metros e 250 quilos, a ameaça é a pesca sugere a nutricionista Katiuscia Dier predatória. As populações ribeirinhas do Francisco, que percorreu o Brasil de norte norte do país podem não apenas perder a sul enquanto trabalhou na Pastoral da sua tradicional fonte de proteínas como Criança e registrou os hábitos alimentares o prazer de saborear a carne branca de famílias de baixa renda. “Há muita do peixe ensopada, assada ou a doré, diversidade a ser preservada, apesar da temperada com limão (veja na pág. 35 influência da industrialização nos hábitos outros alimentos brasileiros ameaçados). alimentares. E, hoje, com a quantidade A estratégia da Arca do Gosto para vencer tantos obstáculos e proteger os alimentos é um programa batizado de Fortalezas. Funciona assim: uma Guaraná (Paullinia cupana) reelaborá-las”, diz Katiuscia. O problema – ou a desculpa – é a falta de tempo, principalmente para quem mora à promoção de um produto. Ali pode nas grandes cidades. Para a antropóloga haver desde uma simples aproximação e produtora rural Kátia Karam Toralles, o com produtores rurais até a busca de negócio é mudar de atitude. “Precisamos investimento direto em equipamentos, devolver aos alimentos um lugar de tecnologias de produção e logística de importância central em nossas vidas”, distribuição, entre outras ações. No afirma. E para quem gosta de argumentar Brasil há nove “fortalezas”: do aratu, do que os industrializados são simplesmente pinhão da Serra Catarinense, do arroz mais baratos e acessíveis, Roberta Sá vermelho, do palmito-juçara, do guaraná propõe uma análise mais profunda. nativo Sateré-Mawé, do feijão canapu, da castanha de baru, do umbu e do néctar de como o Brasil, é difícil catalogar todos os alimentos que podem estar em risco. Mas qualquer pessoa que deseje colaborar pode fazer indicações à Arca do Gosto. “Contamos com o apoio de todos para poder reconhecer e resgatar os nossos sabores”, convida Roberta. Há um formulário disponível no site do Slow Food Foto: Divulgação/Roberta Sá fácil resgatar receitas tradicionais e até a área geográfica específica é dedicada abelhas nativas. Num país rico e imenso Brasil (www.slowfoodbrasil.com) pelo qual é possível indicar alimentos. Mas é possível fazer mais – e Um alimento barato, mas que não é sustentável, tem um custo alto escondido nele: do hospital, da farmácia, dos serviços de saúde – tanto para quem consome como para quem produz. E não é só isso. “Alimentos processados têm poucas vitaminas e minerais. É preciso tomar cuidado para não termos nosso gosto massificado”, alerta Katiuscia. Para as crianças, um bom começo é mostrar de onde vêm os alimentos. Uma visita à horta, sem sair da cozinha. Reaprender por exemplo, é um processo educativo a degustar a comida e resgatar o que ajuda a desenvolver uma percepção prazer de comer já adianta bastante. mais apurada de tudo que compõe uma “Buscar alimentos diferentes e ligados refeição. Quem sabe assim, no futuro, à cultura local e familiar ajuda a desenvolver a percepção dos sabores”, 34 Revista Herbarium| Setembro 2011 de informações disponíveis, fica mais ninguém precise falar com saudade de uma delícia que entrou em extinção.