

Hume pretende aplicar o método de raciocínio
experimental para entender melhor a natureza
humana, usar um método científico, que era
usado basicamente para entender os objetos,
para interpretar também as pessoas, criando
assim a ciência do homem.
O filósofo acreditava que se explicarmos o que
e como são as pessoas, qual a essência da
natureza humana, explicaremos também todas
as outras ciências.

Isso acontece porque todas as ciências, como a
matemática e a física, estão relacionadas
diretamente com as pessoas, pois a própria
razão, que é o fundamento da matemática e da
física, faz parte da natureza humana.
Raciocinamos e filosofamos por instinto.






Tudo o que temos em nossa mente é resultado das nossas
sensações.
Nossas ideias são percepções, mas existem diferenças entre
o sentir e o pensar, o sentir está relacionado às nossas
sensações mais vivas, mais recentes e que nos marcam mais.
Já o pensar está relacionado às ideias, que é uma percepção
mais fraca.
As ideias são como imagens que com o tempo vão perdendo
cor e definição.
As ideias dependem das sensações, nós só temos ideias de
algo depois de percebermos esse algo.
Não existem ideias inatas, ideias que nascem com as
pessoas.


As ideias simples que temos através das sensações podem se
relacionar e se transformar em ideias complexas através da
memória e da imaginação, mas as ideias simples se associam
em ideias complexas principalmente através da semelhança,
da proximidade no espaço e no tempo e da relação de causa
e efeito.
Por exemplo, quando olhamos uma fotografia lembramos
uma pessoa, pois a imagem da fotografia é semelhante à
pessoa, quando pensamos em comida podemos pensar logo
depois em geladeira, supermercado ou restaurante, pois
geralmente a comida está próxima destes lugares, quando
pensamos em gol pensamos em alguém que chutou uma
bola, pois o chutar a bola é a causa e o gol o efeito.


Mas essa relação de causa e efeito não pode ser
conhecida a priori, pois ela depende da
experiência.
Nenhuma pessoa quando for posta frente a um
objeto do qual não conhece absolutamente
nada vai poder raciocinar sobre ele, para que
isso aconteça essa pessoa vai ter que
experimentar o objeto e descobrir quais suas
causas e efeitos para somente depois poder
criar sobre ele ideias e conceitos.




Quando observamos algo repetidamente temos a
tendência a acreditar que esse algo vai acontecer
sempre, essa tendência torna-se um hábito.
Através do hábito nós estabelecemos relação entre os
fatos, mas isso não quer dizer que essa relação é
necessária.
Não é porque sempre vimos o sol se levantar toda
manhã que necessariamente ele se levantará amanhã.
Para Hume essa relação de necessidade existe nos
eventos práticos da nossa vida, mas não existe como
uma justificação racional e filosófica.




O filósofo acredita que o que chamamos de experiência
e realidade nada mais é do que um conjunto de ideias e
sensações, mas não existe algo que una essas
percepções.
Da mesma forma não existe uma subjetividade
constante, não existe um eu contínuo, autoconsciente e
idêntico.
Não existe um princípio de identidade permanente
onde cada um de nós pode dizer esse sou eu.
Nós somos algo parecido com um teatro móvel e
anônimo onde são representadas sensações e ideias.





Outro ponto analisado por Hume é a moral, que para
ele é derivada mais dos sentimentos do que da razão.
A razão pode até apoiar a moral com algumas
orientações, mas o fundamento da moral são mesmo os
sentimentos e especificamente os sentimentos de dor e
prazer.
A virtude provoca prazer e o vício a dor.
Por exemplo, quando estamos diante de uma pessoa
virtuosa sentimos um prazer característico, e o
contrário acontece quando estamos diante de alguém
com vícios.
A virtude nos provoca o elogio, e o vício a censura.



A moral também não é o fundamento da
religião.
A religião não fundamenta nem é
fundamentada pela razão ou pela ética.
A religião nasce do instinto, os deuses surgem
por causa do medo que temos da morte e pela
inquietação com o nosso fim e a nossa
existência depois dela.
COMPREENDENDO A OBRA
"Da liberdade e necessidade".
Uma investigação sobre o
entendimento humano, seção 8.

A tese principal desta seção é que a vontade
encontra-se sujeita ao mesmo tipo de
necessidade que Hume acredita existir nas
operações dos corpos materiais. No final da
parte 1 Hume argumenta também que isso não
tem ligação com a questão da liberdade de
nossas ações, que depende exclusivamente da
inexistência de restrições externas. Na parte 2,
sustenta que essas teses não têm repercussões
negativas para a moral.


Hume propõe, inicialmente, que as disputas
acerca desses tópicos são, no fundo, sobre o
significado dos termos.
Reafirma, em seguida, que a matéria está
sujeita à necessidade (ver seção 6). Em vista da
teoria estabelecida na seção 7, o conteúdo
empírico dessa afirmação parece resumir-se à
uniformidade observada na Natureza e na
consequente determinação da mente de inferir
um objeto a partir da aparição de outro.

A sujeição da vontade à necessidade deve ser
entendida de modo semelhante, ou seja, em
termos do suposto fato de que, nos seres
humanos, tem-se observado que “os mesmos
motivos sempre produzem as mesmas ações.
[...] Ambição, avareza, amor-próprio, vaidade,
amizade, generosidade, espírito público: essas
paixões [...] têm sido, desde o início do mundo,
a fonte de todas as ações e empreendimentos”
do homem.


Hume esclarece que ao dizer que as ações
humanas são uniformes não está afirmando
que todos os homens agem exatamente da
mesma forma, quando colocados nas mesmas
situações: seus caracteres, prejuízos e opiniões
levam a uma diversidade de ações.
Quando, porém, tais fatores são levados em
conta, recobra-se a uniformidade.



Quanto às ações que, depois de tudo, ainda não
aparentam conexão regular com nenhum motivo
conhecido, Hume lembra que algo semelhante
ocorre no domínio da matéria.
Embora o vulgo veja aí a ação do acaso, os filósofos
têm sido bem sucedidos na identificação de
diversas causas ocultas, cuja especificação permite
recuperar a uniformidade das operações dos
corpos.
Generalizando-se, chega-se à “máxima de que a
conexão de todas as causas e efeitos é igualmente
necessária”.


O mesmo raciocínio, sustenta Hume, deve, por
“consistência”, ser aplicado à conexão dos
motivos e determinações da vontade.
Todo homem comum e todo filósofo
efetivamente reconhece esse ponto, baseando
nele suas inferências sobre o comportamento
humano.


Sua frequente rejeição por palavras liga-se ao fato
de que, erradamente, acredita-se perceber uma
conexão necessária nas operações dos corpos.
Como nenhuma conexão semelhante entre os
motivos e ações é sentida, infere-se que não estão
ligados por necessidade.
Mas quando se está convencido que tudo o que de
fato sabemos sobre a causação é a conjunção
constante de objetos e a conseqüente inferência
mental de um objeto para outro, a existência da
necessidade, nesse sentido idealista, tem de ser
admitida em ambos os casos.


Quanto à liberdade das ações voluntárias, ela
não pode significar que tais ações não guardam
conexão com os motivos, inclinações e
circunstâncias. Ausência de conexão causal não
é liberdade, mas acaso (“que universalmente se
admite não ter existência”.
“Por liberdade, então, podemos apenas
significar um poder de agir ou não agir, segundo as
determinações da vontade”, que todo aquele que
não se encontre ligado a cadeias desfruta.


“Não há método de raciocínio mais comum e,
apesar disso, mais censurável do que procurar,
em disputas filosóficas, refutar uma hipótese
pela pretensão de que traz conseqüências
perigosas para a religião e a moral.”
Hume dispõe-se, no entanto, a submeter sua
doutrina sobre a necessidade e a liberdade até
mesmo a esse critério: ela não põe em risco
nem a moral nem a religião.


Hume sustenta que se não houvesse
necessidade nas ações voluntárias, não haveria
responsabilidade moral: as ações seriam
atribuídas ao acaso, e não ao caráter do agente.
Igualmente, a existência de responsabilidade
pressupõe liberdade.


Hume trata agora de uma objeção teológica: se
a vontade estivesse sujeita à uma lei de
necessidade, haveria uma “cadeia contínua de
causas necessárias, pré-ordenadas e prédeterminadas” remontando à causa original,
Deus.
Colocar-se-ia, pois, um dilema: ou nenhuma
ação é moralmente torpe, por proceder sempre
de uma causa tão boa; ou, se alguma o for, o
Criador será responsável por ela, na condição
de sua causa última.


A essa objeção Hume replica, inicialmente,
observando que a resposta ao primeiro ramo
do dilema “parece fácil e convincente”: a
análise do conjunto da criação revela que tudo
aquilo ocorre é bom.
Mas embora “sublime”, essa tese não se mostra
efetiva “na prática”: nada convence alguém
que esteja sofrendo penas físicas ou morais de
que elas de fato são boas.

Quanto ao segundo ramo do dilema, Hume
assevera não ser possível explicar como Deus
pode ser a causa mediata de todas as ações
humanas sem ser autor do pecado e da torpeza
moral.


Em suma, a doutrina da necessidade das ações
voluntárias leva a um dilema bloqueado.
No entanto, Hume não parece disposto a
rejeitar sua doutrina. Insinua, ao contrário, que
a conclusão a ser tirada é que, de fato, não se
pode manter que a causa última de todas as
ações seja moralmente impoluta.
Download

Aprimoramento – HUME