QUALIDADE E SEGURANÇA ALIMENTAR EM PACKINGHOUSES DE FRUTAS E HORTALIÇAS FRESCAS NOS ESTADOS DO CEARÁ E RIO GRANDE DO NORTE Carlos F. Demerutis1; Ricardo Elesbão Alves2*; Heloísa A.C. Filgueiras2; Suzy Anne A. Pinto3; Lorrance A. Gondim3; Selene D. Benevides2 RESUMO O presente trabalho teve como objetivo avaliar aspectos relativos a qualidade pós-colheita e a segurança alimentar de frutas e hortaliças frescas manipuladas em Packinghouses dos Estados do Ceará e Rio Grande do Norte, através da realização de diagnósticos, dentro do contexto de "qualidade do produto" que também envolvesse o conforto dos trabalhadores, a proteção do meio ambiente e a garantia de um alimento saudável e seguro. As inspeções/diagnósticos, realizadas de 04/03 a 04/05/2001, incluíram 15 (quinze) Packinghouses, envolvendo os produtos: banana, goiaba, graviola, hortaliças folhosas (alface, cebolinha, coentro, etc.) e melão. As não-conformidades e os principais pontos críticos foram observados, assim como foram feitas recomendações quanto a qualidade e a segurança dos produtos. SUMMARY QUALITY AND SAFETY OF FRESH FRUITS AND VEGETABLES IN PACKINGHOUSES LOCATED IN RIO GRANDE DO NORTE AND CEARA STATES (BRAZIL) This work aimed to evaluate the aspects related to postharvest quality and safety of fresh fruits and vegetables handled in Packinghouses located in Ceara and Rio Grande do Norte States. The concept of produce quality included not only food as safe and wholly, but also personnel comfort and environmental care. The evaluations, carried out at March, 4 and May, 4, 2001, included 15 (fifteen) Packinghouses dealing with the following produce: banana, guava, soursoup, green leaves (lettuce, green onions, coriander, among others), and melon. The major critical control points are presented as well as the recommendations about quality and safety of the produce. Palavras-chave: Qualidade, segurança alimentar, produtos hortícolas frescos. Apoio: Secretaria de Agricultura Irrigada do Estado do Ceará (SEAGRI-CE) e Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP), 1 Universidad EARTH, Apartado 4442-1000, San José, Costa Rica, [email protected]. 2 Embrapa Agroindústria Tropical, CP 3761, 60511-110, Fortaleza, CE, [email protected] 3 Secretaria de Agricultura Irrigada, Centro Administrativo Governador Virgílio Távora, Ed. SEAD Térreo, Cambeba, 60839-900, Fortaleza, CE, [email protected] XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS 1. INTRODUÇÃO A qualidade dos produtos hortícolas frescos pode ser definida como o grau de excelência de um produto ou sistema. No contexto da comercialização a qualidade, até há bem pouco tempo, significava apenas um produto com uma aparência aceitável para o comprador. Atualmente este conceito não é suficiente, o impacto global da legislação sobre segurança e inocuidade alimentar tem feito com que as empresas produtoras passem a demonstrar que o produto fresco foi bem manuseado ao longo de sua vida e que é tanto seguro quanto saudável. Em um aspecto mais amplo, tal conceito de qualidade envolve também a segurança e o conforto dos trabalhadores, como também a proteção do meio ambiente. O presente trabalho teve como objetivo avaliar aspectos relativos à qualidade pós-colheita e à inocuidade alimentar de frutas e hortaliças frescas manipuladas em Packinghouses nos Estados do Ceará e Rio Grande do Norte através da realização de diagnósticos, dentro do contexto de "qualidade do produto" que envolvessem o conforto dos trabalhadores, a proteção do meio ambiente e a garantia de um alimento saudável e seguro. 2. METODOLOGIA Este trabalho foi desenvolvido como parte da licença sabática do Professor Carlos Demerutis realizado na Embrapa Agroindústria Tropical, Fortaleza, Ceará, Brasil, de 04 de março a 04 de maio de 2001. Realizou-se o diagnóstico de 15 (quinze) Packinghouses localizados nos Estados do Ceará e Rio Grande do Norte, envolvendo os produtos: banana, goiaba, graviola, hortaliças folhosas (alface, cebolinha, coentro, etc.) e melão. O checklist utilizado nas inspeções/diagnósticos foi desenvolvido pela Universidad EARTH (Costa Rica) com base em documentos da FDA [1] e do CODEX ALIMENTARIUS [2] e foram abordados os seguintes aspectos: 1 - Descrição do produto e especificação na embalagem (rastreabilidade) e características da construção do Packinghouse; 2 - Fluxo do processo do produto; 3 - Movimentos de pessoal nas operações de embalagem (Ergonomia); 4 - Higiene no Packinghouse (Perigos microbiológicos, químicos e físicos); 5 - Pontos críticos de controle no Packinghouse (Qualidade da fruta; qualidade e uso da água; adequação dos equipamentos da linha de embalagem; uso, armazenamento, manipulação e aplicação de defensivos; presença de roedores, morcegos, aves, insetos e microorganismos; resíduos; qualidade do container refrigerado - transporte); 6 - Verificação (Revisão periódica das áreas do processo do produto, desde a recepção até a carga do container; calibração de equipamentos; análises das superfícies de contato dos equipamentos; monitoramento da qualidade da água; uso de registros das dosagem de defensivos feitas pelo pessoal; uso de registros das aplicações de defensivos feitas na fruta; controle de roedores, morcegos, aves, XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS insetos e microrganismos; amostragem de frutas já embaladas; programa de manejo de resíduos sólidos e líquidos; registro de inspeção de containers). 3. RESULTADOS Baseado no checklist foram observadas as seguintes não-conformidades: Manuseio excessivo e inadequado das frutas; Acessórios deficientes (estrados de paletes e caixas mal utilizadas); Manuseio inadequado durante o carregamento do caminhão; Falta de manutenção da qualidade da fruta embalada; Ausência de registros do uso e preparação de produtos químicos; Desconhecimento da qualidade microbiológica da água utilizada na operação de limpeza da fruta; Falta de programas de controle de pragas; Falta de limpeza dos equipamentos e implementos de trabalho que têm contato com a fruta; Ausência de programas de limpeza de instalações (teto, interior, pisos e paredes) e área exterior; Acessos e estradas mal conservadas; Ausência de drenagem e tratamento específicos para a eliminação de água de lavagem; Pessoal que manuseia os produtos químicos não utiliza Equipamentos de Proteção Individual (EPI's); Apoio deficiente a higiene e saúde dos trabalhadores (banheiros, fossas sépticas, bebedouros de água, pias, local para refeições, etc.); Falta de local específico para guardar agroquímicos; Inexistência de programas de manejo de dejetos. 4. RECOMENDAÇÕES Qualidade estética da fruta = Avaliar o fluxo de processo de embalagem da fruta para reduzir o manuseio da mesma; Capacitar o pessoal quanto aos cuidados com relação às frutas frescas; Conscientizar o pessoal sobre a importância de retirar os restos de cartão nos orifícios das caixas de embalagem; Utilizar estrados que sejam adequados ao desenho dos orifícios de ventilação das caixas de papelão; Avaliar o uso de esponjas na base das caixas plásticas para reduzir os danos por vibração durante o transporte; Melhorar os processos de carga dos caminhões, evitando que o pessoal caminhe sobre a carga quando estiver colocando a lona no caminhão; Implementar programas de monitoramento constante da qualidade da fruta embalada; Melhorar as estradas de acesso aos cultivos, já que os movimentos irregulares repercutem diretamente nas lesões por vibração e aceleram o processo de degradação do fruto, encurtando sua vida útil. Qualidade da fruta como produto saudável = Utilizar minimamente os agroquímicos permitidos; Implementar registros do uso e preparação de soluções químicas; Avaliar periodicamente a qualidade microbiana da água que é utilizada na operação de limpeza da fruta; Estabelecer mudanças periódicas da água de lavagem para manter sua qualidade durante todo o processo e proporcionar assim uso eficiente do cloro como sanificante; Manter programas de controle de pragas dentro do Packinghouse; Sistematizar a lavagem de caixas XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS plásticas cada vez que entrem no Packinghouse; Implementar processos de lavagem com solução clorada para os implementos de trabalho que entrem em contato com a fruta; Monitorar a lavagem das mãos do pessoal antes de tocar a fruta; Construção de mesas para que a fruta não entre em contato com o solo; Antes de começar o processo de carregamento, inspecionar a qualidade do transporte; Realizar periodicamente análises microbiológicas das frutas embaladas. Qualidade das instalações básicas do Packinghouse = Limpeza das instalações antes de iniciar o período de colheita e embalagem; Lavar o piso depois de cada jornada de trabalho; Implementar programas de limpeza das instalações e áreas externas; Manter programas de manutenção dos equipamentos para evitar superfícies de contato com oxidações e outras impurezas; Instalar dispositivos de fluxo contra corrente em todas as saídas de água para evitar refluxo; Evitar a proximidade de áreas de armazenamento de esterco, presença de animais e fauna silvestre; Bloquear o acesso de animais e outras pragas às instalações; Manter o poço de água em boas condições. Qualidade na segurança e conforto do trabalhador = Capacitar a todos os empregados para que adotem boas práticas higiênicas; Exigir do pessoal que manuseia os produtos químicos que utilize constantemente EPI's; Construção de mesas para embalagem para que o pessoal trabalhe mais comodamente; Construção de sanitários e vestiários de fácil acesso para uso dos trabalhadores, que devem estar localizados fora da área de embalagem; Manter as instalações sanitárias limpas e com os materiais de limpeza disponíveis a todo momento; Construção de áreas adequadas para que o pessoal guarde e coma seus alimentos. Qualidade na proteção ao meio ambiente = Construção de espaços específicos para guardar os agroquímicos; Implementar programas de manejo de dejetos sólidos para a elaboração de adubos orgânicos; Construção de drenos específicos para a eliminação da água de lavagem das frutas onde se degradem os produtos químicos antes de descartá-los. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] FOOD AND DRUG ADMINISTRATION. Guidance for Industry - Guide to minimize microbial food safety hazards for fresh fruits and vegetables. Washington: U.S. Department of Health and Human Services/FDA/CFSAN, 1998. 49p. [2] CODEX ALIMENTARIUS COMISSION. Proposed draft code of hygienic practice for the primary production, harvesting and packaging of fresh fruits and vegetables. Roma: FAO, 2000. 26p. (CX/FH 00/4). XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS