7
The Promotion of Health and Integrated Prevention
of Risk Factors for Cardiovascular Diseases
Amanda Gomes Ribeiro 1
Rosângela Minardi Mitre Cotta 1
Sônia Machado Rocha Ribeiro 1
1
Departamento de Nutrição
e Saúde, Universidade
Federal de Viçosa. Av. Peter
Henry Rolfs s/n, Campus
Universitário. 36570-000
Viçosa MG.
[email protected]
Abstract Cardiovascular diseases are currently
the most common causes of morbimortality worldwide. In the context of disease prevention, actions
creating favorable health environments and promoting healthy choices prove fundamental. Intervention programs with a community basis have
been introduced in different countries since the
beginning of the 1970s, aiming to modify cardiovascular risk factors and decrease morbidity and
mortality due to cardiovascular diseases. In such
experiences, the importance of public policies and
cardiovascular risk vigilance systems needs to be
stressed, permitting a more accurate assessment of
the magnitude of the problem and the development of more cost-effective actions. The scope of
this bibliographical study was to describe community-geared experiences in many countries in
the campaign against cardiovascular diseases
through health promotion and primary prevention of risk factors, as well as to identify in Brazil
the vigilance actions of the risk factors of nontransmissible chronic diseases, stressing the strategic challenges facing the Family Health Program
in tackling cardiovascular diseases.
Key words Health promotion, Disease prevention, Cardiovascular diseases, Risk factors, Family Health Program
Resumo As doenças cardiovasculares são, atualmente, as causas mais comuns de morbimortalidade no mundo. Na perspectiva da prevenção de
doenças e agravos, tornam-se fundamentais ações
que criem ambientes favoráveis à saúde e favoreçam escolhas saudáveis. Nesse contexto, programas de intervenção de base comunitária têm sido
introduzidos em diferentes países, desde o início
da década de 70, com o objetivo de modificar fatores de risco cardiovascular e diminuir a morbidade e a mortalidade por doenças cardiovasculares. Destaca-se nessas experiências a importância
das políticas públicas e dos sistemas de vigilância
dos fatores de risco cardiovascular, para conhecer
a magnitude do problema e desenvolver ações mais
custo-efetivas. Este estudo bibliográfico tem duplo objetivo: descrever experiências de diferentes
países no combate às doenças cardiovasculares
voltadas à comunidade através da promoção da
saúde e da prevenção primária dos fatores de risco; e identificar no Brasil as ações de vigilância
dos fatores de risco para as doenças crônicas não
transmissíveis, ressaltando-se os desafios estratégicos impostos ao Programa de Saúde da Família
no enfrentamento das doenças cardiovasculares.
Palavras-chave Promoção da saúde, Prevenção
de doenças, Doenças cardiovasculares, Fatores de
risco, Programa Saúde da Família
DEBATE DEBATE
A Promoção da Saúde e a Prevenção Integrada
dos Fatores de Risco para Doenças Cardiovasculares
Ribeiro AG et al.
8
Introdução
As doenças cardiovasculares (DCV) são, atualmente, as causas mais comuns de morbidade e a
principal causa de mortalidade em todo mundo.
Anualmente a cardiopatia isquêmica, acidentes
vasculares cerebrais, hipertensão arterial e outras cardiopatias são responsáveis por 15,9 milhões de óbitos1.
No Brasil, assim como em outros países da
América Latina, observou-se, nas últimas décadas, uma importante mudança no perfil da mortalidade da população, caracterizado pelo aumento dos óbitos causados por doenças crônicas não
transmissíveis (DCNT). Dentre as DCNT, destacam-se as DCV e a hipertensão arterial (HA) com
uma prevalência estimada de 35% na população
acima de 40 anos. A instalação da HA ocorre cada
vez mais precocemente e estima-se que cerca de
4% das crianças e adolescentes também sejam
portadoras. Isso representa, em números absolutos, um total de 17 milhões de portadores da
doença no país2.
No Brasil, nos últimos anos, as DCNT vêm
representando 69% dos gastos hospitalares no
Sistema Único de Saúde (SUS), sendo as DCV
responsáveis por alta frequência de internações.
No ano de 2007, ocorreram 1.155.489 internações por doenças cardiovasculares, com custo
global de R$ 1.466.421.385,12 e um total de 91.182
óbitos3.
As mudanças nos padrões de morbimortalidade na população impõem, de forma constante, novos desafios, tanto para os gestores do setor da Saúde quanto para outros setores governamentais, cujas ações tenham repercussão na
ocorrência dessas doenças4.
No ano de 2000, o Plano de Reorganização da
Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus no Brasil foi implantado pelo Ministério da
Saúde, juntamente com outras organizações de
saúde, com o objetivo de estabelecer diretrizes e
metas para a reorganização no SUS para a atenção aos portadores dessas enfermidades, a partir
da atualização dos profissionais da rede básica,
do diagnóstico precoce do diabetes e da hipertensão e do encaminhamento dos pacientes diagnosticados às unidades de saúde para tratamento e
acompanhamento. Uma das ações desse plano é
a disponibilização para estados e municípios de
um sistema informatizado – HiperDia – que permite o cadastramento e o acompanhamento dos
portadores de HA e de Diabetes Mellitus (DM),
enquanto que a médio prazo, permite o desenho
do perfil epidemiológico desta população5.
O Plano de Atenção à Hipertensão e ao Diabetes e a implantação do HiperDia são importantes iniciativas para: o conhecimento da magnitude dessas doenças, o planejamento da aquisição de medicamentos e a capacitação profissional na rede de saúde brasileira. No entanto, “não
suprem as demandas iminentes, por serem fragmentadas e centradas na assistência médica”6.
Nas DCNT existe a associação de fatores complexos e multivariáveis por se tratarem de doenças presentes no cotidiano dos indivíduos, por
provocarem alterações objetivas e subjetivas em
seu dia a dia e por serem, consequentemente, responsáveis por mudanças de comportamento6,7.
Os principais fatores ambientais modificáveis
das DCV são os hábitos alimentares inadequados, o sedentarismo e a obesidade, associados às
mudanças no estilo de vida como a cessação do
tabagismo e o controle estresse psicoemocional8,9.
Dentro da prevenção, o monitoramento da
prevalência dos fatores de risco para DCV, especialmente os de natureza comportamental, permitem, por meio das evidências observadas, a
implementação de ações preventivas com maior
custo-efetividade4.
No entanto, o padrão comportamental e os
hábitos de vida estão estreitamente relacionados
com condições objetivas de oferta, demanda,
consumo, modismo e ainda as representações
sociais da cultura e das relações sociais estabelecidas na sociedade10. Nesse contexto é que, além
da prevenção primária, a promoção da saúde
tem se configurado como alternativa teórica e
prática para o enfrentamento global da ampla
gama de fatores que configuram o quadro epidemiológico atual das DCV.
Os fatores de risco comportamentais, ou condutas de risco, constituem metas primordiais da
prevenção de enfermidades e a educação em saúde tem sido utilizada tradicionalmente para atingir essa meta. No entanto, dentro do marco mais
amplo da promoção da saúde, as condutas de
risco podem ser consideradas como respostas às
condições de vida adversas e as ações devem incluir a criação de ambientes favoráveis à saúde11.
A Carta de Ottawa, fruto da I Conferência
Internacional de Promoção da Saúde, define promoção da saúde como “o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da
sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma
maior participação no controle deste processo”12.
A promoção da saúde visa assegurar a igualdade de oportunidades e proporcionar os meios
para que indivíduos e comunidades tenham oportunidade de conhecer e controlar os fatores de-
9
Metodologia
Trata-se de uma revisão bibliográfica de caráter
descritivo-discursivo. Os dados foram obtidos
através de busca nas principais bases de dados
em saúde: Biblioteca Virtual e Editora do Ministério da Saúde; nas fontes de informação Ciências da Saúde em Geral - Lilacs, Medline, Scielo,
Science Direct. Foram consultados ainda sites de
órgãos oficiais internacionais: Organização Pan
Americana de Saúde (OPAS) e Organização Mundial de Saúde (OMS).
Para a revisão, utilizaram-se os seguintes descritores: “heart health”, “risk factors”, “community-based intervention”, “cardiovascular disease”, “hypertension”, “primary care”, “health promotion” e seus correspondentes em português;
de forma que a análise concentrou-se essencialmente em artigos de periódicos científicos da área
de saúde, principalmente nas subáreas de medicina preventiva, saúde pública e epidemiologia.
A pesquisa ocorreu nos meses de junho a dezembro de 2008 e foram incluídos trabalhos publicados desde a década de 70, quando foram
divulgadas as primeiras experiências de intervenção comunitária contra as DCV que inspiraram
a formulação, pela Organização Mundial da Saú-
de, de programas internacionais de combate às
DCV baseados na ação comunitária.
Na busca bibliográfica foram obtidos 52 resultados, e após a leitura destes, selecionou-se
para leitura mais detalhada e utilizou-se para a
redação desta revisão bibliográfica 16 artigos científicos originais e três revisões narrativas, devido à sua maior relevância com o tema abordado. Os estudos foram selecionados de forma a
construir uma perspectiva histórica dessas intervenções, destacando-se as experiências mais importantes relatadas na literatura. Os artigos foram incluídos após análise e classificação de acordo com categorias principais que enfocavam:
1. Divulgação de métodos e formulação de
programas de intervenção que envolviam a mobilização de instituições comunitárias para a promoção de estilos de vida saudáveis em nível regional e nacional na prevenção das DCV;
2. Avaliação de resultados dos programas de
intervenção comunitária para prevenção e tratamento das DCV a médio e longo prazo;
3. Aspectos teóricos e metodológicos dos programas de intervenção comunitária para a prevenção de DCV.
De forma complementar, utilizou-se ainda,
artigos, documentos oficiais e teses relacionadas
a temas atuais de políticas públicas relativas aos
sistemas de vigilância dos fatores de risco para
DCNT, assim como projetos demonstrativos de
intervenção comunitária implantados no Brasil,
de forma a construir um panorama geral das
ações realizadas no sentido da prevenção primária dos fatores de risco para DCV no país nas
últimas décadas. Considerando que no Brasil as
políticas de saúde voltadas para a comunidade
atualmente tem como eixo norteador a Estratégia de Saúde da Família (ESF), optou-se por selecionar também, trabalhos originais sobre a ação
da ESF sobre as DCV e os desafios dessa estratégia no país.
As intervenções comunitárias
sobre as doenças cardiovasculares:
uma perspectiva histórica
As estratégias comunitárias partem da premissa
de que ações de saúde pública têm um impacto
potencial maior do que propostas em nível individual13. As estratégias visam a mudança de comportamentos de risco e sua sustentabilidade é
dada por meio do envolvimento de organizações
comunitárias. São baseadas na prevenção primária dos fatores de risco e na promoção da
Ciência & Saúde Coletiva, 17(1):7-17, 2012
terminantes da sua saúde. Entre seus principais
campos estão ambientes favoráveis a escolhas
mais saudáveis, acesso à informação e educação
em saúde, desenvolvimento de habilidades para
uma vida saudável, bem como a reorganização
dos serviços de saúde12.
Dentro desse contexto, programas de intervenção de base comunitária têm sido introduzidos em diferentes países desde o início da década
de 70. O principal objetivo desses programas é
diminuir a morbidade e a mortalidade por DCV
através da redução dos fatores de risco cardiovascular nas comunidades, a partir da educação em
saúde e das estruturas existentes na comunidade.
Diante disso, o objetivo do presente trabalho
foi descrever experiências internacionais no combate às doenças cardiovasculares através de ações
de promoção da saúde e prevenção integrada dos
principais fatores de risco. Além disso, identificar as ações de vigilância sobre os fatores de risco
para DCNT no Brasil e fazer uma breve reflexão
sobre os desafios do Programa de Saúde da Família para o enfrentamento das DCV, uma vez
que o objetivo dessa estratégia é a mudança do
eixo da atenção para a promoção da saúde e a
vigilância desta voltada às comunidades.
Ribeiro AG et al.
10
saúde através da mobilização comunitária, estratégias de comunicação de massa e atividades
interativas, screenings populacionais e intervenções que visam mudanças ambientais14-27.
A primeira experiência comunitária descrita na
literatura foi o programa Community Syndrome
of Hypertension, Atherosclerosis and Diabetes
(CHAD) desenvolvido como um projeto demonstrativo de cuidado primário em saúde orientado
para a comunidade em Israel, iniciado em 1971.
Tinha como principais objetivos: modificar as frequências de hipertensão arterial, de hipercolesterolemia e de sobrepeso na comunidade; identificar
e tratar os indivíduos hipertensos, diabéticos, hipercolestrolêmicos e obesos; e modificar comportamentos comunitários relacionados à dieta, ao
exercício físico e ao uso de tabaco. Os programas
de educação em saúde foram baseados principalmente em aconselhamento direto com os profissionais. O CHAD produziu reduções significativas
na prevalência de hipertensão (20%), taxas de tabagismo (11% nos homens) e sobrepeso (13%).
No entanto não foram encontradas diferenças nas
taxas de mortalidade nessa população14.
O projeto Karélia do Norte (PKN) foi iniciado na província finlandesa da Karélia do Norte
em 1972, em parceria com a OMS. Desde a década de 60, a província tinha as maiores taxas de
mortalidade por doenças isquêmicas do coração
no mundo e uma população predominantemente
rural e de baixo status socioeconômico. O objetivo principal do projeto foi testar a viabilidade e
os efeitos de um programa comunitário para a
prevenção de DCV por meio de mudanças no
estilo de vida e nos fatores de risco, além de reduzir a alta mortalidade por DCV na área. O projeto incluiu programas de comunicação de massa,
com ênfase nos fatores de risco e promoção da
integração das intervenções com a atenção primária à saúde. Depois do êxito inicial e de importantes reduções, tanto dos fatores de risco
como da mortalidade por DCV, iniciou-se um
amplo e intenso trabalho nacional que incluiu
em suas metas a diminuição da mortalidade causada pelas principais DCNT. Após os primeiros
25 anos da implantação do projeto, a mortalidade por DCV na Karélia do Norte decresceu significativamente: 68% por DCV em geral e 73% por
cardiopatia coronariana. As mudanças ocorridas em toda a Finlândia foram igualmente importantes, havendo uma redução na mortalidade por DCV de 65%. Análises têm demonstrado
que boa parte da diminuição da mortalidade por
DCV foi atribuída às mudanças da população
em relação aos principais fatores de risco, ha-
vendo evidências de que as modificações dietéticas foram o fator mais importante15,16.
O projeto Stanford Three Community também iniciado em 1972, nos Estados Unidos, teve
como objetivo a redução dos níveis de colesterol
sérico, hipertensão arterial e tabagismo por meio
de diferentes atividades de comunicação social
(programas de televisão, rádio, jornais, cartas,
panfletos) concentradas em ambientes como o
lar, o trabalho e a comunidade e atividades educativas individuais e de grupo para indivíduos de
alto risco. Os resultados foram favoráveis para
tabagismo e colesterol sérico, sendo que o risco
cardiovascular diminuiu em 17% nas comunidades de intervenção17.
O programa Franklin Cardiovascular Health,
iniciado em 1974 em Franklin, Maine (EUA), teve
a participação de 23 comunidades. O objetivo do
programa foi reduzir o risco cardiovascular por
meio da manutenção de valores adequados de
PA, colesterol e diminuição do tabagismo. O programa integrou a saúde pública e os serviços de
saúde e as estratégias incluíram “screenings” populacionais, aconselhamento e participação comunitária. Pesquisas afirmam que a taxa de mortalidade em Franklin foi significativamente menor
que o restante de Maine - 10% para mortalidade
total e 17% para mortalidade por DCV18.
Em 1978, no norte da Califórnia, o projeto
Stanford Five City (SCP) testou um abrangente
programa de organização comunitária e de educação em saúde nas mudanças favoráveis do risco cardiovascular – tabagismo, dieta, hipertensão arterial, sedentarismo e obesidade. O programa usou múltiplos métodos de educação para
mudança dos fatores de risco comportamentais:
mídia de massa (TV e rádio), mídia impressa
através de correspondência, nos locais de trabalho e por meio dos serviços de saúde. Os resultados foram mudanças favoráveis no colesterol
sérico (2%), PA (4%) e tabagismo (13%)19.
O programa Minnesota Heart Health (MHH)
iniciado em 1981 também focou os fatores de
risco para DCV como tabagismo, sedentarismo,
sobrepeso e ingestão de álcool. As ações incluíram campanhas de comunicação de massa, educação e “screenings” sistemáticos dos fatores de
risco, mudanças ambientais e educação dirigida
aos jovens, aos adultos e aos profissionais de
saúde. Não foram encontradas evidências de efeito significativo das intervenções sobre as DCV20.
O programa Pawtucket Heart Health (PHH)
também iniciado em 1981 teve como foco as ações
em organizações e campanhas comunitárias. O
programa foi desenhado para, além de diminuir
11
comunidade24. O programa Coeur en Santé Saint
Henri, desenvolvido pelo departamento de saúde pública de Montreal, entre 1992 e 1995, envolveu uma comunidade de baixa renda, em Saint
Henri, caracterizada por altas prevalências de tabagismo, sobrepeso e inatividade física. O principal objetivo do programa foi promover comportamentos saudáveis (controle da pressão arterial e colesterol total, aumento da atividade física, consumo de dietas com baixo teor de gordura e cessação do tabagismo) em indivíduos de
18 a 65 anos. As estratégias se concentraram em
ações de educação nutricional e no combate ao
tabagismo. No entanto, não foram encontrados
resultados expressivos25.
O Quebec Heart Health Demonstrative Project foi um programa de prevenção de DCV baseada em ações comunitárias, conduzido entre
os anos de 1992 e 1997, em diferentes províncias
de Quebec, Canadá. O departamento de Saúde
Pública de cada região foi responsável por definir
os objetivos, a população alvo, as estratégias de
intervenção e os métodos de avaliação. Os programas locais aderiam aos princípios básicos que
dizem respeito à prevenção dos fatores de risco
(tabagismo, dieta e sedentarismo), através de
programas multifatoriais na comunidade e envolvendo diferentes segmentos da população e
organizações locais. O projeto não alcançou resultados significativos nas mudanças dos fatores
de risco comportamentais26.
Na Holanda, foi iniciado em 1998, o projeto
Hartslag Limburg na região de Maastricht, que
teve como objetivo reduzir a prevalência de DCV,
encorajando os habitantes a aumentarem a atividade física, a reduzirem a ingestão de gordura, e a
cessarem o tabagismo. O projeto integrou duas
estratégias: uma direcionada à população em geral e aos grupos de baixo status socioeconômico;
e outra focada nos indivíduos diagnosticados com
DCV ou múltiplos fatores de risco para DCV. Foi
realizado um trabalho intersetorial entre os conselhos da cidade de Maastricht e de quatro municípios adjacentes, o Instituto Regional de Saúde
Pública de Maastricht, duas organizações de trabalho social da comunidade e a organização de
cuidado à saúde local. De 1999 a 2003 foram implantadas 590 intervenções principais, sendo que
50% delas eram direcionadas a áreas de baixa renda. Exemplos de intervenções foram educação
nutricional através de meios digitais, além de em
espaços como em supermercados, parcerias público-privadas com programas de televisão, rotulagem de alimentos, áreas livres de tabaco, criação de campanhas e grupos de caminhada e ci-
Ciência & Saúde Coletiva, 17(1):7-17, 2012
os fatores de risco comportamentais através da
educação em saúde e do desenvolvimento de redes de apoio social, criar mecanismos de suporte
para manutenção de hábitos saudáveis, por meio
do fortalecimento das organizações comunitárias e de ações intersetoriais. As ações incluíram
informações sobre alimentos pobres em gordura
em mercados e restaurantes e programas nutricionais junto a livrarias públicas. Não houve diferença significante para pressão arterial, colesterol
sérico e prevalência de tabagismo após a intervenção, apesar do risco de DCV ter diminuído
cerca de 8% durante o programa de educação21.
Na Europa, o German Cardiovascular Prevention Study (GCP) foi um programa multicêntrico conduzido entre 1984 e 1991 em seis regiões
da Alemanha Ocidental. O objetivo do programa
era a redução, através da prevenção primária, de
quatro principais fatores de risco cardiovascular
– hipertensão, hipercolesterolemia, tabagismo e
obesidade. Foi implementado um programa de
prevenção multifacetado baseado em alimentação saudável, aumento da atividade física e realização de “screenings” para a detecção e o tratamento de indivíduos com HA e hipercolesterolemia. Contava com a parceria de instituições públicas e privadas e da comunidade médica; e as
estratégias incluíram campanhas para promoção
da alimentação saudável junto a festivais comunitários e a eventos públicos em escolas, mercados, e restaurantes. Foram oferecidos cursos e
seminários para a redução de peso, e eventos esportivos recreativos para estimular a atividade física. Além disso, também foram implementados
programas para a cessação do fumo. Foram encontrados modestos resultados na redução da
pressão arterial (21%), colesterol sérico (11%) e
taxas de tabagismo em homens (9,7%)22.
No norte da Suécia foi conduzido na região de
Norsjo, caracterizada pela maior incidência e mortalidade por DCV do país, um programa de prevenção através da mudança de fatores de risco (lipídeos plasmáticos, pressão arterial e tabagismo)
iniciado em 1985. Foram conduzidos inquéritos
anuais sobre os fatores de risco para DCV durante
dez anos. Os indivíduos receberam aconselhamento sobre mudanças de estilo de vida e aqueles com
alto risco tiveram tratamento médico. Houve diferenças significativas na pressão arterial sistólica e
no colesterol total. Além disso, a mortalidade foi
reduzida em 36% na região de intervenção23.
No Canadá, a partir de 1986, foi lançado a
Canadian Heart Health Initiative (CHHI), uma
iniciativa federal com o objetivo de implementar
programas de prevenção de DCV com foco na
Ribeiro AG et al.
12
clismo, campanhas antitabaco, em adição a campanhas na rede de rádio e televisão local, artigos
em jornais e distribuição de panfletos. Após cinco
anos de intervenção, foram encontradas diferenças significativas nos valores de circunferência de
cintura, índice de massa corporal (IMV) e pressão arterial na região de intervenção em comparação a regiões de referência27.
Os resultados dos programas de intervenção
comunitária tiveram resultados bastante distintos
nos países desenvolvidos. Muitos deles produziram resultados modestos nas mudanças de comportamentos de risco, em nível populacional. Algumas razões têm sido propostas para explicar o
pequeno impacto de muitos programas de intervenções comunitárias em DCV. Elas incluem: o alcance limitado de sessões de aconselhamento individual e de grupos pequenos, uma baixa penetração desses programas de educação em muitos segmentos da população, fortes tendências seculares
de aumento dos fatores de risco e as condições
estatísticas de análise dos resultados13.
Dos programas de intervenção comunitária
em DCV encontrados, o PKN foi aquele que obteve maior sucesso na diminuição da mortalidade por DCV, produzindo mudanças substanciais
nos fatores de risco das DCV. Um ponto forte
desse projeto foi a participação ativa de vários
setores da comunidade, incluindo diversas organizações não governamentais, serviços de saúde
e escolas, além da cooperação internacional da
Organização Mundial da Saúde15.
Vários estudos de intervenção comunitária
também têm sido desenvolvidos em países em
desenvolvimento, incluindo Maurícios e China.
Maurícios, uma ilha multiétnica no Oceano
Índico, teve um rápido e intenso processo de industrialização nas últimas décadas e enfrentava
altas e crescentes taxas de mortalidade por DCV.
Em 1987, o governo da ilha lançou um programa de intervenção sobre DCNT para prevenir e
controlar essas doenças através de mudanças de
estilos de vida. O objetivo do programa foi modificar os níveis de fatores de risco relacionados
ao estilo de vida incluindo intolerância à glicose,
HA, hiperlipidemia, obesidade, tabagismo, consumo de álcool e sedentarismo. Os componentes
de prevenção primária incluíram o extensivo uso
de mídia de massa, políticas fiscais e legislativas e
atividades de educação sanitária na comunidade
em geral, nas escolas e nos locais de trabalho.
Resultados mostraram tendências favoráveis nos
níveis de fatores de risco, com diferenças significativas na redução da prevalência de tabagismo
(11%), aumento da prática de atividade física
moderada (5,2%), redução do consumo de álcool (23,8%), e redução do colesterol sérico
(18,9%) e HA (2,9%)28.
Em Tianjin na China, onde a HA configurase como maior problema de saúde pública e onde
há um alto consumo de sal, foi lançado em 1989
um programa de intervenção comunitária focado em ações que visavam a redução do consumo
de sal e o controle do peso corporal nos indivíduos da comunidade, além da terapia adequada
com anti-hipertensivos em pacientes portadores
de HA. Inquéritos periódicos sobre os níveis de
fatores de risco para DCV têm sido realizados
desde a implantação das intervenções. Sete anos
após estas, foram observadas mudanças favoráveis nos valores de pressão arterial e IMC (índice
de massa corpórea), sobretudo nos indivíduos
entre 45 e 64 anos. No entanto, as mudanças na
pressão arterial, no IMC e no consumo de sal
foram pequenas na comunidade em geral29.
Revisão realizada por Gazeano et al.30 sobre o
custo-efetividade dos programas de intervenção
comunitária sobre DCNT concluiu que, apesar
das pequenas reduções nos fatores de risco, tanto
em países desenvolvidos quanto em países em
desenvolvimento, elas são significativas na diminuição do risco-cardiovascular e poderiam ser
custo-efetivas em países de baixa e média renda.
Baseados em experiências comunitárias bem
sucedidas, recomendações tem sido propostas
para o desenvolvimento de futuros programas,
destacando-se a participação ativa da comunidade, a compreensão de suas necessidades e prioridades, a colaboração dos indivíduos, principalmente dos líderes e organizações comunitárias, a importância do envolvimento dos serviços
de saúde locais, e a implementação de políticas
nacionais que auxiliem escolhas saudáveis31,32.
As ações comunitárias
da Organização Mundial de Saúde
Seguindo o exemplo do PKN e outros programas de promoção da saúde e de prevenção de
enfermidades na América do Norte e Europa, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) iniciou o
Programa Nacional Integrado de Intervenção
contra Enfermidades Não Transmissíveis (CINDI, do inglês Countrywide Integrated Noncommunicable Diases Intervention Programe) que
começou com programas nacionais de demonstração de 1985 a 1992 no América do Norte e
Europa. Até o ano de 2002 a iniciativa possuía
105 áreas de demonstração em 29 países33.
13
dade física na Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, realizada em 200838.
O Ministério da Saúde, por intermédio da Secretaria de Vigilância em Saúde e da Secretaria de
Gestão Estratégica e Participativa e contando com
o suporte técnico do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de
São Paulo – NUPENS/USP, ainda implantou, em
2006, o sistema VIGITEL – Vigilância de Fatores
de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por
Inquérito Telefônico. Esse sistema permite o monitoramento contínuo e rápido dos fatores de risco
para DCNT em todas as capitais brasileiras39.
Projetos demonstrativos de vigilância e condução de DCNT têm sido conduzidos no Brasil
integrados à Estratégia de Saúde da Família. A
iniciativa CARMEN é conduzida em municípios
brasileiros desde 1998, com destaque para Goiânia – GO e Marília-SP4.
A implantação dessa iniciativa em Goiás fez
surgir o Comitê Diretivo do CARMENT, com
representantes de instituições parceiras como
universidades, secretarias de saúde, educação e
esporte e outras organizações de saúde. O comitê
definiu dois critérios para adesão dos municípios: a decisão política do gestor local em adotar
essa nova metodologia e a existência de Equipes
de Saúde da Família (ESF), como forma de garantir a sustentabilidade da nova estratégia6.
Partindo dessa escolha, em 1999 foi realizado
o diagnóstico sobre a prevalência de fatores de
risco para doenças cardiovasculares, utilizando
instrumentos recomendados em nível internacional pela Rede CARMEN das Américas40.
Os resultados evidenciaram alta prevalência
de excesso de peso (44,2%), hipertensão arterial
(32,9%) e tabagismo (22,9%). A avaliação bioquímica evidenciou 8,1% de descontrole glicêmico, 45,5% de hipercolesterolemia e 17,7% de hipertrigliceridemia40.
Com base nesses dados, o Comitê CARMENT propôs para o Distrito Sanitário Leste as
ações de intervenção, com a participação da comunidade. Integram essas ações a capacitação
dos profissionais de saúde para diagnóstico precoce de fatores de risco para as DCNT, a abertura de espaços de lazer para o estímulo de exercícios físicos regulares, a proposição de uma investigação, junto a crianças e adolescentes da rede
de ensino, buscando a detecção e a intervenção
precoce sobre os fatores de risco presentes. Houve a interiorização da proposta com a implantação, em Firminópolis e no município de Quirinópolis, da iniciativa CARMENT4.
Ciência & Saúde Coletiva, 17(1):7-17, 2012
O projeto CARMEN (Conjunto de Ações Integradas para Redução Multifatorial de Enfermidades Não Transmissíveis) é uma iniciativa da
Organização Pan Americana da Saúde (OPAS),
correspondente ao CINDI para a América Latina
e Caribe. O controle dos principais fatores de
risco de risco é proposto através da ação simultânea sobre pelo menos três elos (tabagismo, dieta inadequada e sedentarismo) em três níveis de
ação: político, comunitário e de serviços de saúde; e a incorporação das políticas públicas sistematicamente como nível de intervenção34.
Alguns pontos são considerados fundamentais para a concretização dos objetivos da iniciativa CARMEN, como a realização de inquéritos
populacionais para a identificação dos principais
fatores de risco cardiovascular, a abordagem dos
fatores de risco de forma integrada e intersetorial e a reorganização dos serviços locais de Atenção Básica34.
A vigilância dos fatores de risco para doenças
cardiovasculares e os projetos demonstrativos no
Brasil.
Desde 2002, a OMS está envolvida no esforço
mundial de priorizar a vigilância das DCNT, com
foco nos principais fatores de risco tais como o
tabagismo, a hipertensão arterial, a alimentação
inadequada, a obesidade, o sedentarismo, entre
outros, diante das experiências exitosas em vários países na redução da morbimortalidade por
DCV por meio da vigilância e das ações integradas sobre os fatores de risco35.
O Brasil, por meio de diferentes inquéritos
de saúde, vem construindo bases de dados para
o monitoramento contínuo dos fatores de risco
e de proteção das DCNT4.
Realizadas em 2001/2 as Campanhas de detecção de suspeitos de hipertensão e diabetes no
Brasil, parte do Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus
do Ministério da Saúde, configuraram a primeira iniciativa mundial de realização de uma campanha populacional massiva para o rastreamento de DCNT36.
Em 2002-2003, o Ministério da Saúde realizou
nas capitais de 16 unidades da federação, o Inquérito Domiciliar sobre Comportamentos de Risco e Morbidade Referida de Doenças e Agravos
não Transmissíveis. Esse inquérito coletou, entre
outros dados, informações sobre hábito de fumar, peso e estatura referidos, consumo alimentar, atividade física, consumo de bebidas alcoólicas e diagnóstico médico de hipertensão arterial e
diabetes37. Outro passo importante foi a decisão
de incluir questões sobre hábito de fumar e ativi-
Ribeiro AG et al.
14
A experiência acumulada e a interiorização
da iniciativa para outros municípios permitiu
com que o Estado fosse contemplado, em 2002,
pelo Ministério da Saúde em conjunto com a
OPAS/OMS, com o projeto de vigilância epidemiológica “Mega country”, que tem como base
metodológica a implantação de um sistema de
vigilância e monitoramento de fatores de risco
para DCNT - “STEPwise approach”, da OMS,
destinado a países com mais de 100 milhões de
habitantes4,40.
A experiência da implantação da Iniciativa
CARMENT em Goiás resultou em iniciativas intersetoriais em parceria com a Faculdade de Nutrição, da Universidade Federal de Goiás, para a
realização do primeiro diagnóstico sobre fatores
de risco em escolares de 7 a 14 anos, por meio do
Projeto Carminho41.
Através de inquérito realizado em 2004, para
a avaliação dos resultados da estratégia em Goiânia sobre os fatores de risco cardiovascular, foram encontradas diminuições relativas significantes em ambos os sexos, nas prevalências de
tabagismo (4,8%), hiperglicemia (3,7%) e trigliceridemia (4,4%). No entanto, não foram encontradas diferenças significativas nos níveis de
pressão arterial e sobrepeso/obesidade e houve
uma tendência de aumento do sedentarismo42.
A Estratégia de Saúde da Família:
uma breve reflexão sobre os desafios no enfrentamento das DCV
Analisando tanto as experiências internacionais
quanto as políticas de promoção da saúde e prevenção de DCNT no Brasil, observa-se uma grande ênfase na intervenção de base comunitária e o
papel protagonista dos serviços de Atenção Básica nesse processo.
Isso provavelmente se deve ao fato de que a
Atenção Básica “caracterizada por um conjunto
de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da
saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o
tratamento, a reabilitação e a manutenção da
saúde, é desenvolvida por meio do exercício de
práticas dirigidas a populações de territórios bem
delimitados”43. O território compreende o espaço onde vivem os grupos e que abriga suas relações e condições relacionadas à subsistência: trabalho, renda, habitação e acesso à educação. Além
disso, nesse espaço consideram-se o saber preexistente e a cultura dos indivíduos, suas concepções sobre saúde e doença, família e sociedade,
sendo local privilegiado para a ação em saúde
porque nele consegue-se definir um conjunto de
problemas e prioridades, e os recursos disponíveis para atender às necessidades de saúde de cada
comunidade44.
A Saúde da Família, estratégia priorizada pelo
Ministério da Saúde para organizar a Atenção
Básica e reestruturar o Sistema Único de Saúde
(SUS), mostra-se como o modelo mais provável
para alterar a realidade das DCV. Isso porque
permite a aproximação dos indivíduos, do seu
coletivo e de suas interações sociais, colaborando para a mudança de seus comportamentos e
hábitos de vida6.
No Brasil, a iniciativa CARMENT - GO, implantada nas regiões onde há equipes da Estratégia Saúde da Família, indica que o novo modelo
facilita a atenção, o controle dos fatores de risco
e as ações de promoção da saúde6.
No entanto, estudos que a avaliaram as ações
da ESF sobre a Hipertensão Arterial encontraram
que apesar da estratégia ter aumentado o acesso
dos portadores aos serviços de saúde, há uma
baixa adesão ao tratamento e a permanência de
uma alta prevalência de fatores de risco na comunidade. Esses resultados foram atribuídos principalmente a uma educação em saúde secundária e
superficial, sem apreensão das dimensões psicossociais e culturais do processo saúde-doença-cuidado; a falta de alimentação do banco de dados –
HiperDia, a ausência de uma coordenação geral
do programa nos municípios e a insipiência de
ações baseadas na análise da situação de saúde
dos hipertensos ou a programação de ações voltadas para os portadores desta enfermidade45-49.
As ações de base comunitária têm como elemento importante assegurar-se de que as organizações e os profissionais envolvidos sejam capacitados e recebam assistência técnica para a
avaliação das necessidades das comunidades e
para a implementação de estratégias integrais
para intervenção sobre os fatores de risco comunitários, considerando as condições sociais e econômicas, tais como: a pobreza, o emprego, a composição familiar, o ambiente físico, as práticas,
as normas e os valores, a urbanização e o acesso
a bens e serviços34.
No entanto, o que se constata atualmente é
que os profissionais de saúde que trabalham na
Atenção Básica têm uma formação e um perfil
inadequados para uma atuação na perspectiva
da atenção integral à saúde e da implementação
de práticas que contemplem ações de promoção,
proteção, prevenção e atenção precoce50. Trabalhos que avaliaram o perfil e o conhecimento dos
15
Considerações finais
As DCV estão entre as principais causas de morte no Brasil e no mundo, sendo responsáveis por
altos custos diretos e indiretos. A alta prevalência
das DCNT, em especial as DCV, tem imposto
desafios para o setor saúde e para as políticas
públicas envolvidas no combate aos seus fatores
de risco.
Estratégias de saúde pública, como as intervenções comunitárias, têm sido implantadas em
vários países desenvolvidos e em desenvolvimento, como forma de enfrentamento das DCV a
partir do enfoque de risco, traduzindo a tentativa de mudança do modelo de assistência prestada à população, fortalecendo os princípios da
prevenção e da promoção, através de ações integradas e intersetoriais, com a participação efetiva
da comunidade.
No Brasil, a implantação de sistemas de vigilância desses fatores está em consonância com
esse novo enfoque. No entanto, muitos desafios
permanecem no enfrentamento das DCV, principalmente no que diz respeito à integração das
políticas públicas aos serviços de saúde. Nesse
sentido, a atenção básica mostra-se como peça
fundamental de elo entre políticas de saúde e a
comunidade, e a ESF como estrutura potencial
na consolidação da promoção da saúde.
Colaboradores
AG Ribeiro idealizou o trabalho, participou da
pesquisa bibliográfica, metodologia, analise e discussão dos dados e redação do artigo; RMM
Cotta idealizou, orientou e coordenou o trabalho, da pesquisa bibliográfica, metodologia; e,
SM Ribeiro participou da analise e discussão dos
dados, redação e correção do artigo.
Agradecimentos
Os estudos realizados foram financiados pela
Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig).
Ciência & Saúde Coletiva, 17(1):7-17, 2012
profissionais da Atenção Básica e Saúde da Família e diferentes atores envolvidos na construção da política de saúde local mostraram uma
inadequação do conhecimento sobre os princípios e os objetivos do SUS e da ESF51,52.
A integralidade, um dos princípios doutrinários do SUS, têm sido um dos maiores desafios
da saúde no Brasil, e a opção de ações baseadas
em especialidades é responsável pela fragmentação dos trabalhos desenvolvidos na Atenção Básica. Além disso, constituem-se entraves às práticas integrais de saúde, o distanciamento entre o
profissional e o usuário e as práticas de saúde
orientadas por tecnologias não flexíveis e desvinculadas da realidade dos indivíduos44,53.
Nesse contexto, é relevante repensar a formação dos profissionais de saúde, que deve ser
concebida de acordo com o Sistema Único de
Saúde, baseada na gestão colegiada, na multiprofissionalidade e na alteridade, e realizada através de uma educação crítico-reflexiva, problematizadora, onde o ensino esteja em consonância
com o serviço53,54.
Além da formação dos profissionais de saúde, outros elementos podem ser colocados como
fundamentais para o sucesso da ESF, como a estrutura promotora de saúde. Estudo realizado
por Campos55, em parceria com o Ministério da
Saúde e a OPAS, que analisou várias experiências
de promoção da saúde no âmbito da ESF, mostrou que fatores externos à ESF apresentaram-se
como marcadamente necessários para que as iniciativas de promoção se desenvolvessem. Um
ambiente político favorável, o empenho dos gestores locais, a presença de redes sociais atuantes
no território e as ações intersetoriais mostraramse peças-chave nesse processo.
A intersetorialidade é defendida por outros
autores como elo fundamental entre a promoção
da saúde e a ESF, sendo que a última se constituiria de recurso para os profissionais lidarem com
demandas intersetoriais por se configurar o ponto de articulação para o trabalho intersetorial56.
Talvez o maior desafio da ESF se deva ao seu
papel de mudança do modelo de assistência tradicional, médico-medicamentoso e hospitalocêntrico. A “Saúde da Família é compreendida como
estratégia principal para a mudança desse modelo (tradicional), que deverá se integrar a todo
contexto de reorganização do sistema de saúde”43
sendo o elo integrador e focalizador das políticas
públicas nacionais e a comunidade.
Ribeiro AG et al.
16
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