120 | outubro de 2010 - PROFESSOR PARA LER NO AR Quinze de outubro é Dia do Professor. E sabe qual é o melhor presente que você pode dar ao mestre? A valorização. Quanto mais o professor se sente valorizado, mais chances de ele ensinar bem e de fazer com que as crianças aprendam. Você, estudante, valoriza o professor quando presta atenção nas aulas, quando se esforça pra aprender tudo o que ele ensina. Você, pai ou mãe, valoriza esse profissional tão importante quando demonstra interesse pela escola, participa das reuniões e procura o professor para saber como o filho está em matemática, português, ciências... No entanto, a melhor maneira de valorizar o mestre é oferecer a ele oportunidades de formação. Então, prefeito ou secretário de educação, o assunto agora é com você! Que tal procurar fazer parcerias para dar oportunidade de cursos ao professor? Se ele mora muito longe da cidade, procure um jeito de oferecer transporte. Se não tem como sair da área rural diariamente, o caminho pode ser a educação a distância. Opções não faltam! A formação do professor é um dos fatores essenciais de melhoria da qualidade da educação. É o que revela a pesquisa “Caminhos do direito de aprender: boas práticas de 26 municípios que melhoraram a qualidade da educação”, realizada pelo UNICEF, União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e instituições parceiras (1). A pesquisa foi divulgada em julho deste ano. Em quase todas as cidades analisadas, a conclusão foi a mesma: quando o professor tem oportunidades de fazer cursos, a educação melhora! (1) A pesquisa foi feita em parceria com o Ministério da Educação e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) Por lei (2), os professores que dão aulas a estudantes da educação básica devem ter formação superior. A exceção é para quem leciona para crianças da educação infantil ou dos anos iniciais do ensino fundamental. Nesses casos, a exigência é do nível médio, modalidade normal ou magistério, o que não impede o professor, é claro, de fazer um curso superior ou qualquer outro que ajude a melhorar o próprio conhecimento e, consequentemente, a aprendizagem dos alunos! (2) A exigência de nível superior está prevista no artigo 62 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996. Quer exemplo de cidade em que a educação melhorou a partir da formação dos professores? Nova Olinda do Norte, no Amazonas. O dirigente municipal de educação da cidade diz que o investimento na qualificação dos professores foi fundamental. Segundo ele, antes “as escolas estavam cheias de professores com apenas a 4ª série dando aulas para estudantes da 5ª série em diante”. A solução encontrada foi fazer parcerias com a secretaria estadual. Assim, a prefeitura bancou metade e o governo o restante dos gastos com a graduação dos professores. A melhoria da qualidade da educação de Nova Olinda do Norte de 2005 para 2007 atraiu pesquisadores do UNICEF, Undime e parceiros. Por causa do resultado apresentado, a cidade virou um dos exemplos de sucesso da pesquisa “Caminhos do direito de aprender: boas práticas de 26 municípios que melhoraram a qualidade da educação”. Oferecer formação inicial adequada é fundamental, mas não basta para melhorar a qualidade da educação. É preciso garantir que os professores continuem a se aperfeiçoar, como revela a pesquisa “Caminhos do direito de aprender”. Quase todos os 26 municípios analisados citaram a formação continuada como fator importante para a melhoria da educação. Um bom exemplo vem de Boa Vista do Tupim, na Bahia, cidade que mais avançou entre os pesquisados por causa do investimento da prefeitura e seus parceiros em cursos de formação continuada. Um estudante da cidade comentou que os “os professores estão ensinando e aprendendo, e o que eles aprendem, querem passar para os alunos”. O projeto Conhecer, Analisar e Transformar (CAT), do Movimento de Organização Comunitária (3), é mais um bom exemplo de formação continuada de professores. Pelo CAT, quem dá aulas para estudantes do campo aprende como valorizar a cultura e a realidade dos alunos. A partir de um tema relacionado com a área rural é possível ensinar várias disciplinas. Por exemplo: o professor pede para os alunos pesquisarem como a água chega em suas casas. Cisterna, carro-pipa ou água encanada? A partir das respostas dá pra ensinar matemática, português, ciências... Em matemática, os estudantes podem calcular o percentual de casas com cisterna na rua em que moram. Em português, aprender que a palavra “cisterna” começa com “c”, “água” tem acento agudo e carro-pipa, hífen. Em ciências, o professor pode dar aulas sobre o ciclo da água. “Por que falar sobre morango se ele não faz parte da nossa realidade?”, pergunta a técnica de educação do MOC, Michelle Rio Lopes. Segundo ela, 1500 professores e mais de 28 mil crianças do 1º ao 5º ano de 22 municípios baianos participam do projeto. Quer saber mais? O telefone do Movimento é (75) 3322 4444. (3) O MOC conta o apoio de vários parceiros, com a Universidade Estadual e Feira de Santana e prefeituras. Também conta com o apoio do UNICEF. Sabia que o perfil do professor está entre os dez pontos mais importantes para garantir o aprendizado de meninos e meninas? A conclusão é do estudo “Redes de aprendizagem – boas práticas de municípios que garantem o direito de aprender”. Segundo o estudo, os pais responsabilizam o professor pelos bons resultados alcançados na escola. As crianças vão mais além: elas atribuem aos professores tudo de bom que acontece na escola. O estudo ainda identifica algumas características do professor que são essenciais para que o aluno tenha sucesso na aprendizagem: Primeira: compromisso com a aprendizagem. Significa que o professor deve trabalhar para que o aluno adquira novos conhecimentos todos os dias. Segunda característica: boa formação. Quanto mais bem qualificado é o professor, melhor para a aprendizagem. Terceira: crença na capacidade de aprender de cada criança. O professor deve confiar no potencial do estudante, e sempre ter em mente que cada aluno tem um ritmo e uma forma de aprender. Quarta: o professor deve ter disposição, calma e paciência. Quinta característica importante para o sucesso da aprendizagem dos alunos: atenção e proximidade com o estudante. O professor deve conversar, buscar conhecer melhor a realidade de cada aluno, da família e da comunidade. E sexta característica: interação com a comunidade. O professor deve conhecer a comunidade e incentivar participação dela na vida escolar. O estudo foi realizado pelo UNICEF, União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e parcerias e está publicado no endereço eletrônico www.unicef.org.br. Basta clicar em “biblioteca”, depois em “publicações” e, em seguida, procurar o estudo “Redes de aprendizagem”. Um professor, sozinho, pode muito! Vários professores podem muuuito mais! A Organização dos Professores Indígenas Sateré-Mawé dos Rios Andirá e Waikurapá (Opisma) que o diga. Com o projeto Revitalização da Língua e de Práticas Culturais Tradicionais Sateré-Mawé (4), as crianças e adolescentes da área indígena Andirá-Maraú, no Amazonas, aprendem a fazer cerâmicas e redes, a valorizar a própria cultura e a ouvir histórias contadas pelos mais antigos das aldeias. O projeto envolve pajés e tuxauas, que são as lideranças tradicionais da região. Os indígenas participam ainda da revisão do material didático em língua Sateré-Mawé. O coordenador do projeto e da Opisma é o professor Sateré-Mawé José de Oliveira dos Santos da Silva. Ele acredita que, sem a iniciativa, os jovens envolvidos não teriam a possibilidade de ver que é possível desenvolvimento sem a perda das raízes. Essas informações estão no relatório Situação da Infância e da Adolescência Brasileira 2009 – O Direito de Aprender, do UNICEF. (4) O projeto, que conta com o apoio do UNICEF, ganhou o Prêmio Culturas Indígenas 2007 – Edição Xicão Xukuru, iniciativa do Ministério da Cultura. O valor do piso salarial dos professores da educação básica, que está em vigor desde 1º de janeiro deste ano, é de R$ 1.024,67 para uma jornada de 40 horas semanais. O piso nacional foi criado pela lei nº 11.738, de 2008. No entanto, a lei ainda não é cumprida por alguns governadores e prefeitos. Alô, prefeito! Alô, governador! Vamos trabalhar para tentar pagar, no mínimo, o piso salarial aos mestres. CURIOSIDADES Você se lembra do programa de rádio Escola Brasil? O último foi ao ar em 2008, cerca de dez anos depois da estreia. Produzido pela ONG também chamada Escola Brasil, o programa tratava de educação de forma leve, com músicas, brincadeiras, muuuito bom humor, principalmente com o Matuto, o recordista de cartas. E o Escola Brasil de 15 de outubro de 2007 foi especial. Nesse dia, os ouvintes conheceram a experiência de um município no Paraná que havia criado um plano de cargos e salários focado no incentivo à formação dos professores. Como a repórter Ana Cláudia também era professora de jovens e adultos, ela resolveu contar no programa por que gostava de dar aulas. O quadro Toque Musical também homenageou os professores com a música Meus Tempos de Criança, canção composta por Ataulfo Alves na década de 50. O compositor lembra os tempos de infância e, especialmente, da professora: “Que saudades da professorinha que me ensinou o bê a bá”... O Escola Brasil do Dia do Professor de 2007 ainda entrevistou um doutor em psicologia para explicar como o professor ou a professora deve encarar uma súbita paixão de um aluno ou aluna. Por isso e muuuito mais o Escola Brasil deixou saudades, mas os programas antigos ainda podem ser ouvidos pela internet. O endereço é www.escolabrasil.org.br. SUGESTÃO DE PAUTA Radialista, o Dia do Professor é uma data muuuito especial. Então, aproveite todo o mês de outubro para fazer programas sobre as formas de valorização do mestre. Primeiro, convide professores para falar sobre o que eles sentem necessidade. Faça debates. Entreviste estudantes, pais e mães de alunos, dirigentes educacionais, o prefeito da cidade. A intenção é que todos discutam o que é possível fazer pra que o trabalho do professor seja cada vez mais valorizado. Mobilize não apenas a sua emissora, mas a cidade inteira em favor da valorização do professor. A seguir, algumas sugestões de perguntas... ... Para o dirigente educacional e prefeito... 1- A prefeitura tem ações para valorizar o professor? Quais? 2- Os professores têm a formação exigida para lecionar, como o curso superior para a área em que atuam? 3- A prefeitura oferece cursos de formação continuada? E transporte para os professores da zona rural fazerem cursos na cidade? E cursos a distância? ... Para o professor... 1- Você se sente valorizado? Por quê? 2- Você tem oportunidades de fazer cursos para melhorar o conhecimento? Quais? 3- O que você acha que é preciso para o seu trabalho ficar melhor? ... Para os estudantes, pais e comunidade em geral... 1- O que você faz para valorizar o professor? 2- Vocês participam das atividades da escola? Quais? 3- O que você acha do trabalho dos professores? Acreditam que os professores estão satisfeitos? Por quê? Quer mais uma ideia? Convide as pessoas mais velhas da sua comunidade para falar sobre o primeiro professor, a primeira professora... Um programa sobre recordações dos tempos da escola, além de bonito, pode servir para cada um refletir sobre por que alguns professores se tornam inesquecíveis. E, lembre-se: o professor é o principal responsável pela aprendizagem das crianças, mas ele não é o único. O governo e comunidade, o que inclui você, meu caro radialista, também têm sua parcela de responsabilidade. Assim, que tal estimular os ouvintes a cobrar do prefeito e dos dirigentes educacionais cursos de formação e o pagamento de, pelo menos, o piso salarial ao professor? Quanto mais bem formado e bem remunerado for o mestre, mais chances o estudante vai ter de aprender. E não deixe de falar na sua rádio que familiares e comunidade em geral devem ser verdadeiros parceiros da escola e dos professores no cumprimento na tarefa de fazer com que todas as crianças aprendam. Para terminar, aí vão duas dicas do movimento Todos pela Educação (5) para ser um bom professor e que você pode ler na sua rádio: 1 - Professor: não desista de nenhum aluno. Nem todos os alunos têm o mesmo ritmo, mas todos são capazes de aprender. 2 - Busque sempre aprimorar seus conhecimentos. Faça cursos de graduação ou pós-graduação, participe de programas de capacitação. Sempre existe algo novo e interessante para se aprender. (5) O movimento Todos pela Educação trabalha para que, até 2022, todos os brasileiros tenham educação de qualidade. A pesquisa “Caminhos do direito de aprender: boas práticas de 26 municípios que melhoraram a qualidade da educação” pode ser encontrada na página www.unicef.org.br. Basta clicar no link “biblioteca” e, depois, em “publicações”. O estudo identifica alguns fatores que levaram à melhoria do Ideb de 26 municípios – um de cada estado brasileiro - entre 2005 e 2007. A pesquisa foi feita pelo UNICEF, União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), com o apoio de parceiros. EXPEDIENTE Edição: Heloisa d'Arcanchy (Escola Brasil) Reportagem: Radígia de Oliveira Design: Márcio Duarte – M10 Design OSCIP Escola Brasil SRTVN 702, Ed. Brasília Rádio Center, 4033 CEP 70.719-900, Brasília-DF Tel.: (61) 32021720 [email protected] Movimento Todos pela Educação Av. Paulista, 1294, 19º Andar CEP 01.310-915, São Paulo-SP Tel.: (11) 3266-5477 [email protected] Fundo das Nações Unidas para a Infância SEPN 510, bloco A, 2º andar CEP 70.750-521, Brasília-DF Tel.: (61) 3035-1900 Fax: (61) 3349-0606 [email protected]