Educação dos filhos na fé
(Madre Maria Helena Cavalcanti)
“De tal maneira Deus
amou o mundo que
enviou seu Filho
Unigênito para nos
salvar”. (Jo 3,16)
As mudanças são superficiais, mas o
homem de ontem, de hoje e de amanhã é o
homem eterno em busca de um sentido
para a vida, em busca da felicidade, embora
às vezes com endereços tão errados.
Impõe-se a nós, católicos, uma reflexão
sobre esse tema, nos impulsionando
também a buscar novos caminhos para a
educação religiosa dos filhos.
Gênesis 1, 26: chave de toda visão cristã do
homem: “Então Deus disse: ‘Façamos o
homem à nossa imagem e semelhança.” E o
texto continua: “Deus criou o homem à Sua
imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o
homem e a mulher.” (Gên. 1, 27). Abençoandoos, Deus lhes diz: “Crescei e multiplicai-vos,
enchei e dominai a terra.” (Gên. 1, 28)
Portanto, a família é “concebida como comunidade
de vida humana, como comunidade de pessoas
unidas no amor.” (João Paulo II - Carta às famílias,
6). É essa a primeira forma de catequese na família:
a vivência e irradiação dos valores cristãos.
Os filhos são um dom de Deus para o casal e
também uma feliz e séria responsabilidade.
Na família os pais têm o privilégio de
colaborar com Deus na transmissão da vida e
na transmissão da fé.
“A família é o primeiro templo no qual se aprende a
orar, o lugar privilegiado de formação e
evangelização” É a “igreja doméstica” onde “se
aprende a paciência e a alegria do trabalho, o amor
fraterno, o perdão generoso e sobretudo o culto
divino por meio da oração e da oferenda da própria
vida” (Catecismo da Igreja Católica, nº 1657).
Quando a oração familiar é feita em
comum, pais e filhos apresentam a
Deus a própria vida da família em
suas diversas circunstâncias. “Onde
estiverem reunidos em meu nome
dois ou três, eu estarei no meio
deles.” (Mt 18, 20).
Os pais cristãos que cultivam a vida interior, de
intimidade com Deus, passarão essa
experiência para os filhos. Não só transmitirão
a fé a nível intelectual, mas conseguirão
despertá-los para o transcendente, para o
mistério da vida sobrenatural. Essa é a maior
garantia de que a semente da fé nunca se
reduzirá a práticas exteriores apenas, mas será
o sal, dando sabor a todos os aspectos da vida.
O Salmo 118 diz:
“Senhor, ensina-me a
bondade, o
conhecimento e a
disciplina”. Três
elementos
imprescindíveis para
uma educação
completa.
A bondade emana naturalmente de uma pessoa que
vive unida a Cristo. A bondade evita a dureza de
coração no agir, no julgar e, ao corrigir.
O conhecimento deve conservar sempre sua
relação com a Verdade. “Conhecereis a verdade
e a verdade vos libertará.” (Jo 8, 32).
A disciplina é um elemento por vezes ausente
da educação. “A disciplina é necessária para
a formação do caráter”. Os pais precisam
colocar os limites. Sem eles as crianças e
jovens se sentem perdidos. Para isso muitas
vezes os próprios pais necessitam se
reeducar.
O uso da autoridade é outra
questão importante na família.
A autoridade existe para
aumentar o bem comum.
Autoridade é diferente de
autoritarismo, ela abre espaço
ao diálogo.
A justiça: aspecto essencial da vida familiar - irá
preparar os filhos para a convivência social e o
exercício da cidadania.
A eqüidade (justiça proporcional): requisito valioso. Os
pais não podem cobrar dos filhos o que está acima de
suas possibilidades.
Os pais não podem colocar uma redoma em seus
filhos, mas provocá-los para vôos mais altos, com
uma presença atenta, tranqüila, estimulante e alegre.
Educar é mais do que instruir, é construir uma
consciência crítica iluminada pela razão e a razão
iluminada por uma luz mais forte: a Fé.
“Como a grande Igreja, assim também a pequena
Igreja doméstica (a família) tem necessidade de ser
contínua e intensamente evangelizada: daqui o seu
dever de educação permanente na fé.” (Familiaris
Consortio, 51)
No Batismo recebemos a
fé que precisa ser
cultivada como qualquer
semente que cresce, se
desenvolve e dá frutos. A
fé dos pais, portanto,
precisa de cultivo através
de uma catequese
adequada. Só Jesus é
Mestre.
“‘A família, como a Igreja, deve ser
um lugar onde se transmite o
Evangelho e de onde o Evangelho
irradia. Portanto, no interior de uma
família consciente dessa missão
todos os componentes evangelizam
e são evangelizados. Os pais não só
comunicam aos filhos o Evangelho,
mas podem também receber deles o
mesmo Evangelho profundamente
vivido. Uma tal família torna-se então
evangelizadora de muitas outras
famílias e do ambiente no qual está
inserida.’ (EN - 71).”
Assim a família participa na vida e na missão da Igreja
em três níveis: no seu próprio interior, na comunidade
a qual pertence e na Igreja. Nessas famílias surgem
naturalmente as vocações sacerdotais e religiosas.
São coroa dos valores cristãos vividos pelos pais e
filhos.
A família é o “centro e o coração da
civilização do amor” e por isso
deve
ser
uma
escola
de
convivência fraterna e cristã. O
modo como os pais tratam as
demais
pessoas:
parentes,
vizinhos, amigos, empregados, é
observado e absorvido pelos filhos.
O acolhimento, a generosidade, a solidariedade, o
perdão só deixarão de ser apenas palavras bonitas
se forem experimentados desde cedo pelos filhos.
“Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos,
se vos amardes uns aos outros.” (Jo 13, 35).
“A família cristã é chamada a oferecer a todos o
testemunho de uma dedicação generosa e
desinteressada
pelos
problemas
sociais,
mediante a ‘opção preferencial pelos pobres’ e
marginalizados.” (FC, 47)
A criança e o adolescente não são frases
soltas, fora do contexto. A verdade só se
revela inteira ao homem inteiro. Hoje vivemos
nossa
fé
imersos
numa
sociedade
secularizada. Mais do que nunca é preciso
saber diferenciar o bem e o mal. A avalanche
de notícias negativas é de tal monta que
corremos o risco de “banalizar o mal”. No
entanto, na oração do Pai Nosso, ensinada
por Jesus, nós pedimos: “livrai-nos do mal”.
Os jovens precisam de referencial e limites. A
vontade ajudada pela graça, em um processo de
educação integral da personalidade vai
aprendendo a dizer não ao mal.
A educação nos prepara para o difícil exercício
da escolha, não só entre o bem e o mal, como
também entre coisas boas. Nesse exercício da
liberdade a disciplina e a renúncia não podem
faltar. A vida tem momentos de prazer, mas um
momento de prazer não vale uma vida.
O maior erro diante de um mundo que nos invade
por todos os poros com o hedonismo, o
consumismo, a droga, a destruição é achar que não
podendo fazer muito então não faremos nada.
“Combater o bom combate” é isso: lutar contra a
maré sabendo que o Senhor já venceu e com Ele
também venceremos.
É da condição humana
sentir os próprios limites;
é arte divina transpô-los.
Diante da tentação não há
fortes e nem fracos e sim
prudentes e imprudentes.
Santo é o pecador que
não desiste.
Os pais precisam aprender como regular o lazer
de seus filhos, como selecionar suas amizades e
influências. Não há ninguém que não receba
influências.
Os
filhos
irão
adquirindo
sensibilidade para perceber, dos muitos
caminhos que lhes são apresentados, quais
aqueles que estão em harmonia com Cristo, que
é o Caminho e em harmonia com a própria
pessoa.
Opiniões e vicissitudes, problemas e conflitos,
sucessos e desilusões do mundo inteiro,
exercem notável influência sobre as famílias. Os
pais desempenham seu papel específico
quando, ao comentarem juntamente com os
filhos as notícias, as informações, e as opiniões,
refletem sobre tudo isso de maneira madura e do
ponto de vista cristão.
É também com o diálogo e uma participação amiga na
vida dos filhos que os pais terão contato com seus
amigos. Os filhos educados em uma família
verdadeiramente cristã levarão esses valores aos
colegas, colaborando para sua edificação.
Uma palavra final sobre o sofrimento. Em toda
família também há os momentos difíceis: os
conflitos, as crises, as dificuldades financeiras,
desemprego, a doença e a morte. Para serem fiéis
às exigências do Evangelho em todas as
circunstâncias, os pais têm que aprender e ensinar
a seus filhos a se ultrapassar, a se superar, a
resistir na esperança, a carregar sua cruz de cada
dia unidos a Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele não
pede propagandistas, mas discípulos. “Se alguém
quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome
sua cruz e siga-me.” (Mt 16, 24)
A cruz partilhada é mais suave. Quando partilhada
dentro da família pelos pais e filhos, seu peso não
esmaga mas se torna força de união.
“Na Sagrada Família Deus exaltou cada família
humana”. Jesus quis ser um de nós assumindo
também uma família. Peçamos a Jesus, Maria e José
que abençoem todas as nossas atividades pastorais,
as famílias de nossa Cidade que atingiremos com
nosso trabalho, e as do mundo inteiro. Não nos
esqueçamos de que só há um modo de testemunhar
a fé com credibilidade: por uma vida santa.
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