XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005 O agronegócio brasileiro e a relação entre o perfil do profissional demandado pelos segmentos agroindustriais e o ofertado pelas instituições de ensino superior Mário Otávio Batalha (UFSCar) [email protected] Márcia Maria Penteado Marchesini (UFSCar)[email protected] Rúbia Nara Rinaldi (UFSCar/UNIOESTE) [email protected] Thaís Lacava de Moura (UFSCar) [email protected] Resumo Há alguns anos o agronegócio tem se mostrado um dos setores mais importantes da economia brasileira, não só pela renda gerada, mas também pela geração de empregos. Entretanto, os empregos gerados requerem profissionais qualificados e com novas habilidades, uma vez que as empresas de agronegócio atuam em um mercado global e competitivo. Mas, as habilidades exigidas vão além das habilidades técnicas, as empresas demandam profissionais com habilidades pessoais e comunicativas. Dentro desse novo contexto, este artigo objetiva identificar estas transformações no agronegócio brasileiro, demonstrando o perfil dos profissionais demandados pelas empresas que atuam no sistema agroindustrial brasileiro e confrontá-lo com a formação de ensino superior que está sendo oferecida nesta área no Brasil. Palavras-chave: Agronegócios, Recursos Humanos, Ensino Superior. 1. Introdução Há alguns anos o agronegócio tem se mostrado um dos setores mais importantes da economia brasileira, não só pela renda gerada, mas também pela geração de empregos. De acordo Jank, Nassar e Tachinardi (2005), conforme dados referentes a 2003 disponibilizados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o agronegócio foi responsável por cerca de 33% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, 42% das exportações totais do país e 37% dos seus empregos. Tais dados representam a expansão do agronegócio brasileiro, verificada no período compreendido pela década de 1990 e pelos primeiros anos deste século. Nesse período, verificaram-se ganhos de eficiência (produtividade e escala), aumento da competitividade e forte demanda externa, que ocasionaram o posicionamento do Brasil entre os primeiros lugares do ranking mundial do agronegócio (Jank, Nassar e Tachinardi, 2005). Entretanto, é preciso atentar para algumas mudanças que estão ocorrendo no setor de agronegócios, que segundo Boehlje, Akridge e Downey (1995), terão impacto decisivo no gerenciamento das empresas de agronegócios, desde o fornecimento de insumos, na produção, finanças, vendas e marketing, até o contato com o consumidor final. São alterações provocadas por mudanças nas necessidades e atitudes do consumo alimentar, novos avanços tecnológicos em todos os níveis, aumento da regulamentação governamental e mudanças em termos de produção nas propriedades agrícolas. Verifica-se assim que este novo ambiente exige das empresas uma capacidade de adaptação rápida e o desenvolvimento de novas habilidades e atitudes. E são as pessoas os ativos mais importantes nas organizações atualmente, são elas as portadoras do conhecimento, conforme Oliveira (2002), a fonte da vantagem competitiva. Para este autor, observando os avanços ENEGEP 2005 ABEPRO 5443 XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005 tecnológicos constata-se que as vantagens obtidas pela adoção de tecnologia podem ser facilmente copiadas ou aprimoradas, pois estão disponíveis a todos, permitindo aos concorrentes reproduzirem rapidamente produtos e serviços, preço e qualidade. Para ele, são as pessoas que irão fazer a diferença, através de criatividade, inovação, dentre outras características que são altamente demandadas pelas organizações. Observa-se então, de maneira clara, que este novo ambiente traz implicações profundas às habilidades e conhecimentos necessários para se ter sucesso no futuro e exige uma reflexão sobre as alterações necessárias ao ensino brasileiro e sobre as perspectivas dos estudantes e empregadores. Neste sentido, este estudo busca identificar como os novos paradigmas tecnológicos, econômicos e sociais estão influenciando a formação dos profissionais demandados pelo agronegócio no Brasil e, mais especificamente, avaliar a expansão do ensino superior nessa área. Como objetivo específico, concentra-se em confrontar a formação oferecida pelas instituições de ensino superior com as reais necessidades do sistema agroindustrial brasileiro. Além desta introdução, este trabalho apresenta ainda quatro seções. As seções seguintes expõem respectivamente, algumas reflexões sobre o ensino superior em agronegócios, as seções três e quatro que discutem o método de pesquisa e sumarizam os principais resultados deste estudo, e finalmente, a quinta seção, que traça as considerações finais. 2. O ensino superior em agronegócios A capacitação dos profissionais que atuam no sistema agroindustrial já tem estado a algum tempo na agenda de educadores, empresários e políticos de diversos países, dentre os quais destacam-se a Austrália, Nova Zelândia, Europa e Estados Unidos. Lintzberg e French (1989) citam vários estudos que têm sido feitos nesta área. Nos EUA, o impulso veio da Associação Americana de Economia Agrícola, que, principalmente a partir de 1984, tem encorajado a melhoria da educação na área de agronegócios. Destaca-se também a Comissão Nacional de Educação em Agronegócios, responsável por muitos progressos no desenvolvimento da “agenda” de educação em agronegócios nos Estados Unidos. Uma das pesquisas que impulsionaram esta área de pesquisa foi desenvolvida por Vernon Schneider e Kerry Lintzberg em 1987. Entitulada de “Agribusiness management Aptitude and Skill Survey”, a pesquisa objetivou identificar as principais habilidades e conhecimentos que estavam sendo valorizados pelos empregadores do agronegócio norte-americano. Este trabalho teve aplicação similar na Austrália e foi conduzido por Fairnie, Santon e Dobbin, e objetivava levantar as características evidenciadas pelos empregadores australianos, que pudessem dar embasamento à construção dos currículos dos programas de agronegócios na Austrália. (Lintzberg e French, 1989). Tanto a pesquisa com os empregadores americanos como com os australianos identificou as habilidades interpessoais e as comunicativas como as mais importantes. Apenas as habilidades técnicas e a experiência em trabalhos anteriores apresentaram significativas diferenças entre indústrias dos mais diversos segmentos dentro do agronegócio, em ambos os estudos. Na Europa, dentre os estudos desenvolvidos, destaca-se a discussão de Csaba Csaki, que, em 1999, analisou as mudanças mais importantes no sistema de ensino superior agrícola da Europa Central e Oriental. Para Csaki (1999), a transformação da economia desta região, somada a todas as reformas do setor agrícola e de alimentos, criou novas condições em todo o sistema de conhecimento em agricultura, principalmente no que se refere ao ensino superior. Para o autor, a existência de um sistema de educação em agronegócios eficiente e de ENEGEP 2005 ABEPRO 5444 XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005 qualidade é uma condição vital em longo prazo para o uso eficaz dos recursos naturais disponíveis para a produção agrícola. No Brasil, uma pesquisa pioneira nesta área teve início em 1998, sendo publicada em 2000 por Batalha et al., e identificou as características mais relevantes do perfil do profissional demandado pelo agronegócio brasileiro, ao mesmo tempo em que analisou o perfil do profissional ofertado pelas instituições de ensino superior brasileiras. Dentre as contribuições mais importantes do estudo feito, ressalta-se a conclusão de que o profissional demandado pelo agronegócio nacional não difere substancialmente daquele solicitado nos principais países produtores de alimentos do mundo. Pelo lado da estrutura de formação de profissionais, aquele estudo, já em 2000, indicava uma proliferação muito grande, através de todo o Brasil, de cursos de formação e treinamentos visando este setor de atividade. Esta tendência tornou-se ainda mais forte desde o final da pesquisa. Na verdade, o número de novos cursos criados nesta área superou qualquer expectativa que pudesse ser vislumbrada na época da pesquisa. Além disso, as novas formas de ensino oportunizadas pela legislação brasileira, tais como os cursos seqüenciais, e a educação profissional, que utiliza metodologias como o ensino à distância, também tiveram o seu mérito nesta ampliação. 3. A expansão do ensino superior brasileiro em áreas do agronegócio O Grupo de Estudos e Pesquisas Agroindustriais (GEPAI) do Departamento de Engenharia de Produção da Universidade Federal de São Carlos, com o apoio da Associação Brasileira de Agribusiness (ABAG) e em parceria com o CNPq deu início, em 2003, a esta nova pesquisa, na qual inicialmente foram selecionados os cursos de Agronomia, Engenharia Agrícola, Engenharia Agroindustrial, Engenharia de Alimentos, Engenharia Florestal, Medicina Veterinária, Zootecnia e Engenharia de Produção e cursos de Economia e Administração que tivessem ênfase ou linhas de pesquisas consolidadas em agronegócios. A esses cursos foram somados novos cursos que surgiram nos últimos anos, obtidos através de uma consulta junto ao MEC-INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) em 31.03.2004. Observa-se que neste banco de dados, atualizado diariamente, constam os cursos que já têm a autorização para funcionamento do MEC. Foi então feito um cruzamento destes dados com outros bancos de dados, tais como o do CRUB e de alguns conselhos profissionais, para assim, se evitar possíveis perdas de informações. Observa-se ainda que os níveis de cursos considerados nesta pesquisa, segundo caracterização de Cavalcante (2000), são os cursos seqüenciais (de formação específica e de complementação de estudos), os de graduação tradicional tais como o Bacharelado, Licenciatura, Tecnólogos e os específicos profissionalizantes, que aludem diretamente à profissão. Observa-se ainda estão sendo considerados os cursos presenciais, semi-presenciais e à distância, oferecidos pelas instituições de ensino superior com atuação direta e indireta na área agroindustrial. Com relação aos cursos de especialização selecionados, estes foram identificados através de portais de busca, sendo utilizadas várias expressões fechadas, utilizando combinações de palavras-chave tais como agronegócio, agribusiness, especialização, lato sensu e sistemas agroindustriais, entre outras. Foram selecionados 124 cursos de especialização presenciais e 54 cursos de especialização à distância. Deve-se ressaltar que a busca foi feita entre 18 de março a 22 de abril de 2004. No que se refere aos cursos de Mestrado e Doutorado, foi utilizado o banco de dados encaminhado em abril de 2004 pela CAPES, que contêm todos os cursos reconhecidos de Pós-Graduação na área de agronegócios. Para confirmar se todos os cursos de interesse ENEGEP 2005 ABEPRO 5445 XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005 estavam incluídos neste banco de dados, cruzou-se este banco de dados com as informações contidas no site da CAPES sobre cursos de pós-graduação em nível stricto sensu. Nesta pesquisa detectou-se um aumento substancial no número de cursos tradicionais em relação à pesquisa anterior, assim como, o surgimento de novos cursos específicos ao agronegócio que possuem diversas nomenclaturas. A partir da filtragem dos cursos de graduação verificou-se a existência de 227 cursos de Administração, Administração de Empresas ou de Gestão que tivessem disciplinas ou linhas de pesquisa em agronegócios ou áreas afins, sendo 132 cursos de bacharelado, 51 cursos seqüenciais e 20 de graduação tecnológica (Seqüenciais ou Tecnólogos em Gestão de Negócios, de Supermercados, Logística). Foram encontrados ainda 100 cursos de Administração ou Gestão com ênfase ou Habilitação em Agronegócios, Agroindústrias, entre outras nomenclaturas, sendo 89 bacharelados, 1 curso de Bacharelado em Agronegócios, 4 cursos tecnológicos e 6 seqüenciais. Neste grupo foram ainda computados 96 cursos de graduação em Economia que possuíam disciplinas em áreas do agronegócio. Com relação às tradicionais áreas de agronegócios, foram identificados 126 cursos de graduação em Agronomia, ao que foram agrupados 19 cursos de Engenharia Agrícola e outros 49 cursos afins, como os de Graduação tecnológica em Técnicas Agropecuárias, Técnicas de Irrigação e ainda cursos de Bacharelado em Agricultura, Agrimensura, Ciências Agrárias, Engenharia da Horticultura, entre outros. Ainda para outra área tradicional do agronegócio, a de Medicina Veterinária e Zootecnia, verificou-se a existência de 117 cursos de graduação em Medicina Veterinária e de 60 cursos de graduação em Zootecnia, sendo somados a este grupo, outros 4 cursos afins, de graduação em Reprodução Animal, Ciências Veterinárias e de Cuidados com a Saúde Animal (Bacharelado). Já a área de Ciência dos Alimentos apresentou um grande número de novos cursos, sendo 50 cursos de graduação em Engenharia de Alimentos, 18 cursos de Tecnologia de Alimentos e outros 13 cursos de graduação tecnológica em algumas áreas específicas, como Viticultura, Laticínios, e Alimentos Industrializados, entre outros. Observa-se ainda que, em virtude das grandes mudanças que têm ocorrido na qualidade dos alimentos que estão sendo produzidos, com uma preocupação crescente com a saúde, a necessidade de alimentos processados com garantias de manutenção das suas condições nutricionais, entre outros diversos aspectos que acabam gerando muitas oportunidades para o agronegócio, o curso de Nutrição foi incluído nesta pesquisa. Assim, foram encontrados 175 cursos de graduação em Nutrição, sendo que dois destes são de Graduação Tecnológica em Nutrição e Dietética. Outra área recente que apresentou uma grande expansão de cursos, principalmente a partir de 2001, foi a área das Ciências Ambientais, sendo encontrados 20 cursos de Graduação Tecnológica em Engenharia, Gestão e Saneamento Ambiental, 13 cursos seqüenciais em Gestão Ambiental e 94 cursos de graduação em Engenharia Ambiental e Saneamento Ambiental (Bacharelado). Também na área de Florestal observou-se um grande crescimento, tendo sido encontrados 30 cursos de graduação em Engenharia Florestal, sendo que na pesquisa de Batalha et al. (2000) foram encontrados apenas 19 cursos nesta área, sendo neste número inclusos também os cursos de Pós-Graduação. Na Engenharia de Pesca, levantou-se um total de 11 cursos de graduação, sendo 7 de Engenharia de Pesca, 2 em Aqüicultura (Bacharelados), e ainda 2 cursos de Graduação Tecnológica em Recursos Pesqueiros. ENEGEP 2005 ABEPRO 5446 XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005 Finalmente, para a área de Engenharia de Produção, foram encontrados 16 cursos com ênfase ou linhas de pesquisa em Agronegócio. A criação do primeiro curso em Engenharia de Produção Agroindustrial no Brasil ocorreu em 1993, no estado de São Paulo, na Universidade Federal de São Carlos. Entretanto, em 2004, foram encontrados mais seis cursos de Engenharia de Produção Agroindustrial, sendo dois no estado do Rio Grande do Sul, três no Paraná e um em Mato Grosso. Além desses existem os cursos com ênfase, um curso de Engenharia de Produção com ênfase no agronegócio, um com ênfase em Agroindústria ou Confecção Industrial, opção que deve ser feita pelo acadêmico, além de cursos de Engenharia de Produção com ênfase em Gestão Ambiental, com Habilitação em Calçados e Componentes e ainda cinco cursos de Engenharia de Produção com disciplinas na área de agronegócios na grade curricular. Além desses grupos, foram ainda encaminhados questionários a alguns cursos que não se encaixavam na classificação feita, mas que também formam alunos para atuar no sistema agroindustrial brasileiro, como cursos de Engenharia Mecânica com ênfase em Máquinas Agrícolas, Engenharia de Biotecnologia, Produção Industrial de Couros e Calçados, Tecnologia Agroindustrial, entre outros. Com relação aos cursos de Pós-graduação stricto sensu, foram identificados 4 Programas de Pós-Graduação Multidisciplinares em Agronegócios: Dois Programas de Pós-Graduação em Agronegócios (2 Mestrados - M, 1 Doutorado - D e 1 Mestrado Profissionalizante – F), um Programa em Desenvolvimento Rural (M e D) e um Programa em Produção Agroindustrial (F). Também se verificou a existência de programas de Ciências Agrárias com ênfase em Agronegócios, programas de Pós-Graduação em Administração com linhas específicas em Gestão de Cadeias Produtivas e em Desenvolvimento Rural, e alguns programas em Economia e Desenvolvimento econômico com linhas em Agronegócios, além de um Programa em Desenvolvimento Regional e Agronegócios. Já com relação aos cursos de especialização em agronegócios, como foi feito um corte na amostra, em virtude do grande número de cursos existentes no país, esta pesquisa não se propôs a levantar o número total de cursos de especialização em vigor. 4. Características do perfil demandado pelo sistema agroindustrial brasileiro Para responder a questão relativa ao perfil do profissional demandado, foram utilizadas duas metodologias de pesquisa: uma quantitativa e outra qualitativa. A metodologia qualitativa abrangeu o estudo de caso com 19 empresas selecionadas, com as quais foram realizadas entrevistas. Já a quantitativa consistiu no método de pesquisa de avaliação ou survey, cuja coleta de dados foi realizada através de questionários enviados por correio e de questionários enviados por um link disponibilizado para este fim. O Gráfico 1, a seguir, apresenta a análise dos diferentes tópicos de habilidades e de conhecimentos através da atribuição da pontuação média realizada pelo conjunto de todas as empresas atuantes no agronegócio. Este gráfico permite também comparar as pontuações médias atribuídas a cada tópico, tanto para a pesquisa já desenvolvida em 1998 como para a de atualização ocorrida em 2004. De um modo geral, pode-se observar que houve alguma mudança no perfil do profissional desejado pelas empresas, já que houve uma queda sutil em todas as médias da pesquisa atual em relação à anterior e uma alteração na hierarquia referente à inversão entre os tópicos de Métodos Quantitativos Computacionais/Sistema de Informação e Tecnologias de Produção. A hierarquização entre os tópicos verificada pela pesquisa atual é a seguinte, em ordem decrescente de importância: Qualidades Pessoais, Comunicação e Expressão, Economia e Gestão, Métodos Quantitativos Computacionais e SIs, Tecnologias de Produção e Experiência Profissional Desejada. ENEGEP 2005 ABEPRO 5447 4,88 5,61 7,00 5,99 7,00 6,15 6,56 7,13 8,00 7,38 7,69 9,00 8,36 8,88 10,00 8,91 XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005 6,00 5,00 4,00 3,00 2,00 1,00 0,00 Qualidades Pessoais Comunicação e Expressão Economia e Gestão Métodos Quantitativos Computacionais e Sist. de Informação Pesquisa 1998 Tecnologias de Produção Experiência Profissional Desejada Pesquisa 2004 Fonte: Dados da pesquisa de campo. GRÁFICO 1 – Pontuações médias atribuídas aos tópicos Em especial, a pesquisa mostrou que as habilidades e os conhecimentos considerados como mais importantes pelas empresas enquadram-se nos tópicos de “Qualidades Pessoais” e de “Comunicação e Expressão”. Verifica-se assim que, nos dias atuais, as empresas esperam de um profissional mais do que as habilidades técnicas adquiridas durante o curso superior, esperam que seus funcionários sejam pró-ativos e participem intensamente do cotidiano da empresa, não só na solução de problemas, mas também na visualização de novas oportunidades de negócio. Para tanto, são muito importantes os conhecimentos e as habilidades pessoais, como flexibilidade, iniciativa, capacidade para a tomada de decisão, negociação, trabalho em grupo e alto padrão ético, e os relativos à capacidade de expressão e de interação/relacionamento com outros profissionais. Percebe-se, portanto, que as habilidades e os conhecimentos técnicos tornaram-se secundários se comparados com as qualidades pessoais e a capacidade de se comunicar. Para as empresas de um modo geral, as habilidades e os conhecimentos técnicos requeridos podem ser ensinados pela própria empresa ao profissional durante o seu período de adaptação e de integração na empresa. No que tange à hierarquização entre os tópicos, nota-se que, em primeiro lugar, manteve-se o tópico “Qualidades Pessoais”, sendo que este foi o único que sofreu uma redução inexpressiva entre as médias dos dois períodos pesquisados. Isso reafirma a grande importância dada a esses conhecimentos e essas habilidades para formar o perfil do profissional considerado ideal pelas empresas do agronegócio. Novamente, então, esse tópico recebeu as maiores pontuações pelos respondentes em relação aos demais tópicos, o que revela o grande interesse das empresas em profissionais éticos, flexíveis, que saibam assumir riscos, encarar desafios e solucionar problemas. No segundo lugar da hierarquia, situa-se o tópico “Comunicação e Expressão”, que também manteve a sua posição mas que sofreu uma redução ligeira de seu grau de importância, passando de muito importante para importante. Como essa redução foi pequena, seus conhecimentos e suas habilidades são ainda vistos como essenciais para o perfil do ENEGEP 2005 ABEPRO 5448 XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005 profissional, na medida em que a esfera da interação e do relacionamento interpessoal é considerada chave pelas empresas. No terceiro lugar, encontra-se o tópico “Economia e Gestão”, que manteve sua posição apesar de uma leve redução de sua média. Mesmo assim, é possível afirmar que este tópico compreende conhecimentos relacionados à gestão que são importantes para a realização das atividades do profissional do agronegócio e, assim, funcionam como um pré-requisito para a sua seleção. Nas entrevistas realizadas com as empresas, observou-se que elas avaliam a capacidade do candidato em relação a esses conhecimentos a partir do renome e da legitimidade da instituição de ensino na qual se formou. É preciso salientar que houve uma mudança significativa em relação aos tópicos de “Métodos Quantitativos Computacionais e SIs” e “Tecnologias de Produção”, já que inverteram suas posições para a pesquisa atual. Assim, houve uma sobrevalorização dos conhecimentos e das habilidades enquadrados em “Métodos Quantitativos Computacionais e SIs”, simultaneamente à subvalorização dos enquadrados em “Tecnologias de Produção. Uma possível causa a essa situação pode estar relacionada ao fato de que, por um lado, as tecnologias de produção abrangem conhecimentos técnicos do campo e da indústria, que são aplicados por profissionais técnicos especializados e não por um profissional de gerenciamento. Estes ficam responsáveis por ter apenas uma base de conhecimentos que seja suficiente às atividades de gestão. Por outro lado, o crescimento da importância dada aos conhecimentos em métodos quantitativos computacionais e SIs pode estar vinculado à maior difusão e necessidade de utilização de tecnologias de informação (TI), como softwares gerais e específicos, e de bancos de dados pelos profissionais de gestão. Em algumas entrevistas realizadas, foi evidenciada a necessidade de o profissional planejar o sistema de informação, apesar de não ter a responsabilidade de implementá-lo, pois o planejamento requer uma visão integrada de todo o sistema produtivo. Além disso, evidenciam-se os softwares de Pesquisa Operacional dentre os específicos, já que é uma área do conhecimento que auxilia na elaboração de planos empresariais, bem como na tomada de decisão operacional, tática e estratégica da empresa através de técnicas de otimização e de simulação de cenários. Em última posição da hierarquia, tem-se o tópico “Experiência Profissional Desejada”, o que demonstra a pouca importância atribuída pelas empresas a essas habilidades. As entrevistas possibilitaram comprovar que muitas empresas possuem meios próprios de treinamento e de capacitação de seus recursos humanos, em função da especificidade de suas atividades e de suas condições de trabalho. No entanto, a habilidade relativa à realização de estágios durante a formação acadêmica foi, na quase totalidade das entrevistas, considerada um ponto muito positivo para o perfil do profissional, na medida em que o estágio permite os contatos iniciais com o ambiente empresarial e, de certa forma, o amadurecimento do futuro profissional empresarial. 5. Considerações Finais A partir da confrontação feita para cada segmento agroalimentar envolvido na pesquisa, em relação aos cursos de ensino superior, foi possível perceber que, de maneira geral, o maior desajuste ocorreu em relação ao item Economia e Gestão, principalmente ao avaliar os cursos que exploram as áreas mais técnicas do agronegócio. Tal desajuste também foi mencionado em algumas entrevistas desenvolvidas com as empresas, que observaram que recomendam aos seus funcionários, graduados em agronomia, zootecnia e outras áreas técnicas, que façam um curso de especialização na área de gestão, para poder compreender o agronegócio não apenas de uma maneira técnica, mas sim, a partir de uma visão sistêmica, em que entendam o funcionamento de todo sistema agroindustrial, e não apenas alguns macrossegmentos restritos. Verificou-se que as empresas esperam que os profissionais utilizem-se das ENEGEP 2005 ABEPRO 5449 XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005 ferramentas gerenciais de maneira a compreender a dinâmica de funcionamento das cadeias agroindustriais, de forma a torná-las mais eficientes e eficazes.. Além do desajuste em Economia e Gestão, ressaltaram-se ainda os desajustes com relação às habilidades e conhecimentos do grupo de Qualidades Pessoais, e Métodos Quantitativos e Sistemas de Informação, além de um preocupante desajuste em relação às habilidades de comunicação. Tais desajustes devem ser avaliados com bastante critério, uma vez que se observou que as empresas buscam por um perfil profissional mais generalista, em que as habilidades pessoais e de comunicação sobressaem-se em relação às habilidades técnicas e específicas Observa-se que as diretrizes curriculares dos cursos de graduação que começaram a ser aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação a partir de 2001, já ressaltavam a importância das habilidades pessoais dos alunos, porém, apesar de a grande maioria dos projetos pedagógicos conterem tal preocupação, de formar alunos líderes, capazes de atuar em grupo, criativos, com capacidade para lidar com stress, com alto padrão ético, flexíveis, pouca coisa tem mudado nas abordagens de ensino utilizadas em sala. Talvez seja a hora de o ensino superior discutir com mais intensidade novas metodologias de ensino, que consigam realmente despertar nos acadêmicos tais habilidades e capacidades. Outro aspecto relevante refere-se às dificuldades em se compor currículos em que haja equilíbrio entre os conhecimentos básicos da gestão/administração e conhecimentos afins com as áreas técnicas. De acordo com dados levantados pela pesquisa, foi possível verificar que uma das maiores dificuldades encontradas para a criação desses currículos em que há necessidade de se integrar muitas disciplinas científicas, econômicas, sociais e práticas de uma forma sistêmica, está na dificuldade em se conseguir profissionais qualificados para atuarem na área de ensino de agronegócio. Segundo a grande maioria dos entrevistados a oferta destes profissionais é baixa, justamente em virtude da multidisciplinaridade que é exigida ao se abordar esta área. Assim, é importante refletir se os cursos de ensino superior estão formando profissionais que consigam compreender o agronegócio de maneira integrada, se as disciplinas estão sendo abordadas realmente de maneira multidisciplinar, de forma que os mesmos consigam entender a crescente complexidade do segmento agroindustrial, que acresceu dificuldades no gerenciamento dos agronegócios e portanto, exige ferramentas gerenciais mais sofisticadas. Referências BATALHA, M.O. et al. Recursos humanos para o agronegócio brasileiro. Brasília: CNPq, 2000. BOEHLJE, M.; AKRIDGE, J.; DOWNEY, D. Restructuring Agribusiness for the 21st Century. Agribusiness, vol.11, n.6,p.493-500, 1995. CAVALCANTE, J.F. Educação Superior: Conceitos, Definições e Classificações. Brasília: Instituto Nacional de Estudos de Pesquisas Educacionais, 2000. CSAKI, C. Agricultural higher education in transforming Central and Eastern Europe. Agricultural economics, vol.21, 1999, p.109-120. JANK, M. 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