E STA D O D E M I N A S
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❚ REPORTAGEM DE CAPA
D O M I N G O ,
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A G O S T O
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BEMVIVER
Guilherme Matos, de 7 anos, na
oficina culinária com a
nutricionista materno-infantil
Alice Carvalhais, do Alice no País
das Comidinhas
Esportes, brincadeiras e reeducação alimentar são indispensáveis na luta contra
a obesidade infantil. Intervenção multidisciplinar tem potencializado resultados
TRANSFORMANDO VIDAS
FOTOS: EULER JÚNIOR/EM/D.A PRESS
CAROLINA COTTA
“Aprendi com minha avó que
criança tem que comer de tudo e repetir.” Não foi uma, duas ou três vezes que a psicóloga Valéria Tassara,
coordenadora do setor de psicologia
do Hospital Infantil São Camilo, ouviu frases como essa, que revelam
um padrão de relação da família com
a comida. As crianças com sobrepeso
ou obesidade, na opinião da especialista, são a “ponta de um iceberg”.
Cuidar apenas da criança, portanto,
não é o mais eficiente. Assim como
não basta cuidar apenas do que ela
come. “É preciso compreender e
abordar o problema de forma ampliada. Se reduzirmos o olhar para a
criança e seu processo fisiológico, teremos um pensamento linear de
causa e efeito que não ajuda a compreender a obesidade infantil de forma multidimensional”, defende.
Estudos revelaram que crianças
que passam por uma intervenção em
família de forma multidisciplinar
aderem melhor ao tratamento e às
mudanças de hábitos. “O médico, o
nutricionista e o psicólogo juntos podem alcançar a multidimensionalidade do fenômeno da obesidade e
construir, em conjunto, as possibilidades de resolução”, explica. Assim
funciona o grupo de Promoção da
Saúde das Crianças, Adolescentes e
Família do Hospital Infantil São Camilo. “Não nos ocupamos somente
da saúde das crianças. O importante
são as mudanças de atitude de toda a
família. Se os problemas se constituem juntos, nas relações, as soluções também precisam passar por todos. Não se trata de culpar a família,
mas sim de compartilhar responsabilidades”, explica Tassara.
A educação alimentar é uma função da família, mas ela vem sendo influenciada pelo estilo de vida contemporâneo, marcado pelo consumismo.
Os pais saem para trabalhar e não têm
mais a oportunidade de fazer as refeições com os filhos. De noite, chegam
tarde e não encontram ânimo para
preparar uma alimentação equilibrada. “Assim, sentem uma dívida com a
criança e acabam cedendo às vontades delas de comer o que quiserem,
gastar o tempo da forma que preferirem. Infelizmente, acham que estão
alimentando as crianças afetivamente”, diz Tassara. Para a psicóloga, problematizar a obesidade no seio dessas
famílias é essencial para encontrar
uma possibilidade de solução.
ATENÇÃO PRECOCE Descobrir um
culpado não definirá o enfrentamento do problema, mas os pais não podem se isentar das responsabilidades.
Segundo a endocrinologista Flávia
A nutricionista Juliana
Miranda, a pediatra
Roselane Lana e a psicóloga
Valéria Tassara trabalham
com mudança de atitudes
de toda a família
Quanto
mais lúdico
melhor
Pieroni, coordenadora do programa
Fitkids do Instituto Mineiro de Endocrinologia, que atua de forma multidisciplinar, com endocrinologista, nutricionista, psicólogo e educador físico, a maioria das crianças já chega em
um grau muito avançado. A médica
tem, por exemplo, pacientes de 6 anos
já com colesterol alto, hipertensão e
alteração na glicose. “Quase todas as
crianças que atendo chegam já com
sobrepeso ou obesidade. Mas elas podiam ser encaminhadas pelos pediatras assim que o peso passasse o esperado para a idade”, defende.
Esse olhar precoce facilitaria a
perda de peso. “Na criança obesa,
precisamos estimular a perda de peso. Naquela com sobrepeso, podemos tentar a manutenção, já que,
com o crescimento, ela pode atingir
a relação peso x altura normal”, explica. Por terem metabolismo mais
alto que o de um adulto, os pequenos têm maior possibilidade de gasto energético, desde que estimuladas
a se exercitar. “O mais importante é
mudar o pensamento e a relação da
criança com a comida. Queremos
que elas cresçam saudáveis, que adquiram bons hábitos. Quanto mais
precocemente enfrentarem o problema com o peso, melhor para toda
sua vida. Mudar hábitos aos 5 anos é
mais fácil que mudar aos 60. Na infância, temos a melhor oportunidade para melhorar a expectativa de
peso futura”, defende.
CONTROLE EM DIA Não é raro que, em
determinada idade, os pais passem a levar os filhos ao pediatra só quando
adoecem. Esse descuido pode tirar dessa família um alerta importante, já que
o especialista acompanha a curva de
crescimento das crianças, identificando alterações. Segundo Antônio José
das Chagas, presidente do Comitê de
Endocrinologia Pediátrica da Sociedade Mineira de Pediatria e professor
aposentado da Faculdade de Medicina
da Universidade Federal de Minas Gerais, também é importante atuar no
comportamento da sociedade. “A obesidade é uma doença crônica grave. As
pessoas precisam se conscientizar de
que ela está crescendo em função dos
maus hábitos da população.”
Com a Campanha Nacional de Prevenção à Obesidade na Infância e Adolescência, a Sociedade Brasileira de
Pediatria chama também a atenção
dos especialistas para a curva de crescimento e peso. “Naqueles casos em
que a criança ganhou mais peso do
que o esperado, é imprescindível
alertar a família sobre os riscos. Os
pais precisam entender que isso é
grave e exige uma alteração o quanto
antes. A criança com 5 anos e seis quilos mais pesada que o normal para a
sua idade, em 85% dos casos, será um
adulto obeso. Se a criança não chega
obesa à adolescência, e se o adolescente não chega obeso à vida adulta, temos uma chance de mudar essa realidade”, explica.
MOVIMENTE-SE
Recomendações de atividades para crianças
e adolescentes prevenirem doenças
cardiovasculares
Crianças devem
praticar,
diariamente,
atividade física
moderada ou
vigorosa por no
mínimo 60 minutos. A
atividade deve ser lúdica.
Adolescentes
podem fazer
exercícios de
resistência
(10 a 15
repetições),
com intensidade
moderada,
combinados com atividade aeróbica.
Crianças e
adolescentes
devem
diminuir o
tempo
diário de
atividades
sedentárias (TV,
videogames, computador, tempo
ao telefone celular) para no máximo
duas horas.
FONTE: ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE CARDIOLOGIA
A abordagem multidisciplinar, como defendida pelo Instituto Mineiro
de Endocrinologia, por meio do Fitkids, e pelo Hospital Infantil São Camilo,
pode facilitar o processo de mudanças de hábitos. O lúdico também. A
nutricionista materno-infantil Alice
Carvalhais tem ajudado muitas crianças a comer melhor com o seu projeto
Alice no País das Comidinhas. Entre as
opções de abordagem, estão a Oficina
Culinária, quando ela vai à casa da
criança ensiná-la a preparar lanches
saudáveis, e o Um Dia com a Nutri,
com visitas ao sacolão, supermercado
e restaurantes, sempre com lições de
escolhas mais adequadas.
Guilherme, de 7 anos, trocou os
sucos industrializados e bolinhos de
chocolate por biscoitos integrais e
frutas. Segundo a mãe, Cíntia de Matos Martelo, de 28, ele começou a ganhar peso quando ela, preocupada
porque ele voltava para casa com a
merenda, cedeu e começou a mandar guloseimas para ele não ficar
sem comer. Alice defende uma
maior preparação dos pais e tem ensinado a eles como introduzir os melhores alimentos. “Muitos erram
sem perceber, com a intenção de
ajudar. Muitas mães já entregam para o filho o leite com achocolatado,
sem nem saber se a criança preferiria o leite puro”, alerta. (CC)
SERVIÇO
Grupo de Promoção da Saúde das Crianças,
Adolescentes e Famílias
O programa acompanha 10 famílias a cada
semestre, com encontros quinzenais com
nutricionista, pediatra e psicóloga. É necessário
fazer inscrição e pagar uma taxa de R$ 30.
Mais informações: (31) 3489-6100
Leia mais sobre
obesidade infantil em
www.saudeplena.com.br
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Quanto mais lúdico melhor - Hospital Infantil São Camilo