Valor Econômico - 11/11/2008 – C1 - Finanças
Stiglitz prevê "futuro sombrio"
Autor(es): Altamiro Silva Júnior
Valor Econômico - 11/11/2008
O economista Joseph Stiglitz, que ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2001, está
pessimista com os rumos da economia mundial. Defende a criação de uma nova
instituição para cuidar do sistema financeiro global e diz que os bancos centrais já
perderam muito a capacidade e a eficácia para restaurar a economia e o crédito. Na
melhor das hipóteses, se tudo for feito corretamente, a desaceleração da economia
americana pode durar até 18 meses.
O problema é que Stiglitz acha que as coisas não estão sendo feitas corretamente, pelo
menos nos Estados Unidos. Crítico ferrenho do governo Bush e do pacote de ajuda do
governo americano, de US$ 700 bilhões, ele prevê que mesmo que o presidente eleito
Barack Obama faça um governo "correto", a recuperação da economia americana não
vai ser tão simples, após "anos de erros" na política econômica do presidente George W.
Bush. O pacote de ajuda, diz o economista, vai contribuir para ajudar um sistema
bancário "fracassado".
Stiglitz, que tem sido um dos conselheiros de Obama, afirma que os bancos centrais de
vários países tem tentado prevenir um "desastre" ou um completo "derretimento" dos
sistemas financeiros. O problema é que as autoridades monetárias já não conseguem
mais estimular a economia, mesmo com pesados cortes de juros como ocorreram na
semana passada, quando o Banco da Inglaterra reduziu o juro básico em 1,5 ponto
percentual, para 3% ao ano. Foi o maior corte em uma única reunião desde 1981 e a
segunda redução em menos de um mês. O Banco Central Europeu também baixou as
taxas pela segunda vez na semana passada em menos de 30 dias.
O economista inglês John Maynard Keynes já previa este tipo de situação há 75 anos,
lembra Stiglitz. Na época, Keynes argumentou que, em momentos de recessão e
incerteza, a política monetária perde a eficácia para estimular a economia. Em resumo,
ele dizia que, com os sucessivos cortes, os juros ficam tão baixos que os agentes
econômicos só podem acreditar que as taxas não vão cair mais e só poderão subir no
futuro. Por isso, resolvem aplicar seus recursos. Foi o cenário que marcou a economia
japonesa nos anos 90, caracterizado por recessão e aumento da poupança e um cenário
de juros reais negativos.
Para Stiglitz, a crise atual só serviu para confirmar anos de políticas econômicas
equivocadas, que apenas contribuíram para minar a estabilidade das economias. Na
avaliação do prêmio Nobel, o Federal Reserve (Fed, o banco central americanos) e seu
ex-presidente Alan Greenspan "tiveram grande parte da responsabilidade" pelo que
aconteceu no mundo.
Stiglitz veio ao Brasil ontem para fazer a palestra de abertura da ExpoManagement
2008, evento organizado pela HSM. No encontro, ele disse que a "tempestade está
apenas começando", ao analisar o momento atual da economia. "O futuro é sombrio",
concluiu. Em seguida, ele falou com jornalistas em uma disputada entrevista.
No final de semana, o G-20, que reúne os países mais industrializados do mundo e a
União Européia, se encontrou em São Paulo e o Brasil apresentou a proposta para que
os mercados emergentes tenham mais voz nas decisões globais no atual cenário. Para
Stiglitz, o fato de que vai ocorrer em Washington no próximo final de semana uma
reunião do G-20, e não do G-8 ou G-7 (que reúnem apenas os países desenvolvidos e a
Rússia) já é sintomático. Segundo ele, no passado, países emergentes como o Brasil
eram "convidados para almoçar com o G-7", mas "as decisões eram tomadas sempre
antes do almoço", o que mostrava "total falta de vontade de ouvir os emergentes".
Para o economista, o mundo passa por um momento singular, onde boa parte da
liquidez global está em países da Ásia e Oriente Médio, com pouca voz nos organismos
multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Stiglitz
avalia que este é o momento dos emergentes aparecerem e reivindicarem maior espaço.
Ele defende a criação de uma nova instituição global para lidar com a crise, com
representantes dos bancos centrais do mundo todo. O governo americano, ao contrário,
defende o fortalecimento de instituições existentes, como o FMI, como argumentou
anteontem o sub-secretário do Tesouro americano para assuntos internacionais, David
H. McCormick logo após a reunião do G-20.
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11Nov2008 - Stiglitz prevê futuro sombrio