Universidade Presbiteriana Mackenzie
INVESTIGAÇÃO DA ATIVIDADE MUSCULAR DURANTE O TREINO NA ROTAÇÃO
VERTICAL DO MÉTODO HALLIWICK
Mariana Marcolino Anjos (IC) e Susi Mary de Souza Fernandes (Orientadora)
Apoio: PIBIC Mackenzie
Resumo
A reabilitação aquática vem sendo cada vez mais utilizada como forma de tratamento pela
fisioterapia, um recurso que incorpora diversas técnicas e métodos, dentre eles o Método Halliwick.
Diante da escassez de estudos relacionados à utilização terapêutica do método Halliwick e seus
efeitos sobre o sistema neuromuscular, esse estudo avalia o recrutamento muscular em membros
inferiores durante a atividade de rotação vertical do método Halliwick, utilizando a eletromiografia de
superfície. Participaram do estudo dois sujeitos do sexo feminino, com 21 anos de idade e um IMC
médio de 21 Kg/m². Foram coletadas três contrações voluntárias máximas isométricas (CVMI) de 5
segundos cada uma com intervalo de descanso de 30 segundos entre elas. Em seguida, o voluntário
foi colocado na piscina em tríplice flexão com imersão em nível da vértebra C7 e coletadas a
atividade muscular em membros inferiores durante a realização da atividade de rotação vertical do
Halliwick. Na análise dos dados observou-se que o recrutamento muscular da contração voluntária
máxima em solo foi maior do que o recrutamento muscular no movimento realizado na água. Porém,
mesmo em valores menores, houve recrutamento dos músculos tibial anterior e gastrocnêmio no
meio aquático. Concluiu-se que houve recrutamento muscular nos membros inferiores durante a
realização do treino da rotação vertical do método Halliwick, tornando-se viável utilizar a piscina como
um recurso fisioterapêutico para indivíduos que apresentam dificuldades para realizar movimentos
contra a ação da gravidade, podendo ser um estímulo inicial para um ganho de força muscular.
Palavras-chave: hidroterapia, eletromiografia, avaliação de desempenho
Abstract
The aquatic rehabilitation has been increasingly used as a treatment for physiotherapy, a feature that
incorporates several techniques and methods, among them the Halliwick. Given the scarcity of studies
related to the therapeutic use of the method Halliwick and its effects on the neuromuscular system this
study evaluates the lower limb muscle recruitment activity during the rotation of the vertical Halliwick
method using surface electromyography. The study included two female subjects, with 21 years of age
and an average BMI of 21 kg / m². We collected three maximum voluntary isometric contractions
(MVIC) of 5 seconds each with a rest interval of 30 seconds between them. Then the volunteer was
placed in the pool with triple flexion immersion level of the C7 vertebra and muscle activity collected in
the lower limbs during the course of activity of rotation vertical Halliwick. In the data analysis showed
that the muscle recruitment of maximum voluntary contraction in earth was higher than muscle
recruitment in Motion carried out in water. However even at lower values, there was recruitment of
tibialis anterior and gastrocnemius in the aquatic environment. It was concluded that there was lower
limb muscle recruitment during the course of training the tilt method Halliwick making it feasible to use
the pool as a physical therapy for people who have difficulties in carrying out movements against
gravity may be a an initial stimulus to gain muscle strength.
Key-words: hydrotherapy, electromyography, employee performance appraisal
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INTRODUÇÃO
A reabilitação aquática vem sendo cada vez mais utilizada como forma de tratamento pela
fisioterapia.
Para Degani (1998) e Jakaitis et al (2008), é um recurso que vem
demonstrando resultados positivos no tratamento e na prevenção de várias patologias em
adultos e crianças.
É um recurso da fisioterapia que incorpora diversas técnicas e métodos. Dentre eles
destacam-se a Hidrocinesioterapia, o Bad Ragaz, o método Halliwick.
Nesse estudo elegeu-se destacar o método Halliwick, pois vem crescendo em popularidade
e adesão entre terapeutas, por seu aparente caráter lúdico dentre as demais técnicas
terapêuticas.
Contudo, ainda são escassos os estudos relacionados à utilização terapêutica do método
Halliwick e seus efeitos sobre o sistema neuromuscular.
Diante disto, esse estudo se propôs a avaliar o recrutamento muscular em membros
inferiores durante a atividade de rotação vertical do método Halliwick, por meio da
eletromiografia de superfície.
REFERENCIAL TEÓRICO
O método Halliwick foi desenvolvido por James McMillian em 1949, na Halliwick School for
Girls, em Southgate, Londres, e assim, o método foi batizado com o mesmo nome da escola
para meninas deficientes em que o trabalho começou. McMillian, baseado nos princípios
científicos da hidrodinâmica e da mecânica corporal, desenvolveu inicialmente uma
atividade recreativa que visava dar independência individual na água, para pacientes com
incapacidade e treiná-los a nadar, valorizando a natureza crítica da água e se adaptando às
formas e densidades alteradas da pessoa deficiente (BIASOLI & MACHADO, 2006;
CAMPION, 2000).
Com o decorrer dos anos, McMillan manteve a sua proposta original e adicionou outras
técnicas a esse método. Essas técnicas têm sido usadas por muitos terapeutas para tratar
crianças e adultos com desordens neurológicas, reumatológicas e ortopédicas. E destaca-se
pela proposta de reabilitação continuada (CAMPION, 2000; CUNHA et al, 1998).
Uma vez que o método é executado pelo incentivo a movimentação voluntária do paciente o
mais independente possível, qualquer inabilidade que este possa ter é desprezada, o que se
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enfatiza são as suas habilidades, por menores que sejam. Tendo como base as
propriedades físicas da água que facilitam o movimento, o método Halliwick desenvolve a
função na água sem auxílio e trabalha a pessoa como um todo (CAVALCA, 2004;
CAMPION, 2000).
Segundo Kelly e Darrah (2005), a utilização da piscina terapêutica em crianças portadoras
de Paralisia Cerebral (PC) vem ganhando popularidade entre fisioterapeutas especializados
em pediatria devido às características físicas do meio como, por exemplo, o empuxo. Sua
qualidade em reduzir a carga e o impacto na articulação, diminuir as influências negativas
da gravidade sobre o equilíbrio e controle postural contribuem para melhora da função
motora grossa nessa população.
Em estudo recente, Noh e col (2008), avaliaram o equilíbrio e a força muscular em pacientes
com seqüelas de Acidente Vascular Encefálico (AVE) submetidos a sessões de Reabilitação
Aquática baseada no Método Halliwick e Fisioterapia Convencional, durante oito semanas.
Os resultados demonstraram um aumento significativo na força muscular, principalmente
para músculos extensores de joelho e no equilíbrio para os sujeitos submetidos à
reabilitação aquática quando comparado ao grupo de fisioterapia convencional.
Dentro deste contexto, justifica-se a utilização deste recurso com objetivo terapêutico de
estimular o controle dos movimentos e a contração dos músculos enfraquecidos ou inativos
buscando a recuperação das funções. O método enfatiza a abordagem recreacional em que
a terapia está levemente disfarçada. O desenvolvimento de jogos e atividades de forma
divertida e alegre elimina a idéia de que a atividade na piscina é um tratamento (CAMPION,
2000). Apesar da grande repercussão clínica, estudos que esclareçam e fundamentem
esse método como uma atividade terapêutica, ainda são escassos na literatura científica.
Deste modo nesse estudo elegeu-se avaliar a atividade muscular durante a execução de
uma atividade do método Halliwick, utilizando a eletromiografia de superfície (EMG).
No meio aquático, muitas pesquisas têm sido desenvolvidas para avaliar a ativação
muscular em diversos tipos de exercícios através da análise da amplitude do sinal
eletromiográfico (ALBERTON et al, 2008).
A atividade elétrica dos músculos provocada por estímulos nervosos durante o movimento
humano pode ser monitorada através da eletromiografia. Quanto maior a intensidade de
contração, maior é a atividade elétrica do músculo (PERSONA, 2006). A eletromiografia é
um instrumento que avalia quantitativamente o sinal elétrico transmitido pelo músculo
durante uma contração (BARELA, 2005).
A eletromiografia vem sendo utilizado para avaliar a atividade muscular em diferentes
aplicações como: avaliação da função muscular antes e após exercícios; procedimento
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como recuperação de um determinado feixe muscular; fornecimento do tempo inicial,
duração ou estabilização da ativação das unidades motoras; especificação do local
trabalhado; determinação da quantidade relativa da fadiga; estimação da força muscular;
determinação de disfunções ou anormalidades; comparação de posturas e movimentos
funcionais (marcha); na identificação da co-contração muscular; entre outras (CARVALHO,
2008).
MÉTODO:
Sujeitos:
Foram selecionados 2 sujeitos do sexo feminino, adultos jovens de idade entre 18 a 22
anos.
Critérios de inclusão:
Ser adaptado a água e ter o Índice de Massa Corpórea (IMC) entre 18,5 e 24,9 kg/m2.
Critérios de exclusão:
Qualquer queixa de comprometimento músculo-esquelético, cardiovascular, sensorial e/ou
motor, que comprometesse o controle do movimento avaliado por meio das respostas
obtidas na ficha de anamnese (quadro 1). Possuir conhecimento prévio do Método Halliwick
que pudesse alterar a atividade.
Local:
A coleta de dados foi realizada na piscina da Clínica de Fisioterapia da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, Campus Tamboré, Barueri – SP.
Aspectos éticos:
A Instituição onde foi realizada a coleta de dados, Universidade Presbiteriana Mackenzie,
Campus Tamboré, Barueri – SP, recebeu a carta de informação à Instituição. A todos os
participantes foi apresentada a carta de informação, com as devidas explicações sobre o
estudo. Após a leitura da mesma, todos assinaram o termo de consentimento livre e
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esclarecido. Antes de dar início a qualquer tipo de coleta de dados, o projeto obteve
aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa processo CEP/UPM Nº1207/03/2010 e CAAE
Nº 0015.0.272.000-10.
Materiais:
- Piscina: 4,80 metros de comprimento, 4,48 metros de largura, 1,10 metros de profundidade
e aquecida em torno de 34ºC.
- Eletromiógrafo de Superfície (EMG System do Brasil, com quatro canais)
- 2 eletrodos bipolares compostos por duas barras retangulares e paralelas de prata (1 cm
de comprimento, 0,5 cm de largura e separadas por um 0,5 cm - EMG System do Brasil)
- Computador PC/AT equipado com uma placa de conversão analógico-digital (A/D) modelo
CAD 12/32 e software EmgDat versão 5.0 para auxiliar a aquisição e análise dos sinais
- Barbeador descartável
- Gaze
- Álcool
- Gel
- Fita adesiva isolante
- Proteção transparente e auto-adesiva (Tegaderm, 3M – 10cm x 12cm)
- Papel filme
Procedimentos:
Após aprovação do comitê de ética foi apresentada à Universidade Presbiteriana
Mackenzie, Campus Tamboré, Barueri – SP a carta de informação à Instituição e após a
aprovação da realização do estudo pela Universidade, iniciou-se a coleta de dados.
Os participantes do estudo foram selecionados segundo os critérios de inclusão. Para tanto,
os voluntários responderam a uma ficha de anamnese (quadro 1) onde os seguintes dados
foram coletados: idade, doenças preexistentes e se possuem receio de utilizar a piscina
mesmo de forma lúdica. Os selecionados passaram para a segunda parte da anamnese,
sendo esta a avaliação das medidas antropométricas de peso e altura, a fim de calcular o
IMC e serem incluídos no estudo.
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Após a seleção dos participantes, os mesmos foram informados sobre os objetivos e
procedimentos do experimento, já aprovados pelo Comitê de Ética e Pesquisa e assinaram
o termo de consentimento livre e esclarecido.
Os sujeitos incluídos no estudo compareceram à piscina da Clínica de Fisioterapia da
Universidade Presbiteriana Mackenzie trajados de roupa de banho, onde foram preparados
para a coleta dos dados.
A região muscular em que cada eletrodo foi afixado foi tricotomizada e realizada assepsia
com gaze embebida em álcool. Os eletrodos foram untados com gel condutor, fixados ao
indivíduo e isolados cuidadosamente do meio aquático com uma proteção transparente e
auto-adesiva (Tegaderm, 3M), fita adesiva isolante e papel filme segundo os critérios de
SENIAM (Surface ElectroMyoGraphy for the Non-Invasive Assessment of Muscles)
(HERMENS et al, 1999; BESSA et al, 2008; TORRIANI et al, 2007) (Figura 1).
Figura 1 – Foto ilustrativa da colocação do eletrodo
Para análise da atividade muscular foi utilizado um eletromiógrafo de superfície da marca
“EMG System do Brasil”, de quatro canais para coleta de dados, onde foram utilizados
apenas dois canais. Cada canal possui ganho de 50 vezes, somando-se ao ganho de 20
vezes dos eletrodos ativos, totalizando um aumento de 1000 vezes. Esse eletromiógrafo
estava acoplado a um computador PC/AT equipado com uma placa de conversão analógicodigital (A/D) modelo CAD 12/32 e software EmgDat versão 5.0 para auxiliar a aquisição e
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análise dos sinais. A freqüência do sinal foi de 1000 Hz. O equipamento possui filtro passa
alta de 20 Hz e passa baixa de 500 Hz.
Os eletrodos de superfície subaquáticos para aquisição de sinais tanto na água quanto em
solo são pré-amplificados, blindados e isolados, a fim de reduzirem os efeitos das
interferências eletromagnéticas, ruídos e da água. Sua configuração é bipolar composto por
duas barras retangulares e paralelas de prata (1 cm de comprimento, 0,5 cm de largura e
separadas por um 0,5 cm).
Para registro da atividade eletromiográfica, dois músculos foram selecionados para serem
investigados no presente estudo: tibial anterior (flexão do tornozelo) e gastrocnêmio
(extensão do tornozelo). Os eletrodos superficiais foram fixados dois centímetros abaixo do
ponto motor de cada músculo, permanecendo assim entre o ponto motor e o tendão distal
do músculo, como prevê os critérios de SENIAM para fixação dos eletrodos. (MARCHETTI &
DUARTE, 2006; HERMENS & FRERIKS, 2000).
Primeiro foi coletada a Contração Voluntária Máxima Isométrica (CVMI) de cada músculo no
solo, de acordo com o posicionamento do teste de força muscular normatizado por Kendall
& Provence (1995), aplicando resistência manual. Foram coletadas 3 contrações de 5
segundos cada uma com intervalo de descanso de 30 segundos entre elas (Figura 2). Após
essa coleta, o voluntário foi colocado dentro da piscina e solicitado que permanecesse em
tríplice flexão, imerso em nível da vértebra C7 e realizou a atividade de rotação vertical do
Halliwick partindo da flexão de cabeça indo para a hiperextensão.
Figura 2 – Foto ilustrativa da CVMI
A velocidade do movimento foi controlada por um metrônomo sendo a extensão de cabeça
dividida em três tempos. O sujeito foi orientado a realizar 3 movimentos com intervalo de 30
segundos entre elas (Figura 3).
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Figura 3 – Fotos ilustrativas do treino da rotação vertical do método Halliwick
Os sinais foram armazenados em um computador e posteriormente analisados.
Quadro 1 – Ficha de Anamnese
FICHA DE ANAMNESE
Nome:____________________________________________________________________________
Data Nascimento: ______________ Idade:____________________________________________
Sexo:__________________________________________________________________________
Estado Civil: ____________________________________________________________________
Profissão:_________________________________________________________________________
Ocupação atual:___________________________________________________________________
Atividade física no trabalho: ( )em pé ( )sentado ( )aposentado
Hábitos: ( )tabagismo ( )etilismo
É portador de: ( )marcapasso
(
)placas
(
)pinos
(
)próteses
Pratica atividades físicas: ( )SIM ( )NÃO
Quais____________________________________________________________________________
Antecedentes familiares:_____________________________________________________________
Traumas/acidentes: _________________________________________________________________
Doenças graves ou crônicas: ________________________________________________________
Cirurgias: ________________________________________________________________________
Uso de medicamentos: ______________________________________________________________
Incidência de problemas:
(
) osteoporose (local/grau:_____________________) (
(
) varizes instaladas (
) cardíaco (
) pressão arterial ( ) ginecológico
(
) circulatório
) gastrointestinal
RESULTADOS E DISCUSSÃO:
Foram convidados a participar deste estudo 6 sujeitos, mas devido à perda amostral os
resultados referem-se a dois sujeitos do sexo feminino, com 21 anos de idade e um IMC
médio de 21 Kg/m2.
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As amostras foram avaliadas com base no parâmetro eletromiográfico RMS. No domínio de
tempo, o valor da raiz média quadrática (RMS) é bastante utilizado, pois fornece medidas
úteis da amplitude do sinal. Segundo De Luca (1997), para os sinais de EMG detectados
durante contrações voluntárias, a utilização do valor do RMS é a forma de processamento
mais apropriada, pois representa a potência do sinal e, portanto, tem um claro significado
físico (BANDEIRA et al, 2009).
Os dados eletromiográficos foram normalizados através do método da contração voluntária
máxima isométrica (CVMI), para obter o nível de ativação de cada músculo em cada
indivíduo e em cada ambiente (BARELA, 2005).
A tabela 1 demonstra em milivolts (mV) os resultados coletados da amostra em valores de
RMS. Designados Pré-teste as coletas de CVMI, e Teste a realização do movimento dentro
da água.
Tabela 1 – Valores da amostra em RMS em mV
Pré - Teste (RMS)
Teste (RMS)
Tibial Anterior Gastrocnêmio Tibial Anterior Gastrocnêmio
Sujeito 1
159,67
88,346
53,749
27,555
Sujeito 1
222,37
58,376
26,775
27,441
Sujeito 1
183,07
74,844
29,975
27,534
Sujeito 2
324,15
280,68
64,896
27,937
Sujeito 2
306,97
240,76
77,607
28,121
Sujeito 2
422,05
245,76
51,357
27,676
Observa-se que em todas as coletas os resultados da ativação muscular na avaliação
designada Teste foram inferiores aos coletados na avaliação Pré-Teste. Tal fato também é
observado até mesmo ao comparar o maior valor obtido em cada coleta. Por exemplo, o
maior valor do Pré-teste do tibial anterior no sujeito 1 foi 222,37 mV, já o maior valor do
Teste no mesmo músculo e sujeito foi 53,749 mV. Esses resultados demonstram que o
recrutamento muscular no meio aquático foi inferior aquele encontrado na contração
muscular máxima em solo.
Vale ressaltar que a CVMI corresponde ao maior valor de força conseguido em uma
contração muscular e, normalmente é calculada a partir de uma média de três tentativas
curtas, 2-5 segundos cada e representado em porcentagem (RAINOLD et al, 1999). Deste
modo realizou-se o cálculo das médias entre as CVMI (Pré – teste) dos 2 sujeitos e as
médias entre as coletas (Teste) dos 2 sujeitos (tabela 2).
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Tabela 2 – Valores Médios Pré –teste e Teste em %
CMIV (média)
Tibial Anterior Gastrocnêmio
Teste (média dos testes em %)
Tibial Anterior
Gastrocnêmio
Média Sujeito 1
188,37
73,85
19,55
37,25
Média Sujeito 2
351,05
255,73
18,4
10,91
Na análise das médias para os dois músculos nota-se que a houve ativação muscular na
água correspondente a 19,55% do tibial anterior e 37,25% do gastrocnêmio do sujeito 1 e
18,4% do tibial anterior e 10,91% do gastrocnêmio do sujeito 2 em relação a CMVI que o
músculo é capaz de realizar. Analisando os dados fica claro que o recrutamento muscular
da contração voluntária máxima em solo foi expressivamente maior do que o recrutamento
muscular no movimento realizado na água. Porém, em valores percentuais encontrados
quando comparados àqueles encontrados na CMVI, demonstram que houve recrutamento
dos músculos tibial anterior e gastrocnêmio no meio aquático em quantidade suficiente para
produzir movimento.
Tal fato pode confirmar a utilização da rotação vertical do método Halliwick. Considerando
que o movimento solicitado foi a hiperextensão da cabeça, a ativação observada em
músculos do membro inferior pode estar relacionado com as reações de equilíbrio e controle
motor cujas características estão relacionadas com o movimento reflexo (GAZZOLA et al,
2009; SOUZA et al, 2006). Um corpo imerso sofre influências das forças de empuxo e
gravidade (CAMPION, 2000 ).
O empuxo é a força de sentido oposto ao da gravidade (BIASOLI & MACHADO, 2006).
Segundo Cordeiro (2003), quando um corpo está completa ou parcialmente imerso em um
líquido em repouso, ele sofre um empuxo para cima igual ao peso do líquido deslocado.
Resende et al (2008) relatam que o empuxo estimula o equilíbrio corporal promovendo
adaptações no sistema nervoso central (SNC), ajustes motores e correções posturais e
favorece movimentos tridimensionais e posturas não reprodutíveis em solo. Essa força
presente no meio aquático permite que pessoas com déficit de força muscular, possam
realizar atividades funcionais mais precocemente.
O movimento na água pode ser explicado a partir do controle dessas duas forças físicas
(empuxo e força da gravidade) que incidindo sobre um mesmo local mantém o corpo em
equilíbrio. Porém, no deslocamento de um segmento corporal essas forças tendem a
desequilibrar-se surgindo então a rotação (CAMPION, 2000).
Pensando na rotação vertical, caracterizada pela rotação do tronco no eixo longitudinal,
quando nesse estudo o sujeito foi orientado a estender a cabeça, as forças de empuxo e
gravidade se deslocaram e seus membros inferiores sofreram maior ação do empuxo
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(tendência a flutuação), tendo como consequência o estímulo da contração dos músculos
tibial anterior e gastrocnêmio para que houvesse a recuperação do equilíbrio e retonada da
posição inicial. Ou seja, no momento em que a cabeça começa a ir para extensão, o corpo
recebe uma ação do empuxo e consequentemente os membros inferiores tendem a se
levantar em flutuação, o que justificaria a ativação do tibial anterior (Sujeito 1 – 19,55% e
sujeito 2 – 18,4%). Contudo, a orientação dada ao sujeito foi de que permanecesse em
triplice flexão e somente movimentasse a cabeça. No momento em que os pés tendem a se
deslocar do chão em flutuação para a retomada do equilíbrio é provável que ambos sujeitos
tenham ativado fortemente o gastrocnêmio (Sujeito 1 - 37,25% e sujeito 2 – 10,9%).
Para o método Halliwick a utilização dos princípios físicos garante ao indivíduo uma melhor
performance. As reações de equilíbrio geradas pelos deslocamentos dessas forças físicas
influenciam de maneira significativa na produção do movimento. Incentivando a contração
muscular e o arco de movimento (CAMPION, 2000).
Indivíduos que apresentam grau de força 2 em solo são capazes de completar o arco de
movimento, porém sem ação da gravidade (KENDALL & PROVENCE, 1995).
Essa
condição sugere como medida terapêutica a utilização de exercícios passivos ou ativos
assistidos, ou seja com pouca participação do sujeito.
Nesse estudo notou-se que o desclocamento da cabeça durante a execução da rotação
vertical do método Halliwick foi capaz de produzir contração muscular em membros
inferiores. Sendo talvez uma alternativa terapêutica para indivíduos com essa capacidade
muscular uma vez que o movimento solicitado de um segmento gerou contração muscular
em outro.
Segundo, Patikas et al (2006) a utilização do método, principalmente na exploração
terapêutica do controle das rotações, encontra apoio nas condições de prática do
aprendizado motor. A flexibilidade na produção do movimento promovida na abordagem
permite treinar a função desorganizada, que poderá ser usada em ambiente diferente
daquele em que foi treinada. Nesse caso o que foi treinado na água poderá ser mais
facilmente reproduzido no solo, e, portanto inserido no dia a dia do paciente. Além disso, o
ambiente aquático torna-se mais atraente para os pacientes que costumam apresentar-se
entediados diante de técnicas de solo (PATIKAS et al , 2006; CAMPION, 2000).
Diante desses dados, justifica-se a utilização deste recurso com objetivo terapêutico de
estimular o controle dos movimentos e a contração dos músculos enfraquecidos ou inativos
buscando a recuperação das funções. Acrescentando ainda a vantagem que o método
enfatiza a abordagem recreacional onde a terapia está levemente disfarçada, motivando a
participação do paciente (MARTINS & IOP, 2008; CAMPION, 2000).
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Contudo, a perda amostral nesse estudo, em virtude dos problemas operacionais
encontrados durante a execução do projeto não favorecem a aplicabilidade clínica dos
resultados encontrados. Deste modo, sugere-se que novos estudos sejam realizados
respeitando o rigor metodológico com um número maior de sujeitos e se possível
envolvendo indivíduos com déficits motores e/ou funcionais. Além disso, um estudo
associando eletromiografia e cinemetria poderá ser mais eficiente para mostrar além da
ativação o momento em que ela ocorre.
CONCLUSÃO
Concluiu-se que houve recrutamento muscular em membros inferiores no meio aquático
durante a realização do treino da rotação vertical do método Halliwick. E, diante desse dado,
a terapia em piscina utilizando o método Halliwick mostrou-se viável como um recurso no
tratamento de indivíduos que em solo não realizam movimentos contra a ação da gravidade,
podendo ser um importante estímulo inicial para o ganho de força muscular e
funcionalidade.
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Mariana Marcolino dos Anjos