STONESMOGENE COLLARES AVALIAÇÃO DO USO DE RECURSOS HÍDRICOS EM REFINARIAS DE PETRÓLEO: UM ESTUDO DE CASO NA PETROBRAS Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistema de Gestão da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre. Área de concentração: Meio Ambiente Orientador: Prof. Aírton Bodstein de Barros, D. Sc. NITERÓI 2004 2 STONESMOGENE COLLARES AVALIAÇÃO DO USO DE RECURSOS HÍDRICOS EM REFINARIAS DE PETRÓLEO: UM ESTUDO DE CASO NA PETROBRAS Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistema de Gestão da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre. Área de concentração: Meio Ambiente Aprovado em: BANCA EXAMINADORA ________________________________________________ Prof. Aírton Bodstein de Barros, D. Sc. (Orientador) Universidade Federal Fluminense ________________________________________________ Prof. Oscar de Moraes Cordeiro Netto, D. Sc. Universidade de Brasília _________________________________________________ Prof. Sérgio Pinto Amaral, D. Sc. Universidade Federal Fluminense __________________________________________________ Montserrat Motas Carbonell, D. Sc. Universidade Estadual de Campinas 3 Dedico esse trabalho à minha esposa Sônia Rosa, pela paciência, incentivo, compreensão e, acima de tudo, pela cumplicidade que nos mantêm fortes e unidos. Dedico também aos meus filhos Marcelo e Márcio pelo carinho diário e por ouvirem com atenção e respeito um pai sempre agradecido pela família que tem. 4 AGRADECIMENTOS Ao professor Airton Bodstein de Barros, pela orientação recebida. A Marcelo Pernambuco de Fraga Rodrigues e José Mauricio Silva Lucca, pela compreensão, apoio e confiança no trabalho proposto. A Roberto da Silva Amorim pelas sugestões e auxilio na revisão do trabalho. A Nildemar Correia Ruella pelas informações fornecidas ao longo de toda jornada e ajuda na pesquisa bibliográfica. 5 RESUMO A utilização racional dos recursos hídricos é certamente a forma mais adequada para se combater o progressivo aumento da escassez mundial de água. Esta dissertação está fundamentada no sistema de tratamento de águas e de efluentes de uma refinaria brasileira. A partir de um balanço material base, são feitas análises de alternativas no processo e nas operações unitárias visando a diminuição da captação da água e do lançamento dos despejos. É feita uma análise técnico-econômica dessas possibilidades usando como parâmetros de avaliação, tecnologias convencionais e tecnologias de membrana. Os impactos ambientais mais significativos dessas alternativas também são abordados. A avaliação econômica é realizada através da composição de dados reais compilados em literatura referente a indústrias americanas e fornecedores de tecnologia de membranas com atuação no Brasil. Palavras-chaves: recursos hídricos, tratamento de águas e efluentes. 6 ABSTRACT The rational use of water resources is certainly the more suitable way to prevent the gradual increase of world-wide water scarcity. This thesis is based on water and wastewater treatment plants of a Brazilian oil refinery. Using a base mass balance, opportunity studies are conducted in the process and unit operations with the aim of reducing the consumption of the water and the wastewater generation. Economical and technical analysis are used to choose the best option, using conventional and membrane technologies. The economic evaluation is conducted by using an available compilation of real data from the literature about American industries and membrane technology suppliers in Brazil. Key words: water resources, water and wastewater treatment. 7 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Fluxograma simplificado de sistema de tratamento de água em refinarias.. 32 Quadro 1 Características operacionais das membranas ................................................ 34 Figura 2 Escala de porosidade e aplicabilidade de membranas filtrantes .................. 34 Figura 3 Princípio da osmose reversa ........................................................................ 41 Figura 4 Cadeia evolutiva de tratamento com eletrodeionização .............................. 44 Figura 5 Relação da geração de efluentes nas refinarias da Petrobras ....................... 45 Figura 6 Processo MBR ZenoGem ............................................................................. 49 Figura 7 Membrana submersa em reator biológico ..................................................... 51 Figura 8 Custo de membrana 1991-2003 .................................................................... 52 Figura 9 Minimização de água .................................................................................... 61 Figura 10 Seqüência de reúso proposta pela Veolia .................................................... 63 Quadro 2 Níveis de tratamento e descrição dos sistemas ............................................. 65 Figura 11 Caso Base ..................................................................................................... 74 Figura 12 Modificação das operações unitárias ........................................................... 75 Figura 13 Reúso da água de processo .......................................................................... 75 Figura 14 Correntes de entrada e saída ........................................................................ 77 Figura 15 Análise pinch indicando formas de redução ................................................ 78 Figura 16 Análise pinch indicando ações específicas para redução ............................ 79 Figura 17 Sistema de reúso da PEMEX em Tula ......................................................... 81 Quadro 3 Tecnologias de tratamento de água e efluentes nas refinarias da Petrobras 84 Quadro 4 Principais impactos dos fundamentos da PNRH na Reduc .......................... 86 Figura 18 Localização da Reduc .................................................................................. 91 Figura 19 Circuito hídrico base (Reduc) ...................................................................... 105 Figura 20 Circuito com reúso interno (Reduc) ............................................................ 106 Figura 21 Circuito com regeneração do efluente final (Reduc) ................................... 107 Figura 22 Foto aérea da região da Reduc e pontos de coleta de amostras ................... 113 Figura 23 Curva de investimento para tratamento secundário, filtração por contato, adsorção por carvão e osmose reversa .......................................................... 128 Figura 24 Curva de investimento para lodo ativado convencional ............................... 128 8 Figura 25 Curva de investimento para tratamento secundário seguido de filtração direta............................................................................................................... 129 Figura 26 Curva de investimento para tratamento secundário seguido de filtração por contato ........................................................................................................... 129 Figura 27 Diagrama simplificado de aproveitamento do rio Iguaçu ............................. 134 Quadro 5 Comparação das alternativas ao sistema atual .............................................. 143 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Usos múltiplos da água por continente (Km3) ............................................. 16 Tabela 2 Localização das refinarias por bacia hidrográfica e seus consumos ............ 26 Tabela 3 Características típicas de tecnologias de membranas ................................... 35 Tabela 4 Custos de operação e manutenção da planta de microfiltração de Saratoga . 37 Tabela 5 Eficiência de membranas de ultrafiltração .................................................... 39 Tabela 6 Geração de efluentes das refinarias em 2002 ............................................... 46 Tabela 7 Comparação de reator de membrana com lodo ativado convencional .......... 50 Tabela 8 Comparação de custos de investimento de lodo ativado e MBR ZenoGem . 53 Tabela 9 Comparação dos custos de operação para lodo ativado e MBR ZenoGem .. 54 Tabela 10 Uso de água na indústria ............................................................................. 55 Tabela 11 Uso de água em refinarias da região sudeste em 2001 ................................ 56 Tabela 12 Uso de água em complexo petroquímico do sudeste asiático ..................... 56 Tabela 13 Concentração esperada por nível de tratamento .......................................... 65 Tabela 14 Características do influente e efluente do Unitank ...................................... 82 Tabela 15 Características do influente e efluente (tratamento terciário) ..................... 82 Tabela 16 Categorias de refinarias e cargas médias efluentes ..................................... 93 Tabela 17 Características das unidades de tratamento de efluentes da Reduc ............. 95 Tabela 18 Impacto do tratamento da água de reposição na vazão de blowdown ........ 97 Tabela 19 Simulação para ciclo teórico máximo ......................................................... 98 Tabela 20 Origem de efluentes de refinarias ................................................................ 99 Tabela 21 Uso de água em refinarias americanas ........................................................ 99 Tabela 22 Economia hipotética nas refinarias com aumento de concentração ............ 101 Tabela 23 Comparação de efluentes secundários de refinaria e doméstico ................. 103 Tabela 24 Comparação dos impactos do reúso de efluentes ........................................ 107 Tabela 25 Qualidade do rio Iguaçu na estação IA260 ................................................. 114 Tabela 26 Qualidade do rio Iguaçu na estação IA261 ................................................. 115 Tabela 27 Qualidade do rio Iguaçu na estação IA262 ................................................. 116 Tabela 28 Dados de vazão dos rios Iguaçu e Sarapuí .................................................. 117 Tabela 29 Parâmetros indicadores de poluição em águas fluviais ............................... 118 Tabela 30 Parâmetros não metálicos nas amostras de águas fluviais .......................... 119 Tabela 31 Qualidade da água captada para refinarias da Petrobras ............................. 121 10 Tabela 32 Características do efluente para reúso em Cingapura .................................. 122 Tabela 33 Estimativa de custos de construção de estações recuperadoras ................. 124 Tabela 34 Estimativa de custos de operação e manutenção de estações .................... 125 Tabela 35 Custos da vida útil conforme o processo de tratamento ............................. 125 Tabela 36 Obtenção dos custos da vida útil com vazão de 700 m3/h ......................... 127 Tabela 37 Custos da vida útil para centrifugação do lodo da ETA ............................. 130 Tabela 38 Estimativa de custo total da água na Reduc ................................................ 131 3 Tabela 39 Exemplo de cálculo para tratamento do reciclo para 600 m /h .................. 132 Tabela 40 Estimativa de investimento para reciclo do efluente da Reduc ................... 132 Tabela 41 Custos da vida útil para ultra e osmose do rio Iguaçu ................................ 133 Tabela 42 Estimativa de cobrança pelo Ceivap ........................................................... 135 Tabela 43 Relação investimentos, custos Ceivap e tempo de retorno ......................... 135 11 LISTA DE SIGLAS ABES ANA ANP API AWWA BTU CEDRL CONAMA CEDAE CEIVAP DAF DBO DQO ENRCCI EPA ETDI ETE FEEMA GLP HPA IWC JICA LEA LFA LMC MENA MBR MTBE NASA NTU NESHAP NPDES OMS PNRH PNUMA PTFE Associação Brasileira de Engenharia Sanitária Agência Nacional de Águas Agência Nacional de Petróleo American Petroleum Institute American Water Works Association British Thermal Unit CANMET Energy Diversification Research Laboratory Conselho Nacional de Meio Ambiente Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro Comitê para Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul Dissolved Air Flotation Demanda Bioquímica de Oxigênio Demanda Química de Oxigênio Engineering News Record Construction Cost Index Environmental Protection Agency Estação de Tratamento de Despejos Industriais Estação de Tratamento de Esgotos Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente Gás Liqüefeito de Petróleo Hidrocarbonetos Poliaromáticos International Water Conference Japan International Cooperation Agency Lagoa de Equalização Aerada Lagoa Facultativa Aerada Lagoa de Mistura Completa Middle East and North Africa Membrane Bioreactor Metil Terc Butil Éter National Aeronautics and Space Administration Nephlometric Turbity Units National Emission Standards for Hazardous Air Pollutants National Pollutant Discharge Elimination System Organização Mundial de Saúde Política Nacional de Recursos Hídricos Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente Politetrafluoretileno 12 RECAP REDUC RLAM REMAN REPAR REPLAN REVAP RFNT RFT RPBC SDI SEMADS SERLA SISNAMA TCLP UNEP UNESCO USEPA Refinaria de Capuava Refinaria Duque de Caxias Refinaria Landulpho Alves Refinaria de Manaus Refinaria Presidente Getúlio Vargas Refinaria de Paulínea Refinaria do Vale do Paraíba Resíduos Não Filtráveis Totais Resíduos Filtráveis Totais Refinaria Presidente Bernardes/Cubatão Silt Density Index Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável Superintendência Estadual de Rios e Lagos Sistema Nacional do Meio Ambiente Toxic Characteristic Leaching Procedure United Nations Environmental Programme United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization U. S. Environmental Protection Agency 13 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 15 1.1 O PROBLEMA .............................................................................................................. 15 1.2 OBJETIVO DO ESTUDO ............................................................................................. 22 1.2.1 Objetivo Geral ........................................................................................................... 22 1.2.2 Objetivos Complementares ...................................................................................... 22 1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO .................................................................................... 23 1.4 METODOLOGIA .......................................................................................................... 23 1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ............................................................................. 24 2. PRINCIPAIS TECNOLOGIAS DE TRATAMENTO UTILIZADAS ..................... 25 2.1 CONSUMO E DESCARTES DE ÁGUA DAS REFINARIAS BRASILEIRAS ......... 25 2.2 TRATAMENTO DE ÁGUA ......................................................................................... 30 2.2.1 Tratamento Convencional ........................................................................................ 31 2.2.2 Tratamento com Membranas .................................................................................. 32 2.2.2.1 Microfiltração .......................................................................................................... 35 2.2.2.2 Ultrafiltração ............................................................................................................ 37 2.2.2.3 Nanofiltração ........................................................................................................... 40 2.2.2.4 Osmose Reversa ....................................................................................................... 40 2.2.2.5 Eletrodiálise ............................................................................................................ 43 2.3 GERAÇÃO E TRATAMENTO DE EFLUENTES EM REFINARIAS ...................... 44 2.3.1 Tratamentos Convencionais ..................................................................................... 46 2.3.2 Tratamento com Membranas .................................................................................. 48 2.4 UTILIZAÇÃO DA ÁGUA NOS PROCESSOS DE REFINO DE PETRÓLEO .......... 54 2.4.1 Principais Aplicações ................................................................................................ 54 2.4.2 Métodos e Tecnologias para Reúso ......................................................................... 57 2.5 LEGISLAÇÃO APLICÁVEL AO REÚSO ................................................................. 84 3. ESTUDO DE CASO PARA A REDUC ....................................................................... 90 3.1 SISTEMAS E INSTALAÇÕES EXISTENTES ............................................................ 90 3.1.1 Unidades de Processo e a Geração de Efluentes .................................................... 91 3.1.2 Tratamento de Água ................................................................................................. 94 3.1.3 Tratamento de Efluentes .......................................................................................... 94 14 3.2 OPORTUNIDADES PARA REÚSO ............................................................................ 96 3.2.1 Opções para Reúso das Correntes Internas de Processo ...................................... 96 3.2.1.1 Torres de Resfriamento ........................................................................................... 96 3.2.1.2 Despejos dos Processos e Sistemas de Tratamento ................................................. 101 3.2.1.3 Águas Pluviais ......................................................................................................... 102 3.2.1.4 Outras Fontes .......................................................................................................... 102 3.2.1.5 Correntes Hídricas da REDUC................................................................................. 104 3.2.2 Opções de Correntes Externas ................................................................................ 108 3.2.2.1 Baía de Guanabara e Rio Iguaçu .............................................................................. 108 3.2.2.2 Efluente de ETE Municipal ..................................................................................... 120 3.2.3 Viabilidade Técnica e Econômica ............................................................................ 123 3.2.3.1 Estimativa do Custo de Utilização do Rio Iguaçu ................................................... 133 3.2.3.2 Impactos da Cobrança na Reduc Utilizando Critérios do Ceivap ........................... 134 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 137 5. CONCLUSÃO E SUGESTÕES ................................................................................. 141 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 145 15 1. INTRODUÇÃO 1.1 O PROBLEMA A sobrevivência de qualquer organismo vivo depende fundamentalmente de água. Sem água não há vida. O homem, além de sua utilização para atendimento às necessidades biológicas, tem-se tornado cada vez mais dependente das propriedades da água para satisfazer outros usos, tais como, transporte, recreação, pesca, produção de energia, suprimento a indústrias etc. Essa diversidade de usos, entretanto, gera conflitos de interesse entre grupos organizados na sociedade, assim como com a própria natureza, em função das alterações no ciclo hidrológico. Toda água disponível no planeta integra o chamado Ciclo Hidrológico, no qual este líquido circula na atmosfera, superfície do solo e no subsolo, através dos processos de precipitação, infiltração, escoamento superficial (runoff), escoamento subterrâneo, evaporação e evapotranspiração. Esse é o modelo pelo qual são representadas a interdependência e o movimento contínuo da água nas fases sólida, líquida e gasosa. Através do entendimento desse ciclo, perpetuou-se ao longo do tempo a “crença” da inesgotabilidade da água. Até o final da década de 80, acreditava-se que o ciclo hidrológico no planeta era fechado, ou seja, que a quantidade total de água na Terra não sofria alteração. Descobertas recentes, entretanto, sugerem que “bolas de neve” de 20 a 40 toneladas, denominadas pelos cientistas de “pequenos cometas”, provenientes de outras regiões do sistema solar podem atingir a atmosfera da Terra. As chuvas de “bolas de neve” vaporizam-se quando se aproximam da atmosfera terrestre e podem ter acrescentado 3 trilhões de toneladas (3 x 106 km3) de água a cada 10.000 anos (FRANK, 1990; PIELOU, 1998 apud TUNDISI, 2003, p. 6). Dos 1.386.000.000 km3 de água distribuídas no globo terrestre, segundo SHIKLOMANOV (apud REBOUÇAS, 1999), cerca de 97,5% é de água salgada, e dos 2,5% restantes, apenas 0,3% corresponde à água doce disponíveis em rios e lagos; ou seja, estimase um volume de 104.000 km3 de água doce superficial disponível. No livro Last Oasis, de Sandra Postel (apud MANCUSO, 2002), é citado que uma pequena fração da água do planeta está sempre se transformando em água doce através de um contínuo processo de evaporação e precipitação. Aproximadamente 40.000 km3 de água são transferidos dos oceanos para o continente, a cada ano, renovando o suprimento de água doce mundial, quantidade muitas vezes superior à necessária para a população atual do planeta. 16 Com relação à sua distribuição, a literatura tem inúmeras citações de que, em razão das peculiaridades climáticas, as águas doces não estão distribuídas igualmente no planeta. Na avaliação do Banco Mundial, a disponibilidade mínima de água para descaracterizar uma situação de estresse é de 2.000 m3/habitante/ano (REBOUÇAS, 1999, p. 31). Se considerarmos a população mundial atual de 6,2 bilhões de habitantes e que cada indivíduo necessita, em média, de 250 l/dia de água para satisfazer suas necessidades básicas, essa população levaria cerca de 180 anos para consumir o volume de água doce superficial disponível. O problema surge da distribuição desigual da precipitação e do mau uso que se faz da água captada, e claro, do aumento da população mundial. As atividades humanas tais como construções de reservatórios para estocagem de água, transposição de bacias hidrográficas, utilização desordenada de águas subterrâneas, desvios de cursos d’água para atendimento à agricultura e outros, interferem diretamente no ciclo hidrológico, resultando na alteração do padrão espacial de vazão natural. Segundo dados publicados por especialistas (REBOUÇAS, 1999; TUNDISI, 2003), a drenagem anual per capita do Brasil em 1983 era de 43.200 m3 com perspectiva de redução da ordem de até 30% em 2000. Essa projeção, entretanto, não é confirmada por dados atualizados pela UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, que indicam 48.314 m3 em 2003. Essa diversidade de utilização, fruto do desenvolvimento econômico e social das nações, produziu inúmeras alterações sobre o ciclo hidrológico, bem como nas reservas de águas superficiais e subterrâneas. Houve ao longo do tempo, especialmente a partir de meados do século XX, uma expansão do desenvolvimento agrário mundial, intensificando o uso da água para esse fim. A tabela 1 apresenta os diferentes usos da água por continente: Tabela 1 - Usos múltiplos da água por continente (km3) (1995) Região África Ásia Austrália-Oceania Europa América do Norte e Central América do Sul Total mundial Percentagem do total mundial Irrigação 127,7 1.388,8 5,7 141,1 248,1 62,7 2.024,1 68,3 Fonte: RAVEN et al. (1998 apud TUNDISI, 2003). Indústria 7,3 147,0 0,3 250,4 235,5 24,4 684,9 23,1 Doméstico/municipal 10,2 98,0 10,7 63,7 54,8 19,1 256,5 8,6 17 Na avaliação de 2002, através de relatório da United Nations Environmental Programme (2002), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) traça um quadro preocupante para os problemas mundiais de água e a degradação dos recursos hídricos no planeta destacando-se que: − 80 países, representando 40% da população mundial, têm sérias dificuldades para manter a disponibilidade de água; − cerca de 1/3 da população mundial vive em países onde a falta de água vai de moderada a altamente impactante e o consumo representa mais de 10% dos recursos renováveis da água; − mais de 1 bilhão de pessoas (cerca de 16% da população mundial) têm problemas de acesso a água potável e 2,4 bilhões (39%) não têm acesso a saneamento básico; − estima-se que entre 10.000 e 20.000 crianças morrem todo dia vítimas de doenças de veiculação hídrica; − em algumas regiões da China e da Índia, o lençol freático afunda de 2 a 3 metros anualmente e 80% dos rios são muito tóxicos para suportar peixes; − mais de 20% de todas as espécies de água doce estão ameaçadas ou em perigo em razão da construção de barragens, diminuição do volume de água e danos causados por poluição e contaminação; − cerca de 37% da população mundial vive próximo à costa, onde o esgoto doméstico é a maior fonte de contaminação; − eutrofização marinha e costeira causada pelo impacto do nitrogênio presente nos esgotos é uma das principais fontes de poluição, contaminação e degradação de recursos costeiros e marinhos; − 120 milhões de m3 de água estão contaminados e para 2050 espera-se uma contaminação de 180 milhões de m3 caso persista a poluição. O Brasil, conforme a UNESCO, é o 25ọ país com maior volume de água por habitante. A disponibilidade hídrica é alta, porém distribuída de forma desigual em relação à densidade populacional. A produção total de águas no Brasil representa 53% do continente sul americano (334.000 m3/s) e 12% do total mundial (1.488.000 m3/s) (REBOUÇAS, 1999). Segundo a Agência Nacional de Águas (2002), o Brasil possui cerca de 8% das reservas mundiais de água doce, situação essa considerada privilegiada em termos de quantidade per capita. Entretanto, também como no restante do planeta, a distribuição não é 18 uniforme. Além disso, o aumento populacional, principalmente em regiões de maior carência, e a degradação ambiental decorrente do mau uso e políticas predatórias e de resultados imediatistas que não priorizam a conscientização, têm dificultado sobremaneira o acesso à água de qualidade para consumo humano. A Região Amazônica foi “contemplada” pela natureza com 73% das águas doces brasileiras enquanto que os 27% restantes estão concentrados nas regiões de maior índice demográfico. A disponibilidade de água doce no Brasil tem-se reduzido ao longo do tempo, pelo aumento da população, por seus usos múltiplos e pela perda de mecanismos de retenção através da remoção de áreas alagadas, desmatamento e a eutrofização de lagos e represas. Sintetizando a situação dos recursos hídricos no Brasil, verifica-se que a região com maior abundância e disponibilidade de recursos hídricos é a região Norte, principalmente levando-se em conta a baixa densidade populacional. Entretanto, as condições sanitárias (drenagem de esgotos e tratamento de água) são precárias, agravando o problema da saúde humana, com incidência sobre a mortalidade infantil. Na região Sudeste, o problema é outro: há água suficiente, mas o crescimento da urbanização, a ampliação do parque industrial e a intensificação das atividades agrícolas, além do crescimento populacional e da diversificação dos usos múltiplos, aumentaram os custos do tratamento, tornando a água tratada um bem cada vez mais caro, o que representa um empecilho ao crescimento econômico e ao desenvolvimento. Na região Sul, o problema também está relacionado com a diminuição da água per capita, o aumento das atividades agrícolas e industriais, o aumento dos custos do tratamento e a diversificação dos usos múltiplos: irrigação, uso industrial, piscicultura, navegação e recreação. No Nordeste, o problema é a escassez, a contaminação por doenças tropicais de veiculação hídrica e a falta de saneamento básico. A região Centro-Oeste tem uma área de alta biodiversidade, única no mundo em dimensão contínua (aproximadamente 200.000 km2), entretanto, altamente ameaçada por atividades predatórias sob o ponto de vista ambiental (HESPANHOL, 1999). Podemos concluir, portanto, que o aumento populacional e a poluição dela decorrente, são os principais fatores de perda da qualidade dos recursos hídricos nacionais. Para Tundisi, também estudioso do assunto, um dos principais desafios para o Brasil no século XXI será garantir o suprimento adequado de água para as regiões metropolitanas e urbanas (20% da população brasileira não recebem água tratada, recorrendo a outras fontes para seu suprimento). Em muitas cidades de pequeno porte (< 20.000 habitantes) e de médio 19 porte (entre 100.000 e 200.000 habitantes), o suprimento de água é adequado, mas o aumento no custo de tratamento de água e esgotos exigirá grandes investimentos (TUNDISI, 2000). A poluição hídrica é apontada como um dos principais fatores que têm dificultado o acesso à água de boa qualidade. Todos os esgotos sanitários, industriais e agrícolas afetam, de algum modo, a vida normal de um rio ou lago. Quando a influência é suficiente para tornar a água inaceitável para o seu melhor uso, diz-se que a mesma está poluída (HAMMER, 1979). Os padrões para as águas superficiais definem a qualidade aceitável para cada usobenefício, por exemplo, para abastecimento público. Os padrões dos efluentes de esgotos regulamentam as descargas das indústrias e comunidades, para assegurar a sua coerência com os critérios estabelecidos para as águas superficiais. Um rio ou córrego, que seja usado para a diluição de esgoto, depende da capacidade natural de autodepuração para assimilar os despejos e restabelecer sua própria qualidade original. A capacidade de recuperação, após uma descarga de esgotos, é determinada pelas características do rio, incluindo suas condições climáticas. Um dos efeitos mais conhecidos de poluição de corpos hídricos é a eutrofização. Trata-se do processo pelo qual os lagos tornam-se enriquecidos com nutrientes, resultando características indesejáveis na qualidade da água, tanto para abastecimento público como para recreação. O processo de eutrofização é diretamente relacionado com a cadeia alimentar aquática, cuja produtividade é proporcional à disponibilidade de nitrogênio e fósforo, geralmente encontrados em pequenas quantidades em águas naturais. A abundância destes nutrientes desequilibra a sucessão normal da cadeia alimentar aquática provocando um desenvolvimento explosivo de algas verde-azuladas tornando a água turva. Após decomposição, essas algas produzem odores desagradáveis, consomem oxigênio dissolvido e favorecem o assoreamento ao precipitarem. A eutrofização, portanto, é o aumento da concentração de nutrientes, especialmente fósforo e nitrogênio, nos ecossistemas aquáticos, que tem, como conseqüência, aumento de suas produtividades (ESTEVES, 1988). Segundo WATSON, R. et al. (1998), em Protecting our planet securing our future: linkages among global environmental issues and human needs, as conclusões de uma série de reuniões realizadas em 1990 de cientistas, administradores e gerentes da UNEP, NASA e Ministros do Meio Ambiente de diversos países, patrocinadas pelo Banco Mundial, podem ser resumidas nas seguintes tendências, causas e projeções futuras: 20 a) Tendências atuais: − A crise de água atingiu muitas regiões do planeta. Um terço da população mundial habita áreas com estresse de água. − 1,3 bilhão de pessoas não têm acesso à água potável e 2 bilhões não têm acesso a saneamento adequado. − 70% da água captada é utilizada para a irrigação. − Funções hidrológicas e ecológicas das áreas alagadas vêm sendo reduzidas paulatinamente. − A diversidade global dos ecossistemas aquáticos vem sendo reduzida significativamente. − A poluição crescente da água aumenta os custos de tratamento. − Uso inadequado do solo resulta em perdas econômicas para os usos e conservação dos recursos hídricos b) Principais causas: − Crescimento populacional e rápida urbanização. − Diversificação dos usos múltiplos. − Gerenciamento não coordenado dos recursos hídricos disponíveis. − Não reconhecimento de que saúde humana e qualidade de água são interativos. − Peso excessivo de políticas governamentais nos “serviços de água” (fornecimento de água e tratamento de esgotos). − Degradação do solo por pressão da população, aumentando a erosão e a sedimentação dos rios, lagos e represas. − A água é tratada exclusivamente como um bem social e não econômico, resultando em uso ineficiente, em irrigação e em desperdícios após o tratamento (na distribuição). − Problemas sociais, econômicos e ambientais referentes aos recursos hídricos são tratados separadamente e de forma pouco eficiente (L’VOVICH & WHITE, 1990). 21 c) Projeções para o futuro: − Em 2025, dois terços da população humana estará vivendo em regiões com estresse de água. Em muitos países em desenvolvimento a pouca disponibilidade de água afetará o crescimento e a economia local e regional. − A poluição da água continuará afetando os recursos hídricos continentais e as águas costeiras. − Uso inadequado do solo afetará bacias hidrográficas nos continentes, águas costeiras e estuárias. O conjunto de ações produzidas pelas atividades humanas ao explorar os recursos hídricos para expandir o desenvolvimento econômico e fazer frente às demandas industriais e agrícolas e à expansão e crescimento da população e das áreas urbanas foi se tornando complexo ao longo da história da humanidade. Duas causas fundamentais, apontadas como causadoras dos impactos nos ecossistemas aquáticos continentais da superfície e subterrâneos, são o crescimento mundial da população humana e o grau de urbanização. A contaminação das águas subterrâneas é outra fonte importantíssima de deterioração dos recursos hídricos e das reservas disponíveis. Essa contaminação se dá pela percolação de substâncias tóxicas presentes em resíduos lançados na superfície, acidentes com derrames de combustíveis, fossas negras, aterros sanitários, dejetos de animais confinados em áreas com grande concentração de fazendas em que o material permanece no solo e outros. Em regiões próximas à costa, algumas obras podem resultar no influxo de águas salobras em aqüíferos ou no lençol freático. Os ambientes aquáticos localizados em grandes centros urbano-industriais têm sofrido com as mais variadas formas de alterações antrópicas inviabilizando seu uso direto para o consumo humano. Conseqüentemente, obter água de boa qualidade, dentro dos padrões mundiais de potabilidade tem-se tornado cada vez mais dispendioso. O aumento da retirada de água tem significado para muitos países perdas substanciais e desequilíbrios no ciclo hidrológico. Quando as retiradas de água para irrigação, abastecimento público ou uso industrial excedem a quantidade de água reposta pela precipitação e a recarga, há um desequilíbrio que causa escassez. Isso ocorre tanto em águas superficiais quanto em águas subterrâneas. A escassez progressiva da água em âmbito mundial tem incentivado pesquisas aplicadas do mais alto nível científico e tecnológico para os países da Comunidade Econômica Européia e, de forma análoga, para os 21 países componentes do Middle East and 22 North África (MENA), a região de maior escassez de água do planeta. Observamos, porém, que tais iniciativas partem principalmente de organismos públicos que priorizam (e não poderia ser diferente) tecnologias para atendimento e garantia do suprimento dos usos básicos tais como, abastecimento humano, irrigação e conservação para produção de alimentos (pesca). Um dos exemplos mais objetivos é conhecido como Projeto Poseidon, desenvolvido pela Comunidade Econômica Européia que visa aumentar o reúso indireto da água potável pela eliminação de resíduos dos produtos farmacêuticos e de higiene pessoal, que passam através dos processos usuais de tratamento dos esgotos e contaminam a água de abastecimento dos aqüíferos superficiais e profundos. 1.2 OBJETIVO DO ESTUDO 1.2.1 Objetivo Geral O objetivo desta dissertação é avaliar a gestão dos recursos hídricos em refinarias de petróleo brasileiras, sob o ponto de vista da utilização racional de mananciais disponíveis e do reúso de correntes hídricas, que possibilitem a minimização do uso de recursos naturais e geração de efluentes. 1.2.2 Objetivos Complementares São ainda objetivos deste trabalho: − Fazer uma revisão das principais tecnologias existentes aplicadas ao tratamento de águas e efluentes que podem compor um sistema de recuperação desses recursos. − Mostrar a profissionais e estudantes (futuros tomadores de decisão), a necessidade de integrar à prática nacional o conceito e a necessidade do reúso dos recursos hídricos como fator de sustentabilidade. − Incentivar profissionais da indústria brasileira a buscar soluções para problemas de escassez de recursos hídricos através da viabilização de tecnologias consolidadas a nível mundial e pouco conhecidas no cenário nacional. − Contribuir com as pesquisas que objetivam o uso racional dos recursos disponíveis em bacias hidrográficas. 23 1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO O estudo está baseado no levantamento das principais tecnologias de tratamento de recursos hídricos aplicadas atualmente em refinarias de petróleo brasileiras. A avaliação da aplicabilidade é limitada a um estudo de caso hipotético na refinaria de atuação do autor, referenciando dados reais da instalação computados no período de janeiro de 2001 a dezembro de 2002. O estudo não visa enumerar e analisar criticamente todos os possíveis arranjos de processos que possibilitam reutilização de água nas refinarias, nem descrever tecnicamente os sistemas e tratamentos existentes, e sim, ilustrar através de exemplo com dados reais a necessidade de análise mais ampla das questões técnicas, econômicas, legais e sócioambientais para tomada de decisão de projetos dessa natureza. 1.4 METODOLOGIA O estudo foi desenvolvido através do levantamento baseado em pesquisa bibliográfica, consulta a empresas fornecedoras de tecnologia na área de tratamento de água, de efluentes industriais e domésticos, publicações de relatórios de órgãos estaduais e na experiência profissional de vinte e cinco anos do autor, atuando na área de otimização de processos de tratamento de água e efluentes em indústrias química, farmacêutica e de petróleo. A proposta de trabalho, em função da natureza das questões contextualizadas, pode ser classificada como aplicada na medida em que objetiva apresentar conhecimentos de aplicação prática específicos na atividade industrial. Caracteriza-se, também, como uma pesquisa exploratória uma vez que não visa verificar teorias e sim a buscar alternativas para solução de problemas ainda pouco discutidos no cenário nacional, em nível empresarial. Para as informações sobre as tecnologias de tratamento de água e efluentes, empregouse a bibliografia disponível complementada com relatórios gerados de aplicações práticas da Petrobras e publicações de empresas prestadoras de serviços e fornecedoras de tecnologia. A legislação e normas relacionadas à análise do trabalho, foram as publicadas pelo Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e pelo Sistema Nacional de Meio Ambiente. Legislações aplicadas em sistemas internacionais foram consultadas em papers apresentados em congressos internacionais e Internet. 24 1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO A contextualização para motivação da proposta do trabalho e a organização dos tópicos considerados importantes para o seu desenvolvimento são apresentadas no capítulo 1. No capítulo 2, faz-se uma apresentação das principais tecnologias utilizadas em tratamentos de água para consumo e águas residuárias objetivando o reúso. São feitas abordagens panorâmicas dos métodos de tratamentos considerados convencionais e tecnologias mais modernas baseadas em membranas filtrantes, bem como tecnologia computacional baseada em integração mássica conhecida como Pinch Technology. A legislação aplicável também é abordada nesse capítulo. No capítulo 3, é feita a descrição dos sistemas existentes nas principais refinarias brasileiras e um levantamento de campo em uma refinaria específica (Refinaria Duque de Caxias – Reduc) para avaliação de oportunidades de melhorias, como exemplo, que possam ser implementadas. Para avaliação dos aspectos e impactos, é feita uma análise custo/beneficio do reúso de algumas correntes utilizadas no exemplo. No capítulo 4, são discutidos os resultados do estudo de caso. O capítulo 5 trata da conclusão e sugestões desta dissertação e as referências bibliográficas, no capítulo 6, encerram o trabalho. 25 2. PRINCIPAIS TECNOLOGIAS DE TRATAMENTO UTILIZADAS 2.1 CONSUMO E DESCARTES DE ÁGUA DAS REFINARIAS BRASILEIRAS O parque de refino nacional está, no momento, sendo ampliado significativamente por conta das recentes descobertas de petróleo no Brasil, por adequação da matriz energética, pela modernização dos processos para garantir competitividade no mercado globalizado e atendimento a requisitos ambientais. Até o ano de 2007, estão previstas ampliações nas refinarias de norte a sul, elevando a capacidade de refino nacional em mais de 200 mil barris/dia até o final da década (PETROBRAS, 2003). A viabilização desses novos empreendimentos tem, como fator de grande importância, a necessidade, no mínimo, da manutenção dos atuais níveis de alocação dos recursos hídricos em algumas unidades operacionais, e em outras, buscar junto à autoridade competente alternativas que possibilitem o aumento gradativo da outorga concedida. Essa necessidade, entretanto, choca-se frontalmente, em nível macro, com o cenário de escassez de água de qualidade em algumas regiões do país e a aparente abundância em outras. A Refinaria Isaac Sabbá (REMAN), por exemplo, localizada em Manaus na região norte do país tem no rio Negro, afluente do Amazonas, uma potencial fonte de água. Embora utilizando água de poço, não apresenta qualquer preocupação em termos de quantidade desse recurso para muitos anos. Já a Refinaria de Paulínia (Replan), instalada no município de Paulínia, São Paulo, enfrenta dificuldades para aumento do seu parque industrial em função da escassez de água na região, tendo sido inclusive, motivo de preocupação de seus técnicos uma possível redução da sua quota de outorga. Outra refinaria com sérios problemas de água é a Refinaria de Capuava (Recap), instalada no município de Mauá/SP e usuária da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê. O rio Tamanduateí, tributário dessa Bacia, e do qual a refinaria capta parte da água utilizada, apresenta alto grau de poluição, situando-se na região metropolitana de São Paulo; ou seja, essa bacia está inserida em uma das áreas de maior adensamento urbano do mundo. Também na Refinaria Henrique Laje (Revap), localizada na Bacia do rio Paraíba do Sul, foi sinalizada em acordo de compromisso com Órgão Ambiental local, a dificuldade de se aumentar a capacidade de captação da atual fonte de água para as ampliações futuras. Por outro lado, a Reduc, também usuária (indireta) da Bacia do Paraíba através do rio Guandu, está substituindo a captação de água do mar por água doce para atendimento ao 26 sistema de refrigeração de suas unidades de processo. O que pode parecer a princípio um contra-senso é justificado pelo fechamento do circuito aberto, eliminando os riscos de contaminação por hidrocarbonetos da Baía de Guanabara. A Reduc apresenta ainda a peculiaridade de estar sob influência de 3 bacias: capta água nas bacias de Sepetiba (rio Guandu, transposto da bacia do Paraíba) e Guanabara (barragem de Saracuruna), sendo que seu descarte é feito no rio Iguaçu, o que deixa clara a necessidade de uma gestão que integre os recursos naturais aduzidos e o controle ambiental na região de influência da atividade. Todo esse cenário leva-nos a acreditar que a adoção de Política de Gestão de Recursos Hídricos integrada, que contemple a utilização racional da água é fundamental para consolidar sustentabilidade da atividade em níveis nacional e internacional. Esforços pela reutilização máxima das correntes hídricas internas para minimização da geração de efluentes devem ser incentivados no meio industrial. Em uma visão geral da questão hídrica no refino de petróleo, pode-se observar, na tabela 2, que as refinarias da Petrobras estão distribuídas pelo território nacional em regiões com aparente abundância de recursos hídricos e regiões com comprovada escassez desse recurso. Tabela 2 - Localização das refinarias por bacia hidrográfica e seus consumos Unidade instalada REMAN RLAM REGAP REDUC REVAP REPLAN RPBC RECAP REPAR REFAP Bacia de captação Negro – AM São Francisco – BA Paraopeba – MG Guandu – RJ Paraíba do Sul – SP Piracicaba – SP Baixada Santista – SP Alto Tietê – SP Paraná – PR Sinos – RS Capacidade instalada (bbl/dia)* 46.000 307.000 151.000 242.000 226.000 352.000 170.000 53.000 196.000 189.000 Consumo de água (m3/dia) 5.330 28.800 21.870 35.800 22.800 38.400 31.200 6.100 14.880 15.035 Fonte: O autor com base em Cadernos Petrobras (PETROBRAS, 2003) e relatórios internos não divulgados Diversos fatores são avaliados para a escolha da localização de uma refinaria de petróleo. Critérios políticos e critérios técnicos determinaram a instalação das atuais refinarias da Petrobras. Nesse caso, por tratar-se de uma empresa estatal, o critério político provavelmente teve até maior influência na escolha. 27 Dos critérios técnicos, contavam basicamente, as condições de transporte de petróleo, escoamento de derivados, disponibilidade de energia elétrica, água em quantidade e qualidade, inclusive para diluição e transporte do efluente tratado, áreas adequadas em extensão e mercado. A construção da Refinaria Landulpho Alves (RLAM) foi iniciada em 1949 e entrou em operação em 17/09/50, anterior à própria criação da Petrobras, com o nome de Refinaria Nacional de Petróleo e conhecida como Refinaria de Mataripe. Entrou em operação processando diariamente 2.500 barris (400m3) de óleo proveniente dos campos do Recôncavo. Hoje tem uma capacidade de processamento de 48.500 m3/d (306.000 bpd). A posição geográfica da RLAM oferece grandes vantagens: além da proximidade dos campos produtores de petróleo da Bahia, está a apenas 10 km do Terminal Alves Câmara (Temadre), que escoa sua produção e a abastece de matéria-prima. O consumo de água é da ordem de 1100 m3/h. A água doce que abastece a refinaria é bombeada do rio Catu, distante 50 km, através de uma adutora com capacidade de bombeamento de 26000 m3/d. Outra fonte de suprimento é a represa São Paulo, a 5 km da RLAM, com capacidade para 28000 m3/d. A refinaria também conta com 6 bombas de água do mar para refrigeração de equipamentos. Seus efluentes são tratados através do processo de lodos ativados a uma vazão média de 780 m3/h e descartados na baía de Todos os SANTOS. A primeira refinaria construída após a instituição do monopólio estatal através da Lei 2004, foi a Refinaria Presidente Bernardes-Cubatão (RPBC) que teve sua história iniciada em 1948, quando o governo federal autorizou a abertura de créditos para construir uma refinaria com capacidade para processar 45 mil barris por dia. Vários municípios foram cogitados para sediar o empreendimento, entre eles o Rio de Janeiro – na época, DF – mas a hipótese causou grande agitação no meio político e acabou sendo descartada. As disputas terminaram com a escolha de Cubatão, município de mais de 3 séculos e emancipado de SANTOS em 1949. As razões principais foram a proximidade da Grande São Paulo e do porto de SANTOS, assim como, infra-estrutura para captação de água, no rio das Pedras, e de energia, na usina da Light. Atualmente, a RPBC tem capacidade para processar até 170.000 bbl/dia de petróleo, consome cerca de 1.300 m3/h de água e descarta 900 m3/h de efluente hídrico (tempo seco) no rio Cubatão. Na escolha da localização da REPLAN, além de contar com toda infra-estrutura de condições de transporte, disponibilidade de água e energia, o município de Paulínia, localizado a 114 km de São Paulo, acenava com a possibilidade de interiorização de indústrias consumidoras de derivados de petróleo. Outra vantagem é o fato de situar-se em área de 28 aproximadamente 9 milhões de m2, isolada do convívio urbano. Os vizinhos mais próximos são os rios Jaguari e Atibaia, limitando os dois flancos da refinaria, e uma faixa de estrada Paulínia-Carmópolis com 1321 metros. Considerada a refinaria mais rentável do sistema, a Replan capta uma vazão de água de aproximadamente 1600 m3/h no rio Jaguari e lança cerca de 500 m3/h de efluentes no rio Atibaia. Em tempos mais modernos, podemos dizer que existem duas teorias sobre a instalação de uma nova refinaria: a da localização nas proximidades da jazida produtora de petróleo e a da localização próxima à região onde o consumo de derivados é mais acentuado. Esta última teoria tem prevalecido face à maior facilidade e ao menor custo de logística de abastecimento de petróleo e distribuição de derivados. A instalação da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (REPAR) foi determinada, basicamente, pela necessidade de atender à crescente demanda de derivados básicos de petróleo na região geoeconômica dos estados do Paraná e Santa Catarina. No estudo de microlocalização a escolha foi determinada por vários fatores, merecendo destaque a existência de uma infra-estrutura que pudesse suportar a instalação de obra desse porte, com disponibilidade de mão de obra, energia elétrica e água. A REPAR está situada no município de Araucária, no km 16 da Rodovia do Xisto (BR-476) banhada pelos rios Barigui, Iguaçu e Verde. Sua capacidade atual de refino é de 31 milhões de litros diários de petróleo, equivalentes a 196 mil barris por dia, representando 11,5% da produção nacional, transformados nos produtos – óleo diesel (40%), gasolina (22%), gás de cozinha – GPL (10%), óleos combustíveis (10%), nafta petroquímica (7%), asfaltos (2%) e outros com menor percentual como querosene de aviação, matéria-prima para fertilizantes, asfalto e gás de refinaria. Aproximadamente 75% de sua produção destina-se ao abastecimento do Paraná, Santa Catarina, sul de São Paulo e Mato Grosso do Sul. O restante é destinado a outras regiões do país ou é exportado. A instalação dessa refinaria em 1977 no Paraná, até então um estado predominantemente agrícola propiciou na região de Curitiba e Araucária a criação de parques industriais que resultaram em atratividade para instalação de novas empresas industriais e de serviços, notadamente para a região metropolitana da capital. Seu consumo médio atual de água é de 620 m3/h e o lançamento de efluentes é da ordem de 350 m3/h no rio Iguaçu. Outra refinaria de extrema importância na avaliação de recursos hídricos, não apenas pela sua complexidade no que se refere aos processos produtivos, mas, sobretudo pela sua localização e consumo, é a Refinaria Duque de Caxias no Rio de Janeiro. Situada na Bacia da Baia de Guanabara onde despeja seus efluentes através do rio Iguaçu, a REDUC tem também 29 influência na Bacia do Paraíba do Sul uma vez que capta água no rio Guandu (transposição para Bacia de Sepetiba). Tratando-se da refinaria de atuação do autor, suas características são detalhadas mais adiante do trabalho constituindo-se no estudo de caso escolhido para esta da dissertação. Em termos nacionais, as refinarias da Petrobras tiveram um consumo médio de 6,6 bilhões de litros d’água por mês durante os anos de 2001 e 2002. O volume de petróleo processado no período foi de 8,3 x 106 m3/mês em 2001 e de 8,1 x 106 m3/mês em 2002, ou seja, 0,79 e 0,82 m3 de água por cada m3 de petróleo processado, respectivamente. Esse índice, m3 de água por m3 de óleo processado, denominado ICA (índice de consumo de água) é utilizado como parâmetro de avaliação de gestão. Todo esse volume de água é praticamente originário de reservatórios superficiais (pequena parte da captação de algumas unidades como Recap, Lubnor, Fafen e Reman são provenientes de poços artesianos) e, para atingir condições de uso nos processos produtivos, fazem-se necessários tratamentos específicos. Quanto à geração de efluentes hídricos, quatro tipos são gerados numa refinaria: água de chuva, água de resfriamento, água de processo e esgotos sanitários. A água de chuva é intermitente e pode conter contaminantes de derramamentos para o solo, vazamentos de equipamentos e qualquer material coletado no sistema de drenagem. A água de chuva inclui ainda água proveniente de drenagem da área de tanques de estocagem. Grande parte da água usada numa refinaria de petróleo é para resfriamento que não entra em contato com correntes de óleo do processo e, portanto contém menos contaminantes que o efluente de processo. A água usada nas operações do processo representa uma porção significativa dos efluentes totais. Como a água de processo entra em contato direto com o óleo, é de uma forma geral altamente contaminada e os principais contaminantes que podem ser encontrados no efluente de uma refinaria são: pH, sólidos dissolvidos, sólidos suspensos, carbono orgânico total, nitrogênio total, fósforo total, DBO, DQO, H2S, NH3, óleo, compostos aromáticos (BTEX), fenol, sal, mercaptans, cianetos, fluoreto, MTBE, HPA’s, metais pesados, temperatura, condutividade e toxicidade. 30 2.2 TRATAMENTO DE ÁGUA Em se tratando de abastecimento público, o objetivo do tratamento d’água é torná-la potável para o consumo humano; ou seja, para uso doméstico a água deve ser livre de contaminantes que possam causar danos a saúde, esteticamente aceitável, sem turbidez aparente, odor ou gosto. Os padrões de qualidade exigidos, nesse caso, são determinados por legislação específica local, que no caso do Brasil são estabelecidos pelos parâmetros listados na Portaria no 518 do Ministério da Saúde, de 25/04/2004. Os padrões de qualidade para uso industrial podem obedecer a critérios ainda mais rígidos dependendo da sua finalidade. Por exemplo, água utilizada em caldeiras de alta pressão exige alto controle de elementos minerais, tais como sílica, por exemplo, o que acaba exigindo tratamento adicional àquele empregado para torná-la potável. Esse parâmetro, sílica, para água potável não é considerado na Portaria no 518/2004. A principal utilização, em termos de quantidade, da água em uma refinaria é para refrigeração. Trocas térmicas cujo fluido de refrigeração é a água, é o mais utilizado no refino de petróleo no Brasil. Observamos uma baixa utilização de air-coolers que utilizam o ar para essa finalidade. Quantidades menores de água são empregadas para produção de vapor, uso diretamente no processo, proteção contra incêndio, uso doméstico e outros fins. BRAILE (1979) observa que uma refinaria típica com capacidade para 50.000 bbl/dia produz até 1 bilhão de BTU por hora sendo que a metade dessa energia térmica é removida pela água. Supondo um aumento de temperatura de 15oC nas águas do resfriamento, são necessários 2500 l/s de água para remover esta quantidade de energia. A REDUC, cuja capacidade de refino atual é de 242.000 bbl/dia, e que é considerada a refinaria mais complexa do sistema Petrobras – juntamente com a refinaria de Mataripe tem produção de lubrificantes – consome em média, 1.500 m3/h para uma produção de 195.000 bbl/dia e consumo energético da ordem de 4,5 bilhões de BTU por hora. Na produção de água com qualidade para suporte de seu processo produtivo, as refinarias brasileiras têm utilizado desde suas implantações, sistemas de tratamento dito convencional, variando em alguns detalhes a depender da qualidade da fonte de captação. 31 2.2.1 Tratamento Convencional Uma estação de tratamento de água dita convencional, é aquela que apresenta as etapas de coagulação, floculação, sedimentação, filtração, desinfecção e correção de pH. Qualquer que seja o método empregado para a purificação da água, usa-se basicamente essa seqüência, precedida em alguns casos de uma neutralização para minimizar a repulsão entre partículas com cargas elétricas de mesmo sinal, que dificulta a formação de flocos. Após essa neutralização, a adição de produtos químicos como o sulfato de alumínio, por exemplo, promove a coagulação que em última análise é a agregação das partículas suspensas. A mistura do coagulante com o líquido provoca a hidrolisação, polimerização e a reação com a alcalinidade, formando hidróxidos denominados gel, produzindo na solução íons positivos. Estes íons desestabilizam as cargas negativas dos colóides e sólidos em suspensão, reduzindo o potencial zeta a ponto próximo de zero, denominado ponto isoelétrico, permitindo a aglomeração das partículas e, conseqüentemente, a formação de flocos (NUNES, 2001). Para a formação de flocos com tamanho e densidade que facilitem a separação do meio líquido, são normalmente utilizados produtos químicos (polímeros catiônicos ou aniônicos) formando pontes entre as partículas coaguladas, que então adquirem condições suficientes para sedimentar por gravidade. A etapa final das operações unitárias de separação física é a filtração que consiste na passagem da água decantada por sistemas porosos que conseguem reter o material insolúvel. Operações coadjuvantes com produtos químicos normalmente compõem essas operações unitárias, tais como a pré-cloração para auxiliar na eficiência da coagulação e realizar controle de algas e microorganismos. Para destruição de organismos patogênicos, realiza-se uma desinfecção normalmente com cloro no final do processo e, para que a água não se torne excessivamente ácida que provoque corrosão na tubulação nem alcalina facilitando incrustações, corrige-se o pH com produto à base de carbonato. Na utilização industrial, além dessas etapas, poderão ser exigidas outras com finalidades específicas. Assim, por exemplo, para produção de vapor em caldeiras os sistemas de tratamento nas refinarias são complementados com uma etapa de desmineralização. De uma forma geral, as etapas de tratamento em refinarias de petróleo são as indicadas no fluxograma exemplificado na figura 1. 32 Captação Rio, Poço Tanque de armazenamento de água bruta Água bruta para: - Combate a incêndio - Lavagem de pisos - Jardinagem Clarificação Filtração Reposição Sistema de água de resfriamento Diversos Desmineralização Água de Processo Água p/geração de vapor Desinfecção Potável Área administrativa Laboratórios Figura 1 - Fluxograma simplificado de sistema de tratamento de água para refinarias brasileiras Fonte: O próprio autor. 2.2.2 Tratamento com Membranas Dos processos de tratamento atualmente contemplados para implementação, tanto para novos projetos de unidades quanto aperfeiçoamento de existentes, a utilização de membranas filtrantes tem sido considerada cada vez mais no segmento de petróleo, na indústria como um todo e também no setor público. SCHNEIDER (2001) considera que as membranas filtrantes são a principal inovação tecnológica para tratamento de água e esgotos desde o desenvolvimento dos processos convencionais utilizados secularmente. 33 Com preocupações envolvendo a saúde humana e o desenvolvimento de membranas com custos mais baixos, a aplicação das tecnologias de membranas no campo da engenharia ambiental tem crescido muito nos últimos 5 anos. A utilização ainda maior dessa tecnologia é esperada para o futuro próximo transformando a tecnologia convencional de filtração em coisa do passado em 10 a 15 anos (METCALF & EDDY, 2003). O uso dessas membranas semipermeáveis é relativamente recente no campo da purificação de água. A observação de tecidos de vegetais e animais inspirou a engenharia de sua fabricação (MANCUSO, 2003, p. 319). MANCUSO (idem) faz uma analogia dos processos de separação através de membranas com os processos naturais que ocorrem nas raízes vegetais e nos intestinos dos animais para a transferência de nutrientes e remoção de material indesejável. Quando uma membrana semipermeável é usada para a separação de soluções em água, esse solvente passa através de seus poros em decorrência de uma força motriz, que comanda o processo, separando parte de suas impurezas originais na forma de um concentrado. O fluxo do líquido depende da porosidade da membrana (quantidade de poros por unidade de área), tamanho médio dos poros (diâmetro médio dos orifícios), da pressão aplicada, da viscosidade da água, da espessura do elemento filtrante e do fator de tortuosidade (geometria) do poro. A expressão seguinte, inter-relaciona esses parâmetros que determinam teoricamente a eficiência do processo de separação: J = f rp2 Pf / 8μ θ δm Onde: J: fluxo; f: porosidade da membrana; rp: raio médio; Pf: pressão de filtração; μ:viscosidade absoluta da água; θ: fator de tortuosidade do poro; δm: espessura. Existem quatro grupos básicos na tecnologia de membranas para a separação de contaminantes solúveis e insolúveis das águas, quais sejam: microfiltração, ultrafiltração, nanofiltração e osmose reversa. A retenção física do material particulado é o principal mecanismo de separação em membranas de microfiltração e ultrafiltração, enquanto que, processos de exclusão química e/ou difusão preferencial predominam em membranas de nanofiltração e osmose reversa (SCHNEIDER, 2001). As características físico-químicos do líquido e grau de purificação desejado determinam a adequada escolha do tipo de tecnologia de membrana a ser utilizada para determinada aplicação específica. 34 Além dessas tecnologias que utilizam como força motriz a pressão, outras operações com membranas são utilizadas para separação de líquidos e gases conforme classificação mostrada no quadro 1. Operação da membrana Microfiltração Ultrafiltração Nanofiltração Força Motriz Pressão Pressão Pressão Mecanismo de separação Osmose reversa Pressão Pervaporação Pressão parcial Stripping Pressão parcial Peneiramento Peneiramento Peneiramento + (solução/difusão + exclusão) Solução/difusão + exclusão Solução – difusão Evaporação Destilação Temperatura Evaporação Diálise Eletrodiálise Concentração Difusão Potencial elétrico Troca iônica Estrutura da membrana Macroporos(1) Mesoporos(2) Microporos(3) Não porosa Não porosa Macroporo (membrana gasosa) Macroporo (membrana gasosa) Difusão Troca iônica Fase 1 2 (5) L(6) L L L L L (4) L L L L G(7) G L L L L L L (1) diâmetros superiores a 50 nm; (2) diâmetros entre 2 e 50 nm; (3) diâmetros inferiores a 2 nm: (4) fase 1 refere-se a alimentação; (5) fase 2 refere-se ao permeado: (6) líquido; (7) gás Quadro 1 - Características operacionais das membranas Fonte: MANCUSO (2003). Com relação à aplicabilidade e de acordo com o tamanho de partículas, os processos com membranas obedecem à seguinte escala, adaptada pelo autor de ilustração cedida pela Koch Membrane Systems Inc. durante teste-piloto na Reduc. MEMBRANAS DE FILTRAÇÃO TANGENCIAL Osmose Reversa 0,0001 Sais monovalentes Ultrafiltração Nanofiltração 0,001 μm Sais divalentes Açucares 0,01 Microfiltração 0,1 μm Vírus Colóides Silicatos Proteínas Microorganismos Turbidez Figura 2 - Escala de porosidade e aplicabilidade de membranas filtrantes Fonte: O próprio autor. 1 μm Sólidos suspensos 10 35 Com relação às faixas operacionais de pressão, vazão, consumo de energia e eficiência, a tabela 3 apresenta valores típicos em aplicações de tratamento de água. Tabela 3 - Características típicas de tecnologias de membranas Tecnologia da membrana Pressão operacional (kPa) Microfiltração 7 – 100 Taxa de fluxo (L/m2.d) 405 – 1600 Ultrafiltração 70 – 700 405 – 815 Nanofiltração 500 – 1000 200 – 815 Osmose Reversa 850 – 7000 329 – 490 Material da membrana Consumo de energia (kWh/m3) Eficiência de recuperação (%) Polipropileno, Acrilonitrila, Nylon, PTFE Acetato de celulose, Poliamidas aromáticas Acetato de celulose, Poliamidas aromáticas Acetato de celulose, Poliamidas aromáticas 0,4 94 – 98 3,0 70 – 80 5,3 80 – 85 18,2 70 – 85 Fonte: O próprio autor, adaptada das tabelas 11-22 e 11-23 de METCALF & EDDY, 2003. Em resumo, podemos considerar que a utilização de membranas semipermeáveis na indústria trata-se de uma evolução da operação de clarificação/filtração convencional, em que substituímos os elementos filtrantes de areia, antracito e outros elementos minerais, por elementos sintéticos para atender condições mais exigentes. O tipo de membrana utilizada, o método de aplicação da força motriz e as características da água determinam o tipo de impureza a ser removida e a eficiência de remoção. 2.2.2.1 Microfiltração A microfiltração tem como mecanismo de separação o peneiramento e é utilizada para tratamento de fluidos líquidos. A estrutura das membranas é classificada como macroporosa e o material de fabricação são polímeros sintéticos de uma forma geral. São as mais numerosas e baratas do mercado e normalmente feitas de polipropileno, acrilonitrila, nylon e politetrafluoretileno (PTFE). Sua principal aplicação é para a remoção de material particulado e coloidal das águas brutas apresentando algumas vantagens sobre sistemas convencionais. 36 A maioria dos sistemas de microfiltração de grande escala disponíveis no mercado são construídos com fibras ocas e operados por pressão ou sucção (SCHNEIDER, 2001). O fluxograma de sistemas com membranas filtrantes é bastante simples e consiste basicamente da unidade de membrana filtrante precedida de um pré-filtro, cuja função principal é evitar que os módulos da membrana sejam danificados por sólidos suspensos na água bruta. O exemplo mais clássico de utilização de microfiltração e estudado mais detalhadamente na literatura é a unidade instalada em 1994 na cidade de Saratoga nos Estados Unidos, considerado o maior sistema de microfiltração do mundo. Exigia-se a produção de água potável que atendesse à legislação americana, especialmente com relação aos novos padrões então estabelecidos para os microorganismos Giárdia e Cryptosporidium. Com prazo para construção máximo de 12 meses, foram analisadas 4 diferentes tecnologias – filtração com terra diatomácea, filtração com dois estágios, microfiltração e ultrafiltração. A tecnologia escolhida foi a de microfiltração com uma vazão de 19.000 m3/d, pois apresentava na época, custo ligeiramente superior ao tratamento convencional com qualidade de água superior e, portanto, maior confiabilidade. Foram utilizadas na instalação 90 módulos de membrana em que cada módulo continha 22.500 fibras ocas de polipropileno com porosidade nominal de 0,2 μm. Como havia ainda a limitação de espaço, os arranjos foram instalados em dois andares, constituindo-se também em fator de diferenciação para escolha da tecnologia. Após a captação e pré-filtração através de um filtro de 380 μm, a água é processada em seis arranjos, cada um equipado com 90 módulos de membrana. A água filtrada é clorada antes da transferência para a elevatória. O efluente da retrolavagem é lançado em uma lagoa com capacidade para cerca de 1.000 m3 o que corresponde a um tempo de retenção mínimo de 24h para a sedimentação dos sólidos do efluente da retrolavagem, após a qual a água é reciclada para a unidade de microfiltração. O efluente da lavagem química é lançado na canalização de esgoto. A eficiência dessa estação na remoção de turbidez é bastante alta com valores entre 0,01 a 0,1 NTU (SCHNEIDER, 2001, p. 89). A importância relativa dos diferentes componentes do custo de operação da planta está indicada na tabela 4. Comparação com os custos de operação de uma planta convencional bem maior operada inteiramente por gravidade, indica que os custos de energia elétrica são muito maiores na planta de microfiltração (consumo médio de cerca de 0,215 kWh/m3), enquanto que os custos de produtos químicos são cerca de 30% menores do que na planta convencional. A planta convencional utilizada para comparação tinha uma capacidade nominal de 87.000 m3/dia. 37 Tabela 4 - Custos de operação e manutenção da planta de microfiltração de Saratoga Item Mão de obra Energia elétrica Troca de membranas Proporção (%) 31,6 28,6 22,5 Manutenção e consertos 10,2 Produtos químicos 6,9 Manejo de resíduos 0,2 Comentário Consumo de cerca de 0,215 kWh/m3 produzido. Custo estimado baseado em vida útil de seis anos. Nenhum módulo foi trocado após quatro anos de operação Atividades direcionadas primordialmente para sistemas de pré-tratamento e captação. Custos de manutenção do sistema de microfiltração foram mínimos. Cerca de 30% menores do que em uma planta convencional Fonte: GERE (1997 apud SCHNEIDER, 2001, p. 98). O custo de operação de um sistema de membrana depende muito da vazão de água, que é estabelecida com base em dados obtidos através de plantas-piloto. 2.2.2.2 Ultrafiltração A Ultrafiltração é realizada com o emprego de membranas microporosas e neste processo, consegue-se a separação de partículas na ordem de 1,0 a 100,0 nanomicrons e a faixa de pressão usada pode variar de 1,0 bar a 5,0 bar. Assim como a microfiltração, sua principal aplicação se dá no pré-tratamento de água em substituição a clarificadores e filtros ditos convencionais ou ainda em pré-tratamento a sistemas de osmose reversa. Tem maior eficiência na remoção de turbidez, materiais coloidais, vírus e microorganismos, dando ao processo maior confiabilidade para potabilidade da água. Assim como na microfiltração, módulos de ultrafiltração podem ser construídos em todas as configurações possíveis para membranas. A maioria dos sistemas de microfiltração ou ultrafiltração de grande escala disponíveis no mercado são construídos com fibras ocas e operados por pressão (Memcor, Aquasource, X-Flow, Pall, Koch) ou sucção (Memcor, Zenon). Cada fabricante adota uma arquitetura e dimensões específicas para seus módulos. As membranas de micro e ultrafiltração não conseguem reduzir a dureza da água que somente é removida por nanofiltração e osmose reversa através da separação iônica. Entretanto, todos os outros contaminantes dissolvidos podem ser separados através de sistemas integrados com coagulantes, carvão ativado granular ou oxidação para atingir níveis 38 de potabilidade compatíveis com processos mais severos. O sistema de ultrafiltração é uma barreira física de purificação da água e não depende de precipitação química, filtros de profundidade ou de atividade biológica como num tratamento convencional. Teoricamente, a qualidade da água filtrada produzida por unidade depende apenas do tamanho do poro da membrana a ser utilizada em função do tipo de tratamento desejado. Como o processo de separação é baseado em tamanho de partículas, grandes variações na água de alimentação, por exemplo, turbidez, encontrada em cheias de rios não causam variações na qualidade da água filtrada. Quando usado como pré-tratamento para alimentar um sistema de osmose reversa, a ultrafiltração aumenta significativamente a performance do tratamento. Os sistemas de osmose requerem uma água de baixo SDI (Silt Density Index menor que 3) e a ultrafiltração é capaz de atingir SDI < 1, proporcionando vantagens como menor custo operacional, menor custo por metro cúbico de água tratada, aumento da vida útil das membranas de osmose, diminuição das limpezas químicas do sistema. Segundo experiência da Koch, a vida útil de uma membrana sujeita ao acúmulo de biofouling1, aumenta de 1 a 2 anos para 5 anos ou mais. Há um maior rendimento da osmose impactando positivamente nos custos de energia pela possibilidade de diminuição na pressão de operação. Uma vez que a qualidade da água de alimentação é superior aos pré-tratamentos convencionais, certamente haverá um aumento da capacidade de recuperação da osmose. Em águas onde o fouling da membrana é devido a partículas em suspensão ou colóides, verifica-se um aumento na recuperação de 10 a 15% (Koch). Os poros das membranas de ultrafiltração têm aproximadamente de 0,02 a 0,03 micra. O alto nível de remoção para silicatos e colóides de ferro, manganês, alumínio e outros metais tornam a ultrafiltração um tratamento ideal tanto para osmose, quanto para nanofiltração, troca iônica e outros processos de tratamento onde colóides representam um problema. As membranas são projetadas com diferentes diâmetros de fibras para suportar níveis variáveis de sólidos suspensos na alimentação. Em pós-tratamento, fibras de 0,5 mm podem ser usadas, com a vantagem de se ter maior área por cartucho, enquanto fibras de 0,8 a 1,1 mm toleram água com teor mais elevado de sólidos suspensos. Os cartuchos de fibra oca da Koch chegam a 3 mm de diâmetro. 1 Formação gelatinosa de natureza microbiológica. Este tipo de formação algumas vezes se verifica nas canalizações, em conseqüência da ação de microorganismos (BRAILE, 1992). 39 A ultrafiltração também permite a remoção quase completa de bactérias, algas, fungos e vírus. A tabela 5 indica retenções típicas das membranas de poder de corte entre 10000 e 100000 Dalton da Koch Membrane Systems Inc. testadas em unidade-piloto instalada na Reduc em 2000. Tabela 5 - Eficiência de membranas de ultrafiltração % retenção ou valores de redução logarítmica Componente Poder de corte da membrana 10 000 D 100 000 D Sílica coloidal 99,8 % 99,0 % Ferro coloidal 99,8 % 99,0 % Turbidez 99,8 % 99,0 % Sólidos Suspensos 99,9 % 99,8 % C. Orgânico Total 70 % 30 % Partículas 5 log 4 log Bactéria 6 log 5 log Endo toxinas 4 log 2 log Giárdia 6 log 5 log Vírus 5 log 4 log Nota: Resultados típicos podem variar de acordo com a natureza do carbono orgânico. Fonte: Koch Membrane Systems Inc. O fluxograma de sistemas de tratamento com membranas filtrantes é bastante simples e consiste basicamente da unidade de membrana filtrante precedida de um pré-filtro, cuja função principal é evitar que os módulos da membrana sejam danificados por sólidos suspensos na água bruta. Contaminantes adicionais (cor, metais pesados, ferro manganês) poderão ser removidos através da dosagem de coagulantes ou carvão ativado granular na linha de alimentação. Na Refinaria de Duque de Caxias, no período de 10/01/2000 a 31/01/2000, teste para tratamento da água bruta de abastecimento foi realizado com unidade-piloto de ultrafiltração. O teste objetivou viabilizar a clarificação para atendimento à ampliação do parque industrial. O equipamento utilizado – fotografia no apêndice – foi o HF2 da Koch, automático com modem para controle a distância, com turbidímetros de entrada e saída e pHmetro de linha. 40 O sistema piloto foi operado no Modo Controle de Vazão. Neste modo o operador estabelece uma vazão de permeado e um diferencial de pressão e o sistema modula as pressões de entrada e saída de forma a obter a vazão desejada. No teste com a água captada da barragem de Saracuruna, devido à baixa turbidez, decidiu-se operar o sistema sem bombas, ou seja, com a pressão da linha. Já no teste com a água do rio Guandu, foi utilizada a bomba de recirculação, com diferencial de pressão de 15 psi, já que esta água normalmente tem variações de turbidez que podem chegar a 70 NTU. Com base nos resultados do teste, a Reduc optou por instalar um sistema de ultrafiltração com capacidade para 600 m3/h como pré-tratamento para a água deionizada utilizada nas caldeiras de produção de vapor. 2.2.2.3 Nanofiltração A Nanofiltração, também chamada de osmose reversa de baixa pressão ou abrandamento por membranas, situa-se entre a osmose reversa e a ultrafiltração, em termos de seletividade. É especialmente indicada para o abrandamento de água, na remoção de íons multivalentes (cálcio e magnésio) e, mais recentemente, no controle de substâncias orgânicas presentes na água. Na Nanofiltração, os íons monovalentes são fracamente rejeitados pelas membranas, o que explica a contrapressão osmótica inferior àquela presente na Osmose Reversa. Como conseqüência, as pressões operacionais são da ordem de 5 a 15 kg/cm2, ou seja, muito inferiores às pressões utilizadas em osmose. Nesse processo, através de membranas microporosas, retiram-se partículas e macromoléculas na grandeza de 0,5 a 5,0 nanomicrons. 2.2.2.4 Osmose Reversa Iniciada com a dessalinização de água do mar na década de 60, pode-se dizer que a osmose reversa é a precursora da tecnologia de membranas. Posteriormente, a nanofiltração, foi utilizada para remoção de dureza de águas de poços na Flórida e remoção de cor na Noruega já na década de 80 (SCHNEIDER, 2001). A osmose reversa é uma operação em que o solvente é separado da solução, mediante sua passagem por uma membrana semipermeável não porosa, desenvolvida para reter sais e solutos com baixos pesos moleculares. 41 Se uma solução salina concentrada é separada da água “pura” por uma membrana dessa natureza, a diferença de potencial químico promove a difusão da água do compartimento com a solução salina, para igualar as concentrações. No equilíbrio, a diferença de nível entre os líquidos nos dois compartimentos corresponde à pressão osmótica da solução salina. Inversamente, para produzir água “pura”, a partir da solução salina, é necessário superar essa pressão osmótica. Para que isso ocorra de forma economicamente viável, na prática são utilizadas pressões de, pelo menos, duas vezes a pressão osmótica da solução. Em dessalinização de água do mar, por exemplo, são empregadas pressões da ordem de 51 a 81 kg/cm2 (MANCUSO, 2003). A figura 3 ilustra o mecanismo descrito. Δp = pressão osmótica (a) Solução salina Água dessal osmose (b) Δ (c) osmose reversa Figura 3 - Princípio da osmose reversa Fonte: SCHNEIDER (2001). MARIÑAS (1991) observa que a tecnologia de osmose pode ser muito efetiva na remoção da maioria dos despejos inorgânicos, orgânicos e contaminantes microbiológicos. Para o autor, os projetos de uma planta de tratamento de osmose reversa devem incluir os seguintes processos: (1) condicionamento químico e microfiltração da água de alimentação; (2) tratamento da membrana; (3) aeração, neutralização e desinfecção do permeado; (4) tratamento e disposição do concentrado. A performance das membranas de osmose reversa é afetada pelas condições operacionais e parâmetros de qualidade da água de alimentação. Pressões hidráulicas mais altas correspondem a uma maior produtividade de água e remoção de contaminantes. A performance de membranas de osmose reversa é também influenciada pelos parâmetros de qualidade da água de alimentação tais como concentração, composição e pH. Fouling de 42 materiais inorgânicos precipitados, macromoléculas orgânicas e microorganismos resultam em deterioração da performance das membranas e possível falha da planta. A prática de microfiltração para a carga e condicionamento químico, bem como unidade de limpeza periódica minimiza os problemas de fouling. Segundo WILF (2003), a aplicação da tecnologia de osmose reversa nos Estados Unidos tem sido desenvolvida em paralelo com a melhoria da performance das membranas comerciais e processos mais econômicos de dessalinização. As primeiras instalações americanas eram limitadas ao tratamento de águas de poço altamente salinas em áreas de rápido crescimento da população, principalmente na Flórida. A maioria dos sistemas utilizava membranas fabricadas à base de acetato de celulose em uma configuração em espiral. Atualmente os sistemas de osmose reversa, quase que exclusivamente adotam membranas de poliamidas aromáticas. Com a evolução das tecnologias na fabricação das membranas, a aplicação dos sistemas de osmose foi sendo também ampliada para purificação de outras fontes de água, tais como águas superficiais, do mar e até esgotos. Sistemas de osmose com membranas de acetato de celulose exigiam um prétratamento que incluía a utilização de cloro para protegê-las da degradação biológica. O pH na alimentação do sistema era mantido na faixa de 5 a 6 para reduzir a taxa de hidrólise da membrana. Filtros de areia seguidos de filtro de cartucho eram utilizados para reduzir a concentração de sólidos suspensos e os sistemas de osmose eram projetados para operar com taxas de recuperação limitadas para manter a concentração de sais solúveis abaixo de seus limites de saturação. A introdução de membranas de poliamida e o desenvolvimento de inibidores de incrustração orgânica possibilitaram a simplificação do pré-tratamento com a eliminação dos filtros de areia, permanecendo somente os de cartucho. O material da membrana de poliamida não é degradável pela bactéria e tem estabilidade para uma faixa mais larga de pH. Em função disso, é possível a eliminação da cloração inicial e o pH pode ser mantido a um nível mais alto do que na utilização de acetato de celulose (WILF, 2003). Na Petrobras, as refinarias que no momento possuem sistemas de osmose reversa em operação, ainda não eliminaram os filtros de areia pré-existentes. Tem sido consenso entre os técnicos da Companhia, entretanto, que unidades novas de osmose sejam precedidas de sistemas de membrana (micro ou ultrafiltração) como pré-tratamento. Essa filosofia já está sendo adotada em unidade de 85 m3/h instalada na refinaria de São José dos Campos. 43 2.2.2.5 Eletrodiálise No processo de eletrodiálise, os componentes iônicos de uma solução são separados através do uso de membranas seletivas de íons semiperpeáveis. A aplicação de um potencial elétrico entre os dois eletrodos gera uma corrente elétrica na solução, proporcionando a migração de anions para o eletrodo positivo (METCALF & EDDY, 2003). Nessas condições, os cátions passam pelas membranas de cátions, e os ânions pelas membranas de ânions, que são montadas alternadamente, provocando uma diminuição na salinidade num compartimento e um aumento no seguinte e, assim, sucessivamente ao longo de todo o equipamento. Simplificadamente, as membranas não deixam passar os íons de sinais iguais aos delas, ou seja, ânions não atravessam as negativas e cátions não atravessam as positivas. Segundo LA GREGA et al. (1994 apud MANCUSO, 2003), os sistemas típicos de eletrodiálise operam em pressões entre 2,8 e 4,2 kg/cm2, e 90% da água presente na solução afluente são aproveitados, enquanto 10% ficam incorporados no concentrado. Diferentemente dos demais processos de separação por membranas, o processo de eletrodiálise utiliza como força-motriz a corrente elétrica. Todas as plantas de eletrodiálise recentemente construídas para a produção de água potável, por empresas de saneamento básico são sistemas de operação contínua que utilizam a tecnologia da eletrodiálise reversa. Os requerimentos de pré-tratamento da água de alimentação são os mesmos da osmose reversa, com maior tolerância para desvios dos valores ideais de parâmetros chaves e o rendimento de sistemas comerciais utilizados na produção de água potável, varia entre 77% e 85% (SCHNEIDER, 2001). Uma evolução desse processo é denominada Eletrodeionização Contínua para obtenção de água ultrapura. Essa nova tecnologia é uma combinação de eletrodiálise e troca iônica, resultando num processo de separação de íons da água ao mesmo tempo em que as resinas são continuamente regeneradas pela corrente elétrica aplicada na unidade. Com relação à sua aplicação, a empresa Ondeo Degrémont Brasil, pertencente ao Grupo Suez, um dos líderes mundiais em projeto, instalação e operação de sistemas de tratamento de água, sugere uma cadeia evolutiva (figura 4) para a produção de água de alta qualidade para make-up de caldeira com a utilização da Eletrodeionização em substituição ao trocador de leito misto precedida de 2 estágios de osmose reversa. Como vantagens na substituição são apontados a eliminação da necessidade de produtos químicos, a operação 44 contínua, utilização de menor espaço, eliminação de rejeito de neutralização, maior qualidade da água produzida com até 0,063 μS/cm e menor custo operacional. CADEIA ATUAL Pré-Tratam. Conv. ou UF Osmose Reversa 1o Passo Osmose Reversa 2o Passo Trocador Leito Misto CADEIA PROPOSTA Pré-Tratam. Conv.ou UF Osmose Reversa 1o Passo Osmose Reversa 2o Passo EDI Eletrodeionização Figura 4 - Cadeia evolutiva de tratamento com eletrodeionização Fonte: HILSDORF (2003). 2.3 GERAÇÃO E TRATAMENTO DE EFLUENTES EM REFINARIAS O processo de refino de petróleo inclui várias etapas para produção dos diversos produtos finais. A geração dos despejos líquidos em cada uma dessas etapas apresenta uma grande variação, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos. Dependente, portanto, das características do petróleo processado, a variabilidade dos efluentes gerados nas refinarias dificulta o estabelecimento de uma composição típica, sendo esse o principal desafio enfrentado na operação de estações de tratamento. Como são grandes consumidoras de água e, não sendo a água incorporada ao produto, as refinarias de petróleo são também grandes geradoras de efluentes hídricos. 45 Grande parte dos descartes das refinarias é gerada no próprio sistema de tratamento, tanto da água quanto dos efluentes e as quantidades de efluentes líquidos geradas apresentam certa proporcionalidade com a capacidade de processamento. PIRAS (1993), utilizando dados da Petrobras daquele ano, sugeria uma relação linear entre efluente produzido e capacidade de refino, como mostra a figura 5. Embora não seja esclarecido no trabalho de PIRAS (idem), é possível que os três pontos desviados da curva estejam associados a paradas programadas que diminuem a carga processada. Observa-se nesse gráfico, que a relação é tanto menor quanto maior a capacidade de refino. efluente produzido / oleo processado 2 1,5 1 0,5 0 0 10000 20000 30000 40000 50000 CAPACIDADE DA REFINARIA (m3/d) Figura 5 - Relação da geração de efluentes nas refinarias da Petrobras em 1985 Fonte: PIRAS (1993). Dados do ano de 2002 apresentados na tabela 6 corroboram as premissas de PIRAS, após sucessivas intervenções nas unidades para modernização das instalações. Na elaboração da tabela, os volumes de petróleo processado no ano obtidos em publicação da Agência Nacional de Petróleo são transformados em vazões médias diárias. 46 Tabela 6 - Geração de efluentes das refinarias em 2002 Refinaria Ano 2002 Lubnor Reman Recap Repar Refap Revap Regap Rlam Rpbc Reduc Replan Início da atividade 1966 1957 1954 1977 1968 1980 1968 1950 1955 1961 1972 Processado (m3) 339.735 2.605.558 2.496.513 11.093.622 6.113.408 11.290.633 7.243.645 11.730.311 8.868.567 11.181.325 18.783.493 Processado (m3/d) 930 7.139 6.840 30.393 16.749 30.933 19.845 32.138 24.297 30.634 51.461 Efluentes (m3/d) 749 3.543 2.787 8.064 7.149 10.970 7.585 13.834 25.918 25.749 12.995 Efluente/ óleo 0,805 0,496 0,407 0,265 0,427 0,355 0,382 0,283 1,067 0,841 0,253 Fonte: PETROBRAS e ANP (2003). Tem-se observado ao longo do tempo uma melhora sensível na relação efluente/óleo processado, fruto de melhorias implementadas durante projetos de modernização nos últimos anos. 2.3.1 Tratamentos Convencionais Os efluentes aquosos das refinarias de petróleo contêm uma grande diversidade de poluentes incluindo, óleo, fenóis, sulfetos, sólidos dissolvidos, sólidos suspensos, metais etc. A quantidade desses poluentes depende da natureza do petróleo processado e do tipo de processo utilizado nas etapas de refino. Por exemplo, processos que empregam craqueamento produzem mais quantidade de fenóis do que processos de produção de combustíveis menos severos quimicamente. A grande variedade de arranjos nos processos das refinarias e a variação de cargas utilizadas tornam extremamente difícil predizer ou definir uma composição média de seus efluentes. Entretanto, todas empregam uma ou mais unidades de processo similares, tais como destilação, craqueamento térmico e/ou catalítico, desulfurização e outros, o que possibilita conhecer o tipo de poluente produzido por cada unidade e, portanto, a operação unitária de tratamento pode pelo menos ser analisada (BEYCHOK, 1967). A USEPA (US Environmental Protection Agency), órgão ambiental americano ao desenvolver um guia para padrões de performance de tratamento de efluentes para redução de poluentes, com o título Development Document for Proposed Effluent Limitations Guidelines 47 and New Source Performance Standards for the Petroleum Refining, classificou as refinarias de petróleo em 6 subcategorias de acordo com a carga dos efluentes e dos tipos de processo, justificando a utilização de grupos de produção. Esse estudo, elaborado para inclusão na Federal Water Pollution Control Act of 1972, incluiu um total de 247 refinarias americanas com produção total de 14 milhões de barris de petróleo por dia. Uma das conclusões foi a de que todas as 6 subcategorias geram efluentes hídricos que contêm constituintes similares. Entretanto, a concentração e carga desses constituintes, denominados “carga efluente bruta”, variam nas subcategorias. As tecnologias de tratamento e controles existentes, conforme praticada pela indústria, incluem tanto o tratamento do efluente final, denominado end-of-pipe, quanto o prétratamento interno ao processo, in-plant. Muitas das correntes internas individuais tais como águas ácidas oriundas do craqueamento ou da destilação, têm um efeito altamente prejudicial ao tratamento biológico. Conseqüentemente, essas correntes individuais são pré-tratadas antes de serem direcionadas às estações de tratamento de efluentes da refinaria. As instalações de coleta, segregação e tratamento dos efluentes líquidos podem, didaticamente ser classificadas em 2 grupos: um considerado como pré-tratamento que é realizado internamente nas etapas de processo para eliminação de contaminantes específicos àquele processo e outro mais geral referente ao tratamento da mistura das correntes finais de cada processo unitário, denominados tratamentos fim-de-linha. Quase todas as refinarias possuem um ou mais separadores gravimétricos de água-óleo sendo esse equipamento considerado como a linha divisória entre o tratamento interno (in-plant treatment) e o tratamento fim de linha (end-of-pipe). Os pré-tratamentos usuais e mais importantes são a retificação ou estripagem (arraste) com vapor de correntes de águas acres para eliminação de amônia e sulfetos, a oxidação e a neutralização de correntes cáusticas oriundas do tratamento para especificação de produtos combustíveis. Os tratamentos de fim de linha são geralmente feitos em duas etapas, conhecidas como primária para retirada de óleo livre e sólidos sedimentáveis e uma etapa secundária para materiais emulsionados e dissolvidos na corrente aquosa. O tratamento primário consiste da separação do óleo, água e sólidos em dois estágios. Durante o primeiro estágio, um separador API, um interceptor de placas corrugadas ou outro tipo de separador é utilizado. O efluente atravessa o separador em baixa velocidade para permitir a flotação do óleo que então é retirado da superfície por um sistema de skimming enquanto os sólidos sedimentados no fundo são também raspados para retirada do sistema. 48 Os chamados tratamentos secundários compreendem a coagulação química, flotação a ar e processos biológicos tais como, lagoas de oxidação, filtros biológicos, processos de lodo ativado, bacias de aeração e mais recentemente processos com membranas. Nessa etapa, o óleo dissolvido e outros poluentes orgânicos são consumidos biologicamente por microorganismos, gerando uma biomassa residual que após tratada anaerobicamente pode então ser descartada. Como dito anteriormente, os efluentes hídricos variam em quantidade e qualidade de refinaria para refinaria, entretanto, são tratáveis até níveis considerados adequados para os órgãos fiscalizadores do meio ambiente. Fatores locais como clima, critérios de descarga, disponibilidade de área, ou outras considerações locais determinam o processo de tratamento para alcançar um efluente final aceitável. Assim, podemos dizer que o tratamento dos despejos líquidos das refinarias, objetiva a obtenção do máximo possível de recuperação de óleo e minimização da descarga de outros poluentes. A quantidade de efluente a ser tratada depende fundamentalmente de práticas internas do processo. Existem dois tipos de práticas internas que reduzem a vazão dos efluentes para o sistema de tratamento: primeiro, práticas de reúso que envolvem a água de algum processo em outro processo, como por exemplo, a utilização do condensado das torres de stripper para makeup das dessalgadoras, ou ainda, a utilização do blowndown de caldeiras de alta pressão na alimentação das caldeiras de baixa pressão. A segunda prática trata-se de sistemas de reciclo que usam a água mais de uma vez para o mesmo propósito, como por exemplo, o uso de vapor condensado na reposição de caldeiras e torres de resfriamento. A redução ou eliminação de uma corrente de efluente permite que processos end-of-pipe sejam menores e mais econômicos. Uma vez que nenhum processo de tratamento consegue alcançar 100% de remoção, a redução na vazão proporcionará uma menor descarga de poluente (EPA 440/173/014). 2.3.2 Tratamento com Membranas Existem três tipos de configurações diferentes de incorporação de membranas no tratamento de despejos: bioreatores com separação por membranas, bioreatores com aeração por membranas e bioreatores com extração por membranas (STEPHENSON et al., 2000 apud SCHNEIDER, 2001). 49 Uma vez que os bioreatores com separação são os únicos comercializados, há mais informações sobre essa tecnologia e, no presente trabalho nos ateremos a eles. Os primeiros trabalhos sobre bioreatores com membrana para retenção de sólidos, para o tratamento de esgotos foram publicados no final da década de 60. Nessa época também foi introduzido no mercado, o primeiro sistema comercial de membranas para tratamento de águas residuárias. Nesses primeiros trabalhos, foi utilizada a configuração de acoplamento externo de módulos de ultrafiltração com circulação do conteúdo do reator pela membrana. Essa configuração, até hoje, predomina em sistemas comerciais de pequena e média escala, para tratamento de efluentes industriais. Em termos de processo, é uma configuração semelhante a de um lodo ativado convencional em que os decantadores secundários são substituídos pela instalação das membranas. Com isso, o lodo de retorno ao tanque de aeração atinge concentrações de até 15000 mg/L aumentando a eficiência do tratamento biológico. Para facilitar o entendimento dessa configuração, apresentamos, na figura 6, fluxograma simplificado da instalação de piloto em uma refinaria da Petrobras proposto pela Zenon em 2000, com objetivo de tornar o efluente da refinaria possível de reutilização nas torres de resfriamento. É um processo patenteado com o nome ZenoGem® desenvolvido em conjunto com a General Motor Corporation de forma a reduzir a complexidade e custo do tratamento de efluente. Retorno de lodo Alimentação de efluentes Soprad Bioreator Lodo Efluente Ultrafiltração Figura 6 - Processo MBR ZenoGem Fonte: O próprio autor. 50 Para SCHNEIDER (2001), o início da comercialização de reatores biológicos com membranas submersas, no início dos anos 90, viabilizou a utilização de reatores de membrana no mercado de tratamento de esgotos municipais. Bioreatores com membranas para retenção de sólidos, de um modo geral, são bioreatores convencionais, aeróbios ou anaeróbios, acoplados a um sistema de membrana de microfiltração ou ultrafiltração que permite a retenção completa dos sólidos suspensos e da biomassa. Essa configuração, torna a operação do reator independente da eficiência do decantador secundário e permite atingir concentrações de biomassa muito mais elevadas do que em sistemas de lodos ativados convencionais, conforme constatado na tabela 7. Tabela 7 - Comparação de reator de membrana com lodo ativado convencional Parâmetro Biomassa (g/L) kg DQO/m3d kg DBO/m3d kg NH3/m3d A/M (kgDQO/kgMLSS.d) Tempo de residência de biomassa (d) Produção de lodo (kg lodo seco/kg de DQO) A/M (0,5 a 1,0) A/M (0,1 a 0,2) Diâmetro médio dos flocos (μm) Tempo de residência hidráulica (h) Reator de membrana 15 – 25 2,6 – 5,0 1,5 – 2,5 0,2 – 0,4 < 0,1 30 – 45 Lodo ativado convencional 1,5 – 4 < 1,0 < 0,5 < 0,07 0,2 – 0,6 5 – 15 0,46 0 3,5 2 0,6 -20 3–8 Fonte: METCALF & EDDY (1991). A outra configuração possível para utilização de reatores a membrana para tratamento de despejos é através da imersão das membranas no próprio reator biológico (figura 7). Nesse caso, é eliminada a construção de um tanque, o que pode significar alguma economia de investimento. No Brasil, próximo à cidade de São Paulo, há em operação um excelente exemplo da aplicação dessa tecnologia. Trata-se de um parque temático localizado junto a um córrego classificado como de classe 2 por Decreto Estadual, o que só possibilitava sua implantação adotando-se como ponto de partida a hipótese de descarte zero do efluente no corpo receptor. Para atingir o objetivo, foi concebido um projeto em que a água potável consumida no parque é proveniente de poços profundos, enquanto que o esgoto gerado nos sanitários, bares e 51 restaurante é captado numa rede que o conduz a um tanque de homogeneização, para posterior tratamento em uma estação de lodos ativados, não convencional, do tipo MBR, com separação da biomassa feita com membranas de microfiltração do tipo oco (hollow fiber) e lodo excedente secado em filtro prensa. A água tratada do reator MBR é então desinfectada com hipoclorito de sódio, corrigido o pH e armazenada em reservatório central de água de reúso. Parte de sua vazão é utilizada nas descargas sanitárias e outra parte como rega de jardins e gramados do parque. Alimentação Efluente Membrana submersa Aeração Figura 7 - Membrana submersa em reator biológico Fonte: O próprio autor. Ainda, segundo SCHNEIDER (2001), o mercado de reatores de membranas de grande porte, os chamados MBR’s (Membrane Bioreactors) para tratamento de esgotos domésticos, é disputado no momento por duas empresas, a canadense Zenon e a japonesa Kubota. As duas empresas empregam configurações diferentes de membranas no reator. Os reatores da Zenon são baseados em fibras ocas constituídas de um polímero resistente ao cloro com porosidade nominal de 0,1 μm. Um módulo consiste de fibras ocas montadas em uma moldura vertical com extração de filtrado pelas duas extremidades das fibras. A área de membrana por módulo é de 14 m2 no módulo ZW-150 e de 46 m2 no módulo ZW-500. Um conjunto de módulos forma um cassete, que é a unidade de membrana imersa no reator. A área de membrana por cassete é de 168 m2 no caso dos módulos mais antigos e de 368 m2 nos módulos mais recentes. 52 A Kubota emprega módulos com placas em seus reatores. Cada módulo contém 150 placas, com 0,8 m2 de área útil de membrana afixadas nos dois lados de uma armadura de fibra de vidro, separadas por uma estrutura porosa de suporte resistente que funciona como canal de coleta do filtrado. A pressão de operação é gerada pela pressão hidrostática da água do reator. O espaço entre as membranas de módulos adjacentes, de cerca de 6 a 8 mm, permite a aeração e recirculação do lodo. A aeração é feita por meio de difusores instalados na base dos módulos e o fluxo de projeto varia entre 17 a 30 L/m2h. O custo de operação de reatores de membrana diminuiu consideravelmente entre 1990 e 2000, principalmente devido à redução do custo das membranas conforme ilustrado na figura 8. Para a elaboração da figura são adotados valores em US$ por metro quadrado de membranas produzidas pela empresa Kubota. 500 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 1988 1992 1996 2000 2005 Figura 8 - Custo de membrana 1991-2003 Fonte: O próprio autor, adaptado de CHURCHOUSE & WILDGOOSE (1999). Para SCHNEIDER (2001), o aumento da concorrência no setor e o aumento da escala dos sistemas instalados, garantem a continuação da tendência de redução de custos dos reatores de membrana, nos próximos 10 a 15 anos. Uma questão importante com grande influência na análise econômica é a capacidade máxima de tratamento instalada. No Reino Unido, as plantas de tratamento convencionais são projetadas para tratamento de até três vezes o volume típico de esgotos em dias sem chuva, enquanto que na Alemanha, essa margem é reduzida para duas vezes o fluxo em dias sem 53 chuva. O fluxo médio através da planta, porém, é de cerca de 1,4 vezes a vazão em tempo seco (DAVIES et al., 1998) Atualmente, o custo de reatores de membrana submersos novos é competitivo com sistemas convencionais de tratamento novos, até vazões de cerca de 50.000 m3/dia, em casos onde o espaço disponível é limitado ou em regiões onde há limites mais severos para a qualidade de efluentes secundários (CHURCHOUSE & WILDGOOSE, 1999 apud SCHNEIDER, 2001). Essa análise comparativa é mais favorável para reatores de membrana, quando se estuda o aumento da capacidade de tratamento de sistemas de lodo ativado convencional. Quanto aos custos de operação os dois são muito próximos, conforme evidenciado nas tabelas 8 e 9, referentes à ampliação de uma instalação de tratamento de esgotos domésticos com capacidade de 3.785 m3/dia para 20.060 m3/dia. Tabela 8 - Comparação de custos de investimento de lodo ativado e MBR ZenoGem Item Construção civil Estruturas, tanques novos Instalações complementares Trabalhos de arquitetura Equipamentos Equipamentos de processo Tubulações Drenagens Outras despesas Instalações elétricas Despesas de contratos Montagem e partida Lodo ativado convencional (US) Reator de membrana ZenoGem (US$) 6.000.000 200.000 1.300.000 1.200.000 200.000 50.000 8.850.000 1.450.000 650.000 10.656.000 325.000 300.000 755.000 400.000 190.000 1.200.000 190.000 425.000 Outros equipamentos + 2.725.000 contingência (15%) Sub-total 24.320.000 Projeto e supervisão 3.130.000 Aquisição de área 1.500.000 Custo total 28.950.000 Economia proporcionada pelo reator de membrana Fonte: MOURATO et al. (1996 apud SCHNEIDER, 2001). 1.058.601 14.804.601 1.000.000 0 14.804.601 US$ 14.145.399 Comentários Custo reduzido do sistema ZenoGem devido ao uso de tanques pré-existentes Inclui aumento da capacidade de tratamento do lodo O sistema ZenoGem produz 1/3 do lodo do sistema convencional 54 Tabela 9 - Comparação dos custos de operação para lodo ativado e MBR ZenoGem Item Manutenção: Bomba de recirculação de lodo Decantadores Outras bombas Aeradores Outros equipamentos Troca de membranas Eletricidade Mão de obra: Operação Manutenção Produtos químicos Alumínio para redução de P Floculantes Tratamento de lodo: Adensamento Disposição final Total Reator de membrana ZenoGem® Lodo ativado convencional 0 0 1 1 1 1 0,85 1 1 1 1 1 0 1 0,5 0,5 1 1 0,1 0 1 1 0,5 0,3 1 1 1 1 Fonte: MOURATO et al. (1996 apud SCHNEIDER, 2001). 2.4 UTILIZAÇÃO DA ÁGUA NOS PROCESSOS DE REFINO DE PETRÓLEO 2.4.1 Principais Aplicações Uma vez considerado um bem de valor econômico, a água passa a ter valoração diferenciada de acordo com sua disponibilidade e aplicação. Quando a água é matéria-prima de um insumo e, portanto componente do produto final (indústria alimentícia, irrigação) deve lhe ser dada uma importância que não a mesma na sua aplicação como fluido de refrigeração ou em usos não consuntivos como recreação e lazer, navegação, pesca ou ainda como corpo receptor para diluição de efluentes. A classificação da água, segundo seu uso, é feita da seguinte forma (BARTH, 1987 apud SETTI et al. 2001): 55 a) Uso consuntivo: irrigação; abastecimento doméstico; abastecimento industrial; dessedentação de animais; aqüicultura; e geração de energia elétrica. b) Uso não consuntivo: navegação; recreação e lazer; pesca; assimilação de efluentes; e preservação ecológica. Na indústria, a água propicia vários usos: solventes de sólidos, líquidos e gases na indústria química; matéria prima na indústria de bebidas; lavagem e suspensão de materiais na indústria metalúrgica; aquecimento na indústria de alimentos; e insumo para refrigeração e geração de vapor em praticamente todos os setores industriais (PONTES, 2000, p. 211). PERES (2003) apresenta durante sua dissertação de mestrado a seguinte tabela sobre uso da água na indústria em geral: Tabela 10 - Uso de água na indústria Ramo Tipo Alimentícia Lacticínio (leite) Cervejaria Refrigerantes Couro e curtume Polpa e papel Curtume Popa e papel integrados Vidro Borracha Borracha sintética Amônia Fundição Laminação Ferro Carvão Indústrias químicas Metalúrgicas Minerações Unidade 1.000 litros de leite 1.000 litros de cerveja 1.000 liitros de refrigerante 1 ton de pele 1 ton de produto 1 ton de vidro 1 ton de produto 1 ton de produto 1 ton de produto 1 ton de gusa 1 ton de produto 1 m3 de minério lavado 1 ton de carvão Uso de água por unidade (m3) 1 – 10 5 – 20 2–5 20 – 40 200 – 250 3 – 30 100 – 150 500 100 – 130 3–8 8 – 50 16 2 – 10 Fonte: SPERLING (1966 apud PERES, 2003). Quanto às refinarias, a tabela 11 apresenta os seguintes dados para o ano de 2001: 56 Tabela 11 - Uso de água em refinarias da região sudeste em 2001 Refinaria A B C D E F (X) Captação média de água bruta (m3/mês) 1.073.978 569.329 183.372 715.348 1.121.766 1.158.354 (Y) Processamento médio de petróleo (m3/mês) 857.460 631.623 222.822 1.092.653 752.680 1.566.871 (X/Y) 1,25 0,90 0,82 0,65 1,49 0,74 Fonte: PERES (2003). Das tabelas apresentadas verifica-se que, muito embora as refinarias de petróleo utilizem grandes quantidades de água, seu alto consumo está associado basicamente ao grande volume de produção. Apresenta de uma forma geral, a menor relação tonelada de água por tonelada de produto comparativamente aos principais ramos das indústrias de grande porte. Cerca de 60 a 80% da água efetivamente consumida na indústria é devido ao seu uso como fluido de resfriamento (SETTI et al, 2001 apud PERES, 2003). A tabela 12 apresenta o uso da água em um complexo petroquímico, localizado no Sudeste Asiático, constituído por uma refinaria, com capacidade de processamento de 550.000 barris por dia, 18 plantas petroquímicas, que produzem olefinas, etileno, benzeno, tolueno, xileno, polietileno, polipropileno, para-xileno e estireno, e 12 sistemas de tratamento de efluentes. Tabela 12 - Uso de água em complexo petroquímico do sudeste asiático Tipo de uso Alimentação de caldeiras Unidades de processo Lavagens e contra-lavagens Água potável Alimentação de torres de resfriamento Obras e água de incêndio Total Fonte: HIGGINS (1995, p. 497). Uso de água (m3/h) 500 268 125 150 1.238 290 2.571 % 20 10 5 6 48 11 100 57 2.4.2 Métodos e Tecnologias para Reuso Uma vez que a relação demanda/oferta de água tem-se mostrada cada vez mais desfavorável, especialmente, em regiões de maior desenvolvimento industrial, urbano e agrícola, torna-se necessário o estabelecimento de políticas adequadas e sistemas de gestão efetivos para preservação desses recursos. Apontado por diversos autores como um dos principais instrumentos de gestão para garantia de oferta dos recursos hídricos (MANCUSO e SANTOS, 2003; HESPANHOL, 1999), o reúso de água pode ser utilizado a partir de diversas tecnologias já consagradas. Diversos são os instrumentos, os mecanismos e as tecnologias a serem empregados no trato dessa questão, porém vários deles carecem de estudos e investigações que auxiliem o seu melhor emprego e produzam resultados sanitários, ambientais e econômicos satisfatórios (PHILIPPI JR., 2003). O reúso de água, segundo BRAGA FILHO (2003), subentende uma tecnologia desenvolvida em maior ou menor grau, dependendo dos fins a que se destina a água e de como ela tenha sido usada anteriormente. O que dificulta, entretanto, a conceituação precisa da expressão “reúso de água”, segundo BRAGA FILHO (idem), é a definição do exato momento a partir do qual se admite que o reúso está sendo feito. O autor exemplifica com a captação de água por uma comunidade em um rio contendo os esgotos de uma grande metrópole e uma outra cidade às margens de outro grande rio onde apenas algumas pessoas despejam esgotos. Nesse caso, existem diferenças em termos de diluição, distâncias percorridas pelos efluentes e fatores naturais referentes à recuperação da qualidade desses rios. Sendo assim, é impossível determinar o preciso instante em que foi iniciado o reúso da água. Portanto, num exemplo hipotético de comunidades que utilizam água de um rio que recebe quantidades crescentes de esgoto, não há sentido em identificar como reúso a situação da comunidade que capta água cuja diluição possa ser caracterizada, em termos práticos, como infinita. O outro extremo é o da reutilização de esgoto para fins potáveis sem dispô-lo antes no meio ambiente, situação classificada por alguns autores como o de reúso potável direto (BRAGA FILHO, idem). 58 A Organização Mundial da Saúde – OMS (1973) classifica reúso com os seguintes conceitos: − Reúso indireto: ocorre quando a água já usada, uma ou mais vezes para uso doméstico ou industrial, é descarregada nas águas superficiais ou subterrâneas e utilizada novamente a jusante. − Reúso direto: é o uso planejado e deliberado de esgotos tratados para certas finalidades como irrigação, uso industrial, recarga de aqüífero e água potável. − Reciclo interno: é o reúso da água internamente a instalações industriais, tendo como objetivo a economia de água e o controle da poluição. O termo reciclo é definido como o reúso interno da água para o uso original, antes de sua descarga em um sistema de tratamento ou outro ponto qualquer de disposição. Por outro lado, o termo reúso é utilizado para designar descargas de efluentes que são subseqüentemente utilizados por outros usuários, diferentes do original. Nessas condições, o reúso planejado direto da água para fins potáveis pode ser classificado como reciclo, desde que os efluentes tratados sejam utilizados novamente pela mesma entidade que os produziu, num circuito fechado. CECIL (apud LAVRADOR FILHO, 1987), referindo-se ao reúso de água na indústria, distingue o termo reúso direto da palavra reciclagem da seguinte maneira: reúso direto diz respeito a águas que, tendo sido poluídas pela atividade humana, não tenham sido misturadas com águas naturais; o uso de águas provenientes de outras indústrias ou sistema público é um reúso direto das águas, se estas não tiverem sido misturadas com águas naturais. Portanto, para o autor a reciclagem não é propriamente um reúso, e sim, um caso especial deste. Ou seja, os efluentes gerados são recuperados para o mesmo uso. LAVRADOR FILHO (idem) sugere a seguinte terminologia para efeito de uniformização de linguagem: a) Reúso de água: é o aproveitamento de águas previamente utilizadas, uma ou mais vezes, em alguma atividade humana, para suprir as necessidades de outros usos benéficos, inclusive o original. Pode ser direto ou indireto, bem como decorrer de ações planejadas ou não planejadas. 59 b) Reúso indireto não planejado de água: ocorre quando a água, já utilizada uma ou mais vezes em alguma atividade humana, é descarregada no meio ambiente e novamente utilizada a jusante, em sua forma diluída, de maneira não intencional e não controlada. c) Reúso planejado de água: ocorre quando o reúso é resultado de uma ação humana consciente, adiante do ponto de descarga do efluente a ser usado de forma direta ou indireta. O reúso planejado de águas pressupões a existência de um sistema de tratamento de efluentes que atenda aos padrões de qualidade requeridos pelo novo uso que se deseja fazer da água. O reúso planejado também pode ser denominado “reúso intencional da água”. d) Reúso indireto planejado de água: ocorre quando os efluentes, depois de convenientemente tratados, são descarregados de forma planejada nos corpos d’água superficiais para serem utilizados à jusante em sua forma diluída e de maneira controlada, no intuito de algum uso benéfico. e) Reúso direto planejado de água: ocorre quando os efluentes, após devidamente tratados, são encaminhados diretamente de seu ponto de descarga até o local do reúso. Assim, sofrem em seu percurso os tratamentos adicionais e armazenamentos necessários, mas não são, em momento algum, descarregados no meio ambiente. f) Reciclagem de água: é o reúso interno da água, antes de sua descarga em um sistema geral de tratamento ou outro local de disposição, para servir como fonte suplementar de abastecimento do uso original. É um caso particular do reúso direto. Já outros autores, como WESTERHOFF (1984), tentam simplificar tais conceitos classificando reúso de água em potável e não potável, simplesmente. Por sua praticidade e facilidade, essa classificação foi adotada pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária (ABES), seção São Paulo, tendo sido amplamente divulgada em sua série Cadernos de Engenharia Sanitária e Ambiental em 1992. 60 GOMES (2002) em sua tese de mestrado intitulada Procedimentos para Minimização de Efluentes Aquosos, adotou terminologia e conceitos para o reúso que consideramos os mais adequados para o entendimento da aplicação das metodologias e tecnologias utilizadas na indústria: a) Reúso: caracteriza-se pela utilização do efluente em mais de uma operação unitária de forma seqüencial sem que haja qualquer intervenção no fluido, conseguindo-se atender à operação seguinte e reduzir o consumo de água primária (figura 9a). b) Regeneração com reúso: nesse caso há uma intervenção no efluente antes da utilização na operação seguinte. Normalmente, é feita a remoção parcial de contaminantes, havendo além do benefício da redução do consumo de água primária e do volume de efluente final, a diminuição da carga poluidora (figura 9b). c) Regeneração com reciclo: após intervenção para remoção do contaminante, o efluente retorna para o mesmo processo que o originou. Também nesse caso, haverá o beneficio da redução de carga poluidora (figura 9c). 61 OPERAÇÃO 1 água primária rejeito OPERAÇÃO 2 OPERAÇÃO 3 (a) OPERAÇÃO 1 agua primária rejeito OPERAÇÃO 2 REGENERAÇÃO OPERAÇÃO 3 (b) OPERAÇÃO 1 rejeito OPERAÇÃO 2 REGENERAÇÃO agua primária OPERAÇÃO 3 (c) Figura 9 - Minimização de água Fonte: GOMES (2002). GOMES (idem) alerta para a importância de diferenciar a regeneração com reúso da regeneração com reciclo, uma vez que no reciclo poderá ocorrer o acúmulo de contaminantes indesejáveis não removidos na regeneração. 62 Uma vez estabelecidos os conceitos de reúso de água, podemos então abordar os métodos, práticas e técnicas mais aplicadas no segmento industrial e sua viabilidade nas refinarias de petróleo brasileiras, que em última análise é um dos objetivos da pesquisa. Na abordagem que faz sobre minimização de efluentes de refinarias, FRAYNE (1992) aponta os limites mais rígidos dos órgãos de controle americanos, NPDES (National Pollutant Discharge Elimination System), TCLP (Toxic Characteristic Leaching Procedure) e NESHAP (National Emission Standards for Hazardous Air Pollutants) como os principais motivadores do ressurgimento do interesse em reúso de água tornando-a uma opção atrativa. A maioria da literatura sobre práticas de reúso, inclusive o Manual sobre Reúso de Água do Instituto Americano de Petróleo (API’s Manual on Water Reuse), foi lançada em meados dos anos 70 após o estabelecimento de legislação específica (Clean Water Act) pela EPA, quando o interesse na zero discharge atingiu seu pico. Na ocasião, predominavam as aplicações primárias de efluentes municipais nos setores de irrigação agrícola e recreacional, sendo que o principal interesse com esta água reutilizada dizia respeito ao controle da possível contaminação por vírus, bactérias e patogênicos. Ao abordar tecnologias de reúso, MANCUSO (2003) lista várias operações unitárias utilizadas tradicionalmente no tratamento de água para utilização industrial e enquadramento de efluentes em corpos hídricos como tecnologias de reúso. Ou seja, devemos entender que não há tecnologias de tratamento desenvolvidas especificamente objetivando o reúso da água. As tecnologias utilizadas em reúso são um conjunto de operações unitárias conhecidas podendo formar diversos arranjos seqüenciais para atender a objetivos específicos, dentre os quais o reúso de água. Portanto, quando se trata de reúso de água, dada a grande variabilidade da fonte, que pode ser desde esgoto bruto até despejos razoavelmente diluídos, como da própria finalidade a que se destina o efluente tratado, ou tipo de reúso pretendido, é grande também a variedade de sistemas, ou seqüências de processos possíveis de serem concebidos. O tratamento secundário dos esgotos urbanos de uma comunidade, por exemplo, pode ser tão somente uma fase de um sistema de tratamento de reúso. A Veolia-USFilters ao oferecer serviços de engenharia para indústria de petróleo, sintetiza através do Recycle/Reuse Technology Map, seqüências possíveis para reúso de água na indústria evidenciando as tecnologias usuais como mostra a figura 10. 63 1 2 Remoção de Óleo e Graxa 3 Remoção Inorgânica 4 Tratamento Biológico Tratamento Terciário 5 Esgoto Recuperação de Óleo Pré-tratamento p/ desmineralização Manipulação de Sólidos 9 Desmineralização 8 Torre de resfriamento Processo/Fabricação Água de incêndio Utilidades 6 7 Concentrador Salmora Disposição/ Recuperação Alimentação da Caldeira Figura 10 - Seqüência de reúso proposta pela Veolia Fonte: O próprio autor, adaptado de catálogo do fornecedor. Cada uma dessas etapas do tratamento pode ser realizada por tecnologias já consagradas como segue: 1) Remoção de óleo e graxa: Separadores API, Filtro Shell, Separador de Precipitação Contínua, Ultrafiltros Poliméricos, Microfiltro Cerâmico, Flotação Ar Dissolvido, Flotação Ar Induzido 2) Remoção inorgânica: Clarificador de contato de sólidos, Separador Lamella, Separador Polimérico, Precipitação, Oxidação/Reducão. 3) Tratamento biológico: Estripagem Ar/Vapor, Tratamento Anaeróbico, Filtro Biológico, Biodiscos rotativos, Lodos Ativados, Sistema de Tratamento de Efluentes PACT®, Nitrificação/Denitrificação, Ultrafiltração Polimérica, Adsorção com carvão, Sistema de remoção Clerify®. 4) Tratamento terciário: Filtração de meios múltiplos, Filtração ascendente, Filtração com carvão, Filtração de areia por gravidade, Filtração polimérica, Filtração 64 cerâmica, Ultrafiltração, Clarificador por adsorção, Filtração com cartuchos, Filtros de mangas. 5) Pré-tratamento para desmineralização: Troca iônica seletiva, Abrandamento, Adsorvedores poliméricos, Desinfecção, Remoção desinfetante, Antiscalants, Modificação de pH, Radiação Ultravioleta, Degaseificação. 6) Desmineralização: Osmose Reversa, Troca Iônica, Evaporação, Deionização Contínua, Nanofiltração 7) Concentração da salmora: Recompressão Mecânica, Cristalizador Evaporador, Concentrador de Salmora, Circulação Forçada. 8) Manipulação de sólidos: Adensamento por gravidade, Filtro de Correia, Filtro Prensa, Secador de Lodo, Sistema de regeneração de ar úmido. A definição dos componentes de um sistema de reúso pode ser estabelecida pela experiência anterior do projetista, por ensaios de laboratório, por informações bibliográficas ou pela combinação desses fatores. RICHARD (1998), partindo de esgotos urbanos brutos de origem predominantemente doméstica, propõe seqüências de processos que resultam num efluente com características determinadas, em razão do desempenho previsto para cada processo unitário. Segundo o autor, essas seqüências de processos produzem efluentes com qualidade variada para usos benéficos potenciais. Em cada seqüência, a ordem dos processos é baseada em experiência comprovada através da operação de instalações e das inter-relações entre os processos. De forma geral, os processos unitários são acrescentados sucessivamente, formando sistemas de tratamento para que se obtenham graus de depuração cada vez maiores e, portanto, melhor qualidade para o efluente. A partir de um nível mínimo de qualidade do efluente de tratamento de esgotos urbanos predominantemente doméstico, constituído de gradeamento e decantação primária, RICHARD (idem) sugere uma seqüência de processos unitários que torna possível sua reutilização em diversos outros níveis de atendimento como mostrado no quadro 2 e na tabela 13. 65 Nível 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Descrição Tratamento primário Lodos ativados convencionais e desinfecção Combinação de filtro biológico e lodos ativados e desinfecção Aeração prolongada e desinfecção Secundário seguido das recomendações do “título 22 do código da califórnia”(1) e desinfecção Secundário seguido de filtração direta e desinfecção Secundário, filtro dynasand e desinfecção Secundário, filtro dynasand ® (2), remoção de fósforo e desinfecção Processo eimco bardenpho ® (3) e desinfecção Secundário seguido de filtro dynasand ®, adsorção e desinfecção Secundário, filtro dynasand ®, adsorção, osmose reversa e desinfecção Secundário seguido de recarbonatação, osmose reversa e desinfecção Obs.: (1) normas do Department of Health Services que disciplinam conjuntos de processos e operações aplicáveis ao reúso; (2) filtração por contato; (3) sistema de filtro biológico Quadro 2 - Níveis de tratamento e descrição dos sistemas Fonte: RICHARD (1998). Tabela 13 - Concentração esperada por nível de tratamento Concentração dos parâmetros (1) Nível 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 SST(2) 80 20 10 10 10 10 10 10 10 <2 <1 <1 DBO(3) NH3(4) 120 20 10 10 10 10 10 10 10 <2 <1 <1 NA NA 5 5 5 5 1 1 1 <1 <1 NO3(5) PO4(6) NA NA NA NA NA NA NA 2 2 2 <1 <1 NA NA NA NA NA NA NA 2 2 2 2 2 COT(7) SDT(8) NA NA NA NA NA NA NA NA NA <5 <2 <2 NA NA NA NA NA NA NA NA NA NA <50 <50 Dureza(9) NA NA NA NA NA NA NA NA NA NA <10 <10 Coliformes(10) NA <23 <23 <23 <2,2 <2,2 <2,2 <2,2 <2,2 <2,2 <2,2 <2,2 Obs.: (1) mg/L, salvo onde indicado; (2) sólidos suspensos totais; (3) demanda bioquímica de oxigênio; (4) nitrogênio amoniacal; (5) nitrogênio de nitrato; (6) fosfato; (7) carbono orgânico total; (8) sólidos dissolvidos totais; (9) dureza em CaCO3; (10) coliformes totais/100 ml; (NA) não aplicável. Fonte: MANCUSO (2003 adaptado de RICHARD, 1998). 66 A seqüência de operações e processos pode na realidade constar de uma única operação, como remoção de sólidos sedimentáveis por decantação até um conjunto relativamente amplo que inclui oxidação biológica, coagulação química, filtração, remoção de sólidos dissolvidos, desinfecção etc. Algumas dessas seqüências já são clássicas, tanto no tratamento de despejos como de água para abastecimento público, e por esse motivo são conhecidas por termos consagrados como tratamento primário e secundário, no caso de despejos, e tratamento convencional, no caso de água para abastecimento público (MANCUSO, 2003). Dos processos e operações unitárias, listamos a seguir alguns dos mais citados na literatura de tratamento dos recursos hídricos, com breve descrição de seus objetivos. Cabe ressaltar que, embora não seja finalidade desse trabalho aprofundar-se na análise dos processos e operações unitárias que compõem um sistema para reúso, consideramos necessária a lembrança da conceituação desses processos para melhor entendimento das possibilidades e conclusões finais do trabalho. a) Lagoas de estabilização: Trata-se de reservatórios construídos para tratamento biológico de esgotos. Apresentam diversas configurações e a natureza dos processos podem ser muito diferentes, guardando pouca relação entre si. Segundo MONTENEGRO (1980), podem ser classificadas como lagoas aeradas, aeróbias, lagoas aeradas facultativas, lagoas anaeróbias, lagoas facultativas e lagoas de maturação. O tratamento de esgotos por lagoas de estabilização consiste numa boa prática para anteceder outros processos unitários, independentemente da modalidade de reúso almejada, sendo particularmente recomendado para o Brasil em virtude do clima e dos custos mais baixos do que os de tratamentos alternativos. As lagoas de maturação são tanques que recebem o efluente de estações de tratamento convencionais ou de outras lagoas, e são empregadas para “polir” o efluente, reduzindo principalmente os sólidos sedimentáveis e os organismos patogênicos. Podem ser consideradas como dispositivos de tratamento terciário, não se destinando à estabilização da matéria orgânica, mas a uma melhoria na qualidade do efluente de instalações de tratamentos secundário. b) Filtros biológicos: É uma estrutura, normalmente de concreto, que contém no seu interior um enchimento de pedras ou de plástico, que serve como leito sobre o qual o esgoto é aspergido. O esgoto 67 escorre através do leito, propiciando o desenvolvimento de uma população biológica que se acumula sobre as pedras do filtro sob a forma de uma película de lodo, no interior da qual vivem os microorganismos aeróbios, que consomem a matéria orgânica. Ao morrerem, por falta de alimento, esses organismos desprendem-se das pedras, sendo retidos no decantador que normalmente vem após essa unidade. O filtro biológico é um processo de tratamento secundário de operação relativamente simples. Entretanto, por ser muito sensível às oscilações da qualidade dos esgotos afluentes, requer um bom controle operacional. O desempenho dos decantadores secundários, integrantes do processo de filtração biológica, é fundamental na performance das unidades subseqüentes. O filtro biológico, se cuidadosamente operado e monitorado, tem boa aplicabilidade de reúso em casos em que a DBO solúvel não é um parâmetro crítico, como na irrigação. c) Lodos Ativados: É um processo biológico no qual o material orgânico é utilizado como alimento pelos microorganismos. Isso é feito por meio da agitação e aeração da mistura esgoto e lodo biológico (microorganismos) em tanques de aeração ou reatores, seguindo-se a separação do esgoto tratado por decantadores secundários, de onde uma parte do lodo retorna ao tanque de aeração, descartando-se o excesso. Existem variações tradicionais no processo de lodos ativados, conhecidos por aeração plug flow com introdução contínua de ar ao longo do comprimento do tanque, mistura completa em que o afluente e o retorno do lodo são introduzidos em toda a massa líquida garantindo uma demanda uniforme em todo o reator e tornando o processo mais estável às cargas de choque. Uma variação do sistema de pistão (plug flow) é a chamada aeração escalonada em que o afluente é introduzido no reator em vários pontos ao longo de seu comprimento, o que resulta numa utilização mais eficiente do oxigênio administrado. Outra variação no sistema dos lodos ativados é a chamada aeração prolongada, caracterizada por longos períodos de aeração e altas concentrações de sólidos em suspensão no tanque de aeração para garantir respiração endógena e um efluente altamente nitrificado. d) Coagulação, floculação e sedimentação: Consiste na remoção de sólidos e na precipitação de poluentes pela dosagem de produtos químicos, seguido de uma mistura rápida para dispersá-los e mistura lenta para 68 promover a formação de flocos sedimentáveis em unidades de decantação. Esses processos foram abordados anteriormente ao tratar-se do método convencional para tratamento de água. e) Recarbonatação: Processo que tem sido utilizado na remoção de fósforo por coagulação, ou então após a decantação com cal para proteção das instalações contra os eventuais depósitos de cálcio que ocorrem com pH elevado. Trata-se da aplicação de gás carbônico (CO2) no efluente tratado com cal, objetivando a diminuição do pH, para que os hidróxidos produzidos passem a carbonatos e bicarbonatos. A recarbonatação normalmente é feita após os processos de coagulação e floculação com cal. f) Filtração: Consiste na passagem do efluente através de leito de material granular para remoção de sólidos, o que exige eventuais lavagens com água em contra-corrente para remoção do material retido. É um processo-chave na produção de efluente de alta qualidade, combinando mecanismos físicos e químicos de remoção de sólidos, sendo por isso normalmente usado como uma etapa final imediatamente antes da desinfecção e da disposição final ou reúso. Para determinados usos da água, a filtração pode preceder a alguns processos mais avançados, tais como adsorção em carvão ativado e troca iônica. A eficiência da filtração depende, fundamentalmente, do tamanho e da resistência dos flocos formados nos processos que a precedem. Flocos de lodos ativados formados depois de pelo menos 10 horas de aeração são facilmente removidos, enquanto flocos provenientes de filtros biológicos e de processos químicos de coagulação e floculação, via de regra, são mais frágeis, de remoção mais difícil, exigindo muitas vezes a adição de produtos que aumentam a resistência do floco e a performance do filtro. g) Processo de remoção de amônia por arraste (ammonia stripping): Entre os métodos conhecidos de remoção de nitrogênio de águas residuárias, o sistema de arraste com ar é o mais simples e o de mais fácil controle. Esse processo remove o gás de amônia da água por agitação da mistura gás-água, na presença do ar. O nitrogênio presente sob a forma de íon amônio é convertido a gás amônia, quando o pH da solução é aumentado, após o que é liberado da solução em uma torre de arraste equipado com sopradores de ar ou ventiladores. A remoção do nitrogênio amoniacal através de torres de arraste de ar é um 69 método simples. Pode ser usado em sistemas de tratamento de reúso de água onde se deseja uma redução moderada da concentração de nitrogênio amoniacal, ou em série com outros processos de remoção, caso se desejem concentrações maiores. h) Remoção de amônia por cloração no ponto de ruptura (breakpoint): Esse processo possibilita a oxidação direta do nitrogênio amoniacal a nitrogênio gasoso, através de uma reação com cloro denominada cloração no breakpoint. 2 NH3 + 3HOCl → N2 + 3H+ + 3Cl- + 3H2O Estequiometricamente nesse processo são necessárias 7,5 partes de cloro para cada parte de nitrogênio amoniacal oxidada, sendo 10:1 a relação prática. Nessas condições, para efluentes de tratamento secundário, são necessários 250 mg/L de Cl2 para a oxidação de 25 mg/L de nitrogênio amoniacal, normalmente presente nesses efluentes. Por outro lado, para a neutralização dos ácidos formados, tanto na reação de oxidação quanto na hidrólise do Cl2 a HOCl, são necessários 260 mg/L de Ca(OH)2 ou 380 mg/L de carbonato de sódio para os referidos 250 mg/L de Cl2. Até concentrações de 25 mg/L de nitrogênio amoniacal, o breakpoint é atingido relativamente rápido, ou seja, 90% em 5 minutos a pH em torno de 7,0 e temperatura próxima de 20oC, o que implica a necessidade de tanques de contato relativamente pequenos. Normalmente, esses tanques são projetados para períodos de 1 minuto. Um problema que deve ser considerado, quando se utiliza a cloração no breakpoint a concentrações de 250 mg/L de Cl2 e 260 mg/L de hidróxido de cálcio, é o aumento da salinidade que corresponde a 400 mg/L da dureza em cerca de 300 mg/L de CaCO3, o que pode comprometer os processos unitários subseqüentes. Embora essa técnica seja bastante usada, principalmente no Brasil, em altas concentrações de nitrogênio amoniacal, ela pode ser a longo prazo bastante onerosa. MORRIS (1983 apud MANCUSO, 2003) indica como limite de concentração econômica valores da ordem de 2 a 3 mg/L de nitrogênio amoniacal. O processo de cloração ao breakpoint pode remover virtualmente todo nitrogênio amoniacal presente nos efluentes de esgoto, embora, no ponto de vista econômico, não seja indicado para grandes concentrações de nitrogênio amoniacal (CULP, 1980 apud MANCUSO, 2003). 70 i) Ozonização: É amplamente usada na Europa, nos processos de desinfecção de água potável. Atualmente seu uso, em tratamento de esgoto, vem aumentando rapidamente, existindo somente nesse continente cerca de mil instalações (CULP, 1980 apud MANCUSO, 2003). Além de o seu alto poder oxidante, o ozônio é poderoso desinfetante de ação não seletiva, porém bastante instável, decompondo-se rapidamente pela ação do calor em razão da fraca ligação entre os átomos de oxigênio da sua molécula. No caso de tratamento de águas residuárias, sua instabilidade tem um aspecto positivo, que é acrescentar oxigênio dissolvido à água, entretanto essa mesma característica tem conotação negativa por não permitir sua estocagem, exigindo sua geração junto ao ponto de aplicação, e por não persistir na água sob forma residual. Em sistemas de reúso, a utilização do ozônio é indicada em aplicações onde são desejáveis altos níveis de desinfecção, incluindo a destruição de vírus cloro-resistentes e cistos. Também é indicado onde se deseja controlar a formação de compostos organoclorados. j) Adsorção em carvão ativado: É utilizado no tratamento avançado de esgotos para remoção de materiais orgânicos solúveis que não são eliminados nos tratamentos anteriores. Essas substâncias orgânicas, ditas refratárias, são passíveis de ser adsorvidas na superfície dos poros das partículas de carvão, até que sua capacidade de adsorção se exaure, sendo necessária sua regeneração ou reativação. Esse processo também é utilizado para remoção de compostos inorgânicos como nitrogênio, sulfeto e metais pesados. Nos sistemas de tratamento avançado, a adsorção em carvão ativado geralmente vem após a filtração e, às vezes, após a cloração no ponto de ruptura. Isso porque partículas do material em suspensão obstruem os poros de carvão, e a cloração, nesse ponto, minimiza a possibilidade de crescimento de bactérias anaeróbias em sua superfície. Além disso, o carvão ativado reduz o cloro residual, evitando a necessidade de descloração. A adsorção em carvão ativado é usada onde se requer tratamento em alto grau. Pode ser usado sob a forma granulada (GAC – Granular Activated Carbon) em que o líquido é passado através de uma coluna de leito fixo, ou sob a forma pulverizada (PAC – Powdered Activated Carbon). Seu uso tem sido adotado em diversas fases do tratamento, como após o tratamento biológico para remoção de matéria orgânica, ou após tratamento físico químico por coagulação, floculação, sedimentação e filtração, que remove o material que poderia obstruir 71 seus poros. Esse último arranjo é particularmente indicado para remoção de poluição industrial, inibidora do tratamento biológico. ABE et al. (1981) cita experiência da Toa Oil Co., destacando como elementos de atratividade em sistema de carvão ativado implantado na refinaria de Kawasaki a alta capacidade de remoção de DQO a um baixo custo operacional de água tratada. Os custos estão divididos em 43% para reposição do carvão, 22% de manutenção, 3% de eletricidade, 29% de reativação e 3% de custos de tratamento da água de lavagem (backwash). O sistema reduziu os níveis de DQO na entrada do sistema de cerca de 200 ppm para 10 ppm na saída. Um processo utilizado atualmente combina o uso de carvão ativado em pó com o processo de lodo ativado. Nesse processo, quando o carvão ativado é adicionado diretamente no tanque de aeração, a oxidação biológica e a adsorção física ocorrem simultaneamente (METCALF & EDDY, 2003). l) Troca iônica: A troca iônica é uma unidade de processo na qual os íons de uma determinada espécie são deslocados por íons de espécie diferente na solução. O processo é amplamente utilizado no abrandamento de água, onde os íons sódio de uma resina catiônica são substituídos pelos íons cálcio e magnésio da água, reduzindo assim sua dureza. A troca iônica pode ser utilizada em aplicações de tratamento de efluentes, para remover nitrogênio, metais pesados e sólidos totais dissolvidos. Para controle de nitrogênio, são normalmente removidos os íons amônio e nitrato. Consiste na troca seletiva dos íons amônio (NH4+) através de uma resina mineral – clinoptilolite – que tem maior afinidade por esse íon do que Ca++ ou Mg++ ou Na+. A passagem de esgotos domésticos, pré-decantados e filtrados, através de leitos de 2,5m de altura dessa resina à velocidade de 24 a 30 cm/min, tem apresentado remoções de 93 a 97% de NH4+, o que representa uma capacidade efetiva de 6,0 mg de nitrogênio amoniacal por mililitro de resina, correspondendo a uma relação de 200 volumes de resina. A regeneração da clinoptilolite é feita com solução de NaCl 0,1M supersaturada com Ca(OH)2. O NH4+ é liberado da resina na forma de NH3 em virtude do alto pH da solução sendo removido da solução regeneradora através de ammonia stripping, com ar aquecido (MANCUSO, 2003). 72 m) Processos de separação por membranas semipermeáveis: O uso de membranas semipermeáveis é relativamente recente no campo da purificação de água. A observação de tecidos de vegetais e animais inspirou a engenharia de sua fabricação. n) Métodos de integração de processos: O reúso da água nos processos requer uma ampla análise de contaminantes das correntes hídricas. Em sistemas mais complexos como refinarias de petróleo e plantas petroquímicas, o número de arranjos possíveis e de opções técnicas para minimização dos efluentes requer instrumentos que possam auxiliar os engenheiros de processo na elaboração de projetos otimizados. A integração dos processos é, portanto, um caminho praticamente inevitável para a obtenção de melhores resultados. Várias metodologias de projeto de processos industriais têm sido desenvolvidas sob a “chancela” de integração de processo. Essas metodologias, em geral, não visam criar novos tipos de equipamentos ou operações unitárias. Na verdade, elas buscam garantir que as tecnologias de processo existentes sejam selecionadas e inter-relacionadas da forma mais efetiva. Por exemplo, a montagem de uma rede de trocadores de calor com um balanço otimizado quanto aos custos de capital e energia. Tipicamente, os procedimentos são iniciados com uma visão do processo como um todo, ao invés de focalizar uma operação unitária individual ou parte de um equipamento. Dessa forma, uma estrutura correta pode ser desenvolvida para a planta toda, com itens individuais de equipamentos sendo montados nessa estrutura. Essa metodologia tem sido aplicada com sucesso há muitos anos nas atividades de minimização de custos, com ênfase no equilíbrio entre os custos de capital e de operação (ROSSITER, 1995). Ainda para ROSSITER (idem), uma das principais características das técnicas de integração de processos é que elas aumentam a eficiência do processo ao minimizar o uso e/ou maximizar a recuperação de energia e materiais. Isso as relaciona diretamente com os objetivos da prevenção de poluição. Segundo MANN E LIU (1999), a integração de processos é baseada em três princípios chaves: 73 − Considerar todo o processo de produção como um sistema integrado único para análise e projeto. − Aplicar os princípios de engenharia de processo para as etapas chaves e estabelecer a priori os pontos para utilização de materiais e energia, bem como de emissões e perdas. − Finalizar os detalhes do processo para atender a análise integrada e atingir as metas estabelecidas. As metodologias de integração de processos podem ser classificadas sob três títulos principais: análise pinch, aproximações baseadas no conhecimento (knowledge-based approaches) e otimização gráfica/numérica (GUNDERSEN E NAESS, 1987 apud ROSSITER, 1995). Para ilustrar a otimização de uma rede de água, o CEDRL (CANMET Energy Diversification Research Laboratory), Laboratório de Pesquisa e Diversificação Energética do Canadá, apresenta o exemplo do tingimento de tecidos de uma tinturaria (figuras 11, 12 e 13). O processo pode ser dividido em três operações principais: − lavagem da tela, − tingimento e − enxágüe. A água é o agente de cada uma dessas operações. Uma vez que as tinturarias consomem grandes volumes de água a altas temperaturas, ganhos significativos podem ser alcançados em diversas áreas pela redução do consumo de água. A primeira fase no processo para reduzir o consumo de água é identificar as etapas no processo onde vazamentos e desperdícios podem ocorrer. Grandes quantidades de água podem ser economizadas pela eliminação de vazamentos e mudanças de hábitos dos empregados. Uma vez essas tarefas tenham sido realizadas, um estudo mais rigoroso deve ser feito para identificar outras oportunidades de redução de consumo de água. Para fazer isso, dois caminhos podem ser seguidos. O primeiro consiste em modificar as operações unitárias para consumir menos água. Esse caminho necessita da troca de alguns equipamentos por outros que consumam menos água e/ou modificações nos métodos operacionais. Os custos podem ser mais altos se alguma substituição de equipamento for necessária, de forma que o reúso da água pode não ser economicamente atrativo. O segundo caminho é otimizar a rede de água para reutilizar alguns dos processos. Esse caminho, se utilizado sistematicamente e rigorosamente, constitui uma tecnologia de integração de 74 processo, uma vez que seu objetivo é melhorar as inter-relações no processo sem mudar as operações unitárias. O exemplo da tinturaria foi escolhido para ilustrar a natureza da otimização de rede de água, mas o mesmo caminho pode ser aplicado na maioria dos processos que consomem grandes quantidades de água e geram efluentes. Assim, observa-se na figura 11, utilizada como “Caso Base”, que a água fresca é enviada para cada operação unitária; todo efluente é coletado e tratado em um sistema de tratamento centralizado. Na figura 12, pode-se observar que são feitas mudanças e/ou trocas nas operações unitárias tais que menos água seja consumida na realização das tarefas; o consumo total de água é reduzido, mas grandes investimentos podem ser necessários nas modificações ou substituição dos equipamentos. Na alternativa apresentada na figura 13, no reúso da água de processo, nenhuma modificação é feita nas operações unitárias; elas consomem a mesma vazão de água que na figura 12, mas parte da água de processo é reutilizada para reduzir o consumo total de água fresca e, conseqüentemente, diminui a produção de efluente. Uma metodologia sistemática deve ser utilizada tal que leve em conta as restrições do processo. Em alguns casos um tratamento parcial de algumas correntes de água devem ser providenciadas para permitir sua reutilização. Água tratada (130 m3/h) Sistema de tratamento de efluentes 60 m3/h 30 m3 /h 40 m3/h Operação 1 (lavagem) Operação 2 (tingimento) Operação 3 (enxágüe) 40 m3/h 30 m3/h Água fresca (130 m3/h) Figura 11 - Caso Base Fonte: CEDRL, 1999 60 m3/h 75 Água tratada (100 m3/h) Sistema de tratamento de efluentes 25 m3/h 45 m3/h 30 m3/h Operação 1 Modificada Operação 2 Modificada Operação 3 Modificada 30 m3/h 25 m3/h 45 m3/h Água fresca (100 m3/h) Figura 12 - Modificação das operações unitárias Fonte: CEDRL, 1999 Água tratada (100 m3/h) Sistema de tratamento de efluentes 30 m3/h 30 m3/h 40 m3/h Operação 1 (lavagem) Operação 2 (tingimento) 30 m3/h 10 m3/h 30 m3/h 60 m3/h Água fresca (100 m3/h) Figura 13 - Reúso da água de processo Fonte: CEDRL, 1999 Operação 3 (enxague) 76 As metodologias baseadas em Programação Matemática e Procedimento Algorítmico surgiram em meados dos anos 90, com diversos trabalhos publicados enfocando a redução da poluição através da minimização do descarte de efluentes líquidos aquosos com abordagens, principalmente, na análise de redes de transferência de massa, envolvendo processos como a troca iônica, adsorção, absorção, extração líquido-líquido etc., e a análise de redes de equipamentos cujas operações não são consideradas como de transferências de massa. Nesse bloco, estão incluídas as operações de lavagem, geração de vapor ou água e operações de resfriamento. Com a crise mundial de energia no final dos anos 70, um procedimento gráfico denominado Pinch Technology foi desenvolvido na Universidade de Manchester objetivando a otimização em redes de trocadores de calor. O método pinch está baseado em princípios termodinâmicos e integração dos processos. Nas últimas duas décadas, aumentou-se o número de tecnologias que utilizam a integração de processos. Foram desenvolvidas tecnologias de integração de processos para otimizar colunas de fracionamento em refinarias, processos descontínuos (batelada), gerenciamento de hidrogênio em refinarias, projeto de sistemas de reatores etc. Recentemente, tecnologias de otimização da rede de água industrial e energia foram desenvolvidas. Assim, além das aplicações em conservação de energia, novas aplicações foram desenvolvidas objetivando a minimização do uso de água e redução na geração de efluentes. Essa variante da pinch technology surgida em 1994 é usualmente conhecida como water pinch, ou ainda, Teoria do Ponto de Estrangulamento. Trata-se de um método para determinar o consumo mínimo de água fresca e, conseqüentemente, a geração mínima de efluente. O método é aplicado para otimização de rede de água utilizando como restrição de qualidade, um único contaminante ou para diversos contaminantes considerados como um. O método water pinch pode ser aplicado em quatro etapas, conforme sugerido pelo CEDRL (1999): − Montagem da rede de água a partir dos fluxogramas de engenharia, mostrando todas as operações unitárias do processo em que a água é usada (inclusive processos de utilidades) e todas as operações unitárias em que a água, contaminada ou não, é produzida. Um balanço de massa deve ser feito para as correntes principais. − Os contaminantes mais importantes devem ser identificados (DQO, sólidos suspensos, sólidos dissolvidos etc.). Um contaminante é definido como uma substância que restringe o reúso do processo. As concentrações máximas aceitáveis 77 na entrada de cada operação unitária devem ser definidas, e as concentrações resultantes na saída das operações unitárias também têm que ser avaliadas. − Se forem identificados muitos contaminantes, tem-se que agrupar alguns deles para reduzir a complexidade do problema, assumindo o conjunto como um único contaminante. − Aplicar a tecnologia water pinch para determinar uma nova configuração que permitirá reduzir o consumo de energia e água fresca. O projeto então obtido deve ser avaliado, para se necessário, alterar alguma restrição e obter o projeto mais prático. − Repetir a etapa 4 até que o projeto ideal seja obtido. A figura 14 mostra uma operação unitária de evaporação com suas correntes de entrada e saída, com diferentes vazões e concentrações. Para uma dada operação unitária, podem haver muitas correntes de água, com diferentes vazões e concentrações para cada uma delas. Por exemplo, na saída da operação 1 há duas fontes de água disponíveis para reúso no processo e somente uma demanda (a soma das duas correntes de entrada após mistura, ou seja, 30 m3/h e 133,3 ppm). 10 m3/h 20 m3/h 200 ppm Operação 1 100 ppm 400 ppm 800 10 m3/h 15 m3/h Figura 14 - Correntes de entrada e saída Fonte: O próprio autor. Para realizar-se o estudo através da water pinch, os dados podem ser utilizados diretamente para ajustar-se os valores de concentração e vazão máximos para entrada e saída da operação. Caso se possa considerar uma concentração máxima mais alta na entrada da operação, a concentração máxima de saída deve ser avaliada com respeito aos novos valores para concentração de entrada. Em muitos casos, os mesmos valores são mantidos para concentrações de entrada e saída para evitar perturbar o processo. 78 O método é ilustrado graficamente nas figuras 15 e 16. As vazões são indicadas no eixo X, e a qualidade no eixo Y. Observe que o eixo está invertido, ou seja, a parte superior representa água fresca enquanto a parte inferior representa a água contaminada. As correntes de entrada de todas as operações unitárias estão agrupadas na curva “correntes de demanda” enquanto que todas as correntes de saída são agrupadas juntas na “correntes fonte”. A sobreposição entre as curvas indica as correntes fontes que podem ser diretamente retornadas para as correntes de demanda. Correntes internas Água fresca Qualidade (ppm) Água fresca (0 ppm) D Correntes fontes B A C Ponto Pinch Correntes demandas Demandas internas efluente Vazão de água (kg/s) Figura 15 - Análise pinch indicando formas de redução Fonte: CEDRL, 1999. Na figura 15, a análise pinch indica as formas em que o consumo de água fresca pode ser reduzido. Uma curva representando as correntes das fontes e outra representando as correntes de demanda. A sobreposição entre as curvas (área marcada) indica o potencial para reúso da fonte. A figura 16 aponta as ações específicas que podem ser tomadas para reduzir o consumo de água fresca. Pela mistura das fontes A e B nas proporções certas para atingir a concentração requerida pela demanda C, a sobreposição entre as curvas de demandas e fontes é aumentada. Isto indica que um maior volume de água pode ser reutilizado e, portanto, o consumo de água fresca reduzido. O projeto que resulta desta etapa do procedimento é mostrado na base da figura. 79 Água fresca Qualidade (ppm) Correntes internas Água fresca (0 ppm) D Mist A+B B PPonto pinch A C efluente Vazão de água (kg/s) Operação A mistura Operação C Operação B Operação D Figura 16 - Análise pinch indicando ações específicas para redução Fonte: CEDRL, 1999. A análise water pinch pode ser aplicada tanto para processos em batelada quanto processos contínuos. BROUCKAERT E BUCKLEY (2002) descrevem um estudo de caso da fábrica de inseticidas Sanachem, subsidiária da Dow Chemicals em Kwazulu-Natal, onde produtos fabricados em batelada envolvendo uma seqüência em vários reatores geravam efluentes tóxicos. A disposição final desses efluentes era o principal problema ambiental obrigando seu transporte, extremamente caro, para outra cidade. Portanto, a minimização dos rejeitos para reduzir a quantidade de efluente tóxico tratava-se de um tópico de considerável interesse da indústria. Como resultado da análise Pinch juntamente com outras medidas de minimização, 80 obteve-se uma redução global de 96 m3 por mês de efluente tóxico, 216 m3 de efluente não tóxico e um aumento de 25% na capacidade de produção pela redução do tempo das bateladas. A tecnologia de integração de processos tem avançado significativamente desde os anos 90. Em 1994 foram publicados por Y. P. Wang e Robin Smith da UMIST (University of Manchester Institute of Science and Technology), Reino Unido, os primeiros artigos sobre water-pinch technology no jornal científico Chemical Engineering Science. Considerado um dos precursores da tecnologia, Smith, ao proferir palestra na Petrobras em 26/05/2004, citou como um dos mais importantes exemplos de sucesso na aplicação de water-pinch a modificação implementada na indústria Química Monsanto (Gales) em 1994-1995, reduzindo a vazão de água fresca em 30%. A proposta inicial de uma nova planta de tratamento de efluentes com custo de capital estimado em US$ 15 milhões não foi aceita pela diretoria. Com uma abordagem focalizada na minimização de despejos, minimização de água captada e tratamento distribuído, o projeto implantado teve um custo total de capital da ordem de US 3,5 milhões, ou seja, uma redução de 75%, que incluíram modificações internas na planta e tratamento final dos efluentes. Como resultado, houve a redução de 30% no consumo de água com economia de US$ 0,3 milhão/ano, redução de 76% da DQO (Demanda Química de Oxigênio) pela minimização de despejos com economia de US$ 0,7 milhão/ano, permanecendo apenas 14% da DQO para remoção pelo tratamento de efluentes. Com a utilização da Water Pinch Analysis nesse projeto, em 1995 a Monsanto Company foi premiada pelo Instituto Britânico de Engenheiros Químicos com o Prêmio Excelência em Segurança e Meio Ambiente. Na indústria do refino de petróleo observa-se um esforço muito grande na busca de novas tecnologias de reúso, principalmente naquelas situadas em regiões de pouca oferta de água. A Pemex, maior empresa da América Latina com produção de 3,3 milhões de barris em 2004 implantou em sua refinaria da cidade de Tula, no México, um sistema desenvolvido pela Seghers Better Technology for Water para tratamento do efluente final visando reúso e atingir a descarga zero. O sistema denominado Unitank Zero Discharge é composto de um tanque com 3 compartimentos operados ciclicamente com aeração em 2 deles e sedimentação no terceiro compartimento. A cada 3 horas a alimentação é invertida e o primeiro compartimento, antes aerado, passa a funcionar como acumulador de lodo, enquanto os outros dois são aerados. 81 Na contratação desse projeto, a Pemex optou pela modalidade “BOO” (Build, Own, Operate) com operação terceirizada durante 12 anos. Para reúso do efluente desse sistema biológico, adotou-se um pós-tratamento convencional incluindo as etapas de coagulação, floculação, clarificação, filtração e desinfecção, conforme a figura 17, mostrada a seguir. Tratamento primário Tanque de equalização DAF 2 x UNITANK de em estágio Tanque de Equalização 2x coagulação/ floculação/ clarificação Refinaria (torres de resfriamento, lavagens, incêndio,etc) Água de lavagem Armazenagem desinfecção 3x filtros de areia neutralização in line Figura 17 - Sistema de reúso da Pemex em Tula Fonte: Revista Saneamento Ambiental, nº 61, nov./dez. 1999. Nesse sistema da Pemex, os lodos biológicos são tratados em filtro prensa e incinerados após atingirem 20% de matéria seca. Quanto aos lodos químicos, são recirculados parcialmente para aumentar a floculação e também incinerados. As tabelas 14 e 15 seguintes mostram resultados do tratamento. 82 Tabela 14 - Características do influente e do efluente do Unitank Parâmetros Vazão (m3/h) DBO (mg/L) DQO (mg/L) TSS (mg/L) TKN (mg/L) TP (mg/L) pH Temperatura ( oC ) Influente bruto 864 – 1037 150 730 30 23 1 6–9 30 Efluente biológico 864 – 1037 < 25 < 100 < 30 < 20 <1 6–9 30 Fonte: Pemex (Refinaria de Tula). Tabela 15 - Características do influente e efluente (tratamento terciário) Parâmetros Vazão (m3/h) (médio) DBO (mg/L) DQO (mg/L) TSS (mg/L) Dureza Ca++ Dureza Mg++ Dureza Total Influente (após biológico) 864 – 1037 < 25 < 100 < 30 236 189 425 Efluente (após terciário) 864 – 1037 < 20 < 80 <5 < 50 < 80 < 130 Fonte: Pemex (Refinaria de Tula). Pelos resultados mostrados nas tabelas, podemos observar que do ponto de vista legal brasileiro, o efluente biológico não seria enquadrado sem um tratamento terciário, haja vista que praticamente não há abatimento do Nitrogênio Kjeldhal. Portanto, parece-nos que o sistema biológico Unitank só foi instalado com a condição do tratamento terciário para descarga zero, ou seja, o sistema só pode funcionar com o terciário em linha. Os autores apresentam como principal vantagem a eliminação de recirculação de lodos dos decantadores. Isso leva a uma operação com baixos níveis de sólidos suspensos prejudicando a nitrificação e maximizando o tratamento terciário para reúso. Ao analisar mais especificamente a questão do reúso na Petrobras, TEIXEIRA et al. (2002) observam duas linhas de pensamento na abordagem dos técnicos. Alguns defendendo que o reúso deveria ser focado no efluente, ou seja, após eliminação da alta salinidade do efluente final, buscar aplicabilidade da água. Outros entendendo que os recursos devem ser canalizados para o reúso interno das águas de processo, uma vez que a economia de água fresca é uma questão típica de processo, e que as implicações do redirecionamento de 83 correntes, instrumento dessa economia, exige análise do desempenho e confiabilidade das unidades. Ao fazer uma análise de possibilidades na Revap, TEIXEIRA et al. (idem) concluíram que a principal possibilidade de reúso é nos sistemas de resfriamento. No entanto, considera-se que este sistema deve ter o tratamento contra corrosividade e incrustações estudado em um projeto que seja desdobramento deste. Ao se dispor de eficácia neste tratamento, poderá ser reusado eventualmente até o próprio efluente da refinaria, sem nenhum tratamento adicional de remoção de contaminantes. Foi desenvolvida neste projeto uma ferramenta para determinação do impacto deste reúso nas composições de água de resfriamento. Embora seja recomendável uma obtenção mais exaustiva de dados para obter-se maior exatidão, as previsões por ela fornecidas podem balizar qualquer decisão de redirecionamento de correntes hídricas para águas de resfriamento, segundo TEIXEIRA et al (idem). Sintetizando, os tratamentos da água para fins industriais e dos efluentes gerados nos processos produtivos são meios de se reduzirem ou remover totalmente as impurezas contidas na água. A escolha de qualquer um ou de um conjunto de diversos deles depende da concentração das impurezas, da qualidade desejável da água e de outras considerações de ordem econômica. O quadro 3 é uma síntese dos principais meios de remoção citados ao longo do trabalho e sua principal aplicabilidade nas refinarias da Petrobrás. Tecnologias de tratamento Clarificação Filtração Cloração (desinfecção) Adsorção com carvão ativado Desmineralização Remoção específica Remoção de turbidez Remoção de sólidos suspensos Microorganismos patogênicos Compostos orgânicos refratários Microfiltração Íons metálicos, Sólidos totais dissolvidos Partículas até 0,1 μm Ultrafiltração Nanofiltração Osmose reversa Partículas até 0,01 μm Partículas até 0,001 μm Partículas até 0,0001 μm Eletrodiálise Íons metálicos, SDT Aplicação Torres de resfriamento Diversos e para potável Água potável Proteção das cadeias de troca iônica e remoção de DQO em lodo ativado Geração de vapor Pré-tratamento para osmose reversa Torres de resfriamento e diversos Geração de vapor de baixa e média pressão Continua 84 Continuação Eletrodeionização Retificação(stripping) Separação por gravidade Flotação Centrifugação Lagoas de estabilização Filtros biológicos Lodos Ativados Recarbonatação Ozonização Íons metálicos, SDT Amônia, gás sulfídrico, VOCs, CO2 Óleo e graxa Remoção de óleo e sólidos suspensos Separação de lodo Matéria orgânica Matéria Orgânica Matéria Orgânica Fósforo Demanda Química de Oxigênio Pré-tratamento p/ETDI e recuperação de enxofre Tratamento de efluente final e recuperação de óleo Pré-tratamento p/sistema biológico Reúso de água Tratamento de efluente Tratamento do efluente Tratamento do efluente - Quadro 3 - Tecnologias de tratamento de água e efluentes nas refinarias da Petrobras Fonte: O próprio autor. 2.5 LEGISLAÇÃO APLICÁVEL AO REÚSO A água no Brasil sempre foi tratada como bem inesgotável, mesmo na esfera jurídica, haja vista que o Código de Águas instituído pelo Decreto no 24.643 de 10 de julho de 1934, previa a propriedade privada de corpos d’água, assegurando ao proprietário o uso gratuito de qualquer corrente ou nascente. Isso de uma certa forma dava ao cidadão o entendimento do direito, por exemplo, de desviar um curso d’água que passasse em suas terras sem se preocupar com as necessidades do vizinho a jusante. Os conflitos gerados sobre o uso das águas eram tratados como meras questões de vizinhança. Apesar de vários de seus dispositivos estarem revogados em decorrência de legislações posteriores (uso da água, inclusive), o Código ainda se encontra em vigor. Embora houvesse legislação específica de proteção ambiental no Brasil como o Decreto Lei no 1.413/75, que dispõe sobre o controle da poluição ao meio ambiente, o Decreto Lei no 76.389/75, que estabelece que o órgão controlador deverá definir critérios, normas e padrões ambientais, ou ainda o Decreto no 79.367/77 que dispõe sobre normas e o padrão de potabilidade de água, somente com a criação da Lei Federal 6.938/81 que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, regulamentada pelo Decreto 99.274/90 que a questão dos recursos hídricos passa a ter mais importância no meio industrial. No seu artigo 6o, a lei cria o Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e, seu desdobramento termina por estabelecer itens importantes no controle ambiental dos recursos hídricos, tais como o 85 estabelecimento de padrões de emissão e de desempenho, introduz alguns outros instrumentos de planejamento ambiental como o zoneamento ambiental e a avaliação de impactos ambientais e, determina a responsabilidade/penalidade para os casos de poluição. Até então, a legislação hídrica permanecia voltada praticamente para as questões de poluição ambiental que eram regulamentadas através de instrumentos de comando e controle, assim chamadas pelos técnicos da área ambiental. A Lei 6938/81 estabelece como princípios de execução da política de meio ambiente e, portanto, princípios norteadores das ações governamentais, “incentivos ao estudo e pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais", bem como a “racionalização do uso da água”. Ainda assim, a água como recurso finito e, portanto, a necessidade de integração dos seus usos com as questões de meio ambiente ainda não estavam claramente explicitadas na legislação brasileira, no nosso entender. Para FINK e SANTOS (2001), a consciência de que os recursos hídricos têm fim, e, portanto, merecem um tratamento jurídico mais atento, ganha contorno definido com a própria Constituição Federal de 1988 e a lei 9.433/97. Na avaliação dos autores, o principio adotado na legislação brasileira da “preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas a sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida”, em verdade, consagra princípios internacionais contidos na Declaração de Estocolmo de 1972. A grande mudança acontece efetivamente com a instituição da Política Nacional de Recursos Hídricos através da Lei Federal no 9.433/97 que cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Ao estabelecer seus objetivos e discorrer sobre seus instrumentos básicos para a gestão dos recursos hídricos, a PNRH (1997) insere em seus artigos itens de interelacionamento do uso racional da água com as questões ambientais de sustentabilidade. Por exemplo, a necessidade de racionalizar o uso da água como forma de garantir o abastecimento futuro da população é destacada nos artigos descritos a seguir: Art. 2o: São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos: II – a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável. Art. 7o: Os Planos de Recursos Hídricos são planos de longo prazo, com horizonte de planejamento compatível com o período de implantação de seus programas e projetos e terão o seguinte conteúdo mínimo: IV – metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos recursos hídricos disponíveis. Art. 19o: A cobrança pelo uso de recursos hídricos objetiva: II – incentivar a racionalização do uso da água. 86 Os fundamentos da PNRH (idem) destacam-se de maior interesse na abordagem do trabalho que ora elaboramos, e para auxiliar no seu julgamento final os associamos, no quadro 4, a exemplos que mostram sua importância na avaliação de projetos industriais: Fundamento da PNRH A água é um bem de domínio público A água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico Em situação de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais Exemplos de ameaças ao status quo A exclusividade do gerenciamento e utilização de mananciais construídos, como a represa de Saracuruna passa a ser questionada uma vez que não há mais água de domínio privado no Brasil. Ao lhe ser atribuído valor econômico, a água deve passar a ser objeto de atenção especial na avaliação dos investimentos nacionais. A composição de índices econômicos estará sujeita ao custo da água que deverá ser diferenciado e de tendência crescente em função da disponibilidade local. Regiões com população demográfica crescente e recursos hídricos limitados poderão estabelecer uma redistribuição dos usos da água, impactando de forma desfavorável o uso industrial. A gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas A bacia hidrográfica é a unidade territorial básica Quadro 4 - Principais impactos de fundamentos da PNRH Fonte: O próprio autor. O desdobramento desses princípios aponta para a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos como importante instrumento de gestão e que certamente já está levando o segmento industrial a repensar suas práticas de uso. A escassez de água determinará o regime de outorga, e nesse contexto, a racionalização do uso da água, incluindo a eliminação do desperdício, o reúso interno e a reciclagem do efluente final podem ser sem dúvida, opções a serem viabilizadas. Caberá ao setor industrial, entretanto, exigir do Poder Público outorgante incentivos para o desenvolvimento e substituição das tecnologias que venham a propiciar a economia e preservação dos recursos. PERES (2003) entende que a Política Nacional de Recursos Hídricos e o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, inseridos no contexto da questão ambiental mais ampla, demandam uma revisão na atual gestão ambiental privada da água no setor industrial e, com base nessa realidade propõe os seguintes fundamentos, diretrizes e instrumentos para a gestão dos recursos hídricos na indústria: 87 (1) Fundamentos da política ambiental: (a) a água é um bem público limitado e dotado de valor econômico; (b) a água é um insumo estratégico de produção; e (c) a responsabilidade social relativa à proteção dos recursos hídricos é um valor ético e estratégico. (2) Diretrizes gerais de ação para implementação da política: (a) conhecer a disponibilidade hídrica, atual e futura, para captação e uso e para assimilação de efluentes; (b) racionalizar o uso da água, incluindo a eliminação de desperdícios e o reúso interno; (c) adotar tecnologias menos intensivas em água; (d) reduzir a geração de poluentes na fonte, incluindo a adoção de práticas e tecnologias limpas; (e) praticar a reciclagem, incluindo o tratamento do efluente final para fins de reutilização dos mesmos; e (f) tratar o efluente final para lançamento no ambiente, onde e quando o reúso interno, a redução da geração de poluentes na fonte e a reciclagem do afluente final não apresentarem viabilidade técnica, econômica e ambiental. (3) Instrumentos da gestão: (a) a norma interna de gestão de efluentes e recursos hídricos; (b) o plano de gerenciamento de efluentes e recursos hídricos; (c) o treinamento para a conscientização e capacitação; (d) a auditoria; e (e) o sistema de informações sobre efluentes e recursos hídricos. A gestão da alocação dos recursos hídricos, através dos Comitês de Bacia e das Agências de Água, a quem cabe os estudos técnicos sobre disponibilidade de água e os pareceres sobre as solicitações de outorga, poderá resultar em maior eficiência na alocação da água efetivamente disponível do que tem havido até o presente. Isso aponta para a 88 necessidade dos usuários se anteciparem e conhecer a disponibilidade real de água, em lugar de esperar a escassez “bater a sua porta” ou ter a sua solicitação de outorga reduzida ou negada. A gestão interna dos efluentes e recursos hídricos e a identificação de fontes alternativas de abastecimento podem não ser, por si só, suficientes para assegurar o abastecimento de uma determinada unidade industrial. É importante conhecer, também, a disponibilidade hídrica do manancial, atual e futura. Mais precisamente, é necessário fazer o balanço entre as demanda global e a vazão outorgável do manancial, e construir cenários sobre o comportamento futuro desse balanço, com horizonte de pelo menos 20 anos (PERES, 2003). Ainda com referência à concessão de outorga pelo Poder Público, é importante ressaltar a possibilidade de sua revogação que pode se dar por interesse público, devidamente caracterizado e fundamentado pela administração. Isso quer dizer que, em havendo mudanças das condições de análise para a concessão, o direito de outorga poderá ser suspenso total ou parcialmente, temporária ou definitivamente. São destacadas como condições para revogação: − não cumprimento pelo outorgado dos termos da outorga; − ausência de uso por três anos consecutivos; − necessidade premente de água para atender a situações de calamidade, inclusive as decorrentes de condições climáticas adversas; − necessidade de prevenir ou reverter grave degradação ambiental; − necessidade de atender a usos prioritários, de interesse coletivo, para os quais não se disponha de fontes alternativas; − necessidade de serem mantidas as características de navegabilidade do corpo hídrico. Todas essas possibilidades podem, na nossa avaliação, deixar a atividade industrial muito vulnerável a, por exemplo, atitudes políticas que para beneficiar determinados segmentos da sociedade causem prejuízos de grande monta a uma indústria estabelecida. A Lei Estadual no 4.247 de 16/12/2003 do Rio de Janeiro, por exemplo, votada em regime de urgência é na nossa opinião controversa na medida em que se choca frontalmente com o modelo instituído pela Lei Federal 9.433/97. Ao atribuir a um único órgão (Serla), integrante da estrutura administrativa do estado, as funções de cobrança, arrecadação, distribuição, aplicação de receitas e outros conforme artigos 1o e 3o, essa lei tira o caráter descentralizador do modelo proposto pela União. 89 BARROS (2000) chama atenção para o fato de que em sendo a água um recurso natural vital ao ser vivo, qualquer regulamentação sobre o seu uso ou disponibilidade é motivo de grandes inquietações na sociedade como um todo. O autor adverte que há necessidade de buscar-se um estado de equilíbrio com “igualdade de oportunidades” respeitando-se o espírito da Lei 9433 quanto à descentralização das decisões. É necessário, pois, que no planejamento de sua instalação e mesmo no seu planejamento com a atividade já em operação, sejam contempladas alternativas que minimizem os efeitos da hipótese dos, digamos, “desmandos políticos”. A alegação, por exemplo, da necessidade de interromper e/ou desviar o fluxo de água dos mananciais que abastecem uma refinaria, para atender comunidades em períodos de estiagem não pode ser desprezada. Essa situação pode ser entendida como “uma necessidade de atender a usos prioritários, de interesse coletivo, para os quais não se disponha de fontes alternativas” e, mesmo que se prove o contrário, o prejuízo já terá sido instalado. Um período, mesmo que curto, de uma refinaria parada pode representar a perda de faturamento de milhares de dólares. Numa abordagem técnico-jurídica da questão, FINK e SANTOS (2003) entendem que o emprego da expressão “direitos”, usada na Lei no 9433 ao estabelecer em seu art. 12 “os direitos de uso”, revela a presença de um direito subjetivo do interessado, denotando o caráter de licença no ato que lhe possibilita o uso da água. Tratando-se assim, de licença, ato vinculado da administração ao qual corresponde um direito é possível no entender desses autores, afirmar que na ocorrência da suspensão da outorga, ainda que motivada por interesse público, caberá sempre direito à indenização ao prejudicado. Com relação ao reúso de água, uma vez tratar-se de águas já utilizadas, a cessão dos direitos feita do titular diretamente para o interessado no reúso caracteriza um negócio entre as partes, não havendo, portanto, necessidade de nova outorga pelo poder público, uma vez que essa situação não está relacionada nas hipóteses estabelecidas para a concessão formal de outorga. A evolução dessa premissa pode no futuro elevar a utilização de efluentes de estações municipais a um patamar atrativo para a indústria. 90 3. ESTUDO DE CASO PARA A REDUC 3.1 SISTEMAS E INSTALAÇÕES EXISTENTES A Refinaria Duque de Caxias – Reduc, fundada em 1961, é considerada a mais complexa refinaria do sistema Petrobras, com uma linha de 52 produtos comercializados. Sua complexidade foi sendo adquirida a partir da década de 70 quando recebeu a primeira planta de lubrificantes. Em 1979, já estava em funcionamento o segundo conjunto de lubrificantes e parafinas, com seis novas unidades. Atualmente tem 29 unidades distribuídas em operações de destilação de combustíveis, craqueamento, lubrificantes e matéria prima para petroquímicos, conferindo-lhe a subcategoria de integrated conforme classificação da Environmental Protection Agency – EPA (1973) para estabelecer limites de efluentes para as refinarias de petróleo americanas. Estrategicamente localizada às margens da Baía de Guanabara, a Reduc tem facilidade para receber o petróleo importado Árabe Leve, essencial para a produção de lubrificantes. Por outro lado, essa mesma localização aumenta sua responsabilidade no que diz respeito às questões ambientais. A figura 18 mostra sua localização em relação às macrorregiões ambientais estabelecidas pela Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro. Na figura 18, observa-se a divisão do Estado do Rio de Janeiro em sete macrorregiões ambientais. Para estabelecer as unidades básicas de planejamento e intervenção da gestão sócio-ambiental, o território do Estado do Rio de Janeiro foi dividido em 7 (sete) Macrorregiões Ambientais, designadas pela sigla MRA. Oficializadas pelo Decreto Estadual n° 26.058 de 14 de março de 2000, cada Macrorregião Ambiental abrange uma parte terrestre e outra marinha. A superfície terrestre de cada Macrorregião Ambiental compreende uma ou mais bacias hidrográficas. A porção marinha engloba a zona costeira, incluindo baías, enseadas, praias, ilhas, costões rochosos, mangues e uma faixa de mar aberto, cuja largura será definida de acordo com critérios estabelecidos no Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro. A decisão de dividir o Estado levou em conta critérios técnico-ambientais, administrativos e políticos (SEMADS, 2001). Na figura 18, são destacados, também, os mananciais que têm influência direta ou indireta na refinaria. 91 Rio Paraíba do Sul Rio Saracuruna REDUC Rio Iguaçu Rio Guandu Figura 18 - Localização da Reduc Fonte: O próprio autor, adaptado de SEMADS/GTZ (2001). Como visto, a Refinaria está inserida na MRA-1, captando água do rio Saracuruna e lançando seu efluente no rio Iguaçu que fazem parte da Bacia da baía da Guanabara. Tem influência na MRA-2 uma vez que também capta água do rio Guandu pertencente à Bacia da baía de Sepetiba e, indiretamente, na MRA-6 haja vista o rio Guandu ser alimentado pela transposição do rio Paraíba do Sul através da represa de Ribeirão das Lages. 3.1.1 Unidades de Processo e a Geração de Efluentes As refinarias de petróleo são uma combinação muito complexa de operações e sistemas independentes. No desenvolvimento do perfil de poluição dessas instalações industriais, 12 categorias do processo foram listadas pela EPA como fundamentais na produção dos principais produtos de petróleo, quais sejam: Transferência & Estocagem, Dessalgação, Fracionamento, Craqueamento, Polimerização & Alquilação, Reforma, Extração 92 a solvente, Hidrotratamento, Produção de parafinas, Produção de asfalto, Acabamento de produto e Atividades Auxiliares. O API (American Petroleum Institute) também desenvolveu um sistema de classificação semelhante, de acordo com as tecnologias de processamento. No sistema API de classificação, a Refinaria Duque de Caxias é incluída na Classe E, correspondente à Integrated da classificação EPA. Numa tentativa de determinar os efeitos da tecnologia de processo, uma profunda análise das categorias individuais e combinadas foi feita pela EPA para avaliar a carga dos despejos brutos como uma função do grau de craqueamento empregado na refinaria. Os dados para avaliar a carga líquida por esse critério foram obtidos, analisando-se as cargas dos efluentes brutos fornecidas por refinarias, pesquisa de literatura e análises de estudos de caracterização de efluentes do 1972 National Petroleum Refining Waste Water Characterization Studies. As cargas líquidas dos despejos (carga bruta menos água) das categorias API, com correções adicionadas pela EPA, foram estatisticamente analisadas, determinando-se 50% da probabilidade de ocorrência dos parâmetros considerados chave (DBO5, óleo&graxa, fenol e amônia). Esses parâmetros são representativos dos principais contaminantes descartados pelas refinarias, e, portanto, serviram como base para correlacionar as variações de performance no separador de óleo, severidade do craqueamento e outros fatores. Os 50% de probabilidade de ocorrência eram escolhidos quando eles refletiam a performance média da carga líquida da subcategoria inteira. Uma comparação de cada subcategoria foi então feita para determinar se, baseado nesses níveis médios de performance, diferenças significativas nas cargas dos despejos entre subcategorias de refinarias existiam. Pela comparação dos valores médios e uma base, diferenças internas na performance do separador, manutenção e outros fatores foram minimizados. As subcategorias que exibiram alto grau de semelhança nas cargas médias líquidas de efluentes para os parâmetros chave foram então combinados e reanalisados para se estabelecer novo valor médio para as combinações. Utilizando esses procedimentos, experimentos foram realizados para obter uma subcategorização da indústria de refino de petróleo que reflete a carga de despejos com respeito ao tipo de refinaria, tecnologia de processo empregada e severidade das operações. A tabela 16 apresenta as subcategorias propostas com os respectivos valores médios estabelecidos dos parâmetros. 93 Tabela 16 - Categorias de refinarias e cargas médias efluentes em ppm Subcategoria Topping Low-Cracking High-Cracking Petrochemical Lube Integrated Reduc DBO5 7,1 71,3 82,7 148,4 184,3 215,5 230 Óleo&Graxa 5,1 27,4 31,4 45,6 136,1 131,8 85 Fenol 0,029 2,85 5,1 10,3 6,2 5,1 12 Amônia 1,43 10,0 32,8 34,2 22,1 35,4 30 Fonte: O próprio autor com base em USEPA (1973). Na Europa, países membros da União Européia classificam as refinarias de petróleo segundo critérios estabelecidos que levam em consideração o índice de complexidade Nelson. Nelson desenvolveu um sistema para quantificar o custo relativo dos componentes que formam uma refinaria. Trata-se de um índice puro que fornece uma medida relativa dos custos de construção de uma refinaria particular com base em sua carga de petróleo e capacidade de expansão. Nelson assumiu um fator igual a 1 para a unidade de destilação. As demais unidades são então avaliadas em termos do seu custo relativo a essa unidade. Outras definições são usadas como a capacidade de destilação equivalente adotado pela Solomon Associates. No cenário atual, a Reduc pode ser considerada como sendo uma grande indústria nacional do setor petrolífero, possuindo uma das maiores capacidades e complexidades do parque de refino brasileiro. Demanda para sua atividade um intensivo uso de água, cerca de 1500 m3/h de água doce, sendo que suas captações máximas de projeto atingem mais de 660.000 m3/dia no canal de água salgada proveniente da Baía de Guanabara para o sistema de refrigeração aberta, 46.320 m3/dia na Barragem de Saracuruna, e 86.400 m3/dia na adutora do Guandu. A refinaria possui ainda como característica, uma grande geração de efluentes hídricos com vazão média de descarte na ETDI de (Estação de Tratamento de Despejos Industriais) de 28.212 m3/dia, em 2001. 94 3.1.2 Tratamento de Água A água bruta que chega à REDUC é oriunda de dois rios, Guandu e Saracuruna. Preferencialmente, utiliza-se água bruta do Rio Saracuruna pela sua menor salinidade, o que favorece a geração de vapor. O sistema de tratamento é do tipo convencional em que a água bruta, sem qualquer tratamento, é usada para pressurizar a rede de incêndio quando a mesma não está sendo usada para combate. O restante da água bruta é clorada e posteriormente clarificada com adição contínua de sulfato de alumínio e eventual de cal. Parte da água clarificada é considerada água industrial e usada na Reduc como reposição de água de torres de resfriamento, de serviço e processo. O restante da água clarificada é filtrada em filtros de areia, reduzindo a turbidez a valores menores que 1 NTU. Parte da água filtrada é clorada e distribuída como água potável e o restante enviado para desmineralização em trocadores iônicos, após passagem por descloradores. Como a Reduc possui caldeiras que trabalham com dois níveis de pressão de vapor diferentes, as exigências de tratamento de água também são diferentes. Para algumas caldeiras, que geram vapor de 42 kgf/cm2 a água desmineralizada já atende a especificação necessária. As demais caldeiras trabalham com geração de vapor de 104 kgf/cm2 e precisam de uma etapa de polimento, que é realizada em vasos de troca iônica. Quanto ao Sistema de Resfriamento, a REDUC atualmente tem 2 conjuntos de torres de resfriamento (U-1360/61 e U-1363/64) com capacidades máximas de 36000 e 45000 m3/h utilizando água doce e um sistema aberto com água salgada da baía de Guanabara. Esse sistema aberto está sendo substituído gradativamente pelas novas torres (U-1363/64). 3.1.3 Tratamento de Efluentes O sistema atual de tratamento do efluente hídrico da Reduc é constituído de separadores água-óleo do tipo API, flotador a ar induzido e lagoas aeradas. Os efluentes líquidos industriais da Refinaria são coletados em duas redes distintas: águas oleosas e águas contaminadas. Essas correntes se unem a montante da Estação de 95 Tratamento de Despejos Industriais – ETDI, que é constituída no seu tratamento primário, de dois separadores de água e óleo tipo API, uma unidade de flotação a ar induzido e 4 tanquespulmão para acumulação do sistema de águas contaminadas e excedentes das redes de água oleosa. O tratamento secundário é composto por cinco lagoas aeradas com capacidade máxima de 1.100 m3/h. O efluente do Flotador é encaminhado através de bombas centrífugas para a primeira lagoa aerada (LEA) cujo objetivo principal é o de equalizar a carga e remoção de sulfetos através da utilização de aeração (8 aeradores superficiais de 60 HP). Na canaleta a montante dessa lagoa, é dosado nutriente à base de fósforo, sendo o tempo de residência médio na lagoa de equalização de 8 horas. Em seguida, o fluxo é dividido para duas lagoas de mistura completa (LMC) que operam em paralelo para remoção da DBO, DQO, O&G, fenóis. Após a oxidação nessas lagoas, com tempo de residência de 24 horas, o líquido é distribuído para duas lagoas facultativas aeradas (LFA) para polimento e lançamento do líquido clarificado no rio Iguaçu. A aplicação de produtos químicos, se necessário, pode ser feita através de um sistema de dosagem existente constituído de tanques de mistura (cal, bicarbonato de sódio e tripolifosfato) e bombas dosadoras para correção de pH, alcalinidade e nutriente. Todas essas instalações são controladas através de um sistema de supervisão a distância. As dimensões e os volumes de projeto, assim como a potência instalada nas lagoas de aeração, são apresentadas na tabela 17. Tabela 17 - Características das unidades de tratamento de efluentes da Reduc Unidade/Parâmetro Comprimento (m) Largura (m) Profundidade útil (m) Volume (m3) N° de Aeradores Potência total (HP) Dens. de potência (w/m3) Tempo residência Fonte: O próprio autor. LEA 68 44 4 8800 8 480 40 8h LMC1 68 62 4 13200 9 540 30 24 h LMC2 68 62 4 13200 9 540 30 24 h LFA1 126 64 3,2 26400 2 60 1,7 48 h LFA2 153 52 3,2 26400 2 60 1,7 48 h 96 3.2 OPORTUNIDADES PARA REÚSO 3.2.1 Opções para Reúso das Correntes Internas de Processo 3.2.1.1 Torres de Resfriamento A deposição de sólidos em sistemas de resfriamento reduz a eficiência de transferência de calor e cria lamas que devem ser retiradas do sistema para descarte. Tais sistemas são normalmente operados com o monitoramento da quantidade de sulfato de cálcio, carbonato e sílica que estão presentes no fluido. Contaminantes biológicos podem também estar presentes em razão da temperatura amena e água altamente oxigenada que favorecem o crescimento de microorganismos. Tanto quanto possível, a prevenção da formação desses depósitos é, portanto, uma prática recomendada para garantir a eficiência do processo. O material mais facilmente depositado nos sistemas industriais de resfriamento são as lamas formadas pelo carbonato de cálcio, produtos formados naturalmente da dureza cálcio e alcalinidade da água. Depósitos não carbonatados aparecem quando os produtos de solubilidade de sulfato de cálcio e sílica são ultrapassados na água de resfriamento. Para reduzir a probabilidade do depósito de lama, a monitoração da qualidade da água de reposição e concentrações de sulfato de cálcio e sílica acima de 1500 e 50 ppm, respectivamente, para ajustes das vazões de purga são mantidos no sistema de recirculação (API, 1991). É importante também saber que a purga das torres de resfriamento deve ser direcionado para o sistema de tratamento de efluentes, conforme legislação ambiental local, após criteriosa análise da qualidade da água. Atualmente, as técnicas para minimizar a quantidade de purga incluem o ajuste da qualidade da água de reposição (através do controle na fonte ou tratamento da água) e o tratamento da água recirculada. Se a concentração de sólidos dissolvidos na água de resfriamento se mantiver baixa, mais vezes a água pode ser utilizada no circuito da torre (ciclos de concentração) e o tratamento da água de reposição pode reduzir consideravelmente a quantidade de purgas necessárias para baixa concentração dos sólidos. 97 Um exemplo de cálculo simplificado é apresentado na tabela 18 que ilustra o potencial de minimização da purga. Tabela 18 - Impacto do tratamento da água de reposição na vazão de blowdown Reposição não tratada 50.000 30 3 2.700 850 Vazão de recirculação da água (gpm) Queda na temperatura (oF ) Ciclos de concentração Vazão de reposição (gpm) Vazão da purga (gpm) Reposição tratada 50.000 30 10 2.000 150 Fonte: API (1991). Como mostra a tabela, se o ciclo de concentração de um sistema de tratamento é aumentado de 3 para 10, a vazão da purga de um sistema com 50.000 gpm de recirculação, diminui de 850 gpm para 150 gpm e conseqüentemente, a vazão de reposição reduz-se de 2700 gpm para 2000 gpm, representando uma economia de cerca de 26% no volume de água bruta. DANTAS (1988), chama-nos atenção para a existência de um ciclo teórico ideal exemplificando com um sistema hipotético com vazão de recirculação horária de 2.000 m3 e diferencial de temperatura de 10oC. Para montagem da tabela, utiliza duas fórmulas matemáticas para cálculo que relacionam as vazões de alimentação ou de reposição em função do ciclo de concentração e da evaporação como segue: A = [ C / (C -1) ] x E (1) E = (0,18 x Δt x V) / 100 (2) Onde: A: vazão de reposição, C: ciclo de concentração, E: vazão de evaporação, V: vazão de recirculação e Δt: variação de temperatura. 98 Tabela 19 - Simulação para ciclo teórico máximo Ciclo 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,6 A (m3/h) 216,0 126,0 96,0 81,0 72,0 54,0 48,0 45,0 43,2 42,0 41,1 40,5 40,0 Purga (m3/h) 180 90 60 45 36 18 12 9 7,2 6,0 5,1 4,5 4,0 E (m3/h) 36 36 36 36 36 36 36 36 36 36 36 36 36 Diferenças (m3/h) 90 30 15 9 18 6 3 2,8 1,2 0,9 0,6 0,5 Fonte: DANTAS (1988). A tabela montada por DANTAS (idem) possibilita avaliar as diferenças de custos de tratamento quando o ciclo de concentração aumenta, uma vez que o cálculo da quantidade de produtos químicos utilizados é função das perdas, ou seja, a soma dos volumes de purga e evaporação. Dessa tabela, pode-se concluir, ainda, que para esse sistema hipotético com vazão de recirculação de 2000 m3/h e gradiente de temperatura de 10oC, o ciclo ideal encontra-se entre 6 e 7. Ou seja, com ciclos acima de 7, as perdas adicionais de água são irrisórias, não compensando os riscos do aumento do tempo de residência. FRAYNE (1992) destaca em artigo publicado pela revista Hydrocarbon Processing quatro etapas para o reúso de água e minimização de efluentes: (1) maximizar a utilização das instalações existentes, (2) executar projetos de pequeno custo capital, (3) priorizar a eliminação de grandes volumes através dos projetos de maior investimento capital e (4) ir além das limitações na etapa 3, até descarga zero. Para maximizar a utilização das instalações existentes, sugere um balanço de água completo para definir as origens dos efluentes e o consumo de água. Qualquer balanço de água será específico do local. Variáveis tais como capacidade da planta, complexidade, idade e localização terão um impacto importante no balanço individual da água. A qualidade da água local impactará diretamente, limitando os ciclos de concentração. Um trabalho analítico extensivo junto com observações de campo identifica quantidades e qualidades dos efluentes, e posteriormente, análise dos dados através de métodos estatísticos complementam a tarefa. Várias etapas nesta fase do trabalho podem 99 ser implementadas, tais como a contabilidade unidade por unidade das fontes de rejeitos líquidos. A tabela 20 mostra a faixa de dados coletados por Frayne em vários estudos. Tabela 20 - Origem de efluentes de refinarias Origem Pré-tratamento Purga de caldeira Águas acres Salmoura Sanitários/laboratórios Purga de torres de resfriamento Água de chuva Perda de condensado Percentagem 2–5 4–8 10 – 30 10 – 20 1 – 10 20 – 40 6–8 20 – 40 Fonte: FRAYNE (1992). Cada um desses efluentes tem seu próprio tipo de contaminante característico. Por exemplo, a salmoura é tipicamente rica em óleo emulsionado, óleo livre, sólidos totais dissolvidos e orgânicos solúveis. Por outro lado, a água ácida é normalmente rica em amônia e fenóis, mas é normalmente pobre em sólidos dissolvidos totais. As purgas de caldeiras e torres de resfriamento são geralmente ricas em sólidos dissolvidos mas pobres em substâncias orgânicas. Em praticamente todas as inspeções de área, uma porção significativa de perdas de água tem como origem condensado não coletado ou perdido por vazamentos. Esta água é considerada de alta qualidade e ainda é freqüentemente um dos principais contribuintes da carga de efluentes. A tabela 21 compara os usos de água em refinarias americanas, conforme pesquisa de FRAYNE (op.cit.). Os principais destinos de consumo são os volumes de reposição das torres de resfriamento e caldeiras. Isto sugere que o principal objetivo de qualquer aplicação de reúso em uma refinaria de petróleo seja a necessidade de encontrar-se água para essas aplicações. Tabela 21 - Uso de água em refinarias americanas Uso Reposição de caldeira Reposição de torre de resfriamento Reposição no processo Diluição na dessalgadora Sanitários/laboratórios Fonte: FRAYNE (1992). Percentagem 20 – 30 60 – 70 < 1 4 4 100 Sendo as torres de resfriamento os principais usuários de água, e a qualidade de água necessária menos exigente, as aplicações de reúso são principalmente focadas para essa aplicação. A segunda etapa para otimizar o reúso envolve a execução de projetos de pequeno investimento e a utilização cuidadosa dos gastos orçamentários. Para as torres e caldeiras, a instalação de sistemas de controle automatizados da purga pode gerar grande economia por volume de efluente lançado. Modificações no programa químico de tratamento com o uso de estabilizadores podem aumentar os limites restritivos de algumas espécies de minerais dissolvidos, como a sílica. A otimização de programas de tratamento dos condensados de vapor pode garantir uma qualidade adequada para retorno ao sistema, bem como melhorar na redução de vazamentos. Se não for economicamente viável retorná-lo para o sistema, reorientá-lo para a torre de resfriamento mais próxima para reúso pode ser uma boa alternativa (FRAYNE, idem). Também o uso não tradicional da água de chuva como reposição pode ser viável. Mas, tudo isso, segundo Nalco Chemical Co., Kurita do Brasil e Betzdeardorm (empresas tratadoras de torres de resfriamento da Petrobras), requer um controle mais rígido nos programas de tratamento químico para garantir a performance, tornando-se fundamental que o sistema contemple um controle analítico e estatístico eficaz. Na terceira etapa, projetos de maior investimento capital proporcionam grandes reduções nos efluentes. Isso pode incluir operações unitárias para remover contaminantes e minimizar volumes até atingir a descarga zero, ou alteração de processos como a utilização de gás em estripagens ao invés de vapor, ou ainda uso de efluentes hídricos em sistemas de refrigeração de sistemas abertos (FRAYNE, idem). Os sistemas de tratamento de água de resfriamento das refinarias da Petrobras trabalham com ciclos de concentração que podem variar de 2,5 até 10. Essa grande variação é função de muitos fatores tais como, qualidade do manancial de água bruta, tecnologia de tratamento da água de reposição, nível de tratamento da água recirculada em função do material dos equipamentos de troca térmica, localização geográfica da refinaria etc., e, mais recentemente, do nível de conscientização da necessidade da economia de recursos hídricos. Admitindo-se a uniformização até um ciclo equivalente a 10, seria possível ter uma economia média de recursos hídricos da ordem 500 m3/h de água, equivalente ao consumo de cerca de 48.000 habitantes. Na tabela 22, foram compilados dados operacionais de 10 refinarias num mesmo momento. Embora, tais números sejam oriundos de um raciocínio simplificado (não foram apuradas as condições que levavam a operação naquele momento aos valores 101 computados), mostram o potencial para economia de água em torres de resfriamento ao trabalhar com ciclos otimizados. Tabela 22 - Economia hipotética nas refinarias com aumento de concentração Refinaria A B C D E F G H I L Vazão recirc. (m3/h) 24200 17000 2400 14000 33000 44000 18000 7000 1700 23000 Evaporação (m3/h) 436 306 43 252 594 792 324 126 31 414 Ciclo 3 6 4 8 4,5 6 9 3,5 2,5 5 Make-up (m3/h) 653 367 58 288 764 950 365 176 92 518 Make-up p/ciclo 10 484 340 48 280 660 880 360 140 34 460 Economia (m3/h) 169 27 10 8 104 70 5 36 17 58 Fonte: O próprio autor. É importante ressaltar, também, que a água circulada em torres de resfriamento é tratada com produtos químicos objetivando a inibição de corrosão, controle do crescimento biológico e ajuste de pH. É recomendável que esses produtos químicos não sejam tóxicos e que não ultrapassem limites estabelecidos pelos órgãos ambientais para seu descarte. A minimização ou a eliminação da toxicidade da purga poderá facilitar eventuais tratamentos de recuperação da água descartada possibilitando assim, considerável economia de reposição. 3.2.1.2 Despejos dos Processos e Sistemas de Tratamento Conforme citado no capítulo 2 (item 2.3) desse trabalho, parte dos descartes das refinarias é gerada nos próprios processos de tratamentos. Sistemas convencionais de tratamento de água geram lamas químicas pela introdução de produtos químicos coagulantes e floculantes como sulfato de alumínio e/ou sulfato férrico. Tais produtos são geralmente adicionados em solução e elevam naturalmente o volume de descarte. De forma semelhante, no tratamento final dos efluentes, produtos são introduzidos aumentando volumes descartados. Como alternativa de minimização de efluentes, o American Petroleum Institute sugere a substituição de tais produtos por polímeros catiônicos e aniônicos que reduzem de 0,1 a 0,2 % o volume de lodo gerado. 102 Também nas operações de retrolavagens de filtros, processos de lavagem, enxagüe e regeneração de resinas em leitos de troca iônica são gerados efluentes que podem ser minimizados através de procedimentos operacionais cuidadosos e eventualmente, regenerados para reúso. 3.2.1.3 Águas Pluviais Muitas refinarias têm áreas pavimentadas livres de óleo, como ruas, estacionamentos, áreas de tanques de produtos que estão segregados etc. Assim, as águas pluviais dessas áreas contêm baixa contaminação natural e podem ser separadas das correntes de águas contaminadas que são direcionadas para tratamento nos separadores de água-óleo da refinaria. Em algumas situações, o uso de águas pluviais como reposição de torres de resfriamento pode ser possível, mas há diversos fatores que necessitam ser considerados cuidadosamente. A maioria das águas pluviais coletadas em áreas relativamente limpas têm baixas dureza e concentração de sólidos dissolvidos, podendo ser bombeadas diretamente em lugar de água fresca. Devido à baixa dureza da água de chuva, as instalações para clarificação da água de reposição de torres de resfriamento podem ser desviadas diminuindo os custos de tratamento e reduzindo a quantidade de despejos do processo de clarificação que devem ser tratados para disposição final. Em 2002, o autor, durante visita técnica à Refinaria de Manguinhos, no Rio de Janeiro, constatou eficiente sistema de coleta de águas pluviais direcionadas para uma lagoa aerada. Essa água acumulada após aeração é utilizada como reposição do sistema de resfriamento e reserva para combate a incêndio. Embora não tenham sido informados os custos do tratamento anticorrosivo, o retorno financeiro é compensatório em função dos custos da água fornecida pela companhia de abastecimento da cidade. 3.2.1.4 Outras Fontes Um exemplo prático e bem sucedido de reúso é relatado em artigo da Betzdearborn (FERNANDES, 1999) sobre experiência em torre de resfriamento de uma importante planta de etileno no Brasil. O trabalho apresentado no IWC de 1999 destaca a utilização de água contaminada como reposição da torre e a mudança no programa químico de tratamento para atender às novas condições do sistema. A torre operava anteriormente com duas fontes de 103 água de reposição, sendo 70% de água fluvial de baixa qualidade e 30% de água municipal tratada ao custo médio de US$ 0,32/m3 e US$ 2,95/m3 respectivamente. Com a utilização de produtos químicos mais específicos para os contaminantes presentes na água fluvial, e controles operacionais mais eficazes, a torre passou a operar utilizando 100% da reposição com a água contaminada, proporcionando uma economia de US$ 2,7 milhões por ano, aumento do ciclo de operação de 4,5 para 6,0, com redução de 28 m3/h na purga minimizando o impacto ambiental e diminuindo os custos do programa de tratamento (Fernandes, 1999). MCINTYRE (1993), membro do BetzDearborn Water Management Group, faz uma abordagem da utilização de efluentes secundários industriais e domésticos como makeup de torres de resfriamento. A qualidade dos efluentes analisados por MCINTYRE (idem) é mostrada na tabela 23 observando-se que, os parâmetros dureza, condutividade, demanda química de oxigênio e amônia são os principais problemas no reúso em torres. Tabela 23 - Comparação de efluentes secundários de refinaria e doméstico Parâmetro pH Ca, (mg/L CaCO3) Mg, (mg/L CaCO3) Alcalinidade (mg/L CaCO3) Cloreto (mg/L) Sulfato (mg/L) Condutividade (µmhos) NH3 (mg/L) P (mg/L PO4) SiO2 (mg/L) DQO (mg/L) DBO5 Na (mg/L) Efluente de refinaria 7,6 168 82 140 178 189 1300 8 – 10 1–2 6,0 30 – 50 5 – 10 180 Efluente doméstico 7,4 98 46 110 77 90 530 12 – 14 10 – 14 4,0 40 10 – 20 79 Fonte: MCINTYRE (idem). Um resumo da experiência de MCINTYRE (idem) aponta um aumento da atratividade do reúso desde que algumas modificações no programa de tratamento sejam implementadas, tanto para os efluentes industriais quanto para os domésticos em razão de fatos observados que incluem: 104 a) Para make up com os efluentes secundários de refinaria: − Necessidade suplementar de inibidores de corrosão ao cobre devido à presença de NH3 no makeup e subseqüente aumento na demanda de Cl2. − Permutadores de calor críticos (e temperaturas de água quente) podem determinar o programa de controle de scale (incrustração). − Orgânicos solúveis (medidos como DQO) que não são removidos por tratamento de lodos ativados, não são estripados na torre ou oxidados pelo cloro. − Podem ser alcançadas taxas de corrosão ao aço de 0,026 mm/ano. b) Para make up com os efluentes secundários domésticos: − Variabilidade na concentração de ortofosfato da água de makeup pode levar a taxas de corrosão mais altas do que o esperado. − A concentração de metais, como Pb, Zn e Cu na entrada pode aumentar os problemas de descarte após elevados ciclos de concentração. − Orgânicos solúveis, medidos como TOC, não são estripados na torre ou oxidados até certo ponto pelo Cl2. − As taxas de corrosão ao aço podem atingir 0,052 mm/ano em uma torre operada com ciclo de concentração 10. Na avaliação, MCINTYRE (op.cit.) objetivou mostrar a viabilidade técnica da utilização dos efluentes secundários na reposição da água de torres de resfriamento industriais e a necessidade de implementar programas de tratamento diferenciados, sem fazer entretanto, qualquer consideração com relação aos custos dessas alternativas, o que pode também ser um fator decisivo. 3.2.1.5 Correntes Hídricas da REDUC A partir dos dados de campo coletados durante trabalho de auditorias internas, visando identificar possíveis desperdícios de água na Refinaria Duque de Caxias, foram listadas vazões de parte dos efluentes gerados. As vazões foram medidas nos locais, sem entretanto caracterizar quimicamente as correntes, razão pela qual ao se apontarem possíveis destinos para aproveitamento dessas correntes, baseou-se exclusivamente em experiência prática dos 105 profissionais que elaboraram a lista de oportunidades de melhorias e no conhecimento que se tem das instalações listadas. Utilizando esse cenário, uma avaliação para possibilidades de reúso é feita a partir do fluxograma simplificado do circuito hídrico da Refinaria Duque de Caxias, mostrado na figura 19, que apresenta um balanço de massa médio do ano de 2001 tomado como base. Nesse modelo, os fluxos das correntes são apresentados em m3/h. 154 Flare 245 P R O C E S S O 194 94 Geração de vapor 2 446 Torre 2 142 150 Geração de vapor 1 48 30 238 200 Torre 1 251 65 88 470 Pol. 201 Agua Bruta 1492 Clarif 570 Desmi Filt. Dessalgadora (entrada do petroleo p/processo) 100 Inc. Lav 141 24 15 Potavel ETDI 980 41 90 90 141 100 377 ETE 217 Indust Diversos Lav. Reg. 14 Pluviais Figura 19 - Circuito hídrico base (Reduc) Fonte: O próprio autor. Na figura 20, é apresentada uma proposta de reúso interno com aproveitamento das principais correntes e o fluxo médio estimado possível para o novo circuito. Nesse caso, optamos por uma ação de melhoria de procedimentos e tratamentos das correntes internas de processo visando reduzir a adução de água bruta. As ações estabelecidas foram a elevação do ciclo de tratamento das torres de refrigeração, a utilização do condensado da unidade de tratamento de águas ácidas para diluição da carga nas dessalgadoras e o retorno dos lodos de tratamento da água para os clarificadores após centrifugação. 106 154 Flare 245 194 Geração de vapor 2 446 P R O C E S S O 94 Torre 2 104 150 Geração de vapor 1 10 200 Torre 1 167 171 470 Pol. 17 80 92 Agua Bruta 65 Clarif 570 Desmi Filt. ETDI 639 854 Dessalgadora 81 15 100 Inc. Lav 41 24 15 Potavel 41 60 90 10 80 Centrifugação 297 ETE 20 141 217 Indust Diversos Lav. Reg. 14 Pluviais Figura 20 - Circuito com reúso interno (Reduc) Fonte: O próprio autor. Na figura 21, mostra-se, para o mesmo circuito, uma rota com a regeneração e reciclo do efluente da ETDI. Nesse caso, há um investimento maior em equipamentos para tornar as correntes passíveis de reutilização. Parte do volume tratado na Estação de Tratamento de Despejos Indústrias – ETDI – é retornada para o sistema de make-up das caldeiras de alta pressão. Nesse arranjo, admitimos uma recuperação na osmose de 65% (eficiência prática informada ao autor em visita a indústria do ramo petroquímico) e 90% na microfiltração. Fazse necessário, entretanto, ter-se o entendimento que os números relativos à recuperação de tais sistemas têm que ser estimados com a implantação de unidades piloto, especialmente projetadas para a qualidade dos efluentes. 107 154 Flare 251 245 446 P R O C E S S O Geração de vapor 2 94 35 142 Torre 2 446 194 Pol. Geração de vapor 1 150 30 30 238 65 200 Torre 1 686 Osmose Reversa 136 Filtração CAG 240 136 Agua Bruta 986 Clarif 124 24 Filt. Desmi ETDI 41 141 1260 100 Inc. Inc. Lav 24 Potavel 15 574 Dessalgadora 41 90 90 141 538 10 Microfilt. ETE 90 317 217 Pluviais Diversos Indust 14 Figura 21 - Circuito com regeneração do efluente final (Reduc) Fonte: O próprio autor. A tabela 24 permite-nos comparar os três balanços. Tabela 24 - Comparação dos impactos do reúso de efluentes Correntes de entrada: Reposição de água bruta Reposição das torres Reposição das caldeiras Água potável Industrial Águas pluviais Reciclo do efluente Correntes de saída p/ETDI: Purga das torres Purga da caldeiras Perdas de processo Dessalgadora Base Redução na fonte Reciclo 1492 380 470 100 377 14 0 1151 271 470 100 297 14 0 986 380 470 100 317 14 686 136 65 251 90 0 0 171 90 136 65 251 90 108 Tabela 24 - Comparação dos impactos do reúso de efluentes Esgoto doméstico e laboratórios Diversos Águas pluviais Purgas da ETA Incêndio Descarte de osmose Lavagem de pré-trat. osmose Entrada da ETDI Vazão de descarte Base 0 217 0 80 141 0 0 980 980 Redução na fonte 0 217 0 20 141 0 0 639 639 Reciclo 10 217 0 80 141 240 30 1260 574 Fonte: O próprio autor Das opções apresentadas, em termos de volumes, o reciclo de efluente da EDTI é o que apresenta melhores resultados tanto na redução de água bruta aduzida, quanto do lançamento de efluentes no corpo receptor. Os grandes inconvenientes a serem considerados, entretanto, são a capacidade hidráulica adicional requerida para a estação de tratamento e os investimentos necessários para a regeneração através de osmose. Sob o ponto de vista técnico, portanto, a opção do reciclo é viável e aufere ganhos ambientais ao prover uma economia de recursos naturais da ordem de 34%. Há também uma redução de 41% no volume de efluente lançado, embora não haja alteração da carga poluidora. Para a opção de reaproveitamento exclusivamente das correntes internas de processo, tem-se uma redução de 23% na adução de água bruta e de 35% no efluente final gerado. Diversas outras opções de arranjo podem ser propostas para o circuito. Cada uma delas apresentando vantagens e desvantagens que dependerão dos objetivos a serem alcançados. O arranjo ideal poderá ser obtido com a aplicação da teoria do ponto de estrangulamento. 3.2.2 Opções de Correntes Externas 3.2.2.1 Baía de Guanabara e Rio Iguaçu A dessalinização de água do mar tem sido praticada regularmente há mais de 50 anos e constitui-se um meio bem consolidado de suprimento de água de muitos países, especialmente no Golfo Pérsico. Para SEMIAT (2000), já é possível, técnica e economicamente, produzir 109 água de excelente qualidade em larga escala através de processos de dessalinização. Para o autor, a barreira do custo alto tem sido vencida nos últimos anos uma vez que o m3 de água do mar dessalinizada caiu a níveis de 50 a 80 cents de dólar e a dessalinização de água salobra na faixa de 20 a 35 cents/m3. SEMIAT (idem), entretanto, não cita a tecnologia de dessalinização utilizada para atingir tais valores. O alto custo está muito atrelado ao consumo de energia. Segundo GEISLER (1998), um sistema de osmose reversa para dessalinização de água marinha consome cerca de 5,90 kWh/m3 de permeado (água filtrada), caindo para 4,30 kwh/m3 em sistemas com recuperação de energia. Para SCHNEIDER (2001), a queda dos custos da dessalinização de água do mar por osmose reversa está associada, principalmente, à redução do consumo de energia por m3 de água filtrada a partir dos anos 90 com o desenvolvimento de unidades de recuperação de energia do permeado. O permeado sai do módulo de osmose com uma pressão de cerca de 1 a 2 bar abaixo da pressão de operação da membrana. Diferenciais de pressão maiores destruiriam a integridade física da membrana. O sistema de recuperação de energia é acionado pela pressão do permeado e transfere parte dessa energia para a água de alimentação. As principais tecnologias para dessalinização utilizadas são processos evaporativos que requerem considerável consumo de energia térmica e, mais recentemente, processos de membrana (osmose reversa). Para FURUKAWA (1997), a osmose reversa é a mais promissora tecnologia para utilização em águas tanto salobras, quanto salinas. Mesmo com as previsões otimistas, entendemos que há desafios importantes a serem vencidos para que a tecnologia de osmose reversa seja plenamente viabilizada mundialmente. Esses desafios estão sendo encarados pelos fornecedores de membranas que têm se dedicado à pesquisa de materiais com resistência às pressões que variam de 10 a 25 bar para permear águas salobras e 50 a 80 bar para águas do mar. A conversão da água pode atingir 90 a 95% no caso de águas levemente salobras, mas cai para 35 a 50% para água do mar. A baixa conversão é obtida principalmente em situações de “mar fechado” como o Mar Vermelho e Golfo Pérsico, segundo o próprio autor do artigo. Outro aspecto importante a considerar é a questão ambiental quando tratamos da dessalinização de águas salinas ou salobras em função da disposição da salmoura produzida. A composição do concentrado não é a mesma da água do mar pela adição de produtos químicos no processo e sua disposição no solo deve aumentar a salinidade dos aqüíferos subterrâneos. 110 A Baía de Guanabara, como dito anteriormente, teve fundamental importância na escolha da localização da Refinaria Duque de Caxias. Desde sua implantação, a água da baía é utilizada em sistema aberto de refrigeração das unidades de destilação, craqueamento e tratamento de combustíveis. Em função de recente compromisso assumido pela Petrobras e a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento, em que se estabeleceu o Termo de Compromisso de Ajuste Ambiental no qual se prevê a eliminação desse sistema, entendemos não haver, no momento atual, qualquer possibilidade da utilização desse meio hídrico, a menos de situações emergenciais de combate a incêndio. Entretanto, ao se fazer uma análise para efeito de comparação com as outras alternativas de utilização de recursos hídricos pela Reduc, entendemos que a captação de água da baía em substituição às fontes atuais possa ser uma opção futura, caso necessário. A Reduc construiu no passado um canal para tomada de água salgada da baía para atender ao sistema de refrigeração aberto e, em análises da água naquele ponto, com objetivo de gerar hipoclorito de sódio através de processo eletrolítico, verificou-se que a salinidade variou de 12.000 a 18.000 ppm de cloretos. Essa baixa concentração de sais em relação à água do mar é, certamente, devido à influência da desembocadura de rios na região conferindo a esse ponto, praticamente, a condição de água salobra (salinidade entre 0,5 ‰ e 30 ‰) apesar de pertencer à Classe 7, águas salinas (> 30 ‰) conforme Resolução Conama 20/86. Sob o ponto de vista do tratamento através de membranas filtrantes constitui-se uma vantagem pela menor pressão requerida na osmose reversa. Quanto à utilização do rio Iguaçu com o mesmo propósito (substituição ou complementação das fontes de captação atuais), parece-nos mais viável uma eventual abordagem para outorga junto à Serla, se as condições técnicas forem favoráveis comparativamente às demais. Cabe ressaltar, que a viabilidade real de qualquer desses projetos ora sugeridos depende fundamentalmente de avaliação final através de planta-piloto e análise econômica. A bacia do rio Iguaçu apresenta uma área de drenagem de 726 km2, dos quais 168 km2 representam a sub-bacia do rio Sarapuí (principal afluente), e abriga todo o Município de Belford Roxo e parte dos Municípios do Rio de Janeiro, Nilópolis, São João do Meriti, Nova Iguaçu e Duque de Caxias, inseridos na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Limita-se ao norte com a bacia do rio Paraíba do Sul, ao sul com a bacia dos rios Pavuna/Meriti, a leste com a bacia dos rios Saracuruna e Inhomirim/Estrela e a oeste com a bacia do rio Guandu e outros afluentes da Baia de Sepetiba. O rio Iguaçu tem suas nascentes na serra do Tinguá, a uma altitude de cerca de 1000 m. Desenvolve seu curso no sentido sudeste, com uma extensão total 111 de cerca de 43 km, desaguando na Baía de Guanabara. Ao atingir a área de baixada encontra uma grande concentração urbana, onde vivem mais de 2 milhões de pessoas em baixas condições de qualidade de vida, com mais da metade da população vivendo com renda familiar inferior a um salário mínimo e cerca de 23% das famílias em condições de indigência. As condições de saneamento básico, educação, saúde e infra-estrutura urbana são extremamente precárias. A coleta de lixo cobre menos de 60% da bacia e de forma irregular. As redes de esgotamento sanitário atendem a apenas 21% das residências e o abastecimento d’água a 51%. Atualmente, cerca de 180 mil pessoas vivem na área inundável da bacia, onde as condições sócio-ambientais são críticas. O lixo e o esgoto das casas são lançados nos rios e canais, piorando as condições de escoamento e de qualidade das águas. A erosão das margens e das encostas desmatadas produzem sedimentos que, carreados para os rios, reduzem a capacidade de escoamento e retêm o lixo acumulado. (FBDS, 2002) Além de todas essas condições geradoras de poluição no rio descritas de forma sucinta em relatório de levantamento realizado para a Petrobras pela Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, a influência da maré elevando consideravelmente a salinidade da água no trecho próximo à Reduc, potencializa a dificuldade de sua utilização como fonte de suprimento de água. Por outro lado, a utilização do canal do Cunha para a ETA da Prosint (empresa do ramo petroquímico localizada no Rio de Janeiro) e do rio Tamanduateí para a ETA da Recap (Refinaria de Capuava), corpos hídricos considerados extremamente poluídos por esgotos domésticos e industriais, apontam para a possibilidade de seu aproveitamento. São necessários, portanto, estudos específicos atualizados sobre o rio que apontem todas as suas condições ambientais, como qualidade da água em todo o seu curso, perfil de vazões mínimas e máximas, principais usuários dos recursos, disponibilidades futuras e outras informações que possam estabelecer suas condições para atender à necessidade da refinaria. Como, entretanto, o presente trabalho visa apontar alternativas que podem ser desenvolvidas a posteriori, e por entendermos que a barreira técnica para tratamento de água está superada, julgamos pertinente conjecturar sobre alguns dados disponibilizados em trabalhos já realizados para a Petrobras. A utilização de qualquer manancial para uso consuntivo de uma indústria tem que passar por um processo de outorga, no qual será estabelecida a vazão possível de utilização. Segundo o Artigo 9 da Portaria 272 da Serla (Superintendência de Rios e Lagos do RJ) de 11 de dezembro de 2000, a análise do pedido de outorga, do uso de recursos hídricos atualmente considera os seguintes critérios para as águas superficiais: 112 a) Os aspectos quantitativos da água do corpo hídrico, nos pontos indicados para captação. b) A adoção dos dados fornecidos no relatório “Estudo das Vazões Mínimas dos Principais Cursos de Água do Estado do Rio de Janeiro” elaborado pela Feema, em 1978, para fins de estimativa da vazão mínima dos cursos de água, salvo se existirem, para a bacia hidrográfica sob exame, estudos mais atualizados. Como vazão máxima utilizável deve-se considerar: − 80% do Q7, 10 do curso de água junto à seção de interesse, para captação com fins de abastecimento humano; − 50% do Q7, 10 do curso de água junto à seção de interesse para os demais casos de uso consuntivo. A vazão média do rio Iguaçu, conforme ROSMAN (2001 apud BIDONE e CARVALHO, 2003), é de 12,94 m3/s. Porém, a vazão mínima estimada é de 2,58 m3/s o que naturalmente limita a adução pela refinaria. Atualmente, essa vazão recebe a contribuição de 6,85 m3/s da bacia de resfriamento da Reduc (captada da baía de Guanabara) cuja previsão para fechamento é de 2004, conforme Termo de Compromisso de Ajustamento Ambiental. Com relação à qualidade da água, a Feema realizou um levantamento de vários parâmetros no período de 1999 a 2001 com 3 pontos de coleta a seguir denominados: − IA260, a montante dos lançamentos de efluentes da Reduc, na ponte da Rodovia Washington Luiz (P1 na figura 22); − IA261, a jusante dos lançamentos da Reduc (P2 na figura 22); − IA262, a jusante da confluência com rio Sarapui, próximo à foz (P5 na figura 22). Na figura 22 esses pontos são indicados e as tabelas 25, 26 e 27 apresentam um sumário estatístico dos resultados. 113 Campos Elíseos Rio Iguaçu P1 P2 P4 Rio Sarapuí Favela Beira-Mar Figura 22 - Foto aérea da região da Reduc e pontos de coleta de amostras Fonte: Adaptada pelo autor. P3 Aterro Sanitário P5 BAÍA 114 Tabela 25 - Qualidade do rio Iguaçu na estação IA260 PARÂMETROS Nº dados Mínimo Percentil Mediana Percentil 25 Máximo 75 Temp. Amostra (oC) 16 18 22 23 26 31 Temperatura Ar (oC) 16 20 25 28 30 34 pH 18 6,0 6,4 6,8 6,9 7,9 R.N.F.T. (mg/L) 15 20 22 25 30 40 R.F.T. (mg/L) 13 180 470 930 5900 17570 O.D. (mg/L) 18 < 0,1 < 0,1 < 0,1 0,3 2,0 D.B.O. (mg/L) 18 8,0 11,5 20 28 40 D.Q.O. (mg/L) 17 20 50 60 80 140 N Kjeldahl (mg N/L) 16 1,6 4,0 6,0 9,5 15 Nitrito (mg/L) 17 0,002 0,004 0,005 0,007 0,04 Nitrato (mg/L) 18 < 0,01 0,03 0,04 0,09 0,7 N Amoniacal (mg/L) 17 0,70 2,20 2,65 4,00 12 Ortofosfato (mg P/L) 18 0,04 0,33 0,75 1,28 2,20 Fósforo Total (mg P/L) 18 0,40 1,00 1,53 2,02 3,80 Condutividade (µmho/cm) 18 190 550 850 2.200 8.850 Cloreto (mg Cl/L) 17 40 110 180 600 2.740 Fenóis (mg/L) 8 < 0,001 - < 0,001 - 0,01 Cianeto (mg/L) 16 < 0,01 < 0,01 < 0,01 < 0,01 0,01 Cromo (mg/L) 17 < 0,01 < 0,01 < 0,01 < 0,01 0,01 Manganês (mg/L) 17 0,1 0,17 0,2 0,25 0,3 Ferro (mg/L) 17 0,85 1,30 1,80 3,50 8,5 Níquel (mg/L) 17 < 0,01 < 0,01 < 0,01 0,01 0,09 Cobre (mg/L) 17 < 0,005 < 0,005 < 0,005 0,005 0,06 Zinco (mg/L) 17 < 0,005 0,015 0,02 0,03 0,35 Cádmio (mg/L) 17 < 0,001 < 0,001 0,002 0,002 0,006 Mercúrio (µg/L) 17 < 0,1 < 0,1 < 0,1 < 0,1 0,1 Chumbo (mg/L) 17 < 0,01 0,02 0,02 0,02 0,17 HPA’s (µg/L) 4 10 - 14,5 - 28 Fonte: FEEMA (2001). 115 Tabela 26 - Qualidade do rio Iguaçu na estação IA261 PARÂMETROS Nº dados Mínimo Percentil Mediana Percentil 25 Máximo 75 Temp. Amostra (oC) 17 18 22 24 27 32 Temperatura Ar (oC) 17 20 25 28 30 34 pH 18 6,3 6,5 6,8 6,9 7,7 R.N.F.T. (mg/L) 15 3,6 20 25 30 250 R.F.T. (mg/L) 13 230 620 1700 5800 14000 O.D. (mg/L) 18 < 0,1 < 0,1 < 0,1 0,1525 2,0 D.B.O. (mg/L) 18 4,0 13 20 20 60 D.Q.O. (mg/L) 17 20 40 70 140 500 N Kjeldahl (mg N/L) 16 2,0 4,0 6,5 7,5 17 Nitrito (mg/L) 17 0,002 0,002 0,005 0,008 0,01 Nitrato (mg/L) 18 < 0,01 < 0,01 0,02 0,06 0,25 N Amoniacal (mg/L) 17 0,70 1,9 2,7 3,5 19 Ortofosfato (mg P/L) 18 0,02 0,40 0,60 1,08 2,30 Fósforo Total (mg P/L) 18 0,40 0,85 1,25 1,80 3,40 Condutividade (µmho/cm) 18 90 1150 3000 5400 16300 Cloreto (mg Cl/L) 17 120 222,5 460 1590 5240 Fenóis (mg/L) 8 < 0,001 - 0,001 - 0,01 Cianeto (mg/L) 14 < 0,01 < 0,01 < 0,01 < 0,01 < 0,01 Cromo (mg/L) 17 < 0,01 < 0,01 < 0,01 < 0,01 0,03 Manganês (mg/L) 17 0,11 0,14 0,18 0,25 0,25 Ferro (mg/L) 17 0,65 1,10 1,60 2,50 3,5 Níquel (mg/L) 17 < 0,01 < 0,01 < 0,01 0,02 0,09 Cobre (mg/L) 17 < 0,005 < 0,005 < 0,005 0,001 0,08 Zinco (mg/L) 17 < 0,005 0,015 0,02 0,05 0,14 Cádmio (mg/L) 17 < 0,001 < 0,001 0,002 0,002 0,008 Mercúrio (µg/L) 17 < 0,1 < 0,1 < 0,1 < 0,1 0,1 Chumbo (mg/L) 17 < 0,01 0,02 0,02 0,04 0,12 HPA’s (µg/L) 4 8 - 14 - 37 Fonte: FEEMA (2001). 116 Tabela 27 - Qualidade do rio Iguaçu na estação IA262 PARÂMETROS Nº dados Mínimo Percentil Mediana Percentil 25 Máximo 75 Temp. Amostra (oC) 17 18 22 24 25,5 31 Temperatura Ar (oC) 17 20 26 27 30 34 pH 18 6,5 6,7 6,9 7 7,8 R.N.F.T. (mg/L) 15 10 20 25 30 40 R.F.T. (mg/L) 13 460 1100 2300 6180 9300 O.D. (mg/L) 18 < 0,1 < 0,1 < 0,1 < 0,1 2,0 D.B.O. (mg/L) 18 15,0 20 26 30 50 D.Q.O. (mg/L) 17 50 70 120 180 250 N Kjeldahl (mg N/L) 16 5,0 7,5 9,0 12 21 Nitrito (mg/L) 18 < 0,001 0,002 0,004 0,006 0,009 Nitrato (mg/L) 17 < 0,01 < 0,01 0,02 0,05 0,1 N Amoniacal (mg/L) 17 1,3 2,15 2,8 7 12 Ortofosfato (mg P/L) 18 0,30 1,18 1,64 1,90 2,90 Fósforo Total (mg P/L) 18 1,00 1,73 2,50 2,75 3,70 Condutividade (µmho/cm) 18 190 1660 3000 8000 14000 Cloreto (mg Cl/L) 18 100 535 930 2440 3420 Fenóis (mg/L) 8 < 0,001 - < 0,003 - 0,02 Cianeto (mg/L) 16 < 0,01 < 0,01 < 0,01 < 0,01 < 0,01 Cromo (mg/L) 17 < 0,01 < 0,01 < 0,01 < 0,01 0,02 Manganês (mg/L) 17 0,11 0,16 0,18 0,2 0,65 Ferro (mg/L) 17 0,30 0,65 0,80 1,20 4,0 Níquel (mg/L) 17 < 0,01 < 0,01 < 0,01 0,03 0,1 Cobre (mg/L) 17 < 0,005 < 0,005 < 0,005 0,001 0,04 Zinco (mg/L) 16 < 0,005 0,015 0,025 0,04 0,17 Cádmio (mg/L) 17 < 0,001 < 0,001 0,002 0,002 0,02 Mercúrio (µg/L) 17 < 0,1 < 0,1 < 0,1 < 0,1 0,15 Chumbo (mg/L) 17 < 0,01 0,02 0,02 0,08 0,25 HPA’s (µg/L) 4 10 - 14,5 - 28 Fonte: FEEMA (2001). 117 Essas tabelas foram montadas pela Feema com objetivo de avaliar as condições ambientais do rio Iguaçu e a influência da Refinaria no seu grau de poluição. Além disso, foram também elaborados gráficos do tipo box plot. Uma análise desses dados revela que os valores de cloreto e condutividade são coerentes e mostram o efeito da maré, apresentando concentrações decrescentes a medida que se caminha para montante do rio. Dados mais atualizados, levantados em trabalho realizado pela Universidade Federal Fluminense e Fundação Euclides da Cunha para atendimento à Petrobras são apresentados em seguida, com as considerações dos autores do documento referentes aos mesmos pontos de coleta da figura 22. Os dados de área de bacia recoberta por cada ponto de amostragem foram obtidos a partir dos mapas apresentados nos relatórios do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (JICA, 1994). Os dados de vazão correspondem aos valores médios para épocas de seca na região do estudo. Esses dados são apresentados na tabela 28. Tabela 28 - Dados de vazão dos rios Iguaçu e Sarapuí PONTOS DE AMOSTRAGEM Ponto Rio Iguaçu Ponto 1 Vazão M3/s 19,2 Área Km2 519 Rio Iguaçu Ponto 2 20,1 544 Rio Iguaçu Ponto 3 26,8 559 Foz do Rio Sarapuí Ponto 4 16,2 165 Foz do sistema Iguaçu-Sarapuí Ponto 5 42,9 728 Fonte: BIDONE (2003). As tabelas 29 e 30 apresentam concentrações de parâmetros incluídos no TCAA, por dia amostrado e médias da campanha. Para estes, a legislação ambiental brasileira em vigor, visando à qualidade das águas (Resolução Conama no 20 de 18 de junho de 1986), estipula para as águas de Classe 2 (classificação da Feema para os rios incluídos neste estudo), padrões de qualidade para fenóis, OD, sulfetos, DBO, benzo-a-pireno e metais, os quais são mostrados nas tabelas. 118 Tabela 29 - Parâmetros indicadores de poluição em águas fluviais Data Dia 29/04 Dia 30/04 Ponto MS RNFT O&G Fenóis DQO DBO COT CT ml/L mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L mg/L P1 2,5 53 8,1 <0,1 149 15,0 3,5 3,6 P2 1,6 57 <0,1 164 12,0 2,5 3,2 P3 2,8 55 5,7 <0,1 185 12,0 4,5 5,1 P4 4,2 84 8,8 <0,1 274 29,0 8,5 8,5 12,4 <0,1 181 3,5 4,1 <0,1 214 1,0 1,0 P1 P2 Dia 02/05 Dia 03/05 Médias P3 4,5 <0,1 219 1,0 1,0 P4 5,9 <0,1 281 5,5 6,3 P1 5,0 59 1,8 <0,1 197 19,0 4,5 5,0 P2 5,5 64 8,0 <0,1 167 17,0 7,5 8,1 P3 4,8 62 2,8 <0,1 193 14,0 6,5 7,2 P4 9,2 95 12,0 <0,1 342 39,0 11,5 12,1 P1 6,6 <0,1 202 P2 1,8 <0,1 223 P3 1,2 <0,1 219 P4 28,1 <0,1 472 P1 3,8 56,0 7,2 182 17,0 3,8 4,2 P2 3,6 60,5 4,9 192 14,5 3,7 4,1 P3 3,8 58,5 7,1 204 13,0 4,0 4,4 P4 6,7 89,5 13,7 342 34,0 8,5 9,0 2,5 53 8,1 Padrão 0,001 <5,0 Notas: (1) Resultados em ppm, exceto MS: ml/L (2) MS: Materiais Sedimentáveis, RNFT: Resíduo Não Filtrável Total, COT: Carbono Orgânico Total, CT: Carbono Total Fonte: BIDONE (2003). 119 Tabela 30 - Parâmetros não metálicos nas amostras de águas fluviais Data Dia 29/04 Dia 30/04 Dia 02/05 Dia 03/05 Médias Coprostanol Colesterol HPA (1) Σ 16 HPA(2) NH4+ OD S-2 mg.L-1 mg.L-1 mg.L-1 μg.L-1 μg.L-1 μg.L-1 μg.L-1 P1 1,7 0,04 0,05 44,6 26,4 2,22 0,34 P2 2,5 0,07 0,05 36,0 24,0 P3 4,0 0,05 0,3 32,6 19,2 0,68 0,10 P4 5,8 0,04 1,5 61,5 36,3 1,55 0,14 P1 3,7 0,00 0,1 22,0 16,1 0,72 0,10 P2 4,7 0,04 0,2 16,4 18,0 P3 4,3 0,15 0,1 10,5 8,7 0,88 0,06 P4 6,4 0,05 1,9 41,4 32,3 P1 0,1 0,03 1,0 69,4 28,6 0,68 0,08 P2 0,1 0,01 1,2 35,9 28,9 0,88 0,09 P3 0,1 0,02 1,1 18,9 19,6 0,65 0,07 P4 0,1 0,08 4,1 55,8 43,9 P1 1,2 0,06 0,2 36,7 16,4 0,93 0,11 P2 0,1 0,13 0,4 30,5 15,5 0,96 0,08 P3 0,1 0,18 0,05 15,0 5,3 0,63 0,10 P4 0,2 0,00 1,9 74,7 50,8 2,90 0,23 P1 1,7 0,03 0,3 43,2 21,9 1,13 0,16 P2 1,8 0,06 0,5 29,7 21,6 0,92 0,09 P3 2,1 0,10 0,4 19,2 13,2 0,95 0,08 P4 3,1 0,04 2,4 58,3 40,8 2,23 0,19 >5,0 0,002 Ponto Padrão Notas: (1) somatório dos 37 HPA analisados (2) somatório dos 16 HPA prioritários (EPA) Fonte: BIDONE (2003). As considerações que se seguem são transcritas do relatório final (BIDONE, idem): As concentrações de OD, DBO e sulfetos fora dos padrões estabelecidos em todos os pontos nos dias amostrados, indicam sistemas hídricos poluídos e extremamente carentes em oxigênio (anóxicos). Esses resultados indicam sistemas fluviais com cargas orgânicas elevadas, fortemente influenciadas por efluentes domésticos. Isso pode ser confirmado pelas altas concentrações encontradas para Coprostanol e Colesterol, substâncias indicadoras desse tipo de efluente (os maiores valores médios estão associados aos Pontos 1 e 4). Os dados de amônia são característicos de rios poluídos a altamente poluídos, sobretudo por efluentes domésticos (BIDONE et al., 1999). Alguns dados 120 de carbono (COT e CT) são altos quando comparados com rios não poluídos (no geral esses ficam abaixo de 5 mg. L-1). As cargas de RNFT não são incomuns, mesmo considerando alguns rios não contaminados (para efluentes domésticos os valores médios são de aproximadamente 200 mg.L-1). Por outro lado, os dados de DQO são elevados e indicam a presença de materiais fortemente refratários, cuja fonte pode ser antrópica mas, também, natural. Óleos e graxas, e a presença de concentrações relevantes de HPAs, completam o quadro característico de alta poluição dos sistemas estudados, sendo que os maiores valores médios encontram-se nos Pontos 1 e 4, reforçando sua origem em efluentes domésticos. A tabela 31 apresenta, para efeito comparativo, parâmetros de qualidade de algumas fontes de captação de água industrial de refinarias da Petrobras e do rio Iguaçu, considerados fundamentais na avaliação da potencialidade de seu uso. 3.2.2.2 Efluente de ETE Municipal A reutilização de águas de esgotos tratados para fins não potáveis pode ser um importante mecanismo no aproveitamento de recursos hídricos. A água livre de organismos patogênicos e que normalmente é devolvida aos rios pode ser utilizada para várias finalidades, como: limpeza pública, irrigação de jardins, refrigeração de equipamentos industriais e lavagens de veículos. Há um mercado potencial muito grande para essa água ser reutilizada. Em São Paulo, a Sabesp introduziu em três estações de tratamento de esgotos (ETEs) a possibilidade de reúso da água a um custo bem inferior ao da água potável (HESPANHOL, 1999; National Research Council, 1998 apud TUNDISI, 2003). BLUM (2003) observa que há um grande número de casos bem sucedidos de reúso de água em termelétricas nos Estados Unidos, especialmente nos estados da Califórnia, Texas e Nevada em que a água de reúso é proveniente de estações de tratamento de esgotos municipais. 121 Tabela 31 - Qualidade da água captada em mananciais para refinarias da Petrobras Rio Rio Rio Rio Rio Rio Rio Jaguari Guandu Saracuruna Paraiba Cubatão Tamanduateí Iguaçu (Recap-SP) (RJ) PARÂMETROS (Replan- (Reduc- (Reduc-RJ) do Sul (RPBC(RevapSP) RJ) SP) SP) pH 6,7 – 7,5 O.D. (mg/L) 6,5 – 6,8 5,4 – 7,2 5,5 – 6,5 6,4 – 7,4 6,9 – 7,3 0,6 – 2,7 0,1 – 6,6 1,8 – 6,0 4,8 – 7,3 < 0,1 DBO5,20 (mg/L) 3 – 11 2,0 – 110 1–2 < 0,1 109 – 159 DQO (mg/L) 15 – 58 10 – 120 4 – 20 < 17 157 – 305 Nitrato (mg N/L) 0,02 – 0,25 < 0,005 – 0,032 0,76 – 4,8 0,01 – 0,6 0,02 – 0,70 0,001 – 0,06 0,02 – 0,09 0,04 – 0,92 0,01 – 0,06 27 – 67 0,02 – 0,25 4 – 10 Fósforo Total (mg P/L) R.F. (mg/L) 1,10 – 4,90 0,125 – 0,80 104 – 192 75 – 128 42 – 8690 0,05 – 0,28 0,009 – 0,017 0,02 – 0,14 0,20 – 1,20 0,02 – 0,09 7 – 130 R.N.F. (mg/L) 13 – 101 10 – 39 2 – 50 4 – 91 6 – 73 36 – 368 R.T (mg/L) Turbidez (NTU) Cloreto (mg Cl/L) 117 – 235 22 – 160 2,7 – 6,2 8 – 69 1,9 – 5,2 5 – 20 7 – 1000 47 – 172 10 – 92 3,1 – 7,0 35 – 140 3 – 10 0,5 – 9,3 449 – 814 15 – 42 60,3 – 104,0 Condutividade 62 – 179 60 – 1600 47 – 94 46 – 68 689 – 918 Ferro (mg Fe/L) 2,76 – 11,50 0,01 – 0,20 <0,003 – 0,008 1,1 – 20 0,37 – 3,16 0,03 – 0,09 < 0,001 0,40 – 0,63 0,06 – 0,11 < 0,002 1,15 – 15,30 52,161 2,25 0,15 Nitrito (mg N/L) Amônia (mg N/L) Kjeldahl (mg N/L) Manganês (mg Mn/L) Fenóis (mg/L) Sílica (mg/L) Q7,10 (m3/s) 5,147 0,001 – 0,05 0,3 – 4,6 0,5 – 3,5 0,1 – 1,1 0,27 – 1,59 0,08 – 0,3 0,001 – 0,004 1,8 – 4,8 130 0,004 – 0,06 17,3 – 23,6 21,7 – 29,6 2,11 – 4,50 388 – 512 0,33 – 0,52 0,057 – 2,60 6,3 – 7,7 < 0,1 – 2,0 4,0 – 60 20 – 500 0,01 – 0,25 0,002 – 0,01 0,70 – 19,0 2 – 17 0,40 – 3,40 230 – 14000 3,6 – 250 120 – 5240 90 – 16300 0,65 – 3,5 0,11 – 0,25 < 0,001 – 0,01 1,2 – 3,25 2,58 Nota 1: Pontos de coleta correspondem a estações na captação da refinaria Nota 2: Tabela montada a partir de tabelas de relatórios da FBDS/Petrobras para avaliação da disponibilidade de recursos hídricos nas refinarias O.D.: Oxigênio Dissolvido; DBO: Demanda BioQuímica de Oxigênio; DQO: Demanda Química de Oxigênio Condutividade: (μmho)/cm) Fonte: Cetesb, Feema, Petrobrás (relatórios internos). 122 TAY e CHUI (1991), em artigo publicado pela revista Water Science and Technology, abordam o reúso de efluentes na ilha de Cingapura, onde foi construída uma estação de tratamento avançado para tratamento de efluentes secundários de 45.000 m3/dia. O efluente secundário é bombeado da estação de tratamento de esgoto municipal para a estação de recuperação de água para reúso, cuja seqüência de tratamento empregado é: pré-cloração, clarificação química, filtração rápida em leito de areia, aeração e pós-cloração. As características do efluente secundário (alimentação) e do efluente para reúso são mostradas na tabela 32. Tabela 32 - Características do efluente para reúso em Cingapura Parâmetro Turbidez (JTU) DBO5 (mg/L) DQO (mg/L) Oxigênio dissolvido (mg/L) NH3-N (mg/L) Sólidos suspensos (mg/L) Sólidos Totais ( mg/L) Cloreto (mg/L) Dureza total (mg/L) Fosfato total (mg/L) Alcalinidade (mg/L) Coliforme total/ml Coliforme Fecal/ml Efluente Secundário Efluente para Reúso Faixa de variação Média 13,5 17 84 2,7 32,1 20 505 80 133 3,9 182 3,5 x 104 4,2 x 102 1–2 2–4 30 – 42 5–6 15 – 25 2–5 260 – 900 95 – 390 80 – 190 1–3 130 – 165 - 1,5 2,7 36 5,8 20 3 415 221 126 1,7 140 - Fonte: TAY e CHUI (1991). Para utilização dessa água em substituição à água com qualidade potável de reposição das torres de resfriamento em 1984, uma das refinarias da ilha investiu US$ 300.000,00 na instalação adicional de tubulações, válvulas de controle, sistema automático de dosagem de produtos químicos, cloradores e filtro de areia. O efluente reutilizado é utilizado para refrigeração de 52 bombas e no descoqueamento dos tubos dos fornos da refinaria. Além dessas aplicações, a água de reúso substituiu também água potável dos toaletes e lavagens em geral, proporcionando uma economia de 10.000 m3/mês de água potável. A ETE municipal mais próxima da Reduc com capacidade e instalações que podem gerar volume de efluentes para atendimento às necessidades de uma indústria do porte da refinaria está em fase de construção pelo Governo Estadual, sob administração da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE), localizada em Vigário Geral a cerca de 15 km de 123 distância. A construção dessa ETE faz parte do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara e trata-se de um sistema de lodos ativados, sendo que a primeira etapa (tratamento primário) já foi concluída e encontra-se em funcionamento. 3.2.3 Viabilidade Técnica e Econômica Na abordagem da viabilidade econômica das oportunidades ora citadas como alternativas de reúso para a Reduc, é adotada a metodologia estabelecida por RICHARD (1998) na avaliação de projetos recentes, complementada com informações e critérios praticados na indústria de petróleo nacional quando julgados pertinente. Nesse caso, são referenciados para melhor julgamento do leitor. A metodologia utilizada para estimativa dos custos de reúso está baseada na aplicação prática de diversas instalações americanas e, embora haja diferenças em relação a algumas parcelas para os custos nacionais (mão de obra e serviços, por exemplo), entendemos que as parcelas principais como equipamentos e materiais têm custo universal, haja vista o caráter internacional dos fornecedores de tecnologias. Além disso, em análises comparativas, tais diferenças tendem a tornarem-se nulas para efeito de avaliação final quando utilizados os mesmos critérios. SANTOS (2003), ao abordar a metodologia de RICHARD (op.cit.), faz uma síntese de aspectos relevantes na estimativa dos custos de sistemas de reúso os quais reproduzimos: Devem ser considerados: − Custos de construção; − Custos anuais de operação e manutenção; − Custos do volume anual produzido, ou custos da vida útil, combinando-se a amortização do investimento com os custos anuais de operação e manutenção, representando o resultado em reais/1.000 metros cúbicos/ano. Os custos da vida útil são úteis na comparação de alternativas econômicas ao projeto de reúso, devendo ser feita em conjunto com a estimativa da receita esperada durante um período específico de tempo (20 anos, por exemplo). Pode então ser identificado o ponto de equilíbrio receita/despesa do projeto. Os custos são estimados levando-se em conta a capacidade da instalação, a finalidade do reúso e a configuração do tratamento selecionado. RICHARD (1998) assume custos de implantação do canteiro e do sistema elétrico, respectivamente iguais a 10% e a 15% do custo total da instalação. Os custos anuais de operação do sistema de tratamento e distribuição incluem salários, energia elétrica, produtos químicos e manutenção referentes a reparos e substituição de peças. Os custos de pessoal dependem do porte e da complexidade da instalação. Os custos de manutenção são tomados como 5% do custo inicial do equipamento, salvo para a manutenção de tubulações e reservatórios, tomados como 2% do investimento. 124 Segundo RICHARD, os custos de operação e manutenção devem também abranger os custos de manejo dos lodos primários, secundários em excesso e lodos químicos de processos terciários, tomados como de US$ 150,00/tonelada de sólidos secos, incluindo-se, nesse custo, algum tipo de digestão, bombeamento, desidratação e reúso agrícola. Os custos de investimento abrangem os de construção da estação de tratamento, dos reservatórios e do sistema distribuidor, inclusive elevatórias. Com base nos dados obtidos e acima sintetizados, as tabelas 33 a 35, a seguir, foram montados e dão uma visão ótima de estimativas de custos de instalações de reúso pesquisadas por RICHARD (1998): Tabela 33 - Estimativa de custos de construção de estações recuperadoras Processo de tratamento Investimento, US$(a) 158 m3/h 788 m3/h 1577 m3/h 1. Tratamento primário 2.950.000 5.300.000 7.550.000 2. Lodo ativado convencional 6.100.000 14.400.000 24.900.000 3. Lodo ativado combinado com biofiltro 6.500.000 15.200.000 26.100.000 4. Aeração prolongada 5.700.000 13.200.000 24.950.000 5. Tratamento secundário mais instalação para exigências do “Título 22 do Código da Califórnia” 8.400.000 18.400.000 35.300.000 6. Tratamento secundário mais filtração direta 6.900.000 15.700.000 30.000.000 7. Tratamento secundário mais filtração por contato 7.050.000 16.650.000 30.900.000 8. Tratamento secundário, filtração por contato e remoção de fósforo 7.100.000 18.100.000 34.500.000 9. Processo Bardenpho 7.600.000 20.800.000 38.200.000 10. Tratamento secundário, filtração por contato, adsorção por carvão 9.050.000 25.550.000 49.350.000 11. Tratamento secundário, filtração por contato, adsorção por carvão, osmose reversa 13.450.000 43.800.000 84.150.000 12. Tratamento secundário, calagem, osmose reversa 12.100.000 35.450.000 65.450.000 (a) Nota: Preços de junho de 1996 (ENRCCI = 5600). Fonte: RICHARD, TCHOBANOGLOUS, ASANO apud RICHARD (1998). 125 Tabela 34 - Estimativa de custos de operação e manutenção de estações Processo de tratamento 1. Tratamento primário 2. Lodo ativado convencional 3. Lodo ativado combinado com biofiltro 4. Aeração prolongada 5. Tratamento secundário mais Título 22 6. Tratamento secundário mais filtração direta 7. Tratamento secundário mais filtração por contato 8. Tratamento secundário, filtração por contato, remoção de fósforo 9. Processo Bardenpho® 10.Tratamento secundário, filtração por contato, absorção por carvão 11. Tratamento secundário, filtração por contato, absorção por carvão, osmose reversa 12. Tratamento secundário, calagem, recarbonatação, osmose reversa Custos de operação e manutenção (US$/ano) 158 m3/h 788 m3/h 1577 m3/h 150.000 530.000 960.000 270.000 930.000 1.730.000 300.000 1.060.000 1.990.000 300.000 1.030.000 1.950.000 520.000 1.960.000 3.810.000 350.000 1.200.000 2.290.000 340.000 1.200.000 2.280.000 660.000 2.730.000 5.340.000 280.000 820.000 1.040.000 3.400.000 2.120.000 6.680.000 1.240.000 4.960.000 9.600.000 1.060.000 4.230.000 8.100.000 Fonte: RICHARD, TCHOBANOGLOUS, ASANO apud RICHARD, 1998. Tabela 35 - Custos da vida útil conforme o processo de tratamento Processo de tratamento 1. Tratamento primário Custo de construção Custo de operação e manutenção Total 2. Lodo ativado convencional Custo de construção Custo de operação e manutenção Total 3. Lodo ativado combinado com biofiltro Custo de construção Custo de operação e manutenção Total 4. Aeração prolongada Custo de construção Custo de operação e manutenção Total 5. Tratamento secundário mais Título 22 Custo de construção Custo de operação e manutenção Total Custos da vida útil, US$/1000m3 158 m3/h 788 m3/h 1577 m3/h 250 109 359 91 78 169 65 70 135 522 196 718 246 136 382 212 125 337 557 221 778 259 155 414 223 145 368 486 218 704 226 149 375 212 142 354 718 377 1095 315 285 600 301 277 578 126 Tabela 35 - Custos da vida útil conforme o processo de tratamento Processo de tratamento 6. Tratamento secundário mais filtração direta Custo de construção Custo de operação e manutenção Total 7. Trat. secundário mais filtração por contato Custo de construção Custo de operação e manutenção Total 8. Trat. sec., filt. por contato, remoção de P Custo de construção Custo de operação e manutenção Total 9. Processo Bardenpho® Custo de construção Custo da operação e manutenção Total 10. Trat. sec., filt. contato, adsorção por carvão Custo de construção Custo de operação e manutenção Total 11. Ítem 10 seguido de osmose reversa Custo de construção Custo de operação e manutenção Total 12. Tratamento secundário, calagem, CO2, osmose reversa Custo de construção Custo de operação e manutenção Total Custos da vida útil, US$/1000m3 158 m3/h 788 m3/h 1577 m3/h 589 255 844 268 174 442 256 167 423 602 251 853 284 174 458 264 166 430 606 482 1.088 310 396 706 294 388 682 650 198 848 356 145 501 327 147 474 773 593 1.366 437 495 932 429 486 915 1.147 899 2.046 747 721 1.468 718 696 1.414 1.032 766 1.798 604 614 1.218 559 589 1.148 Fonte: RICHARD, TCHOBANOGLOUS, ASANO apud RICHARD (1998). Freqüentemente, o planejamento de um sistema de recuperação de água recomenda a implantação de tratamento avançado numa instalação existente, em vez da construção de uma estação de tratamento de reúso totalmente nova. Para esses casos, os custos incrementais do tratamento são avaliados isolando-se os componentes adicionais e estimando seus reflexos nos custos operacionais da instalação (SANTOS, 2003). O custo total por ano, ou custo anual durante a vida útil (life cycle cost), é obtido dividindo-se o custo anual total (amortização anual do capital somada com o custo operacional anual) pelo volume anual produzido. A análise do custo anual assume uma vida útil de 20 anos e uma determinada taxa de retorno para o investimento. A aplicação dos custos levantados por RICHARD (op.cit.) para o estudo de caso de reúso do efluente final da Reduc, conforme figura 21, permite-nos a criação da tabela 36, a 127 seguir, considerando-se também a figura 8, referente à evolução decrescente dos custos de membranas (principal componente de operação e manutenção), que se encontra no item 2.3.2, “Tratamento com Membranas”. Tabela 36 - Obtenção dos custos da vida útil para reciclo do efluente final com vazão de 700 m3/h Discriminação a) Vida útil da instalação b) Taxa de retorno do investimento c) Fator de recuperação do capital d) Custo de construção e) Custo anual de amortização do capital (e = d. c) f) Custo anual de operação e manutenção g) Custo anual total (g = e + f) h) Vazão da estação i) Dias do ano j) Vazão anual produzida k) Custo da vida útil (k = g/j) Unidade Anos % a. a. US$ US$ US$ US$ m3/h dias 1.000 m3 US/1000 m3 Quantitativo dado ou calculado 20 10 0,11745 18.367.900 2.157.310 291.552* 2.448.862 700 365 6.132 339,35 Obs.: 1-não estão computados nessa avaliação os custos de investimento correspondentes à tubulação para condução do fluido. 2- os custos de operação e manutenção excluem o tratamento secundário. *Valor obtido multiplicando-se o fator 1/9 com relação ao ano de 1996, na figura 8. Fonte: O próprio autor. Para obtenção dos custos da vida útil é feita uma composição dos dados relacionados nas tabelas 33, 34 e 35, considerando-se um tratamento de reciclo com filtração direta, carvão ativado e osmose reversa. A composição do custo de construção é elaborada a partir de uma adaptação da tabela 33, conforme o seguinte procedimento: 1) Construção da curva de investimentos para os itens 11, 7, 2 e 6, conforme as figuras 23, 24, 25 e 26. 2) Interpolação dos valores correspondente à vazão desejada. 3) Do valor correspondente ao item 11, são subtraídos os valores dos itens 7 e 2, e em seguida adicionado o valor do item 6. Dessa forma, é possível estabelecer os valores para o arranjo correspondente à tabela 36. 128 MM U$ Investimento item 11- Tabela 33 90 85 80 75 70 65 60 55 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 100011001200 1300 1400 15001600 1700 m3/h Figura 23 - Curva de investimento para tratamento secundário, filtração por contato, adsorção por carvão e osmose reversa Fonte: O próprio autor a partir de dados de RICHARD (1998). LA convencional - Item 2, Tabela 33 28 26 MMUS$ 24 22 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 m3/h Figura 24 - Curva de investimento para lodo ativado convencional Fonte: O próprio autor a partir de dados de RICHARD (1998). 129 MMUS$ LA + Filtração Direta - Item 6, Tabela 33 32 30 28 26 24 22 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 m3/h Figura 25 - Curva de investimento para tratamento secundário seguido de filtração direta Fonte: O próprio autor a partir de dados de RICHARD (1998). LA + Filtração por contato - Item 7, quadro 10 34 32 30 28 26 MM US$ 24 22 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 m3/h Figura 26 - Curva de investimento para tratamento secundário seguido de filtração por contato Fonte: O próprio autor a partir de dados de RICHARD (1998). 130 Esse mesmo procedimento é adotado para o custo de operação e manutenção, corrigindo-se o valor então obtido, segundo a curva da figura 8, item 2.3.2, anteriormente citada. Com base nesse conjunto de informações, é possível também estabelecermos o custo da vida útil da instalação de um sistema de regeneração e reúso de efluente da ETA e das torres através do processo de centrifugação (figura 20, no item 3.2.1.3), conforme mostrado na tabela 37. Tabela 37 - Custos da vida útil para centrifugação do lodo da ETA Discriminação Unidade a) Vida útil da instalação b) Taxa de retorno do investimento c) Fator de recuperação do capital d) Custo de construção e) Custo anual de amortização do capital (e = d. c) f) Custo anual de operação e manutenção g) Custo anual total (g = e + f) h) Vazão da estação i) Dias do ano j) Vazão anual produzida k) Custo da vida útil (k = g/j) Anos % a. a. R$ R$ R$ R$ m3/h dias 1.000 m3 R$/1000 m3 Quantitativo dado ou calculado 20 10 0,11745 3.500.000,00* 411.075 150.000,00 561.075 152 365 1331 421,54 FRC = ( ( 1 + i )n. i / (1 + i )n – 1 ) onde: i = taxa anual de juros, decimal (10%) e n = vida útil do equipamento. * Custo de instalação completa de centrífuga na Reduc e tubulação de transporte para recuperação de blowdown das torres de refrigeração. Fonte: O próprio autor, adaptada de RICHARD (1998). As tabelas 38 e 40 apresentam a previsão dos custos com as modificações simuladas nas figuras 19, 20 e 21 (fluxogramas) e dos custos totalizados, usando vazões de reciclo de 700 m3/h e 600 m3/h respectivamente. Os valores apresentados na coluna com título de “Arranjo Atual” são custos médios contabilizados pela Reduc em 2001 e incluem mão de obra, energia, produtos químicos e manutenção. 131 Tabela 38 - Estimativa de custo total da água na Reduc CORRENTE Bruta (incêndio etc) Clarificada p/torres Industrial de serviços Industrial recuperada Desmineralizada Potável Descarga clarificação Polida Tratamento do efluente Lançamento no rio Total Arranjo Atual (figura 19) R$/ m3/ R$/ m3 h mês Reúso Interno (figura 20) R$/ m3/ R$/ m3 h mês Reciclo de Efluente (figura 21) R$/ m3/ R$/ m3 h mês 0,16 141 16.243 0,16 81 9.331 0,16 141 16.243 0,51 380 139.536 0,51 271 99.511 0,51 380 139.536 0,32 377 86.861 0,32 297 68.429 0,32 317 73.037 0,42 0 0 0,42 152 45.965 0,42 0 0 0,52 24 8.986 0,52 24 8.986 0,52 24 8.986 0,396 100 28.512 100 28.512 0,396 100 28.512 0,32 24 5.530 0,39 6 0,32 24 5.530 0,32 24 5.530 0,679 446 218.040 446 218.040 1,79* 446 574.805 0,65 980 458.640 0,67 9 0,65 639 299.052 0,65 1260 589.680 980 639 962.348 574 783.356 1.436.329 (*) 0,65 R$ + (0,339 US$ x 2,9 R$/US$) + (0,679 – 0,52) R$ Fonte: O próprio autor. Na tabela 38, é possível observar que as parcelas referentes à água polida e tratamento de efluentes são determinantes no diferencial dos custos de cada arranjo. Isso se dá, logicamente, porque o investimento para regeneração objetivou a produção de água para os geradores de vapor, e a eficiência adotada de 65% reflete a situação mais desfavorável. A qualidade da água de reúso produzida depende da qualidade do efluente da ETDI e na literatura são citados sistemas de osmose com recuperação variando de 60 a 90%. Se admitirmos, então, uma recuperação da osmose de 80% (projeto da Ondeo-Degremont de água do rio Paraíba do Sul para a Revap), teríamos os seguintes valores finais para uma osmose de 600 m3/h (tabela 39): 132 Tabela 39 - Exemplo de cálculo para tratamento do reciclo para 600 m3/h Discriminação Unidade a) Vida útil da instalação b) Taxa de retorno do investimento c) Fator de recuperação do capital d) Custo de construção e) Custo anual de amortização do capital (e = d. c) f) Custo anual de operação e manutenção g) Custo anual total (g = e + f) h) Vazão da estação i) Dias do ano j) Vazão anual produzida k) Custo da vida útil (k = g/j) Quantitativo dado ou calculado 20 10 0,11745 14.978.800 1.759.260 237.765* 1.997.025 600 365 5.256 379,95 Anos % a. a. US$ US$ US$ US$ m3/h dias 1.000 m3 US/1000 m3 Obs.: 1-não estão computados nessa avaliação os custos de investimento correspondentes à tubulação para condução do fluido. 2- os custos de operação e manutenção excluem o tratamento secundário. * Valor obtido multiplicando-se o fator 1/9 com relação ao ano de 1996, na figura 8. Fonte: O próprio autor. Tabela 40 - Estimativa de investimento para reciclo do efluente da Reduc (Vazão de 600 m3/h) Arranjo Atual Reúso Interno Reciclo de Efluente CORRENTE R$/ m3 m3/ h R$/ mês R$/ m3 m3/ h R$/ mês R$/ m3 m3/ h R$/ mês Bruta (incêndio etc) Clarificada p/torres Industrial de serviços Industrial recuperada Desmineralizada Potável descarga clarificação polida Tratamento do efluente Lançamento no rio Total 0,16 141 16.243 0,16 81 9.331 0,16 141 16.243 0,51 380 139.536 0,51 271 99.511 0,51 380 139.536 0,32 377 86.861 0,32 297 68.429 0,32 317 73.037 0,42 0 0 0,42 152 45.965 0,42 0 0 0,52 24 8.986 0,52 24 8.986 0,52 24 8.986 0,396 100 28.512 0,396 100 28.512 0,396 100 28.512 0,32 24 5.530 0,32 24 5.530 0,32 24 5.530 0,679 446 218.040 0,679 446 218.040 1,91* 446 613.339 0,65 980 458.640 0,65 639 299.052 0,65 1127 527.436 980 639 962.348 (*) 0,65 R$ + (0,380 US$ x 2,9 R$/US$) + (0,679 – 0,52)R$ Fonte: O próprio autor. 569 783.356 1.412.619 133 Não obstante o custo do tratamento com reciclo apresentar-se cerca de 47% mais alto, é importante atentar para o fato de haver a necessidade de ampliação do tratamento secundário na ETDI, haja vista a limitação de capacidade das lagoas de tratamento biológico em 1.100 m3/h. 3.2.3.1 Estimativa do Custo de Utilização do Rio Iguaçu A utilização do canal do Cunha como fonte de água em instalação industrial, visitada pelo autor, permite-nos prever para efeito de análise, uma instalação para a Reduc composta de elevatória, reservatório-pulmão para equalização de vazão e desinfecção, ultrafiltração e osmose reversa, conforme diagrama simplificado da figura 27. A tabela 41 mostra estimativa do custo da água produzida por essa alternativa, utilizando a mesma metodologia anterior e considerando-se a produção de 600 m3/h. Tabela 41 - Custos da vida útil para ultra e osmose do rio Iguaçu Discriminação a) Vida útil da instalação b) Taxa de retorno do investimento c) Fator de recuperação do capital d) Custo de construção e) Custo anual de amortização do capital (e = d. c) f) Custo anual de operação e manutenção g) Custo anual total (g = e + f) h) Vazão da estação i) Dias do ano j) Vazão anual produzida k) Custo da vida útil (k = g/j) Unidade Anos % a. a. US$ US$ US$ US$ m3/h dias 1.000 m3 US/1000 m3 Quantitativo dado ou calculado 20 10 0,11745 15.000.000 1.761.750 238.101 1.999.851 600 365 5.256 380,5 Nota: Custo do projeto baseado em unidades em construção na Petrobras, de 3 milhões de dólares para ultrafiltração de 600 m3/h na Reduc (captação do rio Saracuruna, tabela 31), e de 3 milhões de dólares para osmose reversa de 120 m3/h na Replan (captação no rio Jaguari, tabela 31). Fonte: O próprio autor. 134 Rio Iguaçu Bacia existente ~ 140.000 m3 Rejeito da osmose Osmose Ultrafiltração Reversa Rejeito ETDI Figura 27 - Diagrama simplificado de aproveitamento do rio Iguaçu Fonte: O próprio autor. 3.2.3.2 Impactos da Cobrança na Reduc Utilizando Critérios do Ceivap O Conselho Nacional de Recursos Hídricos aprovou em 14 de março de 2002 a cobrança pelo uso da água para a bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul, estabelecida pelo Ceivap (Comitê de Integração do Vale do Paraíba) segundo critério de cálculo que leva em consideração a captação, o consumo e os níveis de lançamento no corpo receptor. A fórmula de cálculo de pagamento pelo uso da água é a seguinte (PERES e Salati, 2003): Valor (R$/mês) = Qcap x [Ko + K1 + (1 – K1) x (1 – K2 x K3)] x PPU Onde: Qcap: corresponde ao volume de água captada durante um mês, em m3/mês; Ko: multiplicador de preço unitário para captação (inferior a 1,0 e definido pelo Ceivap). Valor atual igual a 0,4 (definido pela Deliberação Ceivap no 08); K1: quociente entre o volume consumido e o volume captado pelo usuário (correspondente à parte do volume captado que não retorna ao manancial); K2: percentual do volume de efluentes tratados em relação ao volume total de efluentes produzidos; K3: eficiência de redução de DBO na estação de tratamento de efluentes; PPU: é o preço público unitário, em R$/m3. Valor atual igual a R$ 0,02/m3 (definido pela Deliberação Ceivap no 08). 135 Apresentada em parcelas separadamente, captação, consumo e lançamento, pode ser reescrita como segue: Valor (R$/mês) = Qcap x PPU x Ko + Qcap x PPU x K1 + Qcap x PPU x (1 – K1) x (1 – K2 x K3) Com base nessa fórmula de cobrança, a tabela 42 mostra comparativamente o impacto para as cinco situações do nosso estudo de caso, considerando-se uma remoção de 85% de DBO, enquanto a tabela 43 apresenta o retorno do capital em função dos valores após modificações. Tabela 42 - Estimativa do custo da cobrança pelo Ceivap Custo Arranjo Captação (m3/h) Efluente (m3/h) Captação (R$/mês) (%) 8.594 26,7 6.630 27,0 Consumo (R$/ mês) (%) 21.485 66,7 16.574 67,4 Lançamento (R$/ mês) (%) 2.117 6,6 1.380 5,6 Total (R$/ mês) 32.196 24.584 Atual 1492 980 1151 639 Reúso interno Reciclo 986 574 5.679 26,9 14.198 67,2 1.240 5,9 21.117 Baía 1865 1353 10.742 32,4 19.483 58,8 2.922 8,8 33.147 Iguaçu 1865 1353 10.742 32,4 19.483 58,8 2.922 8,8 33.147 ETE 1865 1353 0 0 0 0 2.922 100 2.922 Obs.: 1) Para efeito estimativo, considerou-se uma eficiência de 80% nas alternativas, baía, Iguaçu e ETE. 2) Sistema atual, reúso e reciclo, considerou-se todo volume captado como consumido devido transposição de bacia. Fonte: O próprio autor. Tabela 43 - Relação investimentos, custos Ceivap e tempo de retorno Arranjo Atual Reúso interno Reciclo Baía Iguaçu ETE Investimento estimado (MM R$) Custo médio Ceivap (R$/mês) 3,5 43,4 100,9(*) 100,9 - 32.196 24.584 21.117 33.147 33.147 2.922 (*) Tabela 33 (item 11 - item 10), considerando 2,9 R$/US$ Fonte: O próprio autor. Economia c/modificações (R$/mês) 7.612 11.079 - 951 - 951 29.274 Retorno (anos) 38,3 326 - 136 Na tabela 43, fica claro que do ponto de vista financeiro em se considerando exclusivamente a estimativa atual da cobrança pelo uso através do Ceivap, o retorno econômico somente seria possível teoricamente para os casos de reúso interno e regeneração com reciclo, e mesmo assim, num prazo excessivamente longo. 137 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Uma análise crítica dos resultados obtidos com as simulações para o estudo de caso montado para a Reduc permite-nos inferir algumas considerações extremamente importantes para a gestão industrial de recursos hídricos, considerações essas relativas aos investimentos necessários para atingirmos o produto final e os benefícios obtidos pela indústria e pela sociedade com as transformações estabelecidas. Em primeiro lugar, é preciso garantir a viabilidade técnica dos projetos no que concerne à qualidade do produto (água para abastecimento da refinaria) e depois ordenar segundo critérios de prioridades que estabeleçam a possibilidade de compará-los, tais como: custo de investimento, facilidades operacionais, atendimento legal, economia de recursos de operação e manutenção, ganho ambiental produzido, impacto na lucratividade do negócio, para citar alguns, e os quais consideramos os mais importantes no momento. A ponderação desses critérios deve ser estabelecida de acordo com o momento da análise, cabendo a quem tem o poder da decisão julgá-los em função dos planos estratégicos da instalação industrial. Ressalte-se, também, que a garantia de rentabilidade do negócio é o empreendimento como um todo, no qual o recurso hídrico são um dos componentes de viabilização. Com relação à viabilidade técnica das alternativas abordadas, podemos afirmar, por tudo que foi explanado ao longo do trabalho, que as tecnologias existentes atualmente possibilitam a transformação de quaisquer das fontes de água estabelecidas nas 5 alternativas examinadas (reúso interno, reciclo com regeneração, água salgada da baía de Guanabara, água salobra do rio Iguaçu e esgoto sanitário municipal) em recurso hídrico para aplicação na refinaria. As modernas tecnologias de membranas filtrantes complementadas pelas operações de polimento através de troca iônica garantem o mais alto nível de qualidade de água necessário para os processos exigidos na indústria do refino de petróleo. Portanto, esse critério é atendido plenamente. Não há dúvidas de que a indústria de tratamento de água está atravessando um importante momento, uma vez que a necessidade de aumentar a disponibilidade e a qualidade de água tem crescido muito em várias regiões do planeta. O custo da produção está caindo e a performance tem melhorado com uma produção cada vez mais eficiente. A qualidade de água produzida já não é um problema técnico. A principal luta ainda é o custo da produção que, embora em queda, ainda não atingiu níveis que possam ser praticada universalmente. Quanto aos investimentos necessários para cada uma das opções, observa-se um considerável emprego de recursos financeiros para atingir a qualidade de água desejada em 138 todas as alternativas apontadas. Dessas, um destaque especial para o caso de reúso interno que apresenta as condições mais atrativas financeiramente. No caso mostrado, em que foram aplicados tão somente princípios básicos de engenharia de processos, obtém-se uma economia média de cerca de 19% nos custos mensais com investimentos em tubulação para transporte do fluido e tratamento do lodo que somaram R$ 3,5 milhões. Por outro lado, a opção do reciclo através da regeneração do efluente final exigiria um capital estimado de R$ 43,4 milhões para construção de um sistema de tratamento para recuperação da qualidade da água, acrescentando às despesas mensais cerca de R$ 450 mil, o que corresponderia a 46,8 % de aumento nos custos atuais de tratamento. Ou seja, o custo final da primeira alternativa, reúso interno, é praticamente a metade da opção de reciclo. Os custos de investimento para as alternativas da baía de Guanabara e rio Iguaçu são equivalentes pela qualidade das águas e similaridade no processo de tratamento, diferindo apenas na quantidade (capacidade dos mananciais) possível de captação devido à restrição de vazão mínima do rio Iguaçu. Esse diferencial favorece a opção pela baía, por economia de escala. Considerando, portanto, o valor médio de R$ 1,10 por m3 de água permeada nesses processos, e substituindo os novos valores correspondentes na tabela 40, os custos mensais para o arranjo atual seriam elevados de R$ 962.348,00 para R$ 1.743.667,00, ou seja, um acréscimo de 81% nos custos de tratamento. Quanto à opção do aproveitamento dos esgotos municipais, os investimentos na construção da estação de tratamento poderiam até ser inferiores aos demais, entretanto, a distância da ETE de Vigário Geral implicando em desapropriações ao longo do trajeto e a instalação de tubulação para transporte por um trajeto em regiões densamente povoadas com consideráveis impactos ambientais, praticamente inviabiliza no momento essa opção perante as demais, razão pela qual não a contemplamos na avaliação econômica. Ainda com relação à opção pela ETE, entendemos que qualquer investimento nesse sentido somente seria justificável como ação sócio-ambiental uma vez que para um investimento com retorno de 10 anos (tempo considerado razoável para investimentos de porte), o custo do empreendimento, deveria atingir no máximo R$ 3.512.880,00, valor que não seria suficiente nem para instalação da tubulação de transporte. Para análise ambiental remetemo-nos às tabelas 24 a 30. Do ponto de vista do corpo receptor de efluentes da refinaria (Rio Iguaçu), não haverá ganho ambiental significativo com o reúso interno, haja vista que a redução de 341 m3/h no lançamento não tem correspondência na carga de lançamento. Na verdade, ao menor volume então a lançar, corresponderá a uma concentração maior de resíduos sólidos. A concentração 139 média de RNFT lançada pela refinaria no ano de 2001, por exemplo, foi de 27,8 ppm, conforme relatórios Procon/Feema. Com a vazão do rio nas proximidades da Reduc de 26,8 m3/s (96.480 m3/h) e de lançamento de efluentes correspondendo a 0,272 m3/s (980 m3/h), houve um acréscimo da ordem de 0,08% na concentração desses sólidos, se considerada a concentração média do rio de 25 ppm conforme registrado pela Feema na tabela 25. Esse percentual será mais elevado nas situações de vazão mínima do rio (2,58 m3/s) e terá efeito diluidor nas situações em que as concentrações ultrapassem 30 ppm como os apresentados na tabela 29. Em qualquer dos casos, tanto na concentração quanto na diluição, os valores de registro apontam para impactos ambientais, sejam positivos ou negativos, que podem ser considerados desprezíveis para efeito de mudança na qualidade do rio relativo a esse parâmetro. Nesse caso, o benefício ambiental é auferido pelo rio Guandu que mantém em seu leito 341 m3/h de água “outorgáveis” para outros usos. Com a opção do reciclo, tem-se na prática a mesma condição de impactos ambientais para o rio Iguaçu, enquanto o beneficio para o rio Guandu é aumentado para 406 m3/h de água disponibilizada para outros usos. A utilização da água da baía de Guanabara potencializa os ganhos ambientais para os rios Guandu e Saracuruna uma vez que, em tese, não mais haveria necessidade de captação desses mananciais. O rio Iguaçu, entretanto, poderia receber uma carga adicional de cloretos com considerável aumento de sólidos dissolvidos e sofrer alterações de qualidade no ponto de lançamento de efluentes. Ainda assim, num balanço geral esse cenário é positivo pela maior importância dos rios Saracuruna e Guandu no abastecimento público, ao passo que não há expectativa da utilização do rio Iguaçu para tal finalidade na área de influência da refinaria. Em relação aos impactos advindos da Política Nacional de Recursos Hídricos e seus desdobramentos, percebe-se a necessidade de um envolvimento estreito da atividade industrial junto aos formuladores das políticas e/ou critérios de uso. A descentralização do gerenciamento dos recursos hídricos possibilita uma participação ativa através dos Comitês de Bacia que não pode ser negligenciada. Têm que partir do meio industrial iniciativas que busquem aprimoramento das tecnologias que permitam o uso múltiplo da água, que preservem as quantidades e qualidade para as próximas gerações, cabendo-lhes, portanto, a responsabilidade também, pela elaboração de políticas internas que promovam a otimização contínua do uso da água nos processos produtivos e garantam o desenvolvimento sustentável. A cobrança estabelecida pelo Comitê de Bacia do Paraíba do Sul é de natureza quase que absolutamente quantitativa, o que acaba nivelando todos os segmentos industriais. Na prática, não há distinção entre as indústrias mais ou menos poluidoras, indústrias que utilizam 140 água como veículo de produção e indústrias que a utilizam como matéria prima incorporandoa ao produto e, portanto, “revendendo” o recurso. Na fórmula que estabelece o valor final, tem-se o quociente correspondente à parte do volume captado que não retorna ao manancial. Se tomarmos como exemplo uma refinaria de petróleo e uma cervejaria, a água captada na refinaria que não retorna ao manancial é aquela evaporada nas torres de resfriamento, enquanto que na cervejaria é parte integrante do produto e componente do preço final. A taxa cobrada é a mesma. No lançamento também ocorre esse nivelamento. O fator considerado qualitativo é a eficiência da redução de DBO do sistema de tratamento, ou seja, não há nenhuma relação de fato com a qualidade do corpo receptor. Com essa análise simples, podemos deduzir que o mecanismo adotado atualmente é somente o “pontapé inicial” e, ao longo do tempo os ajustes virão para correção dessas “distorções”. Os processos evoluirão gradativamente conforme tem ocorrido em países cujo sistema de cobrança foi implantado há mais tempo. Na França, por exemplo, a cobrança tem sido implementada de forma gradual com filosofia que prevalece a qualidade. No sistema francês, conforme destacado por Seroa da Motta (1998), a cobrança pela poluição inicialmente se baseava em matérias orgânicas e em suspensão. A salinidade e a toxicidade foram introduzidas em 1973 e 1974, nitrogênio e fósforo em 1982, enquanto hidrocarbonetos e materiais inorgânicos em 1992; portanto, o custo mensal registrado na simulação para pagamento da Reduc tende a evoluir no sentido da qualidade do efluente, o que justifica o empenho na pesquisa e na adoção de mecanismos que minimizem a captação de água, o lançamento de efluentes e aumente a eficiência dos tratamentos. 141 5. CONCLUSÃO E SUGESTÕES A pesquisa realizada permitiu identificar um grande desenvolvimento em tecnologias de tratamento de águas servidas nos últimos anos, motivado pela escassez e/ou mau uso dos recursos hídricos em algumas regiões. A utilização de membranas filtrantes para tratamento de água de abastecimento é uma tendência nas refinarias brasileiras e tem demonstrado que sua aplicabilidade em escala cada vez maior está gradativamente substituindo os processos convencionais de tratamento. Partindo de levantamento de investimentos anteriores, o trabalho possibilitou o desenvolvimento de uma metodologia para estimar diferentes arranjos de sistemas de reúso em refinarias. O estudo de caso abordado indicou que o reúso interno de água na refinaria de petróleo de Duque de Caxias é a opção mais atrativa financeiramente e que tem potencial para melhorias com o desenvolvimento de metodologias de integração de processos como Water Pinch. A regeneração com reciclo acaba ficando mais dispendioso tanto pelo maior investimento quanto pelo acréscimo de efluentes transformados em carga para a Estação de Tratamento de Despejos Industriais (ETDI). Ecologicamente, a alternativa de utilização de água da Baía de Guanabara para abastecimento de água industrial é o de menor efeito na Bacia Hidrográfica na qual a Reduc está inserida, entretanto os custos de investimento e sua importância política, inviabilizam sua aplicação no momento. A alternativa de captação de água no rio Iguaçu tem as seguintes vantagens e desvantagens em relação ao rio Guandu: a) Vantagens: − Captação mais próxima do ponto de consumo. − Operação por empregados próprios. − Monitoramento 24 horas com operação independente de terceiros. − Menores custos de operação e manutenção do sistema de captação. − Lançamento a montante da captação eliminando a transposição do Guandú. 142 b) Desvantagens: − Regime de captação intermitente em função da maré, com penetração da cunha salina. − Alterações bruscas na qualidade da água com aumento da salinidade em marés baixas e de matéria orgânica em período chuvoso. − Vazão ecológica baixa dificultando a obtenção de outorga em volume que atenda totalmente as necessidades da refinaria. Com relação exclusivamente aos custos adicionais pelo cumprimento da Deliberação CEIVAP no 8 de 06/12/2001, simulados na tabela 43, e, comparados com os valores totais mensais das três alternativas da tabela 38, verifica-se que haverá uma redução de R$ 7.612,00 na tributação caso seja adotado o reúso interno. Se adotado o reciclo, essa redução será de R$ 11.079,00. Sendo os investimentos para tais alternativas de R$ 3,5 milhões e R$ 43,4 milhões, respectivamente, os valores diminuídos não motivam a adoção de programas de investimentos para minimização dos recursos hídricos pelo longo tempo de retorno do capital. Portanto, o mecanismo da cobrança é um incentivo à redução de captação da água e ao uso racional, entretanto, isoladamente, não justifica ainda investimentos em reúso. A utilização de esgotos municipais tratados é uma boa alternativa para sistemas novos sob o ponto de vista ecológico e legal. Sua adoção dispensa a necessidade de outorga de captação e constitui exemplo para empresas socialmente responsáveis. O estudo possibilitou identificar também a necessidade de manterem-se dados atualizados, referentes à qualidade e quantidade de recursos hídricos disponíveis para as instalações da Petrobras de maneira a acompanhar a evolução de suas transformações em toda a extensão de sua influência. Analisando as opções de uso dos recursos hídricos abordadas no trabalho, o quadro 5 resume algumas conclusões segundo os critérios financeiros e sócio-ambientais. 143 Alternativa Reúso interno Reciclo Rio Iguaçu Baía de Guanabara ETE municipal Critério Financeiro Critério sócio-ambiental Menor custo de investimento com economia mensal de 18,6% dos custos atuais Custo de investimento alto e elevação dos custos mensais em 49% dos custos atuais Investimento muito alto com custos mensais equivalentes ao reciclo Investimento altíssimo com custos mensais elevados pela disposição da salmoura Menor ganho com redução de 23% na vazão de água captada e 35% no volume descartado. Maior ganho na redução de 34% na captação e 41,4% no lançamento. Redução na captação de água mais nobre. Investimento altíssimo com custos mensais mais altos que os atuais Eliminação da captação de água mais nobre, elevação da vazão ecológica do corpo receptor e eliminação de transposição Eliminação da captação de água mais nobre, elevação da vazão ecológica ou descarga zero com retorno para ETE. Quadro 5 - Comparação das alternativas ao sistema atual Fonte: O próprio autor. A dificuldade em se definir a alternativa mais adequada para um projeto de natureza ambiental como o reúso em refinarias, fica caracterizada não apenas pela diversidade dos itens de julgamento, mas principalmente pela qualidade e quantidade dos dados disponibilizados e pelo caráter subjetivo da avaliação do dano e/ou ganho ambiental, ou ainda, pelo ganho ou perda de imagem da empresa, o que induz à necessidade do prosseguimento de estudos e pesquisas que possibilitem a criação de uma matriz de decisão, segundo critérios que integrem os itens de julgamento aqui referenciados. Portanto, considera-se pertinente que algumas sugestões sejam apreciadas de forma a se construir uma massa de dados que complemente a nível nacional, o estudo ora apresentado. Prioritariamente, sugere-se: − a elaboração de planos de ação ambiental que contemplem a monitoração da qualidade dos recursos hídricos da bacia hidrográfica na qual a instalação está inserida; − a busca permanente do estreitamento do relacionamento técnico com os órgãos públicos de gerenciamento dos recursos hídricos, de forma a buscar soluções conjuntas para atendimento aos diversos interesses de uso da água; − que, como indutora e formadora de opinião junto aos diversos segmentos industriais, a Companhia crie mecanismos que incentivem as empresas prestadoras 144 de serviços e fornecedores de materiais a adotar práticas de preservação dos recursos hídricos como instrumento do desenvolvimento sustentável; − que sejam estabelecidas parcerias com universidades e centros de reconhecida competência científica para a elaboração de planos estratégicos de preservação dos recursos naturais na área de influência das refinarias de petróleo e busca de tecnologias na área de tratamento de água e efluentes. 145 6. 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