GRUP O de Estudo e Partilha de Vida T EMA 3 O que sinto? 1. SENSIBILIZAÇÃO DESCER NO PROFUNDO (CD Mistério, Amor, Sentido – 13, de Jorge Trevisol) Nas estradas da vida se encontram / Esperanças e fatos sofridos Tanta gente buscando caminhos / Amor e sentido Muitas vezes no mesmo semblante / Se traduzem o medo e o desejo, a luz e a sombra Numa luta escondida e profunda / Muito além dos segredos A vida é ciranda, é bonita / É uma canção, é poesia Mas é preciso cuidar de seu rosto / Da flor, da luz e dos frutos Felicidade é um tesouro seguro / Se guardada no peito Liberdade não perde o seu brilho / Quando nasce de dentro Sem querer e até mesmo sabendo / Há quem nunca saiu de seu mundo Pra não ver horizonte mais longo / E descer no profundo Como se um filhote de águia / Decidisse ficar no seu ninho por medo dos ares Perderia a força dos ventos / E a distância dos mares 2. LECTIO DIVINA Jo 11,1-44 1. Betânia, “casa do coração”, lugar de amizade, de hospitalidade, de escura e de serviço, de morte e de vida, de ternura e de cuidado, de ausência e de presença de Jesus, de vivência de emoções, sentimentos e afetos: o que você vivencia na relação com os outros e no plano da fé, tem alguma relação com sua vida emocional? A sua espiritualidade é expressão de sua totalidade como pessoa? 2. Ao responder a um escriba, Jesus afirma: amarás o Senhor, teu Deus, de todo o coração, de toda a alma, de todo o entendimento, e com todas as tuas forças... Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mc. 12, 29-31). Você ama a Deus e ao próximo com a totalidade de seu ser? 3. ÁGUA DA ROCHA Ao longo da existência, nossa espiritualidade interage dinamicamente com a experiência vital. De um lado, à medida que nos integramos à vivência cotidiana, vai-se formando o que entendemos ser nossa espiritualidade. De outro, esta espiritualidade constrói o modo como compreendemos o mundo, as pessoas, Deus, e como nos relacionamos com eles. (Água da Rocha, Introdução) Deus nos criou pessoas sexuadas, de tal modo que encontramos – no relacionamento com as pessoas –, a nossa verdadeira natureza humana e espiritual. Nossos desejos sexuais, são a expressão mais profunda do desejo humano por união, em princípio, com os outros e, em última instância, com Deus...Com a graça de Deus, assumimos o compromisso desafiador de cultivar aquela harmonia interior que atraía as pessoas a Jesus, O que sinto? humilde e simples de coração. Não é possível desenvolver nosso potencial humano sem estar envolvidos com os outros e sem responder aos anseios e desafios propostos pelas pessoas que partilham mais intimamente conosco a caminhada. (Nº 109) O senso de humor é um dom maravilhoso. Ele nos ajuda a ser mais compreensivos em relação a nós mesmos e a nossos companheiros, bem como a enfrentar, com alegria, os contratempos da vida em comunidade.... (Nº 112) 4. REFLEXÃO PASTORAL Na visão da pessoa e dos sistemas éticos, no mundo ocidental, existe grande influência do logocentrismo grego, entendido como razão. Mas a razão não explica e não abarca todas as dimensões da pessoa. No ser humano emerge a emoção, os sentimentos e a afetividade, como experiência única e pessoal. Por isso a experiência base não é o logos, mas o pathos, entendido como “capacidade de sentir, de ser afetado e de afetar, o arranjo existencial concreto. A existência não é pura existência, é uma coexistência sentida e afetada pela ocupação e preocupação, pelo cuidado e pela responsabilidade com os outros, pela alegria e tristeza, pela esperança e angústia” (Olga de Sá, FMA, Corpo e Corporeidade, em ‘Diálogo Comunitário’, CRB). Esta é a qualidade existencial, o modo de ser e a estruturação básica do ser humano. Neste sentido, podemos dizer que a inteligência é emocional, pois ela se dá conta da dialética viva da realidade, da vida e do pensamento. Por isso, pode-se parafrasear o dito “penso, logo existo” pelo “sinto, logo existo”. O conhecimento humano vai além da dimensão racional. Por isso, o pathos não se opõe ao logos. Primeiro sente o coração, depois reage o pensamento. Para entender o mistério humano, a antropologia deve dar um passo a mais, indo à área da emoção, dos sentimentos, da afetividade. Como diz Pascal, “conhecemos a verdade não apenas pela razão, mas pelo coração”. Por isso, a afetividade é uma mediação indispensável para entender a pessoa como sujeito e não apenas como objeto. (Cf. Imoda, F. em Psicologia e Mistério, o Desenvolvimento Humano, Paulinas, SP, 1996, p. 88). Os sentimentos são energias capazes de pôr em movimento o ser humano em suas interações, em suas tomadas de posição e em seu comportamento. Dão colorido à vida e à realidade. São nossa maneira de perceber-nos e nossa reação ao mundo que nos circunda. Embora não seja a única dimensão, cada um é, conforme os sentimentos que sente. Eles são únicos e pessoais. Por isso, compreendê-los é compreender nosso ser e nossas reações. Estar em contato com eles é a única maneira pela qual podemos ser o melhor de nós mesmos e viver bem. Os sentimentos estão em nós, precisamos vivê-los, trabalhá-los, saber lidar com eles. Dois elementos são importantes para viver bem a afetividade: o conteúdo do mundo afetivo (o que sente) e a forma como administra e vive o que sente. (Cf. Ana Bissi, em O Pulsar da Vida, Paulinas, SP, 2003 pp. 14 e 15) Sob o ponto de vista da ação humana, existem dois tipos de resposta em relação aos sentimentos: respostas às avaliações imediatas, não reflexivas, por “reação”, que se traduzem em “atos impulsivos”; e respostas às avaliações reflexivas, que se traduzem em decisões e ações deliberadas. (Cf. Ravaglioli, A. M., em Psicologia, Paulinas, SP, 1998. p. 137) Vários autores analisam as múltiplas forças que dinamizam o âmago do ser humano que fazem sentir, que pressionam, que impulsionam, que se exprimem, que são reprimidas ou removidas. Uma das análises psicodinâmicas mais profundas das emoções é a da psicóloga Magda Arnold (Emotion and Personality, Columbia University Press, New York, 1960, vol. 1, pp. 168 ss). Eis, sinteticamente, os principais aspectos dessa análise: 1º) PERCEPÇÃO: para que haja uma emoção, há a percepção de um “objeto” (pessoa, coisa, situação) coletado pelos sentidos. Os sentidos captam os estímulos que são levados ao cérebro, onde se dá a percepção. 2º) AVALIAÇÃO INTUITIVA: o “objeto” percebido é avaliado, não por meio de juízo racional, mas por sensação imediata, como bom, atraente, prazeroso, provocando atração e tendência de aproximação; ou como ruim, prejudicial, provocando repulsão e tendência de afastamento. Esta avaliação intuitiva, que é pré-racional, não tem como base somente os fatos objetivos, mas é muito influenciada pela memória afetiva e pela imaginação. 3º) MEMÓRIA AFETIVA: não é memória de fatos ou pessoas, mas é armazenamento de experiências afetivas. As lembranças dos episódios desaparecem, mas os sentimentos ligados a eles permanecem e se somam, mesmo inconscientemente. Assim, quando uma experiência semelhante, ou sentida como semelhante, se repete, a emoção presente emerge com muito mais força, carregada pelo peso do passado. Podemos esquecer palavras, fatos, lugares, situações, pessoas; porém, as “impressões emotivas” permanecem. 4º) IMAGINAÇÃO: muitas vezes a experiência passada (memória afetiva) se transforma em expectativa futura, criando antecipações, hábitos, sensações que se tornam chave de leitura da realidade presente, suscitando estados emocionais e reações. Essas antecipações, o que imaginamos que vai acontecer, irão colorir o presente, tornando-o agradável ou dramático, não de acordo com os fatos objetivos, mas com o que sentimos. 5º) EMOÇÕES: à avaliação intuitiva da percepção, sentida como boa ou ruim, segue-se o emergir de emoções correspondentes: alegria, contentamento, bem-estar, medo, mal-estar, tristeza, raiva, culpa, ansiedade, atração ou repulsão. 6º) MUDANÇA FISIOLÓGICA: com o surgimento das emoções, várias substâncias são ativadas, automaticamente, no organismo e lançadas na corrente sanguínea. Por isso, conforme o envolvimento experimentado, várias mudanças fisiológicas acontecem: tremor das pernas, batimento acelerado do coração, palidez ou enrubescimento do rosto, suor nas mãos, tremor da voz, aumento ou queda de pressão arterial, sensação de bem-estar ou mal-estar, desmaios. Essas mudanças ajudam entender outro aspecto do mundo emocional: muitas vezes há desproporção ou exagero entre o fato objetivo (o que aconteceu) e a ressonância interior (como foi sentido). É a bagagem da memória afetiva (passado) e da imaginação (antecipação do futuro), muitas vezes inconsciente, que condiciona a avaliação intuitiva do momento presente. 7º) TENDÊNCIA À AÇÃO: a “carga emocional” suscita tendência a agir conforme a emoção sentida. Se agirmos movidos somente por essa força, nossas ações serão emocionais, impulsivas. De fato, muitas de nossas ações, tornadas atitudes (hábitos), acontecem nesse nível. Por esses mecanismos descritos, percebemos que as emoções são automáticas e espontâneas, portanto, não são mediadas pela vontade. Não escolhemos sentir ou não sentir e o que sentir. Apenas sentimos. Por isso, as emoções são pré-morais e não existem emoções boas (positivas) e emoções más (negativas). Apenas existem emoções. Podemos agir impulsivamente, de acordo com as emoções sentidas. Mas para a pessoa, o processo não acaba aqui. Todo o sentimento vivenciado no plano puramente emocional é incompleto e exprime somente uma dimensão da pessoa. 8º) AVALIAÇÃO REFLEXIVA: para ser plenamente humana, a emoção deve manifestar também o aspecto racional, que é capaz de exprimir uma avaliação reflexiva do mundo emotivo. Assim, o elemento emocional pode ser integrado, completado pelo racional, que julga e avalia a oportunidade e a validade de agir/reagir de determinada forma. Como a pessoa tem valores, projetos, opções de vida, a tendência à ação impulsionada pela emoção pode passar por essa avaliação reflexiva. Por isso, a integração das emoções, além de ajudar e favorecer a relação com os outros e o mundo, é um bem para si mesmo. 9º) DECISÃO E AÇÃO: de acordo com a avaliação reflexiva, é possível tomar uma decisão e realizar uma ação, levando em conta as emoções experimentadas, mas também os valores, os projetos e opções de vida. 5. ORAÇÃO Maria, nossa Mãe, vimos à vossa presença, falar-Vos de nossa imensa gratidão a Deus, por ter-nos dado ser suas irmãs e seus irmãos, e por ter-Vos, primeira e perfeita discípula de Jesus, como nosso modelo de vida. Maria, queremos fazer de vosso Magnificat a O que sinto? nossa oração. Por isso pedimos: ajudai-nos a compreender melhor o amor de Deus por nós e todos os Seus dons. Ensinai-nos a encarnar esse amor como fez Jesus, sendo irmãs e irmãos universais, com um amor preferencial pelos jovens e necessitados. Maria, nosso Recurso Habitual, rezai por nós e rezai conosco, para que continuemos a crescer, sendo: Irmãs e irmãos, com esperança radiante, convictos da presença ativa do Espírito, que lança o convite a todos, homens e mulheres, para ser construtores de um mundo novo, de um mundo melhor; / Irmãos e irmãs, com corações que sabem escutar e discernir, sempre atentos à vontade do Pai; / Irmãs e irmãos, cheios de audácia, mais e mais apaixonados pela vida; apóstolos Maristas, prontos a proclamar Jesus e seu Evangelho com os corações ardentes de amor; / Ajudai-nos a ser irmãos e irmãs de quantos encontrarmos no caminho da vida, a estar presentes aos outros como Vós, com corações atentos e compassivos; / Aceitai nosso amor, Mãe querida, e pela força de vossa intercessão, com a luz de vosso exemplo, Cristo seja o centro de nossa vida! (Água da Rocha, nº 156) 6. COMPROMISSO SEMANAL Que compromisso podemos elencar, a partir deste encontro, para vivenciar o que partilhamos? 7. DICA DE LEITURA ⬢ Por que Tenho Medo de Lhe Dizer Quem Sou? John Powel. Ed. Crescer.