Cultura Empreendedora: O Que está sendo Produzido na Administração?* Autoria: Renato Vieira Balbi, Magnus Luiz Emmendoerfer, Afonso Augusto Teixeira de Freitas de Carvalho Lima, Josiel Lopes Valadares Resumo: Neste meta-estudo, parte-se do pressuposto de que algumas áreas de conhecimento em Administração ainda não conduziram um balanço abrangente e conciso de sua produção em seu campo, como é o caso do empreendedorismo. Devido à crescente importância do empreendedorismo, um dos fenômenos responsáveis pelo desenvolvimento econômico, e da necessidade de disseminação de sua cultura, este trabalho tem como objetivo analisar a produção científica sobre cultura empreendedora publicada em eventos e periódicos científicos, nas esferas nacionais e internacionais, publicados no período de 2003 a 2008. O delineamento metodológico consistiu de levantamento bibliográfico para a realização de meta-análise de forma quantitativa e qualitativa, por meio da técnica de análise de conteúdo. Tais análises e discussões desenvolvidas permitiram concluir que a literatura sobre o tema é limitada e pouco coesa, e que, na maioria das vezes, a cultura empreendedora é tratada sem se definir seu significado e abrangência, apesar das convergências identificadas na produção científica analisada. Ficaram claras as necessidades de expansão e de reflexão da literatura produzida, e também de investigações científicas mais específicas e aprofundadas sobre este objeto na Administração. 1. INTRODUÇÃO O empreendedorismo não é considerado somente uma questão genética, mas também um conjunto de características que podem ser desenvolvidas em qualquer pessoa. Portanto os empreendedores sofrem influência do meio em que vivem e tendem a serem influenciados também pela cultura em que estão imersos. Churchill e Muzyka (1996) observam que há uma idéia geral de que os empreendedores desempenham uma função social de identificar oportunidades e converte-las em valores econômicos. Neste sentido, os empreendedores podem ser considerados uns dos responsáveis pelo desenvolvimento econômico, pois, de acordo com Schumpeter (1982), eles respondem pela ordem econômica existente na introdução de novos produtos ou serviços, na criação de novas formas de organização ou na exploração de novos recursos e materiais. Entretanto, em alguns casos, a presença deles não é o bastante para que aconteçam transformações ou inovações, o ideal é que haja uma cultura empreendedora que incentive tais ações. Esta cultura empreendedora é a essência do empreendedorismo, uma vez que é caracterizada pela concentração de duas ou mais formas de empreendedorismo, quais sejam: perfil empreendedor; gestão empreendedora; intraempreendedorismo; empreendedorismo coletivo (DREHER, 2004). Conforme Zhao (2005), a cultura empreendedora possui uma influência profunda no nível de empreendedorismo das organizações, uma vez que esta é um fator determinante de empreendedorismo e inovação. Segundo Chung e Gibbons (1997), a organização que possui uma cultura empreendedora trabalha melhor em um ambiente incerto e ambíguo, de maneira a criar uma fonte de vantagem competitiva sustentável para ela mesma. A cultura empreendedora é o cenário para o fomento da inovação, da busca, seleção e identificação de oportunidades, do trabalho criativo e do trabalho mais integrado. Para que ela ocorra, faz-se necessária uma série de ações com foco nos processos, e principalmente, nas pessoas, que devem se sentir motivadas para agirem de forma empreendedora, sendo recompensadas por buscar algo novo, muitas vezes assumindo riscos e a possibilidade de errar. (DORNELAS, 2003). Cada vez mais as organizações e sociedades de todos os portes estão percebendo a importância e a necessidade do comportamento empreendedor e da cultura empreendedora, uma vez que estes são componentes essenciais para a sobrevivência e o sucesso das organizações num mercado com tanta competição, com mudanças tão rápidas e constantes. (DREHER, 2004). A manutenção de uma cultura empreendedora ao longo dos anos compreende certos fatores, tais como: a criação de valor; o foco nas pessoas; o gerenciamento com ênfase prática, sem excesso de formalismo; a eficácia, que se aprimora com a experiência e com a gestão do conhecimento; o comprometimento com a organização, a responsabilidade, a ética e a ênfase no futuro; e a liberdade para fazer a organização crescer, mesmo estando sujeito à falhas (DORNELAS, 2003). Por representar a essência do empreendedorismo, o assunto cultura empreendedora é de suma importância. Entretanto, as discussões sobre cultura empreendedora são relativamente recentes, e a quantidade de pesquisas sobre esse tema é escassa na literatura. Segundo Zahra et. Al. (2004), há uma grande popularidade dos debates sobre cultura organizacional na literatura, mas poucos estudos têm analisado a relação entre as dimensões específicas da cultura organizacional e o empreendedorismo. Diante disso, o meta-estudo foi o tipo de delineamento utilizado para tratar o tema cultura empreendedora, o qual surge com o propósito de analisá-lo de maneira profunda, quantitativa e qualitativamente a(s) sua(s) abordagem(ns) na produção científica, em especial, na administração. Buriti (1999) afirma que uma das possibilidades oferecidas pela análise da produção científica é a verificação de indícios de facilidade de trabalho integrado, de interdisciplinaridade na produção de conhecimentos e na aplicação de comportamentos empreendedores na atuação profissional, inclusive enquanto educador. Estudos sobre produção científica são relevantes, porque fornecem um mapeamento das contribuições, necessidades e dos déficits nas diversas áreas do conhecimento, como também possibilitam políticas de pós-graduação. A avaliação da produção científica de qualquer área do conhecimento permite identificar seu desenvolvimento, produção e impacto sobre a comunidade científica e sociedade em geral. Este tipo de avaliação tem sido preocupação constante de muitos pesquisadores, e vários indicadores podem ser utilizados para este fim, em conformidade com os objetivos almejados (DOMINGOS, 1999). Pelos motivos expostos, entende-se que é importante fazer um levantamento e analisar aspectos relevantes e pertinentes da produção científica nacional e internacional sobre cultura empreendedora em eventos nacionais e periódicos nacionais e internacionais, com o intuito de colaborar no processo de disseminação, reflexão e discussões sobre da cultura empreendedora. Incentivado pela falta de levantamentos sobre o assunto, o que demonstra a originalidade desta pesquisa, este trabalho pode contribuir com a administração, principalmente por identificar como o tema vem sendo abordado e quais as suas principais aplicações no meio científico e acadêmico. Deste modo, chega-se a questão norteadora de pesquisa que orienta o desenvolvimento deste trabalho: De que forma o tema cultura empreendedora vem sendo abordado na produção científica existente em eventos nacionais, periódicos nacionais e periódicos internacionais da área de Administração nos últimos cinco anos? Neste sentido, o objetivo é identificar a produção científica sobre cultura empreendedora publicada em eventos e periódicos científicos, nas esferas nacionais e internacionais, no período de 2003 a 2008, buscando analisar os aspectos convergentes e divergentes no tratamento deste tema e apontar possíveis perspectivas de estudo em administração a partir da produção científica levantada. 2. PERCURSO METODOLÓGICO Essa pesquisa é um meta-estudo do tipo bibliográfico, de nível exploratório-descritivo, com tratamento quantitativo e qualitativo da produção científica. O meta-estudo segundo Rich et al. (1999) é uma técnica rigorosa amplamente utilizada e aceita, que objetiva acumular resultados de vários estudos para se chegar a uma representação mais acurada do seu 2 relacionamento na população do que aquela fornecida pelos estimadores de estudos considerados de forma individual. Oliveira (1996) entende que estudos nessa linha apresentam questionamentos sobre procedimentos metodológicos, alcance e limitações dos enfoques teóricos utilizados. Neste sentido, esta pesquisa de pesquisas científicas representou uma atitude deliberada e sistemática de busca à expressão, concepção e produção de novas formas de pesquisa que indagou as contribuições das pesquisas sobre o objeto cultura empreendedora. Assim, a metodologia de revisão da produção científica sobre esse objeto em de periódicos e anais nos permitiu mapear o campo. Destacamos para análise neste trabalho que o universo da pesquisa documental foi de 64 periódicos internacionais e 14 nacionais, sendo 11 eventos e três periódicos, todos relacionados à área de Administração (ver APÊNDICE no final do trabalho). Para a definição deste universo de periódicos para análise considerou-se como critério principal: estar incluindo no sistema classificatório Quallis da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, bem como estar disponível para acesso no seu portal de periódicos em 2008. Como critérios secundários de seleção foram utilizados também: possuir pelo menos um periódico de cada continente mundial; ser periódicos específicos da área de empreendedorismo (não existentes no Brasil); ser periódico de língua inglesa no meio acadêmico, quando comparado ao domínio de outros idiomas, o que facilitou a presença de publicações de pensadores de outras nacionalidades e ampliar a diversidade de pensamentos. Com base neste universo de periódicos rigorosamente selecionados foi extraída uma amostra representativa para a realização desta pesquisa, considerando artigos publicados entre os anos de 2003 e 2008 (neste ano até o mês de julho), não só por constituírem os mais atualizados no momento da pesquisa, mas por evidenciarem novas tendências da produção científica sobre cultura empreendedora. Na fase de pré-análise, como critérios para a identificação, leitura e seleção dos artigos, foram utilizadas as expressões “cultura empreendedora” representando o tema da pesquisa, e também algumas variações como: “atitude empreendedora” e somente a palavra “empreendedora” nos títulos, abstracts e palavras-chaves dos artigos. Na busca de artigos internacionais, foram utilizadas as mesmas expressões em inglês: “entrepreneurial culture”, “entrepreneurial attitude” e “entrepreneurial”, respectivamente. Ressalta-se que não foram tratados de maneira distinta os artigos que apresentaram as palavras utilizadas na busca como temática principal (título do artigo) ou secundária (abstracts e palavras-chaves), e que a palavra “cultura”, sozinha, não foi utilizada na identificação dos artigos devido à alta amplitude do tema e possibilidade de distorções com relação ao objeto em estudo. Foram encontrados 102 artigos nacionais e 260 artigos internacionais, somando um total de 362 artigos. Ao se proceder a leitura inicial para avaliação dos artigos, chegou-se a conclusão que, em 317 artigos do conjunto encontrado, o uso das palavras “empreendedora” e “entrepreneurial”, utilizadas nas buscas, estavam vinculadas a expressões, como nos casos: “Regiões empreendedoras”, “aliança empreendedora”,“pedagogia empreendedora”, “mulheres empreendedoras”, “finanças empreendedoras”, e muitas outras expressões. Os 317 artigos que apresentaram expressões relacionadas a essas “características empreendedoras”, diferentes do tema cultura empreendedora, foram excluídos para fins metodológicos e viabilização desta pesquisa apesar da contribuição que poderiam oferecer para análise da produção científica. Restaram 55 artigos para a fase de exploração dos artigos através da leitura completa deles. Verificou-se que, em 40 deles, o conteúdo não se vinculava, senão de modo periférico, à temática do interesse da pesquisa: a cultura empreendedora. É importante ressaltar que dois artigos selecionados para o estudo focam a idéia de Orientação Empreendedora (OE). Nestes casos, a Orientação Empreendedora promove eventos que estimulam o comportamento empreendedor nas organizações. Para a seleção de artigos sobre a Orientação Empreendedora, baseou-se no conceito de Lumpkin e Dess (1996): 3 Organização Empreendedora (OE) refere-se aos métodos, práticas e estilo de tomada de decisão gerencial usados para agir de forma empreendedora. Assim, na fase de tratamento dos resultados, fez-se uma análise quantitativa e com interpretações qualitativas de 15 artigos, identificado na Tabela 01, que tratam a cultura empreendedora como tema principal da pesquisa. TABELA 01: Relação de artigos nacionais e internacionais utilizados no trabalho. TÍTULO DO ARTIGO EVENTO/ PERIÓDICO Entrepreneurial orientation among the youth of India: the impact Journal of of culture, education and environment Entrepreneurship Na busca de um protocolo para facilitação da orientação 3ES empreendedora nas organizações A influência da família na formação empreendedora XXXI EnANPAD Characteristics and influences of multinational subsidiary International Business entrepreneurial culture: the case of the advertising sector Review Cultura empreendedora no curso de administração da XVII ENANGRAD universidade de Brasília Evidências e reflexões para a cultura do empreendedorismo e inovação nas organizações: um estudo teórico-empírico sobre a XVII ENANGRAD estratégia do tempo livre ANO LEGENDA Atitude empreendedora: um estudo em organizações brasileiras A formação cultural como construto de ligação entre visão empreendedora e ação estratégica – uma análise do caso USIMINAS Diferentes abordagens para a formação da cultura empreendedora dentro da Universidade Considerações sobre a formação da cultura empreendedora dentro da Universidade Perfil do micro e pequeno empresário que busca desenvolver a cultura empreendedora – o caso de um município baiano 2008 1 2007 2 2007 3 2007 4 2006 5 2006 6 XXX EnANPAD 2006 7 3ES 2005 8 3ES 2005 9 EGEPE 2005 10 XXIX EnANPAD 2005 11 2004 12 2003 13 2003 14 2003 15 Entrepreneurship in family vs. non-family firms: a resource-based Entrepreneurship Theory analysis of the effect of organizational culture and Pratice Ambiente cultural como elemento fundamental na formação do EGEPE perfil empreendedor Metaphors and meaning: a grounded cultural model of us Journal of Business entrepreneurship Venturing Journal of Internatiomal Theorical foundations of an internatiomal entrpreneurial culture Entrepreneurship Fonte: Elaboração própria. A Tabela 01 apresenta na primeira coluna à esquerda os artigos selecionados para a pesquisa, na coluna central estão relacionados os eventos e periódicos onde esses artigos foram publicados. Completando a tabela na parte direita estão localizados os anos de publicação e uma legenda que têm como intuito ajudar o leitor a identificar os artigos utilizados nessa pesquisa nas análises apresentadas nas seções e tabelas subsequentes. Os eventos 3Es (Encontro de Estratégia) e EnANPAD (Encontro da Associação de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração), ambos realizados pela ANPAD, publicaram três artigos, cada um, sobre o tema, representando, em conjunto, 40% do total da produção científica no período analisado. Os eventos EGEPE (Encontro de Gestão Empreendedora e Pequenas Empresas) e o ENANGRAD (Encontro Nacional de Cursos de Graduação em Administração), ambos com dois artigos publicados, representam juntos 27% do total. Os 4 outros cinco artigos restantes foram publicados por diferentes periódicos estrangeiros, representando 34% do total. Deste modo, nota-se que a produção científica sobre cultura empreendedora, dentro da amostra pesquisada, é mais representativa em eventos nacionais. Os eventos e periódicos específicos da área de empreendedorismo são responsáveis juntos por 40% dos artigos publicados. Tal representação aponta que o tema cultura empreendedora não está sendo discutido exclusivamente dentro da área de empreendedorismo, e sim, em sua maior parte na área de Administração em geral. De todos os eventos e periódicos específicos da área de empreendedorismo, o único que publicou mais de um artigo sobre cultura empreendedora no período analisado foi o EGEPE. Ressalta-se que o EGEPE foi realizado nos anos de 2003, 2005 e 2008, mas que o ano de 2008 não foi incluído nas análises desta pesquisa, por ter sido realizado após o mês de julho – último mês considerado nesta pesquisa. Esse conjunto de fatos nos leva a inferir que o tema é pouco discutido na área de empreendedorismo, fato que reflete na Administração como um todo, visto que apenas 15 artigos foram encontrados nas 78 fontes pesquisadas. Esses dados indicam a escassez da literatura mundial sobre o referido tema. O ano de 2003 foi o ano de maior representação na produção científica internacional, com a publicação de dois artigos. Percebe-se que o tema passou despercebido nos periódicos internacionais nos anos de 2004 e 2006, não havendo publicações nesse período. Com relação à produção científica nacional, esta se concentra nos anos de 2005 e 2006, com a publicação de três artigos em cada um desses anos. Nota-se que durante o ano de 2004 o tema foi pouco abordado, com a publicação de apenas um artigo. No primeiro semestre do ano de 2008, não houve nenhuma publicação, o que pode ser explicado pela prevista realização de vários eventos nacionais no segundo semestre do ano. A produção científica total do período analisado teve seu auge no ano de 2005, com quatro artigos publicados, mantendo-se um pouco menor, mas constante, nos anos de 2003, 2006 e 2007, com a publicação de três artigos em cada um desses anos. A maior carência de discussão sobre o tema foi encontrada no ano de 2004 e no primeiro semestre de 2008. Desta forma, percebe-se que ainda não existe uma evolução constante da produção científica sobre cultura empreendedora, mas uma simetria quantitativa de, em média, três publicações por ano no período analisado. Para a análise dos dados, foi adotada a técnica de análise do conteúdo do material, o que permitiu construir uma análise dos resultados de forma quantitativa como também qualitativa. Segundo Richardson et al.(1999), toda análise de conteúdo deve basear-se em uma definição precisa dos objetivos da pesquisa, os quais variam em cada análise e condicionam a diferença das técnicas utilizadas. A análise de conteúdo nesta pesquisa foi fundamental para o estudo dos valores e tendências sobre a cultura empreendedora. De acordo com as idéias de Bardin (2004), as fases da análise de conteúdo organizamse, cronologicamente, em: pré-análise (identificação e pré-seleção dos documentos através da busca e da leitura superficial dos mesmos); exploração do material (análise e seleção final do material através da leitura completa dos documentos); e tratamento dos resultados (aplicação de um tratamento quantitativo com interpretação qualitativa do material selecionado na fase de exploração). De acordo com Vergara (2006) os procedimentos básicos da análise de conteúdo referem-se à definição de categorias. Deste modo, optou-se pela grade de categorias abertas, que, segundo Laville e Dionne (1999) é uma grade flexível, na qual as categorias de análise são definidas durante o andamento da pesquisa. 3. RESULTADOS DA PESQUISA Para apresentar os resultados, as categorias definidas durante o processo de análise da pesquisa foram: a) autores mais citados na produção científica; b) convergências dos assuntos abordados pela produção científica sobre cultura empreendedora; e (c) peculiaridade. 5 a) Categoria - Autores mais citados na produção científica. Na Tabela, estão representados os autores mais citados nos artigos analisados, o número de citações por artigo e o número total de citações. Os artigos estão representados pelos números de 1 a 15 e podem ser identificados na legenda localizada na Tabela 01. Tabela 03: Autores mais citados em todos os artigos analisados Posição Autores ARTIGOS / Nº. de citações 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 1 ZAHRA 0 6 0 5 0 0 0 0 0 0 0 9 0 0 21 2 LUMPKIN 0 26 1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 8 COVIN 0 22 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 7 MILLER 0 23 0 0 0 0 0 0 0 0 0 4 0 0 4 3 5 BIRKINSHAW 0 0 0 30 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 FILION 0 0 7 0 1 0 6 1 2 2 0 0 8 0 0 SCHUMPETER 1 4 0 0 0 0 4 1 3 3 3 0 1 4 3 8 MORRIS 7 7 0 0 0 0 0 0 0 0 0 9 0 0 1 9 DOLABELA 0 0 0 0 3 0 0 0 2 2 0 0 12 0 0 10 GEM 5 0 0 0 2 0 1 0 0 0 6 0 1 0 0 6 Total 41 36 31 31 30 27 27 24 19 15 Fonte: Elaboração própria. Obs. GEM não é autor, embora tenha sido assim sido tratado nesta seção, uma vez que são considerados importantes fontes de informações na área de Administração. Cf. GEM (2008) O autor mais citado nos documentos utilizados na pesquisa foi Zahra, citado em quatro artigos, num total de 41 vezes. Os outros autores mais citados foram, respectivamente: Lumpkin, 36 vezes, em 3 artigos; Covin e Miller, 31 vezes, em 3 artigos cada um; Birkinshaw, 30 vezes, em um único artigo; Filion, 27 vezes, em 7 artigos; e Schumpeter, 27 vezes, em 10 artigos. Podemos assim perceber que a literatura-base da produção científica sobre cultura empreendedora nos últimos cinco anos é, em sua maioria internacional, pois nove dos autores mais citados são estrangeiros, com grande predominância americana. Um dos fatores que podem influenciar o número de autores americanos citados é que, segundo Guimarães (2002), os Estados Unidos foram os pioneiros em cursos voltados para a formação empreendedora, que surgiram a partir de 1947, idealizados pela escola de Administração de Harvard. Complementando, Terra e Drummond (2004) apontam que, desde 1975, nos EUA, cinqüenta instituições universitárias ministravam aulas de empreendedorismo, e, em 1998, elas já eram mais de mil. Hoje, o ensino de empreendedorismo no primeiro grau tornou-se obrigatório em cinco estados americanos. Outro fator que pode ser apontado como facilitador é que a língua inglesa é universal, portanto, a mais importante na literatura sobre empreendedorismo. Ressalta-se também, a importância de Fernando Dolabela no desenvolvimento do empreendedorismo e na disseminação da cultura empreendedora no Brasil. Ele figura como único autor nacional entre os 10 mais citados na produção científica analisada. Isso nos leva a inferir que a literatura brasileira é recente, limitada e pouco utilizada internacionalmente, e muito influenciada pela internacional. Assim, percebe-se a necessidade e a importância de se fomentar a produção científica brasileira. Ávila (2000) aponta que a modernidade que alavancará o país é a da formação, em cada mente, da cultura da pesquisa, produção como ingrediente básico de realização pessoal, profissional e nacional, objetivando que cada brasileiro cultive efetivamente a sua cidadania, tornando-se sujeito de sua história individual e da história da sociedade que integra. A universidade, configurada como maternidade de 6 conhecimento e entidade laboratorial de formação da sociedade, é o reduto próprio para desabrochar de maneira multiplicativa esse tipo de cultura. Através dessa análise, percebe-se a importância de Schumpeter no empreendedorismo. Mesmo após 58 anos de seu falecimento, ele ainda figura como o sexto autor mais citado nos trabalhos sobre cultura empreendedora, o que mostra sua importância na disseminação da mesma. b) Categoria: Convergências dos assuntos abordados pela produção científica sobre cultura empreendedora. • O local como influenciador da cultura empreendedora. Greatti e Previdelli (2003) sugerem que o empreendedorismo é um fenômeno regional e local, existindo cidades, regiões e países mais ou menos empreendedores do que outros, e os indivíduos, por sua vez, refletem as características do período e do lugar em que vivem. Bernardino et al. (2006) complementam apontando que a cultura, as necessidades e os hábitos de uma região determinam os comportamentos de seus habitantes, e o resultado disso muitas vezes reflete sobre as organizações. Para Bohnenberger et al. (2007), se a realidade econômica da região, na qual está inserida uma instituição, está passando por momentos de grande instabilidade, isso acaba influenciando a disseminação da cultura empreendedora. Ainda considerando a região como influenciadora da cultura empreendedora, Almeida e Benevides (2006) destacam que a atitude empreendedora vem se fortalecendo como alternativa ao escasseamento do emprego formal no país como um todo, mas que esta é uma questão mais presente nas regiões do Brasil de menor poder aquisitivo e que ainda não possuem claramente definida sua vocação para o desenvolvimento econômico. • As características empreendedoras podem ser desenvolvidas. De acordo com Bernardino et al. (2006), uma sociedade não pode depender apenas dos empreendedores natos para desenvolver-se, pois eles existem em pequeno número, por isso é necessário criar empreendedores. Greatti e Previdelli (2003) sugerem que, embora as características empreendedoras possam ser desenvolvidas ou adquiridas, o principal elemento que influencia a formação do perfil empreendedor é o ambiente cultural no qual está inserido, o que corrobora com a idéia de Souza e Souza-Depieri (2006) de que a cultura permeia o comportamento humano. Para Bohnenberger et al.(2007), preparar pessoas pró-ativas que aprendam a pensar e agir por conta própria, com criatividade, criticidade, liderança, espírito inovador e visão de futuro, parece ter sido tarefa deixada especialmente para as universidades. Cunha e Neto (2005) complementam apontando que, por acreditar ser possível desenvolver espírito empreendedor nos indivíduos, uma vez que a disposição para empreender pode ser substancialmente alterada pelo meio ambiente, o papel da universidade como catalisadora para a formação do empreendedorismo ganha cada vez mais relevância. • A família como elemento-chave no desenvolvimento da cultura empreendedora De acordo com Greatti e Previdelli (2003), os empreendedores adquirem cultura empreendedora através da família. Eles afirmam que, quando há na família pessoas que trabalham de forma autônoma ou que possuem seu negócio próprio, a tendência de surgir novos empreendedores é maior do que em famílias cujos membros sempre assumiram cargos de empregados, pois o empreendedorismo é um fenômeno cultural, ou seja, empreendedores 7 nascem por influência do meio em que vivem (hábitos, práticas e valores das pessoas). Os resultados dos estudos de Bohnenberger et al. (2007) corroboram com essa idéia indicando que um trabalho de desenvolvimento do empreendedorismo deve se iniciar no primeiro grupo social do indivíduo: a família, e que os esforços despendidos por governos, universidades e órgãos não-governamentais podem reforçar esta relação que já foi iniciada na infância, mas é possível que tenham pouco impacto nos indivíduos que não foram influenciados positivamente no seu contexto familiar. Já os resultados do estudo de Zahra et al. 2004, fornecem suporte à opinião de que a influência da cultura empreendedora é maior em empresas familiares do que em empresas não-familiares. Esses autores sugerem, ainda, que variáveis culturais e mecanismos organizacionais que são condicionados por dimensões da cultura organizacional possuem significante impacto nas atividades empreendedoras das empresas familiares. • Importância da cultura empreendedora para a economia e bem-estar da sociedade. A cultura empreendedora gera vantagem competitiva, pois promove ações inovadoras que criam tendências no mercado, gerando, em médio prazo, grandes retornos, tanto financeiros quanto sociais. Uma sociedade que possui pequena quantidade de empreendedores, geralmente, está propensa a ser periférica, ter baixo potencial competitivo, problemas econômicos e sociais. O desemprego e o baixo crescimento econômico têm uma se suas origens na falta de cultura empreendedora. Bernardino et al. (2006) e Greatti e Previdelli (2003) sugerem que a cultura empreendedora precisa ser disseminada, possibilitando que cada vez mais indivíduos convivam num ambiente empreendedor. Complementando esta idéia, os trabalhos de Cunha e Neto (2005), Pardini (2005), Almeida e Benevides (2006) apontam que a cultura empreendedora estimula o desenvolvimento econômico local e nacional, gerando tecnologia, emprego, inovações e renda. Greatti e Previdelli (2003) ainda apontam que, além de contribuir para o desenvolvimento econômico da sociedade, a atividade empreendedora faz com que os indivíduos se sintam cada vez mais realizados, conciliando o trabalho com o prazer que ele traz. • Importância do ensino na formação de uma cultura empreendedora Cunha e Neto (2005), baseados em dados de Guimarães (2002), relatam que os cursos voltados para a formação empreendedora surgiram a partir de 1947, nos EUA, idealizados pela escola de Administração de Harvard, com o objetivo de qualificar ex-combatentes da Segunda Guerra Mundial para o mercado de trabalho. Os autores também apontam que, historicamente, as instituições de ensino brasileiras sempre estiveram preocupadas em formar excelentes profissionais voltados para a grande empresa e que, somente, a partir da década de 80, com a crise dos empregos, foi que se iniciou um movimento em torno do empreendedorismo. Bohnenberger et al. (2007) apoiados em dados do SEBRAE (2004) relatam que, apesar de o ensino brasileiro ter apresentado uma melhora significativa nos últimos anos, introduzindo disciplinas e conteúdos específicos sobre empreendedorismo, ainda é insuficiente na formação de profissionais e preparação dos estudantes. Para Bernardino et al. (2006), a educação superior é altamente atrelada à reprodução do conhecimento, estimulando muito pouco o aluno a empreender. A gestão empreendedora raramente é discutida em sala de aula, apenas alguns professores atuam estimulando o empreendedorismo. Isso, provavelmente, se deve ao currículo defasado e mal direcionado dos professores, ao seu excessivo foco na reprodução de trabalhos teóricos, à falta de contato com a realidade empresarial, ao pouco incentivo à pesquisa e à falta de recursos. Assim, para 8 Almeida e Benevides (2006), não existe, no seio dessa nova população empreendedora brasileira, um nível padronizado de conhecimentos gerenciais imprescindíveis à operacionalização do dia-a-dia empresarial. Bernardino et al. (2006) apontam que a universidade é um local privilegiado para a criação da cultura empreendedora e que o desafio da educação empreendedora é construir um ambiente favorável à sua criação. Nesta perspectiva, surge a necessidade das universidades fomentarem o empreendedorismo e apoiarem o desenvolvimento de novos negócios. Greatti e Previdelli (2003) afirmam que, para que essa cultura seja inserida na sociedade, o ensino precisa mudar de valor, ou seja, deixar de ser voltado para a formação de profissionais que buscarão empregos no mercado de trabalho, para voltar-se à formação de profissionais empreendedores, que gerarão empregos e rendas para a comunidade, através dos próprios negócios. • Limitações da Literatura sobre Cultura empreendedora. Segundo Martens e Freitas (2007), embora, no Brasil, exista crescente interesse de pesquisadores pelo tema empreendedorismo, ainda há muito que avançar na realização de pesquisa científica na área, visto que tem sido dada, atualmente, limitada ênfase na literatura para os eventos que desencadeiam o comportamento empreendedor nas organizações. Para Bohnenberger et al. (2007), não existe consenso metodológico entre os estudos medidores dos resultados de atividades que visam promover o empreendedorismo, o que concorda com as idéias de Pardini (2005), de que as temáticas que aparecem na literatura têm sido divididas. Bernardino et al. (2006) apontam que a falta de foco na criação da cultura empreendedora por parte da universidade sinaliza a segregação entre a pesquisa acadêmica, o desenvolvimento tecnológico e as necessidades de mercado. Souza e Souza-Depieri (2006) chamam atenção para a necessidade de se adaptar a aplicação das teorias estrangeiras para a realidade brasileira, pois modelos baseados em culturas diferentes podem dificultar, nas empresas brasileiras, o desenvolvimento de modelos que possibilitem um diferencial competitivo. Dimitratos e Plakoyiannaky (2003) também apontam deficiências da base teórica no campo de empreendedorismo internacional e dedicam-se a elas através de uma exploração no contexto global, no qual o empreendedorismo internacional está inserido, especificamente a cultura organizacional. Eles sugerem que, aparentemente, a falta de base teórica no campo de empreendedorismo internacional explica a fragmentação de pesquisas na área. Para finalizar essa amostra da limitação da literatura sobre cultura empreendedora, Boojihawon et al. (2007) apontaram que o tema de sua pesquisa, a cultura empreendedora de subsidiárias multinacionais, era antes inexplorado na literatura, mas com considerável importância na área de Administração. • Atualidade do tema cultura empreendedora. Segundo Bohnenberger et al. (2007), o estudo do empreendedorismo tem atraído maior interesse nos últimos anos, principalmente em virtude da sua forte relação com o desenvolvimento regional. Para Bernardino et al. (2006), percebe-se que o estímulo à ação empreendedora tem sido um tema bastante discutido na atualidade, corroborando com as idéias de Pardini (2005), que sugere que o que se percebe hoje é uma necessidade contínua de se desenvolver estruturas teóricas envolvendo variáveis que busquem explicar as origens da ação empreendedora. Já para Souza e Souza-Depieri (2006), nessa nova ordem econômica mundial, pessoas criativas, com condições de enfrentar as mudanças de maneira original e inovadora, passam a 9 ser demandadas, no desenvolvimento sócio-cultural e econômico, para enfrentar os desafios desse momento histórico. Análise das Convergências Quatro entre os quinze artigos analisados tratam o local e a região como influenciadores da cultura empreendedora. Um fato interessante é que todos esses artigos são parte da produção científica nacional, o que nos leva a inferir que essa influência é considerada no âmbito nacional, já que nenhum artigo estrangeiro faz menção direta a esse tipo de influência. De acordo com Emmendoerfer (2000; 2008), o ser humano não nasce empreendedor, ele desenvolve esta característica. Assim, a possibilidade que existe de se transformar uma pessoa comum em empreendedor é que dá significado à cultura empreendedora. Era de se esperar, então, que a produção científica sobre cultura empreendedora clareasse as idéias de quem a acessa, sobre a oportunidade de se tornar um empreendedor. Mas na análise de tal produção, percebeu-se que apenas cinco artigos, fazem menção e convergem sobre a importância da cultura empreendedora na transformação de tais características. Partindo do pressuposto de que a produção acadêmica de empreendedorismo também é acessada por leigos no assunto, torna-se importante mostrar a todos que as características empreendedoras podem ser desenvolvidas através da disseminação da cultura empreendedora, corroborando, assim, com as idéias de Drucker (1987), que apontam que a cultura e os valores são fundamentais para a formação do empreendedor e, também os estudos de Mitchell et al., 2007, que sugerem que indivíduos podem se tornar empreendedores simplesmente por serem a pessoa certa, no lugar e momento apropriados. A família, como elemento-chave no desenvolvimento da cultura empreendedora do indivíduo, foi um fator de convergência muito interessante entre três artigos analisados, confirmando assim os estudos de Fillion (1999) que apontam que a literatura tem mostrado que as pessoas apresentam mais chances de se tornarem empreendedoras se houver um modelo na família ou no seu meio Cinco artigos nacionais evidenciaram a importância da cultura empreendedora para a economia e o bem-estar da sociedade. Todos eles convergem na idéia de que a disseminação da cultura empreendedora fomenta o desenvolvimento econômico e social, promovendo a realização pessoal do indivíduo, o que confirma a tese de Dolabela (1999), que diz que o empreendedorismo conduz com o desenvolvimento econômico, gera e distribui riquezas e benefícios para a sociedade. A ausência de cultura empreendedora gera desemprego e baixo crescimento econômico, fato confirmado no Brasil pelo SEBRAE (2005), o qual aponta que 22% das pequenas e médias empresas no país não ultrapassam os dois primeiros anos de vida, em uma economia que vem crescendo lentamente. Esses fatores nos levam a inferir que, no Brasil, o empreendedorismo acontece mais por necessidade do indivíduo do que pela identificação de oportunidades ou disseminação de uma cultura empreendedora entre a população. Outro tema convergente entre os artigos nacionais foi a importância do ensino na formação da cultura empreendedora. Cinco foram os artigos que trataram deste tema, sendo consenso entre todos que as unidades de ensino são fundamentais na disseminação da cultura empreendedora. Entretanto, são poucas as universidades brasileiras que abordam o empreendedorismo em sala de aula e algumas das que o fazem, muitas vezes não o fazem da melhor forma. Resultados obtidos por Souza et al. (2004), em uma pesquisa realizada nas IES brasileiras, apontaram que é fundamental estudar com mais profundidade o conceito de empreendedorismo para que se possa, realmente, disseminar essa cultura, não só internamente 10 à universidade, mas também no estreitamento e na reformulação das relações desta com o mundo empresarial, que demanda, cada vez mais, pessoas com uma formação empreendedora. As limitações da literatura sobre cultura empreendedora foi o tema mais convergente entre os artigos. No total, oito artigos, cinco nacionais e três internacionais apontaram a literatura sobre cultura empreendedora como limitada e deficiente, o que sugere que esse é um problema mundial. Percebe-se que cinco dos oito artigos que apontam a literatura como um problema são dos últimos dois anos, o que nos leva a inferir que não está havendo melhorias significativas na produção científica. Em quatro dos artigos estudados, os autores tiveram a preocupação de salientar a atualidade do tema e a importância de seu estudo na Administração. c) Categoria: Peculiaridade Apenas um, dos quinze artigos analisados, definiu o termo cultura empreendedora. Dimitratos e Plakoyiannaky (2003) definem cultura empreendedora, mesmo assim eles apresentam uma definição para cultura empreendedora internacional, apontando que esta é a cultura organizacional que facilita e acomoda atividades empreendedoras de uma empresa no mercado internacional. Isso nos leva a inferir que os autores desses artigos escreveram sob o mesmo pressuposto, de que os leitores conheciam previamente o significado do tema. Esse foi um dos problemas identificados na realização desta pesquisa, pois o tema “cultura empreendedora” foi encontrado diversas vezes sem menções ao seu significado. Promover a definição do tema em pesquisa não deveria ser considerado uma peculiaridade de um determinado artigo, pois não há como se difundir algo que possa gerar dúvidas. Com o intuito de suprir essa carência de definição do termo cultura empreendedora e de também não se tornar mais uma pesquisa que aborda este tema sem defini-lo, buscou-se, neste trabalho, uma definição inspirada nos trabalhos de McGrath e MacMillan (2000) e Ireland et al. (2003), e assim definiu-se cultura empreendedora como: um sistema de valores e crenças partilhados, que molda normas comportamentais; do qual são esperadas novas idéias; em que o risco é encorajado; o fracasso é tolerado; a aprendizagem é promovida; as inovações são altamente defendidas; e a mudança contínua é vista como uma transmissora de oportunidades. Neste sentido, uma cultura empreendedora fomenta e apóia a contínua busca de oportunidades empreendedoras que podem ser exploradas com vantagens competitivas sustentáveis. 4. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho contribui para as pesquisas em administração, na medida em que o mesmo identificou através do meta-estudo limitações da área na abordagem do tema cultura empreendedora, apesar da relevância do mesmo. Considerando a cultura empreendedora uma disciplina com produção científica discreta e incipiente. Assim, reitera-se a relevância da realização de análises periódicas da produção científica, pela possibilidade que estas oferecem para se fazerem reflexões, propiciando o seu conseqüente desenvolvimento. O número de artigos encontrados e analisados em profundidade sobre cultura empreendedora foi pequeno no período estipulado, devido à quantidade de fontes pesquisadas e à importância do tema para o desenvolvimento econômico. Esses resultados confirmam os estudos de Zahra et al. (2004), que apontam que o tema cultura empreendedora ainda é bastante restrito na literatura. Tais resultados também estão de acordo com as idéias de Phan (2003), que afirma que há um consenso sobre a importância do empreendedorismo, mas não há uma conformidade sobre o que deve ser pesquisado e ensinado. 11 Vale ressaltar que, apesar de um evento nacional e cinco periódicos internacionais analisados serem específicos da área de empreendedorismo, as discussões sobre cultura empreendedora não se concentram nos mesmos. Isso mostra que o tema cultura empreendedora ainda não é amplamente divulgado dentro da própria área específica. Foram identificados também os eventos e periódicos onde se concentra a produção científica sobre cultura empreendedora com o intuito de apontar onde o tema possui maior divulgação. Os autores mais citados nos artigos analisados também foram descritos, com o intuito de direcionar a comunidade científica e a sociedade em geral sobre quem são as “referências” mundiais na divulgação da cultura empreendedora. Com relação às convergências sobre o tema, há pontos convergentes na produção científica a respeito da cultura empreendedora. Tais pontos são: a cultura empreendedora é influenciada pelo local onde está inserida; a família é grande responsável pelo seu desenvolvimento; o bem-estar da sociedade e o desenvolvimento econômico são dependentes da disseminação da mesma; o ensino é um dos grandes responsáveis por essa disseminação; o Brasil necessita de melhorias na abordagem deste tema, que é completamente atual e sua literatura é recente e limitada. Há uma maior convergência entre as idéias expostas nos artigos nacionais. Já os artigos internacionais focam em diferentes abordagens e novas proposições. Um fato preocupante e que desperta muita atenção é que em apenas um artigo, entre todos os analisados, os autores se preocuparam em definir ou caracterizar cultura empreendedora. Mesmo assim, tal definição é referente à abordagem internacional do tema. Isso aponta que a literatura recente analisada sobre cultura empreendedora não faz menção sobre qual o seu significado e nem sua abrangência, o que nos leva a inferir que os autores partem do pressuposto de que todos os leitores conhecem a definição do tema. Ainda com relação à literatura, percebe-se que ela ainda é muito influenciada por autores estrangeiros, pois esses representam nove entre os 10 autores mais citados nos artigos analisados. A maioria destes é de origem americana, com destaque para Zahra, professor de empreendedorismo da University of Minnesota e autor mais citado nos trabalhos analisados. Dentro da literatura brasileira, vale apontar a importância de Fernando Dolabela, único autor nacional a figurar entre os 10 mais citados. Como conclusões, apesar de a cultura empreendedora ser a essência do empreendedorismo, a literatura dedicada a este tema é limitada e não muito coesa, tanto nacional como internacionalmente. Espera-se que os resultados apresentados aqui chamem a atenção dos pesquisadores para a necessidade de se pesquisar sobre esta cultura tão importante para o desenvolvimento econômico mundial. Atualmente, a disseminação deste tema é fundamental, visto que, segundo Dornelas (2001), o momento atual é a era do empreendedorismo, que é uma revolução silenciosa, que terá mais importância no século XXI do que a revolução industrial teve para o século XX (TIMMONS apud DORNELAS, 2001). Neste sentido, esperam-se que as discussões e apontamentos aqui traçados possam contribuir para futuros estudos relacionados a cultura empreendedora quanto a elucidação de questionamentos e da própria potencialidade de uso, adequação e validade da discussão teórica realizada nos estudos em Administração. Além disso, espera-se estimular a elaboração de uma agenda de pesquisa sobre cultura empreendedora, somando-se aos esforços até então empreendidos de modo positivista e interpretativo no campo. 5. 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EVENTOS E PERIÓDICOS NACIONAIS 3Es - Encontro de Estudo de Estratégias ; BAR - Brazilian Administration Review ; EGEPE Encontro de Estudos Sobre Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas; EMA Encontro de Marketing da ANPAD; EnADI - Encontro Nacional de Administração da Informação; EnANGRAD - Encontro Anual da Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração; EnANPAD - Enconto Nacional da ANPAD; EnAPG Encontro Nacional de Administração Pública e Governança; ENEO - Encontro dos Estudos Organizacionais; EnEPQ - Encontro Nacional de Ensino e Pesquisa em Administração e Contabilidade; EnGPR - Encontro Nacional de Gestão de Pessoas e Relacões no Trabalho; RAC - Revista de Administração Contemporânea; RAE-eletrônica - Revista de Administração de Empresas; Simpósio de Gestão da Inovação Tecnológica - ANPAD. * Este trabalho contou com o apoio da FAPEMIG – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais. 16