V Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Santo Domingo, Rep. Dominicana, 24 - 27 Oct. 2000 V Congresso Internacional do CLAD Simpósio REIGAP, 2000 Santo Domingo, outubro de 2000 Um plano de formação de agentes estratégicos: uma proposta transdiciplinar Geraldo Tadeu Moreira Monteiro Coordenador Geral Programa de Estudos Políticos Núcleo Superior de Estudos Governamentais Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil 1 APRESENTAÇÃO A formulação deste Plano de Formação para os agentes estratégicos do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro é parte componente do Projeto de Capacitação Institucional desenvolvido pela Fundação Escola do Serviço Público (Fesp-RJ) com apoio da CAPES. Concebido a partir das linhas mestras determinadas por aquele Projeto, resulta igualmente da análise dos seguintes documentos: 1) Emenda Constitucional nº 19, de 4 de junho de 1998 2) Plano Diretor da Reforma do Estado, adotado pela Câmara Superior de Reforma do Estado, em 21 de setembro de 1995 3) Plano Nacional de Capacitação dos Servidores, adotado pelo Ministério da Administração e da Reforma do Estado (MARE) 4) Plano de Formação da Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) 5) Plano de Formação do Instituto Nacional de Administración Pública (INAP), órgão do Ministério de Administraciones Públicas da Espanha Subsidiariamente, foram consultados o Projeto de Capacitação Institucional desenvolvido pela FESP-RJ, com apoio da CAPES e ainda o Relatório Final da pesquisa Obstáculos e Fatores Favoráveis, Transformações do Estado Contemporâneo e Formação do Servidor Público, do Prof. Alberto Carlos Almeida, desenvolvida no âmbito do Projeto de Capacitação Institucional da Fesp. 2 INTRODUÇÃO As profundas transformações por que têm passado os processos de produção em razão do impacto das novas tecnologias de informação e de comunicação, associadas às mudanças da Ordem Internacional, com a crescente transnacionalização econômica, a integração política e a dissolução dos antigos blocos militares, tiveram como uma de suas mais importantes conseqüências o questionamento do papel tradicionalmente atribuído ao Estado. Este, compreendido como motor do desenvolvimento econômico, de matriz keynesiana, interventor nos domínios social e econômico por intermédio de empresas estatais e de um sistema universal de seguridade social, regulador do mercado de trabalho e do consumo pelas políticas econômicas de controle de salários e de preços, sofreu, a partir dos anos 70, duras críticas e diversas tentativas de reformulação. O processo de globalização e os processos de integração econômica regional alteraram profundamente o modo de operação dos Estados. A transnacionalização dos mercados financeiros provocou grandes concentrações de capital e, conseguentemente, grandes desequilíbrios. Os Estados Nacionais viram-se reduzidos ao papel de co-participantes deste mercado, atuando como 1 V Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Santo Domingo, Rep. Dominicana, 24 - 27 Oct. 2000 coadjuvantes na manutenção de um precário equilíbrio, como demonstraram as crises recentes (México, 1996, Ásia, 1997 e 1998). As novas tecnologias de Informação e de Comunicação (ICT), largamente difundidas a partir de meados da década de 80, graças ao avanço da comunicação via satélite ou por cabos, a implantação de fibras ópticas, a abertura e difusão da Internet, os computadores de alta velocidade, todos puseram as bases da nova Sociedade de Informação (Information Society), ou, como preferem alguns, Sociedade Pós-capitalista (cf. DRUCKER, Peter. 1995). Neste tipo de sociedade, o centro dinâmico da economia está na produção (ciência) e aplicação (tecnologia ) intensivos do conhecimento (cf. DRUCKER, 1995:139-141). A Sociedade de Informação é responsável por algumas transformações estruturantes da nova realidade social e econômica. No âmbito da economia, mudam as relações de emprego-trabalho, com o realce das funções gerenciais frente às operacionais e, de modo geral, com a exigência de frequente qualificação para lidar com máquinas e programas cada vez mais complexos (THUROW, Lester. 1996:67-69). No dizer deste autor, “Hoje, conhecimento e habilidades apresentam-se como as únicas fontes de vantagem comparativa” (1996:68). No que diz respeito às organizações, aprofundam-se as relações entre a produção e os mercados mais remotos, impõe-se a descentralização no interior de uma coordenação estratégica, uma crescente utilização da informação com a constituição de redes de telecomunicações e o desenvolvimento de sofisticados modelos de análise de impacto de decisões. As faces formal e informal da economia transformam-se com a disponibilização de facilidades como correio eletrônico, video-conferência, telebanking, CD ROMs interativos e o Internet marketing (MILES, Ian. 1996:44-48). Esses fatores impuseram ao Estado uma rediscussão de seu papel face a um mercado que readquire o papel de regulador central do processo produtivo (BOYER, Robert. “State and Market. A new engagement for the twenty-first century” In: BOYER,R. & DRACHE, Daniel (org.) 1996:84-90). Apesar de os apologistas do livre mercado proclamarem o fim do Estado, é provável que este venha, pelo contrário, a fortalecer-se nos próximos anos, embora com outra configuração (BOYER, R., 1996:109-111). Esta necessidade de redefinições fez-se sentir desde meados dos anos 80, quando inúmeros países discutiram e implementaram várias inovações na tentativa de ajustar o Estado às novas exigências. Estas tentativas seguiram duas linhas básicas: 1) ajustar a função do Estado à sua capacidade, isto é, à sua real possibilidade de intervir eficazmente; 2) aumentar a capacidade do Estado revigorando a instituições públicas, ou seja, melhorar o desempenho das instituições, aumentar a participação e combater os desvios (nepotismo, corrupção, favoritismos, etc). Três tipos de mecanismos foram utilizados para fortalecer a capacidade do Estado: a) edição de normas autolimitadoras (independência do Judiciário, por exemplo), b) estímulo à abertura dos mercados (pressões competitivas sobre as organizações estatais) c) concessão de voz (aos cidadãos-usuários de serviços públicos) e busca de parcerias (com ONGs ou com a iniciativa privada). Outros recursos associados a estes são a descentralização, a seleção e promoção baseadas no mérito e a constante pesquisa junto aos clientes-usuários-cidadãos (BANCO MUNDIAL. 1996:1-14). De modo geral, o redesenho do Estado implicou nos seguintes itens: • Concentração do governo na edificação de um processo eficiente de 2 V Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Santo Domingo, Rep. Dominicana, 24 - 27 Oct. 2000 formulação, monitoramento, avaliação e retroalimentação das políticas públicas, com o desenvolvimento de instrumentos de gestão da informação, de acompanhamento e de avaliação de desempenho com base em padrões previamente definidos de eficiência; • Descentralização de competências e de operações do Estado central para regiões e municípios, ampliando a participação e aproximando a administração dos cidadãos com base na percepção de que o nível local é capaz de perceber e de gerir com mais eficiência as necessidades coletivas; • Substituição do Estado piramidal, definido segundo a teoria burocrática, como rígidas separações de competências, em prol de uma concepção de Estado “rede”, melhorando substancialmente a comunicação e a gerência inter-governos (cf. KLIKSBERG, Bernardo “El rediseño del Estado para el desarrollo social y el cambio. Una agenda estrategica para discusion” In: KLIKSBERG, B. (org.). 1993:31-37); • Concentração no cidadão, o que implica no realce do papel da ética e da cidadania, com o revigoramento dos “direitos republicanos” (BRESSER PEREIRA, L.C. 1997) e com o desenvolvimento de uma “cultura corporativa pública” (KLIKSBERG, B.,1993:36) fundada nos princípios da administração gerencial. Todas essas transformações no papel do Estado como organização seguiram paralelas às mudanças na gerência das empresas privadas. Cada vez mais, a função gerencial contemporânea tem sido entendida como uma atividade fragmentária, altamente empírica, determinada por problemas urgentes e não previstos e dependente de fatores nãocontroláveis, tanto interna quanto externamente (cf. MOTTA, P.R. 1998:19-26). Em ambientes mutáveis e altamente complexos em que as organizações existem nos dias de hoje, a função gerencial se modifica fundamentalmente, passando do rígido padrão tradicional de divisão estrita de competências, de hierarquia e de autoridade para formas mais flexíveis, participativas e até ambíguas. São as seguintes as principais transformações: • As transações ambientais, antes concentradas no topo das organizações, passam a ocorrer em todos os seus níveis; • A participação no processo decisório da organização deixa de se restringir aos dirigentes e torna-se aberta aos escalões inferiores e até a grupos externos (conselhos de clientes, por exemplo); • As decisões estratégicas, antes centralizadas numa noção restrita de planejamento central e tecnocrático, são descentralizadas, moduladas e atomizadas; • As informações, que eram objeto de monopólio pela direção da empresa, passam a ser divulgadas no meio organizacional (resultados de avaliações de desempenho, por exemplo) (Cf. MOTTA, P.R., 1998:35) Esta nova realidade implica num processo formativo dos gerentes bastante homogêneo, na medida mesma em que dissolvem-se as estruturas burocráticas hierarquizadas e formalmente distintas. Na expressão de Paulo Roberto Motta, “o aprendizado da gerência deve incluir um conjunto de conhecimentos comuns a todos os que exercem ou pretendem exercer a função gerencial” (1998:37). Assim, uma proposta de plano de formação para agentes estratégicos permite-se difundir para os demais níveis do Estado. 3 DELINEAMENTO ESTRATÉGICOS GERAL DO PLANO DE FORMAÇÃO PARA AGENTES A Proposta apresentada a seguir pretende refletir, em suas linhas gerais, as 3 V Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Santo Domingo, Rep. Dominicana, 24 - 27 Oct. 2000 orientações mais recentes quanto ao papel do desenvolvimento de recursos humanos no processo de modernização e reforma do Estado. O Plano de Formação de Agentes Estratégicos (PFAE) pretende constituir-se em um programa integrado de ações tendentes ao desenvolvimento de recursos humanos estratégicos do Governo do Estado do Rio de Janeiro na perspectiva da administração gerencial. É uma tentativa de realizar uma abordagem transdiciplinar, flexível e voltada para a aplicabilidade dos conhecimentos. O PFAE ambiciosamente procura realizar a transferência à prática dos conhecimentos teóricos e a teorização dos conhecimentos práticos. O Plano de Formação deverá perseguir, especificamente, o seguinte: 1) promover a capacidade crítica e reflexiva do agente de nível estratégico, para permitir constantes adequações entre a organização pública e seu ambiente em transformação; 2) desenvolver no agente de nível estratégico uma cultura administrativa gerencial, voltada para a adoção de métodos mais flexíveis, fundados na qualidade, em resultados e na constante avaliação; 3) reforçar os valores éticos e o sentimento público como diferencial para a atuação do servidor, na perspectiva de um agente do exercício da cidadania; 4) enfatizar a necessidade de uma formação continuada em face das constantes transformações das funções do Estado, nas técnicas de gestão e nas novas tecnologias de informação; 5) estimular a qualificação do agente de nível estratégico, permitindo-lhe aprofundar conhecimentos em sua área específica de atuação profissional. 6) promover a formação voltada para a especialização e para a flexibilidade, permitindo ao agente de nível estratégico a melhoria do seu desempenho aliada à capacidade de adaptação a novas exigências do processo de trabalho. Um Plano de Formação voltado para o desenvolvimento de recursos humanos estratégicos deve integrar certos fatores que atuam como condicionantes de sua possibilidade de implementação. Essas variáveis atuam sobre a percepção que os agentes têm da sua função, dos valores e conceitos instrumentais e da sua experiência. Partindo do nível mais geral ao particular, devemos considerar sucessivamente: a) o novo papel do Estado na Ordem Contemporânea; b) suas implicações tanto externamente (ao nível de sua relação com a sociedade civil) quanto internamente (ao nível das relações intra-governamentais); c) a cultura administrativa burocrática e sua perspectiva de mudança; d) a natureza da função gerencial contemporânea, em especial na área pública; o papel da gestão de pessoas frente às novas exigências do Estado, particularmente o papel da formação e da capacitação; e) as experiências atuais no desenvolvimento de recursos humanos, promovidas por entidades congêneres e f) as necessidades percebidas pelos próprios agentes estratégicos. Como procuraremos demonstrar em seguida, estes itens permitirão construir um Plano de Formação que resulte de princípios e de diretrizes contemporâneas comuns, que considere o estado da arte e as circunstâncias atuais e que responda ao interesse específico da Administração Pública. O Estado sofreu grandes transformações nos anos 80 e 90 como resultado das crises econômicas e da recessão. A crise financeira do Estado veio então como conseqüência da recessão e da crise fiscal. No caso da América Latina, o modelo de crescimento econômico baseado no aporte de poupança externa entrou em colapso, provocando ainda mais crise, 4 V Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Santo Domingo, Rep. Dominicana, 24 - 27 Oct. 2000 inflação e a virtual paralisia dos serviços públicos. O combate à inflação levou o Estado a impor controles artificiais de preços e salários, a instituir mecanismos de indexação, a elevar as taxas de juros e a achatar os preços dos serviços ou bens das empresas públicas de telecomunicações, energia elétrica, água e esgoto e petróleo. O resultado foi a deterioração profunda da capacidade de investimento das empresas públicas, além do aumento do endividamento público. Os anos 90 assistiram a tentativas totalmente empíricas de reforma do Estado como a que tentou o governo Collor e que consistia unicamente no desmonte da máquina administrativa. Desde 1994, com a volta da estabilidade econômica e com a chegada ao governo federal da equipe liderada por Luiz Carlos Bresser Pereira no Ministério da Administração e Reforma do Estado, todo um conjunto de normas, diretrizes, programas de ação, planos diretores e agências foi elaborado como vetor de uma política planejada de reforma do Estado. A crise promoveu a redefinição das funções do Estado. De acordo com levantamento do Banco Mundial (Relatório 1997:27), as funções do Estado contemporâneo dividem-se em mínimas (provisão de bens públicos), intermediárias (controle de externalidades, regulamentação de monopólios, provisão de seguro social e superação da informação imperfeita) e ativistas (coordenação da atividade privada e redistribuição de recursos). Às chamadas “ funções mínimas” corresponde o núcleo estratégico, que inclui os setores onde são definidas as leis e as políticas públicas. Em seguida, distinguem-se as atividades exclusivas do Estado, que se compõe do poder de legislar e tributar, a força policial, a gestão macroeconômica, a regulamentação e a proteção social. Os serviços competitivos ou nãoexclusivos do Estado são aqueles que, embora não envolvendo o poder de Estado, são por este promovidos por sua especial relevância social (educação, saúde). Nestes pode a iniciativa privada, concorrentemente participar de seu desenvolvimento. Por fim, há a produção de bens e serviços para o mercado, em que o Estado se envolve como produtor direto de bens e serviços em setores considerados estratégicos (cf. BRESSER PEREIRA. 1997:282-284). Este Plano de Formação dirige-se a este núcleo estratégico de altos funcionários do Estado encarregados da produção normativa e da produção de políticas públicas de gestão macroeconômica. Este núcleo deve desenvolver uma percepção estratégicai do Estado, seu papel na sociedade e sua inserção num ambiente em constante mudança. A gerência estratégica baseia-se na percepção da alta velocidade das mudanças ambientais, na sua instabilidade e na impossibilidade de controle sobre os fatores externos à organização. Para inserir-se adequadamente num ambiente de alta mobilidade, os paradigmas tradicionais da Administração Pública, fundados no Planejamento Organizacional clássico, não são capazes de dar resposta. É preciso ter visão panorâmica do ambiente e dotar-se de instrumentos que habilitem o gestor a inovar e a adaptar-se a situações novas ou imprevistas. No âmbito da formação do gestor estratégico, é preciso desde o início afastar-se da cultura burocrática, de caráter estático, formalista, com suas rígidas hierarquias, delimitações de competência, controles apriorísticos e seu centralismo. Na cultura gerencial , enfatiza-se o dinamismo, o mérito, os critérios são éticos e políticos, busca-se a descentralização e a autonomia, diluem-se as fronteiras da competência formal e instituem-se controles a posteriori (pelo resultado). A organização pública é vista como dotada de uma missão especial de garantia de direitos ao cidadão; é uma organização que deve buscar a eficiência, mas sem perder de vista seu caráter público. O foco da Administração Pública encontra-se na cidadão (ABRUCIO, Fernando Luiz In: BRESSER:1998). O Plano Diretor da Reforma do Estado, publicado pelo Ministério da Administração e 5 V Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Santo Domingo, Rep. Dominicana, 24 - 27 Oct. 2000 Reforma do Estado, prevê, como um dos seus projetos prioritários, o Projeto Cidadão, que visa aprimorar as formas de encaminhamento das sugestões, queixas ou petições dos cidadãos à Administração. A moderna organização pública coloca a formação como um dos itens do desenvolvimento de recursos humanos. Trata-se de pensar a formação numa perspectiva dinâmica, que implique na constante tarefa de desenvolver as potencialidades e a capacidade dos servidores em função das necessidades cambiantes da gestão pública. Neste novo contexto, a política de recursos humanos é de fundamental importância. A Emenda Constitucional nº 19, de 04/06/98, estabelece que “um dos requisitos para a promoção na carreira” de gestor é a qualificação permanente a ser oferecida pelas escolas de governo. Ainda no Plano Diretor da Reforma do Estado tem-se como “prioritária” a formação para a mudança do perfil da Administração Pública. As principais diretrizes para a nova política de gestão de recursos humanos são: • Descentralização de competências dos órgãos centrais para os regionais; • “Devolução” de responsabilidades no interior das empresas e agências; • Modelos de Política Pública enfatizando padrões básicos de conduta, e não controles detalhistas; • Autonomia de gestão orçamentária para os órgãos locais e departamentos; • Maior flexibilidade nos padrões de recrutamento e de remuneração; • Ênfase no treinamento e em medidas que promovam o desenvolvimento de habilidades básicas e específicas de gestão; • Ênfase na política de qualidade e de produtividade. (cf. OECD. Integrating People Management into Public Sector Reform, pp.9-10) O Plano de Capacitação de Recursos Humanos aqui desenvolvido parte de uma idéia básica: realizar o levantamento das necessidades formativas dos agentes estratégicos do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro e daí elaborar um plano de capacitação para esses mesmos agentes. Este levantamento foi realizado pela pesquisa Obstáculos e Fatores Favoráveis, Transformações do Estado Contemporâneo e a Formação do Servidor Público, que apontou como áreas relevantes para a formação dos agentes estratégicos: a) Ética; b) Cidadania c) Língua Portuguêsa (Desenvolvimento de habilidades comunicativas) d) Rio de Janeiro (História, Geografia e Política do Estado) e) Teorias do Desenvolvimento f) Teorias do Estado g) Conceituações sobre o serviço público; h) Técnicas e dinâmicas de grupo; i) Política, economia e cultura comparada; j) Funcionamento da política e da economia (cf. Obstáculos e..., p.32). No âmbito das habilidades específicas, foram constatadas as seguintes necessidades: a) Auditoria; b) Avaliação; c) Fiscalização; d) Gestão; e) Gestão da Informação f) Implementação; g) Planejamento h) Recursos Financeiros 6 V Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Santo Domingo, Rep. Dominicana, 24 - 27 Oct. 2000 i) Recursos Humanos j) Regulação. (cf. Obstáculos e..., p.33). A partir das conclusões deste estudo elaboramos o presente Plano de Formação, como pode ser constatado pela comparação destes resultados com a grade curricular proposta. O Plano de Formação ora proposto reflete ainda a experiência adqüirida pela Fesp na implementação do Sistema de Educação Continuada (ECO) de 1º e 2º graus, que buscou propiciar formação aos servidores através da metodologia do ensino à distância. O Sistema ECO compunha-se basicamente de dois módulos: comum, com 228h-a na modalidade à distância e o específico, com 72 h-a na mesma modalidade. As grandes áreas definidas nesse sistema de Educação Continuada, sua estrutura modular e a previsão do ensino à distância também foram contempladas neste Plano de Formação. Acreditamos, pelas razões já expostas, que o Plano de Formação reflete não somente as necessidades formativas dos agentes estratégicos do Estado do Rio de Janeiro, mas também respeita as principais linhas de desenvolvimento das políticas de formação no Brasil e no mundo, observa e considera e literatura pertinente à área. 4 DIRETRIZES BÁSICAS São as seguintes as diretrizes básicas que presidem à confecção do plano: 4.1 DISCUSSÃO DE TEMAS ÉTICOS E POLÍTICOS LIGADOS À FUNÇÃO PÚBLICA As recentes transformações do papel do Estado têm provocado mudanças significativas na atuação dos entes públicos. As pressões competitivas, a busca de novas relações com a sociedade civil e a necessidade de a Administração Pública dotar-se de novos mecanismos de intervenção, mormente na regulação, tornaram imperiosa a consideração dos aspectos políticos e éticos da relação entre o Estado e a cidadania. 4.2 DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES GERAIS DE CARÁTER ANALÍTICO Os processos de globalização econômica e cultural, o processo de integração regional (Mercosul), associados às mudanças no sistema político brasileiro no sentido da estabilização do regime democrático, levaram à constituição de um ambiente muito mais complexo para a atuação das organizações públicas. A submissão desses órgãos a pressões competitivas num ambiente de livre concorrência impõe aos seus dirigentes a utilização de instrumentos mais finos de análise para tomada de decisões. 4.3 ESPECIALIZAÇÃO FLEXÍVEL O servidor público deverá ser revalorizado na busca de maior eficiência no desempenho de suas funções. A profissionalização do servidor deve vir fundamentada numa política de formação que lhe garanta constante adaptabilidade a novas funções e tarefas oriundas da modernização dos serviços públicos ou da implantação de novas técnicas de gestão ou de novas tecnologias. A especialização flexível deve permitir ao formando, a um 7 V Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Santo Domingo, Rep. Dominicana, 24 - 27 Oct. 2000 só tempo, aprofundamento e flexibilidade diante das mudanças. 5 UMA GRADE CURRICULAR TRANSDISCIPLINAR A grade curricular proposta para o Plano de Formação deve contemplar e especificar as grandes áreas temáticas (ver item XXX abaixo), resguardando todavia a possibilidade de constante flexibilização e atualização. A perspectiva é assumidamente transdisciplinar, segundo uma metodologia de aprendizagem que busca construir novos campos de saber a partir da integração das contribuições das diferentes disciplinas tradicionais. A aplicabilidade dos temas e conceitos constantes do programa das disciplinas constituirá princípio norteador da formação. Além disso, é importante que se garanta o contato direto com os problemas discutidos no âmbito das aulas teóricas. Para tanto, serão previstos intervalos monitorados e estágios de aplicação. A avaliação do processo de ensino e aprendizagem deverá levar em conta esses aspectos, flexibilizando-se as formas de avaliação. O trabalho final de cada módulo deve assumir preferencialmente a forma de Relatório de Estágio ou Relato de Experiência Monitorada. 5.1 FLUXOGRAMA E GRADE CURRICULAR PROPOSTA MÓDULO 1 FUNDAMENTOS DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO 01/XX 02/XX 03/XX 04/XX ÉTICA NO SERVIÇO PÚBLICO 15 H PROCESSOS DE INTERDEPENDÊNCIA ECONÔMICA (GLOBALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO) 15 H MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 30 H MODOS DE REGULAÇÃO SOCIAL 15 H CIDADANIA: TEORIA E EXPERIÊNCIAS 15 H TEORIAS DO ESTADO CONTEMPORÃNEO 30 H MÓDULO 2 DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES 05/XX 06/XX 07/XX 08/XX FILOSOFIA 15 H SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAÇÕES 15 H 8 V Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Santo Domingo, Rep. Dominicana, 24 - 27 Oct. 2000 POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 15 H ORGANIZAÇÃO PÚBLICA , TECNOLOGIA E SOCIEDADE 15 H DISCURSO, LÓGICA E ARGUMENTAÇÃO 15 H ESTUDOS ESTRATÉGICOS E TEORIA DOS JOGOS 15 H MODELOS DE GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS 30 H MÓDULO 3 FORMAÇÃO ESPECIALIZADA 09/XX 10/XX 11/XX 12/XX TECNOLOGIAS E SISTEMAS DE INFORMAÇÃO GERENCIAL 30 H DESCENTRALIZAÇÃO E GESTÃO DE UNIDADES AUTÔNOMAS 15 H QUALIDADE E PRODUTIVIDADE NO SETOR PÚBLICO 15 H A ORGANIZAÇÃO PÚBLICA E SUAS RELAÇÕES COM OS ATORES SOCIAIS 15 H ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS DE GOVERNO 15 H PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 15 H A FUNÇÃO GERENCIAL CONTEMPORÂNEA 15 H MÓDULO 4 APLICAÇÃO 07/00 WORKSHOP 1 DESENVOLVIMENTO E GESTÃO DE PESSOAL 06 H WORKSHOP 2 ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA 06 H WORKSHOP 3 AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS 06 H WORKSHOP 4 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 06 H 9 08/00 09/00 V Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Santo Domingo, Rep. Dominicana, 24 - 27 Oct. 2000 WORKSHOP 5 DESENHO E REDESENHO ORGANIZACIONAL 06 H ESTÁGIO MONITORADO 60 H WORKSHOP E RELATÓRIO DE ESTÁGIO TOTAL DE HORAS DE FORMAÇÃO MÓDULO 1 MÓDULO 2 MÓDULO 03 MÓDULO O4 TOTAL HORAS-AULA 120 120 120 66 422 % 28,4 28,4 28,4 15,6 100 6 MÓDULOS O plano de formação deve comportar módulos conectáveis, dispostos em diferentes níveis, que permitam uma constante realimentação do sistema. Os módulos poderão inicialmente se dividir em quatro, cada um contabilizando um semestre. A cada quatro semestres de formação, o servidor poderia acessar o nível subsequente (ou aprimorar o atual). A cada semestre, concluindo um módulo, o servidor faria jus a um certificado específico de aperfeiçoamento (120 horas) e a cada retorno ao sistema as horas cursadas anteriormente serão somadas às do curso atual. A cada ciclo de quatro anos, as horas começarão a perder a validade. O objetivo é: a) estimular a permanência e o retorno ao sistema com o acúmulo de horas (e de pontos) e b) garantir que a cada ciclo os conhecimentos devam ser renovados. TABELA ILUSTRATIVA MÓDULO ANO ÁREA 1 ÁREA 2 ÁREA 3 1.A 2000 1.B 2.A 2.B 2001 3.A 3.B 2002 ENTRADA NO SISTEMA TURMA 1 TURMA 2 TURMA 3 RETORNO AO SISTEMA TURMA 1 TURMA 2 TURMA 3 10 V Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Santo Domingo, Rep. Dominicana, 24 - 27 Oct. 2000 7 ÁREAS 7.1 DISCUSSÃO DE TEMAS ÉTICOS E POLÍTICOS LIGADOS À FUNÇÃO PÚBLICA TEMA DESDOBRAMENTOS Ética Teoria Ética Ética Aplicada Infra-estrutura Ética Cidadania História Teorias Construção do Espaço Público Globalização Econômica Cultural Política Integração Econômica Teoria da Integração Experiências Comparadas Estrutura e Funcionamento do Mercosul Modelos de Administração Pública Regulação Teorias do Estado Modelo Burocrático Modelo Gerencial Regulação Política Regulação Social Liberalismo e Neoliberalismo Socialismo e Terceiras Vias A Reforma do Estado 11 V Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Santo Domingo, Rep. Dominicana, 24 - 27 Oct. 2000 7.2 DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES GERAIS DE CARÁTER ANALÍTICO TEMA DESDOBRAMENTOS Filosofia Epistemologia Teoria Política Ética Linguagem Análise de Discurso Gramática Normativa Retórica e Argumentação Retórica e Democracia Teoria da Argumentação Lógica Lógica e Pensamento A Razão Lógica Concepções da Lógica Economia Política Macroeconomia Microeconomia Política Econômica Economia Internacional Ciência Política Sociologia Política Análise de Políticas Públicas Política e Gestão Política Global Sociologia Teoria Sociológica Movimentos Sociais Violência Psicologia Psicologia Social Psicologia Cognitiva Psicologia Aplicada Antropologia Teorias da Cultura Cultura Organizacional 12 V Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Santo Domingo, Rep. Dominicana, 24 - 27 Oct. 2000 7.3 ESPECIALIZAÇÃO FLEXÍVEL TEMAS Gestão DESDOBRAMENTOS Modelos e Técnicas de Gestão A Gestão Política A Gestão por Resultados Acompanhamento O Monitoramento de Programas Técnicas de Acompanhamento Conseqüências do Acompanhamento Avaliação A Avaliação Institucional Modelos de Avaliação A Avaliação de Projetos Sistemas de Informação Gerencial Informação e Poder nas Organizações Desenho de Sistemas de Informação Integração de Sistemas de Informação Informação e Processo de Decisão Planejamento Estratégico Concepções e Modelos Planejamento e Gestão Flexibilidade e Realimentação Administração Financeira Gestão de Recursos Públicos Modelos de Alocação e Controle Gestão de Pessoas Modelos de Gestão de Pessoas Plano de Desenvolvimento de Capacidades Formação e Desenvolvimento de Habilidades Relações com a Sociedade Informação e Marketing Institucional Técnicas de Negociação Coletiva A Responsabilidade Política Desenho Organizacional Modelos de Arquitetura Organizacional Descentralização e Autonomia O Redesenho Organizacional 13 V Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Santo Domingo, Rep. Dominicana, 24 - 27 Oct. 2000 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS O Plano de Formação para os agentes estratégicos do Estado do Rio de Janeiro, desenvolvido neste documento, não pretende constituir-se em documento definitivo nesta questão. Ele deve ser visto como uma proposta que apresenta linhas de desenvolvimento, a partir de um mapeamento tão geral quanto possível dos principais temas e problemas com os quais se defronta o administrador público nos dias de hoje. Nossa pretensão é de contribuir ao debate sobre o papel do Estado num mundo globalizado, à redefinição dos modelos de gestão pública em face dos novos desafios colocados pela sociedade de informação, da instantaneidade e da exclusão social. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BANCO MUNDIAL. O Estado num Mundo em Transformação. Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial. Washington: World Bank, 1997 BRASIL. Emenda Constitucional nº 19, de 04.06.98 BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos. Crise Econômica e Reforma do Estado no Brasil. Para uma nova interpretação da América Latina. Rio de Janeiro: Editora 34, 1997 BRESSER PEREIRA, Luiz Carlos & SPINK, Peter (org.). Reforma do Estado e Administração Pública Gerencial. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1998 DRUCKER, Peter. Sociedade Pós-Capitalista. São Paulo: Pioneira, 1995 FISCHER, Tãnia (org.). Gestão Contemporânea. Cidades estratégicas e organizações locais. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1996 GRAHAM, Cole Blease. Para administrar a Organização Pública. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1994 KLIKSBERG, Bernardo. El Rediseño del Estado. Una perspectiva internacional. Mexico: INAP/Fondo de Cultura Economica, 1994 LEVY, Evelyn. “Formação e capacitação na construção de um novo Estado” ENAP. Texto para Discussão nº 19. Brasília: ENAP, 1997 MINISTÉRIO DA ADMINISTRAÇÃO E REFORMA DO ESTADO. Plano de Reestruturação e Melhoria da Gestão. Programa de Reestruturação e Qualidade. Cadernos MARE da Reforma do Estado nº 5, Brasília: MARE, 1997 ___Plano Diretor da Reforma do Aparelho de Estado. Brasília: MARE, 1995 (www.mare.gov.br) ___A Nova Política de Recursos Humanos. Cadernos MARE da Reforma do Estado nº 11, Brasília: MARE, 1997 MINISTERIO PARA LAS ADMINISTRACIONES PÚBLICAS. Admnistración y Función Pública en Iberoamérica. Actas del II Seminario de antiguos alumnos iberoamericanos del INAP. Madrid: MAP. Colección Administración Pública Iberoamericana, 1988 ___INAP 1997. Balance y perspectivas. Madrid/INAP, 1998 ___La Fonction Publique dans l’Europe Communautaire. Rencontre Franco-Espagnole IIAPINAP. Conclusions. Madrid: INAP, 1991 MOTTA, Paulo Roberto. Gestão Contemporânea: a ciência e a arte de ser dirigente. Rio de Janeiro: Record, 1998 NURNBERG, Bárbara. “Gerência de Recursos Humanos do Setor Público. Lições da Reforma nos países desenvolvidos”. Cadernos ENAP nº 14. Brasília: ENAP, 1998 PALAZZO, J.L., SESÍN, D.J., LEMBEYE, V. La Trasformación del Estado. Buenos Aires: Ed. de Palma., 1992 14 V Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública, Santo Domingo, Rep. Dominicana, 24 - 27 Oct. 2000 OCDE. Education and Training: Learning and Working in a Society in Flux. Paris: OECD Documents, 1996 ___Integrating People Management into Public Service Reform. Paris: OECD, 1996 ___Issues and Developments in Public Management. Survey 1996-1997. Paris: OECD, 1997 ___La Ética en el Servicio Publico. Madrid:INAP, 1997 ___Lifelong Learning for All. Paris: OECD, 1996 SPINK, Peter e CLEMENTE, Roberta. 20 Experiências de Gestão Pública e Cidadania. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1997 TURNER, Mark & HULME, David. Governance, Administration and Development. Making the state work. Londres: MacMillan, 1997 VALLEMONT, Serge. “A modernização do Estado: as lições de uma experiência” ENAP.Texto para Discussão nº 12. Brasília: ENAP, 1996 Prof. Geraldo Tadeu Moreira Monteiro Coordenador do Programa de Estudos Políticos Núcleo Superior de Estudos Governamentais Universidade do Estado do Rio de Janeiro [email protected] ou [email protected] NOTAS i Estratégia pode ser entendida como “um conjunto de decisões fixadas em um plano ou emergentes do processo organizacional, que integra missão, objetivos e seqüência de ações administrativas num todo interdependente” (MOTTA.1991:82). 15