DETERMINAÇÃO DE CORANTE TARTRAZINA EM BEBIDAS NACIONAIS
NÃO ALCOÓLICAS
Cinthia Gonçalves Martins1; Andréa Lícia de Almeida Oliveira2; Luciane
Mie Kawashima3
Estudante do Curso de Nutrição; e-mail: [email protected]
Professora da Universidade de Mogi das Cruzes; e-mail: [email protected]
Professora da Universidade de Mogi das Cruzes; e-mail: [email protected]
Área do Conhecimento: 5.07.01.06-1 Avaliação e Controle de Qualidade de Alimentos
Palavras-chaves: tartrazina; bebidas; corante; cromatografia
INTRODUÇÃO
Ao considerar que o aspecto visual é um fator importante para a seleção e escolha do
produto, os corantes destacam-se entre uma das classes de aditivos imprescindíveis para
a indústria alimentícia na conquista de mercados (SHUMANN et al., 2008).
Os corantes mais empregados em alimentos industrializados são os obtidos
artificialmente. Dentre os corantes artificiais, o mais relacionado a alergias e demais
reações adversas é a Tartrazina, que dá coloração amarela a doces, sucos, mostarda,
refrigerantes, gelatina, medicamentos, cosméticos, entre outros. O Joint Expert
Committee on Food Additives (JECFA) determinou a ingestão diária aceitável (IDA)
para a Tartrazina em até 7,5 mg/kg de peso corpóreo. Já as quantidades permitidas nos
alimentos variam conforme o produto. Para bebidas não alcoólicas gaseificadas e não
gaseificadas, é permitida a utilização de Tartrazina na quantidade máxima de
0,01g/100mL. Para gelados comestíveis, a quantidade máxima é de 0,015g/100mL
(ANVISA, 2007 b).
Possíveis efeitos carcinogênicos, asma, bronquite, rinite, rinorréia, náusea,
broncoespasmos, urticária, eczema, dor de cabeça, hiperatividade, refluxo
gastroesofágico e estresse já foram relatados como reações adversas ao consumo de
produtos que contenham Tartrazina em sua composição (ANVISA, 2007 a). Sabe-se
que a população infantil constitui o grupo mais vulnerável. Embora, a incidência de
sensibilidade na população geral seja baixa, tais reações adversas podem ser severas e
têm sido freqüentemente observadas em pacientes que também apresentam
hipersensibilidade ao Ácido Acetil Salicílico, principalmente os asmáticos
(SCHUMANN et al., 2008).
OBJETIVOS
O objetivo desse estudo foi determinar a concentração do corante Tartrazina em bebidas
nacionais não alcoólicas, disponíveis no comércio da região de Mogi das Cruzes, SP e
verificar a adequação à legislação.
METODOLOGIA
Foram analisadas 48 amostras de bebidas não alcoólicas que declaravam conter
Tartrazina em sua composição, compradas na região de Mogi das Cruzes entre setembro
e outubro de 2009 e entre fevereiro e junho de 2010. As amostras foram compostas de
21 preparados sólidos para refresco (“sucos em pó”), 9 bebidas/refrescos, 5
bebidas/refrescos destinados ao público infantil, 7 repositores hidroeletrolíticos, 2
preparados líquidos para gelado comestível (“geladinho”), 2 refrigerantes e 2
energéticos.
Foi empregada a metodologia oficial para extração, separação e identificação de
corantes artificiais do Instituto Adolfo Lutz (1985) e as soluções obtidas após eluição
foram examinadas espectrofotometricamente.
Foram preparadas soluções padrão de Tartrazina e Amarelo Crepúsculo (por possuírem
valores muito semelhantes de absorvância no espectrofotômetro) na concentração de
1000 mg L-1. Para orientar na análise dos resultados e possibilitar maior exatidão, foi
preparada uma “amostra de padrão” contendo 500µL de Tartrazina + 500µL de
Amarelo Crepúsculo das soluções padrão, que passou por todo o processo de
determinação juntamente com as amostras das bebidas. Através desta “amostra padrão”
foi verificada a separação entre os dois corantes (Tartrazina e Amarelo Crepúsculo) e a
recuperação de cada batelada de amostras analisadas.
Utilizando-se amostras de 20 ou 50mL de cada bebida, os corantes foram extraídos
utilizando-se uma lã pura previamente fervida em hidróxido de amônio 10% e
posteriormente fervida em água destilada. A lã foi fervida juntamente com as amostras
e, após, fervida novamente em hidróxido de amônio 10%. O líquido obtido foi aquecido
até quase completa secura e posteriormente diluído em 2 mL de água destilada.
Foram aplicados 100 µL desta diluição em papel Whatman nº1 e, após secagem, o
desenvolvimento foi realizado em uma cuba cromatográfica com fase móvel de
isobutanol + etanol + água + hidróxido de amônio, na proporção 3:2:2:1/99. As
manchas correspondentes à Tartrazina foram recortadas e eluídas em solução de etanol a
60%, e a soluções obtidas foram examinadas em espectrofotômetro UV-VIS
(ultravioleta-visível), com leitura para Tartrazina a 428nm. Os resultados da leitura
foram comparados com a curva padrão de absorção de Tartrazina, obtida através da
leitura de soluções-estoque em 5 concentrações diferentes, feitas a partir da solução
padrão. Com a curva padrão foi determinada a equação da reta, através da qual foi
determinada a concentração de Tartrazina nas amostras a partir dos valores de absorção.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As amostras analisadas apresentavam coloração amarelada, alaranjada ou esverdeada,
de acordo com os demais corantes adicionados. Os principais sabores dos produtos
foram laranja, manga, maracujá e tangerina.
Todas as amostras analisadas apresentaram concentrações de Tartrazina dentro do limite
permitido pela legislação (até 100mg/L). A tabela abaixo mostra a variação de
concentração de Tartrazina encontrada nas amostras analisadas, segundo as categorias
de produto indicadas:
Tabela 1. Concentração de Tartrazina (mg/L) nas amostras analisadas por categoria de produto
As maiores concentrações de Tartrazina foram encontradas em produtos destinados ao
público infantil. Os preparados líquidos para gelado comestível (“geladinho”) tiveram a
maior média de concentração (36,72 mg/L), seguidos pelas bebidas/refrescos destinados
ao público infantil (16,03mg/L) e refrigerantes (13,53 mg/L).
O produto com maior concentração de Tartrazina corresponde a um gelado comestível
sabor abacaxi, que apresentou a concentração média de 53,93 mg/L. Dentre os refrescos
destinados ao público infantil, as maiores concentrações foram encontradas em
refrescos artificiais popularmente encontrados em feiras, sendo suas concentrações de
27,58 mg/L (sabor Tutti-Frutti) e 25,76 mg/L (sabor Kiwi).
Alguns produtos apresentaram baixas concentrações de Tartrazina. Contudo,
apresentavam em sua composição maiores concentrações de outros corantes artificiais,
como o Amarelo Crepúsculo e o Azul Brilhante que, embora não apresentem evidências
de efeitos alérgicos, aumentam a ingestão diária de corantes. Convém lembrar que as
crianças são mais vulneráveis às reações adversas a aditivos alimentares, principalmente
devido ao baixo peso corpóreo.
Também foi possível observar a grande diferença de concentração de Tartrazina em
produtos semelhantes, mas de marcas diferentes. Ao analisar repositores
hidroeletrolíticos sabor tangerina, um apresentou concentração de 1,09mg/L e o outro
21,41mg/L. Entre os preparados sólidos para refresco sabor laranja, o menor valor
encontrado foi de 0,45mg/L e o maior 7,44mg/L.
Diferente do esperado, os preparados sólidos para refresco foram, no geral, os que
apresentaram menor concentração de Tartrazina (média de 1,75mg/L).
Em relação aos rótulos dos produtos, alguns apresentaram inadequações ao determinado
pela legislação. Os rótulos de 2 refrescos artificiais (sabor Tutti-Frutti e sabor Guaraná)
não indicavam os corantes adicionados. Vale ressaltar que a declaração da presença de
corantes é obrigatória, sendo que a da Tartrazina deve estar por extenso. A presença da
Tartrazina nestas amostras foi comprovada com as análises.
Com os resultados também se observou que uma amostra de refresco, sabor laranja e
acerola, não declarava no rótulo a presença de corante vermelho, e o rótulo de um
refrigerante não declarou a presença de Amarelo Crepúsculo, embora este estivesse em
grande quantidade no produto.
Já uma amostra de repositor hidroeletrolítico sabor Tangerina, embora fosse declarado
em seu rótulo a presença de Tartrazina, revelou-se na análise ausência do referido
corante e, em seu lugar, apresentava um corante vermelho que não estava declarado no
rótulo.
CONCLUSÕES
A metodologia aplicada mostrou-se eficaz na separação, identificação e determinação
de corantes, assim como a escolha das soluções e reagentes utilizados.
Em relação à concentração de Tartrazina, todas as amostras estavam de acordo com o
determinado pela legislação. Dentre as amostras analisadas, as que apresentaram
maiores concentrações de Tartrazina correspondem a produtos destinados ao público
infantil, grupo considerado o mais vulnerável às reações adversas a aditivos alimentares.
É importante lembrar que grande parte dos produtos infantis possui corantes artificiais,
o que aumenta a ingestão diária destes aditivos.
A menor concentração de Tartrazina nos preparados sólidos para refresco foi
inesperada. Entretanto, é importante ressaltar que estes possuem grande quantidade de
outros aditivos químicos e baixo valor nutricional, não sendo, portanto, uma boa escolha
alimentar.
As inadequações encontradas nos rótulos dos produtos indicam que uma maior
fiscalização é necessária para garantir a segurança alimentar dos consumidores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Informe Técnico nº. 30, de 24 de
julho de 2007 (a). Considerações sobre o corante amarelo tartrazina. ANVISA.
Disponível em: www.anvisa.gov.br/alimentos/informes/index.htm Acesso em: 15 maio
2009.
__________. Resolução RDC nº 5, de 15 de janeiro de 2007 (b). D.O.U. - Diário
Oficial da União. Disponível em: www.anvisa.gov.br/legis/index.htm Acesso em: 15
maio 2009.
INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz. 3.ed.
São Paulo, Instituto Adolfo Lutz, p.84-86, 1985.
PRADO, M.A.; GODOY, H.T. Teores de corantes artificiais em alimentos
determinados por cromatografia líquida de alta eficiência. Química Nova, Vol. 30, No.
2, 268-273, 2007
SCHUMANN, S.P.A; POLÔNIO, M.L.T, GONÇALVES, E.C.B.A. Avaliação do
consumo de corantes artificiais por lactentes, pré-escolares e escolares. Ciência e
Tecnologia de Alimentos, Campinas, 28(3): 534-539, jul-set. 2008
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq pela concessão da bolsa e à UMC por ceder sua infra-estrutura e possibilitar a
realização deste projeto.
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Cinthia Gonçalves Martins