Entrevista a cinco mulheres educadoras do povo Sateré-Mawé dos rios Marau, Mirití, Urupadí e Manjurú.
Cinco mulheres “Wo´opovyro hat”
- educadoras Sateré-Mawé Arizete Dinelly e Fernando López (*)
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Neuzarina Mª da Silva, 34 anos e 6 de educadora, clã moi (cobra), aldeia Santa Maria, rio Urupadi.
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Cristina Santos de Souza, 29 anos e 2 de educadora, clã moi (cobra), aldeia Terra Nova, rio Marau.
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Helen Maria da Costa Albuquerque, 29 anos e 7 de educadora, clã akuri (cutia), aldeia Kuruatuba, rio
Manjuru.
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Maria Madalena A. Alves, 31 anos e 6 de educadora, clã moi (cobra), aldeia Santo Antônio, rio Marau.
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Francisca Nila Cunha Silva, 18 anos de educadora, clã akuri (cutia), Nova Aldeia, rio Marau.
1. O que significa para você ser mulher Sateré-Mawé?
Neuzarina. Significa eu chamar o meu povo, o meu sangue para lutar juntos na defesa da mulher Sateré-Mawé.
Cristina. É ser uma pessoa que luta pelo seu povo para que melhore a sociedade Sateré-Mawé. Ser mulher
Sateré-Mawé não é ser diferente dos homens Sateré-Mawé no compromisso com o nosso povo.
Helen. É voltar a nossa cultura, as nossas tradições e costumes. Valorizar nosso próprio povo Sateré-Mawé.
Madalena. Ser mulher Sateré-Mawé significa ser uma pessoa que luta para encontrar a felicidade de seu povo.
Francisca. Para mim é ajudar a minha própria nação, nas reuniões de mulheres, na escola, na comunidade.
2. Em que a mulher indígena está contribuindo para o fortalecimento do povo Sateré-Mawé?
Neuzarina. No meu conhecimento, por ser a mulher mais preocupada principalmente com a família, ela tem dado
apoio nas áreas onde seus filhos e filhas estão atuando. Isso significa que ela procura se informar sobre seus filhos
e dar apoio nas reuniões da comunidade e associações.
Cristina. A mulher Sateré-Mawé está ajudando muito na preparação de seus filhos na família e contribuindo muito
na educação e saúde para o fortalecimento do povo e da cultura Sateré-Mawé.
Helen. A mulher ajuda na educação e na saúde da família. Por exemplo: as mulheres orientam seus filhos que não
devem comer com as mãos sujas para evitar doenças.
Madalena. A mulher contribui com seu povo ajudando em todo o que pode, apoiando no fortalecimento da
educação, saúde e lazer.
Francisca. Ajuda nas reuniões da comunidade, nos trabalhos de saúde e educação.
3. Qual é a importância da participação da mulher na organização do povo Sateré-Mawé?
Neuzarina. Hoje tem importância, porque há um certo tempo atrás a mulher quase não tinha vez para atuar nas
questões comunitárias, devido ser uma dona de casa mais preocupada com seus afazeres. Hoje, eu acho que a
mulher faz parte dum povo organizado. Ontem, o homem sozinho não tinha apoio na família, hoje, a mulher está
junto para defender e apoiar as questões da comunidade.
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Cristina. A participação da mulher nas organizações é muito importante. Porém, ela precisa conhecer melhor as
organizações para compartilhar os trabalhos na melhoria de seu povo.
Helen. É importante que a mulher participe nas organizações juntando-se aos homens. Nós mesmas temos que
animar outras mulheres a unirem-se nessa caminhada.
Madalena. É importante para dar continuidade aos trabalhos já realizados como na educação, na construção de
artes culturais, na saúde, etc.
Francisca. Porque ela pode ajudar nas reuniões apoiando os projetos das organizações.
4. Como você avalia a caminhada da AMISM (Associação de Mulheres Indígenas Sateré-Mawé)?
Neuzarina. AMISM sempre está presente na pessoa da mulher Sateré-Mawé. Aqui em Santa Maria tem uma
associação de mulheres que tem em conjunto uma pequena plantação. Porém, ainda falta mais participação das
mulheres, sobretudo, das coordenadoras para promover reuniões e ajudar mais ao fortalecimento da AMISM.
Cristina. AMISM já tem algumas iniciativas. Porém, está indo muito lento esse trabalho. Ainda falta um atuação
mais fortes nesta associação.
Helen. AMISM precisa ser mais conhecida entre as mulheres.
Madalena. A caminhada da AMISM não cresceu muito ainda. Por isso não se conhece muito esta associação.
5. Quais são seus sonhos e esperanças?
Neuzarina. É alcançar o meu objetivo de estudar mais, ser tratada com mais respeito e ajudar a meu povo com
mais firmeza e delicadeza.
Cristina. O meu sonho é fazer com que o meu povo saiba se defender e se valorizar. Tenho esperança nisso.
Helen. Fazer projetos para poder trabalhar com a mulher Sateré-Mawé.
Madalena. Meu sonho é encontrar uma vida tranqüila, sem perturbação de um povo não índio. E espero que toda a
sociedade Sateré-Mawé encontre esta vida.
Francisca. A minha esperança é que a mulher Sateré-Mawé possa ser reconhecida em sua função e possa assim
ajudar a sua nação.
6. Qual é a mensagem que você deixa para as mulheres e homens Sateré-Mawé?
Neuzarina. Minha mulher Sateré-Mawé, você não está sozinha em qualquer parte deste mundo, você é um ser que
tem uma grande responsabilidade com o povo ao qual pertence.
Cristina. Que todas as mulheres tenham coragem e vontade para lutar em favor de sua sociedade e se orgulhar de
ser Sateré-Mawé. E aos homens eu deixo a minha mensagem: que eles tenham gosto de ser Sateré-Mawé e lutem
com o seu povo, gritem numa só voz, voz da libertação e autonomia.
Helen. Que em todos os encontros pedagógicos saibamos refletir e conhecer as coisas novas que podem ajudar às
nossas comunidades.
Madalena. O’ mulheres Sateré-Mawé, lutemos nós também pela nossa autonomia. Gritemos em alta voz para que
encontremos um bom caminho para seguirmos juntas. Homens Sateré-Mawé, sejam vocês guerreiros fortes desta
nação. Não fiquem fracos para lutar pela melhoria da terra que nos foi doada por Deus nosso Pai, pois só assim
conseguiremos alcançar a nossa liberdade, a nossa tranqüilidade e uma autonomia forte e generosa.
Francisca. Todas as mulheres sejam felizes para ajudar na organização Sateré-Mawé. E os homens sejam felizes
com seus trabalhos e sejam bons trabalhadores da nação Sateré-Mawé.
(*) A Ir. Arizete Dinelly C.S.A. e o Pe. Fernando López S.J.
são membros duma equipe itinerante que trabalha junto aos ribeirinhos, favelados e povos indígenas na amazônia.
Rua Castelo Branco, 101 - Vitória Régia. CEP: 69033-230 Manaus - AM. BRASIL
Fone-fax: (092) 625-3721. E-mail: [email protected]
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1999-12 Entrevista a Mulheres Satere Mawe