Por exemplo: eu quero ir de avião a Londres e pagar menos do que numa corrida de táxi em Lisboa? As low cost são uma maravilha, democratizam as viagens de avião, facilitam a vida e as comunicações. É mesmo assim, é ótimo, é excelente, apesar de ser avisado não nos esquecermos que as low cost são economicamente viáveis apenas porque pagam mal e porcamente aos seus funcionários e que o preço baixo que oferecem implica quase sempre que a vida das pessoas que trabalham nestas companhias seja pura exploração. Também gosto de comprar roupa barata em todas as estações do ano e há cada vez mais por aí à venda em boas lojas no centro da cidade. Uma t-shirt cinco euros, calças de ganga por apenas quatro contos, sapatos por uns quantos euricos. Ótimo, não é? Mas para ter esses preços de saldo o ano inteiro a roupa é feita na China ou é fabricada na Europa – depois de copiada a alguém que teve o custo de a imaginar e criar –, de novo com salários da apanha da azeitona, às vezes em fábricas ilegais e sem condições. Também eu gosto de de ler informação grátis na internet. É realmente estupendo ter tudo, todos os títulos na web, quase todos os jornais e revistas sem pagar. Reportagens, entrevistas, opinião, fotografias, vídeos, gráficos, tudo ali de bandeja e oferecido com a maior rapidez. É a mesma história: como oferecer o que custa dinheiro a fazer, às vezes alguma ou muita coragem? Qual o modelo de negócio que sustenta tanta simpatia e generosidade? Salários baixos, sim, evidentemente, menos qualidade também, mas é importante não esquecer os interesses – cada vez menos ocultos – que se fazem pagar por trás de cada notícia e boato difundido. Podia escrever sobre o preço da comida. Os produtores que se atropelam à porta dos hipermercados – os vencedores desta Grande Recessão – para tentar vender em volume o que já não conseguem pelo preço que os grandes operadores não querem pagar. Nem mais um cêntimo, é aceitar ou largar. Apesar de isto ser assim, como eu aprecio os sermões do sr. Alexandre Soares dos Santos, o banqueiro disfarçado de merceeiro. Na realidade, Portugal quase já não tem banqueiros. Os merceeiros são os únicos que têm cash nos bolsos, até enfrentam os verdadeiros banqueiros – não aceitamos o vosso multibanco! –, depois de já terem desprezado (ofendido, acusado) os políticos e os reguladores de acordo com as suas altíssimas paletes de interesses. Convenhamos: isto é justiça, é a sociedade low cost. Geridos pela peúga branca (sartorial, cerebral, espiritual) hoje somos todos de marca branca.