da realidade –
os que podem ser perscrutados de um modo monista, que vê a realidade como
um todo e regido por um mesmo sentido – funcionam e podem ser estruturados
(homeostaticamente) para o nosso bem viver.
Evidentemente, isso pode se tornar bastante complexo. Mas, se
pensarmos melhor, temos a opção de construir um “instrumento que
instrumentaliza os instrumentos” (!). Ou seja, podemos perscrutar um “metainstrumento” de discernimento e fomentação da estabilidade homeostática da
diversidade escalar ou dimensional. De outro modo, é preciso perquirir um
dado nível para nossa identidade primária, o pensamento e a linguagem, que
“supervisione” todas as nossas criações de intermediação com a realidade: os
instrumentos, a ciência, o conhecimento. Matematicamente, tal necessidade já
foi intuída por Gödel, por meio de sua Hipótese do Contínuo, inspirada nos
teoremas acerca da incompletude que todos os sistemas, logo todas as
escalas e dimensões, apresentam (GÖDEL, 2012; NAGEL, NEWMAN, 2007).
Neste caso, o tal “meta-instrumento” pode ser pensado como a ideia de uma
“meta-matemática” (baseada em uma “meta-abstração”), a única maneira de
resolver a possível inconsistência que cada sistema apresenta (pois ele sempre
se apresenta como incompleto), logo necessitando, para fazer sentido integral,
completar-se com o que está para além de si mesmo.
Já no âmbito da Perspectiva, é preciso avançar no entendimento do que
vem a ser um sistema evolutivo de instrumentalização, logo identidade,
“invertido ou espelhado”. Ou seja, no limite da fatoração das escalas ao nível
de determinação comum, faz-se necessário compreender as implicações de
como se afeta uma perspectiva na outra, e vice-versa. De outro modo, é
preciso discernir como as perspectivas da evolução das coisas, de seus
funcionamentos aparentemente antagônicos, completam-se umas às outras.
Enfim, faz-se necessário obter entendimento do nível de interdependência que
há entre elas, entre a perspectiva comum de evolução instrumental e identitária
das espécies e a “invertida ou espelhada”, que pode ser o parâmetro humano
de desenvolvimento e evolução. No sentido da linguagem, são as perspectivas
sintáxicas e semânticas; no do pensamento, são as perspectivas iterativas
(analíticas) e recursivas (formadoras de sínteses, de algo que faz sentido).
De modo geral, diríamos que o aparato de conhecimento que converge
todas essas noções em um “meta-instrumento” de entendimento integral da
realidade, incluindo a nós mesmo, é o monismo. Tal concepção defende a ideia
de que a realidade é constituída por um princípio único, um fundamento
elementar, sendo os múltiplos seres e seus modos redutíveis, em última
instância, a essa unidade. Deste modo, se houver tal princípio fundamental e o
mesmo for localizado e discernido, ele poderá servir como base de fatoração
das escalas da realidade, assim como de integralização de suas perspectivas.
Isso porque uma unidade elementar dessa ordem faria tudo se estabilizar em
uma “única ciência”, em uma única linha de ajuizamento das infinitas
possibilidades de manifestação da realidade, em uma homeostase de
funcionamento psíquico em relação à administração existencial. A construção
de tal aparato intelectual é o que se pode chamar de meta-teoria, já que esta
tem como função fazer de modo “externo”, em meta-abstração, aquém e além
da realidade em movimento, um apanhado geral e em denominador comum do
que tudo significa e como perfaz sentido.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Enfim, encaixar-se em tal projeto de construção de um aparato intelectual
que busque unificar, estabilizar e coordenar as várias escalas e perspectivas
da realidade é o propósito do Sistema Teórico da Afetividade Ampliada
enquanto
meta-teoria.
Para
tanto,
esforçamo-nos
em,
minimamente,
demonstrar neste artigo a importância de certo tipo de revisão em como
observamos a ciência de uma forma geral e a própria ciência que investiga (ou
deveria investigar) a “lógica da alma” de nossa identidade, a psique.
Esperamos ter argumentado convincentemente que a Afetividade Ampliada e
as premissas que apresenta não querem, de forma alguma, desfazer o que
historicamente tem sido construído pela Psicologia, a Teoria da Evolução ou
qualquer outro aspecto da ciência. Contudo, igualmente, desejamos ter
apresentado um raciocínio suficientemente coerente e instigador acerca da
necessidade e da possibilidade de integralizar diversos dados e conhecimentos
sobre a realidade, e avançar neles. Isso a despeito das dificuldades e da
complexidade do que está em questão, principalmente quando nos referimos
ao autoconhecimento humano, sempre tão recheado de controvérsias.
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