v.1 jan - jun. 2011 ESTUDO COMPARATIVO DA COMPETITIVIDADE ENTRE OS PORTOS DE SUAPE, SALVADOR E PECÉM, SOB A ÓTICA DOS CUSTOS, DO TEMPO E DA SEGURANÇA1 Manaira Freitas Silva Carolinne Rodrigues Graduandas do curso de Administração, FCAP/UPE Prof. José Luiz Alves Orientador RESUMO Resultado de uma pesquisa de dez meses do Programa de Iniciação Científica da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco, este trabalho reporta-se ao contexto dos portos de Pecém, Suape e Salvador, levando em conta o ambiente global, nacional e regional, sob a ótica dos custos, do tempo e da segurança. O objetivo da pesquisa foi avaliar o porto de Suape, identificando elementos que permitam estabelecer medidas quantitativas para as variáveis custo, tempo e segurança, visando o confrontamento de tais informações com os dados relativos aos portos de Salvador e de Pecém. Em acréscimo, a perquirição teve o intuito de observar as vantagens proporcionadas por cada porto, responsáveis pela atração de investimentos para a região, averiguar o impacto de tais investimentos para a área do porto, identificar as principais dificuldades e gargalos logísticos enfrentados pelos portos analisados e verificar a existência de relações entre as variáveis avaliadas, tanto intraporto, no caso de Suape, quanto interportos, quando da comparação deste com as demais instituições portuárias. PALAVRAS-CHAVE: Competitividade; Suape; Eficiência portuária ABSTRACT Results of a survey of ten months of the “Programa de Iniciação Científica” at the Faculty of Administrative Sciences of Pernambuco (FCAP), this paper looks at the ports of Pecém Suape and Savior, taking into account the global, national, and regional environment, from the perspective of costs , time and security. The research objective was to evaluate the port of Suape, identifying elements required to establish quantitative measures for variables such as cost, time and safety, as well as to confront such information with data relating to ports of Salvador and Pecem. In addition, the search had the intention to observe the advantages of each port, responsible for attracting investment to the region, as well as to assess the impact of such investments to the port area, identify the main problems and logistical bottlenecks faced by ports, and verify the existence of relationships between the variables, both internally to the port of Suape, and among ports, as comparing Suape with other port institutions. KEYWORDS: Competitiveness; Suape; Port Efficiency. 1 trabalho premiado na 9ª edição do Seminário de Iniciação Científica da FCAP Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 1 1 INTRODUÇÃO 1.1 Comércio internacional, empresas e portos: as faces de um processo de mudança O modelo de comércio internacional como hoje se apresenta começou ser desenhado ainda no início da Idade Moderna, sendo a tomada de Constantinopla, em 1453, o marco representativo deste processo. A necessidade de encontrar novas rotas comerciais deu início ao período das Grandes Navegações, que foi, nesta época, a principal atividade representativa do fluxo internacional de mercadorias. Já nesta fase, o comércio marítimo, realizado nos oceanos Atlântico e Índico, constituía o principal trânsito de produtos entre a Europa e o Oriente, formando os principais centros econômicos e sendo o grande diferencial competitivo para as nações européias que se dedicaram à nova atividade. Nesta conjuntura, consolidaram-se as praças de comércio controladas pela classe burguesa emergente da época. Com o fortalecimento da classe de comerciantes, um dos maiores preceitos do Mercantilismo, a intervenção do Estado na economia, passou a ser questionado. Diante da possibilidade de aumentar seus lucros, a burguesia começou a investir no comércio individual, conseguindo grande notoriedade e disseminando a sua ideologia, proporcionando um ambiente favorável à implementação de reformas políticas, econômicas, sociais e culturais, o que culminou, no século XVIII, nas teorias do Liberalismo (SILVA, 1986). O ápice desta nova fase é encontrado na Revolução Industrial, ocorrida em meados do século XVIII, na Inglaterra e sua posterior expansão no século XIX. A Revolução serve como marco para um novo período, a chamada Era Industrial. A industrialização trouxe incontestáveis melhorias ao processo produtivo, tornando-o mais eficiente, reduzindo custos e permitindo a utilização de tecnologias inovadoras para incrementar a produção. Inicialmente, as indústrias adotaram o modelo fordista de produção, caracterizado pelas linhas de montagem e pela massificação e padronização dos produtos fabricados, visando, principalmente, a redução dos custos e do tempo. Neste paradigma, a fábrica era bastante verticalizada, sendo responsável por todas as etapas do processo produtivo, desde os Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 2 mais simples até os mais complexos. Essa etapa é representada pela concentração da cadeia de suprimentos, necessária à indústria, nas proximidades da mesma, evidenciando a especificidade territorial que marcou o período. Tal arquétipo de gestão da produção começou a entrar em declínio a partir da década de 70, quando ocorreu a crise do petróleo e o advento de um novo modo de organização da produção: o toyotismo. Marcado pela flexibilização dos processos, pela quase inexistência de estoques e pela customização de produtos, o novo sistema permitiu que as empresas distribuíssem suas operações pelo mundo, praticamente eliminando as restrições territoriais antes existentes e formando uma rede de fornecedores por todo o globo, possibilitando a escolha dos melhores insumos. Como consequência da horizontalização das fábricas, ganhou força a divisão internacional do trabalho como forma de especialização produtiva, permitindo maior controle sobre a qualidade das mercadorias. Segundo Baudouin (1999), “as empresas industriais de dimensão mundial controlam impérios espalhados, arquipélagos de competências coordenados, graças às tecnologias materiais e informáticas da circulação”. Ainda de acordo com o mesmo autor, “hoje, todas as fases do processo podem ser, não apenas disseminadas, mas irradiadas sobre a quase totalidade do globo”. Pelas suas características, esse sistema propõe um extremo dinamismo ao processo produtivo e, por conseguinte, aos meios de transporte e comunicação que integram a sequência de operações industrial. Essas mudanças impulsionaram, ainda mais, as transações internacionais, agilizando as trocas comerciais e ofertando inúmeras criações para o mercado. Como bem lembra Vieira (2007), “o comércio internacional entre nações é vital, tanto para o equilíbrio de seus balanços de pagamentos, como para suprir a necessidade de produtos inexistentes ou escassos”. Tais transformações se estabelecem até hoje e intensificam cada vez mais o acesso às informações, resultando na contemporânea Era do Conhecimento, propiciando a formação da cultura em massa e corroborando o conceito de globalização. Consoante Baumann (1996, apud SANTOS, 1998), a globalização, enquanto processo de generalização do capitalismo nos dias atuais, manifesta-se sob diversos aspectos, desencadeando alterações nos planos financeiro e comercial, no setor produtivo e no campo de ação institucional. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 3 O impacto de tais mudanças refletiu diretamente na organização dos espaços. No novo cenário, as cidades passaram a constituir uma rede de interdependência econômica, abrangendo tanto o processo produtivo quanto o processo de distribuição de bens e serviços. Em decorrência dessa integração urbana, fizeram-se necessários investimentos na reestruturação das cidades, já que a adaptação ao fluxo industrial e ao rápido crescimento populacional era imprescindível para a inserção de tais centros num ambiente competitivo. O processo característico dessas modificações aconteceu em Rotterdam durante os anos 80. Nesse período, houve uma grande aplicação de recursos na revitalização urbana, com o intuito de resgatar a posição de destaque da cidade holandesa na economia internacional, perdida durante as décadas anteriores, quando da supervalorização dos aspectos sociais em detrimento das questões econômicas (KREUKELS, 1999). A essência do conceito de globalização pode ser encontrada ainda nos primórdios da Idade Moderna, quando já se desenhavam os contornos de uma rede mundial de integração do comércio. Entretanto, de acordo com Monié e Vidal (2006), as grandes fases da globalização, que desembocaram na atual configuração econômica e produtiva, ocorrem a partir do século XIX. A primeira delas, segundo os mesmos autores, coincide com o período de difusão da Revolução Industrial. Nessa fase, o aumento de 9% da participação do comércio no PIB mundial, entre 1850 e 1880, exemplificou o crescente dinamismo das trocas entre nações, desenvolvido como consequência da especialização cada vez maior das economias nacionais. Como catalisadores desse processo, aparecem a redução das dificuldades à livre negociação e a evolução nunca antes vista no setor de transportes, principalmente o marítimo. Nos anos que se seguiram, porém, a velocidade de disseminação da globalização foi consideravelmente reduzida, como resultado das guerras, crises econômicas e dificuldades financeiras que atingiram o mundo. Como estratégia de recuperação pós-guerra, as nações passaram a adotar políticas protecionistas, objetivando o desenvolvimento das economias nacionais com a valorização do mercado local, o que diminuiu bastante o curso internacional de produtos. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 4 2 PORTOS, TRANSPORTES E DESENVOLVIMENTO A evolução dos sistemas de transportes foi fundamental para o desenvolvimento do comércio. A priori, a ausência de equipamentos adequados limitava a movimentação das mercadorias à capacidade humana de transportar os produtos. Pela mesma razão, o armazenamento de tais bens era difícil, praticamente obrigando o consumo das mercadorias no local onde as mesmas eram produzidas. Com isso, o intercâmbio de produtos entre as regiões era bastante prejudicado. Foi justamente a partir das melhorias nos transportes que o comércio passou a se intensificar. As estradas, ferrovias, aeroportos e rotas marítimas permitiram que cada região se especializasse nos produtos que lhes garantissem maior vantagem comparativa, isto é, que pudessem ser produzidos com maior eficiência. Num cenário de economia mundializada, o uso eficiente dos sistemas de transportes é um fator chave para o desenvolvimento do comércio internacional, na medida em que possibilita e potencializa a articulação global-local (interface das relações mercantis entre setores regionais e o mundo). Tradicionalmente, o transporte é classificado de acordo com o meio utilizado para a movimentação das mercadorias. Assim, existem cinco grandes divisões que concentram a maior parte do fluxo de produtos. São os modais aquaviário, rodoviário, ferroviário, aéreo e dutoviário. A importância de cada modal depende das características geográficas de cada país, e está relacionada ao volume e natureza das cargas transportadas, à área de cobertura do modal e aos custos e segurança a ele associados. O modal aquaviário, por sua vez, pode ser subdivido em marítimo, fluvial e lacustre. O transporte marítimo vem sendo realizado desde a Antiguidade, quando os mercadores fenícios, por volta de 3.000 a.C., já navegavam pelo mar Mediterrâneo levando e buscando mercadorias. Esse é, hoje, o meio de transporte mais utilizado no comércio internacional, correspondendo a mais de 90% das operações de comércio exterior no mundo. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 5 2.1 Porto: uma tipologia à luz dos padrões de funcionamento atual no mundo Um dos principais elementos do transporte marítimo é o porto. Vieira (2003, p. 21) define porto como um espaço de terra e água provido de instalações e equipamentos que permitem o acolhimento de navios; sua carga e descarga; o armazenamento de mercadorias; o intercâmbio modal das mesmas (marítimo-terrestre ou vice-versa) e o desenvolvimento de atividades comerciais ligadas ao transporte. Sousa Júnior, Prata e Ferreira Junior (2008) atestam que o porto “é um elo da cadeia de transporte que tem a função de promover a integração entre sociedades que possuem bens diferentes, e, com isso, movimentar a economia global”. São elementos de suma importância para a economia de um país, enquanto principais portas de entrada e saída do comércio exterior, uma vez que o porto é ponto de passagem de boa parte das mercadorias. Conforme afirma Souza (2002), os portos são considerados elos logísticos estratégicos para integração de um país à economia globalizada. Goebel (2003) apresenta três aspectos que, segundo ele, servem de base para o desenvolvimento dos portos: a política, a estratégia e a atitude de desenvolvimento portuário; o escopo e a extensão das atividades portuárias, particularmente quanto aos aspectos associados à área de informação; e a integração da organização e das atividades portuárias. São justamente esses critérios que permitem delinear quatro gerações de portos, cada uma delas tendo predominado durante certo período (UNCTAD, apud Sousa, 2004). Esta categorização não é exclusivamente determinada pelo tamanho ou localização geográfica nem pela natureza pública ou privada da organização dos portos, mas, essencialmente, pela evolução do conceito de porto. De acordo com Rodriguez, apud Curcino (2007), estas gerações se encontram delimitadas em termos de capacitação de quadros portuários dos países em desenvolvimento, e que encontram na adaptação do usuário um complemento singular ao desenvolvimento das infra-estruturas portuárias. A Tabela 1, a seguir, apresenta de forma sucinta a compilação das características das quatro gerações portuárias. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 6 Tabela 1 - Características das quatro gerações portuárias Etapas da evolução dos portos 2º geração 3º geração 1º geração Período de desenvolvimento Principais cargas movimentadas Atitude e estratégia de desenvolvimento do porto Características das atividades Características da organização Características da produção de serviços Fatores decisivos Antes de 1960 Depois de 1960 - Carga geral e granéis - Carga fracionada - Conservadora - Interface entre modais de transporte 1) Carga, descarga, armazenagem e serviços de navegação 2) Cais para atracação das embarcações 3) Abastecimento dos navios - Atividades independentes dentro do porto - Relação informal entre o porto e seus usuários - Concentrada no fluxo de carga - Serviços relativamente simples e individuais - Baixo valor agregado - Trabalho e capital Depois de 1980 - Carga geral e granéis - Carga fracionada - Cargas unitizadas, conteneirizadas e granéis - Expansionista - Centro de transporte, comercial e industrial 1) + 2) + 3) + - Orientado para o comércio - Centro de transporte integrado e plataforma logística para o comércio internacional 1) + 2) + 3) + 4) + 4) Transformação da carga, serviços comerciais e industriais vinculados aos navios 5) Distribuição de informações e carga, atividades logísticas, terminais e distribuição doméstica (cadeia de distribuição para o hinterland) - Expansão da área portuária - Relação próxima entre porto e usuário - Relações pouco integradas entre as atividades realizadas no porto - Poucas relações entre o porto e a municipalidade - Fluxo de carga - Transformação da carga - Serviços integrados - Valor agregado médio - Comunidade portuária integrada - Integração do porto com a rede de comércio e transporte - Relação próxima entre o porto e a municipalidade - Organização portuária ampliada - Fluxo de carga e informações - Distribuição de cargas e informações - Pacote de serviços múltiplos - Alto valor agregado - Capital - Tecnologia e know-how 4º geração Depois de 1999 - Cargas unitizadas, conteneirizadas e granéis sólidos e líquidos - Orientação comercial - Desenvolvimento de terminais combinados - Atividades logísticas - Forte cooperação entre autoridades de gestão portuária - Desenvolvimento de joint ventures - Fluxo de carga e informações - Distribuição de cargas e informações - Serviços de gestão portuária, englobando autoridades por vezes de nacionalidades diferentes - Cooperação - Complementaridade Fonte: Combinação das tabelas disponíveis em UNCTAD apud Goebel (2003) e UNCTAD apud Sousa (2004) 2.1.1 Portos concentradores Diante do grau de desempenho exigido pelo consumidor portuário e do fluxo de atividades oriundo da terceira geração de portos, a tecnologia e o know-how passam a ser os maiores diferenciais nos serviços oferecidos e determinam uma nova forma de tipificar os portos dentro da conjuntura global. Silva (2004) afirma que os portos, hoje em dia, são centros logísticos estratégicos dentro da Cadeia de Abastecimento internacional, pois a movimentação não é apenas Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 7 diminuída nesses terminais, mas o aumento da presença de outros modais transforma o Porto Moderno num espaço vital ao processo logístico global. Neste cenário, a tipologia melhor empregada e que melhor define o grau de eficiência dos portos resume-se a duas classificações: os portos alimentadores e os portos concentradores. Por porto alimentador ou feeder port entende-se o porto original de embarque das mercadorias e que estabelece um canal de suporte e distribuição aos portos concentradores ou hub ports. Estes, por sua vez, são aqueles concentradores de cargas e de rotas marítimas. O termo é consequência das estratégias praticadas pelas companhias de navegação, que consistem em aumentar o tamanho dos navios, concentrar rotas e reduzir o número de escalas, utilizadas notadamente a partir dos anos noventa (VIEIRA, 2002). Tal tipologia reflete a necessidade de adequação na forma de operar e da infraestrutura dos portos diante da nova realidade do transporte marítimo internacional e está intimamente relacionada à redução dos custos, retratando fielmente os padrões de funcionamento atual no mundo. É importante ressaltar que a decisão acerca do porto a ser utilizado cabe aos armadores, objetivando sempre a redução dos custos. Por isso, os candidatos a hub ports devem ser portos eficientes, com tarifas aceitáveis, que contem com um considerável potencial gerador de cargas e que permitam o rápido escoamento das mercadorias por diversos modais (incluindo um bom feeder service). Vale destacar que a classificação dos portos em concentradores e alimentadores não é rígida, podendo certo porto atuar como hub port em determinado tráfego, e como feeder port em outra rota. 2.2 Navios e cargas: a evolução do transporte marítimo na nova ordem do comércio internacional (economia de circulação) 2.2.1 Navios Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 8 A evolução do comércio internacional acompanhou o desenvolvimento dos navios. A evolução naval, por sua vez, dependeu dos materiais de construção disponíveis, dos meios de propulsão e das ajudas à navegação (ALVAREZ, apud VIEIRA, 2003). Os primeiros navios construídos eram feitos com madeira, a partir da modificação e união de troncos de árvore. Foi só no início do século XIX que o ferro começou a substituir a madeira na construção de navios impulsionados, inicialmente, à vela, e, depois, a vapor. No final desse período, o ferro foi substituído pelo aço, o que foi o último passo para a evolução dos cascos dos navios atuais. A propulsão das embarcações era feita, a priori, com as mãos humanas e com remos. A vela, no entanto, é tida como o primeiro elemento propulsor dos navios, pois permite ampliar as distâncias percorridas pelos navios e possibilitou a movimentação de grande quantidade de mercadorias. A mecanização da navegação teve início com a criação da propulsão a vapor, no século XVIII. Em meados do século seguinte, a hélice passou a ser utilizada, e no final dessa época, surgiram as turbinas a vapor. Mais recentemente, outras formas de propulsão foram desenvolvidas, a exemplo da propulsão nuclear, das turbinas de gás e da propulsão por jato d’água, que possibilitaram um aumento considerável na velocidade de movimentação dos navios. Existem diversos critérios para a classificação dos navios. As tipologias mais comuns agrupam as embarcações de acordo com a sua natureza (navios gealers, cargueiros e selfloading) ou com o tipo de carga (navios tanque, de passageiros, de carga geral, portacontêineres, ro-ro, multipropósitos, graneleiros, lash, reefer, graneiros, sea bea e madeireiros) (SILVA, 2004) 2.2.2 Cargas São as cargas que estimulam o desenvolvimento naval. É justamente para atender às necessidades da demanda que os estaleiros produzem embarcações com maior capacidade de transporte e destinados à movimentação de cargas específicas. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 9 Segundo Silva (2004), as cargas podem ser classificadas em geral, solta, unitizadas, neo-bulk, granéis líquidos, granéis sólidos, reefers, ro-ro e cargas perigosas. No âmbito do comércio internacional atual, merece destaque o transporte de cargas conteinerizadas (ou unitizadas. O contêiner, ou cofre de carga, já era utilizado desde o início do século XX, embora o uso na navegação comercial só tenha começado nos anos 1950. Com a necessidade crescente de padronização das cargas, o contêiner foi se estabelecendo como o mais adequado elemento para transporte das mercadorias. Segundo dados da UNCTAD (2008), o comércio com cargas conteinerizadas apresentou um crescimento quase exponencial nos últimos 23 anos. O mesmo documento atesta que o tráfego de cofres de carga mais que dobrou entre 2000 e 2007. Nota-se também, que o aumento das operações de transbordo acompanha o incremento no trânsito de contêineres. 2.3 Multimodalidade e intermodalidade Num ambiente em que a mundialização do trânsito de mercadorias e a unitização das cargas revelam-se tendências no comércio internacional, despontam como formas de exploração dos transportes a intermodalidade e a multimodalidade. Esses são os sistemas mais utilizados pelas empresas, com o objetivo de reduzir os custos e ganhar competitividade. A intermodalidade pode ser entendida sob duas óticas. Sob o ponto de vista da carga, ela é o elemento que permite a ligação dos modais de transporte e facilita a transferência de mercadorias de uma modalidade para a outra. O principal instrumento dessa visão intermodal dos produtos é o contêiner, que agiliza a movimentação, reduz os custos e aumenta a segurança no transporte das cargas. A intermodalidade no aspecto dos transportes diz respeito ao uso de mais de um modal para o despacho da carga do lugar de origem ao local de consumo. Segundo Keedi (apud SILVA, 2004), “a intermodalidade caracteriza-se pela emissão individual de documento de transporte para cada modal, bem como da divisão de responsabilidade entre os transportadores”. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 10 A multimodalidade, por sua vez, é definida pela ONU (apud SILVA, 2004) como sendo o deslocamento das cargas que usa mais de uma modalidade de transporte, com um único Conhecimento de Embarque (o Documento de Transporte Multimodal) e apólice de seguro, a partir do local onde o operador logístico (o Operador de Transporte Multimodal – OTM) se encarrega destes tramites até um lugar determinado para entrega. Nesse sistema, o transportador contratual é o responsável pelo deslocamento completo da carga, da origem até o destino final. O operador logístico tem direito de regresso contra o transportador de fato, em caso de dano. Surge aqui o conceito de corredor multimodal, no qual se utiliza mais de um meio de transporte, tanto de forma concorrencial quanto complementar. Silva (2004) cita como vantagens do transporte multimodal a melhor performance operacional, o ganho de rapidez e agilidade, a redução nos riscos de avarias e danos, a diminuição dos custos e os interesses múltiplos de todos os elos da cadeia de suprimentos, o que assegura melhor qualidade no processo. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 11 3 PORTOS NO BRASIL: EVOLUÇÃO E QUADRO ATUAL 3.1 Modernização e privatização dos portos brasileiros Até a década de 90, o sistema portuário brasileiro estava submetido a dois expressivos monopólios: aquele exercido pelas Companhias Docas, empresas de economia mista com participação majoritária do governo federal, responsável pela movimentação de mercadorias nos terminais, e o exercido pelos sindicatos de trabalhadores portuários, que detinham grande controle sobre o fluxo de mercadorias nos portos. Em consequência, surgiram problemas como os altos custos, as más gestões e a baixa eficiência. Somado a isso, há o fato de que os investimentos públicos no setor eram bastante insuficientes, já que tinham que ser divididos entre os diversos portos e terminais, o que acarretava no anacronismo do aparato estrutural portuário (VIEIRA, 2003, p. 97). Esse panorama começou a mudar a partir de 1990. Com a aprovação, nesse ano, da Lei nº 8.029, a PORTOBRÁS foi extinta, e assim, iniciou-se um processo de reforma no setor portuário brasileiro. Os problemas do transporte aquaviário tornaram-se conhecidos pela opinião pública, sendo discutidos pela imprensa, pelos acadêmicos, pelos empresários e pela sociedade em geral. Oliveira (2006, p. 14) revela que uma pesquisa realizada pela empresa Price Waterhouse assinalou que 93,5% do empresariado nacional reivindicava a urgente modernização dos portos, vista como fundamental para o desenvolvimento econômico do país. Foi então que, no dia 25 de fevereiro de 1993, o presidente Itamar Franco sancionou a Lei nº 8.630, conhecida como “Lei de modernização dos portos” ou “Lei dos portos”, simplesmente. Esse marco regulatório visava estimular a concorrência entre os portos, rompendo com os dois monopólios vigentes até então, buscando maior participação do setor privado e promovendo uma gestão descentralizada e adequada às necessidades de cada porto. A lei determinou as competências dos setores público e privado com relação aos portos. Como citam Marchetti e Pastori (2006), de acordo com a nova lei, é responsabilidade do Estado construir e manter a infra-estrutura portuária, cuidando das dragagens e acessos terrestres, desenvolvendo projetos ligados ao meio ambiente, à segurança e à infra-estrutura, fiscalizando e promovendo o porto. À iniciativa privada, por sua vez, compete o Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 12 aparelhamento do porto, abrangendo o aporte de recursos na aquisição dos equipamentos necessários ao funcionamento do porto, a recuperação e conservação das instalações portuárias, além das operações de translado de cargas. Segundo a lei agora vigente, a administração do porto pode ser exercida tanto de forma direta pela União, quanto pela instituição concessionária do porto organizado, e tinha como tarefas básicas a fiscalização do cumprimento do regulamento dos serviços e dos termos do contrato de concessão, o estabelecimento do horário de funcionamento dos portos e a fixação e cobrança de tarifas portuárias. Por porto organizado, a lei entende o porto “construído e aparelhado para atender às necessidades da navegação e da movimentação e armazenagem de mercadorias, concedido ou explorado pela União, cujo tráfego e operações portuárias estejam sob a jurisdição de uma autoridade portuária” (BRASIL, 1993). Para tanto, foram instituídas mudanças nos atores envolvidos no processo de gestão dos portos. Assim, foi definido o papel da Autoridade Portuária e criados o Conselho de Autoridade Portuária, a figura do Operador Portuário e o Órgão Gestor de Mão-de-obra. A competência da Autoridade Portuária consiste na administração dos bens estatais, na fiscalização dos contratos de arrendamento e na promoção, manutenção e conservação da eficiência no porto ao qual está vinculada. Em cada porto ou âmbito de concessão, deverá ser constituída uma unidade do Conselho de Autoridade Portuária - CAP, que tem como funções principais regular a exploração do porto, estimular a concorrência, homologar os valores das tarifas, incentivar a ação industrial e comercial do porto e promover a racionalização e otimização do uso das instalações portuárias. O CAP é composto por quatro blocos: o bloco do poder público, formado por representantes da União, do Estado e dos Municípios; o bloco dos operadores portuários, constituído por representantes da Administração do Porto, dos armadores, dos titulares de instalações portuárias privadas localizadas dentro dos limites da área do porto e dos demais operadores portuários; o bloco da classe dos trabalhadores portuários, com dois representantes dos trabalhadores portuários avulsos e dois representantes dos demais trabalhadores portuários; e o bloco dos usuários dos serviços portuários e afins, formado por dois representantes dos exportadores e importadores de mercadorias, dois representantes dos Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 13 proprietários e consignatários de mercadorias e um representante dos terminais retroportuários. O Operador Portuário (OP), nos termos da lei, é “a pessoa jurídica pré-qualificada para a execução de operação portuária na área do porto organizado” (BRASIL, 1993). Os Operadores Portuários arrendam área do porto do governo ou de um concessionário. A lei ainda define operação portuária como aquela “de movimentação e armazenagem de mercadorias destinadas ou provenientes de transporte aquaviário, realizada no porto organizado por operadores portuários” e considera área do porto organizado a [área] compreendida pelas instalações portuárias, quais sejam, ancoradouros, docas, cais, pontes e piers de atracação e acostagem, terrenos, armazéns, edificações e vias de circulação interna, bem como pela infra-estrutura de proteção e acesso aquaviário ao porto tais como guias-correntes, quebra-mares, eclusas, canais, bacias de evolução e áreas de fundeio que devam ser mantidas pela Administração do Porto. O Órgão Gestor de Mão-de-obra - OGMO é constituído pelos operadores portuários em cada porto organizado, e tem como finalidade selecionar, cadastrar/registrar, treinar, contratar, expedir os documentos de identificação e administrar o fornecimento da mão-deobra do trabalhador portuário e do trabalhador portuário-avulso, além de estabelecer o número de vagas, a forma e a periodicidade para acesso ao registro do trabalhador portuário avulso e de arrecadar e repassar os valores relativos à remuneração do trabalhador portuário avulso e aos correspondentes encargos fiscais, sociais e previdenciários. Vieira (2003, p. 99) afirma que o OGMO se assemelha a uma bolsa de trabalho, e, através dos treinamentos que promove, busca uma “formação multifuncional dos trabalhadores”. As principais questões que atrapalham o processo de implementação da lei estão relacionadas à gestão da mão-de-obra, a conflitos de interesses entre os setores público e privado e ao tratamento legal diferenciado dado às diversas instalações portuárias, fruto do não-estabelecimento, no texto da lei, de critérios precisos para diferenciá-las. 3.2. O Sistema portuário brasileiro Diante de todo o processo de desenvolvimento dos portos no Brasil, verifica-se que há bastante ainda a ser feito. Entretanto, as crescentes mudanças, tomando portos como o de Roterdã como referência e buscando uma maior eficiência, tem como objetivo inserir o país Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 14 de maneira competitiva no cenário do comércio internacional. Tais acontecimentos refletem a estrutura portuária que encontramos hoje no país. Consoante a Secretaria Especial de Portos (2008, www), o sistema portuário do Brasil é composto por 37 portos públicos, tanto marítimos quanto fluviais. Dezoito deles são explorados sob o regime de concessão, delegação ou autorização a governos estaduais ou municipais. Também formam esse sistema 42 terminais de uso privativos e três complexos portuários concedidos à iniciativa privada. Cerca de 90% das cargas comercializadas com o exterior passam pelos portos. Segundo a ANTAQ (2007), os portos brasileiros e terminais privativos movimentaram 754.716.655 t de cargas. A participação dos terminais de uso privativo representou 63,1%, enquanto que a dos portos organizados (públicos) situou-se em 36,9%. A maior concentração nos terminais decorre da movimentação de granéis, principalmente do minério de ferro e derivados de petróleo. O terminal de uso privativo de Tubarão, no Espírito Santo, manteve a primeira posição em relação ao total (104.672.667 t), sendo que a maior parte de suas cargas movimentadas é proveniente de granéis sólidos, mais especificamente minério de ferro. A tabela abaixo apresenta os portos que mais movimentaram cargas em 2007, por natureza, em toneladas. Tabela 2 - Maiores portos em movimentação de cargas em 2007, por natureza, em toneladas Maiores portos em movimentação de cargas em 2007, por natureza, em toneladas Porto Granel sólido Granel líquido Carga geral Total Santos - SP 27.038.476 13.650.404 30.924.572 71.613.452 Itaguaí – RJ 35.246.865 3.625.581 38.872.446 Paranaguá - PR 25.154.430 3.895.090 8.549.644 37.599.164 Rio Grande - RS 15.783.566 4.255.649 6.641.130 26.680.345 Vila do Conde -PA 12.722.848 1.848.822 1.291.082 15.862.752 Demais portos 36.006.889 19.860.279 32.326.410 88.193.578 Total 151.953.074 43.510.244 83.358.419 278.821.737 Fonte: Anuário ANTAQ 2007 Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 15 4 UM ESTUDO ACERCA DO SISTEMA PORTUÁRIO DO NORDESTE A PARTIR DE PORTOS SELECIONADOS: PECÉM, SUAPE E SALVADOR 4.1 O Sistema Portuário Nordestino De acordo com Trevas (2005), pode-se dividir o Sistema Portuário Nordestino em três subsistemas: o Norte, que envolve os Estados do Maranhão, Piauí e Ceará; o Nordeste, abrangendo os Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas; o Sul, representado pelos Estados de Sergipe e Bahia. O subsistema Sul tem como principais portos os de Salvador, Aratu e Ilhéus no Estado da Bahia, administrados pela Companhia das Docas do Estado da Bahia – CODEBA. Engloba, inclusive, o porto de Barra dos Coqueiros, localizado em Sergipe. O subsistema Nordeste tem como principais representantes os portos de Maceió em Alagoas, Suape e Recife em Pernambuco, Cabedelo na Paraíba), Natal e Areia Branca no Rio Grande do Norte. O subsistema Norte é formado pelos portos de Itaqui no Maranhão, Fortaleza (Mucuripe) e Pecém no Ceará. Os subsistemas nordestinos, impulsionados, principalmente, pelos portos de Pecém, Suape e Salvador, acompanharam a tendência da modernização portuária nacional, proporcionando a concorrência com tarifas competitivas em relação aos principais complexos portuários nacionais e internacionais e estando à disposição do usuário do comércio exterior regional. Os portos do Nordeste são elementos chave para o desenvolvimento da região e concentram grande parte dos investimentos (a exemplo do estaleiro e da refinaria em Suape), gerando renda e empregos para o povo nordestino. O estabelecimento de metas coordenadas para os portos da região e uma atenção especial por parte do governo devem ser objetivos constantes para se obter o máximo de sinergia e de aproveitamento da infra-estrutura disponível e em instalação, direcionando o fluxo de movimentação de cargas para o Nordeste e desafogando o tráfego portuário nas regiões Sul e Sudeste. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 16 A efetivação dessas ações por parte das gestões portuárias nordestinas visa sanar um dos principais celeumas do sistema portuário do Nordeste: a disputa ainda grande por cargas e investimentos privados. Os principais portos nordestinos apresentam estrutura tecnológica e territorial além da demanda do mercado e direcionar o fluxo de movimentações do Sul/Sudeste significa desmistificar o subaproveitamento da capacidade dos portos da região, gerando mais benefícios. 4.2 Pecém Localizado no município de São Gonçalo do Amarante, a cerca de 60 quilômetros de Fortaleza, capital do Estado do Ceará, o Terminal Portuário de Pecém, inaugurado oficialmente em março de 2002, foi instituído visando, principalmente, proporcionar um redirecionamento da economia do Estado ao qual pertence. Está situado no Complexo Industrial e Portuário Governador Mário Covas, sendo sua concepção iniciada em 1995 (sendo, assim, posterior ao início da vigência da Lei 8.630/93). Na ocasião, foi um contrato de adesão entre o Governo do Estado do Ceará e o Governo Federal. Para administrar e explorar o porto, foi constituída a empresa de economia mista Cearáportos. Como bem lembra Trevas (2005), o Terminal Portuário de Pecém, ou simplesmente Porto de Pecém, como é mais conhecido, funcionou como um catalisador para a indução de investimentos industriais, direcionados para as atividades de siderurgia, refino de petróleo, petroquímica e geração de energia elétrica, e hoje representa uma das âncoras do sistema portuário nordestino, que vem ganhando destaque no cenário nacional. Pecém é o último porto brasileiro antes do destino internacional na rota dos navios de grande curso. Essa localização estratégica, além de facilitar o escoamento da produção nacional aos mercados da Europa e dos Estados Unidos, garante um menor tempo de trânsito dos navios, importante, principalmente, para as mercadorias refrigeradas. Além da localização, o Porto de Pecém conta com um calado natural de 15,5 metros de profundidade, o que permite a atracação de grandes navios e representa um grande diferencial em relação a outros portos da região Nordeste, caso do porto de Cabedelo, na Paraíba, com 9 metros de profundidade da área de ancoradouro, e também do porto de Salvador, com apenas 12 metros. Com essa profundidade, o terminal de Pecém permite a atracação de navios de grande porte, como os Pós-Panamax, que têm custo de transporte menor que os navios mais antigos. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 17 Outro grande trunfo do Complexo Industrial e Portuário de Pecém é o fato de estar encaixado na condição de terminal privativo de uso misto, por meio de um contrato de adesão assinado em 2001 com o Ministério dos Transportes, o que garante a operação, no porto, de cargas próprias e de terceiros, fora da jurisdição do porto da capital. Assim classificado, a gestão do Porto do Pecém não precisa se submeter às regras do Órgão Gestor de Mão-de-obra - OGMO e do Conselho de Autoridade Portuária - CAP. Em Pecém, o usuário contrata os serviços do armador, que recorre às empresas credenciadas, não estando a Cearáportos envolvida em nenhuma parte do processo. Dessa forma, o vínculo empregatício gerado facilita o controle das pessoas que estão trabalhando no complexo e garante a segurança de todos. Esse modelo de gestão possibilita uma maior celeridade nas decisões estratégicas do complexo portuário e diminui os custos. Tal característica possibilita a barganha maior de muitos investimentos, caso da armadora Hamburg Sud, que transferiu sua rota de navegação européia do Porto de Suape para Pecém. O porto é constituído de 2 piers marítimos, sendo 1 para insumos e produtos siderúrgicos e carga geral e outro para granéis líquidos, em especial óleo cru e derivados de petróleo. Ambos são ligados ao continente por uma ponte rodoviária, que interliga o Pátio de Armazenagem às instalações de atracação de navios. Por se tratar de um Terminal Marítimo off shore (cujo acesso marítimo dá-se diretamente, sem a necessidade de canal de acesso e bacia de evolução), artificialmente abrigado, foi construído um quebra-mar do tipo berma (rubble mound breakwater) na forma de "L", com comprimento total de 1.768 m. Sua finalidade é criar uma baía artificial de águas paradas, onde se situam os piers de atracação. 4.3 Suape Localizado 40 quilômetros ao sul do Recife, nos municípios de Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, o Complexo Industrial Portuário de Suape, administrado pelo Governo do Estado de Pernambuco, ocupa uma área de 13,5 mil hectares, dividida em zonas portuária, industrial, administrativa e de preservação ecológica e cultural. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 18 Devido à localização estratégica, Suape conecta-se com mais de 160 portos em todos os continentes e possui condições para ser o principal porto concentrador do Atlântico Sul. O Complexo foi concebido pelo então Governador de Pernambuco, José Francisco de Moura Cavalcanti, a partir da elaboração de um Plano Diretor em 1973. Seu nome é originado da Praia de Suape, a mais meridional do Município do Cabo de Santo Agostinho e significa em tupi “caminho sinuoso”. Seu projeto foi baseado na integração entre o porto e a indústria, como acontece em países como Japão e França. Os serviços e áreas de movimentação e armazenagem são de responsabilidade de empresas privadas, ficando a infra-estrutura a cargo do governo. Esse sistema de gestão recebe o nome de landlord port (praticamente toda a movimentação de cargas está concessionada a empresas privadas, cabendo à Administração do porto o papel de garantir o bom funcionamento do porto, controlando e garantindo o cumprimento da existência do serviço público, para além do acompanhamento e fiscalização das próprias concessões). A construção do Porto de Suape foi prevista para operar produtos combustíveis e cereais a granel, substituindo o porto do Recife. Em 7 de novembro de 1978, uma lei estadual criou a empresa Suape Complexo Industrial e Portuário para administrar o desenvolvimento das obras. Sua área de influência abrange todo o estado de Pernambuco e parte dos estados de Alagoas e da Paraíba. O porto tem acesso rodoviário pela PE-060, pela BR-101 e pela AL101, na divisa de Pernambuco e Alagoas. O porto de Suape dispõe de três condições naturais que contribuem para sua performance: águas profundas junto à costa; quebra-mar natural formado por uma linha de arrecifes e extensa área plana disponível para instalações (retroárea). O Porto pode atender a navios de até 170.000 TPB (tonelada de porte bruto) e calado operacional de 14,50 m. Com 27 km² de retroporto, seus portos externo e interno oferecem as condições necessárias para atendimento de navios de grande porte. Operando navios nos 365 dias do ano, sem restrições de horário de marés, o Porto já movimenta mais de 6 milhões de toneladas de carga por ano, destacando-se, entre elas, os granéis líquidos (derivados de petróleo, produtos químicos, alcoóis, óleos vegetais etc), com mais de 80% da movimentação, e a carga conteinerizada. Em 2000, Suape movimentou, 583 Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 19 navios, alcançando em 2008 o total de 1060 navios movimentados. Para auxiliar as operações de acostagem dos navios, o Porto dispõe de um sistema de monitoração de atracação de navios a laser, que possibilita um controle efetivo e seguro, oferecendo condições técnicas nos padrões dos portos mais importantes do mundo. Ele também teve seu Plano de Segurança Pública Portuária - PSPP aprovado, estando adequado às normas do Código de Segurança para navios e instalações portuárias - ISPS Code estabelecido pela Organização Marítima Internacional - IMO, da qual o Brasil faz parte. Destaca-se também o potencial apresentado por Suape para ser um hub port (concentrador e distribuidor de cargas), devido a sua retroárea e tecnologia avançada. Além de todas essas características, Suape é sede de três grandes projetos estruturadores, que já começaram a transformar o perfil econômico de Pernambuco e das regiões de abrangência do Estado, num total de R$ 8,5 bilhões em investimentos. São eles: a refinaria da Petrobrás, em parceria com a Petróleos de Venezuela S.A.; o Pólo de Poliéster; e o Estaleiro Suezmax, para navios de grande porte. A cargo da holding Camargo Corrêa, o mega-empreendimento terá padrões da indústria naval internacional e será o maior do Hemisfério Sul. Aliada aos grandes diferenciais das instalações do porto de Suape, a gestão do porto ainda desenvolve projetos que tratam da questão ambiental e também dos serviços sociais, onde são desenvolvidos programas de apoio ao desenvolvimento sustentável, fornecimento de infra-estrutura educacional à comunidade (como doação de roupas e alimentos), no intuito de manter o crescimento das atividades portuárias sem agredir o meio ambiente e conscientizando a população sobre a importância da atividade desenvolvida para o progresso e para a economia da região Nordeste. 4.4 Salvador Localizado na Baía de Todos os Santos, defronte à Ilha de Itaparica, o Porto de Salvador, administrado pela Companhia Docas do Estado da Bahia - Codeba, exibe os títulos de porto de maior movimentação de contêineres do Norte/Nordeste e 2º maior exportador de Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 20 frutas do Brasil (CODEBA, 2009, www). Entretanto, mesmo com tal reconhecimento, o porto de Salvador, fundado em 13 de maio de 1913, enfrenta muitas dificuldades. Uma pesquisa com 200 executivos de companhias usuárias de porto (COPPEAD/UFRJ, 2008) posicionou o porto da capital baiana na última colocação entre os 18 principais portos do país. Enquanto a média nacional foi de 6,3 pontos, o Porto de Salvador ficou com meros 5,1, ganhando o título de pior porto do Brasil. A mesma pesquisa classificou Suape como o melhor porto público do país. A falta de infra-estrutura, a ausência de regulação, o espaço limitado, o monopólio da administração e as tarifas altas são os fatores determinantes para que o porto baiano perca cada vez mais competitividade. Muitas cargas que poderiam ir para o porto de Salvador, estão sendo direcionadas para outros portos brasileiros, a exemplo de Suape e Pecém. Apresentando baixo desempenho, com carência de equipamentos, espaço saturado, maquinário obsoleto e alto índice de perdas de cargas, o porto de Salvador, hoje, é um dos principais retratos das deficiências do sistema portuário brasileiro. Com esse quadro desfavorável, o porto, que seria um dos grandes impulsionadores da região Nordeste, deixa de gerar emprego e renda, além de arrecadação para o Estado, pois não consegue mais atender a demanda crescente de movimentação (em 2000 o porto movimentou, segundo a Codeba (2009), 736 embarcações; em 2008 operou movimentando 1.027 embarcações). Já estão previstos novos investimentos em modernização tecnológica e de infraestrutura portuária no porto soteropolitano, para trazer maior agilidade operacional e tarifas mais competitivas. O objetivo é criar a infra-estrutura necessária para o escoamento de produtos, atendendo às reais necessidades dos importadores e exportadores nacionais. Para isso, já se prevê a construção de dois novos berços de atracação para navios de grande porte, com calado de 14 metros (o calado atual apresenta 12 metros de profundidade), na extensão do cais de Águas de Meninos. Os novos atracadouros terão aproximadamente 465 metros na direção norte, aumentando a capacidade de atracação de navios e ampliando a área de movimentação e armazenamento de mercadorias em 100 mil metros quadrados. O escoamento da produção será facilitado a partir da construção de via portuária ligando o Porto à BR-324. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 21 O projeto, que ainda sugere a recuperação de todo o bairro do Comércio, onde está localizado, prevê investimentos que extrapolam a ordem de R$150 milhões a serem rateados entre as esferas de governo federal, estadual e municipal, em parceira com a iniciativa privada. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 22 5 A EFICIÊNCIA DOS PORTOS COMO ESTRATÉGIA DE DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA PORTUÁRIO DENTRO DE UM AMBIENTE COMPETITIVO: O CASO DOS PORTOS DO NORDESTE 5.1 Metodologia Para a realização da perquirição proposta, recorreu-se a pesquisas bibliográficas, sob a forma de livros, periódicos, jornais e revistas de circulação nacional, além de estudos e artigos científicos que tratam do tema em análise, tanto em meio impresso quanto em ambiente eletrônico, com o intuito de colher informações qualitativas e quantitativas que pudessem auxiliar na realização da pesquisa. Ademais, como forma de enriquecer o trabalho e observar in loco um dos objetos de estudo, realizou-se uma visita técnica ao Complexo Industrial e Portuário de Suape. Para a análise dos dados, utilizou-se a metodologia apresentada e trabalhada por Figueiredo (2000). Nesse trabalho, o autor define cinco elementos considerados mais importantes para a formação de portos concentradores (hub ports), a saber: a eficiência do porto, a gestão portuária, o preço do serviço, a melhoria do serviço prestado e a estratégia portuária. A eficiência portuária está relacionada, de acordo com o autor, aos aspectos físicos, à qualidade da mão-de-obra, à agilidade da aduana local e à segurança da operação. Os aspectos físicos envolvem o canal de acesso, o calado, a extensão do cais e a área para carga e descarga. A qualidade da mão-de-obra está ligada à flexibilidade do sindicato e a sua preocupação em formar trabalhadores multifuncionais. A aduana deve cumprir seu compromisso de imprimir agilidade ao processo de liberação dos documentos. A segurança da operação é obtida pela implantação de programas de prevenção e por certificações internacionais, que inspiram confiança nos usuários. A gestão do porto é fruto das boas relações estabelecidas entre a administração portuária, o operador e os sindicatos. Devem ser resolvidas todas as questões com relação à contratação da mão-de-obra no porto. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 23 O preço do serviço portuário, por sua vez, é um dos aspectos determinantes na escolha do porto por parte dos armadores. Por isso, podem ser implementadas políticas de estímulo às operações de transbordo, com a consequente redução do custo de movimentação. Outra alternativa é a redução do custo da operação por meio de acordos com a praticagem e com as empresas rebocadoras. A melhoria do serviço prestado pode ser alcançada por meio de uma atuação mais incisiva das áreas de marketing e comercial. Podem ser realizadas pesquisas para avaliar o grau de satisfação dos usuários com os serviços do porto e, assim, obter um feedback importante para nortear as políticas de desenvolvimento portuário. Parcerias de longo prazo com armadores estratégicos e investimentos em modernização também auxiliam nesse aspecto. A estratégia visa avaliar o porto inserido em uma perspectiva mais ampla, como parte de uma cadeia global. Para isso, são consideradas as ligações multimodais com o mercado interno, os serviços alimentadores com outros portos de menor porte e a existência de locais de armazenagem no interior. A posição do porto em relação aos mercados internacionais, por seu turno, depende de sua posição geográfica em relação às grandes rotas, da flexibilidade dos serviços e da importância do porto para a operação global de cada armador. Com o objetivo de manter a cientificidade no trabalho, foram avaliados apenas os itens para os quais se dispõe de dados quantitativos, quais sejam: aspectos físicos (canal de acesso, calado, extensão de cais acostável e área para carga e descarga de contêineres), movimentação de cargas, preço e alguns indicadores de desempenho, além de serem analisadas as ligações multimodais e a segurança nos portos selecionados. O intervalo temporal de avaliação envolveu o período de 2004 a 2007. 5.2 Apresentação dos resultados 5.2.1 Aspectos físicos Nesse item, foram consideradas as dimensões do canal de acesso, a profundidade do calado, a extensão de cais acostável e a área para carga e descarga de contêineres. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 24 Tabela 3 - Pecém, Suape e Salvador: Aspectos físicos Canal de acesso Extensão Largura Profundidade Calado Extensão do cais (acostável) Área para carga e descarga de contêineres Aspectos físicos – Pecém, Suape e Salvador Pecém Suape Não Sim, um 15,5 m 350m (pier 1) 336 m (pier 2) 380.000 m2 (pátio de armazenagem) 6.250 m2 (armazém 1) 10.000 m2 (armazém 2) 5000 m 300 m 16,5 m 14,5 m 1600 m (porto externo) 935 m (porto interno) Salvador Sim, dois Canal de dentro Canal de fora 7000 m 200 m 8m 13 m 12 m 2084 m - 290.000 m2 (Tecon) 13.574 m2 (cais comercial I) 13.260 m2 (cais mult. usos) 42.719 m2 (cais comercial II) 73.443 m2 (cais da ponta sul) 48.178 m2 (cais da ponta norte) Fontes: Cearáportos (2009, WWW), Suape (2008, WWW) e Codeba (2008, WWW) No tocante aos aspectos físicos dos portos analisados, foi observado que Pecém, pelo fato de ser um porto off shore (onde os navios atracam a uma distância de 1,8 km da costa), conta com um calado de 15,5 m, o maior entre as instalações portuárias avaliadas, e que dispensa a realização de dragagens de manutenção. Pela mesma razão, o porto cearense não precisa de canal de acesso. Suape dispõe de um canal de acesso, com 5000 m de extensão, 300 m de largura e 16,5 m de profundidade, e um calado com 14,5 m. O porto de Salvador, por seu turno, tem dois canais de acesso: o canal interno, com 7000 m de extensão, 200 m de largura e 8 m de profundidade, e o canal externo, com 13 m de profundidade. O porto soteropolitano possui calado com 12 m, o que dificulta a atracação de navios que transportam contêineres e requerem calado mínimo de 13,5 m. Pecém possui dois piers de atracação, um com 350 m e outro com 336 m, totalizando uma extensão de cais acostável de 686 m. Para a movimentação de contêineres, o porto cearense dispõe de 380.000 m2 no pátio de armazenagem e mais dois armazéns, com 6.250 m2 e 10.000 m2. Suape conta com 1.600 m de cais acostável no porto externo e 935 m no porto interno. O Terminal de Contêineres Privado - Tecon utiliza 290.000 m2 para as operações com cargas unitizadas, e o cais de múltiplos usos tem área de 13.260 m2. Já o porto de Salvador tem 2084 m de cais acostável e área para movimentação de contêineres de 13.574 m2 (cais comercial I), 42.719 m2 (cais comercial II), 73.443 m2 (cais da ponta sul) e 48.178 m2 (cais da ponta norte). Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 25 5.2.1 Movimentação de cargas Foram consideradas as movimentações de cargas de acordo com a natureza, o sentido, o tipo de navegação e a movimentação de contêineres. Tabela 4 - Total de cargas por natureza (em toneladas) Total de cargas, por natureza (em Ton.) Pecém Granéis Carga líquidos geral Granéis sólidos Total no ano Granéis sólidos Suape Granéis Carga líquidos geral Total no ano Granéis sólidos Salvador Granéis Carga líquidos geral Total no ano 2004 - 295.417 646.426 941.843 - 2.273.041 1.643.946 3.916.987 697.146 - 2.255.947 2.953.093 2005 - 284.454 790.971 1.075.425 - 2.256.013 2.057.655 4.313.668 552.671 - 2.483.151 3.035.822 2006 - 685.787 1.197.262 1.883.049 25.131 2.874.275 2.317.603 5.217.009 388.251 - 2.411.120 2.799.371 2007 - 865.452 Fonte: Antaq (2007) 1.339.909 2.205.361 452.313 3.099.559 2.936.351 6.488.223 435.791 - 2.654.516 3.090.307 No intervalo 2004-2007, Pecém não movimentou granéis sólidos, e o mesmo aconteceu com o porto de Suape até 2006. Nesse período, Salvador não operou granéis líquidos. No período de 2004 a 2007, foram movimentadas, pelos três portos, 37.920.158 toneladas em cargas, tendo 52,57% delas passado pelo porto pernambucano e 31,32% transitado por Salvador. Os granéis sólidos representaram 6,79% desse total, os granéis líquidos responderam por 33,32% das operações e a carga geral correspondeu 59,95% do movimento. Das 2.551.303 toneladas de granéis sólidos movimentadas, 81,29% passaram pelo porto baiano. Quanto aos granéis líquidos, 83,13% das 12.633.998 toneladas transitaram por Suape. Aproximadamente 43,13% das 22.734.857 toneladas de carga geral operadas passaram por Salvador, e 39,39% delas passaram por Suape. Vale ressaltar a queda de 20,72% nas operações com granéis sólidos em Salvador, entre 2004 e 2005, o aumento de 141% na movimentação de granéis líquidos registrados em Pecém, de 2005 para 2006, a queda de 38,8%, no mesmo período, na movimentação de granéis sólidos, observados no porto soteropolitano, o crescimento de 26,20% nas operações com granéis líquidos registrados em Pecém, entre 2006 e 2007 e o aumento de 1700% no fluxo de granéis sólidos em Suape. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 26 Tabela 5 - Movimentação de cargas, por sentido (em toneladas) Movimentação de cargas, por sentido (em Ton.) Pecém Suape Salvador Exportação Importação Total no ano Exportação Importação Total no ano Exportação Importação Total no ano 2004 426.824 515.019 941.843 977.216 2.939.771 3.916.987 1.770.864 1.182.229 2.953.093 2005 487.801 587.624 1.075.425 1.242.492 3.071.176 4.313.668 1.981.897 1.053.925 3.035.822 2006 533.979 1.349.070 1.883.049 1.647.117 3.569.892 5.217.009 1.810.859 988.512 2.799.371 589.970 1.615.391 Fonte: Antaq (2007) 2.205.361 2.087.439 4.400.784 6.488.223 1.887.576 1.202.731 3.090.307 2007 No intervalo de 2004 a 2007, 15.444.034 toneladas de cargas foram destinadas à exportação, ou 40,73% do total, das quais 48,25% saíram pelo porto de Salvador e 38,55% foram movimentadas pelo porto pernambucano. Para desembarque, foram registradas 22.476.124 toneladas, equivalentes a 59,27% do total, sendo 62,21% operadas por Suape e 19,70% movimentadas pelo porto de Salvador. Vale destacar o aumento de 129,58% na quantidade de cargas para importação movimentadas por Pecém entre 2006 e 2007. Percebese que há certo desbalanceamento entre as cargas exportadas e importadas nos portos de Suape e Pecém, com predomínio das operações de desembarque. Já em Salvador, o embarque de cargas é o maior responsável pela movimentação. Tabela 6 - Movimentação de cargas, por navegação (em toneladas) Por navegação (em Ton.) Pecém LC 2004 906.193 C Suape ON Total no ano LC C Salvador ON Total no ano LC C ON Total no ano 35.650 - 941.843 1.297.295 2.619.692 - 3.916.987 2.375.938 577.155 - 2.953.093 2005 989.622 85.803 - 1.075.425 1.443.083 2.870.585 - 4.313.668 2.349.880 685.942 - 3.035.822 2006 1.668.173 214.876 - 1.883.049 1.723.472 3.493.537 - 5.217.009 2.193.294 606.077 - 2.799.371 2007 1.542.072 663.289 Fonte: Antaq (2007) - 2.205.361 2.527.054 3.115.103 846.066 6.488.223 2.560.049 530.258 - 3.090.307 LC = Longo curso C = Cabotagem ON = Outras navegações No período de análise, os portos de Pecém e Salvador operaram cargas apenas na navegação de longo curso e na cabotagem (navegação pela costa). O mesmo aconteceu com o porto de Suape, no intervalo de 2004 a 2006. No intervalo 2004-2007, foram movimentadas, pela navegação de longo curso, 21.576.125 toneladas em cargas, das quais 43,93% passaram pelo porto soteropolitano, e 32,40% foram operadas por Suape. A cabotagem foi responsável pela movimentação de 15.497.967 toneladas, sendo 78,07% das cargas movimentadas pelo porto pernambucano, e Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 27 15,48% delas transitaram por Salvador. Suape foi o único porto que movimentou carga através de outras modalidades de navegação. Vale registrar o crescimento de 208,68% na navegação de cabotagem em Pecém, entre 2006 e 2007. Tabela 7 - Movimentação de contêineres (em peso) Contêineres (em peso [Ton.]) Pecém Suape Salvador Exportação Importação Total no ano Exportação Importação Total no ano Exportação Importação Total no ano 2004 - - - 529.818 922.397 1.452.215 1.169.219 493.351 1.662.570 2005 - - - 728.278 1.141.756 1.870.034 1.227.107 510.686 1.737.793 2006 618.186 476.588 1.094.774 735.168 1.202.709 1.937.877 1.322.944 588.638 1.911.582 736.371 590.878 Fonte: Antaq (2007) 1.327.249 1.090.279 1.715.752 2.806.031 1.588.463 754.827 2.343.290 2007 Não estão disponíveis sobre a operação de contêineres, em peso, no porto de Pecém, nos anos de 2004 e 2005. No intervalo de 2004 a 2007, os três portos movimentaram 18.143.415 toneladas em contêineres, das quais 44,46% passaram por Suape e 42,19% transitaram por Salvador. Das 9.745.833 toneladas (53,71% do total) unitizadas destinadas à exportação, 54,46% foram movimentadas por Salvador, e 31,64% foram operadas em Pernambuco. No sentido da importação, transitaram 8.397.582 toneladas, o equivalente a 46,28%, tendo Suape operado 59,33% e Salvador movimentado 27,95%. Suape aumentou em 93,22% a movimentação total, tendo crescido 44,80% apenas entre os anos de 2006 e 2007. Tal resultado foi efeito do aumento de 105,78% na exportação (48,30% só entre 2006-2007) e do incremento de 86,01%. 5.2.1 Preço Tabela 8 - Preços Médios Totais - contêineres (R$/unidade) Preços Médios Totais - contêineres (R$/unidade) Pecém Suape Cais público Salvador Tecon Cais público Tecon 2004 - 221,19 236,94 - 525,88 - 347,48 2005 449,40 245,27 216,31 2006 - - 515,14 694,94 300,20 - - 469,02 - 401,85 2007 Fonte: Antaq (2007) Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 28 Não foram encontrados dados sobre os preços praticados em Pecém, entre 2004 e 2007, por isso, a análise comparativa foi feita entre os portos de Suape e de Salvador. Da mesma forma, não estão disponíveis informações sobre os preços praticados pelo cais público de Suape no período de 2005 a 2007. No intervalo 2004-2007, o preço médio total no Tecon de Suape aumentou 34,98%, contra 69,60% de crescimento no Tecon de Salvador e 214,18% no cais público baiano. Vale destacar o considerável incremento de 183,34% no preço médio registrado no cais público de Salvador. Observa-se, também, que os preços no Tecon Pernambuco são mais elevados que no terminal de contêineres da Bahia. 5.2.2 Indicadores de desempenho – contêineres Tabela 8 - Frequência de navios (unidades) Frequência de navios (unidades) Pecém Suape Tecon 2004 Salvador Cais público Tecon Cais comercial 228 - 251 - 384 93 2005 462 7 559 14 2006 - 463 13 593 31 2007 - 510 61 611 18 Fonte: Antaq (2007) A frequência de navios indica a quantidade movimentada correspondente ao total de navios atracados e das cargas movimentadas. Não se teve acesso aos dados relativos a esse indicador de desempenho, nos anos de 2005 a 2007, no porto de Pecém. Também não estão disponíveis informações sobre a freqüência de navios no cais público de Suape em 2004 . De 2004 a 2007, o Tecon – Suape evoluiu 103,19% (com 84,06% de incremento de 2004 para 2005, enquanto o porto público pernambucano cresceu mais de oito vezes (369,23% só entre 2007 e 2006). Na Bahia, o Tecon aumentou em 59,14% a frequência de Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 29 navios, ao passo que o cais comercial apresentou queda de 80,64% (com redução de 84,95% entre 2004 e 2005)). Tabela 9 - Consignação média (unidades por navio) Consignação média (unidades por navio) Pecém Suape Tecon 2004 205 2005 2006 2007 Salvador Cais público Tecon Cais comercial 251 - 238 208 - 243 182 211 202 - 257 331 221 73 282 234 191 91 Fonte: Antaq (2007) Não foram encontrados dados relativos a esse indicador de desempenho, nos anos de 2005 a 2007, no porto de Pecém. Também não se teve acesso às informações sobre a consignação média de contêineres no cais público de Suape em 2004. No intervalo 2004-2007, o Tecon – Suape ampliou em 12,35% a consignação média, e o cais público cresceu 28,57%. Em Salvador, o Tecon teve sua consignação média reduzida em 19,75%, e o cais comercial apresentou queda de 56,25% nesse índice (com diminuição de 63,86% de 2005 para 2006). Tabela 10 - Atendimento ao tráfego(%) Atendimento ao tráfego (%) Pecém Suape Tecon Salvador Cais público Tecon Cais comercial 2004 100 100 - 75 16 2005 - 99 1 98 2 2006 - 96 4 98 2 - 91 9 99 1 2007 Fonte: Antaq (2007) O atendimento ao tráfego mede a participação do porto na movimentação total de contêineres. Não se teve acesso aos dados relativos a esse indicador de desempenho, nos anos de 2005 a 2007, no porto de Pecém. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 30 Percebe-se que, em 2004, todos os contêineres que passaram por Suape foram operados pelo Tecon. Nos anos seguintes essa participação foi se reduzindo, mas continua ainda bastante significativa. No porto de Salvador, chama a atenção a redução na participação do cais comercial na movimentação das mercadorias. Tabela 11 - Prancha média (número de contêineres movimentados por hora) Prancha média (nº de contêineres movimentados por hora) Pecém Suape Tecon 2004 16,9 15,2 2005 - 2006 - 2007 Fonte: Antaq (2007) Salvador Cais público Tecon Cais comercial - 16,1 9,5 14,0 7,0 17,5 13,4 19,0 13,0 19,0 4,0 21,0 11,0 8,0 13,0 Não foram encontrados dados relativos a esse indicador de desempenho, nos anos de 2005 a 2007, no porto de Pecém. Também não se teve acesso às informações sobre a prancha média de contêineres no cais público de Suape em 2004. A prancha média no Tecon - Suape, entre 2004 e 2007 aumentou 38,16%, e no cais público o movimento foi 57,14% maior. Em Salvador, houve uma considerável redução na prancha média do Tecon de 2006 para 2007, de 57,89%. O cais comercial, por seu turno, registrou movimentou 36,84% mais contêineres (a despeito da redução de 70,15% de 2005 para 2006). Tabela 12 - Tempo médio de espera (hora/navio) Tempo médio de espera (hora/navio) Pecém Suape Tecon 2004 2 2005 2006 Salvador Cais público Tecon Cais comercial 1 - - - - 5 4 0 0 - 23 9 8 5 4 4 8 10 2007 Fonte: Antaq (2007) Não foram encontrados dados relativos a esse indicador de desempenho, nos anos de 2005 a 2007, no porto de Pecém. Também não se teve acesso às informações sobre o tempo médio de espera de contêineres no cais público de Suape e em Salvador em 2004. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 31 Vale notar o crescimento de 360% no tempo de espera registrado por Suape de 2005 para 2006, reduzido em 82,61% no ano seguinte. Na Bahia, observa-se que esse indicador pode chegar a ser mais que o dobro do apresentado por Suape. Tabela 13 - Desbalanceamento ou imbalance (% exportado) Desbalanceamento ou imbalance (% exportado) Pecém Suape Tecon 2004 - 2005 - 2006 Salvador Cais público - Tecon Cais comercial - - 50 40 - - - 49 53 61 66 2007 Fonte: Antaq (2007) 49 51 64 46 - Não se teve acesso às informações sobre esse indicador em Pecém. O mesmo aconteceu com os demais portos em 2004 e com Salvador em 2005. Vale destacar a redução de 30,30% no desbalanceamento no cais comercial de Salvador. Nota-se, também, que os valores registrados para esse índice no porto baiano são mais elevados, refletindo a desigualdade entre cargas desembarcadas e embarcadas. Tabela 14 - Relação cheio/vazio (% do cheio) Relação cheio/vazio (% do cheio) Pecém Suape Tecon Salvador Cais público Tecon Cais comercial 2004 - - 2005 73 85 - - 2006 70 72 75 70 2007 Fonte: Antaq (2007) 71 65 78 52 - - Não foram encontrados dados sobre esse indicador em Pecém. O mesmo aconteceu com os demais portos em 2004 e com Salvador em 2005. Destaque-se a queda de 25,71% na relação cheio/vazio no cais comercial de Salvador, e a redução gradativa desse índice no cais público de Suape. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 32 5.2.3 Ligações multimodais A existência de ligações multimodais adequadas possibilita o escoamento da produção de maneira eficiente. Num contexto em que o fluxo de cargas é visto sob uma perspectiva global, não basta apenas que o porto seja capaz de operar com rapidez, segurança e custo adequado. É preciso, também, que se tenha condições de levar a carga para seu destino utilizando eficientemente outros modais de transporte. O acesso rodoviário ao Terminal de Pecém é feito através da BR-222 que proporciona a ligação com Fortaleza, à região norte do Estado do Ceará e aos Estados do Piauí e do Maranhão. A BR-116 interliga-o à região Sul do país e a CE-422, conhecida como via portuária, tem 20,5 Km de extensão e 12 m de largura, servindo de interligação das instalações portuárias com a BR-222. O acesso ferroviário às instalações portuárias consta de um ramal de 22,5 Km de extensão, proveniente da linha norte da Companhia Ferroviária do Nordeste, e bitola de 1 m. O Complexo Industrial e Portuário de Suape está a aproximadamente de 40 Km da cidade do Recife, em Pernambuco, localizado nos municípios de Ipojuca e do Cabo de Santo Agostinho. Possui de 50 km de rodovias e 41 km de ferrovias próprias. Sua área de influência abrange o Estado de Pernambuco e parte dos estados de Alagoas e da Paraíba. A chegada ao porto de faz através da PE-060, uma rodovia estadual de mão dupla, que o liga à BR-101. As estradas internas permitem ligações diretas, através da PE-060, com vias das malhas estadual e federal por meio de acessos controlados, dois na PE-60 e um na PE-28. O acesso ferroviário é realizado através da Companhia Ferroviária do Nordeste, com bitola de 1 m, que, entretanto, não opera com regularidade. A conexão ferroviária com Alagoas encontra-se interrompida. O porto de Salvador tem como área de influência todo o Estado da Bahia, o sudoeste de Pernambuco e o sul de Sergipe. O acesso rodoviário acontece através da BR-324, até Feira de Santana, onde se liga às rodovias BR-101, BR-110 e BR-116. O porto conta, ainda, com 5.000 metros de rodovia semi-expressa. O acesso ferroviário está interrompido. O porto soteropolitano está a 20 km de distância do Aeroporto Luiz Eduardo Magalhães. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 33 5.2.4 Segurança portuária Não se teve acesso a uma base de dados confiável sobre roubos, avarias e perdas de cargas nos portos analisados. Por essa razão, o critério utilizado para avaliar a segurança portuária foi a certificação ISPS Code. O Terminal Portuário do Pecém foi o primeiro do país a obter a certificação plena do Código Internacional para Proteção de Navios e Instalações Portuárias - ISPS Code, em junho de 2004. As medidas de segurança adotadas garantem o controle de todo tipo de acesso ao Terminal, que deve ser monitorado por subsistemas de segurança que incluem cadastramento, identificação obrigatória, restrição de acesso, detectores de metais, câmeras e sistema integrado de segurança eletrônica e humana. Suape possui declaração de cumprimento emitida pela Comissão Nacional CONPORTOS, sendo, portanto, um porto certificado. Para auxiliar as operações de acostagem dos navios, o Porto dispõe de um sistema de monitoração de atracação de navios a laser. O porto de Salvador, por sua vez, está em processo de implantação de melhorias para obter a certificação ISPS Code. 5.3 Análise e discussão dos resultados A avaliação dos resultados apresentados permite concluir que nenhum dos três portos revela vantagens comparativas muito significativas sobre o outro. Cada porto possui sua vantagens e seus pontos fracos. Pecém apresenta o beneficio de, sendo um porto off shore, dispor do calado mais profundo entre os portos analisados, além de possuir localização geográfica privilegiada. Por outro lado, uma consequência do fato de os navios atracarem a certa distância da costa é que os veículos devem percorrer no mínimo 3.600m (1.800 m na ida e mais 1.800 m na volta) para trazer as cargas do navio até as instalações portuárias. Essa situação acaba elevando os custos fazendo com que os transportadores percam tempo. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 34 Suape tem como pontos fortes a retroárea (ou retroporto), que permite a expansão do porto e a instalação de empreendimentos na região, e a localização geográfica, próxima às rotas de comércio mundial. O porto pernambucano é o que registra menor tempo de espera, mas, em contrapartida, apresenta preços mais elevados que o porto baiano, justificados graças à existência de um monopólio na operação do terminal de contêineres. Suape é o porto que mais realiza operações de cabotagem entre os três analisados. Salvador tem um potencial gerador de cargas bastante atrativo, uma vez que a economia baiana é a maior do Nordeste. Outra vantagem do porto soteropolitano é o fato de ele estar mais próximo das regiões Sul e Sudeste e do porto de Santos. Salvador é o porto que mais movimenta contêineres. Apesar de apresentar os menores preços, o porto da Bahia é o que apresenta tempo de espera maior, além de ser o que apresenta menor calado. O que se observou foi que cada porto apresenta certa especialização de cargas, e, por isso, a competição entre eles não se mostra tão agressiva. É pouco provável, por exemplo, que a produção do pólo petroquímico de Camaçari seja movimentada no porto de Pecém ou de Suape. Da mesma forma, o açúcar produzido em Pernambuco dificilmente será operado em um porto fora do Estado. Isso já revela a adequação de cada porto à vocação econômica da região em que está localizado. Nas cargas que eventualmente poderiam ser disputadas, como as frutas de Petrolina e os contêineres, percebeu-se que Suape leva uma ligeira vantagem em relação aos outros. Por ser um porto estrategicamente localizado, com infra-estrutura adequada e por sua hinterlândia englobar boa parte do Nordeste, o porto de Pernambuco destaca-se um pouco frente à Pecém e a Salvador. Pecém é um porto relativamente recente, que já nasceu na era pós Lei 8.630/93, num ambiente que estimula a competitividade portuária. Suape, apesar de ser mais antigo, já foi pensado para ser um porto que traria benefícios significativos para a economia pernambucana. Salvador, o porto que foi criado há mais tempo, precisa passar por reformas para se adequar à nova realidade no ambiente portuário. Em recente estudo realizado pelo COPPEAD/UFRJ (2008) com os usuários dos portos no Brasil, Suape foi escolhido o melhor porto público do país, e Salvador, o pior. Apesar de, Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 35 pela pesquisa, os portos pernambucano e baiano estarem situados em lados opostos, o que se constatou é que cada um possui vantagens competitivas consideráveis. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 36 6 CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS: CENÁRIOS PROSPECTIVOS PARA OS PORTOS NORDESTINOS Diante do exposto, é evidente a vocação da região Nordeste para manter um dos maiores sistemas portuários do mundo. O potencial já está sendo demonstrado pelos principais portos nordestinos aqui estudados. Pecém, Salvador e Suape concentram grandes investimentos e dispõem, hoje, de grande auxílio do governo, que vê nesses complexos portuários uma enorme oportunidade de alavancar a economia regional e atrair investimentos para seus respectivos estados. A atração de mais cargas e empreendimentos auxilia no crescimento sustentado dos portos nordestinos e propõe à gestão portuária da região Nordeste uma administração que busque maximizar os efeitos dinamizadores dos portos diante da economia regional. O cenário de competitividade nociva alarmado pela mídia quanto a investimentos nos portos nordestinos não é concreto. Há uma competitividade virtuosa no sentido de concentrar um maior fluxo de movimentação de cargas nos complexos portuários da região, para que, dessa forma, os portos, principalmente o de Pecém e o de Suape, possam otimizar suas atividades e parar de subutilizar a capacidade portuária vigente. Já está prevista a dragagem no porto de Salvador, que deve solucionar parte dos problemas por ele enfrentados. Suape já planeja a construção do segundo terminal de contêineres, que permitirá a criação de um ambiente concorrencial no porto pela disputas das cargas unitizadas. Também será construído no porto pernambucano um segundo estaleiro, resultado da potencialização da indústria naval e off shore (equipamentos e plataformas em alto-mar) devido à demanda de encomendas do pré-sal por parte da Petrobrás (SUAPE, 2009). Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 37 Em Pecém, está em fase de construção o terminal de múltiplos usos, que deve ampliar a capacidade de operação de cargas do porto cearense, além de uma siderúrgica e de uma refinaria. Para que os investimentos na malha portuária da região Nordeste possam desafogar o tráfego em torno dos portos do Sul e do Sudeste, faz-se necessário uma plena coordenação de esforços de todos os governos estaduais para que a implantação dos grandes investimentos (a exemplo da termelétrica em Pecém, do estaleiro Suezmax e da refinaria da Petrobrás, além dos grandes incentivos para revitalização do porto de Salvador) se faça em conjunto com uma moderna e eficiente estrutura física que possibilite a constituição de uma rede de serviços de logística de abrangência internacional. Os investimentos ultrapassam os R$ 3 bilhões e a montagem de acordos e parcerias entre os estados nordestinos e a iniciativa privada devem dinamizar os complexos industriais, aumentando a hinterlândia dos portos da região e propagando o desenvolvimento do país. Além disso, deve-se ressaltar a possibilidade de estabelecer um sistema portuário com Suape e Pecém exercendo a função de hub ports (portos concentradores), tendo os demais portos da região como alimentadores (feeder ports), devido à grande área que ainda pode ser aproveitada pelos dois portos para armazenar mercadorias, estabelecendo um sistema de cabotagem eficiente e importantíssimo para o aumento do desempenho dos respectivos complexos portuários. Muito se questiona sobre as razões pelas quais Suape, sendo um porto mais antigo e tão estruturado quanto Pecém, até hoje não ter se tornado um hub port. Trevas (2005) alega Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 38 que, entre os motivos, estão a não implantação de uma Zona de Processamento de Exportações - ZPE (áreas de livre comércio, com vistas à instalação de empresas voltadas para a produção de bens a serem comercializados exclusivamente no exterior), a proximidade do porto de Suape com o porto de Pecém, distando apenas cerca de 800 km (não havendo, de acordo com o autor, carga suficiente em sua hinterlândia para os dois complexos portuários, por falta de planejamento estratégico do sistema portuário brasileiro) e o direcionamento de cargas que seria provocado pela conclusão da Ferrovia Transnordestina (que levaria ao porto de Pernambuco produtos como gesso, milho, soja e frutas). Espaço, tecnologia e investimento já são realidade. Fazer bom uso destes recursos e analisar o comportamento do mercado para traçar as estratégias determinantes do sucesso do sistema portuário nordestino é papel dos gestores para inserir o Nordeste e o Brasil como um dos principais eixos do fluxo de mercadorias no comércio internacional. Revista de Iniciação Científica versão eletrônica v.1, jan.-jun. 2011 39 REFERÊNCIAS ANTAQ – AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES AQUAVIÁRIOS. Anuário Estatístico Portuário 2007. Disponível em: http://www.antaq.gov.br/Portal/Anuarios /Portuario2007/Index.htm. Acesso em: 29/12/2008. BAUDOUIN, Thierry. A cidade portuária na mundialização. In: COCCO, Gerardo; SILVA, Giuseppe. Cidades e portos: os espaços da globalização. Rio de Janeiro: DP&A, 1999. BRASIL. Lei nº 8.630, de 25 de fevereiro de 1993. CEARÁPORTOS – COMPANHIA DE INTEGRAÇÃO PORTUÁRIA DO CEARÁ. Terminal Portuário do Pecém. Disponível em: http://www.cearaportos.ce.gov.br. Acesso em: 15/02/2009. CODEBA – COMPANHIA DAS DOCAS DO ESTADO DA BAHIA. 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