A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA: ELEMENTOS PARA UMA ANÁLISE George Pimentel Fernandes Das minhas ações desenvolvidas na Universidade Regional do Cariri-URCA, tem sido marcante a atuação no processo de formação do professorado. Desde 1994, tenho tido a oportunidade de refletir o ensino da matemática. Diante da heterogeneidade de experiências, um aspecto tem sido comum: o meu empenho de oferecer o melhor serviço para a comunidade. No Estado do Ceará tem sido notório a investida que acontece na capacitação de professores. Em consonância com um projeto estadual a URCA tem desempenhado ações na região sul do Ceará – Cariri – nos três níveis: Ensino-Pesquisa-Extensão. Nesses sete anos de dedicação, tenho tido a oportunidade de atuar em todos os três níveis. Sem dúvida, a análise sobre as mudanças educacionais no Estado do Ceará pode beneficiar a compreensão daquilo que supostamente é denominado de mudanças. Mas, não é objetivo deste trabalho analisar diretamente essas políticas. Todavia, temos ciência da impossibilidade de total segregação deste tema. Daí a razão de voltar a minha atenção para a voz do professorado do ensino público, colegas para quem tenho trabalhado. Aqui, o “corte no conhecimento” será feito a partir da Educação Matemática. Tenho observado que os cursos destinados a capacitar os professores da Educação Básica, tem a perspectiva de melhorar a qualidade do ensino de matemática. Dois argumentos podem ser os motivadores para a execução dos cursos: primeiro, os dados estatísticos das avaliações feitas pelo MEC (SAEB), que revelam o baixo desempenho dos alunos na prova de matemática; segundo, a tentativa de exterminar a fobia pela matemática. Acrescenta-se, ainda, dois aspectos que deveriam ser inclusos no processo avaliativo: o envolvimento/compromisso do professor-formador no processo de formação do professor-aluno e as soluções mirabolantes. Não raro, nestes cursos, acontece num pragmatismo1 exacerbado, fazendo parecer que a leitura (a fundamentação teórica) é coisa para dinossauro (obsoleta). As propostas de revolucionar o ensino de matemática, às vezes, entram em contradição: de um lado, o desconhecimento do processo de produção do conhecimento matemático, concebendo-o essencialmente como uma lógica formal e, do outro lado, uma exagerada valorização do conhecimento que o educando apresenta. Assim, os professores (professor-formador e professor-cursista) tornam-se presas (embora, insistentemente neguem através do simples discurso) do sistema capitalista e, romaticamente passam a desenvolver um sentimento de que estão “contribuindo para o progresso social”. Os cursos destinados aos professores em serviço – a “(de)formação com diproma” – precisam de uma análise do tipo: a quem e como interessa o curso? Qual é a relação quantitativa entre o valor economicamente investido e a produção textual? O trabalho pedagógico – após a conclusão do curso – tem extrapolado a cotidianidade? É óbvio que outras questões podem e devem ser analisadas. Entretanto, aqui, essas questões tornam-se oportunas para um “despertar introdutório”, ou seja, para que possibilite um questionamento do trato que é dado ao conhecimento matemático. Em outras palavras, é inadmissível o isolamento social, onde a matemática é analisada “fora do sistema solar”. Assim, no decorrer deste texto o leitor perceberá uma relevante pretensão de contribuir para o debate, referente ao educador que lida com a matemática. Em termos específicos os elementos, aqui apresentados, resultam da generalização daquilo que vem ocorrendo nos curso de formação de professores: a preocupação com a realidade do aluno, a aprendizagem a partir do uso de material concreto e a definição daquilo que deve ser ministrado. Esses aspectos ajudarão, (in)diretamente, na análise dos problemas referentes à formação do professor. 1 Nesta mesma perspectiva é relativamente fácil encontrar publicações que constituem os “ receituários pedagógicos”: mostram dezenas de atividades, do tipo, como arrochar o parafuso. 1. A DOR DO PARTO No contato com os diferentes colegas do magistério, tenho tido a oportunidade de ouvir alguns relatos que demonstram uma grande preocupação com a aprendizagem. Quase sempre esses colegas buscam – nos mais distintos cursos – uma receita que indicará, definitivamente, como deve ser tratado o conhecimento matemático. Na caracterização desta receita é indicado a REALIDADE do educando e o contato com o recurso pedagógico (material concreto). De onde vem o ardente desejo de receber um receituário? Na busca desta resposta é oportuno evitar o empurra-empurra; pois, se assim for feito, o culpado termina sendo o espermatozóide que um dia encontrou o óvulo. Na história da educação brasileira, a concepção metafísica exerce fortes influências, permeando as várias tentativas de mudanças. Nestas tem prevalecido à transposição de propostas/projetos prontos. No presente, resta a crítica aos gestores, com seus discursos revolucionários que esbarram na árdua jornada de trabalho do professor ou no “salário atômico”. Acrescento outra crítica aos critérios de escolha dos colegas que ministram os cursos para a formação de professores. Neste momento, não tenho qualquer intenção de criticar a mudança de referencial teórico2, mas sim, a ausência de uma definição político-filosófica. Diante do acima exposto, retornemos a refletir a convivência com os mais distintos professores que lidam com o conhecimento matemático. Certamente uma questão que daria “panos para as mangas” seria a definição da propagada realidade do educando. Possivelmente a problemática aumentaria se fosse feita qualquer indagação sobre o tipo de educando que a mesma pressupõe formar. Este aspecto conceitual extrapola o âmbito da neutralidade epistemológica e chega ao campo ideológico. Infelizmente a “boa vontade” dos projetos de exploração do homem, pelo homem, tem conduzido a ações que nem sempre são compreendidas. Toda a explicação a respeito do trato com a matemática tem sido conduzida para o campo da metodologia. Esta, calcada na psicologia, aparece como a rainha das soluções pedagógicas. E a metodologia, propriamente dita, com sinônimo de TÉCNICA DE ENSINO. Tudo isso aumenta a “dor do parto”! Em outras palavras, a propagada expressão freireana LEITURA DO MUNDO tem sido substituída por MÉTODO. E o “mundo” é definido pelo sensorial. Extrapolar essa diminuta visão é, supostamente, trabalhar fora da realidade. “A dificuldade de apreensão de qualquer dado da realidade humana não está em se pesquisar um fato particular, mas na tentativa de explicá-lo apenas pelas relações internas a esse mesmo universo particular. A dificuldade resulta do fato de, nessa análise, se abstrair o conjunto das relações efetivamente constituidoras dos próprios elementos pesquisados e que, embora possam manifestar-se no interior desse campo mais restrito, não têm nele a sua origem” (KLEIN, 1996, p.49) A abstração dos diversos aspectos que caracterizam um dado objeto de estudo tem resultado em encaminhamentos que demonstram o desconhecimento das condições de trabalho do professorado. 2. NA VIDA UMA MATEMÁTICA, NA ESCOLA OUTRA MATEMÁTICA? Em cursos onde é considerado conhecimento matemático tem sido freqüente o uso de “material concreto” para facilitar a aprendizagem dos educandos. A idéia central é representar, nas aulas de aulas de matemática aquilo que é conhecido do educando. Permeia a idéia de um conhecimento popular que promove o sucesso fora da escola, para quem trabalha nos logradouros: na rua o “educando” é nota DEZ; entretanto, esse mesmo educando passa a ter nota ZERO quando ingressa na escola. É de fato um tanto superficial – daí, a concepção de que a realidade implica naquilo que é possível manipular – essa avaliação. 2 A pesquisa de FREITAS (1994) mostra a absorção de Vygotsky e Bakthin no Brasil. Nos diversos depoimentos tornase perceptível que, anteriormente os professores entrevistados fundamentavam os seus trabalhos em outros teóricos. Um aspecto óbvio precisa ser considerado: a função social da escola. Segundo a professora Betty Oliveira, a escola “(...) é o local por excelência para o desenvolvimento do processo de transmissão-assimilação do conhecimento elaborado” (OLIVEIRA, 1992, p.92). Diante da utilização do espaço escolar para outras finalidades a mesma professora acrescenta: “Luta-se pela existência da escola, mas não se percebe que, ao não se concretizar a sua função precípua – a democratização do saber escolar – se “desescolariza” os educandos dentro da própria escola” (Id.p.93). Hodiernamente fala-se em matemáticas (no plural). Assim, torna-se oportuno a questão: que matemática deve ser transmitida-assimilada no ambiente escolar? No sentido de contrapor este espaço, retornemos ao citado conhecimento popular, considerando a matemática que os trabalhadores apresentam: carpinteiro, vendedor, pedreiro, agricultor, etc. Ao definir o trabalho que um garoto desenvolve no logradouro, tento apresenta alguns elementos que possibilite o diálogo sobre o que deve ser ensinado. Inicialmente é oportuna a pergunta: o garoto que trabalha tem uma matemática? Existe uma relação entre a matemática e a realidade? Ao estabelecer uma analogia entre os dois ambientes – a rua e a escola – torna-se perceptível que as condições de exigências são distintas. Na escola, o conhecimento matemático é exigido segundo uma ordem e as motivações servem para reforçar aquilo que já se encontra “definido” no currículo escolar. Em contraposição, “O local de trabalho – a rua – exige sempre, acertos nas operações. E as crianças estão cônscias que errar significa perder dinheiro. Torna claro para ela o significado real do seu erro; assim evita de todas as maneiras. Para isso passa a” manipular “os números representados no dinheiro, nas quatro operações utilizadas. Sendo que a freqüência com que o trabalho exige é diferente. Isso faz com que os resultados desejados, em determinadas situações, sejam obtidos com certa facilidade” (FERNANDES, 1998, p. 174). Do exposto acima destaco três aspectos que merecem uma reflexão nos cursos para professores: 1o.() A QUESTÃO DO ERRO NA MATEMÁTICA. Aquilo que é tido como conhecimento popular não admite o erro. Nas situações de trabalho, onde o trabalhador tem que recorrer a qualquer aspecto da matemática, o erro gera conseqüências. Assim, para uma criança que vende picolé e que utiliza algumas operações aritméticas, o erro significa prejuízo, deixar de almoçar, ser espancado, etc. Aqui a criatividade é condição sine qua non para a sobrevivência. Certamente essa situação diferente, daquela que acontece no espaço escolar, onde o erro é tratado como parte do processo de aprendizagem. 2O.)”MANIPULAR” OS NÚMEROS. A transposição de informações oriundas dos logradouros para a sala de aula, tem influenciado a produção de “recursos pedagógicos” (material concreto), gerando a concepção de que existe uma estreita relação entre o contato com um dado objeto e a aprendizagem. Todavia, “A ênfase na manipulação, na verdade, trai a crença de que a criança” “pensa pelas mãos”, ou seja, é incapaz de pensar sem estar posta fisicamente diante do objeto estudado. É evidente que o uso de material e recursos diversos, para que o aluno entenda o que o professor está dizendo, é perfeitamente desejável. Priorizar, no entanto, os artifícios de estratégias de ensino, em detrimento do conteúdo, é de fato lamentável. E, efetivamente, não há como não empobrecer o conteúdo, destinando-se tanto tempo a tais experiências” (KLEIN, 1996, p. 74,5). Não se trata aqui de criticar o uso dos “recursos .pedagógicos”. É oportuno considerar a especificidade dos assuntos e definir, qualquer recurso, segundo o fim proposto. Considere o assunto, as operações com radicais de índices iguais/diferentes. É possível que seja consensual, que o referido assunto deve ser tratado na Educação Básica; mas, como apresentar o referido assunto, considerando a realidade do aluno e o contato físico com o recurso pedagógico adotado? Oportunamente, pode surgir um recurso que atenda aos dois critérios previamente estabelecidos, mas, não constitui uma garantia de que ocorrerá a aprendizagem, visto que, “(...) o objeto de conhecimento não existe fora de relações humanas”(Id. p.94). Isso significa que a simples manipulação do objeto é insuficiente para substituir a relação sujeito-sujeito. O uso de um dado recurso pedagógico – o objeto – caracteriza apenas a relação do tipo sujeito-objeto. O contato material que acontece nos logradouro é extremamente limitado e caracteriza-se como uma relação do tipo sujeito-objeto, onde é imposta segundo o interesse do homem. Assim, se em determinado momento é atribuído outra função para um objeto, então, ocorre uma nova caracterização deste objeto. Essa situação pode ser exemplificada com a brincadeira do cavalo de cabo de vassoura. A função inicial é varrer; para nova função é imposta – dento das condições materiais possíveis – a materialização de um animal. Quando o objeto decorre da relação sujeito-sujeito, o mesmo passa a ser usado segundo o interesse da própria relação. É a compreensão conceitual o grande fim da utilização de um recurso qualquer. Conseqüentemente, esse objeto assume um irrelevante papel, no processo de aprendizagem, diante do ato de internalização conceitual. 3O.)A EXIGÊNCIA DA MATEMÁTICA. A produção do conhecimento é decorrente da própria relação que o homem mantém com as mais distintas condições humana/materiais. Obviamente que são as condições que o homem mantém, em determinado momento histórico que propicia a elaboração de novas idéias. Estas não precisam de um ambiente especializado, como um laboratório, para nascerem. Mas, certamente requerem a percepção e o estabelecimento de interligações daquilo que existe, para que o homem possa explicar ou extrapolar a própria existência. Isso significa que o trato com o conhecimento já produzido é indispensável. Uma condição que certamente influencia a produção do conhecimento matemática é a necessidade de atender as exigências do próprio conhecimento. Isso é perceptível em uma análise histórica do conhecimento onde se percebe que a matemática trabalhada na escola é fruto de uma série de erros-e-acertos. O que é produzido em determinado momento é satisfatório momentaneamente. A produção do conhecimento é constante, ou seja, uma vez resolvido determinado problema, surgem outros... No percurso histórico da matemática é possível identificar “matemáticos” desenvolveram suas idéias sem qualquer preocupação com a praticidade – aqui faço referência a cotidianidade. Será que isso define uma produção introspectiva? Toda a produção/aprendizagem tem um momento que permeia a mente daquele que busca o atendimento de uma dada necessidade. Mas, isso não elimina outros contatos, por exemplo, com os livros. Acima considerei a exigência da matemática segundo a necessidade do próprio conhecimento. Trata-se de uma exigência epistemológica. Outra exigência, pode ser decorrente do próprio trabalho, como atividade mantenedora do homem. Neste caso, a exigência da matemática acontece no campo do empirismo, ou seja, uma matemática que visa ao atendimento das necessidades imediatas. Neste tipo de exigência não existe motivo para qualquer análise do conhecimento. Assim, o processo de transmissão não exige recursos e espaço adequado, simplesmente o mais velho/experiente transmite para um novato. Com um certo tempo, este passa a repetir; mas, sem qualquer perspectiva de ocorrer novas produções do conhecimento decorrente do assunto inicial. Até por que, o conhecimento inicial atende as necessidades. Seria essa uma nova matemática? Considere a situação de uma pessoa que vigia carros nas vias públicas. Que tipo de conhecimento matemático é exigido? Aqui, um pesquisador com uma boa capacidade imaginativa, poderia estabelecer uma série de analogia: a aplicação do conceito de limite no deslocamento dos carros, o cálculo de área, a relação biunívoca entre o material de limpeza e o número de carros, etc. Mas, esses conhecimentos não constituem a condição vital para o vigiar se manter neste tipo de trabalho. Então, que matemática é indispensável para o exercício deste tipo de trabalho? Algumas ‘CONTAS’ no momento de uma compra ou quando tiver que passar um troco. “Na verdade, trata-se de uma reprodução do conhecimento já obtido pela humanidade. Não há aí a geração de algo, a penas a reprodução sob diferentes matizes, daquilo que o gênero humano verdadeiramente já produziu” (GIARDENETTO, 1999, p. 112). Esse conhecimento é determinado pela “lógica prático-utilitária”: “as respostas que o indivíduo foi obrigado a dar para aquelas atividades não “vieram de dentro” como parece mas são aquelas que ele obrigatoriamente terá que dar, custe o que custar, sem o que não permanecerá no trabalho” (Id. p. 65). Repito: é possível falar em uma matemática para o caso do vigia de carros? O conhecimento matemático exigido neste tipo de trabalho reflete aquilo que foi, historicamente, produzido pelo homem, o sistema decimal. Assim, a mudança dialetal3 não assegura a existência de “outro sistema decimal”. Outro aspecto que serve para uma análise refere-se ao número reduzido de algoritmos, tornando-os gradativamente em ações mecânicas. A busca de uma teorização que fundamente a práxis do professor de matemática deve incluir, entre outros aspectos, os três acima citados. No caso do ERRO é oportuno analisa-lo como uma diferenciação que ocorre entre a “matemática escolar” e a “matemática popular”. Considere, por exemplo o cálculo de uma área representada por um quadrilátero, onde os quatro lados têm medidas desiguais. Para um agricultor o processo de obtenção da área é distinto daquele usado por um matemático. Ambos, obtêm com “exatidão”; entretanto, pode existir diferença no produto. Imediatamente vem a mente a idéia de erro. É preciso que fique definido o meu fim. Se momentaneamente interessa a exatidão, necessariamente, é oportuno a obtenção do cálculo feito pelo matemático. Neste caso trata-se de uma definição por um conhecimento elaborado/analisado ao longo da história secular e que, teve uma continuidade a ponto de chegar ao momento atual. É importante excluir o romantismo que não possibilita que o educando extrapole a cotidianidade. A validação daquilo que é exclusivo ao agricultor depende essencial daquele meio. Por essa razão, torna-se indispensável, considerar na escola aquele conhecimento historicamente produzido. O que não impede que seja estabelecida uma analogia entre aquilo que é peculiar de uma dada região e o conhecimento historicamente produzido. 2. UM CONVITE PARA A REFLEXÃO Com a finalidade de apresentar algumas considerações que proporcionem uma reflexão sobre a EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, apresento algumas questões; entretanto, antecipo com um rápido relato histórico sobre o estudo do limite. Trata-se de um assunto imprescindível em um curso de graduação em matemática. Com uma certa freqüência a preocupação dos professores-formadores com a REALIDADE DO ALUNO e o uso de MATERIAL CONCRETO limita-se ao Ensino Fundamental. Será que os demais educandos não são merecedores destas inovações no ensino da matemática? Com a finalidade de contribuir para essa questão é que apresento um assunto que extrapola o âmbito da Educação Básica: Elementos Históricos do Limite (BOYER, EVES): 3 Ao analisar a linguagem científica e a cotidiana, MORTIMER, define para a primeira “uma reflexão consciente no seu uso, e aproxima-se muito mais da linguagem escrita”. No uso do segundo tipo de linguagem ”As pessoas não têm necessidade de estarem refletindo a todo o momento sobre o que vão dizer (1998, p.103). Para o discípulo de Platão, Eudoxo de Cnido (408-355?a.C.) um problema servia de estímulo para a produção: a comparação de configurações curvas e retilíneas. A busca de soluções resultou no método de exaustão (correspondente grego para o que hoje é denominado de cálculo integral). Arquimedes (287-212 a.C.) ao mostrar a diferença entre os volumes das figuras circunscritas e inscrita torna nítida a diferença entre a sua produção e o hodierno conhecimento sobre cálculo integra. Isso foi decorrente do total desconhecimento do conceito de limite de função. No século XVII, Pierre de Fermat escreve o “Método para achar máximos e mínimos” (1629), semelhante ao que é usado atualmente no Cálculo. Entretanto, ainda faltava um conceito, o de LIMITE. No mesmo século, Isaac Newton apresenta uma concepção de limite de uma função, em sua obra “Philosophiae naturalis princiia mathematica”(1687). Outro conceito, foi proposto por Joan Lê Rond d’Alembert (século XVIII). Este, como não foi apresentado em uma linguagem que possibilitasse uma continuidade, “caiu em desuso”. No mesmo período surge a “função derivada” de Joseph Louis Lagrange que constitui uma tentativa de eliminar a necessidade de limites. Isso aconteceu por não ser dado o devido valor a questão da convergência e da divergência. Na década de 20 do século XIX, o professor da École Polytechnique, Augustin-Louis Cauchy trabalha com o conceito proposto por d’Alembert, apresentando uma concepção que resguarda com precisão o conceito de limite. No mesmo século o alemão Karl Weierstrass atribui uma nova linguagem para esse conceito. E este chega aos livros que são adotados nos cursos de graduação. A criação do cálculo por Newton e Leibniz, final do século XVII, gerou sucessores que deram continuidade. Aqui, destacamos àqueles que negligenciaram nas suas investidas e chegaram a justificar suas demonstrações a partir dos resultados. Posteriormente, Cauchy apresentou o método dos limites, pondo fim a uma situação forjada. Por fim, Weierstrass (e colaboradores) consolidaram o cálculo com a aritmetização da análise. Diante do histórico exposto torna-se oportuno uma parada para um pensar: 1o) que relação existe entre a realidade e o estudo do limite? 2o) Para que serve um conhecimento que, supostamente, não tem como ser aplicado? Para que serve um conhecimento se, ao olhos do aluno, ele não guarda quaisquer relação com sua realidade concreta? 3o)a matemática, a ser difundida na instituição educacional, deve ter um vinculo com o conhecimento popular ou com o conhecimento dos compêndios de matemática? 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS O processo de formação do professor no Ceará não difere muito do que vem ocorrendo em outros estados. O grande desafio é lutar por melhores condições de trabalho; isso certamente envolve um horário definido de estudo e a participação do professorado em curso que façam uma análise crítica da política educacional. O trato com o conhecimento matemático, nos mais distintos cursos, tem se caracterizado pela ausência de uma análise que considere as condições de trabalho. Considerar a realidade do aluno, nas aulas de matemática, não significa apenas usar “material concreto”. É oportuno que as aulas extrapolem a cotidianidade. Para isso pode ser feita uma analogia com uma dada situação vinculada ao mundo do trabalho. Mas, nunca a aula de matemática deve limitar-se ao conhecimento do vendedor, agricultor, etc. BIBLIOGRAFIA BOYER, C. B. História da Matemática. São Paulo : Edgard Blücher, 1974. EVES, H. introdução à História da Matemática. Campinas, SP : Editora da UNICAMP, 1997. FERNANDES, G. P. A relação entre o trabalho infantil e a aprendizagem das quatro operações matemmática. In: Encontro de Pesquisa Educacional do Nordeste: Educação Matemática, Natal, 17 a 20 de junho de 1997; John A. Fossa (org.). – Natal : EDUFRN, 1998. GIARDINETTO, J.R.B. Matemática escolar e matemática da vida cotidiana. Campinas, SP : Autores Associados, 1999. KLEIN, L. R. Alfabetização: quem tem medo de ensinar? São Paulo : Cortez, 1996. OLIVEIRA, B.A. (Org.) Socialização do saber escolar. São Paulo : Cortez, 1992.