Nutrição
Ganhando peso na
SECA
É possível, sim, ganhar peso durante o período seco, quando se trabalha com proteinados
André N. Louzada*
N
o período da seca, as pastagens
amadurecem, elevam-se os teores de fibra, diminui a produção
de folhas, caem os níveis de energia,
minerais, e, principalmente, os teores
de proteína, chegando este nutriente a
representar menos de 7% da matéria
seca, e sendo ele o principal limitante
nutricional. Com isso, o desempenho
animal é extremamente prejudicado,
pois o teor mínimo de proteína na dieta (7% na matéria seca) é fundamental
para fornecer nitrogênio para multiplicação e ação da microbiota ruminal,
que atuará fermentando o alimento ingerido.
Quando falamos em nutrição de
ruminantes, temos que atentar em fornecer as melhores condições para a mi28 - MAIO 2014
crobiota ruminal, mantendo um equilíbrio entre os nutrientes e, dessa forma,
maximizando a atividade, que processará e disponibilizará por sua vez uma
maior quantidade de nutrientes, o que
favorece um melhor desempenho dos
ruminantes.
Além da proteína para uma melhor
capacidade de fermentação ruminal,
quantidades adequadas de macro e microminerais são necessárias para atender à flora ruminal e as exigências dos
animais, pois, na seca, os níveis de minerais essenciais das pastagens podem
cair de 50 a 80%.
Adequando os níveis de proteína,
energia e minerais da dieta no período
seco, e consequentemente, a capacidade da microbiota ruminal em fermen-
tar o volumoso, a forragem é digerida
mais rapidamente, liberando espaço
no rúmen para que o animal consiga
consumir mais pastagem, mantendo-se
produtivo. Isso é possível quando utilizamos um proteinado adequado.
Para que o emprego de um suplemento mineral proteico tenha resultado, é fundamental possuir volume de
pastagem, mesmo seca, que em alguns
lugares é conhecida como macega ou
bucha. Contudo, deve-se atentar para
a presença de folhas nessa forragem,
pois em pastagens que apresentam apenas talos, o desempenho animal fica
prejudicado devido ao fato destes talos
possuírem uma camada muito espessa
de lignina e pouquíssimos nutrientes,
sendo de baixíssima digestibilidade,
permanecendo muito mais tempo no
rúmen.
A lignina é um composto que confere resistência e proteção à planta, e
sua concentração aumenta na parede
celular do vegetal, conforme a planta amadurece. Essa lignina dificulta a
ação da microbiota.
Já as folhas, mesmo secas, possuem
uma camada menor de lignina e uma
concentração maior de nutrientes, conferindo uma melhor digestibilidade e
permitindo uma fermentação mais eficiente, liberando espaço no rúmen para
que o animal coma mais forragem.
O momento certo de começar
a fornecer um suplemento mineral
específico para a seca depende de
se observar a apresentação das pastagens. Sendo assim, o momento é
quando as pastagens se encontram
amareladas e secas. É importante observar esse estádio porque caso o suplemento de seca seja fornecido em
um momento inadequado, ou seja,
quando esta pastagem ainda estiver
verde, o consumo do suplemento se
torna muito baixo, não atendendo as
exigências minerais dos animais, o
que certamente traz prejuízos no desempenho dos mesmos. Portanto, o
produtor deve sempre acompanhar o
consumo médio, evitando ingestões
inadequadas.
No período de transição das pastagens, quando não há um consumo adequado do proteinado pelo fato do pasto
não estar completamente seco, o produtor deve lançar mão de suplementos
minerais para o período de transição,
garantindo o aporte nutricional adequado também neste intervalo. Ainda, em
determinadas regiões, devido ao clima
e à incidência esporádica de chuvas, as
pastagens dificilmente secam completamente, passando todo o período de
“estiagem” em transição.
Existem proteinados desenvolvidos
para cada categoria devido ao fato de
cada uma ter uma exigência mineral.
A categoria de cria é a mais exigente
em minerais, pois além da necessidade desses nutrientes para manutenção,
há uma maior demanda para entrar em
cio, para gestação e para lactação. Os
touros, que também fazem parte da categoria de cria, exigem minerais para
uma produção de sêmen de qualidade,
para uma boa disposição e uma boa libido.
Já a categoria de recria não é tão
exigente quanto a de cria, mas, mesmo assim, é mais exigente que a de
engorda, pois coincide com uma fase
de intenso crescimento e desenvolvimento ósseo e muscular, com o desenvolvimento do aparelho reprodutor
e também com o amadurecimento do
sistema imunológico.
Fornecer um produto inadequado
à categoria pode trazer consequências
desastrosas na bovinocultura, como
queda de desempenho reprodutivo,
atraso no desenvolvimento ou aumento na incidência de enfermidades por
REVISTA AG - 29
Nutrição
Divulgação
Pasto amarelado indica o momento correto de iniciar a suplementação
especial para o período seco
não prover os animais de quantidades
corretas de minerais.
Portanto, quando as condições ambientais exigirem o uso de um proteinado de seca, que este seja escolhido
de forma a suprir tanto a deficiência
proteica da forragem, como a exigência mineral da categoria em questão.
MAnEjo CorrEto
Normalmente os proteinados possuem ureia em sua formulação. Por
isso, para evitar o risco de intoxicações
alguns cuidados devem ser tomados:
• Sempre adaptar os animais ao
novo suplemento, sendo indicado na
primeira semana, diluir o proteinado a
ser utilizado na proporção de 1:1 com
o produto que já utilizava. Na segunda
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semana, diluir o proteinado na proporção de 2:1 com o produto que utilizava.
Da terceira semana em diante, fornecer
o proteinado puro;
• Caso o fornecimento seja suspenso por três dias ou mais, deve ser refeita a adaptação;
• Evitar o acúmulo de água dentro
do cocho, trabalhando, preferencialmente, com estruturas cobertas. Sempre fazer alguns furos no cocho e o
manter levemente inclinado, de forma
que caso venha a ser molhado, o excesso de água escorra.
• Manter sempre água de boa qualidade e à vontade disponível aos animais, e que o bebedouro esteja próximo ao cocho;
• Também é importantíssimo respeitar o espaçamento de cocho mínimo
indicado para cada produto, para que
todos os animais tenham acesso ao suplemento e consumam a quantidade
adequada da mistura. Os proteinados
necessitam de uma metragem maior
de cocho, pois devem ser ingeridos em
maior quantidade quando comparados
a um suplemento de linha branca, o
que leva à uma permanência maior de
cada animal no cocho.
GAnhAndo pESo
É possível ganhar peso durante o
período seco quando se trabalha com
proteinados. Vale ressaltar que para se
conseguir esse resultado é fundamental
que seja fornecido, além de um proteinado adequado à categoria, volumoso
à vontade.
O desempenho animal também
depende do tipo de proteinado a ser
fornecido, pois existem produtos
voltados à manutenção da condição
corporal e produtos que promovem
ganho de peso quando trabalhados
corretamente. Dessa forma, o desenvolvimento e o desempenho do
animal na época seca dependem da
quantidade de nutrientes ingeridos
e do balanceamento entre esses nutrientes na dieta.
Se não corrigida esta deficiência
de proteína, energia e minerais essenciais das pastagens, neste período
seco do ano, diversas são as perdas
que podem ocorrer. Dentre elas, a que
observamos com maior facilidade é a
perda de peso, levando ao conhecido
“boi sanfona”, que ganha peso no período das águas e perde no período da
seca. Com isso, temos um atraso no
desenvolvimento do animal, pois parte do peso ganho na estação chuvosa
é perdido; e para recuperá-lo perderemos mais tempo no próximo período
chuvoso, o que leva também a uma
queda na qualidade de sua carne.
Agora, temos também outras perdas que muitas vezes não são calculadas, como atraso nas fêmeas para
entrar na estação de monta, parição de
bezerros mais fracos, produção de colostro de baixa qualidade e elevação na
incidência de doenças e taxa de mortalidade. Tudo isso aliado ao aumento
nos custos de produção devido aos gastos com medicamentos, mão de obra,
perdas de animais, e mais aplicações
de antiparasitários e vacinas obrigatórias em virtude da maior permanência
destes animais no plantel.
Animais de engorda precisam ser
terminados o quanto antes; e vacas de
cria devem desmamar o maior número possível de bezerros pesados em
sua vida produtiva.
rEtorno àS ÁGuAS
A substituição do proteinado de
seca deve ocorrer quando a pastagem
voltar a ficar verde, ou seja, quando se
iniciam as primeiras chuvas após a estiagem e recomeça a rebrota vigorosa
do capim.
A troca do proteinado de seca
pode ser por um produto de linha
branca ou por um produto voltado
especificamente para o período das
águas, que contém em sua formulação, além dos minerais, fontes de
proteína e energia para potencializar
a atividade da microbiota, atendendo, é claro, à exigência mineral de
cada categoria animal.
Independente da escolha do produto a ser utilizado com o retorno
das chuvas, torna-se importante fazer
uma adaptação a nova suplementação, assim como é feita a adaptação
para o fornecimento do proteinado
de seca, para que a microbiota ruminal se adeque gradativamente à nova
dieta.
* André N. Louzada é médico-veterinário
do Departamento Técnico de Nutrição
Animal do Grupo Matsuda
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