XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
USO DE TECNOLOGIAS NA PRODUÇÃO
DE LEITE NO SUL DA BAHIA: UM
ESTUDO DE CASO
Fabio Ferreira Santos (UESC )
[email protected]
Talles Silva Miranda (UESC )
[email protected]
Rodrigo Guimaraes do Nascimento (UESC )
[email protected]
O declínio da lavoura cacaueira por conta da vassoura-de-bruxa no
Sul da Bahia fez com que a produção de leite surgisse como uma das
alternativas econômicas para a região. A quantidade de terras
disponíveis para pastagem e o alto índice pluuviométrico contribuíram
para o rápido crescimento da população de gado leiteiro e
consequentemente um reaquecimento da economia local. Diante disso,
o artigo tem a proposta de investigar o emprego de tecnologias na
produção do leite e traçar um perfil de duas indústrias de lacticínios.
Por meio de uma pesquisa exploratória realizou-se o levantamento de
informações e dados na região.
Palavras-chaves: Leite, tecnologia, investigação, manufatura.
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1. Introdução
No final do século XIX e início do século XX, a cultura cacaueira teve seu grande ápice e
com isso o Brasil se tornou um dos maiores exportadores de cacau do mundo. A cultura do
cacau encontrou no sul da Bahia características físicas favoráveis, como solos férteis e clima
para a sua expansão, provenientes da mata atlântica. No entanto, a partir de 1989, com o
advento da vassoura-de-bruxa, uma praga fungíca típica de cacaueiros, houve um declínio da
cacauicultura e da economia regional provocando impactos econômicos e sociais negativos
para a região (SOUZA, 2001).
Com a crise da lavoura cacaueira no sul da Bahia, alguns agropecuaristas viram na produção
de leite uma alternativa econômica viável, uma vez que possuíam uma grande quantidade de
área verde, condições físicas e outros fatores político-sócio-econômicos que atendiam as
necessidades para a realização desta atividade.
Entretanto, como a maioria dos planejamentos e execuções de atividades propulsoras para o
país, a implantação da produção de leite no sul do Estado também aconteceu de forma
desordenada, sem um planejamento eficaz.
Com maior rebanho bovino e uma das maiores bacias leiteiras do Estado da Bahia, a região
sul do Estado ocupa grande importância no setor, tendo grande potencial leiteiro. No entanto,
quando se trata de produtividade, nota-se que sua capacidade produtiva não é tão eficiente
frente as suas potencialidades. E isso justifica a necessidade de enfatizar o uso de tecnologias
para aumentar a competitividade, a qualidade, a produtividade e reduzir os custos.
Diante das dificuldades do setor leiteiro busca-se identificar tecnologias que envolvem a
integração de sistemas de manufatura (CIM – Manufatura Auxiliada por Computador) e PCP
(Planejamento e Controle da Produção). Adicionalmente, pretende-se traçar um perfil das
atuais tecnologias empregadas e para tal propósito foram investigadas duas indústrias e uma
propriedade pecuária que permitiram uma comparação entre teoria e prática no que diz
respeito a utilização dessas ferramentas.
Este estudo está estruturado da seguinte forma: inicialmente é apresentado um referencial
teórico sobre os tipos de tecnologia CIM e PCP aplicadas ao setor leiteiro, em seguida, a
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metodologia utilizada no estudo de caso e finalmente são discutidos os resultados e as
conclusões.
2. Marco Teórico
O uso de tecnologias é uma realidade do mercado e representa um diferencial essencial para a
competitividade e o crescimento de uma indústria. Para o setor leiteiro não é diferente, pois o
uso das mesmas pode melhorar a produtividade, a qualidade, reduzir desperdícios e
consequentemente aumentar a lucratividade. De acordo com Faria (2001), muitas das tarefas
de rotina de um sistema de produção de leite podem ser automatizadas, o que possibilita a
construção de sistemas controlados bastante eficientes.
A partir das tecnologias disponíveis no mercado, os estudos do planejamento e controle da
produção (PCP) e da manufatura auxiliada por computador (CIM) representam uma opção
vantajosa e de suma importância nesse cenário, pois o elo entre as duas vertentes é capaz de
interagir com toda cadeia produtiva do leite de forma eficaz. Uma vez que o objetivo principal
do PCP é comandar o processo produtivo, transformando informações de vários setores em
ordens de produção e de compra - para tanto exercendo funções de planejamento e controle de forma a satisfazer os consumidores com produtos e serviços e os acionistas com lucros
(MARTINS, 1993). Já o CIM é uma ferramenta, ou uma abordagem para a integração da
organização e gerenciamento do sistema de manufatura, visando alcançar um fluxo de
informações contínuo, eficiência, aumento de qualidade, rápido desenvolvimento de produtos
e flexibilidade (RAMAMURTHY, 1992).
Para que o PCP funcione de forma adequada e atenda as necessidades de sua utilização é
recomendado que estejam inseridas em seu escopo atividades básicas que são executadas por
sistemas de informação, as quais realizam:
 O planejamento das necessidades dos materiais (MRP-Material Requirements
Planning);
 O planejamento dos recursos de produção (MRPII-Manufacturing Resources
Planning);
 A integração sistematizada da gestão da produção (ERP-Enterprise Resource
Planning).
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Esses três sistemas podem ser empregados no processamento do leite. O MRP tem como
principais objetivos permitir o cumprimento dos prazos de entrega com a mínima formação de
estoques, planejando as compras e produção de itens componentes (CORREA; GIANESI,
1993), sendo que em um setor alimentício como é o caso do setor leiteiro, é importante evitar
grandes estoques devido à perecibilidade do produto. Já o MRPII aborda os aspectos do MRP,
além do cálculo e planejamento dos recursos a serem utilizados tais como a capacidade de
máquina, os recursos humanos necessários, recursos financeiros. E finalmente, o ERP permite
a indústria automatizar e integrar a maioria dos seus processos compartilhando práticas
operacionais e informações comuns armazenadas em bancos de dados distribuídos por toda
indústria (TUBINO, 2008). Dessa maneira, na indústria do leite é possível melhorar a forma
de visualizar a produção, a área financeira e os demais setores, com grande dinamismo e
riqueza de dados.
A abordagem ao CIM pode ser entendida pelo modelo Y que representa graficamente a
integração de atividades das áreas de engenharia do produto, engenharia do processo (ou
industrial), planejamento do processo, produção e vendas/marketing, conforme a Figura 1. No
lado esquerdo do modelo Y estão encadeadas as atividades de planejamento e controle da
produção (PCP), enquanto do lado direito estão às atividades técnicas de engenharia e
produção (SCHEER, 1993).
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Figura 1- Modelo Y
Fonte: Scheer (1993)
Scheer ainda afirma que o CIM é enfocado como uma estratégia de produção, com ênfase no
vetor tecnológico, isto é, na automação, informatização e integração das funções genéricas de
produção: engenharia (CAE, CAD, CAPP e CAM), e controle de qualidade (CAQ),
ferramentas essas que na sequência são apresentadas de forma sucinta.
O computer-aided design (CAD) é um sistema computacional empregado para a elaboração
de desenhos, lista de materiais e outros conjuntos de instruções para as atividades de
produção. Utiliza-se o computer-aided engineering (CAE) para desenvolver e auxiliar as
especificações funcionais de produtos, peças componentes e processos de fabricação por meio
de simulação computacional. Em seguida, é feito um roteiro de produção auxiliado pelo
computer-aided process planning (CAPP), sistema computacional encarregado de gerar o
fluxo produtivo das peças e componentes através do sistema de produção. Já o computeraided manufacturing (CAM) desenvolve as atividades de geração, transmissão e controle de
execução dos programas de comando numéricos aplicados às máquinas-ferramentas e robôs,
sistemas de manipulação de materiais, inspeção e teste da produção. E por último o computer-
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aided quality (CAQ) que deve ser entendido como o conjunto de todas as atividades da
Garantia da Qualidade que podem ser eficazmente realizadas com auxílio do computador seja
no planejamento, administração ou no controle de qualidade. A Figura 2 ilustra a
comunicação entre as ferramentas CIM.
Figura 2 - Comunicação entre as ferramentas CIM
Fonte: Adaptado de Souza (2003)
Essas ferramentas são todas aplicáveis no setor leiteiro, já que o CAD pode ser utilizado no
processo de desenvolvimento de embalagens tanto em relação aos aspectos estéticos e
funcionais; o CAE na simulação e análise dos ensaios de resistência de embalagens; o CAPP
converteria essas informações do CAD/CAE em instruções de trabalho como fluxo de envase,
utilização de máquinas e ociosidade da linha de produção; o CAM auxiliará no controle das
máquinas pertencentes ao sistema de produção do leite e por fim o CAQ no processo de
acompanhamento e testes.
Se por um lado tem-se o modelo Y como referência ao CIM, por outro, tem-se as tecnologias
aplicadas ao setor da pecuária leiteira como complemento ao CIM. Alguns exemplos do uso
destas tecnologias e suas aplicações podem ser vistas no Quadro 1.
Quadro 1 - Uso das tecnologias nas propriedades leiteiras
Tecnologia
Identificação
eletrônica
Aplicação
dos
Gerenciamento produtivo e monitoramento dos dados da propriedade.
animais;
Colares Eletrônicos
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Detector eletrônico de Cio
Melhora a eficiência reprodutiva do rebanho produzindo um menor
período de serviços e intervalos de parto.
Balança eletrônica
Facilita o controle dos dados referentes ao peso do animal.
Ordenha Robótica
Melhora a qualidade do leite e diminui custos com mão-de-obra
garantindo um processo harmonioso e rápido independente do tamanho
do rebanho. Além da padronização dos processos (extração/coleta de
leite).
Ordenha Espinha-de-Peixe
Proporciona melhor velocidade, praticidade e melhor postura dos
ordenhadores, redução da mão de obra.
Extrator automático de leite
Melhora o manejo da ordenha e acaba com a sobre-ordenha (problema
que ocorre em rebanhos leiteiros e pode afetar negativamente a
condição dos tetos e a ocorrência de mastite)
Pulsador eletrônico de leite
Melhora o fluxo de leite durante a ordenha e faz uma massagem mais
eficiente nos úberes das vacas.
Resfriador de leite
Melhora a qualidade do leite, pois permite a armazenagem simultânea a
coleta do leite, reduzindo a proliferação de bactérias.
Limpeza automática
Diminui o custo de mão-de-obra e padroniza a limpeza.
Granelização
Economia de transporte - no sistema a granel, os caminhões tanques
transportam maior quantidade de leite por veículo.
CIP (Cleaning in Place)
Técnica que facilita a limpeza de tanques, tubulações e de áreas de
trabalho, recirculando automaticamente o detergente e as soluções de
enxague.
Fonte 1: Adaptado de Botega (2008)
3. Metodologia
Neste artigo busca-se realizar um diagnóstico da utilização de tecnologias na coleta de leite
em uma propriedade pecuária (X) e de manufatura auxiliada por computador em duas
indústrias (A e B) do setor leiteiro no Sul da Bahia, selecionadas pela localidade.
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O artigo foi estruturado como estudo de caso o qual, segundo Trivinos (1987) é uma categoria
de pesquisa cujo objeto é analisar profundamente uma entidade bem definida, como um
programa, uma instituição, um sistema educativo, uma pessoa ou uma unidade social.
Neste artigo formulou-se um embasamento teórico com o intuito de auxiliar na compreensão
dos conceitos abordados e proporcionar uma análise teórica e prática no tratamento das
indústrias e da propriedade sobre o uso das tecnologias na produção de leite no sul da Bahia.
Para o diagnóstico do setor, utilizou-se uma pesquisa survey que pode ser descrita como a
obtenção de dados ou informações sobre características, ações ou opiniões de determinado
grupo de pessoas, indicado como representante de uma população-alvo, por meio de um
instrumento de pesquisa (PINSONNEAULT; KRAEMER, 1993). Adotou-se como
ferramenta de levantamento de dados visitas técnicas e a utilização de dois questionários, um
aplicado a propriedade pecuária em que procurou-se informações sobre tipo de ordenha,
controles de qualidade e transporte; e outro aplicado as indústrias, o qual foi dividido em
quatro parâmetros:

Perguntas cadastrais, onde serão obtidas informações básicas dos
objetos de estudo.

Perguntas relacionadas ao planejamento e controle da produção (PCP),
onde foi investigado a análise das ferramentas do PCP na indústria.

Perguntas relacionadas ao CIM utilizado para conhecer quais
ferramentas de manufatura a indústria utiliza para garantir competitividade no
mercado.

E para finalizar o questionário, houve a necessidade de identificar se as
indústrias têm conhecimento das tecnologias que seus fornecedores utilizam na cadeia
produtiva.
No primeiro momento, foram coletadas informações sobre a quantidade de funcionários, a
capacidade de captação e de processamento de leite e a recepção média de litros de leite por
dia das indústrias em estudo, a fim de identificar as suas representatividades na região. Em
seguida, avaliou-se a aplicação das ferramentas do PCP no setor, envolvendo desde sistemas
integrados (MRP, MRPII e ERP) a módulos (tais como: previsão de demanda, controle de
estoque, de produção, de quantidades, tempos e custos, estimativa de custos, plano mestre-deprodução e planejamento da capacidade) baseados do modelo Y adaptado à pesquisa. E por
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último, a identificação da existência de sistemas de apoio à manufatura, tais como: CAQ,
CAD, CAE, CAM e CAPP.
De maneira complementar, foi analisada a perspectiva da indústria frente ao uso das
tecnologias, identificando vantagens e desvantagens na implantação e implementação das
mesmas. A fim de descobrir as dificuldades desses tipos de investimentos, de qual maneira
foram escolhidas as tecnologias, de que forma foi feita a gestão dessas inovações e se a
indústria se preocupou com a comunicação entre as ferramentas tecnológicas.
4. Resultados e Discussões
A indústria A possui cerca de 20 funcionários e uma capacidade de captação de 45.000 litros e
de processamento de leite diário de 16.000 litros, realizando transporte à granel. Analisando a
quantidade de funcionários e a capacidade produtiva da indústria A, é possível situá-la como
de pequeno a médio porte, mas a sua capacidade de processamento encontra-se defasada em
relação a sua capacidade de captação, o que leva a crer uma necessidade de melhoria de
processo e um melhor estudo de mercado.
Quanto às tecnologias de Planejamento e Controle da Produção, a indústria A utiliza planilhas
eletrônica para realizar o planejamento das necessidades de materiais e dos recursos de
produção, contudo não apresenta a integração desses setores. Apesar disso, é perceptível
algumas vantagens do uso dessas planilhas na produção, como um maior controle dos
processos produtivos, por exemplo, melhorando assim
o desempenho da empresa
e
facilitando o controle de dados e informações. Mesmo sem utilizar um software como o MRP,
MRPII ou ERP, a indústria sentiu a necessidade de adotar nas planilhas eletrônicas alguns
conceitos dos módulos presentes nessas tecnologias, tais como: previsão de demanda de
produção e estoques, controle de estoque de entrada e saída do produto (leite), estimativa de
custo, plano mestre de produção e planejamento da capacidade dos produtos produzidos.
Segundo informações da própria empresa, a mesma não mede estimativas de ganho ou perda
do processamento da matéria-prima, porém investe em logística e em embalagens.
No que diz respeito às ferramentas que compõem o CIM, a indústria A utiliza apenas o
controle de qualidade auxiliada por computador (CAQ), sendo este representado pelo submódulo de qualidade do software MAGIS TI. No processo de manufatura, a indústria não
utiliza nenhuma das tecnologias de processo citadas: programação CNC, controle de
manutenção, controle de estoque e controle de transporte. A única tecnologia considerada pela
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indústria é a coleta granelizada, onde o leite é coletado através de um caminhão refrigerado, e
com isso, a mesma tem melhor perspectiva de aproveitamento de mão de obra e de qualidade
do leite.
A Indústria B possui 20 funcionários, sendo que a capacidade de captação diária de leite é de
18.000 litros e de processamento igual a 8.200 litros, sendo que encontrava-se em
implantação o processo de a captação à granel. Uma das justificativas para que a quantidade
de captação e processamento de leite seja discrepante de acordo com a indústria é a seca
ocorrida na região. É possível classificar a empresa também como de pequeno a médio porte.
Quanto às tecnologias de PCP, a indústria B utiliza dois sistemas, um de planejamento das
necessidades de materiais e o outro de planejamento dos recursos de produção, o MRP e o
MRPII, respectivamente. E ainda encontrava-se em processo de implantação do ERP (sistema
integrado de gestão da Produção). Este software integrará toda a produção com o
gerenciamento, facilitando a transmissão de informações. As vantagens, de acordo com a
indústria, em adotar e integrar os softwares são: a melhoria do controle de processo, aumento
da confiabilidade das informações geradas das análises de produção, minimização dos
desperdícios, melhoria no gerenciamento e desempenho produtivo e redução de mão-de-obra.
Sendo que a única desvantagem identificada foi a de capacitação dos colaboradores frente à
implantação de um novo software. Além disso, a indústria apresenta um planejamento
logístico para distribuição por pré-venda e estoque mínimo, onde a quantidade que vai ser
produzida depende da quantidade de pedidos, evitando a formação de estoques e
consequentemente investimento parado.
A indústria B não possui nenhum dos módulos do CAM (programação CNC, controle de
máquinas, de transportes, de estoque e de manutenção) e nenhum outro sistema de apoio à
manufatura, no entanto realiza o controle da qualidade através dos conceitos das Boas Práticas
de Fabricação (BPF), as quais são um conjunto de normas e procedimentos exigidos na
elaboração de produtos alimentícios industrializados, para o consumo humano, voltados
principalmente para o controle do ambiente, do pessoal e de contaminações cruzadas,
normatizado pelo Ministério da Agricultura e Abastecimento (DAHMER, 2006).
Para indústria B o fator que influenciou na escolha dessas tecnologias foi à melhoria da
qualidade e aumento da competitividade. Com isso, se adquiriu certas vantagens que
garantem um diferencial competitivo. As principais dificuldades em implementar estas
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tecnologias foi a capacitação da mão de obra, na etapa de transição, uma vez que os
funcionários encontravam-se na “zona de conforto” (por já estarem acostumados com as
atividades que realizavam). Foi possível verificar que as indústrias investem na capacitação
dos funcionários para o uso adequado das tecnologias utilizadas pelas mesmas. Pois, acreditase que a eficiência produtiva está intimamente ligada à qualidade da mão-de-obra, garantindo
desta forma, redução de custos e de desperdícios. No entanto, a resistência dos funcionários
quanto à implantação ou mudança do sistema é uma das principais dificuldades enfrentadas
pelas indústrias.
Com o objetivo de conhecer o nível de utilização tecnológica na região sul da Bahia, foi
perguntado às indústrias A e B quais as tecnologias utilizadas pelos seus fornecedores. Dentre
as quais foi possível identificar: ordenha mecânica (balde ao pé), ordenha espinha de peixe,
ordenha tandem, extrator automático de leite, resfriador de leite, limpeza automática de leite,
coleta a granel, balança eletrônica e pulsador eletrônico de leite. A automação também está
presente na limpeza e higienização e na refrigeração, essas são as tecnologias que
proporcionam um aumento efetivo da qualidade do leite e aumento na produtividade e
redução de mão de obra.
Para a propriedade X, escolhida por ser de âmbito federal e devido a sua representatividade
histórica na região, o objetivo foi identificar as tecnologias da produção de leite, tomando
como comparativo o Quadro 1. Diante disso, foi possível realizar algumas observações: a
propriedade utiliza técnicas arcaicas na produção do leite desde a extração até a entrega para a
indústria, a criação do gado é extensiva, onde o gado é criado solto geralmente sem grande
aplicação de recursos tecnológicos e a ordenha utilizada é a mecânica (Balde ao pé), na qual
uma bomba de vácuo retira o leite da vaca e o leva para tanques de armazenamento que
posteriormente serão colocados em banho-maria para serem resfriados. A partir dessas
informações é possível verificar que a propriedade em estudo não possui um estágio de
desenvolvimento tecnológico satisfatório, o que torna evidente a necessidade da utilização de
tecnologias disponíveis para o setor leiteiro que melhorem sua produtividade e
consequentemente a qualidade e a lucratividade. A seguir no Quadro 2 é apresentada uma
síntese dos resultados desse estudo:
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Quadro 2: Resumo dos Resultados
Dados Coletados
Indústria A
Indústria B
Propriedade X
45000 L
18000L
-
16000L
8200L
-
Ferramentas de PCP
Não utiliza. Substituição
MRP
-
(software)
por Planilhas eletrônicas
MRPII
Quanto a(o):
Capacidade de
Captação
Capacidade de
Processamento
ERP(em implantação)
CIM
CAQ – MAGIS TI
Não utiliza nenhuma
-
ferramenta CIM
Tecnologias nas
propriedades leiteiras
Dos fornecedores:
Ordenha Mecânica e
Espinha de Peixe;
Extrator Automático;
Resfriador de Leite;
Limpeza Automática;
Granel
Dos fornecedores:
Balança Eletrônica;
Exceto a Ordenha
Mecânica, não há
Ordenha Espinha de
nenhuma utilização
Peixe, Tandem e
de tecnologias
Mecânica;
oferecidas ao setor
Pulsador Eletrônico;
Limpeza CIP;
Resfriador e Limpeza
Automática
Granel
5-Conclusão
A partir do embasamento teórico foi possível realizar as análises nas indústrias, a fim de
proporcionar uma melhor identificação das tecnologias presentes nos ambientes estudados,
além de servir para identificar a importância da utilização das ferramentas de Manufatura
integrada por computador (CIM), do Planejamento e Controle de Produção (PCP) e das
tecnologias disponíveis para produção de leite. Além disso, mesmo tendo um grande potencial
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de produção leiteira é evidente que a região é carente de grandes laticínios e de uso de
tecnologias.
Quanto à indústria B pode-se concluir que ela se preocupa em estar se modernizando e se
informatizando, garantindo que as informações sejam mais precisas, acessíveis e
transportadas de maneira rápida. Foi encontrado um cenário de produção que possui um
sistema integrado, porém este sistema ainda não está totalmente implantado na indústria,
sendo constatado que ainda em alguns setores as informações são tratadas de maneira manual,
através de planilhas preenchidas sem auxilio de computador.
Já à indústria A não possuí nenhum planejamento em curto prazo para implantação de novas
tecnologias, uma vez que as utilizadas (planilhas eletrônicas) atendem as necessidades atuais
da indústria. Diante desse contexto, foi sugerida a essa indústria a se atentar as tendências
mercadológicas, a fim de integrar seus sistemas e gerir as informações de forma mais eficiente
e com grande velocidade.
E em relação à propriedade X, percebeu-se que ela não acompanhou o desenvolvimento
tecnológico do mercado, já que entre as tecnologias disponíveis só utiliza a técnica de ordenha
mecânica ou balde ao pé. E devido a isso, é necessária a implantação de novas tecnologias a
fim de garantir um bom retorno financeiro, competividade frente às propriedades
concorrentes, e ainda que seu produto seja demandado pelas indústrias.
Dessa forma, conclui-se que existem grandes disponibilidades de tecnologias no mercado que
podem ser usadas no setor leiteiro. Porém, ficou evidente que de acordo com as indústrias
estudadas a principal dificuldade da implantação das tecnologias de manufatura e PCP é o
processo de capacitação dos funcionários, já que ambas relataram dificuldades de vencer a
resistência dos colaboradores a aprender novas atividades. Os resultados evidenciam que o
processo de implantação da automação, nas propriedades leiteiras, é lento e gradativo, e que
ainda há um longo caminho a percorrer, no sentido de automatizar os sistemas de produção
leiteiros no sul do Estado.
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TUBINO, D. F. Planejamento e Controle da Produção: teoria e Prática. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
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uso de tecnologias na produção de leite no sul da bahia