capa A numeração que identifica cada árvore acompanha a tora e a madeira serrada até o destino final LUCRO VERDE na FLORESTA Após vários anos no vermelho, o Grupo Orsa prevê faturar R$ 10 milhões com a exploração sustentável de madeira Texto José Alberto Gonçalves Pereira * Fotos Ernesto de Souza, do Pará 26 Globo Rural | março 2012 março 2012 | Globo Rural 27 CAPA amoroso, presidente do Grupo Orsa, mudou os planos para ter lucro com a madeira Área testemunha 3 Como tornar rentável um negócio que custa 30% mais que a exploração convencional? 40 cm 1 1 7 A área do manejo é dividida em 30 lotes (unidades de produção anual, ou UPAs). A cada ano, maneja-se um lote. Após o manejo da 30ª UPA, repete-se o ciclo. Uma faixa de 5% fica intacta ( área testemunha). Serve para comparar com as UPAs, provendo dados como diversidade vegetal e tempo de crescimento das plantas 4 O corte das árvores é planejado visando à segurança dos trabalhadores e visando afetar o mínimo de árvores vizinhas e áreas de preservação permanente (APPs). Há várias restrições legais para a remoção das árvores, como limitação do corte a 30 m3/ha (três árvores) Os cuidados na hora do corte são apenas um dos vários capítulos da complexa operação de manejo florestal certificado, que compreende um ciclo de 30 anos (confira o infográfico na página ao lado). Há controvérsias sobre o período necessário para cada espécie regenerar. Pesquisadores como o paraense Edson Vidal, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), recomendam a definição de ciclos por espécies ou grupos de espécies, em vez do parâmetro único para a área total de manejo. Poucos negam que o manejo florestal sustentável é a opção mais adequada na Amazônia para produzir madeira mantendo a floresta em pé. Mas como tornar rentável um negócio que hoje custa até 30% mais que explorações convencionais sem que o mercado interno pague um prêmio para a madeira certificada? É possível que a Orsa Florestal tenha matado a charada com as modificações introduzidas em setembro de 2011 em seu modelo de manejo no Jari. Após cinco anos no vermelho e os últimos três com empate entre receita e despesa, o negócio da madeira certi- 28 Globo Rural | março 2012 Como funciona o manejo florestal certificado da economia florestal na Amazônia. O território total do projeto alcança 1,3 milhão de hectares, equivalente a 60% da área de Sergipe. Não basta, contudo, cuidar dos impactos na vegetação. “O FSC também é bastante exigente quanto à segurança dos trabalhadores”, assinala Katia Regina Silva, engenheira florestal que comanda a operação de manejo no Jari. Portando equipamentos de proteção individual (EPI), Pereira e Carvalho abrem duas rotas de fuga com sentidos inversos e contrárias à direção prevista para a queda da árvore, cujo código acompanhará a madeira da floresta ao galpão do cliente. Assim, é possível rastrear a origem do produto para atestar que deriva de área manejada com selo FSC. “Quando trabalhava em Altamira, ninguém perdia tempo vendo em que direção a árvore ia cair, se ia derrubar as árvores vizinhas, atingir APP nem nada”, compara Pereira. “Tivemos treinamento sobre procedimentos de segurança”, completa Carvalho, que, antes da Orsa Florestal, trabalhava para madeireiras de Paragominas (PA) que desmatavam ilegalmente para vender madeira às serrarias e carvão vegetal às siderúrgicas. 3 2 No manejo certificado pelo FSC, uma equipe multidisciplinar de técnicos e engenheiros florestais dedica-se especialmente ao planejamento de estradas de modo a causar o menor dano possível à floresta Para selecionar as espécies para o corte, é elaborado um inventário florestal da UPA. Só entram na seleção espécies cujas árvores possuem diâmetro superior a 40 cm. Na porção paraense do Projeto Jari, foram identificadas 98 espécies com potencial comercial 6 5 Logo após o corte, ocorre o traçamento, que consiste em retirar a galhada e serrar o tronco em duas ou três toras. Um trator especial leva as toras ao pátio florestal, onde são pintadas com o número atribuído à árvore, atestando a origem no manejo certificado Caminhões levam as toras identificadas à serraria. No Projeto Jari, parte das toras é embarcada em balsas para Belém. As toras restantes são serradas na forma de tábua, caibro, ripas, deque e outros produtos para exportação O mapa do Jari A cada ano, apenas uma das 30 subdivisões pode ser explorada 7 PA AP Anualmente, entidades credenciadas pelo FSC conferem se as normas da certificação estão sendo seguidas à risca. Danos periféricos à mata devem ser objeto de um plano de recuperação, mas desvios mais graves das regras podem custar a própria certificação © infográfico: FILIPE BORIN J osé Raimundo das Graças Pereira, de 35 anos, e José Orlando Carvalho, de 39, caminham mata adentro para avaliar se há risco de a árvore 1715 H16 2312 – um angelim-vermelho, a espécie mais abundante na região – cair em área de preservação permanente (APP). A depender do estrago que provoque, a queda na APP pode custar à empresa exploradora a perda da certificação concedida pelo Conselho de Manejo Florestal (FSC), um dos selos de sustentabilidade de maior prestígio internacional. Seria uma cena corriqueira em áreas onde se faz manejo florestal, mas o fato de a extração das árvores acontecer nas terras do lendário Projeto Jari (uma utopia criada no final da década de 1960 pelo bilionário americano Daniel Keith Ludwig no coração da Floresta Amazônica e que acabou se transformando num fiasco) dá à situação uma alta carga simbólica. “Não há perigo”, festeja Pereira, que trabalha na Orsa Florestal. A empresa possui na porção paraense do Projeto Jari a maior área de manejo florestal certificado pela FSC do Brasil, com 545.000 hectares. Por sua dimensão, o desempenho do manejo certificado no Jari joga um papel crucial para o futuro 8 Além da área manejada, o sistema de rastreamento (cadeia de custódia) também pode ser certificado, como acontece na Orsa. Isso permite ao cliente rastrear a origem da madeira que está comprando, graças ao código que identifica cada árvore removida Área de manejo certificado (UPA) Reserva Legal Área testemunha Fonte: Orsa Florestal; elaboração: Globo Rural *Descrição baseada no manejo FSC realizado no Jari pela Orsa Florestal março 2012 | Globo Rural 29 CAPA ficada do Jari foi radicalmente remodelado seis meses atrás para se tornar rentável a partir deste ano. A Orsa Florestal projeta lucro de até R$ 10 milhões, subindo para R$ 14 milhões em 2013, quando o novo modelo estará a todo vapor. “Quase desisti do negócio em 2009”, revela Sérgio Amoroso, presidente do Grupo Orsa, que bancou praticamente sozinho um dos lances mais arriscados da companhia, ao adquirir o Projeto Jari, em 2000, que estava à beira da falência e combalido por uma dívida de US$ 415 milhões. Em 2009, a economia global enfrentou uma grande recessão e até mesmo a Holanda, principal destino da produção certificada do Jari, tentou comprar madeira da Orsa Florestal a preços de madeira convencional. A empresa brasileira recusou a oferta e teve de acumular estoques que até hoje tem dificuldade de desovar (valem perto de R$ 10 milhões). Para piorar a situação, a celulose, principal ati- Uma “cidade” de Primeiro Mundo no coração da floresta Á gua tratada, energia elétrica, ocupação planejada, casas americanas com jardins e muros baixos, um clube esportivo, bancos, criminalidade praticamente inexistente. A realidade de Primeiro Mundo de Monte Dourado contrasta radicalmente com a de Laranjal do Jari, que fica do outro lado do rio. A Vila de Monte Dourado foi implantada na cidade paraense de Almeirim, no final da década de 1970, por Daniel Ludwig. Era a única maneira de atrair profissionais qualificados para trabalhar no meio da floresta. Na época de Ludwig, até eletrodomésticos eram fornecidos às casas pela Jari Florestal e Agropecuária. Sob o controle do Orsa, as regalias acabaram, mas o orçamento para manter a infraestrutura do Projeto Jari, incluindo Monte Dourado, continua pesado, em torno de R$ 19 milhões ao ano. É o dobro do lucro projetado para a venda de madeira certificada neste ano. Como o mercado de celulose não vai bem, é o rentável negócio de embalagens de Amoroso do Sudeste que cobre o buraco financeiro do Projeto Jari. Alguns benefícios foram removidos pelo Orsa, como o pagamento de MBAs. 30 Globo Rural | março 2012 vidade econômica do Projeto Jari, também sofreu o impacto da crise. E é a celulose que gera recursos para o Grupo Orsa manter a megaestrutura do Jari. “Sozinho, o manejo não sobreviveria”, reconhece Amoroso. Vem da celulose o dinheiro que cobre o orçamento anual de R$ 19 milhões para bancar equipes de segurança, a fim de proteger sua imensa área de invasões, gerar energia e custear água tratada, conservar ruas e estradas, subsidiar mensalidades escolares dos filhos dos funcionários e cobrir gastos de manutenção com porto, aeroporto e o distrito de Monte Dourado (ver box ao lado). O chacoalhão causado nas finanças do Orsa pela crise impeliu-o a promover uma profunda revisão da fórmula de manejo praticada desde 2004. Do ponto de vista ambiental, técnico e social, o manejo certificado no Jari é visto como um dos mais bem conduzidos no mundo, apesar de ainda ter na titulação definitiva das terras seu calcanhar de aquiles. Tanto é que em 2010 foi reconhecido como um dos 25 modelos de excelência em manejo florestal na América Latina e Caribe pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). O que mais o diferencia das outras experiências de manejo florestal em curso é o espesso cobertor social provido pela Fundação Orsa a comunidades pobres situadas em suas terras e entorno. Carece provar, entretanto, que ele pode ser bem-sucedido financeiramente, alcançando lucro que gere fôlego para novos investimentos, condição básica para a sobrevivência de um negócio na economia de mercado. Com a luz o manejo certificado joga um papel crucial para o futuro da economia da amazônia amarela acesa no final de 2009, o Grupo Orsa começou a estudar medidas para estancar a sangria financeira da operação no Jari. Definiu-se que a seleção para corte priorizaria árvores com maior rendimento de madeira e espécies com maior retorno econômico no mercado europeu – angelim-vermelho, cumaru, jatobá e maçaranduba, especialmente. Como trabalha com capacidade ociosa elevada – explora metade da área média anual autorizada, de 10.000 hectares –, a empresa está expandindo o manejo para novas porções da floresta a fim de aumentar o faturamento. Caiu, assim, para segundo plano um dos aspectos centrais do modelo anterior, que era o desenvolvimento comercial de novas espécies com o objetivo de diminuir a pressão sobre as árvores tradicionalmente mais procuradas pelos clientes. “Continuaremos colocando no mercado espécies novas, mas agora em menor escala e em ritmo mais lento. O problema é que o mercado está viciado em algumas poucas es- joão prestes, diretor de negócios florestais do Grupo Orsa Altos e baixos do lendário Jari 1882 Fugindo da seca no Ceará, chega ao Vale do Jari José Júlio de Andrade, seringueiro e castanheiro que se tornou um dos maiores latifundiários do mundo, além de senador pelo Pará. Os títulos de seus quase 3 milhões de hectares no Jari e arredores foram obtidos graças a uma rede de troca de favores com políticos paraenses 1948 Enfraquecido pela Revolução de 1930, liderada por Getúlio Vargas, o agora “coronel” José Júlio vendeu sua propriedade no Vale do Jari a um grupo de comerciantes portugueses comandado por Joaquim Nunes de Almeida. Três empresas foram criadas no Jari, dedicadas ao extrativismo, ao beneficiamento da castanha-do-pará e à navegação 1967 O bilionário americano Daniel Ludwig compra o Projeto Jari dos portugueses por US$ 3 milhões com uma área de 1,7 milhão de hectares no Pará e no Amapá. Instala um polo agroindustrial para a produção de arroz e celulose e a criação de búfalos, além de agrovilas e do distrito de Monte Dourado, com infraestrutura de Primeiro Mundo 1978 Após três meses cruzando os oceanos Pacífico, Índico e Atlântico, chegam a Monte Dourado as plataformas flutuantes com as usinas de celulose e energia fabricadas no Japão 1996 Morre o dono da Caemi, Augusto Trajano de Azevedo Antunes. Seus netos Mario e Guilherme Frering assumem o controle do Jari e decidem vender a deficitária companhia 2000 1980 Ludwig envia carta ao general Golbery do Couto e Silva, então ministrochefe da Casa Civil, pedindo que o governo assuma a infraestrutura do Projeto Jari, que acumulava prejuízos ano após ano 1982 Decepcionado com a falta de ajuda do governo militar e as críticas de nacionalistas, o magnata americano vende o Jari por US$ 70 milhões a um consórcio de 24 grandes empresas brasileiras, liderado pela Caemi O BNDES negocia a venda do Jari à Saga Investimento e Participações, do empresário Sérgio Amoroso, dono do Grupo Orsa. Da dívida total de US$ 415 milhões, Amoroso compromete-se com uma garantia de US$ 112 milhões, que é liquidada em 2010 2004 Antunes e o presidente Figueiredo na cerimônia da compra pela Caemi O FSC concede certificação a uma área de manejo florestal de 545.000 hectares no lado paraense do Projeto Jari março 2012 | Globo Rural 31 CAPA O desenvolvimento comercial de novas espécies foi reduzido para atender ao cliente pécies. Não adianta a empresa querer, sozinha, mudar o mundo de uma hora para outra. Quem se arrebenta somos nós”, desabafa João Prestes, diretor de negócios florestais do Grupo Orsa. A mudança na seleção reduziu a extração de madeira de 30 metros cúbicos por hectare – máximo permitido pela legislação – para 22 metros cúbicos. Um efeito positivo duplo já se fez notar na safra colhida no semestre passado: o faturamento aumentou e o custo da tora para a serraria baixou 25%. Em outras palavras, antes a serraria precisava de 4 metros cúbicos de tora para produzir 1 metro cúbico de madeira serrada. Com o novo modelo, bastam 3 metros cúbicos de tora. “Ganhamos ao ampliar a área efetivamente manejada com espécies que nos reReceita bruta da venda de madeira certificada (R$ milhões) 28,6 36,5 43,7 47,0 60,0 18,2 2008 2009 2010 2011 2012* Fonte: Orsa Florestal Vendas de madeira certificada em volume (m3) *projeção 22,7 28,6 29,6 30,0 2008 2009 2010 2011 2012* Fonte: Orsa Florestal *projeção muneram melhor no mercado externo. E ganhamos também com a maior eficiência no aproveitamento de tora pela serraria”, explica Prestes. “Percebemos, porém, que era insuficiente mudar a seleção de árvores. Era também necessário acabar com o turno da noite na serraria”, observa Amoroso. Os custos do trabalho noturno são salgados e o rendimento da serraria diminui. Sem o turno da noite, porém, a serraria não conseguiria absorver todas as toras. A solução foi destinar 30% das toras certificadas ao mercado interno, que não paga diferencial de preço. “A venda da tora gera retorno pequeno, mas nos ajuda a marcar posição no mercado doméstico. Acreditamos que em dois a três anos haverá uma procura considerável de madeira certificada pelo consumidor brasileiro”, prevê o executivo. Das toras que são processadas na serraria, 70% seguem para o mercado externo e 30% são vendidas no Brasil. Para Marco Lentini, secretário executivo do Instituto Floresta Tropical (IFT), de Belém (PA), reduzir custos é uma medida essencial para o sucesso do manejo FSC na Amazônia. “É hora de segurar as pontas, pois vivemos um momento difícil no mercado de Renda de castanheiros aumenta em R$ 1 milhão A presença de uma grande empresa no meio da floresta tem alterado as condições socioeconômicas de seus habitantes. Até 2007, os castanheiros que habitam as terras do Projeto Jari dependiam de atravessadores para vender a produção. Graças à atuação da Fundação Orsa e da Ouro Verde Amazônia, empresa do grupo que beneficia castanha-dopará sob o conceito de comércio justo, muitos castanheiros quebraram o vínculo com os atravessadores. O efeito nos preços foi imediato, gerando renda adicional superior a R$ 1 milhão no acumulado de 2009 a 2011 para as 100 famílias de castanheiros apoiadas pela fundação. Vivem nas terras do Jari cerca de 14 mil pesso- 32 Globo Rural | março 2012 as, distribuídas em 98 comunidades de pequenos agricultores e extrativistas. A Fundação Orsa desenvolve projetos em 32 dessas comunidades. É um trabalho estratégico para assegurar tranquilidade social aos negócios da empresa numa região isolada da Amazônia. Outra ação de inclusão social é a formação profissional dos jovens da comunidade. Em um galpão na Vila de Munguba, jovens montam fruteiras de sobras de madeira certificada para a Tramontina. Assinado em 2011, o contrato prevê a entrega mensal de 3 mil fruteiras. Mas a procura pelo produto foi tanta que a Tramontina dobrou as encomendas para 6 mil fruteiras na virada do ano. A produção de fruteiras, pisos, portas e outros artefatos é realizada por jovens da Cooperativa de Artefatos Naturais do Rio das Castanhas (Coopnharin). Nos últimos quatros anos, a cooperativa também produziu pisos certificados para atender a encomendas da Holanda e da França. Fundada em 2005, a cooperativa é constituída por jovens egressos da Escola da Madeira, um dos principais projetos da Fundação Orsa no Jari. A escola capacita anualmente de 20 a 25 jovens de baixa renda em marcenaria básica, com aulas de educação ambiental e especialização em móveis, serraria, brinquedos e pequenos artefatos, buscando desenvolver peças com design arrojado. madeira certificada.” Concorrentes do Orsa também estudam como enxugar gastos, segundo Lentini, que aproveita para puxar a orelha das empresas. “Elas dormiram no ponto ao não ocupar mais espaço no mercado doméstico antes da crise de 2009.” O quadro econômico adverso na Europa e as dificuldades do setor de manejo também respingaram no IFT, um dos mais proeminentes centros de treinamento em manejo florestal do mundo. “Quase fechamos as portas no ano passado”, revela o secretário executivo da entidade, que cobria 80% de sua receita com doações externas até 2010. Sua sobrevida foi assegurada pelo Fundo Amazônia, do governo federal, que desde 2011 banca metade do orçamento. “A crise ensinou o mercado de madeira a se planejar melhor”, avalia Antônio Carlos Hummel, diretor do Serviço Florestal Brasileiro (SFB). Mas ele admite que o manejo precisa de mais incentivos públicos e valorização da madeira certificada por indútrias e varejistas brasileiros. “Falta equiparar os incentivos para a atividade agropecuária aos concedidos ao manejo”, arremata Hummel. Embalado pela reversão do prejuízo no lado paraense do Projeto Jari, o Grupo Orsa está prestes a conseguir o selo FSC para uma área de 246.000 hectares de floresta do outro lado do Rio Jari, em Laranjal do Jari (AP). O manejo no Amapá está previsto para começar em 2014. “Queremos que a licença ambien- tal para o manejo no Amapá obrigue o Orsa a efetuar compensações socioambientais em Laranjal do Jari e Vitória do Jari”, defende José Airton Soares, vicepresidente do Conselho Estadual de Meio Ambiente (Coema). É nessas duas cidades que mora a maior parte da mão de obra não qualificada que trabalha direta e indiretamente para o Orsa no Pará. Finalmente, caiu como uma luva para a estratégia do Orsa de ocupar espaço no mercado doméstico, o acordo comercial fechado com a Tégula, empresa do Grupo Eternit. A companhia pretende comprar anualmente cerca de 6.000 kits de madeira certificada para a montagem de telhados. Vigas, ripas e outras peças começaram a ser produzidas em dezembro na serraria da Orsa, localizada na Vila de Munguba, onde também ficam a fábrica de celulose, a termelétrica e o porto. “É uma das raras empresas brasileiras que se dispõem a nos pagar um preço diferenciado”, comemora Prestes. A iniciativa pode ser o prenúncio de uma nova atitude de empresas e consumidores brasileiros para com os produtos certificados das florestas do país. No final de 2011, o governo mudou várias regras para tornar as concessões públicas mais atraentes. Desde que a lei foi promulgada, em 2006, apenas 154.000 hectares foram licitados. Agora, a previsão é licitar 1,1 milhão de hectares no Pará e Rondônia. As maiores áreas são no entorno da BR-163. Laranjal do Jari, do lado amapaense do rio, aguarda a chegada do Grupo Orsa para progredir março 2012 | Globo Rural 33