FUNDAÇÃO DE ENSINO OCTÁVIO BASTOS
FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA
“INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO HOMEOPÁTICO DE MASTITE COM
MASTSIGO® NA CONTAGEM DE CÉLULAS SOMÁTICAS”
SÃO JOÃO DA BOA VISTA, SP, JULHO DE 2008.
1. INTRODUÇÃO
Nos rebanhos leiteiros em geral, os animais estão sujeitos a uma série
de problemas sanitários, como a mastite. Segundo CARVALHO et al.
(2007), as perdas com mastite levam à redução da quantidade de leite e
mudanças na composição do leite, que representa para as indústrias de
laticínios, problemas no processamento, redução do rendimento industrial e
produtos lácteos com baixa qualidade e estabilidade.
De acordo com MACHADO et. al. (2000), as células somáticas são
células que migram para o interior da glândula mamária, com o objetivo de
combater agentes agressores, mas também podem ser resultados de
descamações das células secretoras.
VOLTOLINI et al. (2001), cita que dentre os fatores que influenciam a
CCS, estão a idade da vaca, as estações do ano, o estresse e o estágio de
lactação, sendo este último associados a vacas livres de infecções na
glândula mamária, pois no início da lactação, o acréscimo no valor da CCS
é devido à presença de imunoglobulinas no leite. No final da lactação o
aumento da CCS justifica-se pela maior descamação natural do epitélio da
glândula mamária.
Segundo resultados obtidos na pesquisa de CADEMARTORI (2001), a
CCS contribui para o diagnóstico de mastite bovina quando aliado aos
outros testes indicadores, como por exemplo, o CMT e as lactoculturas.
O CMT (Califórnia Mastite Teste), é um teste que se baseia na reação
de um detergente aniônico adicionado de púrpura de bromocresol. Na
presença do reagente, ocorre a liberação do ácido desoxirriboucleico (DNA)
presente no núcleo das células somáticas, causando a geleificação do leite
e a modificação da cor do indicador. Portanto, indiretamente, o número de
leucócitos pode ser determinado pelo CMT, pois quanto maior a quantidade
de células, mais forte a reação. (EMBRAPA, 1984).
Utilizando-se dos métodos de diagnóstico apresentados (CCS e CMT), e
da lactocultura para identificação de pátogenos, o presente trabalho visa
demonstrar a influência do medicamento homeopático MastiSigo® sobre a
CCS.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
O trabalho foi conduzido em parceria com a Fundação de Ensino
Octávio Bastos (UNIFEOB), na fazenda CAMPO DA PRATA, localizada em
São João da Boa Vista – SP, no período de outubro de 2007 a Julho de
2008. Foram selecionadas para o experimento 20 vacas holandesas,
malhadas de preto, de terceira e quarta cria, produção média de 20
litros/dia, submetidas a manejo com ordenhadeira, duas ordenhas por dia,
em diferentes fases de lactação.
Semanalmente, foram efetuados o Califórnia Mastite Teste (CMT), a
Contagem de Células Somáticas (CCS), a avaliação da gordura e proteína
do leite. Tanto as amostras positivas para CMT quanto as negativas foram
enviadas pra a Clínica do Leite, na ESALQ – Piracicaba – SP, para a
realização dos demais testes.
As vacas foram ordenhadas duas vezes ao dia, sendo a primeira
ordenha realizada às 6:00h. e a segunda às 16:00h. Antes e após cada
ordenha, realizava-se o pré-dipping com solução de hipoclorito de sódio e o
pós-diping com solução de iodo glicerinado. O teste do CMT foi realizado
antes da ordenha em bandeja própria para realização do teste, onde são
colhidas amostras de leite diretamente dos tetos, sendo que os três
primeiros jatos devem ser desprezados. A seguir, adicionou-se a mesma
quantidade que havia de leite, em quantidade de reagente (2 ml. ). Para
homogeinização da mistura, a bandeja foi levemente agitada, durante 1
minuto. O reagente utilizado foi o CMT encontrado em casas agropecuárias,
constituído por 300ml. de detergente aniônico com 600 ml. de água
destilada, acrescidos de 5 ml. de verde de bromocresol (a 0,5%).
As coletas das amostras para a CCS foram realizadas em cada teto
separadamente e acondicionadas em frascos de plástico, com capacidade
para 60ml. Os frascos continham dicromato de potássio, na concentração
de 155 mg, em pastilhas, para conservação do leite e no primeiro mês de
coleta, os animais não receberam nenhum tipo de tratamento, somente
higienização pré ordenha com solução de hipoclorito de sódio e pós
ordenha com iodo glicerinado.
Conforme metodologia de VOLTOLINI (2001), a CCS foi realizada em
contador eletrônico de células somáticas, onde os núcleos das células são
corados e expostos a raio laser, refletindo luz vermelha. Os sinais são
transformados em impulsos elétricos que são detectados por um
fotomultiplicador e transformados em contagens, cujos resultados são
visualizados e impressos em relatório. Todos os resultados do teste de
CCS foram confrontados com o teste de CMT para se obter a correlação
entre ambos. Igualmente, foi realizado outro contraste, comparando-se os
resultados da CCS de vacas tratadas com homeopatia e de vacas tratadas
com flumetasona , neomicina e espiramicina.
Os animais foram divididos em dois lotes de dez vacas com histórico
constante de mastite, denominados Grupo 1 – o que recebe tratamento com
MastiSigo e Grupo 2 – tratamento com antimastítico convencional.
Durante o primeiro mês de experimento, apenas foram coletadas
amostras semanais dos leites, bem como a realização do teste de CMT
para se obter dados prévios aos tratamentos.
A partir do segundo mês, no grupo 1, foram utilizadas 10 gramas/dia de
MastiSigo® adicionados à ração das vacas. No grupo 2, o tratamento
instituído foi o comumente utilizado na região de São João da Boa Vista,
para o tratamento de mastite, constituído por um antimastítico a base de
neomicina, espiramicina e flumetasona, indicado para vacas em lactação,
para o tratamento de mastites sub-clínicas, agudas ou crônicas. O
tratamento foi realizado de acordo com as especificações do fabricante,
conforme consta na bula, sendo os tetos acometidos (CMT +) ordenhados,
limpos e desinfetados, para então receberem 10 ml. do medicamento
indicado.
Os tratamentos indicados foram mantidos por nove meses.
Para as análises estatísticas dos dados, foi empregado o método dos
quadrados mínimos. No modelo estatístico, são considerados os efeitos de
animal e mês de coleta para avaliar a CCS das vacas. Y ij = �+ V i + E j +
b(D i – D ) + e ij em que: Y ij = variável observada; � = constante geral; V i
= efeito da vaca i (i = 1, 2, ... 20); E i = efeito o mês de coleta j (j = 1, 2,
3...12); b = coeficiente de regressão linear da CCS em função do dia de
lactação; D i = dias de lactação da vaca i; D = média dos dias de lactação; e
ij = erros associados as observações Y ij .
3. RESULTADOS
3.1 Teste CMT
A leitura dos resultados segue a tabela:
Tabela 1. Interpretação dos resultados do teste CMT:
Leitura:
Negativo
Fracamente Positivo (+)
Distintamente Positivo (++)
Fortemente Positivo (+++)
Apresentação da amostra
Fluida, sem precipitações.
Distinta precipitação, sem formação
de gel.
Apresenta formação gelatinosa.
Apresenta formações gelatinosas e
umbelização central.
Fonte: EMBRAPA GADO DE LEITE (1984)
Tabela 2. Avaliação dos animais do grupo 1 com o teste de CMT:
MÊS
DE Número
de Número
de Número
de Número
AVALIAÇÃO
testes
testes +
testes ++
testes +++
negativos
OUTUBRO
0
40
24
96
NOVEMBRO
0
34
38
88
DEZEMBRO
0
24
74
62
JANEIRO
0
52
70
38
FEVEREIRO
10
62
54
34
MARÇO
14
90
46
10
ABRIL
24
94
36
6
MAIO
84
56
20
0
JUNHO
130
30
0
0
JULHO
142
18
0
0
de
Tabela 3. Avaliação dos animais do Grupo 2 com o teste de CMT:
MÊS
DE Número
AVALIAÇÃO
testes
de Número
de Número
de Número
testes +
testes ++
testes +++
negativos
OUTUBRO
0
34
24
102
NOVEMBRO
0
50
26
84
DEZEMBRO
32
37
38
53
JANEIRO
35
60
36
29
FEVEREIRO
28
58
74
0
MARÇO
23
54
83
0
ABRIL
26
40
87
7
MAIO
84
42
21
13
JUNHO
98
46
16
0
JULHO
132
20
8
0
de
Resultados dos testes de CCS, GORDURA E PROTEÍNA
Tipo da unidade de análise: Quartos mamários
Grupo: 1
Mês
de CCS
média Proteína
Gordura
avaliação
do mês
média do mês média do mês
OUTUBRO
1365
2,92
3,26
NOVEMBRO
1416
3,26
3,81
DEZEMBRO
1557
3,11
2,97
JANEIRO
1025
2,92
3,50
FEVEREIRO
880
3,05
3,32
MARÇO
798
3,42
3,94
ABRIL
549
3,61
4,56
MAIO
482
3,10
4,28
JUNHO
364
3,27
4,26
JULHO
297
3,32
4,58
Grupo: 2
Mês
de CCS
média Proteína
Gordura
avaliação
do mês
média do mês média do mês
OUTUBRO
1414
2,87
3,26
NOVEMBRO
1211
3,30
3,42
DEZEMBRO
1093
3,03
2,11
JANEIRO
699
2,97
3,67
FEVEREIRO
528
3,23
3,53
MARÇO
622
2,98
3,58
ABRIL
1314
3,27
3,25
MAIO
1132
3,16
3,56
JUNHO
987
3,27
3,29
JULHO
749
2,77
4,08
4. Considerações Finais
De acordo com os resultados obtidos até o momento, pôde-se avaliar que o
medicamento homeopático para controle de mastite, MastiSigo®, reduz
significantemente a contagem de células somáticas, bem como os casos de
mastite clínica e sub-clínica dos animais tratados, mantendo o padrão de
qualidade do leite ao longo do tratamento, bem como a saúde dos quartos
mamários.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CADEMARTORI, A.G. Contagem eletrônica de células somáticas no
leite como método auxiliar no controle de mastite bovina em ma
propriedade leiteira no Rio Grande do Sul. Arquivos da Faculdade de
Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 29(1): 6970, 2001;
CARVALHO, L.B.; AMARAL, F.R.; BRITO, M.A.V.P., LANGE, C.C.;
BRITO, J.R.F., LEITE, R.C. Contagem de células somáticas e
isolamento de agentes causadores de mastite em búfalas. Arquivo
Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia. v.59, n.1, p. 242-245,
2007;
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa em Gado de Leite. Mastite
bovina: causas e consequências na produção e qualidade do leite
do gado mestiço da microregião de Juiiz de fora – MG. 3.ed. Coronel
Pacheco, MG:Embrapa- CNPGL, 1984. 8 p. (Circular Técnica, 3).
MACHADO, P.F.; PEREIRA, A.R.; SILVA, L.F.P.; SARRIÉS, G.A.
Células Somáticas no leite em rebanhos brasileiros. Scientia Agrícola,
v. 57, n.2, p. 359-361, abr./jun. 2000;
MULLER, E.E. Qualidade do leite, células somáticas e prevenção da
mastite. Anais do II Sul-Leite: Simpósio sobre Sustentabilidade da
Pecuária Leiteira na Regiã Sul do Brasil. Maringá: UEM/CCA, p. 206217, 2002.
VOLTOLINI, T.V. et al. Influência dos estádios de lactação sobre a
contagem de células somáticas do leite de vacas da raça holandesa e
identificação de patógenos causadores de mastite no rebanho. Acta
Scientiarum. Maringá, v. 23, n. 4, p. 961-966, 2001;
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Influência do tratamento homeopático de Mastite