Uma pedagogia
Poética
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Severino
Severino Antônio
Katia Tavares
Americana-SP, 2013
Copyright © 2013
Severino Antônio
Katia Tavares
Projeto editorial
Magali Berggren Comelato
Maria Amélia Moscom
Projeto Gráfico
Paula Leite
Revisão
Lara Milani
Ilustrações
Acervo dos escritores, todas feitas por crianças
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
B198p
Antônio, Severino (Severino Antônio), 1951Uma pedagogia poética para as crianças / Severino Antônio, Katia Tavares. - Americana, SP : Adonis,
2013.
112 p. : 15,5 x 22,5 cm
ISBN 978-85-7913-133-2
1. Educação 2. Educação de crianças 3. Pedagogia crítica. I. Tavares, Kátia. II. Título.
13-0937. CDD: 370.71
CDU: 37.02
Todos os direitos reservados à Gráfica e Editora Adonis.
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Antônio Pedro
14.02.13 18.02.13 042762
Joana
Apresentação
As grandes descobertas sempre estiveram ao nosso lado:
foi o sonho de vê-las que as tornou presentes e tão reais,
que até batizamos o que era sonho de “realidade”.
A criança é uma dessas grandes e estimulantes descobertas, nos mais diversos sentidos: humano, psicológico, pedagógico... Do ponto de vista sociológico, “ser
criança” é uma descoberta que se desbrava sobretudo a
partir do início do século XX, quando começamos a olhar
para ela como um ser acabado, coerente e inteligente, em
lugar de entendê-la como “incompleta”, “ignorante” ou
“imatura”. Mas se por um lado esta descoberta retira o
“ser criança” do estar “em falta” ou “aquém”, por outro
lado revela o quanto “ser criança” pode ser ameaçador.
As pedagogias mais autoritárias, o cerceamento da criatividade e do pensamento divergente, a tentativa de normalização comportamental que persiste em existir na família,
na escola e na comunidade mostram com saciedade a
dimensão ameaçadora do “ser criança”e “ser criança”. E,
pensando bem, talvez coloque mesmo em ameaça muitas
“ideias feitas” que se construíram sobre a ordem social,
sobre o preconceito, sobre a forma como as relações interindividuais se constroem na nossa sociedade. O olhar
inteligente mas desformatado da criança sobre a nossa
realidade social é desconcertantemente ameaçador porque
nos puxa o tapete das certezas absolutas e põe em causa
o que não seria passível de questionamento. Quem sabe
se, ao tentarmos explicar laboriosamente a uma criança
por que há guerra, por que há pobreza e desigualdade,
por que há racismo etc., sintamos dolorosamente que as
nossas razões são ingênuas, coniventes e talvez mesmo
covardes. O olhar da criança, desimpedido das enubladas
razões, pode, assim, aparecer como incômodo.
A questão é, pois, o que se faz a esta nossa incomodidade. Desafia-nos ou assusta-nos? Que faremos com um
olhar em que as categorias são fluidas, em que a justiça é
simples e em que os compromissos não são óbvios? Que
faremos com um olhar que ouve um pássaro sem precisar
Haibun de Veneza
na Bienal de Veneza uma exposição de arte contemporânea está
determinada a mostrar outras escalas para as coisas do quotidiano
formigas e louva-a-deus enormes parecem dinossauros olhos do
tamanho de pneus de caminhão patas como árvores deitadas uma
menina puxa pela mão do pai vem ver vem ver e o pai resiste agora
não vem ver insiste só um bocadinho o pai acede meio contrafeito
e é guiado e arrastado pelo corpo de quatro anos vês e apontou
para o chão não vejo nada olha bem olha melhor vês vês o pai
agachou-se e no chão havia um tatu-bolinha no cais enquanto o
navio se afasta a menina olha a água.
É desta descoberta desafiadora da criança que trata este
belíssimo livro “feito à mão” pelo Severino e pela Katia. É um livro
determinado a descobrir o que milhares de anos de “civilização”
cobriram por cima do deleite e do poder de “ser criança”. O
supremo poder do frágil, do passageiro, do “ver o outro lado,
estando neste”. Um ser humano, credor de um lídimo respeito que
não nasce da obediência, do medo ou da admiração: um respeito
que desponta do puro sentimento. Mesmo – e sobretudo – sendo,
este “ser”, frágil e dependente.
Uma pedagogia poética para as crianças é um credo na
humanidade e na complexidade da criança. É também um manifesto
sobre o respeito inteiro face a este ser que já é, ao reconhecimento
do seu olhar profético, desafiador e instigador do Belo na nossa tão
ameaçada humanidade.
Talvez precisemos mesmo é de uma pedagogia poética para
adultos...
Bem precisamos…
David Rodrigues e Luzia Mara Lima-Rodrigues
Escola Superior de Educação Jean Piaget de Almada
Lisboa, inverno de 2013.
Foi com alegria que recebi o convite para escrever a abertura
desta obra tecida por habilidosas mãos, aguçadas mentes
e ternos corações. Só quem já adentrou o portal-porteira
de Cachoeira, em meio ao Vale do Paraíba, de montanhas
douradas, sabe a preciosidade de conviver, prosear e versejar
com esses dois seres que, além das afinidades presentes nas
escolas do lar e da vida, compartilham também um saber
cada vez mais esquecido em nossos dias tão tormentosos:
a arte da escuta.
Essa arte a que me refiro não é somente a capacidade
de silenciar e de interpretar as informações, imagens e
símbolos presentes na linguagem. A maestria dos autores
se encontra em um agir comunicativo outro. Ambos, em
um esforço heroico e empático, elevam frases, palavras
e sons às dimensões do poético. Em um constante ouvir
poético da fala humana – e de todas as coisas e seres
irmãos –, são capazes de religar mundos antes distantes e
construir pontes outrora desfeitas.
Em verdade, foi por meio da escuta poética e para o
estímulo de sua prática, em especial na Pedagogia, que os
tecidos constelares deste livro foram cerzidos. Desta vez, os
ouvidos dos autores estão direcionados às vozes daqueles
considerados pelo mundo como in-fantes, aqueles que
não falam. Crianças silenciadas por um adultocentrismo
cruel, capaz de tornar naturalizada uma das relações mais
desiguais em nossa sociedade.
Reconhecer e con-siderar a voz das crianças é ir ao
encontro sideral da fluidez das indagações fundamentais
da vida e de um estado constante de alumbramento com
as coisas e os seres. Expressam-se na narrativa mitológica
de um nascimento caído de Joaquim, na lua Joanina que
ilumina os corpos e as cabeças dos que já se foram ou na
grande peixa-mãe de todas as estrelas de Antônio, que com
certeza algum dia foi gente viva e perambulou dançante
com Catarina e as poeiras estelares.
Ao contrário disso, com o assédio de uma mídia
violenta e comercialmente banalizada por comunicações
mercadológicas, temos permitido que a sensibilidade para
A escuta da infância
de lhe dar um nome, que dança sem ter que dar uma razão, que vê
o mundo como se não fosse o mundo?
Pedro Afonso Hartung
São Paulo, primavera de 2012.
Uma breve apresentação ................................. 13
Primeira parte (Severino Antônio)
Uma pedagogia poética .................................... 15
1. Algumas considerações ................................... 16
2. Fazer de novo, fazer de conta ......................... 19
3. Experiências de criação .................................. 24
4. Comparações originais .................................... 29
5. Processo de enumeração ................................ 35
6. Estranhamento do objeto ................................. 46
7. Falas de crianças: vozes constelares .............. 53
8. Haicai: a iluminação do instante .................... 56
9. A infância desfigurada .................................... 60
10. Infância e reencantamento ............................ 65
Uma declaração para honrar a criança ................ 69
Manifesto dos direitos naturais das crianças ..... 70
É bom ser criança porque... ................................ 71
Sumário
o novo se esvaia no vento das frases e ideias prontas, pré-moldadas
e utilitaristas. Muitos Joaquins, Joãos, Antônios e Catarinas são
constantemente tolhidos em suas capacidades nascentes de gerar em
suas expressões ainda libertas novos começos, inventivas formas e
jeitos nunca antes vistos. Poesia! Novas vozes para um mundo em
desencanto e sem esperança.
A nova escuta exige práticas e exercícios diários para reconhecer,
dentre os emaranhados de sons, os timbres mais vívidos e singulares
que habitam cada criança. Somente os ouvidos mecânicos que
temos, mostram-se insuficientes. Fazem-se necessários novos, que
ouçam verdadeiramente. Ouvidos sensíveis para falas igualmente
sensíveis; frágeis cristais que ao menor dos toques podem romper o
encanto das falas aventurosas.
Como convite vigoroso para uma mudança essencial na forma
de se relacionar com a criança, a escuta poética da infância surge
como bandeira a tremular nos desertos humanos. Nas salas de aula
sem o sabor sensível da aprendizagem das nuances; nos recreios
sem o barulho bom das brincadeiras criativas e espontâneas; nas
comunidades amedrontadas e privadas das surpresas dos encontros
fortuitos nas ruas e praças; nas famílias anestesiadas pelo torpor
das telas e imagens virtuais; na própria infância ainda e tristemente
calada.
Então, caro leitor, tenha certeza de que neste exato momento
entrará em contato com um convite capaz de mudar o mundo;
ou ao menos os pequenos mundos que as crianças habitam,
preenchendo-os com o vigor abundante da recém-vida, dos sonhos
intactos e da esperança ainda escondida. Como pequenos filósofos
da poesia e poetas da filosofia, as crianças reúnem os mundos
distanciados e apaziguam dicotomias que nenhum filósofo ou poeta
foi capaz de abrandar.
Que possamos escutar a infância como Katia e Severino
poeticamente escutaram. Assim, se um dia Platão pode ter expulsado
os poetas de sua República, com este livro de Severino e Katia em
mãos, todos eles teriam novamente morada em sua cidade e, sem
sombras ou dúvidas, as crianças, como naturais representantes da
poesia e da filosofia, seriam reis e sábios de fato e de direito.
Segunda parte (Katia Tavares)
Poetizar o pedagógico no cotidiano da escola ..............73
1. Algumas palavras ................................................................... 74
2. Textos de convite para primeira reunião
do ano letivo com pais (Educação Infantil) ............................. 76
3. Texto de introdução à agenda escolar (Educação Infantil) ...... 78
4. Textos de introdução ao ano letivo para
os pais (Educação Infantil) ..................................................... 78
5. Texto de início do segundo semestre letivo para
os pais (Educação Infantil) ..................................................... 81
6. Texto para reunião de professores
(Ensino Fundamental 1 e 2) ..................................................... 81
7. Texto de convite para reunião de pais de alunos do
1o para o 2o ano (Ensino Fundamental 1) ................................. 82
8. Texto para reunião de professores do Ensino Fundamental
1 e 2, em início de ano letivo ................................................. 83
9. Convite para reunião de pais (Ensino Fundamental 2) ............84
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Uma pedagogia poética para as crianças