Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça | GPP-GeR Módulo 5 | A transversalidade de gênero e raça na Gestão Pública Dilma Rousseff Presidente da República Iriny Lopes Ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República – SPM/PR Luiza Bairros Ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República – SEPPIR/PR Fernando Haddad Ministro da Educação – MEC André Lázaro Secretário Nacional de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – SECAD/MEC Maria Luiza Heilborn Sérgio Carrara Coordenadores do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos – CLAM/IMS/UERJ Realização Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPM/PR Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR/PR Ministério da Educação - MEC Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA/SAE ONU Mulheres Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos - CLAM/IMS/UERJ Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça | GPP-GeR Módulo 5 | A transversalidade de gênero e raça na Gestão Pública CEPESC Rio de Janeiro 2011 Coordenação Acadêmica Professores/as Especialistas Equipe Governamental Maria Luiza Heilborn (CLAM) Ana Maria Gomes Mesquita SPM/PR Antonio Carlos (Billy) Malachias Angélica Fernandes Coordenação Acadêmica Adjunta Bel Santos Mayer Ana Carolina Coutinho Villanova María Elvira Díaz Benítez Carlos Alberto Santos de Paulo Beatriz Matté Gregory Cecília de Mello e Souza Luciana Mandelli Coordenação Executiva Clícea Maria Augusto de Miranda Maria Lúcia de Santana Braga Andreia Barreto Daniel Sebastiani Leila Araujo Fábia Oliveira Martins de Souza SEPPIR/PR Felícia Picanço Anhamona Silva de Brito Coordenação de Conteúdo Fernanda Bittencourt Vieira Mônica Alves de Oliveira Gomes Jurema Werneck Flávia Rios Luiz Cláudio Barcelos Lourdes Maria Bandeira Gislene Aparecida dos Santos Verônica Lemos de Oliveira Maia Márcia Lima Guacira César Maria Elisabete Pereira Ignacio Cano SECADI/MEC Maria Luiza Heilborn Jose Eustáquio Diniz Alves Daiane de Oliveira Lopes Andrade Mario Lisbôa Theodoro José Maurício Arruti Fábio Meirelles Hardman de Castro Rosangela Malachias Jurema Werneck Lourdes Maria Bandeira Conselho Científico Coordenação de Lúcia Xavier Isidório Telles (IPEA) Educação a Distância Luena Nunes Pereira Joselina Silva (UFCE) Laura Coutinho Márcia Lima Maria Aparecida Bento (CEERT) Márcio André dos Santos Kabenguele Munanga (USP) Leitura Crítica Márcio Macedo Sonia Dias Anna Paula Vencato Maria Claudia Cardoso Ferreira Sueli Carneiro (Geledés) Cristiane Cabral Maria Elisabete Pereira CLAM/IMS/UERJ Fabíola Cordeiro María Elvira Díaz Benítez IPEA Fabíola Rohden Maria Luiza Heilborn SECADI/MEC Paulo Jorge Ribeiro Maria Márcia dos Santos Leporace SEPPIR/PR Rachel Aisengart Menezes Mário Theodoro SPM/PR Schuma Schumaher Paulo Afonso de Araujo Quermes ONU Mulheres Thais Corral Rosangela Malachias Silvana de Paula Colaboração Solange Fortes Alessandra Maria Silva Pinto Sonia Correa Alexandre Abdal Cunha Vera Lúcia Benedito José Maria Nunes Pereira Conceição Solange Dacach Sônia Beatriz do Santo Vera Lion Copyright © Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos – CLAM/IMS/UERJ Organização Maria Luiza Heilborn Leila Araújo Andreia Barreto Projeto Gráfico Nitadesign | Anna Amendola Revisão Aline Duque Maria Lucia Resende G326 Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça | GPP – GeR: módulo V/ Orgs. Maria Luiza Heilborn, Leila Araújo, Andréia Barreto. – Rio de Janeiro : CEPESC; Brasília : Secretaria de Políticas para as Mulheres, 2011 170 p. ; Il. ISBN 978-85-89737-63-0 Conteúdo: v.1. Políticas públicas e promoção da igualdade; v.2. Políticas públicas e gênero; v.3. Políticas públicas e raça; v.4. Estado e Sociedade; v.5. A transversalidade de gênero e raça na Gestão Pública; v.6. Metodo logia de Projetos de Pesquisa e de Intervenção. 1.Gênero. 2. Raça. 3. Políticas públicas. I. Heilborn, Maria Luiza. II. Araújo, Leila. III. Barreto, Andréia. IV. Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos. V. Secretaria de Políticas para as Mulheres. Ficha catalográfica : Sandra Infurna - CRB-7 - 4607 sumário Apresentação Unidade 1 | Marcos históricos, conceituais e institucionais das políticas públicas 9 10 de gênero e raça Globalização e movimentos sociais: novos desafios para o estado e a sociedade 11 Redemocratização e Reforma do Estado no Brasil 19 Por uma Democracia Participativa no Brasil 29 Princípios e conceitos de interseccionalidade, intersetorialidade e transversalidade 39 A Secretaria de Políticas para as Mulheres: Origens, Missão Institucional e Estratégias de Gestão 45 A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial: Origens, Missão Institucional e Estratégias de Gestão 55 Unidade 2 | Planejamento governamental e orçamento público com recorte de gênero e raça 64 O Ciclo de Políticas Públicas 65 Instrumentos de Planejamento e Orçamento 69 Políticas Públicas de Gênero e Raça 77 O Papel dos Indicadores na Formulação de Políticas, Programas e Projetos 83 O Desafio da Gestão de Gênero e Raça 91 A Gestão do II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres 97 Unidade 3 | Monitoramento e avaliação de programas e projetos 100 Monitorar e Avaliar 101 Monitoramento 109 Avaliação 117 Sistemas de Informação/Avaliação e Monitoramento do Plano Plurianual 125 Unidade 4 | Elaboração de projetos e legislações 130 O planejamento como alicerce e instrumento da gestão 131 A relevância da disponibilidade dos recursos 137 Roteiro para elaboração de Projetos 143 Formalização de Convênios e da Prestação de Contas, Termo de Cooperação e Termos de Parcerias 149 Bibliografia 155 8_ A transversalidade de gênero e raça na gestão pública O quinto módulo do Curso Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça apresenta o processo de transformação das políticas públicas no Estado brasileiro, a partir da perspectiva da transversalidade, da intersetorialidade e da interseccionalidade, sobretudo no que concerne à influência dos movimentos sociais. O texto apresenta os marcos históricos, conceituais e institucionais das políticas públicas de gênero e raça e visa demonstrar como ocorreu, na contemporaneidade, a formulação e o desenvolvimento da noção e das práticas em torno da cidadania e, em especial, indicar a atuação dos movimentos sociais nesse âmbito. Este módulo se detém sobre os desafios na elaboração de políticas públicas com recorte de gênero e raça, uma vez que esta perspectiva acarreta, necessariamente, a promoção social da igualdade e o combate às estruturas que reproduzem as relações de poder entre homens e mulheres e a discriminação étnico-racial. Os conteúdos apresentados destacam a necessidade de contínuas avaliações acerca das políticas, dos programas, dos projetos e das práticas. O planejamento e o orçamento são apresentados como espaços decisórios e estratégicos na incorporação das perspectivas de gênero e raça. Pretende-se, assim, disponibilizar um instrumental teórico e prático capaz de ampliar habilidades para intervenção nos processos de planejamento, orçamento, monitoramento e avaliação de projetos e ações, assegurando a transversalidade, a interseccionalidade e a intersetorialidade de gênero e raça nas políticas públicas. _9 10 _ Unidade 1 | Marcos históricos, conceituais e institucionais das políticas públicas de gênero e raça Globalização e movimentos sociais: novos desafios para o estado e a sociedade Como a globalização interferiu e interfere na agenda dos movimentos sociais? De que forma e em quais momentos históricos as reivindicações dos movimentos de mulheres e étnico-raciais ultrapassam as fronteiras dos países? Quais as principais conquistas? Quais os documentos de referência? As últimas décadas do século XX foram palco de grandes transformações nas economias mundiais. Os anos 1970 marcam a emergência de questionamentos em torno do capitalismo e o início da crise do modelo de Estado-Providência nos países desenvolvidos, firmado desde o pós-guerra. O então nascente processo de globalização passou a gerar novas interrelações entre os Estados nacionais. Representou novos desafios para os Estados, como a conciliação entre a inserção externa e o crescimento econômico, e a garantia do grau de autonomia decisória nacional para definir e executar formas alternativas de integração ao sistema internacional. Além disso, esse processo contribuiu para que os movimentos sociais transcendessem as fronteiras locais e nacionais, de modo a articularem objetivos comuns. _ 11 Os chamados “novos” movimentos sociais ampliaram sua abrangência, que passou a compreender reivindicações de identidade, reconhecimento e redistribuição, com o fim da centralidade do movimento operário (Scherer-Warren, 2006). Por sua vez, reorganizaram-se em redes transnacionais, com novas demandas e investimentos nas transformações culturais, como as formas discriminatórias e de dominação nas relações de gênero, étnicas, etárias, ecológicas, de apropriação de patrimônios históricos e culturais, conflitos bélicos e outras (Scherer-Warren, 2006:13). Para Gohn (1997), os novos movimentos sociais se contrapõem aos “velhos” e historicamente tradicionais em suas práticas e objetivos, pois estes dizem respeito aos movimentos aglutinados, desde fins da década de 1960 e meados de 1970, em torno das bandeiras feministas, antirracistas, ecológicas e de direitos sexuais, entre outras. Assim, o uso do termo “novos” não significa que anteriormente não houvesse articulações políticas pela defesa das mulheres e de negros/as, por exemplo. O que marca a diferença no século XX é o caráter transnacional da articulação dos movimentos, sua maior visibilidade e centralidade na agenda política da maioria dos países. A expansão dos novos movimentos sociais contou com a incorporação de sujeitos coletivos e de segmentos na sociedade da informação e do conhecimento. O que marca a diferença no século XX é o caráter transnacional da articulação dos movimentos, sua maior visibilidade e centralidade na agenda política da maioria dos países. A realização das CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS SOBRE AS MULHERES no México (1975), Nairobi (1985) e Beijing (1995), de combate ao racismo, ao sexismo e à xenofobia (1978, 1983 e 2001), assim como de direitos humanos em Viena (1993) são exemplos dessa nova configuração e força política. Essas conferências articularam os Estados nacionais, o movimento global da sociedade civil, os ativistas dos direitos humanos das mulheres e de grupos étnico-raciais discriminados, entre outros, em um fórum único, para definir os marcos das políticas de direitos humanos, de gênero e de combate ao racismo. 12 _ A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher – CEDAW – proposta em 1979 e vigente desde 1981, é o primeiro tratado internacional sobre os direitos humanos das mulheres, contemplando os direitos políticos, econômicos, civis, sociais e educacionais. O tratado é o resultado de décadas de mobilização internacional, tendo sido precedido pela I Conferência Mundial do Ano Internacional da Mulher, que aglutinou mulheres de todo o mundo, em 1975. O Brasil ratificou a Cedaw em 1984. CONFERÊNCIAS INTERNACIONAIS SOBRE AS MULHERES Conferências Internacionais sobre as Mulheres: México (1975), Nairobi (1985) e Beijing (1995); de Direitos Humanos, Viena (1993). Você pode acessar os documentos em: http://www.observatoriodegenero.gov.br/eixo/ internacional/documentos-internacionais Acesso em 25/01/2011. CEDAW Em 1999, a Assembléia Geral da ONU Em 1979 foi aprovada a Convenção sobre a Eliadotou o Protocolo Facultativo à minação de Todas as Formas de Discriminação Convenção sobre a Eliminação de Todas contra a Mulher. Você pode acessar a publicação as Formas de Discriminação contra a dos documentos que compõem a memória do Mulher, assinado em 2001 pelo governo processo de avaliação do VI Relatório Periódico brasileiro e ratificado pelo Congresso do Brasil ao Comitê da Convenção pela EliminaNacional em 2002. O Protocolo Faculção de Todas as Formas de Discriminação contra tativo regulamentou a criação de um as Mulheres – CEDAW/Organizações das Nações sistema mais eficiente de acompanhaUnidas-ONU, período 2001-2005 em http:// mento do cumprimento da Cedaw e sistema.clam.org.br/biblioteca/?q=node/418 garantiu às mulheres o acesso à justiça Acesso em 25/01/2011. internacional, de forma mais direta e eficaz, em caso de falha ou omissão do sistema nacional, na proteção de seus direitos. O Protocolo instituiu dois mecanismos de monitoramento: a) a petição, que permite o encaminhamento de denúncias de violações de direitos à apreciação do Comitê Cedaw; e b) o procedimento investigativo, que habilita o Comitê a inquirir sobre a existência de grave e sistemática violação dos direitos humanos das mulheres. O Comitê Cedaw recebe relatórios dos países signatários e apresenta recomendações em face dos desafios encontrados. Em 2007, o Brasil apresentou o VI Relatório Nacional Brasileiro ao Comitê Cedaw. _ 13 Na II Conferência Mundial de Direitos Humanos, ocorrida em Viena (1993), a mobilização das mulheres produziu um novo olhar sobre a normatividade de seus direitos humanos, transcendendo o escopo das Conferências de Mulheres anteriores. O pressuposto da indivisibilidade dos direitos humanos universais, que compreende os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, também ampliou e fortaleceu a dimensão dos direitos humanos, considerada com capacidade de beneficiar segmentos sociais anteriormente invisibilizados (Barsted & Hermann, 2001; Piovesan, 2009). A Plataforma de Ação adotada em Beijing na IV Conferência Mundial sobre a Mulher, em 1995, reafirmou ser preciso que os governos nacionais passassem a “integrar perspectivas de gênero na legislação, nas políticas públicas, nos programas e projetos”, a partir de uma análise de suas repercussões nas mulheres e nos homens. Foi também requerida uma revisão periódica da implementação e dos resultados das políticas, dos programas e dos projetos nacionais, com o objetivo de garantir o acesso feminino aos benefícios gerados pelo desenvolvimento nacional. Trata-se de possibilitar que sua contribuição seja levada em consideração na política e em planejamentos econômicos. A Plataforma também se comprometeu a “intensificar os esforços para garantir o exercício, em igualdade de condições, de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais para todas as mulheres e meninas que enfrentam múltiplas barreiras para seu fortalecimento e avanços, em virtude de fatores como raça, idade, língua, origem étnica, cultura, religião, incapacidade/ deficiência, ou por integrarem comunidades indígenas”. 14 _ A Plataforma de Ação adotada em Beijing na IV Conferência Mundial sobre a Mulher, em 1995, reafirmou ser preciso que os governos nacionais passassem a “integrar perspectivas de gênero na legislação, nas políticas públicas, nos programas e projetos” III CONFERÊNCIA MUNDIAL CONTRA O RACISMO, A DISCRIMINAÇÃO RACIAL, A XENOFOBIA E INTOLERÂNCIAS CORRELATAS Acesse a íntegra do documento em: http://www.observatoriodegenero.gov.br/eixo/internacional/documentos-internacionais Acesso em 25/01/2011. Como já visto no Módulo III deste Curso, o envolvimento das Nações Unidas com o enfrentamento do racismo ganhou força a partir da década de 1970. A Assembleia Geral da ONU designou o ano de 1971 como o Ano Internacional do Combate ao Racismo e à Discriminação Racial. Duas Conferências Mundiais contra o Racismo tiveram lugar em Genebra, em 1978 e 1983, mas a III CONFERÊNCIA MUNDIAL CONTRA O RACISMO, A DISCRIMINAÇÃO RACIAL, A XENOFOBIA E INTOLERÂNCIAS CORRELATAS, realizada em Durban, em 2001, foi a que teve maior visibilidade, constituindo-se em um encontro histórico do movimento global antirracismo. A PLATAFORMA DE AÇÃO DE DURBAN, da qual o Brasil é signatário, reconheceu, diante da comunidade internacional, a luta contra o racismo como uma questão prioritária. Afirmou ainda que a escravidão e o tráfico de escravos foram tragédias na história da humanidade, sobretudo por sua magnitude e pela natureza de sua organização. A preocupação com o fato de que, em muitas partes do mundo, africanos, afrodescendentes e populações indígenas enfrentam dificuldades resultantes de preconceitos e discriminação social, em instituições públicas e privadas, foi central no encontro. As mulheres desempenharam um papel significativo na Conferência de Durban, ao apontarem a associação entre racismo, sexismo e outras discriminações, como demonstra o seguinte texto: Após décadas de esforço para conseguir que os impactos engendrados no racismo, na xenofobia e na violência fossem reconhecidos, esse foi o primeiro encontro contra o racismo patrocinado pelas Nações Unidas que incluiu “intolerâncias correlatas”, ou seja, os modos pelos quais o racismo se intersecta com a pobreza, a discriminação de gênero e a homofobia. O Grupo de Discussão das Mulheres (Women’s Caucus) enfatizou que, se não fosse dada atenção ao gênero, certas formas de racismo passariam despercebidas (Blackwell & Naber, 2002:191). _ 15 PLATAFORMA DE AÇÃO DE DURBAN – 2001 • Insta os Estados a incorporarem a perspectiva de gênero em todos os programas de ação contra o racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata e a considerarem a carga deste tipo de discriminação que recai particularmente sobre as mulheres indígenas, africanas e asiáticas, mulheres de ascendência africana ou asiática, mulheres migrantes e de outros grupos desfavorecidos, assegurando seu acesso aos recursos de produção em igualdade de condições com os homens, como meio de promover sua participação no desenvolvimento econômico e produtivo de suas comunidades; • Insta os Estados, quando estiverem trabalhando na erradicação da discriminação, a incluírem mulheres, especialmente aquelas vítimas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata, nas tomadas de decisão em todos os níveis e a adotarem medidas concretas para incorporar análises sobre gênero e raça na implementação de todos os aspectos do Programa de Ação e nos planos de ação nacionais, particularmente nos campos de programas de emprego e serviços, e na alocação de recursos; • Reconhecendo que a pobreza determina a situação econômica e social e estabelece obstáculos à efetiva participação política de mulheres e homens de diferentes modos e em diferentes dimensões, insta os Estados a realizarem análises baseadas em gênero em todos os programas e políticas econômicas e sociais, especialmente nas medidas de erradicação da pobreza, incluindo aquelas desenhadas e aplicadas para beneficiar os indivíduos ou os grupos de indivíduos que são vítimas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata; • Insta os Estados e incentiva todos os setores da sociedade a empoderarem mulheres e meninas que são vítimas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerância correlata, para que elas possam exercer plenamente seus direitos em todas as esferas da vida pública e privada, e a assegurarem a participação plena, efetiva e em igualdade de condições de mulheres em todos os níveis de tomada de decisão, em particular na formulação, na implementação e na avaliação de políticas públicas e de medidas que afetem suas vidas. Ainda que de forma restrita, a perspectiva da transversalidade foi abordada na Conferência de Durban, ao defender-se o pressuposto de que as políticas governamentais devam se comprometer com o combate ao racismo, visando atingir parcelas significativas da população que se encontram em desvantagem em razão da discriminação de fundo étnico-racial, como as mulheres negras. As Conferências resultaram de uma ampla mobilização social de mulheres e homens de vários grupos étnico-raciais e diversas nacionalidades. Em especial, segundo Costa (2001), as CONFERÊNCIAS DE BEIJING (1995) e Durban (2001) fortaleceram a inclusão das políticas públicas de gênero e raça nas agendas nacionais. 16 _ CONFERÊNCIAS DE BEIJING DECLARAÇÃO DE PEQUIM – 1995 Nós estamos convencidos de que: • O fortalecimento das mulheres e sua plena participação, em condições de igualdade, em todas as esferas sociais, incluindo a participação nos processos de decisão e acesso ao poder, são fundamentais para o alcance da igualdade, desenvolvimento e paz; • Os direitos das mulheres são direitos humanos; • A implementação da Plataforma de Ação exige o compromisso dos governos e da comunidade internacional. Ao assumirem compromissos de ação, no plano nacional e internacional, incluídos os compromissos firmados na Conferência, os governos e a comunidade internacional reconhecem a necessidade de priorizar a ação para o alcance do fortalecimento e do avanço das mulheres. Nós estamos determinados a: • Intensificar esforços e ações para alcançar, até o final deste século, os objetivos e as estratégias de Nairóbi, orientados para os avanços das mulheres; • Garantir o pleno exercício de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais às mulheres e meninas e adotar medidas efetivas contra a violação destes direitos e liberdades; • Adotar todas as medidas necessárias para eliminar todas as formas de discriminação contra mulheres e meninas e remover todos os obstáculos à igualdade de gênero e aos avanços e fortalecimento das mulheres; • Encorajar os homens a participarem plenamente de todas as ações orientadas à busca da igualdade. A íntegra da Declaração e da Plataforma de Ação da IV Conferência Mundial Sobre a Mulher está disponível em http:// bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/declaracao_4_conferencia_mundial_mulher.pdf Acesso em 21/01/2011. GLOSSÁRIO Estado-Providência – Outra denominação para designar o Estado de Bem-Estar Social ou Welfare State. Transversalidade de gênero e raça – Pressupõe a incorporação da perspectiva de gênero e de combate ao racismo em todas as políticas públicas propostas pelo Estado e desenvolvidas em cada área governamental e que tenham impacto no combate à pobreza e às desigualdades sociais e econômicas. _ 17 18 _ Redemocratização e reforma do estado no Brasil Quais as articulações possíveis entre Estado e sociedade civil? No Brasil, são apontados três momentos decisivos na transformação do Estado: o primeiro corresponde ao período Getúlio Vargas (1937-1945), quando ocorreu uma estruturação das bases do chamado nacional-desenvolvimentismo. A criação do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), em 1938, é relevante por sua proposta de modernização da gestão federal, com a finalidade de conferir ao Estado um aparato burocrático racionalizador da administração pública. Além dessa preocupação com a modernização da burocracia, um dos maiores legados da Era Vargas consistiu na implementação de um projeto desenvolvimentista, baseado na forte presença do Estado em áreas avaliadas como cruciais ao desenvolvimento do país. O Estado passou a atuar como regulador ou empreendedor de certas atividades econômicas, visando estimular a industrialização e a modernização do país. Este tipo de política desenvolvimentista foi posta em prática na década de 1930, tendo sido adotada por todos os governos que se seguiram. O planejamento econômico passou a conferir ao Estado um papel central. _ 19 REGIME MILITAR (1964-1985) Regime Militar (1964-1985) – O regime militar teve início com o golpe militar de 31 de O segundo momento corresponde ao período do REGIME MILITAR (1964-1985), com seu Decreto-lei nº 200, ampliando a Administração Indireta, que passou a atuar em bases empresariais. março de 1964 que afastou o presidente João O Decreto-lei 200/1967 constituiu a primeira tentativa de implementação de ameaça comunista. Passou a vigorar no país uma reforma gerencial na Administraa doutrina da segurança nacional, defendida ção Pública Brasileira, que privilegiou a pelos militares brasileiros com apoio dos descentralização e a autonomia de autarEstados Unidos e países europeus. Durante a quias, fundações e empresas estatais como ditadura foram instituídos vários Atos Instimodo de conferir agilidade ao Estado. Os tucionais, entre os quais o AI5 (1968) que sucessivos governos ditatoriais efetuaram, dissolveu o Congresso Nacional, suspendeu em maior ou menor escala, uma represa Constituição Federal de 1946 e as liberdasão aos movimentos sociais de massa, aos des individuais. A partir daí, vários brasisindicatos de trabalhadores e às liberdades leiras e brasileiros jovens e adultos foram democráticas em geral. Suas diretrizes e presos pelo Exército e as Polícias Militares, medidas em torno da política econômicotorturados e mortos sob a alegação de amea-financeira possuíam uma inspiração çarem o país. A ditadura militar manteve-se conservadora. O modelo de desenvolviaté 1985, quando foi eleito Tancredo Neves mento implantado autoritariamente nesse como presidente do Brasil. período fundamentava-se no fortalecimento do papel do Estado, no endividamento externo, na substituição das importações, na instalação de multinacionais que atendessem às demandas do mercado interno e na manutenção de superávits na balança comercial. Tratava-se do chamado “Milagre Econômico” que, por um lado, favorecia as classes média e alta, enquanto, por outro lado, os segmentos populares viviam em condições de marcada injustiça social. Em meados da década de 1970 esse projeto entrou em crise e, simultaneamente, as lutas por liberdade e democracia se intensificaram. Goulart e empossou o Marechal Castelo Branco, sob alegação de que o país estava sob O terceiro momento tem como marco a nova Constituição de 1988, com o fortalecimento dos princípios da legalidade e da publicidade, a partir do controle externo e da descentralização. No país, os anos 1990 assistem à ruptura com o modelo desenvolvimentista até então vigente, a partir das iniciativas de reforma do Estado. As primeiras medidas tomadas no sentido da redução de seu papel ocorreram 20 _ no governo FERNANDO COLLOR (1990-1992), e eram dirigidas à privatização, à liberalização comercial e à abertura da economia. Houve então um processo de profunda modificação da máquina pública federal, com fechamento de órgãos e cortes de pessoal, o que implicou a eliminação de atividades governamentais relevantes. FERNANDO COLLOR (1990-1992) Fernando Collor de Mello (1990-1992) – Carioca, foi prefeito, deputado federal e governador em Maceió, Alagoas. Desde 2007 é senador por Alagoas. Foi da Arena, do PDS, PMDB, PRN, PRTB. Em seu governo implementou o Plano Collor, que confiscou as contas e as aplicações financeiras, entre outros, de todos/as os/as brasileiros/as, abriu o mer- Na administração do presidente FERNANDO cado para a importação e deu início ao programa de desesHENRIQUE CARDOSO (1995-2002), o tema da tatização. Como consequência, aumentou o desemprego e reforma do Estado adquiriu centralidade, a recessão no país, que chegou à inflação de 1200% ao ano. sobretudo com a criação do Ministério da Foi protagonista do escândalo de corrupção denunciada Administração e Reforma do Estado – MARE, por seu irmão e que culminou com seu impeachment. Reresponsável pelo Plano Diretor da Reforma nunciou ao mandato, sendo substituído por seu vice Itado Aparelho do Estado. Um dos princípios mar Franco. A Globo News produziu e apresentou recenfundamentais desta proposta explicitava que temente o programa Profissão Ex-Presidente. Assista em o Estado só deveria executar diretamente as http://busca.globo.com/Busca/g1/?query=Profiss%C3%A tarefas de sua competência exclusiva, as que 3o+Ex+presidente Acesso em 21/01/2011. envolvessem o emprego do poder de Estado ou a aplicação de seus recursos. Foram consideradas como de responsabilidade exclusiva do Estado as tarefas centraFERNANDO HENRIQUE CARDOSO (1995-2002) lizadas de formulação e controle das políticas Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) – Carioca, sociólogo, professor emérito da públicas e da lei, execuUSP, foi senador, ministro das Relações Exteriores, ministro da Fazenda e presidente tadas por secretarias ou por dois mandatos. Fez parte do MDB, PMDB e PSDB. Em sua gestão no Ministédepartamentos. O trabario da Fazenda foi criado o Plano Real, uma das mais importantes bandeiras de suas lho de execução seria campanhas e governos. Destacou-se pela reforma do Estado, considerada como rupdescentralizado e delegatura com a Era Vargas por alguns estudiosos. Conseguiu aprovar a emenda constitudo às agências executivas cional da reeleição para os cargos eletivos do Executivo e foi o primeiro presidente e reguladoras autônomas reeleito no país. Houve denúncias de corrupção para a aprovação da reeleição e de ou a organizações sociais. favorecimento de grupos na privatização de estatais. Privatizou a Vale do Rio Doce, Nesse sentido, as instibancos estaduais, sistema de telefonia e algumas rodovias federais, entre outros. Sua tuições organizacionais popularidade foi muito afetada com a crise do apagão e pela alta de juros, considebásicas da reforma foram rada como necessária por causa de crises internacionais. Conseguiu a aprovação de as instâncias execuemendas constitucionais que facilitaram a entrada de empresas estrangeiras no país. _ 21 tivas (instituições estatais que executam as atividades exclusivas de Estado) e as organizações sociais, que se dividem em três categorias: a Organização Social (OS), a Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) e a Organização Não-Governamental (ONG). As Organizações Sociais são encarregadas de absorver as atribuições de órgãos públicos, nos termos do Programa Nacional de Publicização, aprovado pela Lei 9.367 de 15 de maio de 1998, que “autoriza o Poder Executivo a transferir a execução de serviços públicos e gestão de bens e pessoal públicos a entidades especialmente qualificadas, quais sejam, as Organizações Sociais”. Neste caso, a parceria com o Estado seria formalizada por intermédio do Contrato de Gestão (ver Lei 9.637/98, Art. 1º). As OSCIPs são assim definidas por Maria Sylvia Zanella Di Pietro: Pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, instituídas por iniciativa de particulares, para desempenhar serviços sociais não exclusivos do Estado, com incentivo e fiscalização do Poder Público, mediante vínculo jurídico instituído por meio de termo de parceria (Pietro apud Barreto, 2011). As ONGs também são entidades de direito privado sem fins lucrativos, que inicialmente surgiram com a função precípua de preencher as lacunas deixadas pelo Estado, no atendimento às populações excluídas ou sem acesso a direitos sociais básicos. Segundo a Associação Brasileira de Organizações Não-governamentais – ABONG, OSCIP OSCIP – Maiores informações sobre as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público em: • FERRAREZI, Elisabete. OSCIP Passo a Passo: saiba como obter a qualificação de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público e firmar Termo de Parceria. Brasília: Agência de Educação para o Desenvolvimento – AED, 2003. • BARRETO, Lucas Hayne Dantas. Terceiro setor: uma análise comparativa das organizações sociais e organizações da sociedade civil de interesse público. do ponto de vista formal, uma ONG é constituída pela vontade formal de mulheres e homens, que se reúnem com a finalidade de promover objetivos comuns de forma não lucrativa. Nossa legislação 22 _ Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 779, 21 ago. 2005. Disponível em: http://jus2. uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7165 Acesso em: 21/01/2011. princípios aplicados prevê apenas três formatos institucionais para a constituição de uma organização sem fins lucrativos com estas características – associações, fundações e organizações religiosas. Por não ter objetivos confessionais, juridicamente, toda ONG é uma associação civil ou uma fundação privada (www2.abong. org.br). à administração de De acordo com Pares e Valle, empresas e partiu em 1995, a edição do Plano Diretor de Reforma do Estado orientou ampla discussão e empreendeu esforços para a modernização da administração pública tendo por referência os preceitos do modelo gerencial que vinham sendo implantados em vários países: a reforma do aparelho de Estado para as tarefas que lhe são exclusivas, transferindo para organizações públicas não-estatais a produção e a oferta dos demais serviços. Para fazer frente a esses desafios, o plano propunha a modernização das estruturas organizacionais e a reorientação da política de recursos humanos e dos regimes de contratação (Valle, 2007:236). O gerencialismo inspirou-se nos do pressuposto de que o privado é mais eficiente do que o público, considerando o mercado um O processo de reforma baseou-se na perspectiva do ESTADO MÍNIMO, como evidenciado pelas iniciativas excelente alocador empreendidas, avaliado como uma forma de governabilidade mais ágil e com menores custos. “A reforma de recursos. gerencial é uma resposta à crise do Estado”, afirmou Bresser Pereira, mentor da Reforma. O gerencialismo inspirou-se nos princípios aplicados à administração de empresas e partiu do pressuposto de que o privado é mais eficiente do que o público, considerando o mercado um excelente alocador de recursos. A reforma gerencial exigiu novas capacidades institucionais (Pereira, 1998), com vistas a: incrementar a governança; reforçar a governabilidade (condições institucionais que legitimam as decisões); aumentar a eficiência, com a introdução de formas inovadoras de gestão e de um movimento para escapar das “amarras do modelo burocrático” e do patrimonialismo; reduzir o tamanho do Estado, mediante privatizações e _ 23 ESTADO MÍNIMO Estado mínimo – O Consenso de Washington é a denominação dada a uma articulação política para implantar o neoliberalismo de maneira ordenada nos diversos países, tendo como um de seus importantes objetivos o Estado Mínimo. Representava uma corrente de pensamento na defesa de um conjunto de medidas técnicas em favor da economia de mercado, que visavam, em tese, à recuperação econômica dos países latino-americanos. Reuniram-se na capital americana em novembro de 1989, no International Institute for Economy, funcionários do governo dos EUA, dos organismos financeiros internacionais – FMI, Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID – e economistas latino-americanos, com o objetivo de avaliar as políticas econômicas implantadas até então e de projetar um conjunto de regras universais, explicitadas em dez pontos: 1. Disciplina fiscal, através da qual o Estado deve limitar seus gastos à arrecadação, eliminando o déficit público; 2. Focalização dos gastos públicos em educação, saúde e infraestrutura; 3. Reforma Tributária que amplie a base sobre a qual incide a carga tributária, com maior peso nos impostos indiretos e menor progressividade nos impostos diretos; 4. Liberalização financeira, com o fim das restrições que impeçam instituições financeiras internacionais de atuarem em igualdade com as nacionais, e o afastamento do Estado desse setor; 5. Taxa de câmbio competitiva; 6. Liberalização do comércio exterior, com redução de alíquotas de importação e estímulos à exportação, visando impulsionar a globalização da economia; 7. Eliminação de restrições ao capital externo, permitindo investimento direto estrangeiro; 8. Privatização, com a venda de empresas estatais; 9. Desregulação, com redução da legislação de controle do processo econômico e das relações trabalhistas; e 10. Propriedade intelectual (Negrão, 1998, p. 41, 42). Discutiam um conjunto de reformas essenciais para que a América Latina superasse a crise econômica e retomasse o caminho do crescimento. As conclusões desse encontro passaram a ser denominadas informalmente de Consenso de Washington, expressão atribuída ao economista inglês John Williamson. terceirização; diminuir a interferência estatal na economia, com desregulamentações e adoção de controles pelo mercado; possibilitar ao administrador público autonomia e condições efetivas para gerenciar com eficiência as agências públicas e instituir mecanismos democráticos de controle. A reforma gerencial postulava uma mudança nas formas de gestão e nas instituições governamentais, de modo a garantir maior eficiência e efetividade da ação estatal. Contudo, conforme aponta Diniz, isso não ocorreu: 24 _ a partir de meados dos anos 90, a reforma do Estado levada a efeito pelo governo Fernando Henrique Cardoso revelou-se incapaz de realizar a ruptura preconizada por seus idealizadores, ficando muito aquém das metas estabelecidas e mostrando-se inócua para atacar, em sua complexidade, os problemas anteriormente apontados, responsáveis pela crônica ineficácia da ação estatal (Diniz, 2000:18). A partir das difíceis experiências ocorridas na década de 1990, das quais o CASO DA ARGENTINA se tornou um exemplo no continente latino-americano, segundo Diniz, “observou-se a revalorização da capacidade de ação estatal como um pré-requisito do êxito dos governos na administração de situações de crise e transição” (Diniz, 2001:15). Assim, outros aspectos da Reforma de Estado passaram a ser priorizados, sobretudo aqueles relacionados à maior participação social. No primeiro governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva (2003 a 2006), houve uma revisão do conteúdo antiestatal, que se manteve a partir de 2007, com foco no resgate do papel estratégico do Estado. Embora o tema da Reforma estatal não tenha sido priorizado, verificou-se a incorporação das dimensões da accountability, do controle social, da governança e da participação social. Tais instâncias estão fortemente associadas ao ideário da democratização, do fortalecimento da cidadania e da atribuição de um novo papel ao Estado. Além disso, estão articuladas à efetivação do planejamento, através do PPA 2004-2007, que ordenou e sistematizou a configuração mais consistente da governança. O vetor da democratização dos processos decisórios e do acesso a serviços públicos passou a ter evidência, em contraste com os demais aspectos da Reforma. Esse eixo CASO DA ARGENTINA Crise Argentina – “[...] desde 1990 a Argentina foi transformada em uma espécie de laboratório para as doutrinas e as políticas econômicas preconizadas pelo chamado Consenso de Washington. Poucas nações, mesmo na América Latina, foram tão longe em matéria de liberalização, integração internacional e cessão unilateral de aspectos essenciais da autonomia da política econômica nacional”. In: Argentina: uma crise paradigmática, de Paulo Nogueira Batista Jr. Estudos Avançados, vol., 16, nº 44, São Paulo, jan./abr. 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142002000100006&script=sci_arttext Acesso em 21/01/2011. A moeda argentina ficou por dez anos atrelada ao dólar, na paridade de um para um (currency board), o que funcionou como camisa de força, e trocou flexibilidade na economia por credibilidade da moeda internacional. Foi uma “declaração de dependência monetária” perigosa, porque as economias nacionais são muito diversas e desiguais. A ideologia da globalização teve papel importante nessas decisões. O país foi laboratório para testar teses econômicas recomendadas para países periféricos. Todas as tarifas de serviços públicos, contratos, como o de aluguel, eram expressos em dólar, o que provocou aumento de custo, diminuição de crédito doméstico, desemprego, recessão, aumento da dívida pública. O governo foi obrigado a aumentar impostos e cortar gastos, o que provocou no país mais recessão e desemprego. _ 25 PPA 2004-2007 Acesse o documento do PPA na página do Ministério do Planejamento: http://www.planejamento.gov.br/ noticia.asp?p=lst&cat=155&sub=175 &sec=10 (link para os quatro últimos planos plurianuais de 1996 a 2011. Acesso em 29/01/2011. 26 _ se estruturou em torno dos seguintes princípios: a descentralização, não mais no sentido de alocar funções do Estado em instituições privadas ou organizações sociais, mas como expressão do fortalecimento do pacto federativo, como estratégia de democratização e indicação das novas maneiras de articulação entre Estado e sociedade civil. Aí estão incluídas a democratização dos processos decisórios e a participação de organizações da sociedade civil e do setor privado na provisão de serviços (Farah, 2004). GLOSSÁRIO Accountability – Refere-se à ideia de responsabilização, controle e fiscalização dos agentes públicos. Trata-se de visibilizar as ações do Estado mediante a transparência na prestação de contas e no resultado das políticas públicas adotadas e implementadas. Participação e controle social – Relaciona-se à participação da sociedade no acompanhamento e na verificação das ações da gestão pública na execução das políticas públicas, avaliando os objetivos, os processos e os resultados. As ideias de participação e controle social estão intimamente relacionadas por meio da participação na gestão pública, os cidadãos podendo intervir na tomada de decisão, orientando a Administração para que adote medidas que realmente atendam ao interesse público e, ao mesmo tempo, podendo exercer controle sobre a ação do Estado, exigindo que o gestor público preste contas de sua atuação. Governabilidade – Diz respeito à capacidade da ação estatal na implementação das políticas e na consecução das metas coletivas. Nacional-desenvolvimentismo – É o modelo de orientação econômica implementado no Brasil na Era Vargas (1930-1945), quando se desloca do modelo agroexportador do cultivo e da exportação do café para o modelo urbano-industrial, que promove a industrialização no país. Como foram feitos muitos investimentos no setor industrial brasileiro, ele se fortalece e se recupera antes de muitos países, depois da crise mundial de 1929 provocada pela quebra da Bolsa de Valores em Nova York e consequente quebra das economias mundiais, incluindo a brasileira. No Brasil, a industrialização passa a liderar o crescimento econômico e, a partir de 1937, são implantadas indústrias de base e empresas estatais para que o mercado seja abastecido com produção interna e não fique na dependência de importação de produtos como ferro, aço e outros. Começa a ser construída a siderúrgica de Volta Redonda e, na sequência, a Companhia Vale do Rio Doce. No Estado Novo (1937-1945), Vargas manteve o modelo de economia nacional-desenvolvimentista. Patrimonialismo – O conceito de patrimonialismo designa que o Estado não distingue os limites do que é público e do que é privado. No Brasil, o patrimonialismo existe desde o Estado Colonial português, que concedeu terras, títulos e poderes a vários “senhores”. Até os dias atuais, alguns políticos que ocupam cargos públicos no Executivo, no Legislativo e no Judiciário consideram esse cargo como propriedade sua, de sua família e de seus amigos, na contramão dos interesses da população brasileira e do bem comum. _ 27 28 _ Por uma Democracia Participativa no Brasil Como incidir nas políticas públicas? Formulando políticas? Executando-as? Controlando a execução? Como incorporar a sociedade na gestão das políticas públicas? Quais os canais de participação? Quais os mecanismos de controle social? O Debate sobre a Reforma do Estado A crise econômica iniciada em 1965, agravada entre os anos de 1968 e 1974, atinge diretamente o padrão de desenvolvimento capitalista. O baixo crescimento, a aceleração inflacionária e o desequilíbrio financeiro acarretaram um conflito entre a política econômica e a política social.1 Nesse sentido, defendia-se então o abandono das regulações generalizadas, a redução dos tributos e a diminuição dos gastos do Welfare State, com o objetivo de reativar a economia e superar a crise. As dificuldades envolviam o âmbito fiscal, que perdia sua capacidade de intervenção; os questionamentos do modelo de intervenção do Estado (desenvolvimentista) e a falência do modelo burocrático de administração, tido como responsável pelos altos custos das operações estatais e pela baixa qualidade dos serviços. 1 | Belluzzo, L.G.M., Tavares, M.C. & Coutinho, L. “Política Econômica, Inflexões e Crise 1974-1981”. In: Desenvolvimento Capitalista no Brasil, Ensaios sobre a Crise. Vol. 1. São Paulo: Brasiliense, 1982. _ 29 GOLPES DE ESTADO (GOLPE NO CHILE) Golpe no Chile – Foi um golpe de Estado ocorrido em 11 de setembro de 1973, que juntou a Marinha, o Exército e organizações terroristas neofascistas chilenas, com apoio militar e financeiro dos EUA e CIA com intuito de derrubar o presidente Salvador Allende. O golpe foi coordenado pelo general Augusto Pinochet que se proclamou Chefe Supremo da Nação, declarando estado de guerra. Allende havia sido eleito com a proposta de um regime socialista para o Chile, por meios pacíficos, democráticos, respeitando a Constituição e as liberdades. Allende assumiu o poder com grande apoio popular, mas com grupos de opositores radicais e sem maioria no Congresso. Aos EUA não era conveniente que houvesse mais um país socialista nas Américas. O clima no país era quase de guerra civil, com os grupos radicais de esquerda e direita se confrontando e praticando atos terroristas. Allende solicitou a declaração de estado de sítio, mas a Câmara de Deputados se recusou. Ele então convocou a colaboração dos ministros militares para garantir a ordem constitucional. No dia 11 de setembro a esquadra chilena, com a retaguarda da norte-americana, tomou a cidade de Valparaíso, supervisionados por 33 caças e aviões da força aérea norte-americana que estavam na fronteira com a Argentina. Allende foi alertado do golpe e procurou por Pinochet, até então seu colaborador, mas que já participava do golpe. O Comando de Comunicações do Exército solicitou a Allende a entrega do cargo e a saída da sede do governo, La Moneda, sob ameaça de ataques por terra e mar. Allende decidiu permanecer no palácio, que foi bombardeado com muita violência, e ele foi executado, (ainda que haja uma versão de suicídio). Pinochet governou de 1973 a 1990. Ao assumir o poder, Pinochet adotou imediatamente um plano econômico neoliberal preparado pelo candidato de direita que havia concorrido com Allende. O plano havia sido concebido com o apoio de um grupo de economistas, chamados pela imprensa internacional da época de “os Chicago Boys”. Houve repressão sindical, liberalização da economia e privatização dos bens públicos, o que resultou em concentração de renda e altas taxas de desemprego. 30 _ Entre os anos de 1970 e 2000 também se intensificou o debate em torno da crise do Estado de Bem-Estar Social e das possíveis soluções, que envolveram tanto os países desenvolvidos quanto aqueles em desenvolvimento. O mundo vivia uma conjuntura de bipolarização política: de um lado, o sistema capitalista e, de outro, o socialista. Estava em curso a chamada Guerra Fria. Na América Latina e em alguns países da América Central, os movimentos operários e camponeses lutavam por melhores salários, por seus direitos sociais e pela posse da terra. Esse cenário favoreceu que o governo dos Estados Unidos apoiasse políticos liberais na derrubada de governos populistas e nacionalistas, para evitar a chegada dos comunistas ao poder. Os GOLPES DE ESTADO instituíram as ditaduras militares como meio de controle sobre os movimentos populares. No Brasil, após o golpe de 1964, os militares instituíram o modelo desenvolvimentista, com o processo de industrialização acelerada, com controle rígido do movimento operário e social. Apesar das evidências das diferenças entre os modelos ditatoriais, é possível indicar certas características comuns, como o aumento significativo da dívida externa, de acordo com as orientações do Banco Mundial e do Conselho de Washington. Assim, os regimes militares combinaram o autoritarismo político com o liberalismo econômico. A Reforma do Estado tornou-se, portanto, um tema central na agenda política mundial. Simultaneamente, foi preciso responder às insatisfações geradas pelos modelos institucionais precedentes e pelos chamados “novos” movimentos sociais, que passaram a inserir temas não abordados pelos partidos, como o feminismo, as questões raciais e étnicas, a ecologia, a defesa do consumidor. Em um contexto de graves restrições fiscais, a visão que considerava o Estado uma instância onerosa e inoperante, contribuiu, consequentemente, para o fortalecimento de discursos que enfatizavam a necessidade de um novo papel estatal, capaz de garantir maior efetividade, eficácia e eficiência. Estas perspectivas destacavam a importância de um remodelamento das instituições e indicavam a necessidade de criação de um novo modelo de gestão pública orientada para o desempenho, com possibilidade de conciliação entre racionalidade fiscal e capacidade gerencial. A ênfase na reforma do Estado passou a constar da pauta dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Tratava-se de buscar garantir a governança e a governabilidade, de acordo com o referencial estabelecido pelo chamado Consenso de Washington que, em linhas gerais, assumindo a tese de recuperação econômica dos países da América Latina, consistiu numa articulação política para implantar o neoliberalismo nos diversos países. Os países da OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico) apontaram a necessidade de uma Nova Gerência Pública, a partir dos seguintes princípios: descentralização, reexame das formas de operação e financiamento, redução do serviço público, privatização, maior autonomia de órgãos e atividades, terceirização, aplicação de mecanismos de mercado, orientação ao cliente, inclusão de padrões explícitos de qualidade e medição do desempenho, entre outros. A aplicação dessas medidas ocorreu diferentemente nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Nos primeiros, os processos de reforma foram autofinanciados. Nos demais, foram utilizados recursos externos, sobretudo oriundos do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e do Banco Mundial. Estas agências orientaram a reforma, conferindo ênfase ao ajuste fiscal. No Brasil, caso exemplar de país em desenvolvimento, a adoção do modelo neoliberal iniciou-se com o ex-presidente Fernando Collor de Melo, em 1990, e prosseguiu no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Nesse período, o ajuste fiscal foi priorizado, em detrimento da nova institucionalidade, expressa pela Constituição de 1988. Assim, as atribuições do Estado foram redefinidas, com a intensificação do _ 31 processo de privatização e a tentativa de mudança do papel de Estado, de produtor para regulador. Portanto, a resposta foi neoliberal e conservadora. Primou pelo restabelecimento do equilíbrio fiscal, pela redução da dimensão do Estado, pela abertura comercial e orientação para o mercado. Os termos em voga eram “desestatização”, “Estado mínimo”, “privatização” e “lógica de mercado”. Como consequências, são apontados o aumento do desemprego e da miséria, a privatização de empresas públicas lucrativas, como a Vale do Rio Doce e a Companhia Siderúrgica Nacional. Tais reformas não resolveram problemas sociais básicos, tanto no Brasil como nos demais países da América Latina. O enxugamento do aparato do Estado mostrou-se ineficaz. Os termos em voga eram “desestatização”, “Estado mínimo”, “privatização” e “lógica de mercado”. Com a posse do presidente Luis Inácio Lula da Silva, em 2003, uma nova concepção de reconstrução do Estado entra em vigor. A perspectiva da superação do modelo social burocrático manteve-se, e o papel do Estado foi ressaltado como promotor de políticas públicas, em parceria com o movimento social organizado. O eixo central consistia nos direitos sociais. Entre 2004 e meados de 2010 ocorre uma inversão da política até então implementada pelo Estado brasileiro. O país passa a apresentar uma estabilidade econômica, observada pela baixa inflação, redução do desemprego, com queda de 12% em 2003 para 9% em 2007. O Produto Interno Bruto (PIB) registra expansão média de 3,55% ao ano, entre 2002 e 2009, segundo estudo de Reinaldo Gonçalves, que também indica, neste período, recordes na balança comercial. Além disso, houve incentivo às exportações, estímulo ao microcrédito, ampliação dos investimentos na agricultura familiar pelo Programa Nacional da Agricultura Familiar (PRONAF), incremento da produção da indústria automobilística, mudança do salário mínimo de 200 para 510 reais (aumento de 155%), em oito anos, acarretando a recuperação do poder de compra de parcela significativa da população. No cenário internacional verifica-se a liquidação antecipada do pagamento das dívidas contraídas em governos anteriores, em especial com o FMI, fortalecimento do MERCOSUL como bloco econômico e aumento da credibilidade do país junto às comunidades internacionais. 32 _ A democracia participativa MERCOSUL MERCOSUL – O Mercado Comum do Sul foi criado em 26/03/1991 com a assinatura do Tratado de Assunção, no Paraguai, com o objetivo de fortalecer e desenvolver economicamente o bloco da América do Sul e facilitar as relações comerciais com outros blocos econômicos, como o Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (em inglês: North American Free Trade Agreement) – NAFTA e a União Europeia. São membros: Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai. São Estados associados: Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela. E é Estado observador o México. Desde 1995 foi instalada a zona de livre comércio entre os países membros e 90% das mercadorias produzidas nos países membros podem ser comercializadas sem tarifas comerciais. Alguns produtos não fazem parte do acordo por serem considerados estratégicos. Ainda hoje há dificuldades nas relações comerciais entre os países do bloco. A Constituição Federal de 1988 adotou a perspectiva de uma democracia representativa e participativa, incorporando a sociedade na gestão das políticas públicas. Nos últimos anos, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, verifica-se no Brasil a implementação e o aprofundamento de diversos mecanismos dessa nova prática, cuja dimensão paradigmática ancora-se em quatro pressupostos: 1. Reestruturação da capacidade estatal; 2. Centralidade das políticas sociais; 3. Ampliação e fortalecimento dos mecanismos de participação e controle social; 4. Experiências de políticas de transversalidade. A organização de conferências, consultas públicas, a instituição de ouvidorias, conselhos e mesas de negociação contribuíram expressivamente para a constituição dos mecanismos de participação. Desde 2003, foram criados 19 Conselhos Nacionais e realizadas 67 Conferências Nacionais. Essa reconfiguração da governabilidade assenta-se em uma concepção de democracia participativa, que tanto implica a democratização direta do processo decisório quanto a potencial reversão de práticas clientelistas. A participação contínua da sociedade na gestão pública é um direito assegurado pela Constituição Federal, que permite a participação social na formulação das políticas públicas e na fiscalização permanente da aplicação dos recursos. Assim, não se trata apenas de escolher os representantes, de quatro em quatro anos, mas também de acompanhar de perto, durante o mandato, como esse poder delegado está sendo exercido, supervisionando e avaliando a tomada de decisões administrativas. Segundo Spink e Teixeira: _ 33 O que antes eram as responsabilidades específicas e exclusivas das burocracias técnicas e profissionais governamentais logo começaram a ser vistas como responsabilidades mais amplas da sociedade, onde as instituições políticas têm seu papel, mas não de maneira monopolista. Hoje, no Brasil, como também em outras partes do mundo, novas práticas de coordenação que utilizam redes, alianças e fóruns deliberativos, formando o que Hirst chamou de uma “governança social negociada”, crescem em visibilidade (Spinke & Teixeira, 2007:46). A intensa participação da sociedade civil na formulação de políticas públicas tornou o governo mais permeável às demandas dos movimentos sociais, como o das mulheres e negros/as, que ganharam mais força e expressão nos anos 1980 e 1990, criando Conselhos de Direitos e Secretarias, como a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) e a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), que têm como objetivo gerar impactos em todas as áreas de atuação atinentes ao governo, de modo a promover uma efetiva cidadania das mulheres e dos segmentos raciais discriminados, considerando a formulação, a implementação e a avaliação de políticas públicas. A efetivação de Políticas Públicas de Gênero e Raça Os estudos acerca da transversalidade de gênero e raça passaram a receber ênfase, com a ampliação da institucionalização das políticas direcionadas a estes grupos. No Brasil, verifica-se um processo gradual de incorporação das temáticas de gênero e raça na agenda governamental, seja no nível nacional, expresso pela criação da SPM e da SEPPIR, seja no âmbito local, com a institucionalização das coordenadorias e secretarias estaduais e municipais. Os dados demográficos e a análise dos perfis da população brasileira têm contribuído para a superação da imagem de “grupos minoritários” e explicitado as desigualdades entre segmentos sociais. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD-IBGE), em 2008, a população brasileira era constituída por 189,9 milhões de pessoas, dentre as quais 51,3% (ou 97 milhões) são mulheres. Já os dados sobre o perfil populacional demonstram um novo contorno em relação ao quesito raça/cor. 34 _ PNAD 2008 Consulte os dados da PNAD na íntegra em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/ populacao/trabalhoerendimento/ pnad2008/default.shtm E consulte o que a PNAD 2008 informa sobre as mulheres na publicação Com todas as Mulheres por todos os seus direitos. Disponível em http://www.sepm.gov.br/publicacoesteste/publicacoes/2010/ liv-spm.pdf Acesso em 21/01/2011. Houve um aumento da população feminina e masculina que se identifica como parda e uma redução nas declarações de cor/raça preta e branca. Como resultado, há uma elevação da participação de pessoas negras (soma de pardos/as e pretos/as) entre 2007 e 2008 (de 50% para 50,6%), dado significativo para a população feminina negra. Segundo Abramo, em qualquer indicador social considerado – educação, emprego, trabalho, moradia etc. – existe uma desvantagem sistemática das mulheres em relação aos homens, e do conjunto de negros de ambos os sexos em relação aos brancos. Essa desvantagem é especialmente marcada no caso das mulheres negras (Abramo, 2004:17). Como abordado nos módulos anteriores, ainda são necessários esforços para que as políticas públicas alcancem um pleno enfrentamento das condições que acarretam desigualdades para as mulheres e negros/as. Há um consenso crescente de que é necessário o incremento de ações envolvendo um ou mais poderes do Estado para o combate à pobreza, às desigualdades, às discriminações e à exclusão social, como eixos centrais das políticas públicas e como condição para o desenvolvimento. Neste sentido, ressaltam-se os esforços federais, da gestão governamental de 2003 a 2010, com a criação das Secretarias Especiais: de Políticas para as Mulheres (SPM), de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) e de Direitos Humanos, com a finalidade de elaborar e implementar, de forma transversal com os demais Ministérios, políticas públicas com capacidade de reversão do quadro de desigualdades e discriminações de todos os tipos, dentre os quais de gênero e raça. As políticas públicas de gênero e raça podem se tornar efetivas no enfrentamento das desigualdades a partir de ações que conjuguem interseccionalidade, intersetorialidade e transversalidade. _ 35 GLOSSÁRIO Conselhos foram pensados a partir da Constituição Federal de 1988 (Título VIII) como mecanismos institucionais que visam garantir a participação da sociedade civil nos atos e nas decisões do Estado por meio de um processo de gestão conjunta das políticas. São órgãos colegiados com a incumbência de formular, supervisionar e avaliar políticas públicas; por isso importantes espaços de participação da sociedade civil na gestão pública. Os Conselhos Paritários são aqueles igualmente compostos de representantes do Poder Executivo (indicados/as por suas chefias) e da sociedade civil organizada (eleitos por seus pares). Os Conselhos Tripartites, como o Conselho do Trabalho, têm representantes, em igual número, do poder público, dos empregadores e dos empregados. Há Conselhos de Direitos, Conselhos de Políticas Públicas, Conselhos Gestores de Políticas Públicas Setoriais. Exemplos: Conselhos de Assistência Social; Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente, e outros. Consulta pública – É um mecanismo para colher contribuições tanto de setores especializados quanto da sociedade em geral sobre as políticas e os instrumentos legais que irão orientar as diversas ações públicas no país. É um canal de participação democrático e transparente. As consultas públicas acontecem na elaboração de documentos e geralmente estão divididas por assunto. Há cadastro prévio do participante para comunicação posterior, se necessário, visando esclarecimentos e/ou à retirada de dúvidas acerca da contribuição. Efetividade – Correspondência entre os objetivos propostos e os resultados atingidos, ou seja, a relação entre os resultados (impactos observados) e os objetivos (impactos esperados). Eficácia – Grau de alcance das metas programadas em um determinado período de tempo, independentemente dos custos implicados. Está relacionada aos resultados sobre a população beneficiária e a sociedade. Eficiência – Relaciona-se à minimização dos custos e à maximização dos resultados. “Fazer mais com menos”. 36 _ GLOSSÁRIO Intersetorialidade – Consiste na promoção de ações integradas entre diversos órgãos setoriais, com base na compreensão de que, isoladamente, um único órgão não consegue promover ações que abarquem a integralidade da demanda social. A intersetorialidade cria espaços de comunicação e relação de instituições que atuam em diversos setores (político, técnico, administrativo etc.), em diferentes áreas (saúde, educação, meio ambiente, assistência social, planejamento etc.), e que podem pertencer a órgãos governamentais, não-governamentais, empresas e órgãos internacionais. Políticas públicas intersetoriais agregam setores diversos e várias áreas, permitindo melhor utilização de conhecimentos e experiências acumuladas, colaborando para o alcance de metas comuns, sob uma coordenação que agrega todas as contribuições. Ouvidoria – O/a ouvidor/a é um profissional que está cada vez mais presente em organizações públicas e privadas, atuando como representante dos/as cidadãos/ãs, dos/as clientes junto à instituição. Na administração pública a função do/a ouvidor/a é defender os/as cidadãos/ãs cujos direitos foram prejudicados ou ameaçados por atos da administração. Qualquer cidadão/ã, seja cliente interno ou externo, pode apresentar, sem ônus ou embaraço burocrático, reclamação direta ao ouvidor, verbalmente ou por escrito. O/a ouvidor/a não possui poder de decisão. O poder do/a ouvidor/a é de persuasão e de recomendação, no sentido de reformulação das decisões sempre que houver prejuízo ou constrangimento para o cliente. Para exercer com eficiência a sua função, o/a ouvidor/a tem que ter o apoio da direção da organização, livre trânsito no âmbito institucional e prioridade de resposta. No Brasil, a função do/a ouvidor/a baseia-se nos princípios constitucionais, estabelecidos no art. 37, que são legalidade, legitimidade, imparcialidade, moralidade, probidade e publicidade, e segue a orientação sistêmica da Ouvidoria Geral da República. _ 37 38 _ Princípios e conceitos de interseccionalidade, intersetorialidade e transversalidade Os conceitos de interseccionalidade, intersetorialidade e transversalidade na gestão pública não são sinônimos. Contudo, eles se referem à mesma concepção: de que as políticas públicas devem se articular para contribuir, sobretudo, para a superação das desigualdades econômicas, de gênero e raça/etnia. A intersetorialidade é um conceito mais difundido na administração pública brasileira. Compreende a perspectiva de que a gestão das políticas sociais e, consequentemente, dos serviços públicos, deve ser realizada por meio de ações integradas. Tal afirmativa leva em consideração o fato de que, isoladamente, um único órgão setorial (Ministério, Secretaria, Fundação, Coordenadoria, entre outros) teria dificuldade em promover ações que abarcassem a integralidade da demanda social. Apesar de as demandas sociais serem definidas setorialmente, as respostas a elas dizem respeito à ação de mais de uma política, o que evidencia as relações de interdependência entre os diversos setores. A dimensão associada das políticas é uma noção aparentemente óbvia, mas é fato que, tradicionalmente, o Estado brasileiro se estruturou em órgãos setoriais e que essa articulação é construída por meio de um processo por vezes árduo. A intersetorialidade incorre em mudanças na organização, a partir de interrelações que extrapolam _ 39 um setor específico. Exige diálogo, acordos, compartilhamento de ações, de pontos de vista e entendimentos. Políticas de todas as áreas e vieses podem assumir um CARÁTER INTERSETORIAL através de relações mais horizontais. Bakvis e Juillet ressaltaram que os servidores têm experimentado uma pressão considerável e crescente para trabalhar colaborativamente, com vistas a resolver problemas importantes na área da formulação e implementação de políticas [...] o trabalho horizontal exige novas capacidades, como as de negociar, comunicar-se e mediar (Bakvis & Juillet, 2004:9, 10). CARÁTER INTERSETORIAL Um exemplo de gestão integrada de uma política social é o Programa Bolsa Família: “além do alívio imediato da pobreza por meio da transferência direta de renda, o programa apoia o exercício de direitos sociais básicos na área da saúde e educação, atuando em coordenação com programas complementa- A interseccionalidade, mencionada várias vezes neste curso, é uma categoria com um conteúdo político bem definido. Trata-se de um conceito que abarca a complexidade da situação de indivíduos e grupos, considerando a coexistência de eixos de subordinação. O pertencimento racial, de gênero, a orientação sexual e a condição de classe, por exemplo, somam-se, gerando situações de desigualdades e discriminações mais intensas para determinados grupos sociais. A partir da perspectiva da interseccionalidade, é possível tornar visível a existência ou não de desvantagens produzidas sobre as pessoas em uma sociedade desigual. res que têm por objetivo o desenvolvimento das famílias, como os programas de geração de trabalho e renda, de alfabetização de adultos e de fornecimento de registro civil” (Estevão de Moraes, 2009). Outros exemplos: Programa Brasil Quilombola, coordenado pela SEPPIR, e com forte parceria do Ministério de Desenvolvimento Agrário; Programa Intergeracional de Promoção da Igualdade de Gênero, Raça e Etnia, implementado por ONU Mulheres, OIT, UNICEF e outras agências internacionais, em parceria com a Secretaria de Promoção e Política da Igualdade Racial (SEPPIR) e a Secretaria de Políticas para a Mulher. Acesse (acesso em 21/01/2011) para mais dados sobre o tema; veja o vídeo da Campanha do UNICEF, Por uma infância sem racismo, protagonizado pelo ator Lázaro Ramos. 40 _ A interseccionalidade é uma conceituação do problema que busca capturar as consequências estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos da condição de subordinação. Trata especificamente da forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, a opressão de classe e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas, que estruturam as posições relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras. Além disso, a interseccionalidade trata da forma como ações políticas específicas geram opressões que fluem ao longo de tais eixos, constituindo aspectos dinâmicos ou ativos do desempoderamento (Crenshaw, 2002:177). A perspectiva da transversalidade de gênero e raça também apreende a dimensão interseccional da desigualdade e deve compreender ferramentas analíticas de articulação de múltiplas diferenças e desigualdades. Cabe chamar a atenção para o fato de que toda a ação transversal é concomitantemente intersetorial, ou seja, envolve mais de uma política, enquanto muitas ações intersetoriais não atendem à transversalidade de gênero e raça, não incorporam as especificidades de mulheres e grupos raciais discriminados. Ressalta-se ainda que, por vezes, embora haja transversalidade de gênero e raça, nem sempre se apresentam de forma interseccional, uma vez que tendem a acentuar nas ações formuladas e implementadas um único aspecto: ou transversalidade de gênero ou transversalidade de raça. A ideia da transversalidade para as políticas de gênero teve origem na proposta da Plataforma de Ação, durante a IV Conferência Mundial das Mulheres em Beijing (1995). Tornou-se um fenômeno internacional, tendo sido adotada pela ONU, antes de ser aceita pela União Europeia e por seus Estados-membros. A estratégia – designada como gender mainstreaming e traduzida como transversalidade de gênero – tem como objetivo garantir a incorporação da melhoria do status das mulheres em todas as dimensões da sociedade – econômica, política, cultural e social – com repercussões nas esferas jurídicas e administrativas, incidindo em mudanças imediatas relativas à remuneração, ao acesso à segurança social, ao acesso à educação e à saúde, à partilha de responsabilidades profissionais e familiares, além da busca de paridade nos processos de decisão. Para Stiegler, a transversalidade de gênero consiste na reorganização, melhoria, desenvolvimento e avaliação de processos de decisão em todas as áreas políticas e de trabalho de uma organização. O objetivo é incorporar a perspectiva das relações de gênero em todos os processos de decisão e fazer com que todos os processos de decisão sejam úteis à igualdade de oportunidades (Stiegler, 2003:7). Em outras palavras, tais definições, que são complementares, significam que transversalizar a política a partir da dimensão de gênero (extensiva à dimensão racial) não é senão incluir a noção de gênero e raça na própria definição de política pública: formulação, aplicação e avaliação. Trata-se de colocar a perspectiva da transversalidade como um marco intencional, que se compromete a realizar outras formas de entendimento acerca da normatividade estabelecida em torno da condição de gênero e raça, geralmente pensada como permanente ou imutável. No contexto nacional, a incorporação da política de promoção das mulheres e negros/as, via “transversalidade de gênero e raça”, deve significar, para os/as gestores/as públicos/as, mais que a incorporação desta perspectiva em um ministério _ 41 ou em uma secretaria específica de atuação na área da mulher e do combate ao racismo. Deve representar a interação com os diversos ministérios, empresas públicas, todas as políticas públicas propostas pelo Estado e com a sociedade civil, e precisa ser desenvolvida em cada área governamental, considerando as especificidades e as demandas das mulheres e dos homens e de segmentos raciais diferenciados. Vale ressaltar que as ações políticas com especificidade de gênero e raça devem se relacionar com as demais áreas das ações governamentais, rompendo com a noção de que existem áreas, nas políticas públicas, que estariam desvinculadas – ou seriam independentes e neutras – da condição de gênero e raça. Ao contemplar esta perspectiva, cada ação política estaria buscando resposta para a questão implícita: em que medida se modificam as condições de vida das mulheres, de negros e negras e se favorece a sua condição de empoderamento? A partir deste pressuposto, a atuação da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) e da Secretaria de Políticas de Igualdade Racial (SEPPIR) implica a implementação de programas e ações comuns e integradas com outras esferas ministeriais (da saúde, do trabalho, da educação, do desenvolvimento agrário, da ciência e tecnologia, entre outras), no sentido de que a compreensão da transversalidade de gênero e raça/ etnia possa garantir uma governabilidade mais justa e cidadã. Um passo importante para a transversalidade de gênero e raça nas políticas públicas foi dado com o posicionamento adotado nas I e II Conferências Nacionais de Política para as Mulheres e de Promoção da Igualdade Racial, realizadas, respectivamente, em 2004, 2007 e 2005, 2009: o de assegurar espaço de participação mais expressiva de mulheres e negros/as na luta política para a implementação da estratégia da transversalidade de gênero e raça na governabilidade. Esse compromisso no âmbito da governabilidade pode ser efetivado por meio de vários procedimentos e estratégias, consolidando uma agenda de mudança que gere tanto a reorientação dos paradigmas existentes em relação às políticas, quanto as alterações nos processos de planejamento e de tomada de decisões. Nesse sentido, as mudanças também recaem sobre as políticas previamente estabelecidas, que não introduziram a perspectiva de gênero e raça. A proposta centrada na estratégia da transversalidade significa assumir um novo olhar e, consequentemente, outro patamar para os homens e para as mulheres, brancos/as e negros/as. Trata-se, portanto, de uma transformação nas relações de gênero e raça que elimine as representações segregadoras e discriminadoras, associadas ao feminino e à negritude. As mudanças dizem respeito não apenas aos objetivos das políticas públicas, mas 42 _ também à formação de gestores/as. Constata-se a carência de profissionais sensibilizados/as e capacitados/as nas temáticas de gênero e raça, e as implicações desta carência em programas, projetos e ações governamentais, gerando entraves ao desenvolvimento da política (Bandeira & Bittencourt, 2005). Assim, a estratégia da transversalidade demanda ações inovadoras, como indicam Abramo (2004) e Bandeira (2003): • • • • • • • Incorporação da perspectiva de gênero e raça no diagnóstico do problema/tema a ser enfrentado; Produção de dados desagregados por sexo e raça, e de indicadores sensíveis ao gênero e à questão racial, para subsidiar a elaboração de políticas públicas, assim como mecanismos de monitoramento e avaliação das metas desagregadas; Incorporação da dimensão de gênero e raça nos processos de planejamento, alocação de recursos e avaliação das políticas e dos programas; Inclusão dos recortes de gênero e raça nos orçamentos públicos, que se constituem como instrumentos estratégicos para tornar visíveis as desigualdades de gênero e raça e para influir no gasto público; Ampliação do espaço de participação democrática; Fortalecimento da capacidade de realizar análises de gênero e raça dos problemas considerados para gerar novas respostas; Fortalecimento das capacidades institucionais dos/as gestores/as públicos/as e demais atores sociais para desenvolverem mecanismos de implementação, monitoramento e avaliação capazes de promover a igualdade de gênero e raça, como aspecto essencial das políticas. Estes desafios são o fundamento da institucionalização da Secretaria de Políticas para as Mulheres e da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial. GLOSSÁRIO Políticas Públicas com recorte de gênero e raça – São políticas públicas que reconhecem o fato de que as diferenças entre homens e mulheres e as diferenças raciais estão na base das desigualdades e, a partir desse reconhecimento, implementam ações diferenciadas para atender às demandas específicas de cada segmento, visando contribuir para a superação dessas desigualdades. _ 43 44 _ A Secretaria de Políticas para as Mulheres: Origens, Missão Institucional e Estratégias de Gestão Quais as metas definidas pelo movimento feminista e pelas organizações de mulheres para os próximos anos? Como monitorar estas metas, programas e ações? Quais os programas e ações desenvolvidos em seu estado e município para a transversalidade de gênero nas políticas públicas? De que forma seu estado e município aderem aos Planos Nacionais de Política para as Mulheres? Há um Plano Estadual de Política para as Mulheres? Estas ações são coerentes com as diretrizes e os eixos do Plano Nacional de Política para as Mulheres (PNPM I e II)? Desde o primeiro módulo deste Curso, Políticas Públicas e Promoção da Igualdade, no qual se apresentou uma “cronologia das conquistas de políticas públicas focadas em gênero e raça”, você tem estudado sobre a contribuição dos movimentos feministas e de mulheres para a inclusão do tema de gênero e raça na agenda pública. Nesta unidade retornaremos, ainda que de forma breve, a algumas destas políticas que culminaram com a conquista histórica da Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM) e da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade (SEPPIR). _ 45 No que se refere às questões diretamente vinculadas às mulheres, a formulação de propostas de políticas públicas, com a perspectiva de gênero, derivou de uma crítica à ação do Estado (Farah, 2004; Rago, 2003). Na década de 1980, foram implantadas as primeiras ações governamentais com um recorte de gênero: o Conselho Estadual da Condição Feminina (1983) e a primeira Delegacia de Polícia de Defesa da Mulher (1985), ambos no estado de São Paulo, dando origem a outras instituições em outros estados. Em nível federal, foi implantado o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) em 1983 e o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) em 1985. O CNDM, segundo Montaño: começava o que seria um interessante debate sobre as políticas setoriais versus as transversais, cujos resultados deveriam medir-se não de acordo com o cumprimento de objetivos delimitados por um tema ou setor, mas pela satisfação no cumprimento dos direitos de um determinado grupo populacional. A ideia de incidir sobre e controlar o Estado por parte da sociedade adquiriu renovada importância (Montaño, 2003:8). Inspirada no princípio de igualdade de condições entre homens e mulheres, a SPM fomenta estratégias para o desenvolvimento de políticas para as mulheres O papel do CNDM junto aos movimentos feministas e de mulheres foi fundamental para a inclusão de reivindicações feministas, explicitadas na Carta das Mulheres Brasileiras aos Constituintes (1988) – incluindo temas referentes à saúde, à família, ao trabalho, à violência, à discriminação, à cultura e à propriedade da terra (Costa, 2009; Montaño & Pitanguy, 2003). O CNDM teve atuação incisiva de 1985 até os primeiros anos da década de 1990, quando teve início o processo de enfraquecimento do Conselho com o Governo Collor. A partir da posse do Governo Fernando Henrique Cardoso, em 1995, o CNDM é reestruturado, mas não conta com autonomia administrativa e financeira. Em 2002, ao final do segundo mandato do presidente Fernando Henrique, foi criada a Secretaria dos Direitos da Mulher (SEDIM), subordinada ao Ministério da Justiça. Contudo, esta instância ainda não atendia às aspirações do movimento feminista por uma institucionalidade com maior incidência nas esferas de governo (Montaño & Pitanguy, 2003). 46 _ No início do Governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, foi criada a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), que veio atender a essa demanda. Inspirada no princípio de igualdade de condições entre homens e mulheres, a SPM fomenta estratégias para o desenvolvimento de políticas para as mulheres e tem como atribuições propor, coordenar e articular um conjunto de políticas públicas dirigidas à eliminação de todas as formas de discriminações de gênero, à consolidação de plenos direitos humanos e à cidadania para as mulheres. O CNDM passou a integrar a estrutura da Secretaria de Políticas para as Mulheres e incorporou representantes da sociedade civil e do governo, ampliando o processo de controle social sobre estas políticas. Presidido pela ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres é composto por 13 órgãos governamentais (Ministérios do Planejamento, Saúde, Educação, Trabalho e Emprego, Justiça, Desenvolvimento Agrário, Cultura, Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Relações Exteriores, Ciência e Tecnologia, e Secretarias de Promoção da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos) e por 19 representantes dos movimentos sociais de mulheres, além de mais três mulheres com notório conhecimento das questões de gênero. O Conselho se reúne com regularidade para pactuar com a SPM as estratégias de implementação das políticas para as mulheres no país. O diferencial da Secretaria de Políticas para as Mulheres em relação às experiências institucionais anteriores está no fato de a SPM ser o primeiro órgão, no nível federal, com status de Ministério e diretamente vinculado à Presidência da República, a articular as ações para o desenvolvimento de políticas públicas integradas, dirigidas às mulheres brasileiras. O Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres (Cedaw) elogiou, em sua avaliação dos períodos 2001 a 2005, os esforços que o governo brasileiro vem empreendendo no sentido de combater as discriminações contra as mulheres, que ainda persistem na sociedade brasileira em todos os campos (saúde, educação, mercado de trabalho, espaços de poder e decisão, entre outros). Tais esforços se consolidaram no I e II Planos Nacionais de Políticas para as Mulheres. O I PLANO NACIONAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES (I PNPM) foi lançado em dezembro de 2004. O I PNPM resulta de um processo amplamente participativo e democrático que envolveu, direta e indiretamente, 120 mil mulheres de todo o país em conferências municipais, estaduais e na I Conferência Nacional de Políticas para as _ 47 Mulheres. A Conferência Nacional, convocada pela SPM e pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, aprovou, em sua plenária final, os princípios da Política Nacional para as Mulheres e um conjunto de 239 diretrizes que orientam, ampla e irrestritamente, a atuação estatal na construção de suas políticas públicas. I PLANO NACIONAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES Princípios: a) Igualdade e respeito à diversidade: mulheres e homens são iguais em seus direitos e sobre este princípio se apoiam as políticas de Estado que se propõem a superar as desigualdades de gênero. A promoção da igualdade requer o respeito e a atenção à diversidade cultural, étnica, racial, à inserção social, de situação econômica e regional, assim como aos diferentes momentos da vida. Demanda o combate às desigualdades de toda sorte, por meio de políticas de ação afirmativa e consideração das experiências das mulheres na formulação, na implementação, no monitoramento e na avaliação das políticas públicas; b) Equidade: o acesso de todas as pessoas aos direitos universais deve ser garantido com ações de caráter universal, mas também por ações específicas e afirmativas voltadas aos grupos historicamente discriminados. Tratar desigualmente os desiguais, buscando-se a justiça social, requer pleno reconhecimento das necessidades próprias dos diferentes grupos de mulheres; c) Autonomia das mulheres: deve ser assegurado às mulheres o poder de decisão sobre suas vidas e seus corpos; devem ser asseguradas as condições de influenciar os acontecimentos em sua comunidade e em seu país e de romper com o legado histórico, com os ciclos e os espaços de dependência, exploração e subordinação que constrangem suas vidas nos planos pessoal, econômico, político e social; d) Laicidade do Estado: as políticas públicas de Estado devem ser formuladas e implementadas independentes de princípios religiosos, de forma a assegurar efetivamente os direitos consagrados na Constituição Federal e nos diversos instrumentos internacionais assinados e ratificados pelo Estado brasileiro, como medida de proteção aos Direitos Humanos das mulheres e das meninas; e) Universalidade das políticas: as políticas devem ser cumpridas na sua integralidade e garantir o acesso aos direitos sociais, políticos, econômicos, culturais e ambientais para todas as mulheres. O princípio da universalidade deve ser traduzido em políticas permanentes nas três esferas governamentais, caracterizadas pela indivisibilidade, a integralidade e a intersetorialidade dos direitos, e combinadas às políticas públicas de ações afirmativas, percebidas como transição necessária em busca da efetiva igualdade e equidade de gênero, raça e etnia; f ) Justiça social: implica o reconhecimento da necessidade de redistribuição dos recursos e das riquezas produzidas pela sociedade e a busca de superação da desigualdade social que atinge de maneira significativa as mulheres; g) Transparência dos atos públicos: deve-se garantir o respeito aos princípios da administração pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, com transparência nos atos públicos e controle social; h) Participação e controle social: devem ser garantidos o debate e a participação das mulheres na formulação, na implementação, na avaliação e no controle social das políticas públicas. 48 _ I PLANO NACIONAL DE POLÍTICAS PARA AS MULHERES CONT. Diretrizes: • Garantir a implementação de políticas públicas integradas para a construção e a promoção da igualdade de gênero, raça e etnia. • Garantir o desenvolvimento democrático e sustentável levando em consideração as diversidades regionais, com justiça social, e assegurando que as políticas de desenvolvimento promovidas pelo Estado brasileiro sejam direcionadas à superação das desigualdades econômicas e culturais. Isto implica a realização de ações de caráter distributivo e desconcentrador de renda e riquezas. • Garantir o cumprimento dos tratados, dos acordos e das convenções internacionais firmados e ratificados pelo Estado brasileiro relativos aos direitos humanos das mulheres. • Fomentar e implementar políticas de ações afirmativas como instrumento necessário ao pleno exercício de todos os direitos e liberdades fundamentais para distintos grupos de mulheres. • Promover o equilíbrio de poder entre mulheres e homens, em termos de recursos econômicos, direitos legais, participação política e relações interpessoais. • Combater as distintas formas de apropriação e exploração mercantil do corpo e da vida das mulheres, como a exploração sexual, o tráfico de mulheres e o consumo de imagens estereotipadas da mulher. • Reconhecer a violência de gênero, raça e etnia como violência estrutural e histórica que expressa a opressão das mulheres e precisa ser tratada como questão de segurança, justiça e saúde pública. • Reconhecer a responsabilidade do Estado na implementação de políticas que incidam na divisão social e sexual do trabalho; a importância social do trabalho tradicionalmente delegado às mulheres para as relações humanas e a produção do viver; a importância dos equipamentos sociais e dos serviços correlatos, em especial, de atendimento e cuidado com crianças e idosos. • Contribuir com a educação pública na construção social de valores que enfatizem a importância do trabalho historicamente realizado pelas mulheres e a necessidade de viabilizar novas formas para a sua efetivação. • Garantir a inclusão das questões de gênero, raça e etnia nos currículos, reconhecer e buscar formas de alterar as práticas educativas, a produção de conhecimento, a educação formal, a cultura e a comunicação discriminatórias. • Garantir a alocação e a execução de recursos nos Planos Plurianuais, Leis de Diretrizes Orçamentárias e Leis Orçamentárias Anuais para a implementação das políticas públicas para as mulheres. • Elaborar, adotar e divulgar indicadores sociais, econômicos e culturais sobre a população afrodescendente e indígena, como subsídios para a formulação e a implantação articulada de políticas públicas de saúde, previdência social, trabalho, educação e cultura, levando em consideração a realidade e a especificidade urbana e rural. Dar especial atenção à implantação do quesito cor nos formulários e nos registros nas diferentes áreas. • Formar e capacitar servidores/as públicos/as em gênero, raça, etnia e direitos humanos, de forma a garantir a implementação de políticas públicas voltadas para a igualdade. • Garantir a participação e o controle social na formulação, na implementação, no monitoramento e na avaliação das políticas públicas, disponibilizando dados e indicadores relacionados aos atos públicos e garantindo a transparência das ações. • Criar, fortalecer e ampliar os organismos específicos de direitos e de políticas para as mulheres no primeiro escalão de governo, nas esferas federal, estadual e municipal. _ 49 II PNPM Os 11 eixos do II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres são: 1. Autonomia e igualdade no mundo do trabalho com inclusão social; 2. Educação inclusiva, não sexista, não racista, não homofóbica e não lesbofóbica; 3. Saúde das mulheres, direitos sexuais e reprodutivos; 4. Enfrentamento de todas as formas de violência contra as mulheres; 5. Participação das mulheres nos espaços de poder e decisão; 6. Desenvolvimento sustentável no meio rural, na cidade e na floresta; 7. Direito das mulheres a terra, à moradia digna e à infraestrutura social; 8. Cultura, comunicação e mídia igualitárias, democráticas e não discriminatórias; Cabe ressaltar que os princípios e as diretrizes do I PNPM foram validados pela II Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres e, como tal, fundamentam o II PNPM, que desencadeou um amplo e complexo processo de participação social, com parcerias e atuações intersetoriais. Tal articulação, além de otimizar os recursos disponíveis, garantiu a ampliação da área de atuação e do caráter interseccional da política, com a incorporação de novos eixos, como: participação das mulheres nos espaços de poder e decisão; desenvolvimento sustentável no meio rural, na cidade e na floresta; direito das mulheres a terra, à moradia digna e à infraestrutura social; cultura, comunicação e mídia igualitárias, democráticas e não-discriminatórias; enfrentamento do racismo, do sexismo, da lesbofobia e das desigualdades geracionais que atingem as mulheres, com especial atenção às jovens e às idosas. Para viabilizar a gestão do Plano, mediante indução de iniciativas, monitoramento e avaliação da execução das ações vincula10. Enfrentamento das desigualdades geracionais que atingem as mulheres, das à sua implementação, foram criados com especial atenção às jovens e às alguns instrumentos que funcionam como espaços de articulação com os diferentes idosas; ministérios e secretarias responsáveis 11. Monitoramento e gestão do Plano. pela execução do Plano. Além disso, foram desenvolvidos mecanismos de acompanhamento das ações por eles empreendidas, assim como de incentivo à transversalidade vertical da perspectiva de gênero. Foi instituído, respectivamente, no Decreto nº 5.390/2005 e na Portaria nº 62, de 24 de setembro de 2008, o COMITÊ DE ARTICULAÇÃO E MONITORAMENTO DO I E II PLANOS. 9. Enfrentamento do racismo, do sexismo e da lesbofobia; 50 _ COMITÊ DE ARTICULAÇÃO E MONITORAMENTO DO I E II PLANOS O Comitê estabelecido pelo Decreto nº 5.390/2005 e pela Portaria nº 62, de 24/09/2008, reúne-se periodicamente desde a sua instalação e constitui-se em um importante espaço para articulação de parcerias visando ao desenvolvimento de novas ações, para acompanhamento das dificuldades e dos avanços vivenciados no processo de execução do Plano e para a definição de prioridades entre os órgãos e as representações da sociedade civil. O Comitê dispõe do Sistema de Monitoramento e Avaliação do PNPM, cujo objetivo é estabelecer um fluxo das informações de modo a assegurar a produção sistemática de material para subsidiar o acompanhamento da execução do Plano. Esta ferramenta é fundamental para oferecer o apoio necessário ao processo decisório, bem como para garantir a transparência da implementação das ações e dos resultados alcançados. O Comitê é composto pelos seguintes órgãos: Secretaria de Políticas para as Mulheres, Secretaria dos Direitos Humanos, Secretaria de Políticas da Promoção de Igualdade Racial, Casa Civil da Presidência da República, Secretaria Geral da Presidência da República, Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério da Educação, Ministério da Justiça, Ministério da Saúde, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Ministério das Minas e Energia, Ministério das Cidades, Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Cultura, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Funai, IPEA, IBGE, CEF, OIT, UNIFEM, Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, Fórum de Organismos e Estados, Organismos do Executivo Estadual, Organismos do Executivo Municipal. Coordenado pela SPM, o Comitê foi integrado por todos os órgãos responsáveis pela execução de ações no Plano, além de representantes do CNDM, com a atribuição de estabelecer a metodologia de acompanhamento e avaliação das ações do PNPM; apoiar, incentivar e subsidiar tecnicamente a implementação do Plano nos estados e municípios, entre outros. A avaliação do I PNPM apontou como principais avanços em direção à institucionalização da Política Nacional para as Mulheres e sua implementação a maior inserção da temática PNPM Para maior conhecimento, consulte os textos do I e II Planos Nacionais de Políticas para as Mulheres, o Sistema de Acompanhamento dos dois Planos, o Relatório de Implementação do I PNPM. Os documentos estão disponíveis na íntegra no site da Secretaria de Políticas para as Mulheres http://www.sepm.gov. br/pnpm/sistemas-de-acompanhamento-do-pnpm Acesso em 21/01/2011. _ 51 de gênero, raça/etnia no processo de elaboração do orçamento e planejamento do governo; a criação de organismos governamentais estaduais e municipais para coordenação e gerenciamento das políticas para as mulheres; e os avanços na incorporação da transversalidade de gênero nas políticas públicas. Mereceram destaque ainda: a promulgação da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha); a criação da Comissão Tripartite para a Revisão da Legislação Punitiva contra o Aborto; o aumento de crédito para as mulheres rurais; e a política nacional de direitos sexuais e reprodutivos, entre outros. Esta mesma avaliação indicou como principais desafios: a necessidade de ampliar o número de estados e municípios dotados de organismos de políticas para as mulheres; aumentar o orçamento destinado às políticas para as mulheres e a produção de dados desagregados por sexo/cor; o fortalecimento de mecanismos institucionais de políticas existentes para as mulheres e a incorporação da transversalidade de gênero nas políticas públicas; o compartilhamento, entre mulheres e homens, das tarefas do trabalho doméstico e de cuidados, e a descriminalização do aborto, entre outras. A avaliação do Cedaw destaca ainda a importância de mecanismos institucionais descentralizados, responsáveis por políticas, planos e programas que, em cooperação com organizações não-governamentais, contribuam para o efetivo estabelecimento da igualdade dos gêneros. Estabelecer tais mecanismos descentralizados representa um enorme desafio não apenas para as gestoras e os gestores da SPM, como para aqueles/as que atuam nos demais órgãos da administração pública brasileira e nos Poderes Legislativos locais, além do movimento social. Desde 2003, inúmeras coordenadorias de mulheres surgiram e alguns estados começaram a preparar seus planos de políticas para as mulheres. Entretanto, um longo caminho ainda deve ser percorrido para o desenvolvimento de POLÍTICAS LOCAIS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE DE GÊNERO. A atuação do Comitê do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres consolida a estratégia da transversalidade, que requer ampla articulação, negociação e interrelação entre as diversas áreas que elaboraram, executam e monitoram as políticas públicas. Tal atuação se realiza a partir de marcos bem fundamentados – indicadores e metas – para fazer frente às políticas universais que, ao não perceberem as diferenças, não impactam a redução das desigualdades de gênero no Brasil. Tais processos devem ser replicados nas instâncias locais de políticas públicas. Neste sentido, é fundamental a elaboração dos Planos Estaduais de Políticas para as Mulheres e as adesões municipais ao Plano. 52 _ POLÍTICAS LOCAIS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE DE GÊNERO O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados da Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic), que elabora um perfil detalhado dos municípios do país. Em relação à temática de gênero, a Munic 2009 indica que apenas 1.043 municípios brasileiros dispõem de estrutura do poder público destinada às mulheres, o que corresponde a 18,7% do total. Somente 7,1% dos municípios contam com Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAM). Há 262 municípios com casas-abrigo, 559 com centros de referência de atendimento às mulheres, 397 com Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, 469 com núcleos especializados de atendimento às mulheres nas defensorias públicas, e 274 com juizados especiais de violência doméstica e familiar. Os serviços municipais especializados encontram-se concentrados no Sudeste, onde 35% dos municípios têm casas-abrigo e 32%, centros de referência. As regiões Norte e Centro-Oeste têm os menores percentuais. Os municípios em São Paulo (50) e no Rio Grande do Sul (33) são os que mais contam com casas-abrigo. Já os da Paraíba (0), Roraima, Amapá e Rio Grande do Norte (1) são os que menos dispõem de tais serviços. Entre os municípios com até 5 mil habitantes, 10,3% possuem alguma estrutura do poder público para lidar com a temática de gênero. Já entre aqueles com mais de 500 mil habitantes, o percentual era de 90%. Em 36% dos municípios brasileiros, os órgãos para mulheres têm orçamento próprio. Em 77% deles, esses órgãos atendem também a idosos (86%), crianças e adolescentes (87%) e pessoas com deficiência (67,6%). Os dados da Munic revelam que um em cada quatro municípios conta com estrutura específica para gestão de direitos humanos. Em 126 municípios havia políticas específicas para lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT). Em todo o país, há apenas quatro conselhos municipais específicos para o tema: em São Paulo e Diadema (SP), Amandaí (MS) e Pelotas (RS). Para acessar dados sobre a Munic 2009, consulte os sites http://www.observatoriodegenero.gov.br/menu/noticias/ibge-divulga-dados-da-munic-2009-1/ e http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/ noticia_visualiza.php?id_noticia=1612&id_pagina=1 Acesso em 21/01/2011 _ 53 54 _ A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial: Origens, Missão Institucional e Estratégias de Gestão Quais as diretrizes e ações do Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Planapir), definidas pelo movimento negro e pelas organizações de combate ao racismo e às discriminações? Como definir metas, programas e ações para o estado e o município a partir destas diretrizes? Quais os programas e as ações desenvolvidos em seu estado e município para a transversalidade do corte racial nas políticas públicas? Qual a participação de seu estado e município nas Conferências de Promoção da Igualdade Racial? Há adesão às ações propostas? Há metas fixadas para o combate ao racismo e a promoção da igualdade étnico-racial em seu estado e município? Em 2003, a institucionalização de uma política pública de promoção da igualdade racial e combate ao racismo, por meio da criação de uma Secretaria vinculada à Presidência da República, com status de Ministério, também inaugurou uma nova fase na história brasileira das relações raciais. _ 55 A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) é responsável pela formulação, coordenação e articulação de políticas e diretrizes para a promoção da igualdade racial e proteção dos direitos dos grupos raciais e étnicos discriminados, com ênfase na população negra. A SEPPIR se reconhece como originária do histórico movimento negro do Brasil e se pauta no reconhecimento de que o racismo consiste em um elemento fundante do Estado brasileiro, pois as estruturas da vida social, da produção e da apropriação de bens – materiais e simbólicos – e as esferas de poder no país são permeadas por desigualdades étnico-raciais. A ênfase na população negra é decorrente também do fato de este ser o primeiro grupo étnico-racial a se organizar politicamente no país, com vistas a promover a superação do racismo. Nas duas últimas décadas, o movimento social negro desempenhou um papel de suma importância na introdução da questão do antirracismo na agenda do governo federal. A Constituição de 1988 foi precedida por um amplo debate público, do qual participaram vários setores da população, dentre eles o movimento negro. Havia então um clima propício aos temas vinculados aos direitos humanos, em especial, à questão racial. No ano de 1988, quando se celebrava também o Centenário da Abolição, foram estabelecidos na Constituição Federal (CF/1988) alguns princípios favoráveis à luta antirracismo no país, como o reconhecimento do direito de posse da terra às comunidades quilombolas e a criminalização da discriminação racial – marco jurídico que passou a disciplinar e a coibir a prática do racismo. A SEPPIR é responsável pela formulação, coordenação e articulação de políticas e diretrizes para a promoção da igualdade racial e proteção dos direitos dos grupos raciais e étnicos discriminados, com ênfase na população negra. No mesmo ano de 1988 foi criada a Fundação Cultural Palmares (FCP), associada ao Ministério da Cultura, com a finalidade de promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira. Entretanto, a partir de 1995, parte expressiva do movimento negro enten- 56 _ deu que a missão institucional da FCP não era suficiente para promover a igualdade entre os diferentes grupos étnico-raciais que compõem a sociedade nacional. Esta instituição passou a reivindicar políticas públicas efetivas e transversais às ações de governo para a promoção da igualdade racial e o combate ao racismo. A “Marcha Zumbi dos Palmares, contra o Racismo, pela Cidadania e a Vida”,1 realizada em Brasília, em homenagem ao tricentenário da morte de Zumbi dos Palmares, foi um marco importante para a efetivação de políticas com o recorte étnico-racial. Representantes de centenas de entidades do Movimento Negro de todo o país, com o apoio de entidades sindicais, em especial das centrais nacionais de trabalhadores, reuniram-se com o então presidente da República – Fernando Henrique Cardoso – e exigiram do poder público o desempenho de seu papel de promotor e indutor da igualdade, mediante a implementação de políticas denominadas de discriminação positiva. Em resposta à pressão dos grupos sociais, o governo federal apresentou algumas iniciativas, como o Decreto 1.904, de 13 de maio de 1995, que instituiu, no Programa Nacional de Direitos Humanos, as proposições de: 1. “apoiar ações da iniciativa privada que realizem discriminação positiva”; 2. “formular políticas compensatórias que promovam social e economicamente a população negra”. No mesmo ano foi criado um Grupo de Trabalho Interministerial de Valorização da População Negra, vinculado ao Ministério da Justiça, com o objetivo de sugerir ações e políticas de valorização da população negra. Esse grupo elaborou medidas de médio e longo prazo, afinado com a formulação de políticas de ação afirmativa. No ano seguinte foi instituído outro grupo, direcionado ao combate à discriminação no mercado de trabalho, o Grupo de Trabalho para a Eliminação da Discriminação no Emprego e na Ocupação (GTEDEO), no Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O GTEDEO definiu um programa de ações e propôs estratégias de combate à discriminação no emprego e na ocupação, conforme os princípios da Convenção 111 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Em 1997 foi lançado pela Assessoria Internacional do MTE o “Programa Brasil, Gênero e Raça”, que teve como um de seus principais produtos a implementação, nas Delegacias e Subdelegacias Regionais do Trabalho, de Núcleos de Promoção da Igualdade de Oportunidades e de Combate à 1 | Assista ao documentário Marcha Zumbi dos Palmares contra o racismo, pela cidadania e a vida (1695-1995). Direção e roteiro: Edna Cristina. Brasília, 1995. Sinopse: Depoimentos, imagens e reportagens sobre o movimento negro no Brasil pós 1970 e sobre a Marcha Zumbi dos Palmares realizada em Brasília, no dia 20 de novembro de 1995, em comemoração aos 300 anos da morte de Zumbi de Palmares. _ 57 Discriminação no Emprego e na Profissão. Assim, entre os anos de 1996 e 2001, foram desenvolvidas algumas iniciativas no governo, e o tema contou com visibilidade nacional. No cenário internacional, 2001 foi o ano da realização da III Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, em Durban, África do Sul. A Conferência representou uma forte mobilização internacional pela democracia e a reafirmação dos direitos humanos de grupos étnico-raciais discriminados. O ano de 2001 foi considerado o “Ano Internacional de Mobilização contra o Racismo e Todas as Formas de Intolerância”. Na Conferência, com a participação de 170 países, foram ratificados metas, medidas e planos de ação para a eliminação do racismo, a discriminação, a xenofobia e a intolerância. O Brasil participou ativamente da Convenção de Durban com grupos de trabalhos preparatórios em 2000, e revigorou o debate sobre as políticas de ação afirmativa como estratégia de combate ao racismo na sociedade brasileira.2 Ao se tornar um país signatário da Plataforma de Ação de Durban, o Brasil fortaleceu a demanda por ações afirmativas e políticas de reparação à população negra e a outros grupos étnico-raciais discriminados. Ao se tornar um país signatário da Plataforma de Ação de Durban, o Brasil fortaleceu a demanda por ações afirmativas e políticas de reparação à população negra e a outros grupos étnico-raciais discriminados. O Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), a exemplo do que ocorre com a Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM), integra a estrutura básica da SEPPIR. Previsto pela lei nº 10.678, foi regulamentado pelo decreto nº 4.885, de 20 de novembro de 2003, e é constituído por 20 representantes efetivos de entidades da sociedade civil, com seus respectivos suplentes, e 20 representantes do governo federal (ministros e secretários de Estado). Nos anos de 2005 e 2009, a SEPPIR, juntamente com o Conselho Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), convocou a sociedade civil organizada dos 2 | Sobre esse histórico da política de igualdade racial no Brasil, ver Jaccoud & Beghi (2002); Werneck (2004) e Ribeiro (2009). 58 _ 27 estados brasileiros para discutir e indicar diretrizes para a política de promoção da igualdade racial. Foram realizadas 27 Conferências Estaduais de Promoção da Igualdade Racial, consultas públicas que culminaram, respectivamente, nas I e II Conferências Nacionais de Promoção da Igualdade Racial – Conapir. Também foi realizada uma Plenária Nacional de Comunidades Tradicionais, que reuniu lideranças de comunidades quilombolas, terreiros, povos indígenas e de etnia cigana. Aproximadamente 1.500 pessoas de todo o país se reuniram em Brasília, entre 25 e 28 de junho, para a etapa nacional da II Conferência. Foram definidas propostas de políticas públicas referentes aos eixos temáticos Educação, Cultura, Controle Social, Saúde, Terra, Segurança e Justiça, Trabalho, Política Nacional e Política Internacional. Em 2009 foi lançado o Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Planapir), que abrange a implementação de políticas públicas nas áreas do trabalho, emprego e renda, cultura e comunicação, educação, saúde, segurança pública, infraestrutura, desenvolvimento social e segurança alimentar e relações internacionais. O Planapir apresenta um eixo de políticas para as comunidades remanescentes de quilombos e comunidades de terreiro, reforça os recortes de gênero e geração na implementação de suas políticas em diversas áreas. O Planapir representa um documento orientador de políticas públicas que contribuem para o êxito dos objetivos do governo, no sentido de empreender o desenvolvimento sustentável com equidade social, passível de ser alcançado se superadas as desigualdades de raça. Dentre suas proposições se destacam, na esfera do trabalho, a promoção da inclusão e a igualdade de oportunidades e de remuneração das populações negra, indígena, quilombola e cigana no mercado de trabalho, com destaque para a juventude e as trabalhadoras domésticas; a promoção da equidade de Para garantir o acesso e a permanência nas Universidades de grupos étnico-raciais discriminados, foi apresentada a necessidade de implementação de cotas na graduação de Universidades públicas e privadas e programas de manutenção dos/as alunos/as, _ 59 gênero, raça e etnia nas relações de trabalho, associada ao combate às discriminações ao acesso ao emprego e na relação de emprego, trabalho ou ocupação, e o fomento a ações para a eliminação da prática do racismo nas instituições públicas e privadas, mediante o fortalecimento dos mecanismos de fiscalização sobre a prática de discriminação racial no mercado de trabalho. Também prevê a promoção da capacitação e da assistência técnica diferenciadas às comunidades negras, indígenas e ciganas. Na área da saúde, é concedida ênfase à ampliação da política nacional de saúde integral da população negra e à promoção da integralidade, com equidade. Na área da educação, trata-se de buscar o estímulo ao acesso, à permanência e à melhoria do desempenho de crianças, adolescentes, jovens e adultos das populações negras, quilombolas, indígenas, ciganas e demais grupos discriminados em todos os níveis, da educação infantil ao ensino superior, considerando as modalidades de educação de jovens e adultos e a tecnológica. Para garantir o acesso e a permanência nas Universidades de grupos étnico-raciais discriminados, foi apresentada a necessidade de implementação de cotas na graduação e pós-graduação de Universidades públicas e privadas (garantindo o cumprimento dos percentuais de cotas para a população negra no Prouni) e programas de manutenção dos/as alunos/as, com destinação de verba orçamentária ao/à cotista, com o intuito de acompanhamento econômico e psicológico, para viabilizar a conclusão do curso acadêmico e a possibilidade de sucesso na esfera do trabalho. Os conteúdos curriculares nas Universidades também devem ser alterados, de forma a atingir a formação do corpo docente e discente, a partir de mecanismos que instituam a obrigatoriedade da inclusão da temática racial – que abranja a história e a cultura africanas, afro-brasileiras e indígenas – direitos humanos e gênero, com disciplinas específicas e temáticas transversais nos currículos de graduação, extensão e pós-graduação. Para efetivar essa política na educação superior cabe estimular a produção, a aquisição, a catalogação e a oferta periódica de materiais educativos específicos para a implementação da Lei 10.639/03 e da Lei 11.645/2008, com o ensino da História e Cultura Afro-brasileira, Africana e Indígena. A política de fortalecimento do desenvolvimento econômico sustentável das comunidades remanescentes de quilombos, que visa à sua inserção no potencial produtivo 60 _ nacional, tem relevância nas políticas desenvolvidas pela SEPPIR, que coordena, desde 2003, o PROGRAMA BRASIL QUILOMBOLA PROGRAMA BRASIL QUILOMBOLA. Este breve histórico elucida como o tema da promoção da igualdade racial tem integrado a agenda política nacional nos últimos 20 anos. No entanto, a operacionalização da política transversal ainda é um desafio, pois requer, para além das diretrizes gerais, a inserção na agenda dos demais órgãos, especialmente dos mais estratégicos, como saúde, educação, assistência social e trabalho. Trata-se de integrá-los nos processos de implementação e execução das políticas, o que vem ocorrendo, com dificuldades e resistências. Como afirma Kimberlé Crenshaw, O Programa Brasil Quilombola é coordenado pela Secretaria de Promoção e Política da Igualdade Racial (SEPPIR) e integra um conjunto de ações de vários órgãos federais para fazer valerem os direitos das comunidades quilombolas. É compromisso do governo federal melhorar as condições de vida e fortalecer a organização das comunidades remanescentes de quilombos por meio da promoção do acesso aos bens e serviços sociais necessários ao desenvolvimento, considerando os princípios socioculturais dessas comunidades. O Ministério de Desenvolvimento Agrário participa deste Programa desenvolvendo a ação integrada de seus órgãos, sob a coordenação do Programa de Promoção da Igualdade de Gênero, Raça e Etnia. Os focos “o reconhecimento das dimensões raciais do problema nem sempre é suficiente para garantir que as soluções propostas sejam absolutamente informadas por esses fatores” (Crenshaw, 2002:175). são o acesso a terra, à saúde, à educação, à construção de moradia, à eletrificação, à recuperação ambiental, à assistência social e ao incentivo à produção local. Saiba mais em: http://www.portaldaigualdade.gov.br/ Acesso em 21/01/2011. Essa resistência não diz respeito apenas àqueles/as que seriam potencialmente afetados/as pelas ações afirmativas, mas a um ideal social muito caro à nossa nação: o de constituirmos uma sociedade ímpar, cega para cor/raça, uma verdadeira democracia racial. O mito da democracia racial, como afirma Hasenbalg (1998), não se configura somente como um falseamento da realidade, mas ele também se constitui como um desejo nacional profundo do “ser brasileiro”. Um orgulho e um ideal plenos de ambiguidades nos quais, de certa forma, acreditamos, mas principalmente almejamos. Hasenbalg afirma que em outras palavras, as pessoas não se iludem em relação ao racismo no Brasil; sejam brancas, negras ou mestiças, elas sabem que existe preconceito e discriminação racial. O que o mito racial brasileiro faz é dar sustentação a uma etiqueta e regra implícita pelo convívio social, em função da qual se deve evitar falar em racismo, já que essa fala se contrapõe a uma imagem enraizada do Brasil como nação. Transgredir essa regra cultural não expli- _ 61 citada significa cancelar ou suspender, mesmo que temporariamente, um dos pressupostos básicos que regulam a interação social do cotidiano, que é a crença na convivência não conflituosa dos grupos raciais (Hasenbalg, 1995:244). Como enfrentar um problema cuja resistência cultural é tão grande, até para reconhecê-lo como um problema real? Como superar a resistência a reconhecer as desigualdades raciais? Um dos reflexos dessa resistência cultural se expressa no fato de que o Planapir ainda mantém o desafio de estabelecer metas e indicadores para as ações apontadas. Do ponto de vista da gestão da política de igualdade racial, as ferramentas e os instrumentos devem ser consolidados na medida em que o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial se tornar efetivo. O Comitê de Monitoramento do Planapir, instituído em 2009, possui a função de viabilizar esta implementação. Na agenda da SEPPIR também se destacam as metas da Agenda Social Quilombola (ASQ), lançada em 20 de novembro de 2007, como uma ação conjunta entre 14 órgãos federais, prevendo regularização fundiária, eletrificação, recuperação ambiental, desenvolvimento local e investimentos em educação e saúde para a melhoria das condições de vida dos quilombolas. Com previsão de R$ 2 bilhões e metas até 2010 voltadas a 1.739 comunidades quilombolas, localizadas em 330 municípios de 22 estados brasileiros, envolvendo 1,7 milhão de quilombolas, a Agenda conta, entre suas metas: • • • • • 62 _ SEPPIR Secretaria de Promoção e Política da Igualdade Racial (SEPPIR) Acesse www.planalto.gov.br/seppir (Acesso em 21/01/2011) para conhecer ações, programas e projetos da Secretaria, consultar o Estatuto da Igualdade Racial, o Plano Nacional de Implantação da Lei 10.639/2003, a Coleção sobre História Geral da África e outros documentos. Expedir 713 relatórios de regularização fundiária e 1.170 certidões de autorreconhecimento; Atender a 548 comunidades com água potável e melhorias sanitárias domiciliares; Distribuir 280 mil exemplares de livros escolares sobre história e cultura africanas e a inserção do negro na construção do Estado brasileiro; Capacitar 5.400 professores da rede pública do ensino fundamental; Construir 950 salas de aula; • • • • Atender a 15 mil domicílios com o Programa Luz para Todos; Atender a 137 comunidades com o Programa de Saúde Bucal; Atender a 55 comunidades ribeirinhas atingidas pelas obras de integração de bacias do rio São Francisco com ações de recuperação ambiental; Atender a 390 comunidades com ações de fomento à inclusão produtiva (desenvolvimento local e etnodesenvolvimento). _ 63 64 _ Unidade 2 | Planejamento governamental e orçamento público com recorte de gênero e raça O Ciclo de Políticas Públicas Quais as relações entre orçamento e planejamento? As políticas transversais de gênero e raça, definidas pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) e pela Secretaria de Promoção de Políticas da Igualdade Racial (SEPPIR), são executadas em órgãos setoriais que seguem procedimentos de planejamento e orçamento de acordo com a legislação vigente. No Brasil, a Constituição Federal define as leis de planejamento e orçamento. Nesta Unidade você entrará em contato com conceitos e instrumentos básicos de Planejamento e Orçamento, a partir dos quais estas políticas públicas são operacionalizadas. Na primeira unidade deste curso – Políticas públicas: conceitos, objetivos e práticas de participação social – foi apresentado de forma breve o “modelo do ciclo de políticas públicas”. Aqui será aprofundado este modelo que considera as políticas públicas como um processo, consolidado em um conjunto de atividades desenvolvidas, para atender às demandas e aos interesses da sociedade. Tal processo envolve a preparação da decisão política, a formação da agenda, a formulação, a implementação e a avaliação. _ 65 Os indivíduos que fazem parte do governo participam do processo decisório do qual resulta o desenho das políticas públicas que se pretende implementar. Eles têm o poder de escolher entre as diversas alternativas de políticas para atingir objetivos (ou metas) específicos/as, adequando os meios disponíveis aos fins almejados. Para atender às demandas e aos interesses da sociedade, operam por intermédio de sistemas complexos de tomada de decisões que se definem entre: definição da agenda, formulação, implementação e avaliação do programa, além da decisão sobre o futuro da política (ou programa) (Rodrigues, 2010:20). O projeto é a unidade mínima de destinação de recursos que, por meio de um conjunto integrado A definição da agenda se concretiza nos planos, constituídos por diversos programas e projetos, agregando programas afins e estabelecendo um quadro de referências mais amplo para a intervenção. Segundo Cohen e Franco, de atividades, um plano é a soma dos programas que procuram objetivos comuns, ordena os objetivos gerais e os desagrega em objetivos específicos, que constituirão por sua vez os objetivos gerais dos programas. Ele determina o modelo de alocação de recursos resultante da decisão política e dispõe as ações programáticas em uma sequência temporal de acordo com a racionalidade técnica das mesmas e as prioridades de atendimento [...]. O plano inclui a estratégia, isto é, os meios estruturais e administrativos, assim como as formas de negociação, coordenação e direção (Cohen & Franco, 1993:86). uma parcela da pretende transformar realidade, suprindo uma carência ou alterando uma situação-problema. Os termos projeto, programa e plano designam modalidades de intervenção social que diferem em escopo e duração. O projeto é a unidade mínima de destinação de recursos que, por meio de um conjunto integrado de atividades, pretende transformar uma parcela da realidade, suprindo uma carência ou alterando uma situação-problema. O conjunto de projetos que visam aos mesmos objetivos é denominado programa, 66 _ que “estabelece as prioridades da intervenção, identifica e ordena os projetos, define o âmbito institucional e aloca os recursos a serem utilizados”. O plano, por sua vez, contém os programas, que também abarcam os projetos (Cohen & Franco, 1993). O ciclo de políticas públicas também prevê a avaliação do programa, que subsidia decisões em torno de sua continuidade e reformulação, como no modelo proposto por Jannuzzi (2009). Ciclo de políticas públicas Definição de agenda Percepção e definição de problemas, “agenda setting” Formulação Identificação de alternativas e avaliação Formulação das opções, decisão e Identificação de elaboração de programas alternativas e avaliação das opções, decisão e elaboração de programas Implementação Plano de ações e Avaliação monitoramento Resultados, impactos, eventual correção da ação, término ou reinício do ciclo _ 67 68 _ Instrumentos de Planejamento e Orçamento Quais os instrumentos governamentais para a definição do orçamento público? Como são definidas as despesas e distribuídos os recursos públicos? Orçamento público é um instrumento utilizado pelos governos para organizar seus recursos financeiros, e reflete as políticas públicas. O orçamento não pode ser apenas visto como um instrumento técnico ou uma ferramenta de alocação, pois se trata, de fato, de um espaço de poder, no qual são distribuídos os recursos a partir da definição das prioridades nacionais. Os Planos Plurianuais determinam quais são as prioridades e como se dá a alocação de recursos. São peças fundamentais no ciclo de políticas públicas. Considerando o enfoque de gênero e raça, o orçamento deve atender equitativamente às necessidades de homens e mulheres, brancos/as e negros/as. As formas de realização do Orçamento variaram ao longo do tempo. No Brasil, até a década de 1960, aplicava-se a técnica tradicional de orçamentação, na qual o orçamento se restringia à previsão da receita e à autorização da despesa. O foco se concentrava no controle contábil do gasto e no detalhamento da despesa. O Decreto-lei nº 200 de 1967 introduziu a técnica orçamentária orçamento-programa, que se consolidou em 1974, quando a Portaria do Ministério do Planejamento instituiu a classificação _ 69 funcional programática. O orçamento-programa expressa os programas de governo financeira e fisicamente, favorecendo a INTEGRAÇÃO DO PLANEJAMENTO COM O ORÇAMENTO; a quantificação dos objetivos e a fixação das metas; as relações insumo-produto; as alternativas programáticas; o acompanhamento físico-financeiro; a avaliação dos resultados e a gerência por objetivos. INTEGRAÇÃO DO PLANEJAMENTO COM O ORÇAMENTO A Portaria nº 42, de 14 de abril de 1999, do Ministério do Orçamento e Gestão (MOG), que trata da Classificação Funcional Programática, atualiza a discriminação da despesa por funções. Verifique em http://www.tesouro.fazenda.gov. br/legislacao/download/contabilidade/portaria42.pdf Acesso em: 30/01/2011. A concepção de orçamento-programa relaciona-se à de planejamento. O orçamento deve considerar os objetivos que o governo pretende alcançar em determinado período de tempo. Assim, é um instrumento de operacionalização das ações de governo. A Constituição Federal de 1988 instituiu o Plano Plurianual (PPA) como principal instrumento de planejamento de médio prazo do governo brasileiro. Ele consiste em um planejamento governamental de quatro anos, compreendendo o segundo ano do governo corrente e o primeiro ano do governo subsequente. Segundo Pares e Valle, no período de 1998-1999, foram empreendidos esforços para a orientação das ações do governo com base num conjunto de investimentos estratégicos para o desenvolvimento do país, ao mesmo tempo em que foram editadas normas instituindo novos procedimentos, que permitiram organizar o orçamento de forma a possibilitar sua integração com o planejamento. Além da integração “plano-orçamento”, um conjunto de inovações gerenciais promoveu a revitalização da função “planejamento”, enfraquecida desde os idos da década de 80 (Pares & Valle, 2007:236). A Constituição Federal desempenhou relevante papel nesse momento ao instituir, conjuntamente, em seu artigo 165 os instrumentos de planejamento e o orçamento: Plano Plurianual (PPA); a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA). O Plano Plurianual é considerado a lei de maior alcance para o estabelecimento das 70 _ prioridades e o direcionamento das ações do governo: • • • • • • • Estabelece, de forma regionalizada, as diretrizes, os objetivos e as metas da administração pública federal para as despesas de capital, para outras que decorrem delas e as referentes aos programas de duração continuada; Organiza em programas todas as ações desenvolvidas pela administração pública, assegurando seu alinhamento com a orientação estratégica e com as previsões de recursos; Desenvolve e aprimora o planejamento, o orçamento e a gestão por programas em todos os órgãos da administração pública; Torna pública informações referentes à execução dos programas de governo; A LDO é o Estimula a participação de outras esferas de governo e da iniciativa privada como fontes alternativas conjunto de leis ao financiamento dos programas; Dota os administradores públicos de sistema que determina a gerencial estruturado e atualizado; Desenvolve a administração pública para definir responsabilidade responsabilidades e criar condições para a avaliação e a mensuração dos indicadores e dos efeitos para conduzir dos programas sobre a sociedade. A Lei de Diretrizes Orçamentárias orienta a elaboração da lei orçamentária anual, dispõe sobre as alterações na legislação tributária e estabelece a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. É função da LDO adequar as diretrizes e os objetivos do PPA para o período de um ano, indicando as metas e as prioridades e orientando na elaboração do orçamento. É na LDO que ocorre a discussão em torno do cenário macroeconômico de receitas e despesas públicas, no qual se estabelecem a meta de superávit primário, os tetos para despesas e receitas, além dos critérios para contingenciamento. Já a Lei Orçamentária Anual estima as receitas que a União deverá arrecadar e fixa as despesas públicas para o orçamento público. Nela estão discriminadas as receitas e as despesas de uma administração para o ano fiscal _ 71 cada ano. Ela contém o detalhamento da programação dos gastos públicos e deve ser compatível com o PPA, seguindo as orientações e as diretrizes definidas na LDO. A LOA compreende os orçamentos fiscal e de investimento das empresas em que a União, direta ou indiretamente, detenha a maior parte do capital social, com direito a voto, além do orçamento da seguridade social. A LDO é o conjunto de leis que determina a responsabilidade para conduzir o orçamento público. Nela estão discriminadas as receitas e as despesas de uma administração para o ano fiscal (iniciado em janeiro e com conclusão em dezembro). Neste modelo de ciclo orçamentário, a iniciativa das três leis é prerrogativa do Poder Executivo. Os projetos de lei referentes a cada um destes instrumentos (PPA, LDO e LOA) são aprovados pelo Congresso Nacional, que pode apresentar emendas aos projetos; após votação em plenário, cabe ao presidente da República aprová-las ou vetá-las, parcial ou integramente. Vale destacar que as emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou aos projetos que o modifiquem somente podem ser aprovadas quando são compatíveis com o PPA e com a LDO. De acordo com calendário proposto pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, o chamado Ciclo Orçamentário deve respeitar os seguintes prazos para ser apresentado ao Congresso Nacional: PPA – 31 de agosto (a cada 4 anos) LDO – 15 de abril (Anual) • LOA – 31 de agosto (Anual) • • A integração dos instrumentos de planejamento e orçamento (PPA, LDO e LOA), associada à transformação da estrutura programática em instrumento de gestão, exigiu mudanças estruturais na administração pública. Os processos inerentes a planejamento, orçamento, finanças e controle passaram a coexistir sob uma agenda única, tornando-se interdependentes. O controle social sobre as três fases do ciclo orçamentário deve ser realizado, tendo em vista os seguintes objetivos: Defesa e garantia da aplicação dos recursos públicos nas políticas sociais; 2) Controle das revisões anuais do PPA; 3) Controle dos recursos previstos e dos efetivamente aplicados; 4) Monitoramento dos processos de elaboração do orçamento para que sejam transparentes, democráticos e participativos; 5) Garantia da incorporação da perspectiva da igualdade de gênero e raça nas políticas públicas e prioridades dos gastos públicos dirigidos às mulheres. 1) 72 _ Modelo de Elaboração de Programas: O Plano Plurianual Este modelo de formulação de políticas públicas é visualizado no chamado “orçamento-programa”, que dispõe sobre a formulação segundo as seguintes etapas: Determinação da situação: identificação dos problemas existentes. 2) Diagnóstico da situação: identificação das causas que concorrem para o surgimento do problema. 3) Apresentação de soluções: identificação de alternativas viáveis para solucionar os problemas. 4) Estabelecimento das prioridades: ordenamento das soluções encontradas. 5) Definição dos objetivos: definição do que se pretende fazer e do que será alcançado com isso. 6) Determinação das tarefas: identificação das ações necessárias para atingir os objetivos. 7) Determinação dos recursos: arrolamento dos meios, que podem ser recursos humanos, materiais, técnicos, institucionais e serviços de terceiros. 8) Determinação dos meios: expressão monetária dos recursos alocados. 1) O PPA é constituído basicamente por dois grandes módulos: a base estratégica e os programas. A primeira estabelece a análise da situação econômica e social, as diretrizes, os objetivos e as prioridades estabelecidos pelo/a chefe do Poder Executivo, a previsão dos recursos orçamentários e sua distribuição entre os setores e os programas. Os programas compreendem a definição dos problemas e o conjunto de ações que deverão ser empreendidas para atingir os objetivos estabelecidos. O programa é estabelecido no PPA como um conjunto articulado de ações (projetos, atividades, operações especiais e ações não-orçamentárias), estruturas e pessoas motivadas na direção de um objetivo comum. Este objetivo é concretizado em um resultado (solução de um problema ou atendimento de demanda da sociedade), expresso pela evolução de indicadores no período de execução do programa, de modo a ser possível uma avaliação objetiva da atuação do governo. O ordenamento das ações do governo sob a forma de programas tem por objetivo dar maior visibilidade aos resultados e aos benefícios gerados para a sociedade, garantindo transparência e objetividade na aplicação dos recursos públicos. As ações que compõem um programa resultam em produtos (bens ou serviços) e são quantificadas no tempo por metas. _ 73 Os programas que compõem o PPA são elementos de integração entre o planejamento, o orçamento e a gestão. Para a elaboração de programas do PPA, problemas são demandas não satisfeitas ou carências identificadas que, quando reconhecidas e declaradas pelo governo, passam a integrar sua agenda de compromissos. Uma vez definido um problema, suas causas se tornam objeto de ações visando superá-las ou reduzi-las. Assim, é fundamental a distinção entre causa (origens do problema) e efeitos (produtos da causa). Um programa direcionado aos efeitos, ao invés das causas, não alcança efetividade nem representa uma solução real para a questão. Um programa é implementado pela execução de ações (orçamentárias e não-orçamentárias) que o compõem, para o alcance do seu objetivo. As ações não-orçamentárias não demandam recursos, mas geram bens ou serviços voltados para uma parcela ou para a totalidade do público-alvo do programa. As ações de governo que podem ser classificadas como categorias de programação orçamentária são: Projeto: um instrumento de programação para alcançar o objetivo de um programa, envolvendo um conjunto de operações realizadas em período limitado de tempo, das quais resulta um produto, que concorre à expansão ou ao aperfeiçoamento da ação de governo. Atividade: um instrumento de programação para alcançar o objetivo de um programa, envolvendo um conjunto de operações realizadas contínua e permanentemente, das quais resulta um produto necessário à manutenção da ação de governo. Operação Especial: ações que não contribuem para a manutenção das ações de governo, das quais não resulta um produto e não geram contraprestação direta sob a forma de bens ou serviços. Porém, um grupo importante de ações com a natureza de operações especiais, quando associadas a programas finalizadores, pode apresentar uma medição correspondente a volume ou carga de trabalho. São despesas passíveis de enquadramento nesta ação: amortizações e encargos, aquisição de títulos, pagamento de sentenças judiciais, transferências a qualquer título (não confundir com descentralização), fundos de participação, operações de financiamento (concessão de empréstimos), ressarcimentos de toda ordem, indenizações, pagamento de inativos, participações acionárias, contribuição a organismos nacionais e internacionais, compensações financeiras. 74 _ Em resumo, são necessários os seguintes requisitos para a formulação do programa de um PPA no âmbito do governo federal: • • • • • Buscar solucionar um problema da sociedade por meio de um conjunto integrado e suficiente de ações orçamentárias e não-orçamentárias que expresse uma relação consistente entre causa e efeito, entre o problema a resolver e o objetivo do programa, e entre as metas das ações e a evolução esperada dos indicadores do programa; Permitir a mensuração dos resultados sobre um público-alvo definido; Possuir escala adequada a um gerenciamento eficaz – não deve ser tão amplo que torne difícil seu gerenciamento, nem tão restrito a ponto de ser inviável em função de seus custos de implantação, manutenção e gerenciamento; Manter consistência com as diretrizes emanadas das Orientações Estratégicas de Governo e da Orientação Estratégica do Ministério; Estabelecer compatibilidade entre os dispêndios previstos e a disponibilidade de recursos no horizonte em questão, conforme definido no cenário macroeconômico. Não é possível elaborar, implementar e avaliar uma política pública sem o estabelecimento de categorias de medição dos objetivos, das metas e dos resultados. Para tanto, é necessária a determinação de indicadores. Os planos, os programas e os projetos devem conter indicadores capazes de avaliar seu processo de implementação e os resultados pretendidos. GLOSSÁRIO indicadores - Os indicadores fazem parte do processo de avaliação de uma política pública. São ferramentas de gestão e instrumentos de controle social que medem um fenômeno, suas alterações e podem indicar a direção de mudanças necessárias. Os indicadores são elementos concretos, observáveis na realidade, que indicam a medida do sucesso ou do fracasso em relação a objetivos propostos e a resultados esperados. São medidas dotadas de significado social substantivo, usadas para substituir, quantificar ou operacionalizar um conceito social abstrato, de interesse teórico (para a pesquisa acadêmica) ou programático (para a formulação de políticas). A coleta de dados pode ser feita tendo como base dados federais, estaduais e municipais, por observação, questionários, grupos focais e entrevistas. Há indicadores quantitativos e qualitativos. Exemplo: Se o objetivo é ter todas as crianças de 4 e 5 anos de um município na educação infantil, um indicador quantitativo é a taxa de atendimento de crianças de 4 e 5 anos na escola. O indicador qualitativo revela percepções e julgamentos, evidencia, descreve, explica. Exemplo: Ambições de trabalho e renda das mães de crianças de 4 e 5 anos, por cor/raça. _ 75 76 _ Políticas Públicas de Gênero e Raça Qual o peso do diagnóstico para a definição de um plano de promoção da igualdade entre os gêneros e as raças? Quais fontes de informação consultar? Como definir um “orçamento sensível a gênero” e “sensível a raça”? As políticas públicas atingem mulheres e homens de forma desigual, assim como afetam de maneira diversa os grupos étnico-raciais. Inserir as perspectivas de gênero e raça no orçamento é, portanto, reflexo da preocupação em implementar tais políticas, garantindo os recursos para sua execução. Ao fazê-lo nominalmente nos orçamentos, os recursos destinados a estas políticas ficam alocados e, por conseguinte, autorizados. Sabe-se que isto não garante a sua execução, mas conforma um parâmetro, a partir do qual a sociedade tem condições de avaliar a atuação da gestão pública em sua implementação. É possível identificar os obstáculos, caso o recurso não seja liberado, apesar de sua política ter sido planejada e orçada. Esta situação significa que o orçamento não pode ser considerado apenas uma peça de cálculo de custos, mas um instrumento de monitoramento da sociedade sobre os gastos. _ 77 Nas últimas décadas o conceito “orçamento sensível a gênero” recebeu ênfase. Ele não diz respeito a um orçamento específico para as mulheres, mas à orientação das finanças e dos gastos públicos na direção do enfrentamento das desigualdades vividas pelas mulheres. A análise do orçamento concebida deste modo busca compreender as implicações de qualquer forma de gasto ou método de arrecadação de recursos públicos para enfrentar as desigualdades ou no que tange à sua produção e reprodução. Planejar com perspectiva de gênero significa estruturar a ação a partir do desafio de promover a igualdade, enfrentando as estruturas que reproduzem as relações de dominação e subordinação de gênero. No Estado, significa conceber a política pública, desenhar programas, desenvolver, monitorar e avaliar toda a ação do poder público – nos campos sociais, econômicos, do desenvolvimento – através de tal perspectiva. A desigualdade vivida pelas mulheres está fundamentada em relações hierárquicas de poder que estruturam nossa sociedade – gênero, raça e classe – das quais decorrem múltiplas formas de negação de direitos, exploração e violências. As estruturas da dominação são múltiplas, de forma a agravar as desigualdades entre mulheres e homens, além de produzirem diferenças entre as próprias mulheres. Historicamente, a ação do Estado tem produzido e mantido essas desigualdades. Planejar a política pública a partir da perspectiva de gênero e raça exige reconhecer, enfrentar e eliminar os mecanismos de perpetuação das desigualdades e construir alternativas, no sentido da realização plena e progressiva dos direitos humanos de todas as mulheres e das pessoas pertencentes aos segmentos raciais discriminados. Uma ferramenta é fundamental para o planejamento da política pública a partir da perspectiva de gênero e raça, com base nestes princípios e diretrizes: o diagnóstico das desigualdades de gênero e raça. Assim, é possível identificar os acessos desiguais ao trabalho, à proteção social, aos recursos produtivos, à propriedade da terra, à moradia, à saúde, à justiça, aos bens e serviços necessários para uma vida digna, ao lazer, ao descanso, à participação política e ao poder, entre outros. Tais desigualdades devem ser alteradas pelas ações do poder público. Parte-se do reconhecimento de que toda política tem impacto sobre as relações de gênero e no enfrentamento ao racismo. Portanto, pode e deve ser analisada através desta perspectiva. Para realizar o diagnóstico, é preciso obter informação fidedigna sobre a desigualdade de gênero e raça, mediante dados desagregados por sexo e raça/cor. A chamada “cegueira de gênero” ou “cegueira para raça”, no planejamento das políticas públi- 78 _ cas, ancora-se em categorias abstratas ou muito gerais de beneficiários/as e públicos-alvo de políticas públicas, como comunidade e família, que não permitem o reconhecimento das desigualdades de gênero e raça. Por não visibilizá-las nem reconhecê-las, o planejamento das políticas gera a reprodução das relações existentes, tendendo a excluir as mulheres, os/as negros/as dos recursos e dos benefícios que a ação possa proporcionar. O objetivo da análise de gênero e raça é avaliar se as necessidades e as prioridades das mulheres e dos homens de todos os segmentos raciais constam das políticas públicas, e se estas contribuem ou não para reduzir o quadro existente. Exige a construção de forma participativa, de modo que as pessoas, possíveis beneficiárias dessas políticas, tenham controle sobre o processo de diagnóstico e o planejamento das ações indicadas para superar os problemas identificados. O processo de planejamento com perspectiva de gênero e raça é eminentemente político, uma vez que a superação das desigualdades O processo de planejamento com perspectiva de exige a gênero e raça é eminentemente político, uma vez que a superação das desigualdades exige a redistribuição dos redistribuição recursos e do poder. O conflito inerente a tal processo requer uma arena política para o debate e a negociação de dos recursos e do soluções. Se esta dimensão não é assumida, as políticas até podem melhorar imediatamente as condições materiais poder. de vida das mulheres e de suas famílias, entretanto, de modo conservador, seguir preservando a desigualdade, a divisão sexual do trabalho, as relações de dominação/subordinação, sem afetar a questão estratégica da redistribuição equitativa dos recursos e do poder entre os gêneros. A despeito disto, não podem ser desconsiderados os elementos técnicos do planejamento, que garantem que as propostas sejam informadas por esses fatores. As relações de gênero, como estudado no conceito de interseccionalidade, são influenciadas por outras dinâmicas de produção e reprodução das desigualdades, a partir dos conflitos de classe, gênero, étnico-raciais, geracionais, regionais, entre o urbano e o rural, relacionadas à orientação sexual, às condições ambientais etc., e também _ 79 pela articulação entre estes elementos, em diferentes combinações, que acarretam condições ainda mais difíceis de exercício dos direitos humanos pelas mulheres. É importante que a análise de gênero reconheça esse caráter multidimensional da desigualdade, decifrando as variadas formas de opressão vividas pelas mulheres, nos diferentes grupos sociais em que estão inseridas. O enfrentamento dessas múltiplas formas de discriminação demanda atenção especial e apoio efetivo das políticas públicas, para que as mulheres de diferentes contextos possam superar situações difíceis, condições históricas de privação, como é o caso, por exemplo, das mulheres indígenas e negras em sociedades de passado escravagista, como a brasileira. Para o planejamento de gênero, a análise dessas dinâmicas é muito relevante, pois determina não somente a posição de mulheres e homens em relação à política pública, como os impactos que tal política poderá produzir sobre as relações de gênero no sentido de enfrentar as desigualdades ou, pelo contrário, de agravá-las. De uma perspectiva de gênero, há grande diferença entre ter acesso e controle. As mulheres podem ter acesso a uma propriedade, mas não o controle sobre seu uso; acesso à renda, mas não sobre os gastos; participação em processos políticos, mas não poder de decisão. Portanto, o planejamento da política pública deve estabelecer medidas que garantam que seu desenvolvimento viabilize a equidade entre mulheres e homens. 80 _ De uma perspectiva de gênero, há grande diferença entre ter acesso e controle. As mulheres podem ter acesso a uma propriedade, mas não ao controle sobre seu uso; acesso à renda, mas não sobre os gastos _ 81 82 _ O Papel dos Indicadores na Formulação de Políticas, Programas e Projetos Para alterar as desigualdades de gênero e raça é essencial conhecer (qualificar e quantificar) as manifestações destas desigualdades. Onde encontrar dados sobre as condições de homens e mulheres, negros/as, indígenas e brancos/as? Quais indicadores considerar? Como contribuir para a produção de dados sobre gênero e raça? Como medir se as desigualdades estão sendo reduzidas? O delineamento de políticas, programas e/ou projetos depende diretamente do conhecimento mais abrangente da realidade sobre a qual se pretende atuar e da clareza dos objetivos a serem alcançados. A promoção da igualdade de gênero e de raça e a defesa dos direitos das mulheres constituem, ao mesmo tempo, grandes objetivos e sérios desafios na área das políticas sociais. Para enfrentá-los é preciso identificar e avaliar os entraves e os problemas que dificultam historicamente e/ou impedem o alcance de tais objetivos, buscando um maior conhecimento sobre a sua natureza e características, extensão e gravidade. Paralelamente ao suporte do referencial teórico sobre os diversos temas de interesse em determinado campo _ 83 de atividade, políticas públicas, programas e projetos se apoiam em informações empíricas, objetivas, que permitem dimensionar os problemas e as necessidades que, em última instância, representam as demandas sociais a serem atendidas pela ação governamental. Por outro lado, a intervenção governamental supõe a superação de obstáculos e problemas, contribuindo para o desenvolvimento e a melhoria das condições de vida de uma população, um segmento social ou uma comunidade. Nesse processo, os Indicadores Sociais constituem os instrumentos de descrição e medida: a) das atuais condições de uma dada realidade (exemplos: condições de vida de uma população; características e dimensões de determinado fenômeno, como a desigualdade salarial entre homens e mulheres; situação, como o acesso à pré-escola, em determinada comunidade; b) das mudanças em curso ou resultantes da intervenção em uma dada realidade. Indicadores sociais são medidas que operacionalizam um conceito abstrato ou processo decisório, consistindo em ferramentas fundamentais para a visualização e o entendimento dos problemas sociais. Os indicadores são subsídios indispensáveis nos processos de tomada de decisão, nas fases de formulação e na implementação de políticas, programas e projetos. Os indicadores são subsídios indispensáveis nos processos de tomada de decisão, nas fases de formulação e na implementação de políticas, programas e projetos. A cada etapa da formulação e da implementação de políticas, programas ou projetos corresponderá um tipo de indicador. Assim, os indicadores de diagnóstico possuem amplitude temática e larga escala, enquanto os indicadores para a formulação tendem a ser sintéticos, associando múltiplos critérios para a tomada de decisões. Os indicadores de implementação devem ser sensíveis às mudanças, e os indicadores para avaliação devem ser específicos e conclusivos acerca da eficiência (Jannuzzi, 2009). Os indicadores de avaliação poderão demonstrar se a intervenção governamental provocou as mudanças esperadas e em que proporções, se a situação se manteve ou se o quadro se agravou. 84 _ a) Indicadores de diagnóstico O diagnóstico do problema e/ou da situação sobre a qual se pretende atuar é o ponto de partida para o processo de planejamento. Trata-se de um “retrato” da realidade que deverá sofrer uma forma de intervenção – mais ou menos profunda, de acordo com a extensão ou os objetivos propostos. Os indicadores do diagnóstico servirão de referência para todo o desenvolvimento do trabalho. Eles constituem o marco zero, a linha de base, o ponto de partida. As necessidades e os problemas detectados permitem avaliar as demandas por serviços e/ou os equipamentos sociais que orientam os procedimentos de intervenção em dado setor. Por exemplo, se precisamos implementar um projeto de oferta de pré-escola/creches em determinada região, é fundamental buscar informações que permitam dimensionar a magnitude da demanda por este serviço (quantas crianças de zero a 3 anos estão desassistidas?). A partir deste dado, é preciso saber como se distribui espacialmente essa clientela potencial, para avaliar o local em que há maior necessidade do serviço: existem creches na cidade/região? Onde se localizam? Contudo, a proposta é atender, sobretudo, às mães e às mulheres responsáveis por essas crianças que necessitam da creche, para que elas possam dispor de tempo para trabalhar e se dedicar a outros compromissos. Neste caso, cabe conhecer a participação das mulheres no total da população local (por raça/cor e faixa etária), o percentual de mulheres com filhos e/ou dependentes com até 3 anos de idade: qual o percentual dessas mulheres com filhos/as ou dependentes que trabalham fora? Estas e outras tantas INFORMAÇÕES são relevantes para a obtenção de um diagnóstico da situação, o que possibilita uma decisão em torno da amplitude e da complexidade do projeto. Assim, é possível realizar escolhas mais seguras no que tange às metas e aos recursos necessários para o atendimento dos objetivos principais. INFORMAÇÕES Fontes de informações estatísticas periódicas. Sistema Estatístico Nacional Principais fontes estatísticas: 1. Censos Demográficos Decenais/Contagens – IBGE 2. Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio – IBGE 3. Pesquisas Amostrais Específicas 4. Registros Administrativos e Pesquisas nos Ministérios 5. Estatísticas Vitais Outras Pesquisas Específicas 1. Pesquisa Mensal de Emprego – PME 2. Economia Informal Urbana – ECINF 3. Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF 4. Pesquisa de Informações Básicas Municipais – Munic _ 85 Nesse sentido, os indicadores de diagnóstico constituem referências importantes para a definição dos indicadores de processo e de resultados, também definidos no detalhamento do projeto – e, eventualmente, redefinidos em sua implementação. Se, em uma dada comunidade, existem 1.000 crianças sem atendimento de creche, de acordo com os recursos (humanos, materiais e financeiros) disponíveis, é possível a definição do número de creches a serem construídas, em determinado prazo, com a determinação dos indicadores de atendimento para o primeiro ano (por exemplo) e todos os demais indicadores necessários ao controle da implementação das ações que integram o projeto. b) Indicadores de gênero e raça A construção e a seleção de indicadores dependem da qualidade das informações geradas (base de dados) e da disponibilidade e da qualidade dos dados secundários para embasamento do processo decisório. Há um consenso entre estudiosos e planejadores/formuladores de políticas públicas sobre a importância da existência de dados para a construção dos indicadores que irão nortear e apoiar estudos e processos de formulação e implementação de políticas públicas, programas e projetos (Jannuzzi, 2000; Cohen & Franco, 1993). Entretanto, no caso de áreas mais recentes de atuação governamental, como as políticas de igualdade de gênero e racial, desafios se apresentam. Em primeiro lugar, os dados e os indicadores sociodemográficos constituem um suporte fundamental para a realização do diagnóstico da situação-problema. No exemplo citado (oferta de creches a uma comunidade), são necessários: dados populacionais, estratificados por raça/etnia, faixa etária, mulheres com filhos ou com criança dependente; renda; ocupação das mulheres; domicílio – para citarmos alguns indicadores mais relevantes para a formulação de uma política, um programa e projetos. Porém, nem todos os cadastros, registros administrativos e pesquisas oficiais contam com dados referentes ao sexo e à raça/etnia das pessoas cadastradas ou entrevistadas. Esta tem sido uma das principais ações da SPM, da SEPPIR e de outras instituições que apoiam as políticas de igualdade de gênero e raça no país: contribuir para a melhoria e a ampliação dos dados disponíveis, atuando junto aos órgãos responsáveis pelos registros administrativos e por outras modalidades de cadastros e às instituições que produzem indicadores oficiais, para que sejam incluídos e/ou divulgados os dados referentes ao sexo e à raça/etnia. Um segundo desafio – vinculado ao primeiro – concerne à existência e à disponibili- 86 _ dade de indicadores de gênero e raça, correspondentes às grandes questões a serem enfrentadas, em busca da igualdade de gênero e racial no país. Por vezes, não constam alguns dados, necessários para a construção de indicadores. É importante estimular e apoiar a elaboração de A necessidade de ampliar o debate em torno dos temas centrais das políticas requeridas naquelas áreas espeestudos sobre cíficas é premente, com vistas ao estabelecimento de conceitos e referências capazes de embasar as ações temas específicos, governamentais. Nesse sentido, torna-se mais viável a identificação de indicadores pertinentes, que servirão além de ampliar de parâmetros para a formulação e a avaliação dessas políticas. Neste caso, os conceitos referem-se a temas o diálogo com complexos, como autonomia das mulheres, igualdade de gênero, igualdade racial, espaços de poder, igualdade as instituições salarial, valorização do trabalho doméstico, discriminação racial, assédio sexual, assédio moral, entre outros. responsáveis pela Cabe, por exemplo, que a SPM, a SEPPIR e os órgãos parceiros definam parâmetros acerca de “autonomia” produção das das mulheres – quando um projeto, uma ação é bem-sucedida neste sentido? Em que medida é importante estatísticas oficiais que uma política ou ação de qualificação para o trabalho esteja associada a uma real inserção no mercado no país de trabalho, ou a um mínimo de capacidade gerencial, também mensurada a partir de parâmetros previamente definidos? Assim, a partir da definição de conceitos, será preciso produzir os dados requeridos (e não disponíveis) para a elaboração dos indicadores nas novas áreas de atuação governamental. Desta forma, é importante estimular e apoiar a elaboração de estudos sobre temas específicos, além de ampliar o diálogo com as instituições responsáveis pela produção das estatísticas oficiais no país, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre outros. Ciente dessa realidade, o governo federal tem tomado a iniciativa de propor fóruns de discussão e produção de informações, a exemplo da criação do Comitê Técnico de Estudos de Gênero e Uso do Tempo – integrado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (que o coordena), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e _ 87 Todo processo que envolve as Leis do Ciclo Orçamentário não pode deixar de atender ao enfrentamento às desigualdades de gênero e raça no país. o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA). Participam ainda do Comitê, como convidados permanentes, o Fundo das Nações Unidas para o Desenvolvimento das Mulheres (UNIFEM) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT). Um segundo exemplo, já citado na Unidade anterior, refere-se à incidência da Secretaria de Políticas para as Mulheres na Pesquisa de Informações Básicas Municipais (Munic), desenvolvida pelo IBGE, em 2009, incluindo pela primeira vez um bloco sobre a gestão das políticas de igualdade de gênero e raça (secretarias, coordenadorias, entre outros), assim como os Conselhos Municipais de Direitos da Mulher, além de órgãos que atuam no enfrentamento à violência doméstica (instituições da rede que praticam atendimento, como Casa Abrigo e Juizados, entre outros). Anteriormente, a pesquisa referente às instituições restringia-se às Delegacias Especializadas no Atendimento às Mulheres (DEAMs). Várias incidências semelhantes serão necessárias para que o sistema estatístico nacional disponha de dados para a construção de indicadores de gênero e raça, no planejamento e no orçamento. Se o planejamento e o orçamento consistem em espaços decisórios estratégicos, é relevante a incorporação da perspectiva de gênero e raça. Todo processo que envolve as Leis do Ciclo Orçamentário – desde sua elaboração, pelos processos de debate e decisão, até a execução do orçamento e, finalmente, a avaliação dos resultados – não pode deixar de atender ao enfrentamento às desigualdades de gênero e raça no país. 88 _ _ 89 POLÍTICAS A FAVOR DA IGUALDADE Ações e Eixos do II PNPM e do Planapir O II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM) consolidou 94 metas, 56 prioridades e 388 ações. Destas, 282 possuem correspondência com as ações previstas no orçamento público da União e no Plano Plurianual. As 106 restantes, que não têm rebatimento, são as chamadas ações nãoorçamentárias. Acesse a íntegra do Plano em: http://www.observatoriodegenero.gov.br/eixo/politicas-publicas/pnpm/comite-de-monitoramento-do-ii-pnpm. Acesso em 20/01/2011. O Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Planapir) é composto por 12 eixos que se subdividem da seguinte forma: a) Eixos Setoriais – Trabalho e Desenvolvimento Econômico (Eixo 1); Educação (Eixo 2); Saúde (Eixo 3); Diversidade Cultural (Eixo 4); Direitos Humanos; Segurança Pública (Eixo 5); Desenvolvimento Social e Segurança Alimentar (Eixo 10); e Infraestrutura (Eixo 11); e b) Eixos Transversais: Comunidades Remanescentes de Quilombos (Eixo 6); Povos Indígenas (Eixo 7); Comunidades Tradicionais de Terreiro (Eixo 8); Política Internacional (Eixo 9); Juventude (Eixo 12). Acesse a integra do Plano em: http://www.portaldaigualdade.gov.br/publicacoes/decreto_planapir Acesso em 30/01/2011. 90 _ O Desafio da Gestão de Gênero e Raça Como acompanhar a execução de projetos, programas e planos? Como saber se estão sendo eficazes no alcance dos objetivos propostos? Como monitorar a execução do orçamento? Experiências de análise orçamentária com enfoque de gênero realizadas em muitos países têm demonstrado sua capacidade como instrumento estratégico para tornar visíveis as diferenças de gênero, influir no gasto público, tendo em vista a igualdade entre homens e mulheres, e fortalecer práticas de controle e fiscalização por parte da sociedade civil, contribuindo para maior transparência da gestão pública. O orçamento público conecta e põe em prática os enunciados e os compromissos de políticas públicas de igualdade de oportunidades para homens e mulheres, permite visualizar operativamente como são gastos os recursos, quanto e como o Estado investe em diversos níveis, em POLÍTICAS A FAVOR DA IGUALDADE. A introdução da dimensão racial na análise dos orçamentos constitui uma inovação, além de ser uma contribuição que o Brasil oferece aos demais países para a incorporação dessas iniciativas, sobretudo a busca pelo trabalho com as duas _ 91 dimensões – gênero e raça – que, em nosso país, são estruturantes na construção das desigualdades. Nesta perspectiva, a gestão é entendida como uma instância de controle ou de aferição permanente da relação entre os objetivos, os recursos (ou insumos), os procedimentos adotados e os resultados esperados. Desta forma, torna-se possível interferir nos rumos das ações, produzir alterações, inclusive em torno dos “pontos de partida”, das concepções e das decisões que orientaram o processo. Vale ressaltar novamente que o princípio da transversalidade de gênero e raça/etnia na formulação das políticas públicas foi explicitado e definido como um desafio da gestão pública já no PPA 2004-2007, a partir do entendimento de que estas categorias constituem dimensões estruturantes das desigualdades sociais. À ocasião, entre os desafios destacados para a gestão federal, constavam: promover a redução das desigualdades raciais e das desigualdades de gênero. O PPA 20082011 avançou em relação a estes compromissos assumidos, na medida em que incorporou as dimensões de gênero e raça/etnia entre os Objetivos Estratégicos de Governo. A promoção da igualdade de gênero e raça/etnia foi enunciada no 4º objetivo estratégico da seguinte forma: “Fortalecer a democracia, com igualdade de gênero, raça e etnia, e a cidadania com transparência, diálogo social e garantia dos direitos humanos”. Isto significa que, na elaboração do planejamento plurianual, os diferentes ministérios e secretarias devem considerar estas dimensões como estratégicas para o alcance do objetivo maior deste governo, que é a inclusão social e a redução das desigualdades. Entretanto, considerando os dois últimos ciclos orçamentários da União (PPA 2004-2007 e 2008-2011), constata-se o quanto é recente e paulatino o processo de incorporação da perspectiva de gênero e raça no orçamento público. Em resumo, pode-se destacar que, nos últimos anos: 92 _ A gestão é entendida como uma instância de controle ou de aferição permanente da relação entre os objetivos, os recursos (ou insumos), os procedimentos adotados e os resultados esperados. • • • • • Avançou-se na definição de objetivos gerais e diretrizes do PPA, com a priorização das políticas transversais de gênero e raça. Ampliou-se o volume de recursos alocados nas políticas específicas para as mulheres e negros/as, entre outros segmentos étnico-raciais discriminados. Aprovaram-se em um espaço de participação social, os princípios e as diretrizes da política nacional para as mulheres e de promoção da igualdade racial. Definiram-se as prioridades do Plano de Políticas para as Mulheres e do Plano de Promoção da Igualdade Racial em espaços de participação social e fixaram-se, no primeiro, as ações orçamentárias que deveriam financiá-las. O desafio de abarcar os Programas do PPA com recorte de gênero e raça se mantém e se tornará explícito quando os principais programas de governo identificarem seus objetivos, metas, públicos-alvo ou indicadores. Sistemas de Informações relativos às Políticas de Gênero e Raça Diante do desafio da implementação dos programas inseridos no PPA com recorte de gênero e raça, é relevante a criação de um sistema que seja capaz de agregar dados e informações para subsidiar a implementação, o MONITORAMEN- Monitoramento do PNPM I e II TO E A AVALIAÇÃO DOS PROGRAMAS mentados em parceria com outros setores governamentais. Assim, parte E DAS AÇÕES. Além disso, é preciso mapear o perfil e as demandas do público-alvo, a exemplo do Sistema Nacional de Indicadores de Gênero (SNIG), da Secretaria de Políticas para as Mulheres. O SNIG foi implantado em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Department of International Development do Reino Unido (DFID), o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem) MONITORAMENTO E A AVALIAÇÃO DOS PROGRAMAS E DAS AÇÕES No âmbito interno da Secretaria de Políticas para as Mulheres a atividade de monitoramento e avaliação está orientada tanto para os programas e os projetos desenvolvidos pela própria Secretaria quanto para os impledas atividades de avaliação é programada em conjunto com as instituições parceiras, de acordo com a definição de responsabilidades de cada setor e/ou órgão do governo nas ações integradas. Com tal finalidade, foi implantado o Sistema Nacional de Acompanhamento do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, ainda na vigência do I Plano Nacional. O referido Sistema passou por uma avaliação e melhorias e serve de suporte ao monitoramento da implementação do II PNPM. Cabe salientar que o monitoramento do II PNPM também é complementado por informações fornecidas periodicamente, no âmbito das reuniões do Comitê de Articulação e Monitoramento do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, sob a coordenação da SPM-PR. Acesse as publicações sobre o Sistema de Acompanhamento do I PNPM e do II PNPM em http://www.sepm.gov.br/ pnpm/sistemas-de-acompanhamento-do-pnpm Acesso em 30/01/2011. _ 93 e o Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM). O Sistema presta informações sobre a mulher e seus dados são extraídos dos Censos Demográficos de 1991 e de 2000. A SPM vem se consolidando como uma referência na temática de gênero perante a sociedade civil. Enquanto espaço de defesa dos interesses e dos direitos das mulheres brasileiras, no âmbito do governo federal, cabe a esta instância identificar, acolher e dispensar o tratamento adequado às demandas dos diferentes segmentos da população feminina que constituem seu público-alvo. Nesta perspectiva, a SPM assume também a atribuição de dar visibilidade à situação das mulheres no Brasil, promovendo, por diversos meios, a divulgação de informações confiáveis sobre a temática de gênero e raça em seus diferentes aspectos ou dimensões. Conforme mencionado, todos os Programas/Projetos dependem, em larga medida, de indicadores sociopopulacionais que permitam identificar o volume e o perfil socioeconômico das populações e dos grupos-alvo das ações implementadas, contribuindo para o diagnóstico de determinada situação. O Censo Demográfico de 2010 poderá representar um grande reforço na configuração do Sistema Nacional de Indicadores de Gênero, possibilitando aos estudiosos e à sociedade em geral a realização de estudos comparativos, numa série histórica de três décadas. 94 _ A SPM assume também a atribuição de dar visibilidade à situação das mulheres no Brasil, promovendo, por diversos meios, a divulgação de informações confiáveis sobre a temática de gênero e raça _ 95 EM PROL DA IGUALDADE DE GÊNERO Exemplos de Programas e Ações do II PNPM • Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres; • Incentivo à Autonomia Econômica e ao Empreendedorismo das Mulheres; • Formação de Profissionais da Educação em Conteúdos não-discriminatórios – Gênero e Diversidade na Escola – GDE; • Ações de Enfrentamento do Racismo, do Sexismo e da Lesbofobia. 96 _ A Gestão do II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres De que forma acompanhar a execução de projetos, programas e planos? Do ponto de vista da gestão do II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, é preciso salientar a preocupação em articulá-lo com o PPA 2008-2011, garantindo, assim, um compromisso mais efetivo de todos os setores envolvidos com as políticas de promoção da igualdade de gênero e da autonomia das mulheres. Na primeira fase de implementação do PNPM, os processos de articulação e construção de parcerias com os setores governamentais e de aproximação com os movimentos sociais ganharam em dimensão e profundidade, com a expansão da rede de parcerias e do diálogo com a sociedade. Esses avanços também se tornaram visíveis pela inclusão, na nova versão do Plano, de ações da Agenda Social dos setores de governo que atuam EM PROL DA IGUALDADE DE GÊNERO. Em termos objetivos isto significa, de um lado, o fortalecimento de parcerias e ideais comuns ou, no mínimo, convergentes, no âmbito do poder público. Por outro lado, trata-se da permeabilidade de uma teia de relações, que aproxima governo e sociedade, reconhecendo e unificando as interfaces dos movimentos sociais em seus diferentes segmentos. _ 97 A própria metodologia de revisão do PNPM refletiu os avanços já mencionados, ao transferir para seu Comitê de Articulação e Monitoramento a responsabilidade pela condução do processo. Foram convocados não apenas os órgãos que já integravam o Comitê, mas também representantes dos novos setores governamentais que passaram a constituí-lo em face das demandas surgidas na II Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres (CNPM), entre os quais, o Ministério da Cultura, o Ministério do Meio Ambiente, a Secretaria de Comunicação, a Secretaria Geral, a Casa Civil, o Ipea e a Funai. Nesta nova configuração, o Comitê também ampliou a representação da sociedade civil, passando de um para três o número de representantes do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, e incorporando duas representantes de mecanismos governamentais estaduais de políticas para as mulheres e duas de mecanismos municipais. Como convidadas, estiveram presentes às reuniões de revisão do PNPM representantes dos movimentos de mulheres negras e de mulheres jovens. A concretização dos objetivos do PNPM exige o investimento de um montante expressivo de recursos não somente por parte da SPM, como também de outros ministérios e secretarias que desenvolvem ações específicas para a promoção da igualdade entre homens e mulheres ou que conseguem, nos programas existentes, tornar realidade a perspectiva da transversalização de gênero. A definição e a associação de recursos a programas voltados para as temáticas de gênero e raça são desafios, tendo em vista as dificuldades de construção de um orçamento que agregue investimentos em políticas de promoção da igualdade. Acrescente-se que a atuação governamental tem tradicionalmente sido marcada por um tratamento setorial, com baixo nível de articulação e integração entre as ações, bem como por uma relativa invisibilidade e uma suposta neutralidade das políticas quanto às questões de gênero, raça, orientação sexual, entre outras. Sendo assim, o II PNPM procura avançar nesta questão, trabalhando para que as ações apresentem um rebatimento orçamentário, tanto em termos de montante de recursos destinados quanto em relação à fonte desses recursos. Isto representa também uma inovação, pois cria a possibilidade de, pela primeira vez, se vislumbrar a estimativa global dos recursos destinados pelo governo federal às atividades voltadas para as mulheres. A persistência de programas e ações governamentais abrangentes, com orçamentos estabelecidos em termos de agregados financeiros, formulados sem levar em conta o impacto diferenciado das intervenções públicas em cada grupo social específico, reforça uma visão parcial das políticas e dificulta a identificação dos recursos destinados às mulheres ou às políticas de gênero. Ainda que em algumas áreas os avanços sejam significativos, a inclusão dessas temáticas no PPA e no Orçamento da União 98 _ Em alguns casos ainda não foi possível desagregar do total de recursos previstos no PPA dos/as ministérios/ secretarias o montante que seria alocado ainda se mostra incipiente e insuficiente para atender às especificidades de gênero e/ou de raça diante da demanda existente. Se o planejamento da ação pública não é efetuado a partir de tais dimensões, torna-se muito difícil mensurar e avaliar os resultados da ação governamental orientada para a promoção da igualdade, bem como estimar os investimentos realizados em cada órgão setorial. Em alguns casos ainda não foi possível desagregar do total de recursos previstos no PPA dos/as ministérios/secretarias o montante que seria alocado especificamente para as mulheres nas ações dispostas neste II PNPM. Reforça-se, assim, a necessidade de sensibilização para a questão de gênero e raça junto aos governos federal, estadual, distrital e municipal, no momento de definição de parâmetros e prioridades de atendimento, bem como junto aos movimentos sociais, na reivindicação do atendimento às demandas. Vale ressaltar que os Capítulos IX e X do II PNPM: especificamente “Enfrentamento do racismo, sexismo e lesbofobia” e “Enfrentamento das desigualdades geracionais que para as mulheres atingem as mulheres, com especial atenção às jovens e idosas” nas ações são tratados de forma transMONITORAMENTO versal a todas as ações contidas dispostas neste no II PNPM. Como meio de Os relatórios de acompanhamento das melhor implementar a articuações do II Plano Nacional de Políticas II PNPM. lação entre as ações de gênero para as Mulheres – PNPM, relativos e raça, e seu MONITORAMENTO, aos anos de 2008 e 2009, podem ser foi constituído pela Portaria n.º 36, de 7 de maio de 2009, um acessados por qualquer pessoa no Grupo de Trabalho, composto por representantes de cada Sistema de Acompanhamento do PNPM Subsecretaria da SPM, um/a representante, respectivamente, (SAPNPM), por meio do link: http:// das Secretarias de Políticas de Promoção da Igualdade Racial www.sigspm.spmulheres.gov.br/ (Acesso e Direitos Humanos, duas representantes de entidades do em 30/01/2011). Os Relatórios trazem movimento de mulheres negras e lésbicas com assento no informações relacionadas ao orçamento, Conselho Nacional dos Direitos da Mulher e, como convidaà execução física e aos resultados das das, seis representantes da sociedade civil, do movimento de ações prioritárias definidas pela SPM e mulheres negras e lésbicas. pelos órgãos parceiros. _ 99 100 _ Unidade 3 | Monitoramento e avaliação de programas e projetos Monitorar e avaliar Por que avaliamos? Qual a função da avaliação e do monitoramento de programas e projetos? Quem avalia? Quando? Como avaliar? Como e por que incluir os/as destinatários/as das políticas nos processos avaliativos? Como fazer da avaliação uma ferramenta de gestão? O monitoramento e a avaliação constituem etapas fundamentais da formulação e da implementação de políticas públicas. A função primordial do monitoramento e da avaliação é supervisionar o processo de implementação de políticas, programas e projetos, de forma a garantir a eficiência, a eficácia e a efetividade das ações governamentais. O monitoramento e a avaliação constituem etapas fundamentais da formulação e da implementação de políticas públicas. Historicamente – em especial na área das políticas sociais – um conjunto de fatores contribuiu para que as atividades de monitoramento e avaliação, quando realizadas, não cumprissem suas reais finalidades. Na América Latina e no Caribe, segundo Buvinich (1999), a maioria dos programas e projetos na área de políticas sociais não era avaliada. Excepcionalmente, quando o eram, tais avaliações acabavam se reduzindo a perspectivas descritivas, com escassa análise. Segundo o autor, essa tendência modificou-se a partir dos anos 1990, com _ 101 o surgimento de uma nova visão na condução das políticas sociais, sob influência de alguns fatores, como: crise social vivida na região; reconhecimento da necessidade de um planejamento e gerenciamento com maior e melhor informação, em todos os níveis, para compreensão do impacto das diferentes estratégias sobre os públicos-alvo; necessidade de alocar os recursos disponíveis com mais eficiência e equidade para assegurar maior grau de efetividade e sustentabilidade no alcance dos objetivos das políticas sociais. Vale lembrar, como já estudado neste Curso, que a década de 1990 também foi marcada por uma série de manifestações protagonizadas por movimentos representativos de diferentes bandeiras de luta no cenário internacional – a exemplo do movimento feminista e de mulheres. As mobilizações sociais verificadas nesse período contribuíram para uma cobrança crescente em torno do uso dos recursos e dos resultados obtidos pela ação governamental. Este quadro refletiu-se, em larga medida, no Brasil e em outros países da América Latina e Caribe que, como vimos, sofreram o impacto da progressiva globalização da economia. Ao mesmo tempo, esses países assistiram ao amadurecimento e à ampliação de movimentos sociais em defesa da inclusão social e do combate a todas as formas de discriminação. Via de regra, as reformas administrativas dessas nações responderam à necessidade de redefinição das relações entre Estado e Sociedade – estando aquele premido, de um lado, pela escassez de recursos e, de outro, pela inadequação de seu desempenho na condução do interesse público (Marini Ferreira, 1999; Rua, 1999). Bozzi (2001:33, 34), em estudo sobre os sistemas de avaliação criados pelos governos da Colômbia e do Chile, comprometidos com a gestão orientada para resultados, apontou a importância da avaliação da gestão pública na América Latina para fortalecer e aprofundar a institucionalidade democrática, desde que fosse possível: a) Estabelecer precisamente os vários níveis de responsabilidades dos servidores públicos e sua obrigação de prestar conta de suas ações (accountability); b) Garantir uma gestão mais transparente e gerar informação sobre a eficiência do uso de recursos; c) Motivar os empregados públicos a darem prioridade à perspectiva do cidadão e do usuário do serviço na definição de programas e serviços, e no desenho dos instrumentos para avaliá-los; d) Melhorar a qualidade dos serviços prestados pelo setor público, o que incide diretamente nos pilares de uma política de desenvolvimento: o bem-estar da população e a competitividade do setor produtivo; 102 _ e) Melhorar a coordenação entre organizações públicas que trabalham nos distin- tos níveis do aparato público; a produtividade do setor público, legitimando a provisão governamental de bens públicos aos olhos de usuários/as e cidadãos/ãs. f) Melhorar O texto “Redemocratização e Reforma do Estado no Brasil”, estudado na Unidade 1, abordou a reforma administrativa realizada no Brasil em 1995 e que foi executada em consonância com as tendências internacionais do modelo de administração pública gerencial. Incluiu, entre seus objetivos, a busca por ganhos de eficiência no aparelho do Estado e o aumento da qualidade dos serviços prestados. Preconizando mudanças na concepção e na forma de implementação de políticas e ações governamentais, a reforma apoiava-se em alguns princípios, assim expostos e comentados por Marini Ferreira (1999): I) Focalização da ação do Estado no cidadão, o que significa o resgate da esfera pública como instrumento do exercício da cidadania; II) Reorientação dos mecanismos de controle para resultados, o que significa evoluir de uma lógica baseada tão-somente no controle da legalidade e do cumprimento do rito burocrático para uma nova abordagem centrada no alcance de objetivos; III) Flexibilidade administrativa, que permita a instituições e pessoas alcançarem seus objetivos; IV) Controle social, o que quer dizer desenhar mecanismos de prestação social de contas e avaliação de desempenho próximo da ação. Se o objetivo é o resgate da cidadania e a reorientação para resultados, esse controle não pode se limitar apenas à dimensão interna, com base em quem presta o serviço. Tem de ser na perspectiva de quem usa ou se beneficia da prestação dos serviços públicos (Ferreira, 1999:87; grifos nossos). Esses mesmos princípios, portanto, orientaram a concepção do Plano Plurianual de Investimentos (PPA) da Administração Pública, que permanece em vigor. Isto significa que, do ponto de vista do acompanhamento e da avaliação da implementação de programas e ações governamentais, passaram a ser considerados novos aspectos do processo, como: participação da comunidade na formulação de tais ações; resultados alcançados em face das metas estabelecidas e das mudanças esperadas na situação-problema identificada inicialmente (avaliando-se os efeitos da ação sobre a qualidade de vida da população); satisfação da população com esses resultados; atuação das instituições parceiras (quando houver) e sua contribuição para os resultados _ 103 alcançados; a criação de mecanismos de prestação de contas para a sociedade sobre as ações governamentais e seus resultados. Enfim, o novo paradigma mencionado por Marini Ferreira passaria, necessariamente, pela ampliação do diálogo entre Estado e sociedade civil, permitindo às populações beneficiárias da ação governamental o protagonismo de quem participa das decisões sobre sua vida, seu bem-estar e tem controle sobre os resultados alcançados. Entretanto, apesar das mudanças propostas, não se pode afirmar que a reforma administrativa tenha operado efeitos imediatos nas práticas de planejamento, monitoramento e avaliação de políticas, programas e projetos sociais no país. Segundo Cotta, em referência ao final da década de 1990, Em ambientes democráticos, cresce a demanda da sociedade organizada pela transparência na gestão de recursos públicos, “apesar de ser um tema recorrente na literatura, a o que só é possível avaliação de programas sociais ainda não foi incorporada ao cotidiano da administração pública. Em com a avaliação parte devido à complexidade inerente às metodologias de avaliação, em parte devido ao desinteresse dos policy sistemática makers ou formuladores de políticas públicas e à desconfiança dos responsáveis pelos programas, tem-se deixadas ações do de lado um poderoso instrumento gerencial, capaz de subsidiar o processo decisório e de lançar luz empreendidas pelo sobre a lógica das intervenções na realidade social. Isto se torna ainda mais preocupante em um contexto de governo. crise fiscal, no qual os administradores são compelidos a direcionar os escassos recursos de que dispõem para os programas e projetos que melhor os utilizem. Cabe lembrar ainda que, em ambientes democráticos, cresce a demanda da sociedade organizada pela transparência na gestão de recursos públicos, o que só é possível com a avaliação sistemática das ações empreendidas pelo governo” (Cotta, 1998:103). Objetivamente, os avanços efetivos na relação entre Estado e Sociedade ocorreram a partir de 2003, por meio das práticas que iriam fortalecer a democracia participativa, 104 _ como: Realização das Conferências Nacionais, com a participação efetiva da sociedade civil organizada, como mecanismo privilegiado para o levantamento de demandas e a discussão de princípios e diretrizes que devem orientar a formulação das políticas públicas setoriais; 2) Realização de Audiências Públicas sobre temas de interesse da sociedade civil, incluindo, entre estes, a própria elaboração do Plano Plurianual (PPA), como ocorreu em 2003, em relação ao PPA 2004-2007; 3) Criação e/ou fortalecimento de instrumentos para assegurar a transparência do processo de implementação de políticas, programas e projetos (ou prestação social de contas), como Sistemas setoriais informatizados (a exemplo do Programa Bolsa Família, entre outros), e o SICONV – Sistema de Convênios, que prevê o registro de todos os passos para a celebração e o acompanhamento dos Convênios firmados entre os diferentes setores governamentais (incluindo as instâncias federal, estadual e municipal), e do governo com a sociedade civil. 1) SICONV O SICONV é um sistema desenvolvido em plataforma web que permite aos órgãos convenentes e concedentes o gerenciamento on-line de todas as propostas enviadas e dos convênios firmados com o governo federal. Este sistema foi elaborado para padronizar e dar transparência às descentralizações de recursos públicos em todas as áreas do governo federal. Ele é autoexplicativo e no próprio Portal os órgãos e as entidades da sociedade civil poderão aprender, através de curso direcionado, a utilizar todas as ferramentas de que ele dispõe, tanto para apresentação de propostas como para os encaminhamentos para a formalização, e para – ao final – fazer a prestação de contas dos recursos utilizados. Há profissionais designados nos ministérios para acompanhar e orientar os convenentes no uso do SICONV. Para melhor conhecer este Sistema, acesse www.convenios.gov.br. A formulação de políticas, programas e projetos, seu monitoramento e avaliação devem conter dimensões que reflitam, na prática, um novo paradigma de gestão pública, considerando a importância de fortalecer a democracia participativa no país, inclusive por meio dos instrumentos e das práticas que apoiam o processo decisório. Assim, é central: _ 105 • • • • • a participação das/os beneficiárias/os; a participação das instituições parceiras no projeto/ação; a qualidade dos serviços prestados/resultados alcançados, de acordo com a população beneficiária; a satisfação da população beneficiária; a sustentabilidade dos resultados e dos efeitos esperados – permanência do serviço implantado ou consistência das mudanças operadas por meio de projeto/ações, após a conclusão do processo de intervenção/execução do Convênio. No próximo texto, cada uma das atividades de monitoramento e avaliação será abordada separadamente. 106 _ GLOSSÁRIO Eficiência – Relaciona-se à minimização dos custos e à maximização dos resultados. “Fazer mais com menos”. Eficácia – Grau de alcance das metas programadas em um determinado período de tempo, independentemente dos custos implicados. Está relacionada aos resultados sobre a população beneficiária e a sociedade. Efetividade – Correspondência entre os objetivos propostos e os resultados atingidos, ou seja, a relação entre os resultados (impactos observados) e os objetivos (impactos esperados). _ 107 108 _ Monitoramento Quais os recursos mais adequados para monitoramento e avaliação de programas e projetos nas distintas fases de sua execução? O monitoramento também é conhecido como avaliação em processo, consistindo em “uma ferramenta utilizada para intervir no curso de um programa, corrigindo sua concepção. É o exame contínuo dos processos, produtos, resultados e os impactos das ações realizadas. O monitoramento permite identificar tempestivamente as vantagens e os pontos frágeis na execução de um programa e efetuar os ajustes necessários à maximização dos seus resultados e impactos” (Rua, 1999:7). Na fase de definição do processo de monitoramento de uma política, programa ou projeto, somos orientadas/os por perguntas como: quais são os objetivos e as metas? O que deve ser feito para garantir a obtenção dos produtos e dos resultados esperados? Como saber se o caminho escolhido conduzirá a tal objetivo e/ou produtos? Quais instrumentos são necessários para realizar o acompanhamento dessa política/programa/projeto? Quais os mecanismos de que dispomos para acompanhar os diferentes passos da implementação do projeto/programa? _ 109 Para responder objetivamente a estas perguntas, podemos usar como exemplo a implantação de uma creche em determinado município, conforme preconiza o II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres – II PNPM, no âmbito das ações que contribuirão para a maior autonomia das mulheres no mundo do trabalho e na sua vida pessoal (Capítulo 1, Prioridade 1.3, Ação 1.3.3, p. 47). Vale lembrar que a creche constitui um dos equipamentos sociais mais demandados pela maioria das mulheres – que acumulam as funções de cuidado e reprodução no âmbito da família e trabalho remunerado fora de casa; e principalmente por aquelas que, por falta de apoio e recursos, muitas vezes não conseguem sequer procurar trabalho devido às tarefas domésticas e as responsabilidades familiares. Do ponto de vista técnico, o projeto de criação de uma creche envolve, pelo menos, três grandes etapas: construção (quando couber); estruturação e funcionamento. Cada etapa é realizada por um conjunto de ações orientadas por objetivos de curto, médio e longo prazos, que podem requerer a participação de mais de um setor governamental e da comunidade em geral. Porém, o que está em foco prioritariamente é a função social desse equipamento, o objetivo maior: seu possível impacto sobre a vida das mulheres e das crianças de determinada comunidade e, em última instância, seus resultados indiretos para toda a comunidade. Para a condução do monitoramento da implementação do projeto, podemos destacar alguns pontos, de forma resumida e a título de exemplo, sem a pretensão de esgotar o assunto, uma vez que não há receitas acabadas para o tratamento das questões de monitoramento e avaliação. Uma série de fatores pode influenciar os caminhos e as prioridades estabelecidos, como: natureza do projeto, informações disponíveis, nível de gestão/competências, entre outros. O primeiro passo a ser dado, quando se pensa em um desenho de monitoramento, é um mapeamento das ações essenciais para o alcance dos objetivos e das metas propostos em cada etapa prevista, observando os prazos estabelecidos para seu cumprimento. Tomando-se a creche como exemplo, sabemos que existem pelo menos três etapas ou fases diferentes na implementação do projeto. Desta forma, podemos levantar as ações pertinentes a cada uma das etapas, conforme o quadro abaixo: 110 _ Etapa 1: Construção da creche – de janeiro a outubro de 2009 Ações Responsáveis Prazo/período Produto Elaboração/ Prefeitura/ Outubro a Projeto aprovado pela Prefeitura aprovação Depto. de Obras dezembro de 2008 Licitação para Prefeitura/ Fevereiro a Empresas selecionadas aquisição de Depto. de Obras maio de 2010 (por tipo/classificação do material) Contratação Prefeitura/ Até junho de 2009 Contratações concluídas de mão de obra Depto. de Obras do projeto Projeto aprovado pela comunidade material por categoria de profissionais Até junho de 2009 Participação Número de participantes da da comunidade comunidade/ Não participação da (em discussão) comunidade Na fase da construção da creche, todas as ações terão um prazo determinado para sua execução, dentro do prazo estabelecido para início e término. Os prazos são fundamentais para a avaliação da eficiência, entendida como “a capacidade de produzir os resultados esperados/desejados com o menor dispêndio de recursos (humanos, materiais e financeiros)” (Rua, 1999). Portanto, a eficiência é medida pela relação entre os custos do projeto e os produtos obtidos – a relação custo-benefício daquele projeto ou ação. Uma ação que não é efetuada no prazo pode causar prejuízos em cadeia, comprometendo um conjunto de outras ações, o que conduzirá à elevação dos custos, podendo impedir ou prejudicar a execução do referido projeto. Além dos prazos, consideram-se todos os fatores intervenientes no processo de construção, como: instituição responsável/pessoas e parcerias envolvidas; tempo necessário para o processo de licitação para a compra de materiais de construção (quando couber); aquisição e entrega do material. Até as condições climáticas da localidade são passíveis de interferência no andamento da obra e, portanto, devem ser levadas em conta no processo de acompanhamento. Neste caso, pode ser criada outra categoria de acompanhamento: fatores externos, por exemplo. Há uma série de situações que não depende do controle dos/as gestores/as e pode influenciar profundamente os resulta- _ 111 dos esperados. Exemplos: chuva acima da média prevista; crise política no município; mudança de decisores/as na condução do projeto, entre outras. 2.1 Instrumentos necessários para o acompanhamento das ações a) Indicadores de processo Na fase de monitoramento são utilizados indicadores de processo para sinalizar o cumprimento de prazos e metas e a obtenção de produtos esperados para cada ação. Esses indicadores constituem instrumentos essenciais para a condução do monitoramento e deverão ser definidos para todas as ações previstas, sempre levando em conta os prazos determinados para cada fase e/ou etapa do processo de implementação do projeto. Assim, o nosso exemplo geraria o seguinte quadro: Etapa 1 : Construção da creche – janeiro a outubro de 2009 Ações Responsáveis Prazo/ Produto Indicadores período Elaboração Prefeitura/ Aprovação Depto. de obras a dezembro de do projeto Outubro 2008 Meios de verificação Projeto Aval da Documento aprovado pela Prefeitura oficial da Prefeitura documentado Prefeitura Projeto 80% de aprova- Ata de Reunião discutido e ção da com a aprovado pela comunidade comunidade Empresas Relação das Relatório de selecionadas empresas andamento (por tipo/ selecionadas do processo classificação para cada de licitação do material) categoria comunidade Licitação para Prefeitura/ aquisição de material Fevereiro Depto. de Obras a maio de 2010 de material 112 _ Indicadores de processo constituem instrumentos essenciais para a condução do monitoramento e deverão ser definidos para Estes indicadores de processo muitas vezes se confundem com as metas e com os produtos esperados, podendo ser assim representados: obra da creche concluída; um ônibus escolar adquirido; duas nutricionistas contratadas. Alguns autores, como Buvinich, mencionam indicadores de insumos e de produtos, além de indicadores de processo. Os “Meios de verificação” referem-se aos meios que permitirão constatar/confirmar os indicadores apontados. No caso dos indicadores de processo, pode ser um relatório, um contrato assinado, a documentação comprobatória de um veículo adquirido, ou seja, os indicadores de processo são verificados/confirmados por diferentes meios. b) Frequência do acompanhamento Além da definição de indicadores, é preciso estabelecer a frequência do acompanhamento do projeto, o que signiprevistas. fica o tempo em que será efetuado o monitoramento dos indicadores definidos. Exemplos: monitoramento bimestral/ trimestral/ semestral – sempre considerando a complexidade e o tempo necessário para a evolução de cada ação e/ou etapa. O acompanhamento poderá ser feito com frequências variadas, de acordo com a natureza e o ritmo das ações. todas as ações c) Criação de sistemas informatizados O princípio da transparência, assim como a necessidade de tornar mais ágil o processo decisório exigem a utilização de sistemas que possibilitem o registro e a divulgação de dados referentes à implementação de políticas, programas e projetos. d) Relatórios diversos e complementares Documentos referentes a procedimentos distintos, tais como: análises qualitativas (exemplo: estudo sobre a satisfação das beneficiárias de um projeto/ação); informa- _ 113 ções qualitativas ou não previstas; identificação de problemas na rede de INSTITUIÇÕES PARCEIRAS na execução do projeto; relatos sobre fatores externos (não previstos) que influenciaram o andamento das ações, entre outros. e) Outros mecanismos Nomeiam-se mecanismos os demais meios a serem utilizados tanto pela equipe técnica quanto pela comunidade e demais instituições que integrarem a rede de parceiros (quando for o caso). Aí estão incluídas as formas complementares de monitoramento a serem adotadas, por exemplo: i) Instituição de um grupo de interlocutores/as locais. No exemplo da creche, um grupo de moradores/as para acompanhar o projeto passo a passo (seriam os/as interlocutores/as principais da equipe técnica, por exemplo, quando quisessem informações qualitativas sobre o andamento do processo); ii)Participação de Conselhos locais, como os Conselhos Municipais dos Direitos da Mulher, Conselhos de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra, entre outros, que no exercício do controle social atuariam no apoio ao monitoramento do processo de implementação do projeto. Enfim, podem ser imaginados e definidos diferentes mecanismos, dependendo da natureza do projeto/ programa e dos recursos disponíveis para a sua execução. INSTITUIÇÕES PARCEIRAS O conceito de parceria é definido como reunião de esforços com objetivo comum (Dicionário Houaiss). O projeto social se fortalece quando é planejado, executado e avaliado juntamente com instituições parceiras. A parceria se concretiza na medida em que todas as partes contribuem para o projeto, ainda que de diferentes maneiras. É importante que as instituições parceiras tenham perfeitos entendimento e identificação com o projeto, seus objetivos e resultados esperados, experiência em projetos semelhantes ou afins, compromisso com a causa e com a coordenação do projeto. A colaboração intersetorial entre instituições parceiras dá maior qualidade e alcance ao projeto e colabora com a sustentabilidade de suas ações. No estabelecimento de parcerias há benefícios inegáveis, mas também alguns riscos. Por isso é necessário estabelecer alguns critérios para a escolha das instituições parceiras.. 114 _ _ 115 116 _ Avaliação Há um melhor sistema de avaliação para projetos sociais? Qual seria o melhor momento para avaliar? Como medir o impacto de um projeto social? A avaliação é tida como um processo sistemático de análise que permite compreender, de forma contextualizada, todas as dimensões e implicações de uma ação para estimular seu aperfeiçoamento. A avaliação oferece o suporte necessário para a tomada de decisão em diferentes fases da formulação e da implementação de políticas públicas. A característica fundamental da avaliação de programas é, certamente, seu caráter aplicado. Os/as avaliadores/as não podem perder de vista este aspecto, que garante a produção de trabalhos com utilidade prática. Esta modalidade de pesquisa visa atender às demandas por informação de administradores/as de dado programa ou projeto. Juntamente com o monitoramento, de forma complementar, a avaliação deve ser entendida como um processo que visa garantir a eficiência na alocação de recursos, a eficácia e a efetividade das ações governamentais. Assim a definem Aguilar e Ander-Egg: “A avaliação é uma forma de pesquisa social aplicada, sistemática, planejada e dirigida, destinada a identificar, obter e proporcionar de maneira válida e confiável dados _ 117 e informação suficiente e relevante para apoiar um juízo sobre o mérito e o valor dos diferentes componentes de um programa (tanto na fase de diagnóstico, programação ou execução), ou de um conjunto de atividades específicas que se realizam, foram realizadas ou se realizarão, com o propósito de produzir efeitos e resultados concretos comprovando a extensão e o grau em que se deram essas conquistas, de forma tal que sirva de base ou guia para uma tomada de decisões racional e inteligente entre cursos de ação, ou para solucionar problemas e promover o conhecimento e a compreensão dos fatores associados ao êxito ou ao fracasso de seus resultados” (Aguilar & Ander-Egg, 1994:31, 32). Para estes autores, a avaliação “enquanto pesquisa social consiste em aplicar o método científico ao conhecimento de um aspecto da realidade” e terá sempre por finalidade o conhecimento orientado para melhorar as formas de agir sobre uma dada realidade. A definição acima nos mostra que a avaliação pode ser feita em diferentes momentos, servindo a diversos propósitos. Assim, sua tipologia depende dos distintos critérios adotados. A avaliação propriamente dita é precedida por uma série de tarefas. A primeira é traçar um perfil completo Finalidade da da intervenção, examinando seus objetivos, coletando informações sobre seu mecanismo de implementação, avaliação: conhecendo a equipe responsável e indagando sobre os grupos e os indivíduos cujos interesses são afetados por é fundamental seu conteúdo. A segunda tarefa é identificar a finalidade da avaliação. É fundamental que se saiba quem demanda que se saiba informações e para que elas servirão. Nesta fase inicial também é imprescindível a delimitação do objeto de quem demanda investigação, mediante identificação dos aspectos do programa ou projeto que serão avaliados. O próximo informações e passo é a definição da estratégia metodológica, que abrange as seguintes dimensões: desenho da pesquisa, para que elas critérios de avaliação, procedimentos de amostragem, coleta de dados, seleção das técnicas estatísticas e apreservirão. sentação dos resultados. Destaca-se a importância da seleção de critérios adequados de avaliação, que devem: a) refletir os objetivos da intervenção; b) ser mensuráveis; e c) incorporar a visão dos/as atores/atrizes sociais relevantes, principalmente os/as beneficiários/as do programa ou projeto (Cotta, 1998). 118 _ Do ponto de vista do momento de sua realização, a avaliação pode ser assim classificada, segundo Aguilar e Ander-Egg (1994:41): Avaliação antes, ou ex-ante – efetuada antes do início da ação ou do projeto/ programa. Sua finalidade é “proporcionar critérios racionais sobre a conveniência ou não de levar a cabo um programa ou projeto”. Neste caso, os autores identificam três aspectos a serem considerados: a) pertinência do projeto em relação à realidade; b) coerência e congruência internas, a partir da análise das relações entre meios ou recursos e objetivos; objetivos gerais, objetivos especiais e metas; diagnóstico e proposições; c) rentabilidade econômica das diferentes ações para alcançar os objetivos propostos. ii. Avaliação durante a implementação – também pode ser denominada avaliação de gestão, avaliação contínua, avaliação concorrente, monitoração ou avaliação concomitante. Seu objetivo principal é “avaliar as mudanças situacionais, isto é, estabelecer até que ponto se está cumprindo e realizando o programa ou prestando um serviço de acordo com a proposta inicial”. iii. Avaliação ex-post – realizada após o término do projeto/programa. Neste caso, segundo os autores, deve-se estabelecer uma diferença entre a avaliação do fim do projeto e a avaliação ex-post. A primeira será empreendida assim que o projeto for concluído, enquanto a segunda deverá ocorrer “quando o programa ou projeto alcançou seu pleno desenvolvimento (meses ou até anos depois de finalizada a execução)”. Por esta razão, este tipo de avaliação também é nomeado avaliação de impacto ou avaliação pós-decisão, e possui duas finalidades principais: a) avaliar os ganhos dos resultados gerais em termos de: eficiência, produtos, efeitos e impacto; b) adquirir conhecimento e experiências para outros programas ou projetos futuros. i. AVALIAÇÃO EX-ANTE A avaliação ex-ante inclui a análise de custo-benefício (ACB), ou seja, a relação entre os custos e os benefícios de um projeto, expressos não só em termos monetários e tangíveis, mas também os custos sociais, ambientais e outros que são intangíveis. Inclui a análise de custo-efetividade (ACE), que é uma técnica econômica e estatística que objetiva identificar entre dois ou mais procedimentos aque- A literatura especializada apresenta algumas variações acerca da definição de avaliação, embora haja consenso em torno da tipologia segundo o critério do tempo/momento de realização (EX-ANTE; de processo; ex-post). Apenas para ilustrar, na classificação de Cohen e Franco (1999), as avaliações de processos e le mais adequado para que se obtenha o melhor resultado, o que é fundamental quando se tem poucos recursos. Para saber mais, consultar Cohen, E. & Franco, R. Avaliação de Projetos Sociais. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. _ 119 de impacto pertencem à avaliação ex-post, ou seja, ocorrem depois de iniciado o desenvolvimento da ação/projeto/programa. Segundo eles, “a avaliação de processos olha para frente (para as correções ou adequações), enquanto a avaliação de impacto olha para trás (se o projeto funcionou ou não), descobrindo as causas” (Cohen & Franco, 1999:108, 109). Assim, a avaliação de processo diz respeito à dimensão de gestão. Sua finalidade é julgar se a intervenção está sendo implementada conforme planejado, se a população-alvo está sendo atingida, se o cronograma está sendo cumprido, se os recursos estão sendo usados com eficiência etc. Trata-se, enfim, do acompanhamento sistemático da evolução das metas do programa ou projeto. A avaliação de resultados tem objetivos mais ambiciosos, sendo o primeiro deles indagar se houve alterações na situação-problema após a intervenção. A avaliação de resultados tem objetivos ambiciosos, sendo o primeiro deles indagar se houve alterações na situação-problema após a intervenção. Outras classificações são apresentadas segundo diferentes critérios, como o de quem a executa, que pode gerar os seguintes tipos, conforme Cohen e Franco (1999): Avaliação externa – realizada por pessoas de fora, alheias à organização; Avaliação interna – realizada dentro da organização gestora do projeto; iii. Avaliação mista – procura combinar os dois tipos anteriores. “Desta maneira se pretende superar as dificuldades, ao mesmo tempo em que se preservam as vantagens de ambas as avaliações”. Os autores apontam divergências sobre a vantagem de avaliadores externos – seja por darem mais importância ao método, ou por desconhecerem especificidades dos projetos; ao mesmo tempo, os/as avaliadores/as internos/as podem estar envolvidos/as demais com as propostas e os processos para poderem manter a objetividade necessária ao desenvolvimento da avaliação. Daí a solução de uma avaliação mista; iv. Avaliação participativa – tem por finalidade “minimizar a distância que existe entre o avaliador e os beneficiários”, e se apoia em bases teóricas e metodologias próprias. i. ii. 120 _ Ainda segundo este critério, também pode ser considerada a autoavaliação, pela qual as pessoas envolvidas na execução do projeto “avaliam e julgam suas próprias atividades para determinar se estão cumprindo as metas propostas” (Aguilar & Ander, 1994). Avaliação Final A avaliação final de um projeto, programa ou política de governo diz respeito aos resultados alcançados. A análise do cumprimento dos objetivos ou finalidades imediatas do projeto propiciará a mensuração da eficácia, pois os projetos sociais objetivam o atendimento de uma demanda social, a satisfação de uma necessidade de determinada população. Partindo do princípio de que a “razão essencial” do projeto social “é produzir mudanças em alguma parcela da realidade, solucionar um problema social, ou prestar um serviço a um determinado subconjunto populacional”, Cohen e Franco (1999:102, 103), defendem que, operacionalmente, a eficácia é o grau em que se alcançam os objetivos e as metas do projeto na população beneficiária, em determinado período de tempo, independentemente dos custos implicados. Para monitorar e avaliar “o grau em que se alcançam os objetivos e metas”, é necessária a criação de instrumentos, como os indicadores de resultado, referidos à dimensão social do projeto. No exemplo da instalação de uma creche, esta cumpre sua efetiva função social quando: Chega, de fato, a atender à demanda local, no limite estabelecido previamente (exemplo: atender a, no mínimo, 20% da demanda local); 2. Fica comprovada a qualidade dos serviços prestados e a satisfação das mulheres da comunidade beneficiada. Para tanto, serão criados indicadores específicos, incluindo levantamento sobre a qualidade dos serviços e a satisfação da população beneficiária por diferentes meios. 1. No caso da creche, vale lembrar que vários fatores podem interferir nos resultados alcançados, destacando-se: a localização (muito importante, e a comunidade deve ser ouvida a respeito); a qualidade dos serviços prestados, medida por critérios que incluem o preparo dos/das profissionais envolvidos/as, cumprimento dos horários, a qualidade dos alimentos oferecidos às crianças, higiene do ambiente, entre outros aspectos que qualificam o funcionamento deste tipo de estabelecimento. Porém, o _ 121 objetivo principal da instalação desse equipamento em determinada comunidade é o impacto que poderá causar na vida, no dia a dia das mulheres beneficiárias. Isto é o que o II PNPM propõe, a partir dos princípios da autonomia e da igualdade no mundo do trabalho. Neste caso, deve ser avaliada a efetividade da ação, assim definida por Cohen e Franco (1999): “Diz-se que a efetividade constitui a relação entre os resultados e o objetivo” e citando López, “efetividade é um termo que se usa frequentemente para expressar o resultado concreto – ou as ações conduzentes a esse resultado concreto – dos fins, objetivos e metas desejadas” (López apud Cohen & Franco, 1999:107). Ainda de acordo com os autores, “a efetividade tem duas dimensões em função dos fins perseguidos pelo projeto. É a medida do impacto (...) ou o grau de alcance dos objetivos (...)” (Cohen & Franco, 1999:107). No caso da creche, uma política de gênero com recorte racial não se limita ao atendimento da demanda local, medida pela cobertura no atendimento às crianças na faixa etária de zero a 3 anos de idade. É preciso avaliar o significado daquele serviço para a vida das mães, ou seja, das mulheres que dependem daquele e de outros equipamentos sociais para garantir certa disponibilidade de tempo e de segurança para cuidar dos próprios interesses. A partir desta realidade, é possível aventar diferentes maneiras de aferir o grau de satisfação das mulheres beneficiárias dos serviços da creche naquela comunidade. Além disso, quais seriam os impactos observáveis? Em que medida o serviço acarreta mudanças e/ou benefícios reais para a vida daquelas mulheres? Há efeitos distintos para mulheres brancas e para mulheres negras? Quantas puderam ingressar no mercado de trabalho ou iniciar alguma ocupação remunerada, em casa ou na comunidade? Quantas estão ocupando seu tempo em novas atividades, como um curso, cuidados com a saúde (exercícios físicos), enfim, com atividades em seu próprio benefício? Aumentou seu tempo para descanso? Há uma série de resultados que podem impactar a vida das mulheres, provocando mudanças em seu cotidiano e possibilitando aumento da renda familiar. Os indicadores de resultados, eventualmente com o auxílio de outros instrumentos, também irão medir, em última instância, os impactos daquela intervenção governamental. Tais consequências podem extrapolar os limites do espaço físico que sofreu 122 _ diretamente a intervenção (a comunidade, a cidade, a região, o país), dependendo dos níveis, do tipo e do ritmo das mudanças efetivamente operadas. Assim, os principais objetivos do projeto devem orientar a definição/construção dos indicadores de resultado e de impacto. Também deverão ser criados os indicadores de sustentabilidade. Segundo Borba (1999), “o conceito de sustentabilidade adiciona uma dimensão de tempo à efetividade do projeto”. Isto significa que os/as gestores/as ou coordenadores/as das atividades em curso devem se preocupar com a permanência dos resultados da ação, no médio e longo prazo, após a avaliação final de uma política, um programa ou um projeto. Entende-se que a sustentabilidade das mudanças alcançadas por uma ação governamental dependerá do grau de envolvimento do poder local e das comunidades beneficiadas com as ações implementadas, bem como do real interesse da comunidade (aqui entendido como real necessidade; prioridade para a comunidade beneficiária) e da qualidade dos serviços e/ou bens recebidos. No exemplo referido, o governo federal apoia financeiramente a instalação de uma creche, mas sua sustentabilidade dependerá das condições do poder local para assumir aqueles serviços e a manutenção de sua qualidade, o que exercerá efeito direto no grau de aceitação das mulheres beneficiárias. Ainda que comprovada em uma avaliação inicial, a sustentabilidade de uma ação pode e deve ser aferida periodicamente, quando da implementação do projeto ou na fase de uma avaliação ex-post (tendo em vista a possibilidade de ocorrência de fatores externos). É importante lembrar o lugar que passaram a ocupar as parcerias interinstitucionais na implementação das ações governamentais transversais, como as políticas de promoção da igualdade de gênero e raça. Nesse sentido, as parcerias se apresentam como uma prática inovadora, que estimula as relações intersetoriais no âmbito do governo e deste com a sociedade civil. A partir dessa articulação, os resultados esperados das políticas públicas, dos programas e dos projetos também dependem da divisão de papéis e responsabilidades entre os/as diferentes atores/atrizes que participam da ação conjunta. O monitoramento e a avaliação dos programas de governo conduzidos por meio de parcerias interinstitucionais devem prever o instrumental adequado para a mensuração do desempenho dos/as atores/atrizes envolvidos e/ou da rede de parceiros/as em si – que, algumas vezes, supõe uma nova estrutura, um arranjo gerencial novo, na implementação daquele programa e/ou ação (Leporace, 2000). _ 123 124 _ Sistemas de Informação/Avaliação e Monitoramento do Plano Plurianual De que forma os resultados de uma avaliação desenvolvida em um serviço de ponta são utilizados no desenho de políticas nacionais? Como garantir a integralidade entre os sistemas de informação? A implantação de sistemas de indicadores está incluída entre os esforços de aprimoramento das práticas de planejamento e gestão – com ênfase no planejamento estratégico e avaliação dos resultados de políticas públicas, programas e projetos a cargo das diferentes instâncias governamentais. A criação de sistemas de informação que apoiem o processo decisório é tida como aspecto fundamental da modernização do aparelho administrativo, orientada para a racionalização do gasto público. Este seria um procedimento de gestão estratégica, “com uma clara definição de visão, objetivos e metas, e com critérios e indicadores para poder avaliar o desempenho das organizações e os programas através dos quais se implementam as políticas de governo” (Bozzi, 2001:31). Vale salientar que a produção e a divulgação de informações confiáveis constituem princípios básicos da transparência das ações governamentais – o que, por sua vez, representa condição indispensável para a prática do _ 125 Os níveis de controle e avaliação de resultados são variáveis, conforme a instância decisória ou executora, passando dos planos mais concretos de atuação direta sobre a realidade ao plano da elaboração e gerência dos programas. 126 _ controle social, uma exigência do modelo administrativo, que informa o PPA em qualquer instância do poder público. A avaliação de resultados é realizada nos diferentes níveis das ações implementadas. Assim, em um modelo apoiado em políticas, programas e projetos, a avaliação dos resultados das políticas estará vinculada à dos programas e dos projetos – estes últimos, considerados sistemas de ações mais restritas. Portanto, os níveis de controle e avaliação de resultados são variáveis, conforme a instância decisória ou executora, passando dos planos mais concretos de atuação direta sobre a realidade ao plano da elaboração e gerência dos programas, alcançado os níveis superiores das políticas, que estabelecem os objetivos mais gerais a serem atingidos. Esta hierarquização do processo decisório e das formas de atuar sobre a realidade social supõe sistemas de informações integrados, mas diferenciados, para o acompanhamento e a avaliação de resultados. Estes sistemas se organizam de baixo para cima, como uma pirâmide, cuja base, mais ampla, corresponderia à instância dos projetos, por meio dos quais estão sendo implementadas as ações que, em curto, médio ou longo prazo, irão viabilizar o êxito dos programas e das políticas de governo. Os projetos consistem na instância operacional por excelência, traduzindo, na prática, o que o governo pretende alcançar com as políticas que propõe. Em outras palavras, os grandes objetivos estratégicos do governo, assim como suas principais metas, dependem dos resultados dos PPA dos órgãos setoriais que integram o Plano Plurianual do governo. Assumindo-se que planejamento e gestão constituem as duas faces de um mesmo processo, influenciando-se reciprocamente, os sistemas de informações que os alimentam deverão prever mudanças e ajustes que se façam necessários na formulação e na implementação das ações governamentais. Observe-se que instrumentos de medida e avaliação de resultados integram as exigências de um modelo de gestão que preconiza a transparência das ações governamentais, além de serem orientados pelos interesses e pelas necessidades do/a cidadão/cidadã e de usuários/as de serviços públicos. Nesta perspectiva, os sistemas de informações sobre o desempenho das instituições/setores de governo e dos resultados alcançados contribuem para a consolidação do processo de democratização das relações entre Estado e sociedade, ampliando a participação dos indivíduos e dos grupos nas decisões, e as possibilidades de conhecimento (controle) sobre as formas e os limites da ação governamental no atendimento às necessidades básicas da população. Os grandes objetivos estratégicos do governo, assim como suas principais metas, dependem dos resultados dos Avaliação e Monitoramento do Plano Plurianual PPA dos órgãos O planejamento da programação, o monitoramento da execução orçamentária, a avaliação e a revisão do PPA são setoriais que as peças básicas do ciclo de gestão que, a partir da perspectiva de médio prazo, integrados ao longo de quatro integram o Plano exercícios, viabilizam o alcance dos objetivos de governo. O monitoramento consiste no acompanhamento contíPlurianual do nuo da execução físico-financeira das ações e dos programas do PPA, possibilitando análises para a identificação governo. e a superação das dificuldades enfrentadas. Ao final de cada exercício, efetua-se a avaliação dos resultados da implementação do Plano e seus programas. A revisão dos programas conclui o ciclo de gestão, introduzindo as recomendações de aperfeiçoamento, provenientes da avaliação, na gestão e na concepção dos programas que integrarão a proposta de revisão do PPA e o Projeto de Lei Orçamentária Anual. A realização da avaliação de um programa governamental tem como objetivos: i) aferir, de forma sistemática, seus resultados e compará-los com resultados preestabelecidos; ii) identificar e analisar as causas dos possíveis desvios observados na operação e/ou nos resultados obtidos; e iii) propor recomendações para subsidiar a tomada de deci- _ 127 Os resultados da avaliação ajudam a apontar problemas de execução e indicam oportunidades de melhoria na programação dos órgãos. são acerca das medidas corretivas a serem adotadas para garantir a obtenção dos resultados esperados pela sociedade. O monitoramento é um processo permanente de coleta, análise e sistematização de informações e de verificação do andamento de um programa, em comparação com o desempenho pretendido. É uma atividade gerencial direcionada a uma rápida avaliação da implementação das ações governamentais e do contexto em que ocorrem, de modo a prover a administração de informações sintéticas que permitam identificar e viabilizar a superação de restrições ao andamento do programa em tempo de execução. Na Unidade 2 foi destacada a importância da avaliação anual no modelo de gestão do PPA, que tem como objetivo principal otimizar a obtenção dos resultados previstos nos programas, pela melhoria da gestão e da alocação de recursos no PPA e nos orçamentos anuais da União. Trata-se de um procedimento regular, sistemático e complexo que envolve toda a administração pública federal, sob a coordenação do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), em parceria com os demais ministérios. Seu produto final é o Relatório de Avaliação, encaminhado anualmente ao Congresso Nacional e DISPONIBILIZADO PARA A SOCIEDADE NA INTERNET. Seu objetivo final é melhorar a concepção e a gestão dos programas integrantes do PPA e dos Orçamentos da União, visando à obtenção dos resultados estabelecidos. A avaliação anual do PPA é o principal insumo da revisão do PPA, já que envolve a participação de gerentes de programas, Órgãos Setoriais e o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MP). Os resultados da avaliação ajudam a apontar problemas de execução e indicam oportunidades de melhoria na programação dos órgãos. 128 _ DISPONIBILIZADO PARA A SOCIEDADE NA INTERNET PPA 1996-2011 Acesse os documentos do PPA, publicações e notícias na página do Ministério do Planejamento: http://www.planejamento.gov.br/noticia.asp?p=lst&cat=155&sub=175&sec=10 (link para os quatro últimos planos plurianuais de 1996 a 2011). Acesso em 29/01/2011 _ 129 130 _ Unidade 4 | Elaboração de projetos e legislações O planejamento como alicerce e instrumento da gestão Planejamento: necessidade ou formalidade? Perda ou ganho de tempo? Quem deve estar envolvido/a com o planejamento? A habilidade de gerir não implica apenas estar ciente de seu lugar social, mas também ter condições de operar na esfera pública ou privada. Nas interações sociais os indivíduos constroem e desenvolvem práticas culturais localizadas espacial e temporalmente. Assim, atuam como agentes, produzindo e incidindo cotidianamente na vida em sociedade. Esse lugar de intervenção também deve ser um espaço de reflexão do/a agente. Os/As gestores/as, por exemplo, também ocupam uma posição singular, pois são cidadãos/ãs que percebem, criticam, reivindicam e, ao mesmo tempo, têm o privilégio de operar no âmbito de uma organização, com vistas ao atendimento das demandas sociais que se apresentam. Desse modo, o/a gestor/a, enquanto agente social e formulador/a de política pública, está submetido/a a algumas exigências. Dentre estas, o fato de possuir formação para exercer a função é condição imprescindível. A habilidade de gerir não implica apenas estar ciente de seu lugar social, mas também ter condições de operar na esfera pública ou privada, dominando conhecimentos e meios que possibilitem a promoção de políticas capazes de minimizar as desigualdades de gênero e raça. _ 131 É essencial que o/a gestor/a tenha consciência de que sexismo, racismo e disparidades de gênero e intragênero funcionam como mecanismos estruturantes das desigualdades, e que o combate ao sexismo, ao racismo e a toda e qualquer outra forma de discriminação requer a criação de políticas e de ações afirmativas, com a perspectiva de garantir a igualdade de direitos entre homens e mulheres, entre brancos/as e negros/as. Este/a gestor/a reconhece que é responsabilidade do Estado a garantia desta equidade, por meio de políticas públicas focadas em gênero e raça. Planejamento como instrumento de elaboração da ação Conforme referido, o planejamento configura-se como a possibilidade de estabelecer um caminho para a ação, fixar os objetivos a serem alcançados, calcular as atividades e os meios para torná-los possíveis em determinado intervalo de tempo. Um bom planejamento na área da gestão de projetos é uma condição para que se viabilize o alcance das metas e o domínio das diferentes etapas do processo. No entanto, no caso específico do/a gestor/a de políticas públicas, alcançar o patamar de bom/boa administrador/a pressupõe também incorporar uma cultura democrática e inclusiva à própria gestão, caracterizada basicamente pelo “aperfeiçoamento de práticas adequadas, voltadas para o processo de tomada de decisão” (Campos, Abegão & Delamaro, 2006). Alguns elementos devem ser considerados na construção dessa cultura da gestão, dentre os quais enfatizam-se o compromisso ético, o perfil de gestor/a e o conhecimento do contexto. O compromisso ético é aqui entendido para além de um conjunto de valores morais fundados na lisura e na honestidade, mas como uma atitude de comprometimento do/a gestor/a com os resultados efetivos das ações, com as expectativas do público-alvo e, ainda, com a transformação positiva 132 _ O compromisso ético aqui entendido para além de um conjunto de valores morais fundados na lisura e na honestidade, mas como uma atitude de comprometimento do/a gestor/a com os resultados efetivos das ações. das condições sociais. Isto significa que não se deve ficar preocupado somente em agir de forma transparente, cumprindo os editais de licitações e os prazos de prestação de contas ditados pelas legislações e/ou instituições públicas. Espera-se também do/a gestor/a uma atuação que não se restrinja a um gerenciamento circunscrito aos órgãos públicos, mas que desenvolva competências capazes de perceber e considerar os anseios e as reivindicações manifestados pelos movimentos de mulheres, brancas, negras e das diversas etnias, de modo a assegurar as mudanças esperadas. No que se refere ao perfil, o/a gestor/a deve buscar uma visão crítica, interrogando-se continuamente sobre o sentido de seu agir, com condições de explicitar os problemas que possam surgir no decorrer do processo. O/A gestor/a, planejando bem as ações, será capaz de identificar suas limitações e recorrer à formação complementar, ou ainda, quando perceber que não tem condição de sanar um problema sozinho/a, capacitar os/as executores/as por meio de contratação de consultoria ou cooperação técnica com especialista. Cabe ao/à gestor/a, também, conhecer as competências dos/as profissionais envolvidos/as e primar para que estes/as correspondam às demandas do projeto em curso. Completando o tripé de elementos que perfazem o que denominamos de cultura da gestão, está o conhecimento do contexto de intervenção, abordado aqui como condição intrínseca ao papel do/a gestor/a e elemento imprescindível à realização de seu planejamento. Cabe destacar que o planejamento é iniciado bem antes do/a gestor/a elaborar um projeto, conforme visto na Unidade 2. Estas qualidades são essenciais para que sejam alcançadas a eficiência, a eficácia e a efetividade nas políticas públicas em geral e, notadamente, nas de gênero e raça. A importância de investigar, identificar e compreender as demandas sociais Conforme abordado anteriormente, é imprescindível que o/a gestor/a conheça o contexto em que irá desenvolver determinado projeto social e tenha condições de planejar e definir ações que alterem de forma positiva a situação. Espera-se também que, distinguindo as variáveis que implicam a resolução de um problema, adquira-se uma noção realista do esforço, assim como do custo necessário à intervenção. Por exemplo, um projeto de formação profissional que vise aumentar ou possibilitar renda às mulheres numa dada comunidade deve levar em conta diferentes aspectos, desde a existência de uma creche que acolha os/as filhos/as das mulheres que participarão do _ 133 O diagnóstico consiste na análise da situação-problema ou da realidade sobre a qual se pretende atuar. Essa análise subsidia a formulação de todas as etapas do projeto. curso de formação até uma pequena pesquisa para levantar as demandas do mercado de trabalho local. Na linguagem de gestão de projetos, o diagnóstico consiste na análise da situação-problema ou da realidade sobre a qual se pretende atuar. Essa análise subsidia a formulação de todas as etapas do projeto. O trabalho no diagnóstico é reunir informações das diferentes esferas, por exemplo, dados demográficos, de educação, saúde, renda etc. Todo projeto possui o que se denomina público-alvo, que pode ser caracterizado por sua localização geográfica, faixa etária, uma questão específica, pertencimento racial, de gênero etc. Logo, o público-alvo direto desta proposta são as mulheres brancas e negras. Já os diferentes grupos que poderão ser contemplados com projetos relacionados às temáticas de gênero e raça são os beneficiários indiretos. Cabe ressaltar que, além de conhecer o público-alvo, o/a gestor/a deve saber que a focalização é mais um dos critérios utilizados para formular projetos, pois recorta com maior precisão os/as reais beneficiários/as diretos/as do projeto. Portanto, focar significa uma atuação direcionada ao público-alvo estabelecido, atentando para as distintas particularidades e especificidades, em nosso caso, das mulheres. Por esta razão, é preciso conhecer detalhadamente as características do público-alvo, pois somente assim será possível desenhar um projeto adequado às suas necessidades e características socioculturais. Neste curso tem-se afirmado e demonstrado repetidas vezes que uma política pública composta por programas que não percebam as questões relativas ao feminino e às relações étnico-raciais corre o risco de ser inadequada em função da complexidade dos aspectos envolvidos. Vale reforçar que a premissa para um bom projeto é o conhecimento do contexto e, assim, os benefícios e os resultados se tornam mais satisfatórios. Definindo o foco, controlamos os recursos e temos condições de prever as possíveis insatisfações, o que possibilita ampliar o impacto positivo produzido pelo projeto. 134 _ Um último aspecto a ser destacado consiste no papel dos/as beneficiários/as do projeto. Um/a gestor/a que conhece o público-alvo com o qual vai atuar e a complexidade da problemática em que este grupo está inserido deve ser capaz de envolvê-lo no processo de transformação de determinada realidade. Ressalta-se que a população beneficiária é grande conhecedora de suas reais necessidades, uma vez que vivencia os problemas em seu cotidiano. Tomemos como exemplo as mulheres negras que, em particular, sofrem os impactos do racismo, mesmo que não tenham vivido situações explícitas de discriminação racial. Muitas podem não saber como lidar com a situação ou resolvê-la. Entretanto, quando as ações para solucionar ou minimizar tal problema são definidas sem qualquer participação destas mulheres, pode-se não ter adesão ao projeto e se obter resultados muito aquém do esperado. Desse modo, o êxito de uma intervenção social depende também da capacidade do/a gestor/a de escutar os/as destinatários/as da ação e compreender suas demandas. _ 135 136 _ A relevância da disponibilidade dos recursos Quais os maiores equívocos que um/a gestor/a pode cometer na gestão pública? Como evitá-los? Como distribuir os recursos no decorrer da execução do projeto? Quais ferramentas podem facilitar esta tarefa? Planejar adequadamente a gestão garante a racionalidade no uso dos recursos. Uma das principais orientações na gestão de políticas públicas é a necessidade de saber operar diferentes recursos para o sucesso de um empreendimento. Um pressuposto relevante é a avaliação exata ou, pelo menos, aproximada dos recursos disponíveis ao gerenciamento. O ato de avaliar possibilita não apenas conhecer a dimensão das condições já existentes, como também propicia saber quais meios serão necessários para atingir os objetivos esperados. Portanto, planejar adequadamente a gestão garante a racionalidade no uso dos recursos. Os três elementos que constituem os meios para a execução de um projeto – recursos humanos, materiais e financeiros – precisam ser pensados e estar associados. Um projeto tende ao fracasso quando dispõe de uma quantidade significativa de insumos financeiros, mas seus recursos humanos não são apropriados. Nesse caso, um plano de trabalho bem feito identificará esta carência e irá saná-la, seja com capacitação da equipe _ 137 envolvida, seja mediante contratação de profissionais especializados/as antes do desenvolvimento das atividades. Da mesma maneira, o conjunto de recursos humanos deve estar articulado e corresponder ao montante de equipamentos disponíveis ou necessários à efetivação de um projeto. Em outros termos, uma gestão planejada reflete o controle preciso das ações, dos recursos mobilizados, dos anseios dos/as envolvidos/as e dos resultados. Conforme a especialista em planejamento e gestão de projetos, Heloísa Lück, projetos que estabelecem objetivos e metas, sem efetivamente levar em consideração as condições para implementá-los, podem não passar de sonho. Podem, ainda, contribuir para a construção de uma cultura de desperdício e fracassos crônicos, uma vez que são realizados trabalhos e despendidos recursos e energia, sem chance de sucesso (Lück, 2003:32). Cabe abordar um último elemento, que deve ser considerado de forma substantiva, no planejamento de uma ação: o tempo. É função do/a gestor/a projetar o período necessário para a execução da ação. Quando nos referimos ao tempo, é importante evidenciar que aqui há duas dimensões: uma que envolve a duração do planejamento e a elaboração de um plano de trabalho, ou seja, o tempo despendido para planejar a ação; e outra, relacionada ao período de implementação, que abarca o desenrolar da própria ação, ou seja, do projeto. No que se refere à primeira dimensão, é comum que gestores/as se queixem de estar perdendo tempo com análises prévias e estratégias de ação. Estes/as profissionais acreditam que “tudo se pode conhecer no processo”. Contudo, como já enfatizado neste Módulo, um dos pilares da cultura da gestão é o planejamento, e este incide diretamente no tempo gasto no desenvolvimento do projeto, uma vez que [...] o planejamento é apresentado como a estratégia fundamental para a economia e o bom uso do tempo. É indicado que toda a hora aplicada em planejamento eficiente economiza três ou quatro horas na execução, além de produzir melhores resultados, maximizando o valor do tempo despendido (Lück, 2003:37-38). Para a fase de execução do projeto, considera-se que se há um período menor de tempo para a realização de algo, devemos ter maior atenção para bem utilizá-lo. Assim, o rol de atividades e a condição dos equipamentos disponíveis, por exemplo, implicam a determinação do tempo que deve ser estrategicamente mensurado. De outra forma, incorreríamos no desperdício dos subsídios empregados, sejam eles humanos ou 138 _ financeiros. Para Sérgio Roberto Bacury Lira, o/a gestor/a de políticas públicas deve ter como referência os seguintes pilares: planejamento, transparência, controle e responsabilidade, além da ética, fundamental para nortear sua atuação na sociedade. Ainda segundo o autor, há alguns equívocos aos quais o/a gestor/a deve estar atento no trato das decisões próprias à administração pública: a) Não programar suas ações de forma planejada, mas concebê-las no dia a dia, conforme a urgência de cada situação. b) Não dar importância ao orçamento público, considerando-o como entrave burocrático à sua administração. c) Não gostar de descentralizar decisões, por entender que isto significa perda de poder. d) Não investir em capacitação nem tampouco buscar as melhores referências profissionais. O seu foco é político e não técnico. e) Ter receio de ser transparente, por temer questionamento em torno de suas ações. f ) Não ter o hábito de socializar informações e de utilizá-las em sua estratégia de ação. g) Tentar inventar a roda, quando poderia aperfeiçoar e adequar para a sua realidade as situações já existentes. h) Não acreditar que será punido se cometer erros ou prejuízos à sociedade. i) Administrar a coisa pública como se fosse uma administração doméstica e baseada em contabilidade de botequim. j) Não se preocupar em ser responsável do ponto de vista legal, mas em ser eficiente do ponto de vista político. É consenso que não podemos considerar apenas as boas intenções no que concerne à melhoria das condições de vida e da promoção dos direitos humanos, pano de fundo dos projetos sociais, como as políticas de gênero e raça. Obstáculos devem ser superados pelo/a gestor/a e pela equipe, caso persigam resultados eficazes e custos eficientes e efetivos. Para transpô-los é necessário percorrer um caminho baseado em metas e resultados, organizado num tempo planejado, executado e monitorado. A fase de elaboração e redação do Projeto Básico e do Plano de Trabalho é de extrema importância, uma vez que é determinante no que se refere ao futuro êxito do empre- _ 139 endimento. O/a gestor/a ocupa uma posição singular, pois é ao mesmo tempo agente e componente da sociedade, interventor/a e reflexivo/a. A prerrogativa para este lugar é incorporar uma cultura de gestão baseada na ética, no compromisso social, em uma visão crítica, possuindo a dimensão do que deve e pode ser realizado. Por fim, é essencial uma boa administração dos recursos humanos, materiais e financeiros, assim como gerir bem o tempo na execução de um projeto. Racionalidade no uso dos recursos, além de menor custo aos cofres públicos e/ou financiadores, também irá garantir o sucesso dos resultados, meta perseguida pelo/a cidadão/cidadã comprometido/a social e politicamente com uma causa, e que está na condição privilegiada enquanto gestor/a. Projetos sociais Princípios e Métodos na elaboração de projetos de um grupo de Todo projeto, mesmo surgido em condições consideradas ideais, ou seja, aqueles que dispõem de antemão de recursos materiais, financeiros e humanos, deve cumprir um encadeamento de sete etapas articuladas: formulação/elaboração, implantação/execução, monitoramento/fiscalização e avaliação. A leitura dessa metodologia proposta deve ser capaz de instruir e orientar, mas nunca impedir a criatividade e a sensibilidade necessárias à elaboração de um projeto. pessoas que deseja constituem uma forma de organizar ações para transformar determinada realidade social; são construções transformar boas ideias em boas práticas. Como estudado na Unidade 2, projeto é a unidade mínima de destinação de recursos que, por meio de um conjunto integrado de atividades/ações, pretende transformar uma parcela da realidade, suprindo uma carência ou alterando uma situação-problema. Ele deve estar vinculado à implementação de um Programa. Por esta razão, os projetos sociais de enfrentamento das desigualdades de gênero e raça precisam dialogar com os programas e as políticas contidos no II PNPM e no PLANAPIR. Na acepção geral, projetos são ferramentas de ação que delimitam uma intervenção quanto aos objetivos, metas, formas de atuação, prazos, responsabilidades e avaliação. Projetos sociais constituem uma forma de organizar ações para transformar 140 _ determinada realidade social; são construções de um grupo de pessoas que deseja transformar boas ideias em boas práticas. Projetos sociais locais bem-sucedidos, elaborados e implementados pela sociedade civil organizada podem e devem, inclusive, integrar-se às ações de governo municipais, estaduais ou de instância federal e, assim, serem replicados em escala maior, gerando políticas públicas, cujos impactos para a coletividade serão mais substantivos e benéficos. Por fim, consideramos importante destacar as orientações acerca do que não deve ser feito, como recomenda Lück (2003:30): • • • • • • Gastar recursos sem que nos deem resultados, produzindo o desperdício, o que significa o agravamento da situação que objetivamos resolver, uma vez que os recursos são escassos e sujeitos à fiscalização por outras instâncias. Suscitar esperanças fugidias e destruir a credibilidade da organização. Promover a desesperança dos distintos envolvidos, inclusive para ações futuras. Criar a cultura do “faz de conta”, da ação sem comprometimento e da prática inconsequente. Gerar a cultura do fracasso. Estabelecer dificuldades de gestão. _ 141 INSTRUÇÃO NORMATIVA DA SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL Nº 1, DE 15/01/1997 Disciplina a celebração de convênios de natureza financeira que tenham por objeto a execução de projetos ou a realização de eventos. Acesse a íntegra da lei em http://www.tesouro.fazenda.gov.br/ legislacao/download/contabilidade/in1_97.pdf Acesso em 07/02/2011. LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIA – LDO A LDO tem a finalidade de orientar a elaboração dos orçamentos fiscal e da seguridade social e de investimento das empresas estatais. Busca sintonizar a Lei Orçamentária Anual – LOA com as diretrizes, os objetivos e as metas da administração pública estabelecidas no PPA. De acordo com o parágrafo 2º do art. 165 da CF, a LDO: • compreenderá as metas e as prioridades da administração pública, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro subsequente; • orientará a elaboração da LOA; • disporá sobre as alterações na legislação tributária; e • estabelecerá a política de aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. Saiba mais em http://www.tesouro.fazenda.gov.br/siafi/atribuicoes_01_02.asp Acesso em 07/02/2011. 142 _ Roteiro para elaboração de Projetos Como se elabora um projeto? Quais são os itens que o compõe? O estudo do tema já demonstrou a importância da análise da situação-problema sobre a qual se deseja atuar para transformar de forma concreta uma determinada realidade social. A elaboração do projeto deve atender aos objetivos descritos na ação escolhida, atentando para os critérios estabelecidos nas Chamadas Públicas, nas Normas Técnicas e nos Termos de Referência. As ações contidas no Plano Plurianual (PPA) indicam os objetivos a serem atingidos e norteiam as atividades a serem realizadas. Para a elaboração dos documentos técnicos para celebração de convênios é preciso consultar a INSTRUÇÃO NORMATIVA DA SECRETARIA DO TESOURO NACIONAL Nº 1 DE 15/01/1997, que dispõe sobre a celebração de convênios, bem como suas alterações, a LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIA e a LEI COMPLEMENTAR 101 DE 04/05/00 (LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL). Nos casos dos Termos de Parcerias firmados com Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPs), é necessário seguir as orientações da LEI 9.790 DE 23/03/99 E O DECRETO 3.100 DE 30/06/99. _ 143 LEI COMPLEMENTAR 101 DE 04/05/2000 (LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL) Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal, que pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e se corrigem desvios capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e a condições no que tange à renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária e operações de crédito. Veja a íntegra em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp101.htm Acesso em 07/02/2011. LEI 9.790 DE 23/03/1999 E DECRETO 3.100 DE 30/06/1999 Regulamentam a Lei no 9.790 – Dispõem sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, instituem e disciplinam o Termo de Parceria e dão outras providências. Veja a integra em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9790.htm e http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/decreto/d3100.htm Acesso em 07/02/2011. Apresentaremos a seguir, de forma sucinta, os itens necessários para a elaboração do Projeto Básico e do Plano de Trabalho com foco em gênero e raça. 1. Projeto Básico O primeiro documento técnico a ser elaborado e enviado para a celebração de convênio é o Projeto Básico, no qual devem ser detalhadas todas as informações técnicas necessárias ao apoio financeiro: características do projeto pretendido, indicação do Programa e Ação em que se insere a proposta, cronogramas físico e financeiro, valor da contrapartida financeira, dentre outras. Segue-se, basicamente, o seguinte roteiro: 1.1 Considerações Gerais sobre a instituição proponente Explicitar, de forma sucinta, a natureza e os objetivos do órgão ou instituição, bem como seu comprometimento com as políticas de promoção da igualdade de gênero 144 _ e/ou de raça, e a ligação do projeto com a efetivação das ações governamentais previstas nos planos, nos programas e nas ações em vigor. No caso de órgãos do poder público, cabe destacar, quando couber, a existência de ações nas temáticas de gênero e raça sob sua responsabilidade, e o montante de recursos destinados a este fim. 1.2 Justificativa Fundamentar a pertinência e a relevância do projeto como resposta a um problema ou necessidade identificada de maneira objetiva, enfatizando os aspectos qualitativos e quantitativos. Devem ser incluídos na justificativa o diagnóstico e os indicadores sobre a temática proposta e, especialmente, se houver, a análise da situação em âmbito municipal, estadual ou nacional, conforme a abrangência das ações a serem executadas. 1.3 Objetivos Com base na justificativa apresentada, definir – de forma explícita – o que se pretende alcançar com o projeto. 1.4 Objetivos Específicos Correspondem às ações que se propõe executar visando à implementação do projeto. Os objetivos específicos devem ser realizados durante o prazo estipulado para a conclusão do projeto e precisam guardar plena coerência com as metas e os resultados esperados. 1.5 Metas/Produtos/Resultados Esperados As metas são os resultados parciais a serem atingidos; devem ser concretas e expressar a quantidade e a qualidade do objetivo. A evidente definição das metas possibilitará a avaliação do resultado da ação. Para descrever as metas, é preciso responder: o que almejamos? Para que e quanto queremos? Por fim, é necessário verificar se as metas descritas contemplam todos os objetivos específicos. 1.6 Público-alvo O público-alvo serão os/as beneficiários/as diretos/as do projeto. Ele deverá ser quantificado e caracterizado a partir de critérios, como faixa etária, sexo, raça, etnia, vulnerabilidade social, situação de domicílio (rural/urbano), entre outros. 1.7 Metodologia/Estratégia de Ação Nesta parte é fundamental explicar como o projeto vai atender aos seus objetivos, de _ 145 que forma as atividades serão realizadas, como serão coordenadas as atividades, se o grupo diretamente envolvido participará e de que maneira, além de identificar as parcerias envolvidas no projeto. 1.8. Prazo Deverá estar definido o prazo de duração do projeto, preferencialmente em dias ou meses. Para tanto, precisará ser levado em consideração o período necessário para a concretização de cada meta. Para a determinação do prazo deve-se levar em consideração o grau de dificuldade para a conclusão de cada etapa do projeto. 1.9 Sustentabilidade Neste item é preciso descrever de que modo o projeto terá continuidade após seu término, levando-se em conta os aspectos econômicos e sociais. 1.10 Detalhamento dos Custos Para melhor entendimento, o detalhamento deverá ser apresentado por meio de uma tabela, na qual constará a descrição de todos os itens, quantidades e valores unitários e totais a serem financiados com recursos públicos. O detalhamento dessas despesas, necessariamente, deverá guardar coerência com o objeto proposto. Despesas para aquisição de bens de capital só serão possíveis se o proponente for órgão público. 1.11 Declaração de Contrapartida Este item refere-se aos recursos financeiros que deverão ser oferecidos pelo proponente para o desenvolvimento do projeto. Este recurso poderá ser também em bens e serviços; no entanto, deverão ser mensurados financeiramente. 1.12 Declaração de Adimplência Esta declaração deverá ser elaborada e assinada pelo/a responsável pela instituição proponente, atestando que a mesma não se encontra em débito junto a qualquer órgão da administração pública. 2. Plano de Trabalho O Plano de Trabalho traz os dados cadastrais da instituição proponente e um resumo do projeto. O Plano de Trabalho é uma forma mais objetiva de apresentar o Projeto Básico. Assim, é composto por algumas planilhas, que buscam contribuir para melhor planejar a implementação do projeto. Apresentamos as planilhas consideradas essenciais: 146 _ 2.1 Cronograma de Execução O cronograma de execução deverá retratar as metas e as etapas, com as especificações, o indicador físico, o valor, as realizações físicas de acordo com as unidades de medidas, a unidade de medida, o início e o término da execução de cada uma até a finalização do prazo previsto para a conclusão do projeto. É importante ressaltar que as metas listadas neste item devem estar de acordo com o previsto nos objetivos específicos informados no Projeto Básico. 2.2 Plano e Aplicação Refere-se ao desdobramento da alocação dos recursos no transcorrer do projeto. A alocação dos recursos e a sua consequente utilização devem estar agrupadas por tipos de gastos, que precisam ser correspondentes aos elementos de despesa, de acordo com a legislação vigente. 2.3 Cronograma de Desembolso a) Do Concedente: preencher, dividindo o valor total do projeto em, no máximo, duas parcelas, se possível, prevendo os valores que serão gastos com as etapas a serem realizadas naquele período. A indicação de até duas parcelas é efetuada tendo em vista que a legislação exige que, a partir da terceira parcela, o proponente deve prestar contas parciais da primeira parcela. No caso de quatro parcelas, prestará contas da segunda, e assim sucessivamente. b) Do Proponente: registrar o valor a ser desembolsado pelo proponente. Nesta parte, o proponente poderá escolher em quantas parcelas irá disponibilizar sua contrapartida, sendo que elas não poderão exceder o prazo final do projeto. GLOSSÁRIO Metas – Você precisa ter metas para atingir seu objetivo. As metas geralmente trazem números, porcentagens e prazos a serem atingidos. Trazem conteúdos quantitativos e qualitativos. Para a realização da meta você tem que executar algumas atividades. Etapas – Cada meta está subdividida em etapas, que dizem respeito a cada uma das ações e atividades que devem acontecer para se atingir a meta. A etapa organiza o que será desenvolvido, e estabelece as prioridades de execução das diferentes partes até que se complete o todo e se realize a meta. _ 147 PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 127, DE 29 DE MAIO DE 2008 Alterada pelas Portarias n° 165, 342, 404, 268, 534 e 23 de 20/6, 05/11 e 23/12/08, 25/8, 30/12/09 e 19/1/10. O documento pode ser consultado em https://www. convenios.gov.br/portal/arquivos/Portaria_127_ com_suas_alteracoes_ultima_19jan10.pdf Acesso em 05/02/2011. 148 _ Formalização de Convênios e da Prestação de Contas, Termo de Cooperação e Termos de Parcerias Qual a legislação que regula os convênios? E as parcerias? Como são elaboradas as prestações de contas? Quando da formalização de convênio, faz-se necessário observar a legislação que a regula. A PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 127, DE 29 DE MAIO DE 2008, dispõe sobre as normas relativas às transferências de recursos da União, por meio de Convênios, Termos de Parceria, Termos de Cooperação – no caso das Instituições Federais – e Contrato de Repasse. Dessa forma, toda instituição pública ou privada que tiver interesse em receber recursos da União por meio de Convênios deverá se credenciar no Portal dos Convênios pelo sistema SICONV, e se dirigir a uma unidade cadastradora no estado em que estiver localizada. É importante observar os procedimentos e a documentação exigida, conforme artigos 17 e 18 da citada Portaria, no ato do cadastramento, tanto para as entidades privadas sem fins lucrativos quanto para os entes federados. Os Termos de Cooperação que são firmados com as Instituições Federais continuam sendo firmados fora do sistema, porém, o processo será formalizado com toda a documentação exigida na legislação. _ 149 Os percentuais da contrapartida levam em consideração, entre outros critérios, a localização regional das instituições proponentes. Cabe citar algumas legislações complementares que tratam dessa matéria. A Lei de Diretrizes Orçamentárias nº 12.017, de 12 de agosto de 2009, em sua Seção III, nos artigos 32 a 38, descreve as formas de transferências de recursos públicos para as Entidades Privadas sem Fins Lucrativos. Inclusive, as que são certificadas como entidades beneficentes de assistência social, com certificados expedidos pelo Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS1, ou por órgão governamental na área de saúde. Aqui também se incluem as OSCIPs – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, para as quais é facultado pela legislação o financiamento de bens de capital. Neste caso, o repasse ocorre por meio de um Termo de Parceria e tem como legislação específica a Lei 9.790, de 1999, e o Decreto 3.100, de 1999. Ainda sobre a Seção III, os artigos 39 a 46 tratam A quantidade das transferências de recursos para os entes federados; nela é citado o art. 25 da Lei Complementar nº de habitantes do 101/2000, que diz respeito à comprovação da existência da previsão da contrapartida na Lei Orçamentária município é outro dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. É nesta Seção que são também abordados os percenindicador do cálculo tuais da contrapartida, que levam em consideração, entre outros critérios, a localização regional do percentual. das instituições proponentes. A quantidade de habitantes do município é outro indicador do cálculo do percentual. No caso das instituições privadas sem fins lucrativos, leva-se em consideração sua localização regional. Cabe frisar que esses percentuais podem ser reduzidos “mediante justificativas do titular do órgão concedente, que deverá constar do processo correspondente quando os recursos são transferidos pela União”, dentre outros, para os convênios que dizem respeito às ações previstas nos Programas prioritários do respectivo órgão. 1 | Acesse http://www.mds.gov.br/cnas/registro-e-certificado para se informar sobre Registro e Certificados do CNAS. Acesso em 07/02/2011. 150 _ A contrapartida, quando em bens e serviços economicamente mensuráveis, precisa ser formulada em uma Cláusula do Termo de Convênio, que deverá estar fundamentada pela Concedente. Portanto, há necessidade de informação por parte do proponente sobre a forma de aferição dos itens que compõem a contrapartida, que devem estar de acordo com os preços praticados no mercado. Quando a contrapartida for financeira, precisará ser creditada na conta específica do convênio. Quanto ao Plano de Trabalho, de acordo com o art. 21, da Portaria 127/2008, é importante que os itens abaixo estejam preenchidos no SICONV com a máxima clareza, para que o projeto seja avaliado da melhor forma possível: Justificativa para a celebração do instrumento; Descrição completa do objeto a ser executado; • Descrição das metas a serem atingidas; • Definição das etapas ou fases da execução; • Cronograma de execução do objeto e cronograma de desembolso; e • Plano de aplicação dos recursos a serem desembolsados pela concedente e da contrapartida financeira do proponente, se for o caso. • • Vale ressaltar o art. 22: O Plano de Trabalho será analisado quanto à sua viabilidade e adequação aos objetivos do programa e, no caso das entidades privadas sem fins lucrativos, será avaliada sua qualificação técnica e capacidade operacional para gestão do instrumento, de acordo com critérios estabelecidos pelo órgão ou entidade repassador/a dos recursos. O projeto básico ou o termo de referência é peça fundamental para a celebração do convênio e deve ser anexado ao SICONV para análise prévia, ou seja, antes da assinatura do convênio. Há ainda as condições para celebração dos convênios que dizem respeito ao cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal 101/2000 (CAUC), no caso dos estados e dos municípios. Na Lei de Diretrizes Orçamentárias, conforme descreve o art. 24 da Portaria 127/2008, deve-se observar também os artigos 25 e 26 da citada Portaria nº 127/2008, que especifica vários outros itens, de acordo com cada situação. _ 151 O CADASTRO ÚNICO DE CONVÊNIO (CAUC) Criado pela Instrução Normativa (IN) nº 1, de 4 de maio de 2001, sucedida pela Instrução Normativa nº 1, de 17 de outubro de 2005, ambas da Secretaria do Tesouro Nacional (STN). O CAUC consiste num subsistema desenvolvido dentro do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (SIAFI), disponibilizado em rede a todas as unidades do governo federal e, na internet, no sítio da Secretaria do Tesouro Nacional. São objetivos: 1. Simplificar a verificação, pelo/a gestor/a público do órgão ou entidade concedente, do atendimento pelo convenente e pelo ente federativo beneficiário de transferência voluntária de recursos da União, das exigências estabelecidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e demais legislação aplicável, reduzindo assim a burocracia desse processo e o volume de papéis, otimizando o arquivamento e o espaço físico para guarda. 2. Consolidar as exigências da Constituição Federal, da Lei de Responsabilidade Fiscal e de outras fontes legais e normativas necessárias à realização de transferências voluntárias. 3. Clarificar e precisar as exigências da Lei de Responsabilde Fiscal, evitando-se dúvidas quanto à natureza dos documentos. 4. Ampliar o nível de controle de exigências, possibilitando transparência e exercício de cidadania, na medida em que permite o acesso pela internet. 5. Facilitar a entrega de documentação administrativa, financeira e contábil produzida pelo ente federativo, tais como Relatório de Gestão Fiscal, Relatório Resumido da Execução Orçamentária e Balanço Anual, considerando que o convenente entrega esses documentos uma única vez, e não mais como antes, nos diversos órgãos concedentes. Para saber mais consulte https://consulta.tesouro.fazenda.gov.br/cauc/index_regularidade.asp Acesso em 07/02/2011. As entidades privadas sem fins lucrativos, quando da execução dos convênios, deverão observar os artigos 45 a 48, da Portaria nº 127/2008, que esclarecem a forma de contratação de prestação de serviços por meio da cotação prévia de preço. Tem como obrigação observar os princípios da impessoalidade, da moralidade e da economicidade. São exigidos, no mínimo, três orçamentos e a contratação dos fornecedores ou prestadores de serviços entre os que participaram da cotação dos preços, que deverá selecionar a proposta mais vantajosa em decisão fundamentada. Apresenta-se, porém, uma ressalva: no caso de não haver no mínimo três interessados, é necessária uma pesquisa de mercado antes da contratação. 152 _ Quanto aos entes federados, “Para aquisição de bens e serviços comuns, será obrigatório o uso da modalidade pregão, nos termos da Lei nº 10.520, de 17 de julho de 2002, e do regulamento previsto no Decreto nº 5.450, de 31 de maio de 2005, sendo utilizada preferencialmente a sua forma eletrônica”. A Prestação de Contas é regulamentada pelos artigos 57 a 60 da Portaria nº 127/2008. De acordo com a legislação, o órgão ou a entidade que receber recursos da União ficará sujeito a prestar contas do total dos recursos recebidos no prazo máximo de 30 dias, contados do término da vigência do convênio ou contrato, ou do último pagamento efetuado, quando este ocorrer em data anterior àquela do encerramento da vigência. A prestação de contas será composta, além dos documentos e das informações apresentados pelo/a convenente ou contratado/a no SICONV, dos seguintes documentos: Relatório de cumprimento do objeto; • Declaração de realização dos objetivos a que se propunha o instrumento; • Relação de bens adquiridos, produzidos ou construídos, quando for o caso; • Relação de treinados ou capacitados, quando for o caso, incluindo lista de presença; • Fotos, exemplares de publicações e de material gráfico; • Declaração firmada pelo agente público responsável informando que a aquisição de equipamentos está disponível para o cumprimento do objeto proposto; • Relação dos serviços prestados, quando for o caso; • Comprovante de recolhimento do saldo de recursos, quando houver; • Termo de compromisso por meio do qual o/a convenente ou o/a contratado/a será obrigado a manter os documentos relacionados ao convênio ou contrato de repasse, nos termos do § 3º do art. 3º da Portaria nº 127/2008. • A prestação de contas pode ocorrer de forma parcial e final, ou somente final. A liberação de parcelas fica condicionada à prestação de contas parcial; por exemplo, para liberação da terceira parcela é necessário prestar contas da execução da primeira; para liberação da quarta parcela deverá ser apresentada a prestação de contas da execução da segunda, e assim sucessivamente. Ressalta-se, por fim, que o/a proponente pode verificar, ao longo da implementação do projeto, a necessidade de promover alteração em alguma etapa, no prazo de duração do convênio ou até mesmo verificar a necessidade de utilizar sobras de recursos; mas, _ 153 antes de qualquer alteração ou qualquer gasto não previsto inicialmente, é necessário solicitar autorização para o órgão concedente, através de ofício e enviando novo Plano de Trabalho com a alteração proposta. Para quem está entrando em contato com este tema pela primeira vez, pode até parecer muito complexo e difícil elaborar um projeto. Se for este o seu caso, não desanime. Retome os conteúdos, selecione algum projeto do seu local de trabalho, leia e identifique cada uma das etapas propostas. Converse com outros/as cursistas, tire dúvidas com os/as tutores/as. Coloque seus conhecimentos em prática. 154 _ bibliografia ABRAMO, L. Perspectiva de Gênero e Raça nas Políticas Públicas. Série Mercado de Trabalho. [s.l.]: IPEA, n. 25, nov. 2004. Disponível em <http://www.ipea.gov.br/pub/bcmt/mt_25e.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2011. ABRÚCIO, L. F. Trajetória recente da gestão pública brasileira: um balanço crítico e a renovação da agenda de reformas. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, v. 41, n. spe, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S0034-76122007000700005>. Acesso em: 31 jan. 2011. _______; GAETANI, F. Avanços e Perspectivas da Gestão Pública nos Estados: Agenda, Aprendizado e Coalizão. 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Decreto nº 1.819, de 16 de fevereiro de 1996. Disciplina as transferências de recursos da União por intermédio de instituições e agências financeiras oficiais federais e dá outras providências. DOU: Brasília, 16 fev. 1996. _______. Decreto nº 3.100, de 30 de junho de 1999. Regulamenta a Lei no. 9.790, de 23 de março de 1999, que dispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, institui e disciplina o Termo de Parceria, e dá outras providências. DOU: Brasília, 30 jun. 1999. _______. Decreto n. 4.887, de 20 de novembro de 2003. Regulamenta os procedimentos para identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos. DOU: Brasília, 21 nov. 2003, p. 4. _ 157 _______. Decreto nº 5.450, de 31 de maio de 2005. Regulamenta o pregão, na forma eletrônica, para aquisição de bens e serviços comuns, e dá outras providências. DOU: Brasília, 01 jun. 2000. _______. Decreto n. 6.872, de 04 de junho de 2009. Aprova o Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial – PLANAPIR, e institui o seu Comitê de Articulação e Monitoramento. DOU: Brasília, 04 set. 2009. Seção 2, p. 3. _______. Decreto nº 93.872, de 23 de dezembro de 1986. Dispõe sobre a unificação dos recursos de caixa do Tesouro Nacional, atualiza e consolida a legislação pertinente e dá outras providências. DOU: Brasília, 24 dez. 1986. _______. Decreto nº 99.658, de 30 de outubro de 1990. Regulamenta no âmbito da Administração Pública Federal, o reaproveitamento, a movimentação, a alienação e outras formas de desfazimento de material. _______. Instrução Normativa n. 1, de 15 de janeiro de 1997 – MEFP n. 822. Disciplina a celebração de convênios de natureza financeira que tenham por objeto a execução de projetos ou realização de eventos e dá outras providências. DOU: Brasília, 31 jan. 1997. _______. Lei n. 1.493, de 13 de dezembro de 1951. Dispõe sobre o pagamento de auxílios e subvenções. [s.e.]: Rio de Janeiro, 13 mai. 1951. _______. Lei n. 8.036, de 11 de maio de 1990. Dispõe sobre Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, e dá outras providências. DOU: Brasília, 14 mai. 1990. _______. Lei n. 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências. DOU: Brasília, 14 ago. 1998. _______. Lei n. 8.838, de 30 de dezembro de 1991. Institui a Unidade Fiscal de Referência, altera a legislação do imposto de renda e dá outras providências. DOU: Brasília, 31 dez. 1991. _______. Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993. 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