ESTUDO DE PROJETOS E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE
NATAÇÃO/EDUCAÇÃO FÍSICA SUBSIDIADA POR PRINCÍPIOS E
CONCEITOS DA TEORIA DE HENRI WALLON1
Ana Martha de Almeida Limongelli (PED/PUC-SP)
Introdução:
O presente estudo é parte de minha tese de doutorado2 que teve o objetivo
de analisar em que um programa de natação, subsidiado por conceitos e
princípios wallonianos, pode contribuir para a formação de professores de
natação/Educação Física. Nessa foi descrito e analisado o processo de
formação acadêmico-profissional vivenciado por mim e meus alunos, durante
as aulas da disciplina de natação, dentro de um curso de Licenciatura em
Educação Física em uma instituição de ensino superior privada de um
município da região da Grande São Paulo.
Wallon (1941/1975) reforça a importância da pesquisa acadêmica, que busca
compreender as relações entre elementos pedagógicos e desenvolvimento do
ser humano ocorrendo no campo real das ações desenvolvidas. É importante
ter clareza das condições de existência de todos os participantes da pesquisa
e das condições ambientais e históricas do contexto, para que o pesquisador
possa compreender os dados coletados inseridos no tempo e espaço do fato
investigado.
Quando o contexto indica que a ação do pesquisador não se limita ao
levantamento de dados e discussão dos resultados obtidos, a pesquisa-ação
pode ser considerada como um método adequado, visto que, nesse tipo de
pesquisa, o pesquisador desempenha um papel ativo na realidade dos fatos
observados (BARBIER, 2004).
Considerando as características do problema a ser investigado em minha
tese, optei pela pesquisa-ação como método de investigação científica. Para
tanto, essa pesquisa envolveu etapas distintas. Os dados foram organizados
em: informações sobre o contexto das situações vividas (Dados de Contexto) e
informações sobre as produções dos alunos participantes (Dados de Registro).
Os Dados de Contexto foram obtidos por meio da análise de documentos
oficiais e, principalmente, por anotações da caderneta de observações. Os
Dados de Registro, coletados em dois momentos distintos, foram obtidos por
meio da análise do registro de depoimentos escritos e orais dos alunos
participantes.
Sendo assim, o presente trabalho tem o objetivo de apresentar a análise dos
Dados de Registro coletados no primeiro momento, ao término da disciplina de
Natação IV.
A formação do professor de natação acontece nos cursos de graduação em
Educação Física, e, por essa razão, entendemos que esse profissional é,
antes de tudo, um professor de Educação Física que trabalha em um contexto
específico, cuja formação não pode ocorrer de forma isolada e independente
da formação do educador e do professor de Educação Física. O professor de
natação neste estudo é considerado como um profissional graduado em curso
superior de Educação Física cujo foco de trabalho está na compreensão,
elaboração e aplicação de processos de ensino-aprendizagem, a fim de
promover a autonomia do aluno em sua prática motora dentro do universo de
práticas aquáticas.
A questão sobre a formação do professor é antiga e não exclusiva da área
da Educação Física.
Freire (1996) considera que “educar é substancialmente formar” (p.33), ou
seja, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a
sua própria produção ou construção” (p. 47), tendo a clareza de que o aluno é
sujeito deste processo. Nesse sentido, a formação docente precisa
fundamentar-se na reflexão crítica sobre a prática e no reconhecimento do
valor das emoções, sensibilidade e afetividade de todos os envolvidos no
processo educativo. Nessa mesma direção, Tardif (2002) afirma que a prática
educativa envolve diferentes saberes e não se subordina aos determinantes da
técnica, mas, sobretudo ultrapassa-os, pois a ação educativa diz respeito aos
seres humanos em formação. Assim, a ética da prática educativa se sustenta
na educação como responsabilidade diante do outro.
Canário (1998) e Mizukami e Reali (2002) destacam que o processo de
profissionalização do professor precisa ser equacionado a partir de três
aspectos fundamentais: compreensão de que a aprendizagem acontece
simultaneamente com a experiência; a formação de professores precisa
objetivar o desenvolvimento de saberes que possibilitem encontrar e colocar
em prática as respostas apropriadas ao contexto durante a realização de uma
situação de ensino-aprendizagem e compreensão de que as situações de
ensino-aprendizagem não acontecem de forma individual e separada da
caracterização do grupo e do momento presente. Sendo assim, é necessário
pensar numa formação de professores que oportunize o desenvolvimento de
2
trabalhos educacionais em equipe, nos quais as regras são discutidas e
construídas para o contexto e para o momento presente.
Wallon não propõe uma teoria pedagógica, mas sua preocupação em
relação à educação levou-o a elaborar textos específicos sobre tal temática.
Os textos podem ser classificados em dois grupos: os que se referem
explicitamente à pedagogia e os que permitem inferências a respeito do tema.
Os textos da pedagogia explícita apresentam análises da Educação Nova,
Educação em geral e trata de uma proposta de reorganização e reestruturação
do sistema educacional francês pós-guerra. Os textos da pedagogia implícita
permitem inferências, a partir de sua teoria de desenvolvimento humano.
(TRAN-THONG, 1971; MAHONEY, 1999; ALMEIDA, 2002, 2004).
As aproximações entre psicologia e educação e suas conseqüências para a
formação e atuação de educadores, discutidas nos textos da pedagogia
implícita fundamentam-se, predominantemente, na indissociabilidade entre
indivíduo e sociedade (TRAN-THONG, 1971, ALMEIDA, 2002, 2004).
Wallon (1941/1975) considera que o meio primitivo e primordial para a
criança3 é o meio social, sem o qual as transformações humanas não são
possíveis. Esta visão implica compreender que a criança se desenvolve na
relação de sua plasticidade entre seu ser biológico e o meio social. Nesse
sentido, a educação é uma necessidade da criança, tanto quanto sua
alimentação. Por um lado, a maturação orgânica e nervosa define suas
possibilidades funcionais, e, por outro, a educação permite a atualização das
mesmas.
Para Wallon (1941/1975) a educação precisa respeitar a totalidade da
personalidade e integridade dos processos de evolução e aprendizagem da
criança, considerando o aluno inserido no contexto vivido, direcionado para o
desenvolvimento da autonomia dos alunos.
Baseado nessa visão de desenvolvimento, Wallon afirma que o professor é
elemento fundamental do processo educacional sistematizado, pois é o
organizador
do
ensino
centrado
no
desenvolvimento
integral
das
possibilidades e aptidões do aluno.
O sucesso da ação educativa se sustenta na integração de três áreas de
conhecimentos: no conhecimento preciso da criança, de sua natureza, de suas
necessidades, de suas possibilidades, ou seja, no estudo psicológico da
criança; no conhecimento e elaboração de métodos e técnicas pedagógicas
para a criança concreta, isto é no estudo didático-pedagógico dos processos
de ensino-aprendizagem e no conhecimento das aptidões trabalhadas e
3
exigidas pela disciplina ensinada, isto é, no estudo da especificidade do
conteúdo ensinado (WALLON, 1941/1975).
Podemos concluir que para Wallon a formação do professor precisa se
constituir a partir da integração de três grandes categorias de conhecimentos:
a formação psicológica, a formação pedagógica e a formação específica,
dentro de uma situação real de atuação visto que a ação de ensinar também é
psicológica, não podendo ficar limitada aos livros; mas ter uma referência
perpétua nas experiências pedagógicas que os próprios alunos podem
pessoalmente realizar.
Reforçando essa posição, Tardif (2002) considera que já é tempo de os
professores universitários, inseridos em cursos que trabalham a formação de
futuros professores realizarem pesquisas e reflexões sobre suas próprias
práticas educativas, a fim de minimizar o distanciamento entre as “teorias
professadas” e as “teorias praticadas” nos cursos superiores de formação de
professores.
Procedimentos de coleta e análise de dados de registro:
Esta coleta aconteceu no encerramento da disciplina de natação IV, durante
a avaliação do projeto educacional trabalhado ao longo da respectiva
disciplina, no final do segundo semestre de 2001, por meio da aplicação de um
questionário composto por seis questões abertas. Após a entrega do
questionário para cada aluno, notifiquei-os de que deveriam responder
individualmente e devolver o instrumento até o término da aula, ou seja, tendo
o tempo máximo de 1h30min. Participaram 23 alunos.
Os dados foram submetidos à análise de conteúdo, adotando o tema como
unidade de registro a partir de seu significado lógico-semântico (FRANCO,
2005). Foi computada a freqüência de seus aparecimentos ao longo dos
registros realizados, sendo apresentada em ordem decrescente.
Breve contextualização desta coleta: dados de contexto
Complementando o processo ocorrido nos três semestres anteriores
(disciplinas natação I, II e III) e, pela observação do comportamento e
aprendizagens dos alunos, considerei a sugestão do grupo ao final de
disciplina natação III e planejei trabalhar todos os conteúdos do nadar, em
situação real de ensino-aprendizagem. Ou seja, o objetivo central da disciplina
natação IV foi elaborar e aplicar um curso de natação junto com os alunos.
Apresentei esse objetivo aos alunos, indicando que a população-alvo do curso
4
a ser criado deveria ser uma das duas, sugeridas no semestre anterior: idosos
ou bebês. Todos aceitaram a proposta escolhendo a natação para idosos,
visto as condições da piscina (descoberta) e de já existir um grupo de idosos
que participava de um programa de extensão oferecido pelo próprio curso de
Educação Física. Assim, foi decidido, coletivamente, que o curso de natação
teria a duração de um mês, com aulas semanais de 60 minutos, nos horários
regulares das aulas da disciplina. Todos estavam cientes de que os processos
necessários para elaboração e aplicação do curso seriam realizados por ação
conjunta entre alunos e professora da disciplina. Os alunos aceitaram na hora
e já iniciaram o levantamento das necessidades envolvidas, sendo eu a
orientadora de todo o processo. Foram discutidos e escolhidos os objetivos do
curso a partir do conhecimento das características do idoso: suas
capacidades, habilidades / limitações e dos conhecimentos sobre o nadar
elementar-utilitário trabalhados ao longo de toda a disciplina de natação
(natação I, II, III e IV).
O curso ganhou o nome de “I Curso AcquaFênix: programa de atividades
aquáticas”. Foi desenvolvido no período de 31 de outubro a 28 de novembro
de 2001, às quartas-feiras, das 15h30 às 16h30, tendo como objetivo principal
promover o bem-estar do idoso no meio líquido, por meio de atividades
prazerosas, descontraídas e lúdicas. Qualquer idoso matriculado no Projeto
Fênix poderia participar, não precisando ter experiência aquática, apenas
disposição e vontade. As vagas foram limitadas a 48, pois os alunos da turma
formaram quatro grupos de trabalho, cada composto por quatro a cinco alunos
(identificados como professores-aluno), que atenderiam o máximo de doze
idosos em cada grupo. Todas as aulas programadas no “I Curso AcquaFênix”
foram realizadas na piscina (não houve tempo frio ou chuvoso) com a
participação efetiva dos 48 idosos que se inscreveram e compareceram às
aulas com muita animação e entusiasmo. No desenrolar do curso, a minha
preocupação inicial foi se diluindo, e com isto, cada vez mais deixei os
professores-aluno
assumirem
suas
responsabilidades
profissionais
e
pedagógicas frente a seus alunos idosos. Acompanhava, de longe as ações,
servindo como ponto de referência e orientação, quando solicitada. Ao término
de cada sessão do curso, entre 16h30 às 17h00, fazia uma análise do
acontecido nas aulas realizadas com todos os alunos da turma, buscando
responder
dúvidas
como
também
acolher
comentários
e
emoções
manifestadas pelos alunos.
5
Principais resultados de dados de registro e considerações:
Quadro 1: Disciplina de Natação IV: pontos positivos
Pontos Positivos da Disciplina de Natação IV
Freqüência
Formação Pedagógica
40
Organização geral do ensino
40
- Manejo de atividades: variabilidade de vivências
16
- Método de ensino da professora da disciplina: estilo não
diretivo
09
- Relação prof-aluno: proximidade e diálogo
05
- Atuação do aluno: sujeito, co-gestão na aula
04
- Objetivo da aula: trabalhar formação do professor
04
- Relação aluno-aluno: interação participativa
02
Formação Psicológica
Dimensão Afetiva
- Carinho / Amor
- Prazer do aluno
Constituição da pessoa
- Auto-conhecimento
- Conhecimento do outro
Dimensão Cognitiva
- Construção de conhecimentos
10
06
04
02
03
02
01
01
01
Formação Específica
Nadar e suas especificidades
Organização didático-pedagógica do nadar
- Manejo de atividades: aplicação dos conteúdos
- Objetivo da aula: compreender conteúdo da disciplina
Dimensões do nadar
- Dimensão Elementar-utilitária
09
04
03
02
01
02
02
Estes resultados permitem algumas reflexões. Em primeiro lugar, percebe-se
que os alunos conseguiram compreender a proposta pedagógica da disciplina:
estrutura e organização, ao mesmo tempo em que participaram ativamente de
sua construção e aplicação. Em segundo lugar, percebe-se que os alunos
deram destaque para conhecimentos da formação que mais estava no foco do
desenvolvimento das atividades planejadas pela disciplina, ou seja, os alunos
deram mais destaque para os conhecimentos da Formação Pedagógica. Mas
não se esqueceram de que é necessário compartilhá-la e associá-la com
conhecimentos da Formação Psicológica e Formação Específica. Fato esse
que permeia a dinâmica do cotidiano da ação pedagógica do professor, ao
mesmo tempo em que fundamenta a dinâmica dos princípios gerais do
desenvolvimento humano na teoria walloniana. Em terceiro e último lugar, a
baixa freqüência da Formação Específica, poderia ser interpretada como um
elemento preocupante para a formação do futuro professor de natação, mas
6
nota-se pelo processo desenvolvido em sua totalidade e pelos temas citados
nessa formação que os alunos conseguiram se apropriar dos conceitos
teóricos do nadar elementar-utilitário, passando a compor o pano de fundo do
conhecimento do professor-monitor do Projeto AcquaFênix.
Quadro 2: Projeto AcquaFênix: elementos significativos
Elementos Significativos do Projeto AcquaFênix
Formação Psicológica
Dimensão Afetiva
- Alegria
- Carinho/Amor
- Gratidão
- Confiança
- Compreensão
- Reconhecimento
- Satisfação
- Motivação
- Receptividade
- Emoção na despedida
- Tristeza na não continuidade
- Respeito
- Cooperação
Constituição da pessoa
- Conhecimento do outro
- Auto-conhecimento
Freqüência
56
37
07
05
04
04
04
03
02
02
02
01
01
01
01
19
16
03
Formação Pedagógica
Organização do ensino geral
- Manejo de atividades: aplicar atividades planejadas
- Relação prof-aluno: proximidade, diálogo
- Objetivo da aula: trabalhar aprendizado prof - monitor e
alunos idosos
- Método de ensino da professora da disciplina: estilo não
diretivo
Formação Específica
Organização didático-pedagógica do nadar
- Manejo de atividades: criar atividades para idosos
- Relação prof-aluno: proximidade e diálogo
- Adequação da aula ao aluno: elaboração da aula
depende de características / necessidades do aluno
17
17
09
06
01
01
12
12
09
02
01
Nota-se que os elementos significativos do Projeto AcquaFênix indicados
pelos alunos distribuíram-se entre elementos da Formação Psicológica,
Formação Pedagógica e Formação Específica, confirmando os princípios
gerais da formação do educador segundo a teoria walloniana. O relato dos
alunos, ao término de cada aula, as manifestações de alegria e atenção deles
em relação às aprendizagens e dificuldades de seus alunos idosos no
7
desenrolar das aulas, o avançar de suas atitudes durante o progresso das
aulas marcaram, também, minhas anotações na caderneta de observação.
Essa dinâmica foi compartilhada pelos alunos idosos; a cada aula eles
chegavam com mais alegria, confiança, atenção e respeito pelos professoresmonitores. As relações afetivas foram se fortalecendo, demonstrando a
confiança dos alunos idosos nas ações didático-pedagógicas do nadar
propostas pelos professores-monitores. Tudo isso, levou ao fortalecimento das
relações entre os conteúdos da Formação Psicológica, Formação Pedagógica
e Formação Específica dos professores-monitores. Isso confirma que a
Formação Psicológica do educador não pode ser construída apenas pelos
livros, é necessária a vivência do processo ensino-aprendizagem em situação
de aula real, assim como sua Formação Pedagógica e Específica.
Quadro 3: Projeto AcquaFênix: maior dificuldade
Maior Dificuldade do Projeto AcquaFênix
Formação Psicológica
Constituição da pessoa
- Conhecimento do outro
- Integração diferenças individuais
C. Dimensão Afetiva
- Medo (insegurança)
- Tristeza
- Desconfiança
- Ansiedade
Freqüência
23
12
10
02
11
08
01
01
01
Formação Pedagógica
08
Organização do ensino geral
08
- Manejo de atividades: manter clareza nas instruções
04
- Adequação da aula ao aluno: avaliação das necessidades do
03
idoso
- Utilização do tempo: adequar tempo do grupo
01
Formação Específica
Organização didático-pedagógica do nadar
- Manejo de atividades: falta experiência didática específica
Nadar e suas especificidades
05
03
03
02
Em relação à Formação Psicológica, as maiores dificuldades relatadas
referiram-se ao conhecimento do outro e à integração de diferenças
individuais. As dificuldades sobre o conhecimento do outro estavam
relacionadas aos momentos de contato inicial do professor-monitor com seus
alunos idosos. Destaca-se que as dificuldades tinham a ver com a situação de
aluno novo; aluno, até então, apenas conhecido pelos livros. As dificuldades
8
sobre
integração
de
diferenças
individuais
relacionaram-se,
preponderantemente, às dinâmicas do grupo de professores-monitores, tanto
nos momentos de elaboração quanto nos momentos de aplicação do Projeto.
Em relação a essas dificuldades, os alunos indicaram o medo como a emoção
/ sentimento mais presente.
Em relação à Formação Pedagógica, uma das dificuldades relacionou-se às
dificuldades de comunicação clara das instruções para os alunos idosos, a fim
de possibilitar sua atenção às atividades propostas. Outra referiu-se à
dificuldade de avaliar o aluno idoso para que o professor-monitor identificasse
as possibilidades e limitações de seus alunos idosos. Nota-se que tais
dificuldades estão muito relacionadas, visto que o maior conhecimento do
aluno pelo educador possibilita melhores condições para construir o processo
de ensino-aprendizagem, envolvendo a escolha da comunicação mais
adequada às características de seus alunos.
Tais relações são consideradas na formação do educador pela teoria
walloniana quando afirma a relação interdependente entre a necessidade de
conhecimentos do aluno concreto pelo professor e a escolha dos caminhos
mais adequados para o processo de ensino-aprendizagem do aluno. Essa
afirmação integra conhecimentos da Formação Pedagógica e Formação
Psicológica, transformando a simples afirmação em uma relação complexa e
dinâmica, uma vez que, pela própria teoria walloniana, a formação do
educador necessita extrapolar a utilização de livros, devendo se estruturar em
ações didáticas concretas. Conhecer o aluno concreto envolve, por parte do
professor, estudo aprofundado dos processos de desenvolvimento humano e,
principalmente, o desenvolvimento de sua capacidade de observação.
Mais uma vez, esses dados reforçam o quão importante é trabalhar a
formação do educador em situação real de ensino-aprendizagem construída
pelos próprios futuros professores.
Quadro 4: Projeto AcquaFênix: maior aprendizagem
Maior Aprendizagem do Projeto AcquaFênix
Formação Psicológica
Constituição da pessoa
- Integração diferenças individuais
- Princípios de desenvolvimento e aprendizagem
- Conhecimento do outro
- Auto-conhecimento
Dimensão Afetiva
- Carinho/Amor
Freqüência
18
10
03
03
02
02
08
04
9
- Valorização
- Confiança
- Gostar
Dimensão Cognitiva
- Conhecimentos construídos
02
01
01
02
02
Formação Pedagógica
Organização do ensino geral
- Manejo de atividades: criar atividades pedagógicas
variadas - Adequação da aula ao aluno: elaboração da
aula depende das características / necessidades do aluno
- Relação aluno-aluno: apoio entre alunos
- Relação prof-aluno: proximidade e diálogo
08
07
04
02
01
01
Formação Específica
07
Organização didático-pedagógica do nadar
07
- Manejo de atividades: ensinar a nadar
04
02
- Objetivo da aula: preparar formação profissional
- Caracterização do professor: ter conhecimentos sobre
ensino-aprendizagem do nadar
01
Estes dados mostraram que os professores-monitores estavam conseguindo
integrar
os
conceitos
trabalhados
com
o
fazer
pedagógico
e,
conseqüentemente, estavam construindo aprendizagem para sua formação de
professor de natação, sendo que a aprendizagem de maior ênfase para os
alunos
configurava-se
em
elementos
da
Formação
Psicológica,
especificamente, relacionar diferenças individuais, respeitando os processos
de desenvolvimento dos alunos.
Como consideração final, percebe-se a adequação de se trabalhar a
formação do professor de natação baseado em interesses dos alunos e estudo
de projetos visto o envolvimento e crescimento de todos os participantes desse
processo.
Tais dinâmicas possibilitam aproximação e diálogo, permitindo
desenvolver a cooperação e a capacidade de análise-reflexão-tomada de
decisão, fundamentais para o trabalho pedagógico diário do futuro educador
ao mesmo tempo em que potencializam que os conceitos e princípios da
Formação Psicológica, Pedagógica e Específica preconizados pela teoria
walloniana sejam aplicados e trabalhados dentro das relações humanas
concretas existentes em uma situação de aula real.
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A. A. e ALMEIDA, L. R. (Org) A constituição da pessoa na proposta de
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MAHONEY, A. A. Introdução. In: MAHONEY, A. A. e ALMEIDA, L. R (Org)
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_____________ . Contribuições de H. Wallon para a reflexão sobre questões
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TRAN-THONG. Que há dicho verdaderamente Wallon. Madri: Doncel, 1971.
WALLON, H. Psicologia e educação da infância, Lisboa: Stampa,
1941/1975.
1
Trabalho publicado no Livro Eletrônico do XI Congresso Estadual Paulista sobre Formação de
Educadores, Presidente Prudente: UNESP, 2007, v.1. p. 46-55.
2
LIMONGELLI,A.M.A.
Formação
de
professores
de
natação/Educação
Física:contribuições de princípios e conceitos wallonianos. 2006. 310p. Tese
(Doutorado em Educação: Psicologia da Educação) – Programa de Estudos Pós-graduados
em Psicologia da Educação, PUC, São Paulo. [Orientadora: Prof. Dra. Abigail Alvarenga
Mahoney].
3
O termo criança está sendo entendido em sua significação mais ampla: pessoa dentro do
conceito walloniano.
11
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