Conferência Internacional - Empresas e Responsabilidade Social Promovida pelo Instituto ETHOS de Empresas e Responsabilidade Social, realizada pelo UNIETHOS- Educação para a Responsabilidade Social e o Desenvolvimento Sustentável, em parceria com o Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, com o Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento- PNUD e com o Pacto Global das Nações Unidas Estrutura: 04 Plenárias 03 Mesas redondas 08 Painéis temáticos 05 Oficinas de Gestão Atividades multiculturais 02 Atividades paralelas Período: 12 a 15 de junho de 2007 Hotel Transamérica São Paulo Sensibilizados pelas graves questões ambientais, participantes buscaram ferramentas para transformar suas empresas em agentes de mudanças A Conferência Internacional 2007, do Instituto Ethos, contou com a participação de mais de 1.300 pessoas de várias partes do Brasil e do mundo. Foram ao todo 1.008 inscritos, 180 jornalistas credenciados, 84 palestrantes e 60 convidados entre os parceiros do Ethos na disseminação dos conceitos da responsabilidade social empresarial. Debate RSE na mídia Executivos da TV Globo, Grupo Folha, Grupo Estado e Editora Abril discutem o papel da imprensa no avanço da responsabilidade social empresarial e do desenvolvimento sustentável . pauta e gestão” “Responsabilidade social na mídia: Promovida pela Rede Ethos de Jornalistas, • Estariam os jornalistas com o olhar afinado e o ouvido treinado para identificar os temas relativos à sustentabilidade? • Ao buscar divulgação de suas ações em responsabilidade social, as empresas estão sendo apenas oportunistas e fazendo marketing institucional, sem real preocupação com a sustentabilidade? Paulo Itacarambi, diretor-executivo do Instituto Ethos, afirmou que, se todos queremos que a sociedade seja sustentável, é preciso alinhar as estratégias de sustentabilidade do negócio com as da sustentabilidade da sociedade. As empresas de comunicação não estão à margem desse processo, e seu produto – a notícia – tem impacto direto sobre ele. • Como a mídia pode qualificar o debate sobre sustentabilidade, se tem adotado estratégias empresariais de tratar a notícia como commodity, ou seja, como mercadoria de baixo custo e alta utilização? • E como a mídia pode fazer uma cobertura crítica e isenta em relação às empresas que sustentam a própria mídia por meio da publicidade? •O mediador Carlos Eduardo Lins da Silva, diretor da Patri-Relações Governamentais & Políticas Públicas, apresentou uma questão ética: quais os instrumentos de controle que a mídia tem sobre a qualidade e a veracidade da notícia e como lida com seus erros? Antonio Manuel Teixeira Mendes, diretor-superintendente do Grupo Folha, “as empresas precisam entender que os erros fazem parte do negócio, e os mecanismos de compensação e controle desses erros têm de ser usados”. Para isso, as empresas de comunicação devem criar seus próprios mecanismos, como uma seção “Erramos”. Caco de Paula, diretor do Núcleo de Turismo da Editora Abril, considera o enfoque um fator muito importante da notícia. “O enfoque não pode ser visto como um erro, mas temos que ter cuidado, pois nem sempre conseguimos agradar a todos os nossos públicos”. Debate RSE na mídia Responsabilidade pauta e gestão, social na mídia: Carlos Eduardo Lins da Silva, Como as empresas jornalísticas podem cobrar um comportamento sustentável das outras empresas se nem sempre elas têm esse comportamento? Albert Alcoulumbre Junior, diretor de planejamento e projetos sociais da Central Globo de Comunicações, “Há empresas que se caracterizam por práticas insustentáveis e não se esforçam para resolver esses problemas, mas existem outras que, mesmo em momentos de dificuldade, estão preocupadas com uma gestão sustentável” Para Antonio Manuel Teixeira Mendes, diretor-superintendente do Grupo Folha, há uma tensão entre a redação e os anunciantes. Muitas vezes, há boicotes por parte de alguns anunciantes e instala-se um clima de tensão que faz parte do jogo, mas limita o faturamento. “Um fator histórico que deve ser levado em conta é a pressão de custos e o endividamento das empresas jornalísticas”. Muitas dessas empresas sobrevivem porque são familiares. Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do jornal O Estado de S. Paulo, destaca que “ser lucrativo é necessário para não se tornar escravo de anunciantes”. Para Caco de Paula, diretor do Núcleo de Turismo da Editora Abril, o fato de muitos jornalistas estarem assumindo posições de chefia nas empresas é favorável para o desenvolvimento de ações de responsabilidade social. A alma de uma empresa jornalística depende dos jornalistas que conseguem abordar o enfoque da sustentabilidade. Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos, a mídia tem um papel fundamental no estímulo a atitudes sustentáveis, tanto das empresas como da sociedade em geral. “Mas o debate ainda é tímido”,“impressão é de que o papel dos veículos de comunicação como indutores de novos paradigmas de sustentabilidade ainda é uma questão em aberto. Destaca a importância dos jornalistas como agentes de transformação e salienta que existem profissionais construindo o caminho para as novas pautas há muitos anos, “mas só agora conseguem o espaço necessário para publicar.” Debate RSE na mídia . “O moderador Carlos Eduardo Lins da Silva levantou a questão da cobertura crítica sobre o tema da responsabilidade social empresarial (RSE), já que essa é uma condição inerente ao bom jornalismo. Para Ricardo Gandour, diretor de conteúdo do jornal O Estado de S. Paulo, “o jornalismo ainda sofre pela dificuldade de falar do bem, assim como tem grande facilidade em falar do mal”. Os veículos são pressionados a trabalhar sempre com o inusitado, a falar dos bastidores. É comum ouvir-se a frase segundo a qual os jornais têm como objetivo “confortar os aflitos e afligir os confortados”. Em sua visão, os jornalistas precisam aprender a cobrir o bem, já que é difícil separar o joio do trigo. Isso exige também que as empresas de comunicação invistam na formação de suas redações. Caco de Paula, diretor do Núcleo de Turismo da Editora Abril, acredita que a novidade do tema também dificulte a cobertura. Ele comparou o quadro atual com o período em que surgiram os cadernos de economia, no início da década de 80. Na época, havia muita dificuldade em traduzir o “economês” para uma linguagem acessível ao leitor. Da mesma forma, segundo Caco, há graus diferenciados de compreensão dos problemas nessa área. “No geral, até os editores resumem o tema RSE à questão do meio ambiente”, afirmou. Para o diretor-superintendente do Grupo Folha, Antonio Manuel Teixeira Mendes, as empresas jornalísticas “não podem comprar de graça a RSE”. Segundo ele, a imprensa precisa ser crítica, tentar contextualizar o tema e revelar os interesses envolvidos. “A notícia nunca é apenas boa”. Não é possível, por exemplo, cobrir a questão da produção do etanol, que é tema atual, sem falar dos possíveis problemas que o seu processo produtivo traz “em paralelo”, nas áreas ambiental e social. Em sua intervenção, o diretor de planejamento e projetos sociais da Central Globo de Comunicação, Albert Alcouloumbre Junior, destacou que, para manter o espírito crítico, é essencial adotar “a velha e boa fórmula do jornalismo ortodoxo” e “não tentar reinventar a roda”. Lembrou que em geral o espaço jornalístico na mídia não é muito elástico, o que obriga as empresas a entrar numa grande disputa para divulgar suas ações na área de responsabilidade social. Atividade Multicultural A situação climática do planeta pelos olhos de um viajante Despretensioso de obter status social ou títulos, Amyr Klink resumiu em sua palestra que o conceito maior de sustentabilidade está na simplicidade das ações. Isso pode ser traduzido em saber eleger as ferramentas de que necessitamos para sobreviver: se é possível chegar a um local com um automóvel que tenha um motor de 125 cavalos, para que utilizar outro com o dobro da potência? Sua casa em Paraty, no Rio de Janeiro, é um exemplo dessa postura, já que foi projetada para um baixo consumo de energia. Discutir temas da sustentabilidade não vai levar a grandes mudanças. Para ele, “o exemplo prático e a iniciativa individual são o melhor caminho.” É o que ele faz ao construir seus veleiros, nos quais não aplica tinta, motivado pela preocupação ambiental – e por uma estética que não valoriza a beleza simplória. No estaleiro, a preocupação social também faz parte do dia-a-dia, pois Amyr Klink costuma dar emprego a moradores de rua e alcoólatras. Prefere-os a profissionais especializados na construção de barcos, pois estes apenas executam um bom trabalho. Os que antes estavam excluídos, no entanto, manejam as ferramentas conscientes de que estão transformando suas vidas. “Ao aprender um ofício, eles se tornam os melhores profissionais do mundo, pois trabalham com o coração”. “ “ As facilidades temos em nossas mãos, mas fazemos pouco uso- faz parte do mundo da sustentabilidade”. “ Os erros foram importantes, às vezes a gente é prepotente para entender a natureza.” “Pequenos desperdícios valeram os grandes vilões”. “ Idéias simples, construir uma embarcação sustentável, inspiração nos jangadeiros cearenses.” Utilização de espécies brasileiras, bambu, sebo, biodiesel. Formar pessoas, apostar nas qualidades delas, é uma experiência sem igual. A mesa foi moderada pelo presidente e CEO do Business for Social Responsibility (BSR), Aron Cramer, que começou com uma provocação ao fundador e empreendedor-chefe da SustainAbility, John Elkington: “Será possível sustentar a globalização ou será que a globalização pode nos sustentar?” Elkington lamentou não poder responder. Segundo ele, não é possível continuar com modelos tradicionais na área da cidadania corporativa: “Precisamos de novas espécies, é necessário criar um novo ‘ecossistema’”. A nova agenda, segundo John Elkington O criador do triple bottomline, afirma que a nova agenda da sustentabilidade escapa dos governos e das grandes corporações e vai para as mãos de empreendedores sociais, ambientais e de energia limpa. Em jogo: o futuro que queremos desfrutar. Plenária Especial de Abertura Tendências globais, dilemas e avanços do desenvolvimento sustentável no mundo Simon Zadek fala sobre ética global Professor da Universidade de Harvard Presidente da AccountAbility foi um dos debatedores da plenária especial de abertura “Tendências globais, dilemas e avanços do desenvolvimento sustentável no mundo”, os líderes das grandes corporações precisam ter ousadia, coragem para enfrentar o sistema vigente e buscar a sustentabilidade para implantar a responsabilidade social nas grandes corporações. Ele citou como exemplo o líder de uma multinacional petrolífera que desafiou seus empregadores, quebrou regras ao discursar em defesa da sustentabilidade – pegando de surpresa a alta cúpula do grupo – e conseguiu mudanças importantes na indústria. “Alguns dos nossos principais líderes têm de quebrar regras para tomar decisões mais à frente. Acho que as instituições tendem a criar líderes que não queremos”. Destacando que esse é um árduo desafio, Zadek ressaltou que muitas das multinacionais de grande influência no mundo não conseguiram, e talvez não consigam, abandonar velhos conceitos e se recriar rumo ao progresso. Ele acredita que uma nova geração de companhias vai se transformar no motor da sustentabilidade, rumo a uma sociedade melhor. Para ele, alguns investidores já se deram conta disso, estão mais amigáveis com o meio ambiente, abandonaram visões de curto prazo e já pensam na sustentabilidade e no futuro das empresas nas quais estão investindo. A rapidez das informações exige atuação em redes de colaboração Para Ernest Ligteringen, diretorexecutivo da Global Reporting Initiative (GRI), as empresas precisam ter gestão de informação, transparência e visão ampla para caminhar em sintonia com a era da informação. “Atualmente a informação chega na velocidade da luz e está transformando as empresas. Hoje o indivíduo pode criar sua própria comunicação, por meio de blogs, ou interagir com os veículos de mídia. Por isso é importante uma gestão empresarial clara, transparente e objetiva”, Questionada sobre o cenário mundial na área das relações do trabalho, Alice Tepper Marlin, presidente e CEO do Social Accountability International (SAI), reconheceu que apesar dos avanços ainda há muito que caminhar, observando que mais de 2 bilhões de pessoas continuam vivendo com menos de 2 dólares por dia. O problema, segundo ela, é que os progressos nessa área ainda não atingiram todos os stakeholders na maioria dos processos produtivos. Para isso, Alice acredita que as empresas precisam estabelecer uma forma sistemática de classificar todos os seus fornecedores Plenária Especial de Abertura Tendências globais, dilemas e avanços do desenvolvimento sustentável no mundo A apresentação, realizada por Jodie Thorpe, gerente do SustainAbility e responsável pelo Programa para Economias Emergentes, mostrou que o movimento de globalização já responde por 20% do PIB global. Houve um crescimento sensível nos últimos 20 anos, com a entrada no jogo do comércio de alguns emergentes - como China, Índia, Brasil e África do Sul -, buscando manejar a balança do crescimento econômico a seu favor. Os números ascendentes do PIB de Índia e China mostram que estão conseguindo sucesso Apresentado os resultados da pesquisa “Melhorando o Jogo – A Globalização É Sustentável?”, realizada pela SustainAbility, que mostra os grandes cenários globais pelos quais Estados, empresas e pessoas deverão transitar daqui para a frente. A pesquisa aponta esse crescimento tem um preço em termos de degradação ambiental. Esses mesmos países já são responsáveis por 30% das emissões globais de gases de efeito estufa, principalmente dióxido de carbono, gás emitido pelo consumo de combustíveis fósseis nos setores de energia e transporte e na queima de biomassa florestal. Sete pontos relevantes foram levantados como diretrizes de ação: 1 – Planeje para o Inesperado. A flexibilidade em cadeias de valor, plataformas tecnológicas e políticas de trabalho são fatores de eficácia. 2 – Encontre o Verdadeiro Sul. Não subestime a importância das economias emergentes. Há regiões e cidades onde o desenvolvimento é mais rápido. 3 – Não Espere os Bons Chegarem na Frente. Mesmo os melhores podem ser atingidos por escândalos e crises. O importante é a capacidade de criar valor. 4 – Colabore com o Sistema Imunológico da Terra. Faça parte das soluções nas crises ambientais e sociais. Sirva como fonte de inteligência e criatividade. 5 – Pense em Oportunidades e Inovações. Repense as questões ambientais e sociais não como riscos, mas como grandes oportunidades. 6 – Supere-se. A escala dos desafios é muito grande e exige abordagens radicais. Líderes precisam sair de sua zona de conforto para encontrar novos modelos, novos parceiros e novas soluções. 7 – Faça Política. A agenda agora é política. É preciso se envolver e assumir posições. A avaliação de cada um dos cenários mostrados pelo relatório envolve perdas e ganhos. O importante da pesquisa é que mostra oportunidades para cada uma das situações que envolvem risco ou crise, e não apenas a constatação de problemas. Jodie Thorpe acredita que esse trabalho deverá ser um grande subsídio para organizações que querem avançar em direção a cenários de sustentabilidade. Segundo ela, o momento é de ser audacioso “e de virar o jogo”. A insustentabilidade do atual modelo econômico é uma unanimidade que não pode ser considerada burra. O fenômeno das mudanças climáticas é apontado como um divisor de águas entre os grupos que insistem na manutenção de um modelo predatório – que reforça as desigualdades sociais, concentra a renda nas mãos de poucos e distribui pobreza – e os que defendem o novo modelo, com equilíbrio e harmonia no atendimento de demandas sociais, ambientais e econômicas. “O custo da inércia, de não fazer nada, será muito maior do que os investimentos necessários para as mudanças, sejam de governos, das empresas ou individuais”, afirmou Julio Moura, presidente do Grupo Nueva e vice-presidente do Conselho Mundial Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD). Para ele, a boa notícia é que as 190 empresas que integram o WBCSD, e representam US$ 6 trilhões anuais em vendas, já compreenderam que têm uma enorme responsabilidade no processo de mudanças. Plenária 1 Agenda Econômica para a Sustentabilidade A dança das cadeiras nos setores econômicos mudará os cargos, mas não prescindirá das pessoas Nesse cenário, o Brasil é visto como um país de grandes oportunidades de negócios, principalmente por sua matriz energética considerada limpa. Embora o país esteja entre os maiores emissores de gases de efeito estufa, tais emissões ocorrem por um problema de má governança, do Estado e das empresas, no combate às queimadas na Amazônia, responsáveis pela maior parte das emissões. De acordo com Sérgio Abranches, responsável pelo boletim Ecopolítica, da Rádio CBN, a solução depende de vontade política e é relativamente fácil. “Temos de mudar o padrão de desenvolvimento para o baixo carbono e essa mudança vai interferir em todos os aspectos da atividade humana”, afirmou. Para ele, as mudanças têm de passar por três etapas: aplicação efetiva da lei, responsabilização dos agentes públicos e visão estratégica de longo prazo. A fase de transição entre o modelo econômico atual e o novo, mais sustentável, vai gerar desemprego nas atividades insustentáveis, mas trará novas oportunidades em empresas potencialmente de sucesso no século 21. Estas serão fundamentadas em atuações socialmente responsáveis, ambientalmente corretas e economicamente justas. É nisso que Abranches acredita. Ele cita, por exemplo, que os empregos em grandes petrolíferas serão extintos, mas novas ocupações vão surgir nas empresas de energias alternativas, como eólica e solar. “No período de transição, haverá um trauma que deverá ser amenizado pela ação de uma rede de proteção social, formada por governos, com o apoio das empresas, por meio do pagamento de impostos” Plenária 1 Agenda Econômica para a Sustentabilidade Embora o Brasil seja considerado o país das oportunidades no novo cenário internacional, devido ao grande potencial das energias limpas, as mudanças estruturais rumo à sustentabilidade ainda são incipientes. Durante a plenária “Agenda econômica para a sustentabilidade”, o executivo-chefe da ONG AccountAbility, Simon Zadek, antecipou alguns resultados de um estudo internacional, feito com 108 países, sobre a relação entre a prática da responsabilidade corporativa e a competitividade no mercado internacional. A competitividade foi medida por uma série de indicadores que apontam a facilidade de realizar negócios nos países pesquisados. O relatório da AccountAbility, que será apresentado em 6 julho próximo, na reunião do Pacto Global da ONU, em Genebra (Suíça), mede, por exemplo, a burocracia nos processos de importação e exportação, totalizando 21 grupos de indicadores sobre políticas, negócios e sociedade. Neste estudo, o Brasil não está nem entre os 20 primeiros países que apresentam bons resultados. Já entre os 12 países “emergentes”, o Brasil aparece em segundo lugar, atrás da África do Sul e à frente de países como Rússia, Índia e China. “Existem ainda muitos mercados resistentes a inovações. Precisamos criar uma rede de colaboração e indução a mudanças no mercado rumo à sustentabilidade”, defendeu Simon. O estudo da ONG britânica aponta que vários países europeus avançaram no quesito responsabilidade corporativa. Brasil, China e Índia estão na faixa intermediária, de países que ainda estão no começo do processo. Outras nações, como Zimbábue e Paquistão, encontram-se nas últimas posições entre os países cuja competitividade relacionada à responsabilidade social empresarial foi avaliada. Mesa redonda 1 Compromissos das empresas com o desenvolvimento sustentável da Amazônia Será que estamos vendendo os dedos para comprar os anéis? A Amazônia é a fronteira da sustentabilidade. O desafio é gerar renda sem se desfazer da biodiversidade. Investir com sustentabilidade na Amazônia não é fácil. A área conta com mais de um terço das espécies da fauna e da flora mundiais e um quinto das águas superficiais do planeta e uma diversidade cultural enorme. Só a necessidade de pensar o desenvolvimento considerando as partes envolvidas já gera conflitos. Uma solução, segundo Adriana Ramos, coordenadora para a Amazônia do Instituto Socioambiental (ISA) e uma das debatedoras da mesa-redonda “Compromissos das empresas com o desenvolvimento sustentável da Amazônia”, é buscar mecanismos de planejamento e processos de licenciamento ambiental mais éticos. Acordos legítimos e legais, segundo ela, fornecerão subsídios para daqui a alguns anos conseguirmos, de fato, um desenvolvimento sustentável na região. Para o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, ao olhar o diagnóstico da Amazônia temos a tendência de nivelar por baixo, ou seja, “o debate ambiental no Brasil continua na defensiva”. Capobianco afirmou que é preciso entender que o licenciamento ambiental não é apenas um defensor do meio ambiente, mas um processo que busca como fim o desenvolvimento sustentável. Quem deseja empreender no Brasil deve, necessariamente, “passar pela discussão sobre qual desenvolvimento queremos”, acrescentou o secretário executivo do MMA. Nada pode ser feito no país sem pensar na questão ambiental, que não é uma opção, é uma obrigação – e, nesse cenário, as empresas passam a ter um papel central e fundamental. Segundo Franklin Feder, presidente da Alcoa para a América Latina, a empresa, líder mundial na produção de alumínio, enfrenta um grande desafio: um megaprojeto de extração de bauxita em Juruti, no oeste do Pará. Segundo o presidente da Alcoa, “70% da produção acumulada de alumínio ainda está em uso, por exemplo, com a reciclagem de latas. A cadeia começa na bauxita, mas termina no alumínio reciclado”. Feder acredita que a empresa deve ser responsável e utilizar cada vez menos produtos naturais. “A Alcoa não é perfeita, mas para preservar o meio ambiente uma de nossas alternativas é a pesquisa para reduzir o uso de bauxita na preparação do alumínio e também de watts.” André Baniwa, diretor vice-presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), afirmou que os índios deixaram de fazer o manejo das terras como seus avós faziam, forma que as preservava para as gerações futuras. Isso acontece porque se valorizam apenas algumas espécies. “Precisamos que todos mudem de atitude antes que a floresta acabe”, O tema é complexo e gera dúvidas: será que é possível plantar soja, criar gado e ainda assim manter a floresta em pé? A legislação florestal brasileira, segundo Adriana Ramos, prevê que sim, desde se aja de forma racional, permitindo espaço para a agropecuária, para a soja e para as reservas florestais, e não somente para o manejo sustentável e para extração de madeira ou de matérias-primas. Adalberto Veríssimo, fundador do Imazon, compartilhou da mesma opinião e acrescentou que o importante é ter espaços utilizados bem definidos. “Só há sustentabilidade se o carro-chefe for a preservação do que existe e a utilização apenas de áreas já devastadas para a agropecuária. Não é possível pensar em dividir as terras igualmente para esse ou aquele uso”. Com moderação do professor Décio Zylbersztajn, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA-USP), a mesa-redonda “Compromissos socioambientais na agricultura” contou ainda com Cláudio Valladares Pádua, da Iniciativa Brasileira de Verificação da Atividade Agropecuária, Jason Clay, vicepresidente da World Wildlife Fund (WWF), Fábio Trigueirinho, secretário-geral da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), e John Elkington, da SustainAbility. Segundo Jason Clay, as pressões sobre as grandes empresas produtoras de alimentos podem ser sentidas em diversos casos, mas em geral elas não atingem toda a cadeia produtiva e, objetivamente, produzem baixos resultados. O caso da CocaCola, que reduziu o consumo de água em sua linha de produção (de quase 4 litros para 2,7 litros de água por litro de refrigerante), pode ser considerado uma grande iniciativa. Mas o uso de quase 300 litros de água para a produção do açúcar necessário para se obter o mesmo litro do produto não sofreu alteração. Mesa redonda 2 Compromissos socioambientais na agricultura Para otimizar os resultados da luta pela sustentabilidade, de acordo com o vice-presidente da WWF, é preciso adotar uma estratégia seletiva, focalizando as empresas em toda a sua cadeia produtiva e principalmente aquelas que mais provocam impacto sobre os recursos naturais. As questões-chave, segundo Jason, se situam “na redução do consumo, na criação de fontes renováveis e na garantia da biodiversidade” Para Cláudio Valladares Pádua, da Iniciativa Brasileira de Verificação da Atividade Agropecuária, esse esforço de acompanhamento de todos os elos da cadeia produtiva deve passar por um consenso que envolva todas as partes interessadas a fim de se chegar a um acordo sobre a utilização dos recursos naturais. O Brasil, segundo ele, é uma grande potência no mercado de commodities agrícolas e precisa chegar a padrões mínimos, tendo em vista a redução da perda de habitat e de água e a conservação da biodiversidade.Na área da produção de soja, a experiência de verificação da cadeia produtiva foi relatada pelo secretário-geral da Abiove, Fábio Trigueirinho. o setor constituiu recentemente uma mesa-redonda composta por três câmaras integradas por representantes dos produtores, da indústria, do comércio, de instituições financeiras e da sociedade civil. Esse organismo se encontra atualmente em fase de formulação de princípios e critérios, que deve levar ainda cerca de 18 meses para ser concluída. Entre as iniciativas já acordadas estão a moratória da produção de soja na região amazônica, com o compromisso dos traders de suspender a compra de grãos originários dessa região, e a criação do Instituto para o Agronegócio Responsável (ARES). Além disso, segundo ele, discutem-se meios de agregar valor ao produto, como forma de melhorar a sustentabilidade. John Elkington, da SustainAbility, se mostrou bastante pessimista em relação à capacidade global de alimentar mais de 9 bilhões de pessoas, ainda neste século. “Eu não sou religioso, mas acho que vamos precisar de um milagre para atingir esse objetivo”, brincou. Apesar disso, Elkington deu exemplos de empresas globais que desenvolveram projetos inovadores para aumentar a produtividade agrícola envolvendo algumas das populações mais pobres do planeta. Será preciso, em sua opinião, contar com essa capacidade de criar soluções inesperadas em áreas como a de alimentos geneticamente modificados, ou dos chamados alimentos funcionais. Mesa redonda 3 Matriz energética para o desenvolvimento sustentável “Matriz energética para o desenvolvimento sustentável”,, Não houve consenso sobre quais rumos o Brasil deve tomar na questão energética. A moderação ficou por conta do professor José Goldemberg, ex-secretário de Estado do Meio Ambiente de São Paulo e membro do Conselho Deliberativo do Instituto de Eletroeletrônica e Energia da USP. Ao expor suas idéias, os representantes da sociedade civil organizada, da Petrobras e da academia reforçaram suas posições, em vez de buscar soluções negociadas para o tema. O Brasil, considerado um país com alto potencial para a geração de energias limpas, ainda tem 55% de sua demanda energética atendida por combustíveis fósseis. Embora a situação seja mais confortável do que a observada no cenário mundial – 80% da energia consumida no mundo é de origem fóssil –, o país não aproveitou seu potencial em energias limpas e renováveis. No setor hidrelétrico, apenas 30% foram utilizados. A quantidade e intensidade da incidência solar e a vantagem dos ventos no litoral também podem ser exploradas, bem como os biocombustíveis, como o álcool e o biodiesel. O representante da Petrobras, Mozart Schmitt de Queiroz, gerenteexecutivo de Desenvolvimento Energético da companhia, mostrou que a empresa petrolífera está caminhando para se transformar em empresa de energia. O investimento total da Petrobras em energias renováveis, no entanto, corresponde a apenas 1% do total investido pela empresa em 2006. Para Queiroz, a decisão de investir deve ser uma política de governo, respaldada pela sociedade. “Sempre que surgem projetos economicamente viáveis, a Petrobras tende a investir”. Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobrás e idealizador do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), ressaltou que a hidroeletricidade é uma boa opção energética para o país. Ele afirma que as barreiras na liberação de licenças ambientais dificultam a criação de novas hidrelétricas no país, opinião alinhada com a do governo federal. O Proinfa foi criado em 2002 e regulamentado pelo governo Lula com o objetivo de diversificar a matriz energética nacional. Hoje, cinco anos depois, apenas engatinha. Segundo Goldemberg, 70% dos projetos previstos no Proinfa ainda estão no papel. O diretor de campanhas do Greenpeace, Marcelo Furtado, indicou que as ONGs estão dispostas a sair da posição de crítica pura e passar para a construção de alternativas. Ele apresentou o resumo do estudo “Cenário de Revolução Energética”, que propõe uma matriz energética mais limpa e mais barata para tornar o Brasil autosuficiente em energia até 2050. O professor José Goldemberg chamou de “pseudo-discussão” o debate sobre o meio ambiente como empecilho para a aprovação de hidroelétricas como a do Rio Madeira, na Região Norte do país. “Existem 100 milhões de quilowatts que já tiveram o licenciamento ambiental aprovado e ainda não saíram do papel”, afirmou. Goldemberg destacou que o problema é complexo, uma vez que investir em energia ainda é um mau negócio no Brasil. “A incerteza jurídica, a falta de um marco regulatório que assegure aos investidores um retorno de longo prazo, faz com que os projetos sejam aprovados, mas acabem parados nas mãos de atravessadores. São eles que encabeçam a licitação, com a esperança de vender a idéia para as empresas, mas não conseguem passá-los adiante”, afirmou. O debate urgente é na busca de um modelo para alavancar o desenvolvimento do país.