VI DOMINGO DA PÁSCOA – Ano A Evangelho - Jo 14, 15-21 “Eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro Defensor” Ir. Florinda Dias Nunes, sjbp. Estamos nos aproximando do final do Tempo Pascal. Os textos deste domingo já anunciam a chegada o Espírito Santo. Assim, os At 8,5-8.14-17 narra a pregação de Felipe na Samaria e o envio dos Apóstolos para invocar sobre eles o Espírito Santo e a 1Pd 3,15-18 convida à santidade de coração e a dar razão da esperança, passando pelos sofrimentos sem desanimar, como Jesus que sofreu a morte, mas recebeu o Espírito Santo. No Evangelho de Jo. 14,15-21 a preocupação do evangelista está em mostrar a afinidade que deve existir entre os discípulos e Jesus, assim como existe esta afinidade entre Jesus e o Pai. Os discípulos não ficarão órfãos, pois receberão outro Defensor. Conteúdo e contexto A liturgia traz para a nossa reflexão parte do discurso de despedida de Jesus na última ceia. Como falei no texto anterior, os discípulos estão abalados diante das revelações de Jesus sobre sua morte próxima, sobre a traição e negação de alguns deles. Jesus os conforta dizendo-lhes que já não os chama de servos, de empregados, mas de amigos, pois os amigos entram na intimidade, conhecem o que o amigo vive e revela. Jesus diz que os chama de amigos porque comunicou tudo o que ouviu do seu Pai (cf. v. 15). Revela ainda que eles fazem parte do seu grupo porque foram escolhidos por livre vontade do Pai e não porque sejam melhores do que os outros, mas porque eles têm uma missão a cumprir. Deverão ir e produzir frutos que permaneçam, e receberão tudo o que pedirem ao Pai, em nome de Jesus. Seu mandamento é que se amem uns aos outros como já havia dito: “Eu dou a vocês um mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros” (13,34). Do guardar Seus mandamentos se seguirão três dons correlativos: o Espírito Defensor; o amor do Pai e a presença do Pai e do Filho em suas vidas. Este amor é para ser vivido em comunidade e não egoisticamente. O amor com que Jesus nos amou é abrangente, profundo, sem distinção de etnia, de idade, cultura... mas, um amor vivido em comunidade, sabendo dialogar com as diferenças, mostrando ao mundo um novo jeito de viver. Só quem entra nesta dinâmica é capaz de mostra que é realmente seguidor de Jesus. O amor não pode ser vivido em circuito fechado, egoísta, mas deve projetar para fora, da mesma forma como agiu Jesus, que veio trazer a vida em plenitude para todos. O amor vivido em comunidade prolonga a ação de Jesus em favor de todos. É um dar a vida, consumida inteiramente pela causa de Jesus. O Pai, que manifestou sua bondade em Jesus, devotará ao discípulo o mesmo amor que revelou no Filho. Os discípulos serão a manifestação de Deus neste mundo: “Quem me ama será amado por meu Pai. Eu também o amarei e me manifestarei a ele” (v. 21b). Tudo isto que Jesus revelou e que a comunidade cristã deverá levar à frente vai precisar de alguém que a sustente. Enquanto Jesus estava no mundo, ele protegia e orientava os seus. Deixando este mundo, Jesus não os desampara, mas lhes promete a força do Espírito da Verdade, o Espírito Santo (cf. v. 16). O Advogado, é o Defensor que atuará em todos os momentos da nova realidade, que a comunidade cristã irá enfrentar sem a presença física de Jesus. Este Defensor, o Espírito Santo, permanece para sempre na vida da comunidade. Ele estará presente em todas as ações dos cristãos em defesa da liberdade e da vida, como fez Jesus. O Espírito da Verdade é a memória da fidelidade a Jesus na vida da comunidade cristã. Esta não caminha em direção ao vazio e à derrota, porque o caminho de Jesus leva à vida. O Espírito é a ação do Senhor atualizada na caminhada da comunidade. O enfrentamento com o mundo é uma conseqüência da opção cristã. O mundo neste caso é entendido como as forças que destroem a vida, ou seja, o egoísmo, a ganância, a prepotência, a injustiça e tantas outras atitudes que contribuem para que as pessoas e a própria natureza sejam cada vez mais destruídas. Ao deixar fisicamente este mundo, Jesus garante aos seus a força do Espírito que atuará na comunidade. O mundo não o verá mais, mas a comunidade continuará revivendo a experiência de Jesus pela força do Espírito Santo. Através dele, Jesus viverá nos cristãos. É este mesmo Espírito que leva os cristãos ao reconhecimento de que Jesus e o Pai são uma só coisa (cf. 10,30). Em comunhão com esse Espírito, também os cristãos são uma só coisa com Cristo. Conclusão Diante deste evangelho tão denso e tão pleno de revelações, como conseguimos entendê-lo? Somos capazes de nos deixar envolver por esta força de Deus e agir em favor da vida, denunciando as injustiças e a destruição que nos rodeiam a cada instante, ou ficamos omissos esperando que outras pessoas tomem posição? Bibliografia Bíblia do Peregrino, Paulus, 2002; J. Mateos-J, Barreto, O Evangelho de São João, Ed. Paulinas, São Paulo 1989, p. 654-630.634-635; Bortolini, José, Como ler o Evangelho de João. O caminho da vida. Paulos, São Paulo, 1994, 140-141; Léon-Dufour, Xavier, Leitura do Evangelho segundo João III, Loyola, São Paulo, 1996, 85-93. 105-108.