A coluna vertebral é o eixo do corpo e deve conciliar dois imperativos mecânicos contraditórios:
a rigidez e aflexibilidade. Ela consegue esta façanha graças à sua estrutura mantida. De fato, a
coluna vertebral em conjunto pode ser considerada como o mastro de um navio, este mastro,
apoiado na pelve, continua até a cabeça e, no nível dos ombros, suporta uma grande verga
transversal. O equilíbrio entre as forças para sustentação da coluna se trata de uma adaptação
ativa graças ao ajuste permanente do tônus dos diferentes músculos da postura pelo sistema
extrapiramidal.
Aflexibilidade do eixo vertebral é devido à sua configuração por múltiplas peças superpostas,
unidas entre si por elementos ligamentares e musculares. Deste modo, esta estrutura pode
deformar-se apesar de permanecer rígida sob a influência dos tens ores musculares.
Além da função de suporte do tronco, a coluna vertebral desempenha um papel protetor do
eixo nervoso (fig. 1-4): o canal vertebral que começa no nível do forame occipital, aloja o bulbo
raquidiano e a medula espinhal, de modo que constitui um protetor flexível e eficaz deste eixo
nervoso.
AS CURVATURAS DA COLUNA VERTEBRAL EM CONJUNTO
Considerada em conjunto, a coluna vertebral é retilínea vista de frente ou de costas (fig. 1-5).
Contudo, em alguns indivíduos pode encontrar-se uma curvatura transversal sem que, por isso,
se possa afirmar que ela seja uma curvatura patológica (escoliose), evidentemente sempre que a
mesma permaneça dentro de limites estreitos. Pelo contrário, no plano sagital (fig.1-6) a coluna
vertebral apresenta quatro curvaturas, que são de baixo para cima:
1. a curvatura sacraI, fixa devido à soldadura definitiva das vértebras sacrais. Esta curvatura é
de concavidade anterior;
2. a Lordose lombar, de concavidade postenor;
3. a cifose dorsal, de convexidade posterior;
4. a Iordose cervical, de concavidade posterior.
A presença de curvaturas da coluna vertebral aumenta a sua resistência aos esforços
de compressão axial. Os engenheiros puderam demonstrar (fig. 1-11) que a resistência de uma coluna
com curvaturas é proporcional ao quadrado do numero de curvaturas mais um. no caso de uma
coluna com três curvaturas móveis (d), como a coluna vertebral com a sua lordose lombar, a sua cifose
dorsal e a sua lordose cervical, a sua resistência é dez vezes maior do que a da coluna retilínea.
Nos humanos a coluna vertebral, ou espinha dorsal, é formada quase sempre por 33 e eventualmente
32 ou 34 vértebras que são ligadas por articulações que são de dois tipos: uma maior com interposição
dos discos intervertebrais na região anterior entre cada vértebra e duas menores atrás, por um duplo par
de facetas interarticulares posteriormente, sendo duas voltadas para cima e duas para baixo, formando de
cada lado, posteriormente, na vértebra, uma articulação facetaria.
.Os discos intervertebrais são constituídos de material fibroso e gelatinoso que desempenham a função
de amortecedores e dão mobilidade para nos locomover, correr, saltar, girar o tronco e a cabeça. Cada
disco é formado por um núcleo pulposo interno e do anel fibroso externo
A estrutura deste disco é muito característica, de fato, ela está formada (fig. 1-25) por duas partes.
Uma parte central, o núcleo pulposo (N), que é uma substância gelatinosa que deriva
embriologicamente da corda dorsal do embrião. Trata-se de uma gelatina transparente, composta por 88%
de água, portanto muito hidrófila, e quimicamente formada por uma substância fundamental à base de
mucopolissacarídios. Nesta substância foram identificados condroitino-sulfato misturado com proteínas,
certo tipo de ácido hialurônico e ceratossulfato. Do ponto de vista histológico, o núcleo contém fibras
colágenas e células de aspecto condrocítico, células conjuntivas e raras aglomerações de células
cartilaginosas. Não se encontram vasos nem nervos no interior do núcleo. Contudo, o núcleo é septado
por tratos fibrosos que partem da periferia.
Uma parte periférica, o annllllls fibroSllS (A) ou anel fibroso, conformado por uma sucessão de
camadas fibrosas concêntricas, cuja obliqüidade é cruzada quando se passa de uma camada para a camada
vizinha, tal como está representado na parte esquerda (a) do esquema; na sua parte direita (b), também se
pode constatar que as fibras são verticais na periferia e que, quanto mais se aproximam do centro, mais
elas são oblíquas. No centro, em contato com o núcleo, as fibras são quase horizontais e descrevem um
longo trajeto helicoidal para ir de um platá ao outro. Deste modo, o núcleo fica fechado num
compartimento inextensível entre os platôs vertebrais, por cima e por baixo, e o anel fibroso. Este anel
constitui um verdadeiro tecido de fibras, que no indivíduo jovem impede qualquer exteriorização da
substância do núcleo. Ele se encontra comprimido no seu pequeno compartimento, de tal modo que
quando o disco é seccionado horizontalmente se pode apreciar a saída da substância gelatinosa do núcleo
por cima do plano da secção. O mesmo fenômeno também pode ser comprovado quando se realiza um
corte sagital da coluna vertebral.
O núcleo suporta 75% da carga e o anel 25%, de modo que, no caso de uma pressão de 20 kg,
ela se distribui em 15 kg sobre o núcleo e 5 kg sobre o anel. Contudo, o núcleo atua como
distribuidorda pressão em sentido horizontal sobre o anel (fig. 1-31)
A pressão no centro do núcleo não é nula, inclusive quando o disco não suporta nenhuma carga.
Esta pressão se deve ao estado de hidrofilia, que faz com que ele aumente de volume dentro do
seu compartimento inextensível, deste modo se cria um estado de "pré-tensão", a pré-tensão
do disco intervertebral lhe permite, do mesmo modo, resistir melhor às forças de compressão e
de inflexão. Quando, com a idade avançada, o núcleo perde as suas propriedades hidrófilas, a
sua pressão interna diminui e o estado de pré-tensão tende a desaparecer, o que explica a perda
de flexibilidade da coluna vertebral senil.
OS ELEMENTOS DE UNIÃO INTERVERTEBRAL
Entre o sacro e a base do crânio, a coluna vertebral intercala vinte e quatro peças móveis; numerosos
elementos ligamentares asseguram a união entre estas diferentes peças, num corte horizontal (fig. 1-23) e
em vista lateral (fig. 1-24), se podem distinguir estes elementos fibrosos e ligamentares:
em primeiro lugar, os anexos do pilar anterior:
1. O ligamento vertebral comum anterior (1), que se estende da base do crânio até o sacro, na face
anterior dos corpos vertebrais;
2. O ligamento vertebral comum posterior (2) que, na face posterior dos corpos vertebrais, se estende do
processo basilar do occipital até o canal sacral. Entre estes dois ligamentos de grande extensão, em cada
nível, a união fica assegurada pelo disco intervertebral (D), que consta de duas partes, uma periférica, o
anel fibroso, constituído por camadas fibrosas concêntricas (6 e 7), e outra central, o núcleo pulposo (8).
Numerosos ligamentos anexos do arco posterior asseguram a união entre dois arcosvertebrais
adjacentes:
1. O ligamento amarelo (3), muito denso e resistente, que se une ao seu homólogo na linha média se
insere, acima na face profunda da lâmina vertebral da vértebra suprajacente e, abaixo na margem superior
da lâmina vertebral da vértebra subjacente;
2. O ligamento interespinhoso (4), que se prolonga para trás pelo ligamento supraespinhoso (5). Este
ligamento supra-espinhoso é pouco individualizado na porção lombar, ao contrário, ele é muito nítido no
ramo cervical;
3. Na extremidade de cada apófise transversa se insere, a cada lado, o ligamento intertransverso (10);
4. Por último, nas articulações interapofisárias, existem potentes ligamentos interapofisários (9) que
reforçam a cápsula destas articulações, ligamento anterior e ligamento posterior.
O conjunto destes ligamentos assegura uma união extremamente sólida entre as vértebras, dando uma
grande resistência mecânica à coluna vertebral.
Fonte:
Kapanji, V III, Fisiologia Articular, Esquemas comentados de Mecânica Humana.
Sobotta, Atlas de Anatomia.
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