FNC375N: Soluções da Lista 6 - Primeira Parte 11 de novembro de 2004 Propriedades ondulatórias das partı́culas A hipótese de de Broglie 1. Qual é o comprimento de onda de um corpo de 1 g que se move com uma velocidade de 1 mm/ano? Qual deveria ser sua velocidade para que o comprimento de onda fosse 1 cm? Resp.: h p 1 ano ∼ = 3,16×107 s ⇒ v ∼ = 3,2×10−11 m/s p∼ = 3,2×10−14 kg · m/s, h ∼ = 6,63×10−34 J · s λ∼ = 2,1×10−20 m λ= Para um comprimento de onda λ = 2 cm, v= h ⇒v∼ = 6,63×10−29 m/s. mλ Note que a energia cinética neste caso seria K ∼ = 2,2×10−60 J ∼ = 1,4×10−41 eV. Compare este resultado com a energia térmica a uma temperatura T = 1 K, kB ∼ = 8,6×10−5 eV. 2. Se a energia cinética de uma partı́cula é muito maior que a energia de repouso, podemos usar a aproximação relativı́stica E ≈ pc. Use esta aproximação para computar o comprimento de onda de um elétron com uma energia de 100 MeV. Resp.: h ∼ hc = p E hc ∼ = 1,24×10−6 eV · m λ∼ = 1,24×10−14 m = 12,4 pm. λ= Com 3. Os elétrons de um microscópio eletrônico são acelerados por uma diferença de potencial V0 que faz com que seu comprimento de onda seja 0,04 nm. Qual é o valor de V0 ? 1 Resp.: Para um elétron não relativı́stico com a energia cinética K o comprimento de onda de de Broglie é dado por h hc . λ= √ =√ 2mK 2mc2 K Como a K = eV0 , a energia cinética em eV é numericamente igual ao potencial acelerador V0 em volts. hc 1,226 ∼ λ= √ = √ nm. 2 V0 2mc eV0 O fator numérico vem de hc = 1,24×103 eV · nm e mc2 = 0,511 MeV. Assim 2 1,226 V0 ∼ V = 939V. = 0,04 Como para o elétron mc2 ∼ = 0,511 MeV, e neste caso K ∼ = 1 keV, o uso da fórmula não relativı́stica para a energia cinética se justifica. 4. Calcule o comprimento de onda de uma partı́cula com energia de 4,5 keV supondo que se trata (a) de um elétron; (b) de um próton; (c) de uma partı́cula alfa. Resp.: a) Para um elétron, temos λ= √ 1,226 1,226 h ∼ nm ∼ = √ nm = p = 1,83×10−2 nm. 3 2me K K 4,5×10 b) Para uma partı́cula qualquer de massa m com a mesma energia cinética podemos escrever r λ me = . λe m p Assim, para o próton, mp c2 ∼ = 938 MeV, e me /mp ∼ = 2,33×10−2 , resultando λp ∼ = 4,27× =10−4 nm. p c) Para uma partı́cula alfa, mα ∼ = 4mp e mp /mα ∼ = 21 , resultando λα ∼ = 2,14× =10−4 nm. 5. De acordo com a mecânica estatı́stica, a energia cinética média de uma partı́cula a uma temperatura T é 3kB T /2 (kB é a constante de Boltzmann). Qual o comprimento de onda médio das moléculas de nitrogênio à temperatura ambiente? Resp.: Tomando K = 3kB T /2 a expressão para o comprimento de onda de de Broglie de uma partı́cula de massa m fica λ= √ h h =√ . 3mkB T 2mK Sendo M o número de massa (de um átomo ou molécula) a massa de uma molécula pode ser escrita como m = M u, onde u ∼ = 1,66×10−27 kg é a unidade unificada de massa atômica. Assim h 1 √ λ= √ . 3ukB M T 2 Com os valores de h ∼ = 6,63×10−34 J · s e kB ∼ = 1,38×10−23 J/K a constante nesta expressão fica h ∼ √ = 2,53 nm · K1/2 . 3ukB Tomando T = 300 K e M = 28 (número de massa da molécula de N2 ), obtemos √ M T ≈ 92 e λ∼ = 2,75×10−2 nm. 6. Determine o comprimento de onda de um nêutron com uma energia cinética de 0,02 eV (o valor aproximado de kB T à temperatura ambiente). p Resp.: Como mn c2 = 939 MeVe me /mn ∼ = 2,33×10−2 , obtemos com K = 0,02 eV, λ= p 1,226 me /mn √ nm ∼ = 0,2 nm = 2 Å. K Nêutrons com esta ordem de grandeza de energia são chamados de nêutrons térmicos. Note que λ é comparável ao espaçamento interatômico nos sólidos, e, assim esses nêutrons podem sofrer difração apreciável por cristais. 7. Um próton se move livremente entre duas paredes rı́gidas separadas por uma distância L = 0,01 nm. (a) Se o próton é representado por uma onda estacionária unidimensional com um nó em cada parede, mostre que os valores permitidos do comprimento de onda são dados por λ = 2L/n, onde n é um inteiro positivo. Resp.: Como uma onda senoidal se anula a intervalos de meio comprimento de onda, as paredes devem acomodar um número inteiro de meios comprimentos de onda, ou seja 2L λ . L=n ⇒λ= 2 n (b) Encontre uma expressão geral para a energia cinética do próton e determine os seus valores para n = 1 e n = 2. Resp.: K= p2 h2 h2 = = n2 . 2mp 2mp λ2 8mp L2 Com hc = 1,24×103 eV · nm e mp c2 = 939 MeV, obtemos para L = 10−2 nm K∼ = n2 × 2 eV. 8. Qual deve ser a energia cinética de um elétron para que a razão entre o seu comprimento de onda de de Broglie e seu comprimento de onda Compton seja (a) 102 , (b) 0,2, (c) 10−3 ? Resp.: O comprimento de onda Compton de uma partı́cula é dado por λC = 3 h . mc Na aproximação não relativı́stica, o comprimento de onda de de Broglie é λ= √ Assim λ = λc r h . 2mK mc2 mc2 ⇒K= . 2K 2(λ/λC )2 Vemos que para λ da ordem ou menor que λC esta expressão resulta numa energia cinética comparável à energia de repouso da partı́cula, o que significa que a aproximação não relativı́stica não é apropriada. Com as expressões relativı́sticas, K = E − mc2 , E 2 = (pc)2 + (mc2 )2 ⇒ (pc)2 = K 2 + 2Kmc2 λC mc2 hc =p λ= pc K(K + 2mc2 ) Resolvendo para K, obtemos p K 1 + (λC /λ)2 − 1. = mc2 Para λ/λC = 102 obtemos K ∼ = 25 eV. Este resultado é muito próximo = 5×10−5 mc2 ∼ do obtido pela fórmula não relativı́stica. Para λ/λC = 0,2 (ou λC /λ = 5), resulta K ∼ = 4,1mc2 . Para λ/λC = 10−3 (ou λC /λ = 103 ) vem K ∼ = 103 mc2 , ou seja, já estamos no limite ultra-relativı́stico. 9. Calcule o comprimento de onda de um próton proveniente do espaço sideral cuja energia é (a) 2 GeV, (b) 200 GeV. Resp.: Como a energia de repouso do próton é mp c2 ∼ = 939 MeV ∼ = 1 GeV, devemos utilizar as expressões relativı́sticas para a relação energia, momento. Assim, λ = λC K m p c2 −1/2 K +2 , mp c2 onde o comprimento de onda Compton do próton vale λC = hc ∼ = 1,32×10−15 m = 1,32 pm. mp c2 Para K = 2 GeV ∼ = 2,13mp c2 , resulta λ ∼ = 0,337λC ∼ = 0,45 pm. 2 ∼ ∼ Para K = 100 GeV = 106mp c , resulta λ = 9,3×10−3 λC ∼ = 1,23×10−3 pm. 4