Primeiros Japoneses que Desembarcaram no Brasil
Fragmentos históricos
No final do século XVIII, mais precisamente no ano de 1793, o veleiro japonês de nome Wakamiyamaru, cuja tripulação era composta por dezesseis homens, oriundos das cidades de Ishinomaki, Shiogama e
Higashimatsushima situadas na antiga província de Mutsu, partiu de Ishinomaki em direção a capital Edo
(Tóquio), com uma carga de arroz, madeira, corda e âncoras.
Durante a viagem, na altura de Shioyazaki (província de Iwaki) foram apanhados por um tufão, e para
não serem levados a pique, ou arremessados contra a costa, foram obrigados a baixar o mastro e jogar quase
toda a carga no mar. Afastado o perigo e com a calma voltando após a tormenta e com problemas no leme,
por cinco meses vagaram pelo Pacífico Norte até que a duras penas, conseguiram alcançar uma das ilhas do
arquipélago das Aleutas. Nos primeiros dias no local, o capitão Heibei que havia adoecido ainda no mar, pela
ingestão de água contaminada faleceu. Apesar de abatidos pela perda de seu comandante, os homens do
Wakamiya-maru conseguiram recuperar a auto-estima estimulados pela atenção, e a camaradagem
proporcionada pelos nativos que habitavam o lugar.
Passado um tempo surgiram na ilha, soldados e caçadores russos que levaram os quinze japoneses
para a guarnição da ilha Unalaska.
Quase um ano havia passado para os japoneses, quando o comandante do local resolveu antecipar a
estadia de sua guarnição na região que era de dois anos, embarcando com os soldados e os japoneses a bordo
do veleiro que tinha disponível, e juntos viajaram para a península Kamtchatka e dali para Okhotsk, onde os
japoneses foram estimulados em buscar trabalho e um lugar para se fixarem, mas nem todos conseguiram
algo. No ano de 1795 alguns foram levados por autoridades russas para Irkustk.
No ano de 1796 os japoneses que haviam ficado para trás foram encaminhados em direção a Irkustk ,
e durante a passagem por Yakutsk faleceu o marinheiro Ichigorou.
Finalmente no ano de 1797 em Irkustk, os catorze japoneses restantes, ajudados pelas autoridades
locais receberam ajuda de custo para se manterem por algum tempo. Como o dinheiro era pouco, precisaram
fazer bicos (qualquer tipo de trabalho), e entre eles, serviços gerais em uma sauna, pesca no rio Angara e no
lago Baikal. Um deles, o marinheiro Zenroku passou a dar aulas de japonês, mas o que lhes rendeu um bom
dinheiro, foi o fabrico de vinho a partir do arroz.
No ano de 1799, o mestre do Wakamiya-maru que se chamava Kichiroji faleceu e então, o grupo
ficou reduzido a treze pessoas.
Em clima de amizade e cooperação com os locais, a vida para os japoneses seguia normalmente
quando no dia 1ª de março de 1803, foram subitamente convocados pela administração da cidade de Irkustk
a qual lhes informou o seguinte: “Nosso Imperador Alexandre I”, através do seu mensageiro ontem nos pediu
que os enviemos a São Petersburgo. É o desejo do Imperador realizar acordo comercial com o Japão. Como
muitos de vocês pretendem voltar para casa, é provável que sejam embarcados em um navio militar.
No dia 27 abril de 1803 dos treze japoneses que partiram de Irkutsk, mas somente dez chegaram a São
Petersburgo, o timoneiro Sadayu, e os marinheiros Seizou e Ginzaburou não agüentaram o rigor da viagem e
ficaram pelo caminho. Mais tarde retornaram para Irkutsk.
Na manhã de 16 de maio, em clima de amizade, os japoneses foram recebidos pelo Czar Alexandre I.
Durante a audiência, o imperador perguntou para o grupo se desejavam voltar para o Japão. Somente
Tsudayu, Gihei, Sahei e Tajyuro deram um passo a frente.
No dia 7 de agosto de 1803 a bordo das corvetas Nadiezhda e Neva, partiram do porto de Kronstadt,
dando início assim a 1ª viagem de circunavegação russa. O mesmo estava ocorrendo para com os japoneses
Tsudayu, Gihei, Sahei, Tajyuro a bordo do Nadiezhda. Zenroku que fora convertido ao cristianismo também
embarcou como interprete do embaixador Nicolai Petrovich Rezanov.
A expedição tinha como propósito reabastecer as colônias americanas, cartografar todas as regiões
que faziam parte da rota traçada, e atar relações diplomáticas com o Japão.
Parte da rota da expedição, exigiu passagem pela Dinamarca, Inglaterra e Ilhas Canárias.
No final da tarde do dia 21 de dezembro de 1803, o Nadiezhda lançou âncoras próximo a Fortaleza
Santa Cruz da Ilha do Ainhatomirim.
Na capitania de Santa Catarina, pela manhã do dia 22 de dezembro de 1803, botes desembarcados dos
navios russos Nadiezhda e Neva que haviam ancorado na tarde anterior junto ao Forte Santa Cruz, dirigiramse rumo à Vila Nossa Senhora do Desterro.
No Forte de Santana, de sobreaviso, a guarnição sob o comando de Antônio da Gama (descendia do
célebre Vasco da Gama), acompanhou em parte as remadas fortes dos marinheiros até o atracamento suave
na areia da praia que servia de desembarcadouro.
O Forte de Santana, ainda nos dias de hoje, está situado na parte mais estreita da Ilha Santa Catarina,
confrontando com o lado continental onde existia o forte São João, do qual só restam alguns vestígios.
Comandava o Nadiezhda e a expedição, o capitão Adam Johann von Krusesnstern, que levava também
Nikolay Petrovich Rezanov, que representava o Czar Alexandre I na condição de embaixador para o Japão, e
levava uma comitiva formada pelas seguintes pessoas:
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Herman Von Friederici - General do Estado Maior;
Fedor Tolstoy - Tenente da Guarda Imperial;
Fedor Fosse - Conselheiro;
Stephen Kurlandzoff – Pintor da Academia;
Dr. Brinkin - Médico e Botânico;
Fedor Schemelin - Funcionário da Companhia Russo-americana;
Huntsman - Cozinheiro e Servo;
Seis Passageiros para as colônias americanas da Rússia;
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Cinco japoneses - Gihe, Sahei, Tsudayu, Tajyurou e Zenroku.
Dos japoneses, Zenroku, que servia ao embaixador Rezanov na qualidade de intérprete, havia se
convertido ao cristianismo, passando a chamar-se Peter Kiselev.
Também desembarcaram os cientistas:
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Johann Kaspar Horner - Astrônomo;
Wilhelm Gottlieb von Tilesius von Tilenau - Naturalista;
Georg Heinrich von Langsdorff - Naturalista
Desembarcou também o capitão Yuri Fyodorovich Lisianski, que comandava o Neva.
Após a recepção no Forte de Santana, os dois capitães e a comitiva de Rezanov foram encaminhados à
residência oficial do governador da Capitania de Santa Catarina - Joaquim Xavier Curado - que já os
aguardava. Hoje, no local, localiza-se o Palácio Cruz e Sousa.
O restante desta história, que contempla o cotidiano da Vila Nossa Senhora do Desterro, no final dos
anos de 1803 e início de 1804, encontra-se relatada também, em japonês antigo, no volume 12 do Kankai
Ibun. O volume 12 do Kankai Ibun foi primeiramente traduzido para a língua portuguesa do Brasil por
iniciativa do outrora consulado Geral do Japão em Porto Alegre - RS, com a participação da professora
universitária Tomoko Kimura Gaudioso.
Para comemorar os primeiros 200 anos da chegada dos primeiros japoneses ao Brasil, foi realizada em
Florianópolis entre os dias 3 e 9 de novembro de 2003, a “Semana Cultural Japonesa”, organizada pela
Associação Sul-Brasileira dos Bolsistas do Japão e Associação Nipocatarinense. Durante o evento, o
Consulado do Japão em Porto Alegre, apresentou um opúsculo sob o título “Os Japoneses no Brasil Suas
Primeiras Impressões”. Uma escultura onde estão contidas algumas informações sobre o Veleiro Wakamiyamaru, foi instalada no Centro de Cultura Integrada(CIC).
Atualmente, a Associação Wakamiya-maru Ilha Santa Catarina, fundada em 2011 por um grupo de
pesquisadores na sua maioria pertencente à comunidade de descendentes japoneses, trouxe à luz novos fatos
dessa fascinante epopéia, que historicamente nos une com a província japonesa de Miyagi.
No local de desembarque onde se encontram o Forte de Santana e o Museu Lara Ribas, existe espaço
no talude que poderá ser melhor aproveitado, através de projeto sem prejudicar a visibilidade do atual
conjunto, com a introdução de um pequeno jardim japonês e monumento homenageando os marinheiros do
Wakamiya-maru e os demais membros da expedição do Nadiezhda e Neva. Com este intuito, a Associação
Wakamiya-maru Ilha Santa Catarina busca parcerias no sentido de viabilizar a idéia que certamente
contribuirá para aumentar a visitação pública na área.
Por: Paulo Baltazar da Rosa
Secretário da Associação Wakamiya-mau Ilha Santa Catarina
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Veja aqui um relato mais detalhado do desembarque na Ilha de