UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE HIDRÁULICA E SANEAMENTO NÚCLEO DE SERVIÇOS TECNOLÓGICOS ESPECIALIZAÇÃO EM GERENCIAMENTO E TECNOLOGIAS AMBIENTAIS NA INDÚSTRIA MONOGRAFIA REUSO E RECICLO DE ÁGUAS EM INDÚSTRIA QUÍMICA DE PROCESSAMENTO DIÓXIDO DE TITÂNIO Salvador / BA – 1999 “Ninguém ensina nada a ninguém. Nós aprendemos uns com os outros, mediatizados pelo mundo” (Paulo Freire) ALUNOS: Gisele Martins – Química – Universidade Mackenzie / SP – 1996 Adeilson Francisco de Almeida – Licenciado em Construção Civil – UNEB/BA - 1983 ORIENTADOR : - José Carlos V. Machado – Mestre em Química Analítica Ambiental – UFBA - 1996 COORDENADOR: - Asher Kiperstok – PhD, Engenharia Química – Controle de poluição industrial UMIST / Reino Unido - 1996 Água que nasce na fonte serenando o mundo, E que abre um profundo grotão. Água que faz inocente riacho E deságua na corrente do ribeirão” (Guilherme Arantes (Planeta água) AGRADECIMENTOS Aos nossos professores, colegas e amigos do Curso de Gerenciamento e tecnologias Ambientais na Indústria, pela dedicação, paciência e privilégio de multiplicar os conhecimentos durante todo o curso. RESUMO Atualmente, a reversão do dramático quadro de desperdícios e degradação da qualidade das águas, para níveis compatíveis com a sustentabilidade, em curto, médio e longo prazo é iminente, tendo em vista o aumento significativo, à cada ano, do volume de água necessário para atender a demanda, tanto industrial, como doméstico, o que implica no estudo de novas alternativas de minimização de uso e descarte de águas, visando a preservação de corpos hídricos que possuem qualidade de água própria para consumo humano ou águas destinadas para recreação de contato primário Preocupados com a atual situação global, optamos por estudar a qualidade das águas residuárias de uma empresa química, produtora de pigmento inorgânico – óxido de titânio, e especificamente uma das unidades produtivas, a Unidade de LICOR ( produção do licor de óxido de titânio), com o intuito de detectar pontos de desperdício e formas de reutilização dessa água residuária na própria fábrica, avaliando e oferecendo alternativas de reuso da água residuária. Essa prática, além de possibilitar retorno financeiro, em função da redução do custo com o tratamento de água tratada, oferece uma discreta preservação do corpo hídrico, onde ocorre a captação de água, além de diminuir o montante de água residuária à ser descartada no meio ambiente, minimizando os impactos ambientais negativos. Nesse trabalho, após avaliarmos as caraterísticas físico-químicas das águas residuárias dos pontos de lançamento, identificamos que toda água residuária da unidade ora em estudo pode ser reutilizada, sem prévio tratamento, em todas as etapas do processo dessa mesma unidade produtiva, podendo ser utilizada ainda em outras unidades da fábrica, onde a viabilidade técnica quanto à qualidade da água requerida para sua utilização seja atendida. A utilização dessa água residuária, fica restrita somente ao uso nas etapas finais da produção de Dióxido de Titânio, onde a presença de qualquer espécie de contaminantes pode interferir na pureza do produto final. Com a reutilização da água residuária gerada na Unidade de LICOR, cerca de 58.700 m3/mês de água deixará de ser captada, o equivalente ao abastecimento doméstico de aproximadamente 13.044 pessoas, considerando-se um per capita de 150 l/hab.dia, o que comprova a importância de se realizar estudos de reutilização de águas em diversos tipos de empreendimentos, detectando pontos de desperdício de água e propondo soluções simples, como a reutilização de água para uso menos nobres, ou mesmo um tratamento simplificado antes da sua reutilização, o que, sem dúvida, proporciona retornos financeiro para o empreendimento e ambiental para o ecossistema como um todo. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 1 2. A ÁGUA 2.1 O Ciclo Hidrológico 2.1.1 Evaporação e Nuvens 2.1.2 As Chuvas 3 3 4 5 7 9 9 13 13 14 14 2.2 A Seca 2.3 Características da Água 2.3.1 Características Físico-Químicas e Biológicas 2.4 Água Potável 2.5 Tratamento da Água para Consumo Humano 2.6 Poluição das Águas 2.6.1 Caminho da Poluição 3. DESPERDÍCIO DE ÁGUA 16 4. UTILIZAÇÃO DE ÁGUA EM INDÚSTRIA 4.1 Custo de Obtenção de Água segundo diferentes Tecnologias 4.2 Efluente Zero: uma Meta 19 20 22 5. OTIMIZAÇÃO DO USO DA ÁGUA 24 6. A EMPRESA 26 7. O PROCESSO INDUSTRIAL 7.1 O Produto dióxido de Titânio – Características Gerais 7.2 Processo Produtivo de Dióxido de Titânio 7.2.1 Secagem e Moagem 7.2.2 Sulfatação 7.2.3 Dissolução / Redução 7.2.4 Clarificação 7.2.5 Tratamento da Lama 7.2.6 Cristalização 7.2.7 Classificação / Centrifugação 7.2.8 Filtração 29 29 30 32 32 34 36 37 39 40 42 8. CAPTAÇÃO E TRATAMENTO DE ÁGUA UTILIZADA NA FÁBRICA 9. UTILIZAÇÃO E DESCARTE DE ÁGUA NA EMPRESA 9.1 Identificação dos pontos de descarte da Unidade da unidade de beneficiamento de Dióxido de Titânio 9.2 Dados de Vazão de entrada e saída da Fábrica 9.2.1 Processo de medição de vazão de Águas Residuárias 9.3 Caracterização das Águas Residuárias 9.3.1 Seleção dos pontos de amostragem para as análises 9.3.2 Análises Físico-Químicas 9.3.3 Coleta, preservação e identificação das amostras para análise 43 45 45 45 46 47 48 49 49 10. RESULTADOS DAS ANÁLISES 50 11. UTILIZAÇÃO DAS ÁGUAS RESIDUÁRIA 11.1. Reuso de toda a água residuária, sem prévio Tratamento, 51 51 12. CONCLUSÃO 53 13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 58 I. APÊNDICE I.I. Fotos dos pontos de medição de vazão I.II. Fotos da Estação de Tratamento de Água II. ANEXOS II.I. ANEXO I – Planilha 1 - Vazão dos pontos de lançamento de água residuária de produção de LICOR II.II. ANEXO II – Laudo de Análise da água residuária II.III. ANEXO III – Planilha 2 – Resultados das análises comparadas com os VMP’s 1. INTRODUÇÃO A presente monografia tem o objetivo de apresentar os estudos realizados na empresa de processamento de Dióxido de Titânio , visando a reutilização, no todo ou em parte, das águas residuárias provenientes da unidade de extração de Dióxido de Titânio pelo processo de Ácido Sulfúrico denominado de – LICOR, na própria unidade ou em qualquer outra unidade da empresa, inclusive na área administrativa, após avaliação das características das mesmas, a fim de serem obedecidos os padrões exigidos para cada caso. O reuso e reciclo de águas servidas em indústrias vem ganhando terreno nos tempos atuais, face a necessidade de redução dos custos finais de produção, numa época em que a economia globalizada condiciona as empresas a uma maior competitividade, sendo, portanto, de extrema necessidade, o aumento de produtividade com a conseqüente redução de custos. Com a deterioração crescente da qualidade das águas dos mananciais, a necessidade de tratamento cada vez mais sofisticados onera o produto final acabado, motivo pelo qual, o reuso e reciclo de água descartados como resíduos, pode retornar ao processo, minimizando, por conseguinte, os custos aqui citados. Fator importante também levado em consideração na reutilização das águas residuárias de uma empresa, é a conscientização ambiental, que ganha corpo dia a dia, nos diversos setores da sociedade moderna, com uma cobrança cada vez maior da sociedade civil organizada às autoridades competente, bem como aos setores produtivos da sociedade. Com efeito, as alterações que vem ocorrendo no meio ambiente, sobretudo pelo descarte de resíduos industriais, de forma desordenada, vem ocasionando a escassez de água de boa qualidade, reorientando o empresário a uma mudança de comportamento, no mundo inteiro, do ponto de vista técnico/ambiental, que minimize os impactos ambientais e preserve o ecossistema às gerações futuras. É o conceito de tecnologia limpa. Novos conceitos de gestão ambiental estão sendo enfocados em todo o mundo, que possibilite a convivência harmoniosa entre o progresso e a qualidade de vida. O progresso existe para auferir ao ser humano os benefícios de que ele é capaz, e não para dizima-lo. É bem verdade que a necessidade de consumo da sociedade moderna exige a criação de novas tecnologias, que, por vezes, aumenta as condições de poluição no nosso Planeta. Mas, surge a necessidade 11 de se equacionar esta questão. Por exemplo, as filosofias do 3R (Reduzir, Reutilizar e reciclar), Tecnologias Limpas, dentre outras, quando empregadas de forma consciente, conduz a excelentes resultados quer seja do ponto de vista financeiro, em que, na ponta, o consumidor é beneficiado com menores custos dos produtos ou do ponto de vista técnico com a preservação do meio ambiente. 12 2. A ÁGUA A água se encontra disseminada em toda a biosfera, formando os oceanos, os mares, os lagos, os rios e os aqüíferos subterrâneos (águas do subsolo). Ela se encontra ainda formação dos seres vivos, na atmosfera como vapor ou como gotícula nas nuvens e ainda fazendo parte da estrutura de vários minerais, como água de constituição, de cristalização ou apenas como umidade. A água doce pode-se estender no subsolo até a uma profundidade de 1 Km abaixo do nível do mar e como vapor em quantidade apreciáveis até o limite da troposfera (16 Km). Como vapor, já rarefeito, pode chegar a um máximo de (140 Km) , que é o limite da atmosfera. Nos oceanos, a profundidade máxima da lâmina d’água é de cerca de 12 Km. .Em toda a litosfera, o limite para qualquer tipo de água está 10 Km abaixo do nível do mar. Figura 01 – Principais fontes de águas naturais do Planeta Terra 2.1. O Ciclo Hidrológico A água é o componente mais abundante encontrado na natureza e cobre aproximadamente ¾ da superfície da terra. Porém alguns fatores limitam a quantidade de água disponível para o consumo humano. Assim, 97% da água encontra-se nos oceanos, 2% nas camadas de gelo e glaxiais e 0,62% nos rios, lagos e águas subterrâneas (Henry and Heinke, 1989). O instituto Wordwatch estima que 1,2 bilhões de pessoas não dispõem de fonte de água potável no mundo. Por outro lado a Organização Mundial da Saúde estima que 80% das doenças e mortes de crianças nos países desenvolvidos é causada por água contaminada (Nebel e Wright,1993). Essas doenças recebem o nome de doenças de veiculação hídrica. 13 A água contaminada é definida como a presença de impureza em quantidade e natureza tal que não permite a sua utilização quer seja para o consumo humano, a agricultura e a indústria.. O ciclo hidrológico descreve o movimento da água entre a atmosfera e a terra como resultado dos processos de evaporação, transpiração, condensação e precipitação. A quantificação do ciclo hidrológico é definida pela equação de balanço de MeGauhey,1968): P = E + G + R P = Precipitação. E = Evaporação. G = Ganho líquido ou perda de água no sistema. R = Percolação. 2.1.1. Evaporação e Nuvens Todos os processos terrestres se dão à custa da energia recebida do Universo, em particular do Sol; na água, não é diferente. A água superficial é responsável por um grande papel na dissipação da energia solar. A energia transforma água líquida em vapor, e o vapor gerado ainda absorve mais calor que vem do sol. Ao final, somente 0,0017% da energia incidente sobre a água é armazenada. Se a água retivesse a energia na mesma proporção do solo, a energia retida na superfície do Planeta seria cerca de 1.200 vezes maior que a nor- Figura 02 – Ciclo hidrológico da água no Planeta Terra mal. Isto, por certo, tornaria a vida insuportável na Terra. 14 Também os seres vivos, principalmente as plantas, durante seus processos biológicos, liberam vapor d’água para a atmosfera. Estima-se por exemplo, que uma árvore de grande porte pode liberar até 300 litros de água por dia. Outros processos, como a queima de combustíveis orgânicos (petróleo, lenha, álcool, etc.) e a degradação aeróbica dos compostos orgânicos também são formas de liberação de água para a atmosfera. 2.1.2. As chuvas O vapor formado entra na atmosfera, se eleva, se expande e, ao encontrar as camadas mais frias da atmosfera, perde calor, se condensa e acaba retornando à Terra sob a forma de gotas líquidas de água medindo entre 0,3 e 0,5 milímetros. As gotas grandes tendem a achatar-se e dividir-se em gotas menores por causa da queda rápida através do ar. A precipitação de gotas menores, chamadas de chuvisco ou garoa, costuma limitar bastante a visibilidade, mas não produz acúmulos significativos de água. As massas de ar ganham umidade ao passar sobre massas de água quente ou sobre superfícies de terra molhada. A umidade, ou vapor de água, é elevada entre as massas de ar que, por turbulência e convecção, condensam-se e formam as nuvens. Quando as gotas de água aumentam de tamanho, precipitam-se em forma de chuva ou neve. A precipitação desempenha Um papel fundamental na determinação do clima de uma região. A precipitação de chuvas é essencial porque preenche aqüíferos e os proporciona sistemas naturais de bacias e canais de irrigação. As médias de precipitação do mundo variam entre as Figura 03 – Precipitação de chuvas no Planeta Terra 15 diferentes regiões. As áreas que recebem menos de 250 mm de chuva ao ano são consideradas desertos, enquanto as que recebem mais de 2.000 mm são equatoriais ou tropicais. A precipitação média é determinada pela altura alcançada pela água caída sobre uma superfície plana, e é medida com um pluviômetro Essa parte do ciclo contribui para a homogeneização da temperatura da atmosfera e ajuda a resfriar a superfície da Terra. Permite ainda a transferência de calor de lugares quentes para lugares frios do Planeta, pelo vapor d’água, com ajuda dos ventos. Quando a água cai, ela umedece a Terra e alimenta o aqüífero subterrâneo, ao ser absorvida pelo solo. Na superfície do solo, a água flui até os córregos, contribuindo para manutenção do volume dos corpos d’água superficiais. As chuvas também fornece umidade diretamente às folhas dos vegetais. Na descida para a superfície, a chuva “limpa” a atmosfera, retendo partículas sólidas, microorganismos e gases (inclusive alguns poluentes). Nesse processo, substâncias como Oxigênio, Nitrogênio, Ozônio e Gases de Enxofre e Nitrogênio são introduzidas no solo, nos rios, mares, lagos e oceanos, servindo inclusive como nutrientes para os seres vivos desses ambientes. Impregnado pela água de chuva, o aqüífero subterrâneo contribui para manter a umidade do solo e alimenta os rios e lagos. Na figura abaixo, a água absorve energia, forma vapor, se condensa e se precipita em forma de chuva, podendo ser armazenada em represas. Isto mostra que a chuva faz parte de um ciclo, onde energia solar pode ser transformada em energia potencial hidráulica e esta em energia mecânica, elétrica, etc. É um ciclo do qual geralmente não nos percebemos, mas de grande importância na obtenção de energia elétrica. 16 Cabe também lembrar que a chuva é a principal fonte de água para os vegetais, tanto através das folhas, como através das raízes. A presença de água e energia solar, formando vapor d’água na atmosfera, não é a única condição determinante para a formação de chuvas. O vapor condensar, d’água, forma ao se gotículas que não têm peso e volume que lhes possibilite vencer a resistência da atmosfera e das correntes aéreas. Figura 04 – Formação e precipitação de chuvas Para que a chuva se forme, é necessário que essas gotículas se juntem formando gotas de dimensões maiores. É importante ressaltar que o processo de formação de chuvas sofre ainda influencia dos ventos, sendo comum as chuvas caírem distantes do local de evaporação intensa. Alguns locais interioranos podem ter até 90% de chuvas formadas por vapor d’água dos mares e oceanos. O fenômeno de formação e precipitação das chuvas é bastante sensível às mudanças antropogênicas da superfície terrestre. 2.2. A seca A seca é uma situação climática desprovida de água numa região geográfica (como nos desertos e terras altas), onde se espera alguma chuva. A seca é, portanto, algo muito diferente do clima correspondente a uma região que é, habitualmente, ou pelo menos em certas estações, seca. O termo seca se aplica a um período de tempo onde a escassez de chuva produz desequilíbrio 17 hidrológico grave: as represas esvaziam, os poços secam e as colheitas são prejudicadas. A gravidade da seca se mede pelo grau de umidade, sua duração e a superfície da área afetada. É comum se fazer o bombardeio de nuvens, como no nordeste brasileiro, disseminando nucleadores na atmosfera. No começo do processo que leva às secas, os corpos d’água interiores vão perdendo líquido por evaporação e não o recebem de volta, devido à ausência de chuva. Em conseqüência, o aqüífero subterrâneo é solicitado, reduzindo seu nível no subsolo. Os casos mais graves podem levar o nível da água do subsolo a um patamar tão baixo que torne inviável qualquer vegetação na Figura 5 – Aspectos do solo em regiões secas superfície do solo. O nível do aqüífero subterrâneo também pode ir abaixo do lençol freático, inativando os poços alimentados por esse aqüífero. Na superfície, durante o processo que leva à seca, os corpos d’água vão sendo concentrados em sais, podendo tornar-se impróprios para a agricultura, a pecuária e o consumo humano. As espécies vivas existentes no seio do líquido podem ser totalmente eliminadas ou selecionadas sobrevivendo apenas aquelas mais resistentes às condições do meio. A escassez de umidade na superfície do solo dificulta, ou mesmo impede, o crescimento microbiológico, afetando processos naturais importantes, como a fixação do nitrogênio por bactérias, fenômeno de grande importância no crescimento dos vegetais. A predação das áreas florestadas pode levar grandes regiões do globo ao estado de seca perene, podendo mesmo acabar se transformando em deserto. Isto tem ocorrido em ritmo acelerado em todo mundo. No nordeste brasileiro, considera-se que 40% da sua superfície já são desérticas. Também no extremo Sul do Brasil, o processo já se estabeleceu e é considerado preocupante. 18 2.3. Características da Água Como visto anteriormente, a água pura é uma substância sem gosto, sem cor e sem cheiro. Entretanto, seu padrão na natureza está um tanto distante disso. Em alguns casos, como nas águas poluídas, pode-se chegar ao oposto da qualidade aqui apresentada. 2.3.1. Características Físicas, Químicas e Biológicas das águas As impurezas contidas nas águas conferem às mesmas, propriedades positivas ou negativas que devem ser encaradas sob os aspectos físicos, químicos ou biológicos. As amostras de água para fins de exames e análises, devem ser colhidas obedecendo critérios técnicas apropriadas, com volumes e números de mostras adequados. As análises são feitas, segundo métodos padronizados, por entidades especializadas. As principais características físicas das águas são: 9 cor – característica devido à existência de substâncias dissolvidas, que na grande maioria dos casos, são de natureza orgânica, além de compostos químicos coloridos dissolvidos (pouco comum), partículas microscópicas de óxidos (principalmente de ferro e manganês). As águas naturais classificadas como coloridas normalmente têm um aspecto âmbar, cinza ou mesmo tendendo para o negro. Este é o caso de alguns rios da Amazônia, como o Rio Negro. As águas naturais brasileiras, de modo geral, contém poucos sais dissolvidos, porque atravessam formações geologicamente velhas. Nos países com formações mais novas, as águas costumam ter maior quantidade de sais dissolvidos, em alguns casos semelhantes às águas minerais. 9 turbidez –é uma característica decorrente de substâncias em suspensão, ou seja, de sólidos suspensos, finamente divididos em estado coloidal, e de organismos microscópicos. Nas chamadas águas turvas, seu aspecto se deve à presença de material sólido suspenso, como argila, areia, óxido metálicos e outros minerais, além de matéria orgânica, inclusive microorganismos. Essas águas são ricas em nutrientes, possibilitando um melhor desenvolvimento de vida aquática. O material suspenso é oriundo, principalmente da erosão do solo, e esses corpos d’água têm o fundo bastante rico em sedimentos, originados do material suspenso. 19 9 sabor e Odor – A característica do sabor e do odor são consideradas em conjunto, pois geralmente a sensação de sabor decorre da combinação do gosto mais odor. São características que provocam sensações subjetivas nos órgãos sensitivos do olfato e do paladar, causadas pela existência de substâncias como matéria orgânica em decomposição, resíduos industriais, gases dissolvidos, algas, etc. 9 temperatura – Particularmente para uso doméstico a água deve ter temperatura refrescante. Características Químicas das águas: As características químicas das águas são devidas à presença de substâncias dissolvidas e são determinadas por meio de análises químicas, seguindo métodos adequados e padronizados para cada substância. Os resultados são fornecidos em concentração de substância em mg/l (miligrama por litro), geralmente avaliáveis somente por meios analíticos Na determinação das características químicas das águas, os principais aspectos a serem considerados, são os seguintes: salinidade, dureza, alcalinidade, agressividade, ferro e manganês, impurezas orgânicas e nitratos, toxidez potencial, fenóis e detergentes, radioatividade, etc Oxigênio Dissolvido A presença de oxigênio dissolvido na água é um fator de grande importância na sua qualidade. Existem três mecanismos principais de introdução desse gás na água. O primeiro se dá pelo simples contato entre a água e a atmosfera quando o oxigênio vai sendo disseminado no corpo líquido, através da sua superfície. O fenômeno é lento. O segundo mecanismo é semelhante ao primeiro, mas acelerado pela turbulência na superfície livre do líquido, provocada por uma queda d’água, pelo vento, ou processo mecânico. O terceiro mecanismo se dá dentro do próprio corpo líquido, por organismos clorofilados, principalmente algas e plantas, através da fotossíntese. Esse fenômeno ocorre em grande escala nos oceanos, mares, lagos e rios e é considerado o principal regenerador do oxigênio da 20 atmosfera, já que sua produção, em condições normais, excede, em muito, a capacidade de dissolução ou consumo do gás pelo próprio meio. O processo de fotossíntese, tanto no meio líquido como na atmosfera, envolve água, gás carbônico e luz solar. Energia CO2 + H2O CH2O + H2O + O2 Luminosa Em qualquer dos três casos, a homogeneização do oxigênio no corpo d’água se dá, principalmente, pela agitação e pelas correntes ascendentes/descendentes (de convecção) água fria descendo para o fundo e água quente subindo para a superfície. A presença do oxigênio dissolvido na água permite a existência de uma enorme variedade de seres aeróbicos aquáticos, como peixe, crustáceos, moluscos e plantas, além de microorganismos aeróbicos. Os corpos de água limpa mantém no seu seio, em condições normais, populações de organismos que se alimentam das substâncias que chegam até eles. Uma parte dessas substâncias é convertida em outros organismos por reprodução e a outra é degradada para produção de energia. A degradação desses materiais pelos organismos nas porções mais aeradas (aeróbicas) oxida a parte orgânica a gás carbônico e água, sendo a parte inorgânica estabilizada como fosfato, carbonato, sulfato, nitrato e outros compostos estáveis. Nas regiões onde há escassez ou falta de oxigênio (anaeróbicas), a parte orgânica é transformada em outros compostos orgânicos intermediários, gerando gás sulfídrico, amônia, nitrito, etc. Todos esses compostos são instáveis e, ao entrarem em contato com regiões ricas em oxigênio, são levados, pelos organismos aeróbicos, aos compostos estáveis já descritos. Esses fenômenos são de grande importância, já que, quando os limites da capacidade de degradação natural (poder de autodepuração) são excedidos, começam os problemas de poluição. Como foi visto, todos os processos naturais vistos anteriormente podem ser severamente modificados pelas atividades humanas, podendo mesmo serem interrompidos. No Brasil, as conseqüências mais danosas conhecidas são as da seca no Nordeste, das inundações nas 21 grandes cidades, das erosões dos solos pelas chuvas torrenciais e da poluição dos corpos d’água. Característica Biológica das águas A biologia da água, que constitui o ramo denominado “Hidrobiologia”, ocupa-se de dois campos: o vegetal e o animal; dentre os organismos de maior interesse com relação ao abastecimento de água, podemos citar: 9 reino vegetal – algas (verdes, azuis, diatomáceas) 9 bactérias (saprófitas e patogênicas) 9 reino animal – protozoários, etc. As bactérias biológicas das águas são avaliadas através dos exames bacteriológicos e hidrobiológicos. Normalmente se pesquisa o seguinte: 9 contagem do número total de bactérias; 9 pesquisa de coliformes; 9características hidrobiológicas das águas (algas, protozoários, rotíferos, crustáceos, vermes, larvas de insetos Em todos os casos, sejam as águas coloridas, turvas ou transparentes, elas contêm quantidades variáveis de microorganismos, sais e gases dissolvidos. Os sais são formados principalmente de cloretos, sulfatos, carbonatos, bicarbonatos, silicatos, nitratos, sódio, cálcio, bário, ferro, magnésio e potássio. Entre os gases, aparecem o oxigênio, gás carbônico, nitrogênio, gás sulfídrico, amônia e óxidos de enxofre e nitrogênio. As quantidades e o equilíbrio dessas substâncias minerais são variáveis e sua presença depende, da composição do solo e do subsolo, da origem da água, da vegetação, da temperatura ambiente, dentre outros. 22 TIPO APARÊNCIA SÓLIDOS EM SUSPENSÃO SÓLIDOS DISSOLVIDOS Geleiras Transparente Ausente Até 10 mg/l Rios Turva e/ou colorida De 1.000 a 40.000 mg/l Até 1.000 mg/l Variando de alto mar Até 40.000 mg/l Mares Turva perto da costa Para costa Tabela 1 - Características mais comuns em algumas águas 2.4. Água Potável Chamamos de água potável àquela que pode ser ingerida pelo ser humano sem prejuízo para a saúde. Vale ressaltar que água límpida não significa água potável. Ela pode conter microorganismos, produtos dissolvidos (sais e gases) ou colóides (pequenas partículas invisíveis a olho nu) nocivos à saúde ou insuportáveis para o ser humano. Por outro lado, águas turvas ou coloridas podem ser potáveis, em vista dos seus “contaminantes” não serem ofensivos à saúde (ferrugem, argila, restos de vegetais, etc). Entretanto, não restam dúvidas que um dos bons indicadores de que a água é de boa qualidade é a sua aparência cristalina. Para dirimir dúvidas sobre a potabilidade de uma água natural e estabelecer critérios nos tratamentos de água, os órgãos governamentais estabelecem os chamados Padrões de potabilidade, conforme Portaria 36 do ministério da Saúde de 19/01/90. 2.5. Tratamento de água para consumo humano Tratamento é o termo genérico aplicado à conversão da água não potável em potável, pela modificação de suas características iniciais.. Tem como finalidade não só a remoção de produtos nocivos à saúde e desagradável ao paladar, ao olfato e à visão, mas também a 23 introdução de produtos benéficos à saúde humana, a exemplo do flúor. A maioria dos processo de tratamento tem as seguintes etapas: 9 Remoção de sólidos grosseiros, areia e lama; 9 Adição de coagulantes/floculantes para remoção de sólidos finos suspensos e parte da cor; 9 Decantação, para sedimentação do conjunto coagulante/floculante/sólidos suspensos; 9 Filtração, para remoção de sólidos suspensos muito fino, cor e odor (em alguns casos); adição de flúor; 9 Cloração (desinfecção), para eliminação de microorganismos e permanência de um residual de Cl2 residual na rede, que propicie a proteção da água até o consumo. 2.6. Poluição das Águas Considera-se poluição qualquer alteração das propriedade físicas, químicas ou biológicas do meio ambiente (ar, água e solo), causada por qualquer forma de energia ou por qualquer substância sólida, líquida ou gasosa, ou contaminação de elementos, despejos de efluentes no meio ambiente, em níveis capazes de, direta ou indiretamente: 9 Ser prejudicial à saúde, à segurança e ao bem estar das populações; 9 Criar condições inadequadas para fins domésticos, agropecuários, industriais e outros, prejudicando assim as atividades sociais ou econômicas; 9 Ou ocasionar danos relevantes à fauna, à flora e a outros recursos naturais. O lançamento à água de elementos que sejam diretamente nocivos à saúde do homem ou de animais, bem como a vegetais que consomem esta água, independentemente do fato destes viverem ou não no ambiente aquático, constitui contaminação. 2.6.1. Caminho da poluição Na preservação da qualidade da água são dois os aspectos a serem considerados: 9 As possibilidades de poluição dos mananciais; 9 A água captada do manancial e posteriormente fornecida para o consumo doméstico ou 24 industrial. As impurezas contidas nas águas são adquiridas nas diversas fases do ciclohidrológico: assim, as águas dos mananciais podem se tornar poluídas através dos seguintes caminhos 9 Durante a precipitação atmosférica – as águas de chuvas podem arrastar impurezas existentes na atmosfera; 9 durante o escoamento superficial – as águas lavam a superfície do solo e carream as impurezas existentes: partículas terrosas, detritos vegetais e animais, fertilizantes, estrume, inseticidas, que podem ainda conter elevada concentração de microrganismos patogênicos; muitas impurezas podem inclusive ser carreadas juntamente com as águas que se infiltram no solo. 9 infiltração no solo – nesta fase há uma certa filtração das impurezas, mas dependendo de características geológicas locais muitas impurezas podem ser adquiridas pelas águas, através por exemplo, da dissolução de compostos solúveis. Por outro lado, as impurezas podem ser carreadas para outros pontos, através do caminhamento natural da água no lençol aqüífero; 9 despejos diretos de águas residuárias e de lixo, esgotos sanitários, resíduos líquidos industriais e lixo em geral, indevida e/ou inadequadamente lançados nas águas naturais vão levar impurezas que poluem as águas naturais, inclusive podem favorecer o desenvolvimento de tipos inconvenientes de algas. 9 represamento – nas represas as impurezas sofrem alterações decorrentes de ações de múltiplas natureza (física, química, biológica). 25 3. DESPERDÍCIO DE ÁGUA A água é uma substância de grande importância. Ela participa dos processos naturais, mas também de um grande número de atividades criadas pelo ser humano. Até por isso, os corpos d’água como rios, lagos, mares e represas sempre serviram como fatores para o desenvolvimento da humanidade, funcionando como pólos de aparecimento e crescimento de povoações. Do ponto de vista físico-químico a água pura é uma substância insípida, incolor e inodora, formada por dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio (H2O). Como uma das substâncias mais disseminadas na superfície da Terra, a água participa do fenômeno da fotossíntese, ajuda a manter a temperatura da biosfera, irriga os campos cultivados para a agricultura e pecuária e ainda toma parte em quase todos os processos industriais. A escassez de água com padrão aceitável de qualidade é uma das grandes preocupações modernas. Alguns chegam a afirmar que a humanidade sofrerá, no futuro, uma grande “crise de água” e que, em certos aspectos, ela será pior que as recentes crises do petróleo. Isto se dará porque apesar de três quarto da superfície da Terra serem cobertos pela água, somente 3,5% dos 1.390 milhões de quilômetros cúbicos existentes são de água doce e menos de 1% do total está disponível para o consumo humano imediato. O restante da água doce se encontra nas geleiras e nas calotas polares, além de uma pequena parte como vapor na atmosfera. O instituto Wordwatch estima que 1,2 bilhões de pessoas não dispõem de fonte de água potável no mundo. Por outro lado a Organização Mundial da Saúde estima que 80% das doenças e mortes de crianças nos países desenvolvidos é causada por água contaminada (Nebel e Wright,1993). A análise do problema de água em 146 países, levou as Nações Unidas à consideração de crise de água quando o potencial nos rios é inferior a 500 m3/hab/ano. Taxa entre 500 a l.000 26 m3hab/ano caracteriza situação de estresse, taxa entre 1.000 e 2.000 m3/hab/ano são consideradas como suficientes à produção e usufruto de um nível de vida adequado, e acima de 2.000 m3/hab/ano, significa condição muito confortável. Portanto, o Brasil tem, no geral, condições muito confortáveis. Vale salientar que, as potencialidades de água doce dos rios como das águas subterrâneas, são distribuídas de forma muito irregular no território. Ademais, essa distribuição quase sempre não sintoniza com a distribuição da população. Para alguns, esse fato significa que o estigma da escassez de água, prognosticada no nível mundial pelos organismos internacionais, também afeta o Brasil. Entretanto, uma análise no nível dos estados do Brasil, revela que até mesmo naqueles do Nordeste semi-árido, tais como Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, os potenciais atuais de água doce nos rios situam-se entre 1.000 e 2.000 m3/hab/ano. Local e ocasionalmente, as taxas podem ficar entre 500 e 1.000 m3/hab/ano, da mesma forma que em outros setores mais importantes, estas são superiores a 2.000 m3/hab/ano. Efetivamente, tomando-se por base os valores da vazão específica (L/s/Km2) das principais bacias hidrográficas do Brasil, verifica-se que é possível abastecer densidades demográficas (hab/Km2) entre 693 habitantes nas bacias da Região Amazônica, 100 habitantes na bacia do rio São Francisco e 84 pessoas nas bacias dos rios do Atlântico Nordeste. Considerando que cerca de 90% das nossas cidades têm populações entre 500 e 20 mil habitantes, verifica-se que a área necessária para produção de água limpa de beber – área de proteção de manancial – varia respectivamente entre cerca de 1 km2 e 30 km2 nas bacias hidrográficas da Amazônia, e entre 6 e 240 Km2 nas bacias dos rios do Nordeste semi-árido, tais como Acaraú, Jaguaribe – CE; Apodi-Mossoró, Piranhas-Açu – RN, Paraíba - PB Portanto, mesmo nas regiões mais populosas do Brasil, o que mais falta não é água, mas determinado padrão cultural que agregue a necessidade de redução dos desperdícios e proteção na sua qualidade. Em termo de degradação da qualidade, vale destacar que, conforme o último censo do IBGE (1991), em apenas cerca de 47% das cidades o esgoto doméstico é parcialmente coletado e desta parcela, cerca de 90% são lançados sem tratamento nos rios. Além disso, convive-se com a maior parte do lixo urbano produzido e 70% dos efluentes industriais são lançados no 27 ambiente sem tratamento prévio. Efetivamente, rio no Brasil ainda é sinônimo de esgoto e convive-se com a maior parte do lixo que se produz. Portanto, os problemas de abastecimento de água decorrem, regra geral, da combinação de dois fatores importantes: 1. o crescimento localizado e desordenado das demandas; 2. degradação da qualidade, atingindo-se, atualmente, níveis nunca imaginados. Efetivamente, nas áreas onde já ocorreu desenvolvimento industrial significativo, torna-se, praticamente, impossível eliminar os micropoluentes inorgânicos, tais como cádmio, mercúrio, chumbo e orgânicos sintéticos, tais como organo-fosforados e organo-clorados, compostos benzênicos, fenólicos, ésteres do ácido ftálico. Estes constituintes podem causar efeitos adversos á saúde em teores muito baixos da ordem de partes por bilhão (ppb) ou micrograma por litro (μg/L) e até de partes por trilhão (ppt) ou nanograma por litro (ng/L) Portanto, a grande abundância de água doce no Brasil é um capital ecológico de grande valor competitivo do mercado global, porém, ainda muito pouco considerado na mesa das negociações. 28 4. UTILIZAÇÃO DA ÁGUA EM INDÚSTRIA A partir da revolução Industrial, a qualidade da água utilizada para consumo humano, atendimento das necessidades crescentes de higiene e conforto, e desenvolvimento das suas atividades econômicas, aumentou mais de 35 vezes. A demanda total do ano 2000 é estimada pelo World Resources Institute (1991) em 4.349 Km3/ano, sendo cerca de 2.585 Km3/ano ou 60% para irrigar 271 milhões de hectares, cerca de 456 Km3/ano ou 10% abastecer uma população mundial da ordem de 6 bilhões de habitantes – incluindo água de beber, preparação de comida, higiene, irrigação de jardins e serviços - e cerca de 1.308 Km3/ano ou 30% na indústria, dos quais cerca de 76% serão devolvidos como efluentes. Quanto ao consumo doméstico a taxa passa de 20 L/hab/dia nas populações de nível de vida modesto, para 500 L/hab/dia nas sociedades modernas. Atualmente, apenas 4% da população mundial utiliza entre 300 e 400 L/hab/dia e 2/3 da população, concentrada na Ásia e África, usa menos de 50 L/hab/dia. Neste ano, estima-se que 17% da população mundial deve usar mais de 300 L/hab/dia, mas cerca de 1,8 bilhões de pessoas deverá estar usando menos de 50 L/hab/dia. O consumo da água na indústria (Tabela 1 abaixo), apresenta um sensível incremento nas regiões de economia emergente, enquanto tende a se estabilizar nas regiões industrializadas. Na América do Sul, por exemplo, a demanda passou de 30 Km3/ano na década de 1980 para 110 Km3/ano no ano 2.000, com incremento de 360%, enquanto na Europa este será de 155% e de 127% na América do Norte, no mesmo período. No Brasil, o consumo total em 1990 era de 212 m3/hab/ano, sendo 43% para uso doméstico, 17% para uso industrial e 40% na agricultura. 29 Região Demanda Total 1980 - Uso Volume Consuntivo Efluentes Demanda Total 2000 - Uso Consuntivo Volume Efluente Europa 193 19 174 200-300 30-35 170-175 Ásia 118 30 88 320-340 65-70 255-270 África 6,5 2 4,5 30-35 5-10 25 Am. Norte 294 29 265 360-370 50-60 310 Am. Sul 30 6 24 100-110 20-25 80-85 Austrália e Oceania 1,4 0,1 1,3 3,0-3,5 0,5 2,5-3,0 URSS 117 12 105 140-150 20-25 120-125 Total 759,9 98,1 661,8 1153-1308,5 190-225,5 962,5-993 Tabela 2 – Água na Indústria em 1980 e no ano 2000 – m3/ano Fonte: World Resources Institute, 1991 4.1. Custos de Obtenção da Água, segundo diferentes Tecnologias A globalização da economia tornou-se o principal fenômeno neste final de século, possibilitando uma análise comparativa de custos das tecnologias alternativas de obtenção de água de qualidade adequada ao consumo humano, industrial e agrícola (Tabela 3 abaixo). CUSTOS (U.S.$ por mil m3) Demanda Total TECNOLOGIAS (não incluem transporte) Captação de rio (só extração) $ 123 - $ 246 Destilação $ 645 - $ 1085 Congelamento Eletrólise $ 368 - $ 633 (STD* 2000 e 5000 mg/L) $ 276 - $ 537 Reuso de esgoto Doméstico (AWT)** $ 200 - $ 485 Reuso de esgoto (Tratamento secundário***) $ 77 - $ 128 Osmose reversa (água salobra) $ 120 - $ 397 Captação água subterrânea artificialmente recarregada $ 118 - $ 138 Captação de água subterrânea naturalmente recarregada $ 88 Tabela 3 – Custos Internacionais da água pelas diferentes tecnologias disponíveis * STD sólidos totais dissolvidos, ** AWT – American Water Treatment, *** redução de nitrogênio, fósforo, filtração e adsorção por carvão ativado. Fonte: Rogers, 1987, in Gleick, 1993, No desenvolvimento de análises comparativas de custos, deve-se levar em consideração de que água, embora tenha uma fórmula química das mais simples, (H2O) ainda não é fabricada 30 artificialmente. A demais, o seu custo de transporte é um dos mais elevados, comparativamente às outras matérias primas naturais. Em conseqüência, a alternativa local representa, regra geral, a solução mais barata. Outro aspecto importante a considerar nessa análise é que os custos da água, segundo a solução alternativa selecionada, devem ficar dentro dos parâmetros aceitáveis pelo mercado (the willingness of the consumers to pay), conforme mostram os dados na tabela 4. USUÁRIOS CUSTOS ACEITÁVEIS (U.S.$ por mil m3) Residencial e comercial $ 300 - $ 600 Industrial $ 150 - $ 300 Agricultura de alto valor (fores) $ 100 - $ 150 Frutas e hortalíças $ 3 $ 100 Outra agricultura irrigada $<3 Tabela 4 – Custos aceitáveis da água, segundo os usuários Fonte: Rogers, 1980, in McLarem & Skinner – Resources and World Development, pp 611-623, 1987. Portanto de maneira integral: como elemento, em função da competitividade que é imposta pelo mercado global, a água deve ser avaliada de maneira: como elemento vital da sociedade da biodiversidade e recurso de valor econômico para o desenvolvimento, além de seu valor quanto a aspecto cultural. Uma matéria-prima que tende a escassear tanto em quantidade quanto em qualidade, tornando-se portanto, cada vez mais cara. 31 Custo por metro cúbico de água industrial por região do Brasil Figura 6 – Custo de água por região do Brasil 4.2. Efluente Zero: uma meta A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, Estocolmo-1972, levou os países industrializados e em desenvolvimento a traçarem, juntos, o direito da família humana a um ambiente saudável e produtivo. No “Nosso Futuro Comum, 1987”, essa opção ficou caracterizada como significando “Desenvolvimento Sustentável” . Na Agenda 21, principal documento da Rio 92, tornou-se consenso a percepção da água como recurso ambiental limitado e de valor econômico. 32 Como resultado, as figuras do “ Usuário-Pagador” e do “Poluidor Pagador” , já consolidadas em muitos países, tornaram-se universal. Dessa situação resultou que as despesas referentes ao tratamento e reuso dos esgotos domésticos e efluentes industriais deixaram de ser contabilizadas como custos e passaram a ser vistas como investimentos que geram recursos hídricos não potáveis para uso doméstico, comercial, industrial e para produção agrícola nas área peri-urbanas e irrigação de áreas verdes diversas, tais como jardins, parques e campos de esporte. Efluente zero não significa Que a cidade ou a industria vai deixar de gerar águas servidas ou resíduos, mas que vai considerar os processos de tratamento e de reuso, na medida em que condições de balanço hídrico custos riscos versus benefícios forem satisfatórias, tanto em termos econômicos como de proteção ambiental. A alternativa efluente zero representa uma meta avançada do processo de tratamento e reuso das águas e outros resíduos e já não é uma hipótese ou tese acadêmica, mas uma situação comprovada por muitas indústrias importantes, em diferentes países do mundo desenvolvido. Uma ampla quantidade de técnicas já está disponível para se chegar a melhores e mais baratos processos de tratamento de esgotos domésticos e industriais. Contudo, o nível de efluentes zero deve ser entendido como uma meta que poderá ser atingida, efetivamente, quando forem criadas as condições legais, institucionais e de viabilidade técnica-econômica, comparativamente às demais alternativas locais. 33 5. OTIMIZAÇÃO DO USO DE ÁGUA Embora não exista, no Brasil nenhuma legislação relativo ao reuso e reciclo de águas, e nenhuma menção tenha sido feita sobre o assunto na Lei Nº 9.433 de 1997, ou Lei das Águas, já houve uma primeira demonstração de vontade política. Com efeito, na “Conferência Interparlamentar sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente”, realizada em Brasília, em dezembro de 1992, foi aprovada a recomendação, sob o item Conservação e Gestão de Recursos para o Desenvolvimento (parágrafo 64/B), que se envidasse esforço, a nível nacional, para institucionalizar a reciclagem e reuso sempre que possível e promover o tratamento e a disposição de esgoto, de maneira a não poluir o meio ambiente. Neste quadro, o conceito de “substituição de fontes” se mostra como a alternativa mais plausível para satisfazer as demandas menos restritivas, liberando as águas de melhor qualidade para usos mais nobre, como o abastecimento doméstico. Em 1985, o Conselho Econômico e Social da Nações Unidas, estabeleceu uma política de gestão das águas em áreas carentes de recursos hídricos, que suporta este conceito: “a não ser que exista uma grande disponibilidade, nenhuma água de boa qualidade deve ser utilizada para usos que tolerem águas de qualidade inferior. As possibilidades e formas potenciais de reuso dependem, evidentemente, de características, condições e fatores locais, tais como decisão política, arcabouço institucional e legal, disponibilidade técnica e fatores econômicos, sociais e culturais. No setor urbano, as possibilidades de reciclagem ou reuso de efluentes domésticos ou industriais são muito amplas e diversificadas, tais como: (1) Torres de refrigeração; (2) alimentação de caldeiras; (3) construção civil, compactação do solo; (4) irrigação de áreas verdes, lavagem de pisos, peças; (5) processos industriais. A Organização Mundial da Saúde – OMS – não recomenda o reuso direto, entendido como a conexão direta dos efluentes de uma estação de tratamento de esgotos, a uma estação de tratamento de água e, em seguida, ao sistema de distribuição. A reutilização de esgotos domésticos recomendadas é do tipo indireto, ou seja, o efluente da 34 estação de tratamento de esgoto é diluído num corpo de água limpa - rio, lago, aqüífero subterrâneo do qual, após um certo tempo de detenção, é novamente captado, seguida de tratamento adequado e posteriormente distribuição. Face aos risco potenciais à saúde pública, aos elevados custos envolvidos e aos problemas de segurança operacional do reuso indireto, tem sido recomendada a reutilização para fins urbanos não potáveis. Dentre esses, os com maior potencial de viabilização são os seguintes: (1) irrigação de parques e jardins públicos ou privados, centros esportivos, áreas verdes ao longo da avenidas e rodovias; (2) reserva de proteção contra incêndios; (3) abastecimento de sistemas de refrigeração; (4) sistema aquáticos decorativos, tais como chafarizes, fontes, espelhos de água e cascatas; (5) descarga sanitária de banheiros públicos, e edifícios comerciais, aeroportos, industriais; (6) lavagem de carros, trens, ônibus e veículos em geral. A aplicação de esgoto na agricultura é uma forma efetiva que vem tendo um grande desenvolvimento nas últimas décadas, devido aos seguintes fatores, principalmente: (1) Os benefícios econômicos são incontestáveis, auferidos graças ao aumento da área cultivada e ao aumento de produtividade; (2) dificuldade crescente de fontes de água natural para irrigação; (3) custos elevado de fertilizantes; (4) custos elevados dos sistemas de tratamento, para descarga dos efluentes nos corpos receptores; (5) aceitação crescente sócio-cultural da política de reuso; (6) minimização dos riscos à saúde pública e de impacto ambiental no solo e culturas, se as precauções adequadamente são efetivamente observadas. 35 6. A EMPRESA Este trabalho foi desenvolvido baseado em dados fornecidos pela Empresa em estudo, situada no extremo Norte de Salvador, ficando aproximadamente 600 m do mar, junto a uma área de dunas semi-móveis, áreas alagadiças e várias lagoas. Os principais produtos fabricados são o Dióxido de Titânio (pigmento branco) e o Sulfato Ferroso (floculante). Este último, antigamente um resíduo sólido descartado, passou a ser comercializado mais intensamente, sendo atualmente um subproduto de valor comercial para a empresa, sendo utilizado, inclusive, no seu próprio sistema de tratamento de água, para fins de utilização pela fábrica, nas áreas administrativa e produtiva. Além destes produtos, produz 50% do ácido sulfúrico e o demais, é adquiridos em outras empresas, cujo a aplicação é no processo interno de obtenção de Dióxido de Titânio, não sendo comercializado para terceiros. Entre a fábrica e o mar, situa-se um condomínio de alto padrão (Condomínio Parque Interlagos), caracterizado por um sistema de canais artificiais interligados a uma lagoa. A oeste do terreno industrial, encontra-se o Bairro Areias, habitado por uma população de baixa renda. Ambos são abastecidos integralmente por águas subterrâneas A nível regional, a área de estudo situa-se no contexto geral da Bacia Sedimentar do Recôncavo (10.000 Km2) de idade Eocretácea e cuja origem está diretamente ligada à separação dos continentes africano e sul-americano, ocupando a porção sul do Graben da Bahia, com 56.000 Km2 de área e espessuras de 3.000 a 8.000 m. Os sedimentos desta Bacia foram depositados numa fossa tectônica formada nas rochas préCambrianas do Cráton do São Francisco, em ambiente flúvio-lacustre, a partir de Neojurássico.Estratigraficamente, estes sedimentos formam o Supergrupo Bahia (K), composto pelas Formações São Sebastião, (Cretáceo inferior) e Marizal (Cretáceo superior) . A primeira é composta por intercalações de vários arenitos com lentes de folhelhos e siltitos. A Formação Marizal assenta-se discordantemente sobre a Fm. São Sebastião, sendo formada 36 por um conglomerado basal e arenitos imaturos variegados e lentes irregulares de argilas e siltes. A espessura destas formações é superior a 1.000 m . O Aqüífero São Sebastião representa o principal aqüífero regional, desempenhando um importante papel tanto no suprimento de água potável às indústrias do Complexo Petroquímico, como na regularização da vazão dos rios locais da região, principalmente rio Joanes e Jacuípe, cuja contribuição foi estimada em 40 m3/s. Poços perfurados na área do Complexo Petroquímico costumam chegar a 300 m3/h, com capacidades especificas variando entre 1 a 30 m3/h/m. Tem-se histórico que cerca de 200 poços foram perfurados nesta área, estando cerca de 100 em uso, com profundidades entre 57 e 450 m. O padrão regional de fluxo se dá em sentido ao mar (NW-SE), sendo "bloqueado" junto ao Oceano Atlântico, devido ao "horst" pré-Cambriano, provocando uma zona de descarga junto à Falha de Salvador e rio Capivara Grande. Acima da Fm. Marizal, ocorrem os sedimentos arenosos da Fm. Barreiras, de idade Terciária, formando "tabuleiros" com cerca de 30 a 40 m de espessura e sedimentos quaternários de distribuição mais restrita e reduzida espessura. Estes depósitos ocorrem junto à linha costeira, sob a forma de sedimentos areno-argilosos, por vezes orgânicos, nas planícies aluviais dos rios e de areias inconsolidadas em dunas semi-móveis com pouca cobertura vegetal. Estas formações constituem aquíferos em geral de pouca produtividade, porém em muitas áreas rurais e peri-urbanas podem constituir-se nas únicas fontes de água potável para a população, através de poços escavados (cacimbas) ou mesmo poços tubulares de pequena profundidade. A precipitação na região de Camaçari apresentou valores históricos (1961 a 1990) de 1980 mm/a, e evapotranspiração de 1354 mm/a, o que faz prever taxas de recarga elevadas, da ordem de 430 mm/a, considerando-se escoamento superficial em torno de 10% da precipitação. Como dados mais recentes temos as precipitações pluviométricas de 1998 e 1999 fornecidas pela Empresa de Proteção Ambiental, localizada em Camaçari, responsável pelo tratamento de efluentes industriais e monitoração ambiental 37 integrada a proteção ambiental do complexo petroquímico da região em sua área de influência, onde foram efetuadas as leituras na ETE, respectivamente 1226,3 mm/ano e 1899,5 mm/ano. O clima local é tropical úmido com duas estações bem marcadas: estação seca, de agosto a fevereiro e estação chuvosa, de março a julho. 38 7. O PROCESSO INDUSTRIAL 7.1. O Produto Dióxido de Titânio – Características gerais O Dióxido de Titânio (Ti 02) é um pó branco, utilizado como pigmentos de tintas. Ocorre na natureza em diversos minerais, e sua composição é de 40,07 % de Oxigênio e 59,93 % de Titânio. É insolúvel em água, ácido clorídrico, ácido nítrico e ácido sulfúrico diluído, sendo solúvel em ácido sulfúrico concentrado aquecido e ácido fluorídrico. O titânio é um elemento considerado classicamente como um dos componentes mais comuns da crosta terrestre, sendo encontrado em quase todas a s rochas. O titânio é, atualmente muito procurado não somente como metal para construção aeronáutica espacial, mas também, sob a forma de dióxido de titânio, que possui excelentes qualidades opacificantes, sendo empregado como pigmento branco nas pinturas, na indústria do papel, matérias plásticas e outros. O Dióxido de Titânio é o composto mais usado no mundo como pigmento branco para tintas de recobrimento de superfície. Isto se deve principalmente ao baixo custo por unidade de cobertura e excelente poder de cobertura, possuindo uma boa estabilidade contra agentes físicos e químicos, sendo um produto atóxico, utilizado em produtos de cores variadas e não somente em materiais brancos. A empresa de beneficiamento de Dióxido de Titânio utiliza como fonte de TiO2 a ilmenita pura ou em mistura com escória de Titânio. A ilmenita é um minério que contém alto teor de titânio, cuja fórmula representativa é FeO.TiO2, possuindo ainda óxidos de outros metais em quantidades reduzidas. É encontrado em areia de praias ou em jazidas. A ilmenita utilizada pela empresa é produzida pela subsidiária RIB, no estado da Paraíba, a partir de dunas próximas às praias. A escória de titânio, é um rejeito do processamento metalúrgico da ilmenita para produção de ferro. A empresa utiliza ainda a escória importada da África do Sul,, com teor de titânio maior que o da ilmenita, parte deste na forma reduzida. Essa característica, juntamente com o baixo teor de ferro, permite que através do uso da mistura ilmenita/escória seja produzida uma menor quantidade de sulfato ferroso, limitante no efluente líquido do mar. 39 A composição típica destes dois materiais é a seguinte: COMPOSTO ILMENITA RIB ESCÓRIA DE TITÂNIO TiO2 Total 54% 83% TiO2 reduzido - 25% Fe0 - 0,08 % FeO 10% 11 % Fe2O3 25% - Tabela 5 – Composição típica de Titânio na Ilmenita Natural e Escória 7.2. Processo produtivo de Dióxido de Titânio A empresa em estudos utiliza o "Processo Sulfato", onde o TiO2 é fabricado a partir do método de lixiviação a ácido sulfúrico quente ("Sulfatização"), onde o mineral de ilmenita moído é misturado com H2SO4 quente e a mistura é agitada a vapor. Da solução resultante de sulfatos de titânio, sulfato ferroso e férrico (posteriormente reduzido a sulfato ferroso, por limalha ou sucata de Fe), o Fe é removido como sulfato ferroso cristalizado por resfriamento, cristalização e centrifugação. A solução ácida de sulfato de titanila (TiOSO4) é então concentrada e hidrolisada com soda caústica, sendo o precipitado filtrado a vácuo (TiO2 insolúvel), novamente suspenso em água e refiltrado, para remoção do restante do sulfato ferroso, o qual é atualmente vendido como floculante para tratamento de água (após secagem ou não) A torta de filtração é então re-suspensa e calcinada a TiO2 em fornos rotativos. Dependendo do produto a ser obtido, após a hidrólise, pode-se adicionar sementes (pequena quantidade) de rutilo ou anatásio, além de outros reagentes específicos (ácido fosfórico, óxido de zinco, cloreto de potássio e outros). Os efluentes, após a equalização, são enviados ao mar através do emissário submarino, com 6 Km de distância da costa. 40 Fluxograma do processo da unidade de LICOR Àrea de Estocagem (Matéria Prima) Unidade de Processo de LICOR Secagem /Moagem Dissolução /Redução Sulfatação Planta de Evaporação Clarificação Filtração Tratamento de Lama Cristalização Classificação/ Centifugação Hidrólise Figura 7 – Esquema da unidade de processo de LICOR O Dióxido de Titânio é um pigmento branco que é utilizado como matéria prima na industrialização de vários produtos. Devido a sua estabilidade e resistência à agentes físicos e químicos, além de atóxico, tem suma importância na aplicabilidade colorífica em diversos ramos de atividades. O Titânio é encontrado na forma natural em areias de praias ou em jazidas ou através de escória originada do processo metalúrgico, na produção de ferro e, está agregado a outros minérios. O processo de separação se dá, através de reações químicas, considerando o padrão de pureza a nível internacional. 41 %V205 - 0,10 à %V205 -0,63 %ZrO2 - 0,31 à %ZrO2 - 0,06 %Nb2O5 - 0,18 à %Nb2O5 - 0,06 % A1203 - 2 15 à % A1203 - 2,88 Tabela 6 – % de impurezas natural em areias, jazidas e na escória 7.2.1. Secagem e Moagem No processo sulfato, os minérios são digeridos por ácido sulfúrico concentrado transformando óxidos em sulfatos que são solúveis em água. Uma vez que se trata de reação entre sólido e liquido, para que tenhamos uma boa eficiência de reação, o minério deve apresentar o máximo de superfície em contato com o ácido, para tanto o minério deve apresentar tamanho de partícula com no máximo 5% acima de 53 μm (peneira de 270#). Os minérios utilizados possuem originalmente dimensões bastante variadas, sendo que a maior parte está acima de 149 μm, e para que possamos atender as necessidade da sulfatação reduzimos as dimensões do minério com a moagem do mesmo. Além de ser moído, o minério deve conter um teor de umidade muito baixo, uma vez que a presença de água no minério moído pode provocar uma sulfatação prematura. Em condições normais o teor de umidade apresentado pelo minério bruto dispensa a secagem. No entanto, a forma de transporte e estocagem comprometem esta condição principalmente no período de chuvas, e para termos melhores condições de transporte e moagem para o minério, este deve ser secado. O processo de moagem é conduzido em moinhos de bolas. Alguns fatores são fundamentais para obtenção de um minério com uma granulometria adequada: carga para o moinho; carga de bolas; abertura do classificador, etc. Nessa etapa a água é utilizada somente para refrigerar a camisa dos moinhos, com uma vazão média de 61,8 m3/dia. 7.2.2. Sulfatação O minério moído e seco é misturado ao ácido sulfúrico concentrado e homogeneizado sob agitação. O volume do ácido sulfúrico é constante e a sua concentração é igual a 98,50%. Alterações nestes valores influenciarão na eflciência da sulfatação. A massa de minério 42 utilizada depende do tipo de mistura de minério empregada, sendo o seu valor ajustado em função dos resultados obtidos com o licor reduzido. Após a pré-mistura, obtém-se a sulfatação propriamente dita, onde ocorre as reações entre o ácido sulfúrico e os óxidos minerais, produzindo sulfatos. Esta etapa ocorre continuamente e é composta pelas reações mostradas abaixo, onde algumas são reações exotérmicas mas, que necessitam de uma energia inicial, à qual é fornecida pelo calor liberado pela diluição do ácido pela água adicionada junto com a mistura. A massa sulfatada que apresenta uma coloração marrom-esverdeada é descarregada pelas extremidades do sulfatador sendo então dissolvida com água. REAÇÕES TiO2 + H2S04 TiO S04 + H20 Ti2O3 + 3 H2S04 Ti2(S02)4 + 3 H20 FeO + H2S04 Fe S04 + H20 Fe2O3 + 3H2S04 Fe2(S04)3 + 3 H20 MnO + H2S04 MnSO4 + H20 Cr2O3 + 3 H2S04 Cr2(SO4)3 + 3 H20 Nb2O3 + 5 H2S04 Nb2(S04)5 + 5 H20 A1203 + 3 H2S04 Al 2(SO4)3 + 3 H20 V205 + 5 H2S04 V2(S04)5 + 5 H20 Tabela 7 – Processo de Sulfatação Na sulfatação temos como principal avaliação do processo a eficiência., índíce que avalia o processo de ataque do ácido ao Dióxido de Titânio do minério. Podemos expressa-la da seguinte maneira: % EFICIÊNCIA = TiO2 (SOLUBILIZADO PELA ÁCIDO SULFÚRICO) TiO2 TOTAL DO MINÉRIO Nessa etapa há utilização de aproximadamente 900m3/dia de água para a pré-dissolução dos materiais, iniciando dessa forma, as reações químicas, no entanto não há descarte de água nessa etapa. 43 7.2.3. Dissolução I Redução Após a sulfatação, a massa é descarregada pelas extremidades do sulfatador, sendo misturada com uma corrente de água, iniciando a solubilização dos sulfatos presentes, produzindo o que chamamos de licor dissolvido. A massa sai do reator com cerca de 800 C; após a dissolução, a temperatura não deve exceder a 750C, pois, há a possibilidade de ocorrer uma hidrólise prematura. A densidade desse licor é controlada através da adição de água para dissolução e um desvio na sua especificação levará a obtenção de um licor com alta ou baixa concentração de TiO2, forma na qual, expressamos todos os compostos de titânio. A elevação da concentração de TiO2 é importante, uma vez que esta é basicamente a função da última seção da evaporação, no entanto, temos como fator limitante a dificuldade que surge na sedimentação dos sólidos na seção de clarificação e classificação. Já a redução da concentração do TiO2 dificultará a cristalização do sulfato ferroso, além de requerer um consumo maior de energia na evaporação. Nesta etapa a água é utilizada para resfriar o sistema, com uma vazão de descarte de água de 1080 m3/dia . O licor apresenta uma alta concentração de ferro na forma de Fe+3, e caso este siga no processo precipitará com o dióxido de titânio na etapa de hidrólise levando à produção de um pigmento fora do padrão, esta forma de ferro causa também a corrosão do cobre, material das serpentinas. Portanto, para evitar estes problemas, este íon de ferro é convertido através de uma reação de redução onde obtemos Fe+2, sendo esta forma retirada do processo através da cristalização. A reação química ocorre através da reação de ferro metálico com o licor ácido conforme mostrado abaixo: Feº + H2S04 2H+ + FeSO4 Fe2(SO4)3 + 2H+ H2S04 + 2FeSO4 Fe2(S04)3 + Fe 3FeSO4 Reações Parciais Reação Global Como podemos observar a reação global é a do sulfato férrico com o ferro metálico produzindo o sulfato ferroso. No entanto ela ocorre em duas etapas: na primeira, ocorre a 44 liberação do íon H+, que em contato com o sulfato férrico, o reduz produzindo o sulfato ferroso. Nesta etapa também ocorre a reação entre os íons H+ produzindo hidrogênio H2, diminuindo, assim, a eficiência da reação. Após o consumo de todo o íon Fe+3, iniciar-se-á a redução do Ti+4, produzindo o Ti+3 (ion titanoso), conforme descrito abaixo. 2TiOSO4 + Fe + 2H2S04 Ti2(S04)3 + FeSO4 + 2H20 A presença do íon Ti+3 nos garante que todo o Fe+3 foi reduzido, no entanto, estas reações são reversíveis e o Ti+3 se oxida com o passar do tempo. Para evitar o reaparecimento do Fe+3, deve-se manter o íon Ti+3 com uma concentração razoável, porém não muito alta, pois esta forma de titânio não sofre hidrólise, diminuindo assim a eficiência desta seção. No processo de redução temos que observar os seguintes aspectos: Limalha de ferro Esta deve apresentar uma boa qualidade no tocante ao teor de ferro e granulometria. No primeiro caso o baixo teor de ferro implicará num alto consumo de limalha com aumento no teor de impurezas colocados no processo, que poderão ser atacados pelo ácido do licor ou seguirão como sólidos para serem retirados na seção seguinte. Dentre as impurezas é indesejável a presença de óleos que podem funcionar como espumante. Quanto á granulometria esta não pode conter partículas muito finas, pois estas reagirão muito rápido podendo ocasionar transbordamentos no tanque de redução. Por outro lado, partículas muito grandes reagirão mais lentamente, podendo ultrapassar a retenção vindo a reagir no clarificador comprometendo a floculação. Temperatura Esta variável deve ser rigorosamente controlada não devendo extrapolar o limite superior, pois com o aumento perde-se a eficiência de redução devido a perda de hidrogênio com os gases exauridos do sistema, além de tornar o licor bastante instável, favorecendo uma 45 hidrólise prematura. Por outro lado, se a reação for conduzida em baixa temperatura, ocorrerá lentamente podendo prosseguir reagindo mesmo apôs a retenção. Vazão de licor dissolvido Qualquer alteração nesta variável deve ser seguida de uma correção na dosagem de limalha, além de um maior controle no Ti+3. Caso tenha ocorrido um aumento de vazão, deve-se atentar para que com a diminuição do tempo de retenção não ocorra a passagem de licor, ainda reagindo para a próxima seção. 7.2.4. Clarificação A presença de sólidos junto ao licor de titânio é indesejável, uma vez que influenciará a etapa de hidrólise, e a sua remoção do licor reduzido é a função da seção de clarificação. Os sólidos são partículas muito finas constituídas em grande parte pelo minério não reagido na sulfatação e impurezas que entram no processo junto com a limalha. A forma/tamanho da partícula (sólido) tem grande influência no processo de sedimentação. No nosso caso devido às pequenas dimensões das partículas a sedimentação natural é tão lenta que é inviável para uma produção em escala. Esta condição é contornada quando induzimos a formação de partículas maiores através do uso de agentes floculantes, que atuam aglomerando os sólidos. Desta maneira temos a formação de duas correntes: o licor clarificado (over-flow) e uma lama com alta concentração de sólidos (under-flow). A dosagem de floculante catiônico deve ser controlada pelos ensaios pilotos de sedimentação e claridade, isto porque, para uma mesma vazão de licor à medida que aumentamos a vazão da solução de floculante, observamos um aumento na taxa de sedimentação. Quanto à claridade temos inicialmente um aumento da mesma com a dosagem de floculante passando por um valor máximo, após o qual ocorre uma diminuição. Isto se explica pelo fato de que a quantidade excessiva de floculante favorece a uma rápida floculação, dificultando a integração com as partículas mais finas que ficam em suspensão e que comprometerão a claridade e o teor de sólidos no clarificado. O floculante utilizado é do tipo catiônico e é urna poliacrilarnida de alto peso molecular, do 46 qual é preparada uma solução aquosa a 0,25 % em peso. Um correto preparo assegura uma total abertura da cadeia polimérica, portanto, uma boa eficiência do floculante A densidade do licor reduzido tem grande importância, pois, a sedimentação dos sólidos será tão mais rápida quanto maior for a diferença entre as suas densidades. Ou seja, à medida que aumentamos a densidade do licor temos uma redução da diferença entre esta e a densidade dos sólidos o que tornará mais lenta a sedimentação das partículas, e portanto o processo de clarificação. Durante o processo de clarificação temos a formação de diferentes zonas no interior do clarificado. Quando o equipamento atinge regime permanente, isto é, quando a vazão de alimentação de licor reduzido é igual á vazão de retirada de clarificado e de lama, não ocorrerá alteração nestas zonas proporcionando à manutenção das características do licor. Alguns outros fatores contribuem para a redução na eficiência do processo de clarificação. O mais importante deles é a presença de limalha junto ao licor alimentado ao clarificador. Isto porque a limalha continuará reagindo, com a liberação de hidrogênio, prejudicando a sedimentação dos sólidos. 7.2.5. Tratamento de Lama A lama obtida pelo espessamento no clarificador contém uma alta concentração de sólidos, e também bastante TiO2 solúvel que deve ser recuperado. Devido ao alto teor de sólidos a separação é feita em filtros rotativos à vácuo, onde teremos a formação de duas correntes: uma com baixa concentração de sólidos, chamada de filtrado e outra chamada de lama da faca, contendo cerca de 45% de sólidos. A primeira corrente retorna ao processo juntando-se ao Licor Reduzido enquanto que a segunda é misturada com cal, sendo neutralizada e enviada para a CETREL – Empresa de Tratamento de Efluentes e Resíduos sólidos para destinação final no aterro e/ou para utilização em cerâmicas. Durante o processo de tratamento, a lama é mantida sob uma temperatura superior a 600C, para que possa apresentar boa fluidez e filtrabilidade. 47 O filtro rotativo é formado por grande cilindro (tambor) com uma área externa com cerca de 32 m2, que gira parcialmente submerso na lama e possui internamente uma rede de tubulações interligada a um sistema de vácuo. O tambor é envolvido por um tecido filtrante e sobre este é aplicada uma camada auxiliar de filtração que é um material inerte e bastante permeável, e tem como finalidade reter os sólidos impedindo que os mesmos atinjam o tecido filtrante causando a sua rápida obstrução, e facilitar o descarte dos sólidos. Nesta seção temos como principal variável de processo a percentagem de TiO2 solúvel contido na lama descartada pelo filtro, isto porque esta variável determina o quão eficiente está a operação do filtro e, por sua vez, também avalia a eficiência da seção. Diversos fatores contribuem para o controle desta variável, os quais estão descritos abaixo: Densidade da lama: Para uma boa operação do filtro é importante que esta variável de densidade seja mantida abaixo de 1,70 g/cm3, pois desta maneira, a lama estará mais fluida, permitindo uma maior capacidade de filtração e de recuperação do TiO2. Apesar disto, a lama não pode vir para seção com densidade muito baixa, porque significará uma maior retirada de licor dos clarificadores comprometendo a sua produção. Temperatura A lama quando chega à seção está com uma temperatura em torno de 500C, e para evitar a sua redução, o que tornaria a lama mais viscosa, difícil de filtrar e favorecendo a cristalização do sulfato ferroso, obstruindo tubulações e tecidos, fazemos o uso de um tanque de aquecimento que eleva a temperatura, permitindo que a mesma atinja cerca de 600C nas bacias dos filtros. A limitação para a elevação da temperatura é a estabilidade do TiO2. Lavagem Durante a operação do filtro rotativo podemos considerar a existência de três zonas ao longo do tambor: filtração da lama, lavagem da torta e secagem. Inicialmente ocorre a filtração de lama dentro da bacia. Com o giro do tambor, temos o contato da torta com o condensado que lava a torta, favorecendo a retirada dos sais solúveis, aumentando a recuperação do TiO2 48 solúvel e contribuindo para eficiência da seção; finalmente ocorre a secagem e o descarte da torta. Durante a lavagem temos que assegurar o perfeito funcionamento dos sprays para que tenhamos uma lavagem uniforme e eficiente. Rotação do tambor A cada giro do tambor ocorre a formação da camada de torta que é lavada e descartada. Com a redução na velocidade do tambor teremos a formação de uma torta com maior espessura proporcionando uma maior produção do filtro, porém de difícil lavagem reduzindo a recuperação do TiO2 solúvel. Por outro lado o aumento na velocidade reduzirá bastante a produção, portanto existe um valor ótimo para a sua velocidade, onde se combina produção e recuperação Velocidade da faca A velocidade de avanço da faca deve ser suficiente para permitir a retirada da torta e um mínimo de auxiliar filtrante, pois caso contrário, teremos consumo excessivo de auxiliar de filtração com um alto avanço ou baixa produção de lama com uma redução no avanço. 7.2.6. Cristalização Nesta etapa do processo o licor clarificado é resfriado, e com a redução na temperatura ocorre a precipitação do Sulfato Ferroso na forma heptahidratada (FeSO4 . 7H20), e, desta forma, conseguimos retirar o Sulfato Ferroso e aumentar concentração do licor. A cristalização ocorre em batelada na qual o licor é resfriado através de água gelada que circula no interior de serpentinas de cobre ou pode ser resfriada pela evaporação da água em sistema á vácuo. O volume de água descartada nessa etapa do processo é de 785,5 m3/dia, utilizada para resfriamento do sistema e selagem da bomba à vácuo. Cada um dos sistemas apresenta limitações operacionais: no sistema de resfriamento com a água gelada a troca térmica é reduzida no decorrer da cristalização devido à deposição de cristais sobre a serpentina. Além disso a temperatura do fluído refrigerante (água gelada) está 49 em torno de 110 C e não permite uma redução maior na temperatura final do licor sem um comprometimento do tempo de cristalização. No sistema à vácuo, é possível uma maior redução na temperatura. No entanto, a grande turbulência que ocorre no seu interior contribui para a produção de cristais muito finos, que apresentarão dificuldade de sedimentação na próxima etapa do processo. Na cristalização temos como principais variáveis de processo: Concentração do licor clarificado Na temperatura e concentração que o licor entra no cristalizador, todo sulfato ferroso está dissolvido. Com o resfriamento, atingiremos a curva de saturação do sulfato. A partir desse ponto, todo sulfato ferroso que exceder a concentração de saturação precipitará na forma de cristal heptahidratado. Portanto, quanto maior for a concentração inicial de FeSO4, que é analiticamente o produto do número de Ferro pela concentração de TiO2, maior será a quantidade de cristais formados. Temperatura Partindo de uma determinada concentração, quanto mais baixa for a temperatura final do licor, maior será a formação de cristais. Na prática, adotamos temperatura em tomo de 180C para cristalizadores à vácuo e 20 ºC para cristalizadores à água gelada, isto porque nestas temperaturas já conseguimos baixar o número de Ferro o suficiente e, uma maior redução na temperatura tornaria a batelada longa, e economicamente inviável, devido a redução na produção e aumento no consumo de água gelada para pequena redução de temperatura. 7.2.7. Classificação/Centrifugação O licor cristalizado é uma suspensão de cristais de sulfato ferroso. A classificação tem a função de separar esse sulfato do licor. A separação se dá por sedimentação natural, não havendo a necessidade do uso de agentes promotores como ocorre na clarificação. A forma e o tamanho dos cristais são bastante importantes na decantação, pois quanto maiores esses cristais mais rápido eles sedimentarão. É o que podemos observar com os cristais provenientes do sistema de água gelada. De forma contrária à sedimentação dos cristais à 50 vácuo, se eles se apresentam muito pequenos a sedimentação se apresenta muito lenta, ficando os cristais mais propensos ao arraste pelo fluxo do licor. O classificador possui duas correntes de saída: o licor classificado (over-fiow) e uma suspensão de cristais (under-flow) com cerca de 55% de cristais em peso. A primeira corrente é direcionada para tanques onde tem sua temperatura elevada até 600C favorecendo a dissolução de qualquer cristal que tenha sido arrastado. O under-flow é direcionado para separadoras centrífugas onde os cristais são separados do licor chamado água mãe. Estes cristais ainda possuem quantidades consideráveis de TiO2, sendo então lavados na própria cesta, a fim de que, no final, o sulfato ferroso descarregado não contenha mais que 0,5% em TiO2. Devido a diferença de concentração, a água de lavagem é separada da água-mãe. Esta, é conduzida para os tanques de licor cristalizado enquanto que a água de lavagem retorna para o tanque de licor dissolvido. Esta distribuição é feita com base no critério de concentração de TiO2 destas correntes. A água de lavagem com baixa concentração de TiO2 não deve ser direcionada para o licor cristalizado, ao passo que o direcionamento do fluxo da água mãe para a dissolução é até aconselhável quando se trabalha com carga baixa na planta Na Classificação temos como principais variáveis de processo: Concentração de Ti02 Objetivo da classificação é retirar os cristais, assegurando que a concentração obtida pelo licor através da cristalização seja mantida. No entanto, alguns desvios podem acontecer por diversos motivos tais como: vazão excessiva de cristalizado, provocando o arraste de cristais, levando a uma queda do TiO2 e aumento do número de Ferro; redução na retirada de cristais levando a um aumento no nível destes no interior do classificador, diminuindo o tempo de retenção e favorecendo os arrastes. Esta variável sofre perturbações dos reciclos da água-mãe quando temos uma carga baixa na planta. Número de ferro A manutenção desta variável dentro dos limites de especificação, além de ter efeito positivo sobre a concentração do TiO2, não influenciará a etapa de hidrólise, bem como permitirá um maior controle sobre o descarte de Ferro para o efluente. 51 7.2.8. Filtração O licor classificado contém um teor de sólidos que é prejudicial para os processos de evaporação e hidrólise, no primeiro caso devido à formação de incrustações nos trocadores de calor e no segundo porque estes sólidos podem atuar como semeadura primária comprometendo a qualidade do TiO2 formado na hidrólise. Desta maneira os sólidos devem ser retirados do processo. A filtração é realizada por filtros de pressão do tipo placas e quadros, e é utilizado um esquema auxiliar de filtração com objetivo de reter os sólidos evitando contato direto deste com o tecido filtrante Temos como variável monitorada nesta seção a concentração de sólidos que mostra o quanto eficiente está o processo de filtração. 52 8. CAPTAÇÃO E TRATAMENTO DA ÁGUA UTILIZADA NA FÁBRICA A captação da água destinada para o consumo e processo na empresa é realizada no Rio Açu e em poços profundos localizados na Fazenda Machadinho, situado a 1 km da fábrica. O Rio Açu é formado pelos rios Braço Maior e Menor e pelo rio Capivarinha, a mais ou menos 8 Km do ponto de captação. Forma uma várzea com uma largura média aproximada de 2 Km depois da junção dos rios na lagoa Feia e deságua no Jacuípe a aproximadamente 5 Km do ponto de captação. No trecho próximo à captação forma uma bacia natural coberta com espessa camada de capim que fornece à água cor característica da presença de matéria orgânica. A água é bombeada das fontes de captação para a Estação de Tratamento de Água da própria empresa e posteriormente, bombeada para um reservatório elevado de 55 metros de altura, com capacidade de 500 m3 , que abastece as unidades industriais e administrativas. A Estação de Tratamento de Água - ETA tem capacidade de tratamento 800 m3/h. O tratamento utilizado é o convencional, com um custo de U$ 0,17 por m3. O tratamento consiste de: floculação, decantação, filtração e desinfecção, além de um pré-cloração na entrada da ETA, visando oxidação de ferro e matéria orgânica . O tratamento consiste na remoção de cor e turbidez através do sistema de tanques clarificadores e filtro de areia, utilizando como floculante o sulfato ferroso, sub-produto da produção TiO2 da empresa. Captação (1) (2) (3) (4) (5) ENTRADA NA FÁBRICA (1) – Floculador ( Cal hidratada, Sulfato, Cloro gás, Polieletrólito ) (2) – Decantador (3) – Filtro rápido de areia (Cal hidratado) (4) – Reservatório inferior (5) – Reservatório elevado Figura 8 - Fluxograma do Tratamento de Água A água tratada, conforme procedimentos da Empresa, deve atender aos Valores Máximos Permitidos listados abaixo: 53 PARÂMETRO VMP Condutividade 170 μS/cm Sólidos Totais 160 ppm Tabela 8 – Qualidade da água no reservatório inferior da fábrica PARÂMETROS VMP PH 7,0 -9,0 Dureza 250 ppm Ferro Total 0,3 ppm Cálcio 50 ppm Cloro residual 1,0 – 1,8 ppm Sólidos Suspensos 20 ppm Tabela 9 – Valor máximo exigido na qualidade da água na entrada da fábrica 54 9. UTILIZAÇÃO E DESCARTE DE ÁGUA NA EMPRESA A água captada, que abastece a empresa, após o tratamento, é bombeada para o reservatório elevado e, por gravidade, abastece as unidades industriais de Utilidades, Ácido Sulfúrico, Licor, Hidrólise, Pigmento, Tratamento, além da administração, refeitório e rede de incêndio. Na unidade de LICOR (onde se concentra a área de estudo), a água é utilizada nos processos de Secagem / Moagem, Sulfatação, Dissolução / Redução, Clarificação, Tratamento de lama, Evaporação, Filtração, Classificação e Cristalização, e outras atividades como: refrigeração de gaxetas de bombas da unidade de processo, serviços de limpeza de área e lavagem de equipamentos. As perdas localizadas (pontuais) de água proveniente do processo estão identificadas na planilha de levantamento de vazão de água de equipamento.( Anexo I – Planilha 1) 9.1. Identificação dos pontos de descarte da unidade de beneficiamento de Dióxiodo de Títânio Os pontos de descarga de águas residuárias, oriundos do processo descrito, foram identificados utilizando-se a experiência e conhecimento desse processo produtivo por parte dos encarregados e operadores da unidade de LICOR. Após estudos, os pontos foram identificados e relacionados conforme a nomenclatura de registro (TAG) de cada equipamento contribuinte com a emissão de efluentes gerados no processo. 9.2. Dados de vazão de entrada e saída de água da fábrica A fim de se avaliar o consumo total de água da fábrica, foi realizado levantamento de consumo nas várias unidades da fábrica durante o período de setembro de 1999 à fevereiro de 2000, conforme tabela 10. 55 LEVANTAMENTO DE DADOS/PONTOS VAZÃO M3 /DIA Água bruta na entrada da ETA 19.513 Água tratada na saída da ETA 17.268 Consumo de água na planta de Licor – DILIC 7.364 Consumo de água na planta de utilidades – DIHID 2.243 Consumo de água na planta de utilidades 5.226 Consumo de água na planta de pigmento e tratamento - DIPIG e DITRA 1.719 Consumo de água em geral ( Laboratórios, refeitório, Administrativo e Jardinagem) 492 Consumo de água nas comunidades de Areias e Interlagos 224 CONSUMO TOTAL 17.268 VOLUME DE ÁGUA NA ENTRADA DA FÁBRICA 17.044 Tabela 10 – Vazões de entrada e saída de água na fábrica Avaliando os dados da tabela de consumo de água, verificamos que o consumo da Unidade de Licor, unidade avaliada na presente monografia, é de 43,2 % do volume total da água que entra na fábrica. Em cada ponto de descarga de água proveniente da Unidade de Licor foi realizada medição de vazão, identificando-se, dessa forma, os pontos críticos, no que tange à quantidade de água descartada durante o processo – Planilha 1 - Anexo I Através das medições de vazão das águas residuárias realizadas em cada ponto de descarte, verificamos que o volume de efluente lançado ao meio ambiente, oriundo da Unidade de LICOR, é da ordem de 1.956,7 m3/dia, sendo que as duas maiores vazões situam-se nos pontos: over-flow do tanque e no sistema de bombas a vácuo, totalizando 1865,5 m3 / dia, ou seja, 95,3% do descarte total de água residuária dessa Unidade. Atualmente toda água resíduária gerada pela empresa é lançada no mar através de emissário submarino. 9.2.1 Processo de medição de vazão de água residuária Para a avaliação das vazões em cada linha de descarte, foi empregado o método volumétrico, utilizando-se, para isso, um vasilhame de volume conhecido e um instrumento de medição de tempo. O processo consistiu na coleta de igual volume do vasilhame, sendo registrado, também, o tempo de realização dessa coleta, através de instrumento de medição de tempo 56 (cronômetro), possibilitando, dessa forma, o cálculo de vazão média de cada ponto de descarga, conforme valores plotados na Planilha 1 – Anexo I. Fórmula utilizada: Vazão = Volume / Tempo ( l/h ) 9.3. Caracterização da águas residuárias Com base nas especificações de qualidade interna para a água utilizada na empresa ( entrada da fábrica e reservatório inferior), Portaria 36/90 – Potabilidade de água e Resolução CONAMA 20/86 – Classificação de águas, foram definidos alguns parâmetros, os quais oferecem subsídios para uma avaliação da qualidade das águas residuárias comparadas às especificações de água potável. Em dois pontos de lançamento de efluentes, onde ocorrência de contaminação por óleos e graxas é mais provável, foram realizadas análises desse parâmetro, sendo utilizado como referência o Valor Máximo Permitido - VMP estabelecido na Resolução CONAMA 20/86, Artigo 21, que referencia a qualidade de efluentes para lançamento em corpos hídricos. Cálcio Ph Cloretos Sólidos Suspensos Condutividade Sólidos Totais Dureza Total Óleos e Graxas Ferro Total Tabela 11 – Qualidade de efluentes para lançamento corpos hídrico, conforme CONAMA 20/86 57 9.3.1. Seleção dos pontos de amostragens para as análises A seleção dos pontos de amostragem, foi realizada seguindo os seguintes critérios: 9 Possibilitar avaliação de todos os pontos de lançamento de efluentes da Unidade; 9 Avaliar a qualidade dos efluentes nos pontos de maior e de menor vazão; Em função do exposto, foram amostrados e analisados 7 (sete) pontos, os quais estão relacionados abaixo: Ponto Descrição 3 Vazão m /dia T-0103 T-0104 D-0239 G-0253 G-0303 G-0351 G-0550 Refrig. Refrig. Over-flow Refrig. Refrig. Refrig. Bombas de Camisa Camisa do tanque Gaxeta de Gaxeta de Gaxeta de vácuo moinho moinho bomba bomba bomba 14,5 16,2 0,5 2,1 1,3 1.080,0 785,5 Tabela 12 – Pontos selecionados para coletas 9.3.2.Análises Físico-Químicas Para o reuso de águas residuárias numa indústria, faz-se necessário o conhecimento das características físico-químicas das mesmas, de modo a definir novas utilizações, atendendo aos parâmetros pré definidos no processo produtivo. Isto posto, as análises das águas residuárias se tornam imprescindíveis, a fim de se avaliar a sua qualidade logo após o descarte e a necessidade de tratamento antes da sua reutilização. As amostras de água foram encaminhadas para a Engequímica Serviços Especiais Ltda., laboratório especializado em análises de águas e efluentes. As análises seguem orientação do Standard Methods for Examination the Water and Wastewater - SMEWW, sendo adotados os seguintes métodos analíticos: 58 MÉTODO PARÂMETRO SM – 3500 Ca – C / 18º Ed. Cálcio SM – 4500 Cl - B / 18º Ed. Cloretos SM – 2510 - B / 18º Ed. Condutividade SM – 2340 - C / 18º Ed. Dureza Total SM – 3500 Fe – D / 18º Ed. Ferro total SM – 55203 B e D / 18º Ed. Óleos e Graxas SM – 4500 - B / 18º Ed. PH SM – 2540 – C / 18º Ed. Sólidos Totais SM – 2540 – C / 18º Ed. Sólidos Suspensos Tabela 13 – Metodologia utilizada por parâmetro Standard Methods 9.3.3. Coleta, preservação e identificação das amostras para análise A coleta e preservação das amostras para os ensaios físico-químicos, foi realizada no dia 21/03/2000, por técnico devidamente capacitado, nos pontos pré-estabelecidos, seguindo orientação do Guia de coleta e Preservação de Amostras de Água da CETESB, 1º Edição 1987/SP e do Standard Methods for Examination of the Water and Wastewater, 20º Edição – 1998. Foram coletadas sete amostras de águas residuárias nos pontos definidos, utilizando frascos de polietileno, sendo mantidos em recipiente térmico, evitando alteração brusca de temperatura durante o transporte e encaminhados para o laboratório para realização imediata das análises. 59 10. RESULTADOS DAS ANÁLISES O resultado das análises (Anexo II - Laudo de Análises), foi plotado em uma tabela ( Anexo III - Planilha 2), onde procedeu-se a comparação dos resultados obtidos com os padrões de qualidade estabelecidos pela empresa na entrada da fábrica, padrões de qualidade da água no reservatório inferior da empresa, padrões da Portaria 36/90 – Potabilidade e padrões da Resolução CONAMA 20/90, Artigo 4, água Classe I. Com referência a Óleos e Graxas, comparamos os resultados obtidos com VMP estabelecido pela Resolução CONAMA 20, Artigo 21- Lançamento de efluentes, onde temos o valor máximo de 20 ppm para óleos minerais. Comparando os resultados com os VMP’s , verificamos que as águas dos pontos T-0103, T0104, T-0150 e D-0239, correspondendo à 1142,0m3/dia, ou seja 58,4 % da vazão de descarte das águas residuárias oriundas do processo de LICOR, podem ser reutilizadas internamente em qualquer etapa do processo, sem nenhuma interferência negativa, muito menos causar algum dano aos equipamentos, apesar da condutividade de alguns pontos de descarga estarem com 3,4 % acima do VMP estabelecido para as águas tratadas do reservatório inferior. Nos demais pontos avaliados, que correspondem a 814,7 m3/dia, ou seja 41,6 % de toda água descartada na unidade, verificamos presença de ferro e condutividade acima dos limites recomendados na entrada da fábrica. Essa água, mesmo apresentando essa qualidade, pode ser utilizada em qualquer etapa da Unidade de Licor, tendo em vista que a única etapa que a água entra em contato direto com os materiais envolvidos no processo é na sulfatação, etapa essa que já é rica em ferro, portanto o incremento que essa água residuária poderia oferecer, não acarretará interferência alguma. Nos demais pontos, a água é utilizada somente para a refrigeração nas etapas do processo onde há geração de calor, portanto necessidade de resfriamento. 60 11. UTILIZAÇÃO DAS ÁGUAS RESIDUÁRIAS Uma série de fatores está levando as empresas a investir no reuso e reciclo de água nos processos produtivos. Entre eles, destacam-se a questão econômica e o comprometimento com a preservação ambiental. Além dos cuidados com o meio ambiente, o reuso e o reciclo trazem inúmeras vantagens econômicas, entre elas a redução de custos com água de make-up, em que se considera o direcionamento das águas já utilizadas para uma nova aplicação; a redução dos custos com tratamentos de efluentes, disposição de resíduos gerados nesses tratamentos e de riscos futuros de responsabilização por efluentes lançados; flexibilização da capacidade da planta de tratamento e a diminuição dos níveis e freqüência de monitoramento dos efluentes decorrente de um trabalho profundo realizado para as conclusões principais. O reuso industrial de águas residuárias praticado dentro da própria empresa, favorece a economia do recurso hídrico natural, sendo que essas águas devem ser utilizadas o maior número de vezes, antes de, finalmente, serem descartadas no meio ambiente. 11.1. Reuso de toda a água residuária, sem prévio tratamento Essa opção é a melhor em todos os aspectos, tanto no financeiro quanto no ambiental, podendo ser viabilizada sua reutilização em toda a unidade de LICOR, pois o volume de água contendo concentração de ferro acima do VMP na entrada da fábrica, pode ser utilizada na etapa de sulfatação, sem causar nenhum impacto negativo no processo, pois a concentração de ferro contida nos materiais utilizados nessa etapa já é alta. De acordo com dados operacionais, o volume de água que poderia ser destinado para essa etapa é de aproximadamente 900m3/dia, sendo que a geração dessa água é de 814,7 m3/dia, essa quantidade seria satisfatório para suprir as necessidades dessa etapa do processo. Altas concentrações de ferro em águas estão relacionadas à problemas estéticos, conferindo gosto, turbidez e cor à água, sendo prejudicial ao consumo humano concentrações de ferro acima de 1ppm, como nesse caso a água será destinada para uso dentro do processo a concentração de ferro próxima a 2 ppm não implica em nenhum empecilho para sua reutilização 61 A vazão estimada do lançamento total de águas residuárias dessa Unidade é de aproximadamente 1956.7m3/dia, considerando que, para cada m3 tratado há um custo de U$ 0,17 para a empresa, ou seja , para tratar esse volume, seria necessário um gasto de U$ 332,64 por dia. Essa prática trará um retorno financeiro de U$ 332,64 / dia e U$ 119.750,04 / ano e não utilização do recurso natural, deixando de captar e descartar 1956,7 m3/dia, ou seja, 704.406,4 m3/ano, reduzindo inclusive a quantidade de água residuária desse processo que, misturada com os outros efluentes da Fábrica são descartadas no meio ambiente. 62 12.CONCLUSÃO A água é um elemento fundamental à vida. Seus múltiplos usos são indispensáveis a um largo espectro das atividades humanas, onde se destacam, entre outros, o abastecimento público e industrial, a irrigação agrícola, a produção de energia elétrica e as atividades de lazer e recreação. A crescente expansão demográfica e industrial observada nas últimas décadas trouxe como conseqüências o comprometimento da qualidade das águas dos mananciais quer sejam de superfícies ou subterrâneos. A falta de recursos financeiros nos países em desenvolvimento tem agravado este problema, pela impossibilidade da aplicação de medidas preventivas e corretivas para reverter esta situação. Cada vez mais, a disponibilidade de água doce na natureza com qualidade que permita a sua utilização “in natura” (sem tratamento) ou com tratamento simplificado torna-se mais difícil, face ao comprometimento acima citado, sendo necessário, na maioria das vezes, o alto custo de tratamento, antes da sua utilização. Vale aqui ressaltar a grande abundância de águas salinas e duras no globo terrestre que, para sua utilização, mister se faz tratamento sofisticado e oneroso. Deve ser, portanto, da maior prioridade, a preservação, o controle e a utilização racional das águas doces. As projeções feitas para os próximos anos reforçam a necessidade de buscar alternativas para um problema que afeta a todos, indiscriminadamente. Pressionadas pela legislação cada vez mais restritiva, pela pressão do mercado consumidor e pela necessidade em se adaptar ao mundo globalizado, as organizações vêm investindo cada vez mais no reciclo de água, que se revela como uma forma de reduzir custos, ganhar produtividade e minimizar os impactos ambientais decorrentes da sua utilização desordenada Quando começaram a surgir, as empresas não possuíam nenhum outro comprometimento a não ser o de auferir, exclusivamente, lucros a seus sócios ou proprietários. Mas, no caminho da evolução da história, outras funções foram sendo agregadas, induzindo aos dirigentes das empresas uma mudança de consciência e de atitude em prol do meio ambiente. 63 O reconhecimento crescente dos direitos humanos e a união dos trabalhadores exigiram das empresas a tomada de decisões sociais. As empresas passaram a ter um comprometimento permanente com o desenvolvimento econômico como um todo, incluindo aí a melhoria da qualidade de vida da comunidade à sua volta. Por sua vez, o crescimento da economia mundial globalizada tem gerado novas oportunidades de expansão das empresas, a tal ponto que a competitividade fez com que elas se associem em blocos econômicos, surgindo os chamados mercados comuns, como o Mercosul, Nafta, União Européia, entre outros. Forçado também pela nova conscientização dos problemas sociais que abalam o mundo, estes blocos econômicos estão direcionando suas atenções investindo na sua área social, na tentativa de melhorar, principalmente, sua imagem perante a sociedade. Assim, impulsionadas principalmente pela pressão social, pela competitividade e pela credibilidade perante a sociedade, as empresas modernas não podem mais deixar de lado o fator social, sob pena de sucumbirem no caminho do desenvolvimento. Já com o crescimento da conscientização da problemática ambiental em nível mundial e o conseqüente aumento do número de consumidores exigentes em termos ambientais, um novo fator foi agregado aos objetivos das empresas modernas: o fator ambiental. Isto vem exigindo das empresas uma nova e necessária filosofia que é de adequação de suas diretrizes a este fator. Assim, o fator ambiental gera então a necessidade de adaptação das empresas e, consequentemente, direciona novos caminhos na sua expansão. Devido a isso, as empresas devem mudar seus paradigmas, sua visão empresarial, seus objetivos, sua estratégia de investimento e de marketing. Deve ainda voltar-se para o aprimoramento de seu produto á nova realidade do mercado global e corretamente ecológico, ter mais praticidade, objetividade e ser mais competitiva. A prova de que os fatores sociais e ambientais vêm direcionando a nova empresa, é observado na corrida para as certificações ISO 9000 e ISO 14000, que visa a qualidade do produto em si e que relaciona a qualidade ambiental da produção à qualidade do produto, utilizando os selos de qualidade para que os consumidores possam identificar os produtos ecologicamente 64 corretos, respectivamente. Em função do exposto entendemos que as mudanças de atitudes são imprescindíveis, exigindo das empresa uma conscientização e atuação mais incisiva no que tange às questões ambientais. Nesse trabalho abordamos a questão reuso de águas residuárias por verificarmos que há muito desperdício desse recurso natural, não só nas indústrias de forma geral, como em outros setores (hoteleiros, domésticos, comerciais, dentre outros). Sabemos que o ideal é a redução na fonte, tendo com meta efluente zero, mas por se tratar de uma questão muito complexa, a qual envolve estudo de projetos, alterações no processo, adequação de equipamentos, reestruturação, alteração de práticas e procedimentos, conscientização e mudança nos hábitos pessoais e profissionais e principalmente, conscientização, aceitação e aplicação dessa idéia, propusemos um trabalho mais prático, o qual não envolve tantos vetores a serem trabalhados de forma direta e coesiva com a Empresa, assegurando dessa forma, a aplicação imediata da reutilização interna das águas residuárias geradas na Unidade de estudo desse trabalho. Baseado em dados práticos de vazão, custo e características das águas residuárias geradas na unidade de produção de licor de óxido de titânio, propomos o reuso de todo volume de água residuária gerada nessa Unidade, podendo ser reutilizada, em todas as etapas desse processo, ou seja, na secagem/moagem, sulfatação, redução, clarificação, tratamento da lama, cristalização, classificação, centrifugação, secagem de sulfato ferroso e na filtração, pois a qualidade da água requerida para essas etapas não é superior à qualidade das águas residuárias estudadas, comprovada através análises físico-químicas. A água residuária da Unidade de Licor, pode ser utilizada inclusive em outras Unidades produtivas da Fábrica, ficando restrita, sua utilização apenas na fase final da obtenção do produto de óxido de titânio puro, onde qualquer impureza pode implicar na qualidade final do produto. Reutilizando todo volume de água residuária gerada na Unidade em questão, o que 65 corresponde à 26,6 % de todo volume consumido por essa Unidade, haverá um retorno financeiro na ordem de U$ 119.750,04 /ano, referente ao tratamento desse volume de água bruta, o que deixará de ser aplicado à partir do início da reutilização dessa água residuária, além de implicar na preservação de corpos hídricos, deixando de captar e descartar cerca de 704.412 m3/ano de água. Com o resultado desse trabalho, concluímos que os desperdícios existem, no entanto, um simples trabalho de levantamento de pontos de descarga, caracterização de águas residuárias, estudo da reutilização de águas, e adoção de novas medidas ambientais, pode contribuir para a preservação de um dos recursos naturais mais vitais à humanidade – A ÁGUA. 66 13. 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Nogami, Sebastião Gaglione, Walter Engrácia de Oliveira • GAZETA, Suplemento Mastering, Gazeta Mercantil, número 12, de 14/11/97. • REVISTA DE MEIO AMBIENTE, Ano III – Edição 15, Nº 14 – Setembro/Outubro/98. • REVISTA DE MEIO AMBIENTE, pagina 85, Ano III – Edição 16 Nº 15 • REVISTA DE MEIO AMBIENTE, Edição 20, Nº 19 – Julho/Agosto/99, Pag.44/45 • CETESB, (Internet CETESB) / Rede de Monitoramento e Perfil Sanitário – 1998 67 • ENCARTA, (EnciclopédiaR MicrosoftR Encarta – 1993-1999 Microsoft Corporation) • CSD, Levantamento de dados CSD-Geoclok • CETREL, Índice pluviométrico da CETREL – Dados de 1998 e 1999, emissão em 2000 • CETTA, Apostila CETTA – Tema III Tratamento de efluentes líquidos industriais/Ciclo hidrológico – pag III-I • CETESB, Técnica de abastecimento e tratamento de água – Vol. I - 2ª edição, Autores: Benedito E. Barbosa Pereira, Eduardo R. Yassuda, José Augusto Martins, Paulo S. Nogami, Sebastião Gaglione, Walter Engrácia de Oliveira MONOGRAFIA-99.DOC 68 Anexos I Apêndice I.I I Apêndice I.II Laudo da Empresa Outros Anexos 69