De acordo com as informa- A Geometria na história e na escola Cristina Luiza Garbuio Supervisora Pedagógica de Matemática do IQE – Instituto Qualidade no Ensino Nomeado pela UNESCO Patrimônio Mundial da Humanidade, o Parque Nacional da Serra da Capivara detém o maior conjunto de sítios arqueológicos das Américas. Quem visita a região, no sudeste do Piauí, a 510 quilômetros de Teresina, tem o privilégio de admirar, entre outras maravilhas, pinturas rupestres representando variados aspectos do cotidiano de quem viveu há mais de 50 mil anos. Os desenhos e objetos pré-históricos refletem o desejo do homem de representar o que ele julgava ser interessante, belo, estético, simétrico, no seu habitat. Registros produzidos milhares de anos antes do nascimento de Euclides (aproximadamente 300 a.C.), o maior expoente da história da Geometria, têm sido referência importante para compreendermos o desenvolvimento desse campo da Matemática. As pinturas pré-históricas, como as da Serra da Capivara, apresentam diversas características semelhantes aos desenhos feitos por nossas crianças: ausência de noções de profundidade, de proporcionalidade, de perspectiva. O desenvolvimento da Geometria não ocorreu de maneira instantânea, em algum momento da história. É provável que os desenhos primitivos tenham evoluído a partir da construção de analogias, pela percepção de semelhanças e diferenças entre formas da natureza, entre formas criadas pelo homem, ou entre ambas, enquanto que as abstrações surgiram favorecidas pelo desenvolvimento da linguagem, o que impulsionou a Geometria estruturada que conhecemos hoje. Dela fazem parte DVGHÀQLo}HVRVWHRUHPDVRVD[LRPDV sistematizando todo o nosso conhecimento das formas e do espaço. Essa evolução aconteceu não apenas por necessidades da vida diária, mas também pelo simples prazer de representar, de “brincar” com o espaço e com tudo o que está nele. O caminho percorrido pela humanidade, dos desenhos rudimentares às geometrias não euclidianas, pode ser uma inspiração para que se ofereça aos nossos estudantes um programa que vá além do apelo visual. Propostas que enfatizam quase que exclusivamente a nomenclatura de figuras geométricas contribuem para que o aluno continue na pré-história dessa área do conhecimento. Pesquisas realizadas pelos educadores holandeses Dina e Pierre Van Hiele mostram que há cinco níveis do pensamento geométrico, que vão da habilidade de simples reconhecimento visual ou aparência física das figuras (nível zero) até as habilidades descritivas e lógicas, uma geometria totalmente abstrata (nível 4). Ao concluir o ensino médio, nossos alunos deveriam ser capazes de realizar deduções informais, algo entre o nível 1 e o nível 2, por exemplo, deduzir – e demonstrar - que todo quadrado é um retângulo porque possui todas as características do retângulo, mas nem todo retângulo é um quadrado. Em termos de pensamento geométrico, o avanço de um nível para outro ocorre se a escola oferecer um ambiente que estimule o aluno, o que exige do professor conhecimento da linguagem e dos materiais necessários e saber como o indivíduo se move de um nível a outro, para que as decisões adequadas sejam tomadas. Entretanto, para revertermos a situação em que se encontra a Geometria escolar, precisamos começar pelas licenciaturas de Matemática, que têm deixado em segundo plano essa área de ensino, dificultando ainda mais o processo de trazê-la aos jovens do século XXI.