XXV Encontro Nac. de Eng. de Produção – Porto Alegre, RS, Brasil, 29 out a 01 de nov de 2005
O agronegócio brasileiro e a relação entre o perfil do profissional
demandado pelos segmentos agroindustriais e o ofertado pelas instituições
de ensino superior
Mário Otávio Batalha (UFSCar) [email protected]
Márcia Maria Penteado Marchesini (UFSCar)[email protected]
Rúbia Nara Rinaldi (UFSCar/UNIOESTE) [email protected]
Thaís Lacava de Moura (UFSCar) [email protected]
Resumo
Há alguns anos o agronegócio tem se mostrado um dos setores mais importantes da
economia brasileira, não só pela renda gerada, mas também pela geração de empregos.
Entretanto, os empregos gerados requerem profissionais qualificados e com novas
habilidades, uma vez que as empresas de agronegócio atuam em um mercado global e
competitivo. Mas, as habilidades exigidas vão além das habilidades técnicas, as empresas
demandam profissionais com habilidades pessoais e comunicativas. Dentro desse novo
contexto, este artigo objetiva identificar estas transformações no agronegócio brasileiro,
demonstrando o perfil dos profissionais demandados pelas empresas que atuam no sistema
agroindustrial brasileiro e confrontá-lo com a formação de ensino superior que está sendo
oferecida nesta área no Brasil.
Palavras-chave: Agronegócios, Recursos Humanos, Ensino Superior.
1. Introdução
Há alguns anos o agronegócio tem se mostrado um dos setores mais importantes da economia
brasileira, não só pela renda gerada, mas também pela geração de empregos. De acordo Jank,
Nassar e Tachinardi (2005), conforme dados referentes a 2003 disponibilizados pelo
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o agronegócio foi responsável por cerca
de 33% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, 42% das exportações totais do país e 37%
dos seus empregos.
Tais dados representam a expansão do agronegócio brasileiro, verificada no período
compreendido pela década de 1990 e pelos primeiros anos deste século. Nesse período,
verificaram-se ganhos de eficiência (produtividade e escala), aumento da competitividade e
forte demanda externa, que ocasionaram o posicionamento do Brasil entre os primeiros
lugares do ranking mundial do agronegócio (Jank, Nassar e Tachinardi, 2005).
Entretanto, é preciso atentar para algumas mudanças que estão ocorrendo no setor de
agronegócios, que segundo Boehlje, Akridge e Downey (1995), terão impacto decisivo no
gerenciamento das empresas de agronegócios, desde o fornecimento de insumos, na produção,
finanças, vendas e marketing, até o contato com o consumidor final. São alterações
provocadas por mudanças nas necessidades e atitudes do consumo alimentar, novos avanços
tecnológicos em todos os níveis, aumento da regulamentação governamental e mudanças em
termos de produção nas propriedades agrícolas.
Verifica-se assim que este novo ambiente exige das empresas uma capacidade de adaptação
rápida e o desenvolvimento de novas habilidades e atitudes. E são as pessoas os ativos mais
importantes nas organizações atualmente, são elas as portadoras do conhecimento, conforme
Oliveira (2002), a fonte da vantagem competitiva. Para este autor, observando os avanços
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tecnológicos constata-se que as vantagens obtidas pela adoção de tecnologia podem ser
facilmente copiadas ou aprimoradas, pois estão disponíveis a todos, permitindo aos
concorrentes reproduzirem rapidamente produtos e serviços, preço e qualidade. Para ele, são
as pessoas que irão fazer a diferença, através de criatividade, inovação, dentre outras
características que são altamente demandadas pelas organizações.
Observa-se então, de maneira clara, que este novo ambiente traz implicações profundas às
habilidades e conhecimentos necessários para se ter sucesso no futuro e exige uma reflexão
sobre as alterações necessárias ao ensino brasileiro e sobre as perspectivas dos estudantes e
empregadores.
Neste sentido, este estudo busca identificar como os novos paradigmas tecnológicos,
econômicos e sociais estão influenciando a formação dos profissionais demandados pelo
agronegócio no Brasil e, mais especificamente, avaliar a expansão do ensino superior nessa
área. Como objetivo específico, concentra-se em confrontar a formação oferecida pelas
instituições de ensino superior com as reais necessidades do sistema agroindustrial brasileiro.
Além desta introdução, este trabalho apresenta ainda quatro seções. As seções seguintes
expõem respectivamente, algumas reflexões sobre o ensino superior em agronegócios, as
seções três e quatro que discutem o método de pesquisa e sumarizam os principais resultados
deste estudo, e finalmente, a quinta seção, que traça as considerações finais.
2. O ensino superior em agronegócios
A capacitação dos profissionais que atuam no sistema agroindustrial já tem estado a algum
tempo na agenda de educadores, empresários e políticos de diversos países, dentre os quais
destacam-se a Austrália, Nova Zelândia, Europa e Estados Unidos. Lintzberg e French (1989)
citam vários estudos que têm sido feitos nesta área. Nos EUA, o impulso veio da Associação
Americana de Economia Agrícola, que, principalmente a partir de 1984, tem encorajado a
melhoria da educação na área de agronegócios. Destaca-se também a Comissão Nacional de
Educação em Agronegócios, responsável por muitos progressos no desenvolvimento da
“agenda” de educação em agronegócios nos Estados Unidos.
Uma das pesquisas que impulsionaram esta área de pesquisa foi desenvolvida por Vernon
Schneider e Kerry Lintzberg em 1987. Entitulada de “Agribusiness management Aptitude and
Skill Survey”, a pesquisa objetivou identificar as principais habilidades e conhecimentos que
estavam sendo valorizados pelos empregadores do agronegócio norte-americano. Este
trabalho teve aplicação similar na Austrália e foi conduzido por Fairnie, Santon e Dobbin, e
objetivava levantar as características evidenciadas pelos empregadores australianos, que
pudessem dar embasamento à construção dos currículos dos programas de agronegócios na
Austrália. (Lintzberg e French, 1989).
Tanto a pesquisa com os empregadores americanos como com os australianos identificou as
habilidades interpessoais e as comunicativas como as mais importantes. Apenas as
habilidades técnicas e a experiência em trabalhos anteriores apresentaram significativas
diferenças entre indústrias dos mais diversos segmentos dentro do agronegócio, em ambos os
estudos.
Na Europa, dentre os estudos desenvolvidos, destaca-se a discussão de Csaba Csaki, que, em
1999, analisou as mudanças mais importantes no sistema de ensino superior agrícola da
Europa Central e Oriental. Para Csaki (1999), a transformação da economia desta região,
somada a todas as reformas do setor agrícola e de alimentos, criou novas condições em todo o
sistema de conhecimento em agricultura, principalmente no que se refere ao ensino superior.
Para o autor, a existência de um sistema de educação em agronegócios eficiente e de
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qualidade é uma condição vital em longo prazo para o uso eficaz dos recursos naturais
disponíveis para a produção agrícola.
No Brasil, uma pesquisa pioneira nesta área teve início em 1998, sendo publicada em 2000
por Batalha et al., e identificou as características mais relevantes do perfil do profissional
demandado pelo agronegócio brasileiro, ao mesmo tempo em que analisou o perfil do
profissional ofertado pelas instituições de ensino superior brasileiras.
Dentre as contribuições mais importantes do estudo feito, ressalta-se a conclusão de que o
profissional demandado pelo agronegócio nacional não difere substancialmente daquele
solicitado nos principais países produtores de alimentos do mundo. Pelo lado da estrutura de
formação de profissionais, aquele estudo, já em 2000, indicava uma proliferação muito
grande, através de todo o Brasil, de cursos de formação e treinamentos visando este setor de
atividade. Esta tendência tornou-se ainda mais forte desde o final da pesquisa. Na verdade, o
número de novos cursos criados nesta área superou qualquer expectativa que pudesse ser
vislumbrada na época da pesquisa. Além disso, as novas formas de ensino oportunizadas pela
legislação brasileira, tais como os cursos seqüenciais, e a educação profissional, que utiliza
metodologias como o ensino à distância, também tiveram o seu mérito nesta ampliação.
3. A expansão do ensino superior brasileiro em áreas do agronegócio
O Grupo de Estudos e Pesquisas Agroindustriais (GEPAI) do Departamento de Engenharia de
Produção da Universidade Federal de São Carlos, com o apoio da Associação Brasileira de
Agribusiness (ABAG) e em parceria com o CNPq deu início, em 2003, a esta nova pesquisa,
na qual inicialmente foram selecionados os cursos de Agronomia, Engenharia Agrícola,
Engenharia Agroindustrial, Engenharia de Alimentos, Engenharia Florestal, Medicina
Veterinária, Zootecnia e Engenharia de Produção e cursos de Economia e Administração que
tivessem ênfase ou linhas de pesquisas consolidadas em agronegócios. A esses cursos foram
somados novos cursos que surgiram nos últimos anos, obtidos através de uma consulta junto
ao MEC-INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) em 31.03.2004.
Observa-se que neste banco de dados, atualizado diariamente, constam os cursos que já têm a
autorização para funcionamento do MEC. Foi então feito um cruzamento destes dados com
outros bancos de dados, tais como o do CRUB e de alguns conselhos profissionais, para
assim, se evitar possíveis perdas de informações.
Observa-se ainda que os níveis de cursos considerados nesta pesquisa, segundo caracterização
de Cavalcante (2000), são os cursos seqüenciais (de formação específica e de
complementação de estudos), os de graduação tradicional tais como o Bacharelado,
Licenciatura, Tecnólogos e os específicos profissionalizantes, que aludem diretamente à
profissão. Observa-se ainda estão sendo considerados os cursos presenciais, semi-presenciais
e à distância, oferecidos pelas instituições de ensino superior com atuação direta e indireta na
área agroindustrial.
Com relação aos cursos de especialização selecionados, estes foram identificados através de
portais de busca, sendo utilizadas várias expressões fechadas, utilizando combinações de
palavras-chave tais como agronegócio, agribusiness, especialização, lato sensu e sistemas
agroindustriais, entre outras. Foram selecionados 124 cursos de especialização presenciais e
54 cursos de especialização à distância. Deve-se ressaltar que a busca foi feita entre 18 de
março a 22 de abril de 2004.
No que se refere aos cursos de Mestrado e Doutorado, foi utilizado o banco de dados
encaminhado em abril de 2004 pela CAPES, que contêm todos os cursos reconhecidos de
Pós-Graduação na área de agronegócios. Para confirmar se todos os cursos de interesse
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estavam incluídos neste banco de dados, cruzou-se este banco de dados com as informações
contidas no site da CAPES sobre cursos de pós-graduação em nível stricto sensu.
Nesta pesquisa detectou-se um aumento substancial no número de cursos tradicionais em
relação à pesquisa anterior, assim como, o surgimento de novos cursos específicos ao
agronegócio que possuem diversas nomenclaturas. A partir da filtragem dos cursos de
graduação verificou-se a existência de 227 cursos de Administração, Administração de
Empresas ou de Gestão que tivessem disciplinas ou linhas de pesquisa em agronegócios ou
áreas afins, sendo 132 cursos de bacharelado, 51 cursos seqüenciais e 20 de graduação
tecnológica (Seqüenciais ou Tecnólogos em Gestão de Negócios, de Supermercados,
Logística). Foram encontrados ainda 100 cursos de Administração ou Gestão com ênfase ou
Habilitação em Agronegócios, Agroindústrias, entre outras nomenclaturas, sendo 89
bacharelados, 1 curso de Bacharelado em Agronegócios, 4 cursos tecnológicos e 6
seqüenciais. Neste grupo foram ainda computados 96 cursos de graduação em Economia que
possuíam disciplinas em áreas do agronegócio.
Com relação às tradicionais áreas de agronegócios, foram identificados 126 cursos de
graduação em Agronomia, ao que foram agrupados 19 cursos de Engenharia Agrícola e outros
49 cursos afins, como os de Graduação tecnológica em Técnicas Agropecuárias, Técnicas de
Irrigação e ainda cursos de Bacharelado em Agricultura, Agrimensura, Ciências Agrárias,
Engenharia da Horticultura, entre outros.
Ainda para outra área tradicional do agronegócio, a de Medicina Veterinária e Zootecnia,
verificou-se a existência de 117 cursos de graduação em Medicina Veterinária e de 60 cursos
de graduação em Zootecnia, sendo somados a este grupo, outros 4 cursos afins, de graduação
em Reprodução Animal, Ciências Veterinárias e de Cuidados com a Saúde Animal
(Bacharelado).
Já a área de Ciência dos Alimentos apresentou um grande número de novos cursos, sendo 50
cursos de graduação em Engenharia de Alimentos, 18 cursos de Tecnologia de Alimentos e
outros 13 cursos de graduação tecnológica em algumas áreas específicas, como Viticultura,
Laticínios, e Alimentos Industrializados, entre outros. Observa-se ainda que, em virtude das
grandes mudanças que têm ocorrido na qualidade dos alimentos que estão sendo produzidos,
com uma preocupação crescente com a saúde, a necessidade de alimentos processados com
garantias de manutenção das suas condições nutricionais, entre outros diversos aspectos que
acabam gerando muitas oportunidades para o agronegócio, o curso de Nutrição foi incluído
nesta pesquisa. Assim, foram encontrados 175 cursos de graduação em Nutrição, sendo que
dois destes são de Graduação Tecnológica em Nutrição e Dietética.
Outra área recente que apresentou uma grande expansão de cursos, principalmente a partir de
2001, foi a área das Ciências Ambientais, sendo encontrados 20 cursos de Graduação
Tecnológica em Engenharia, Gestão e Saneamento Ambiental, 13 cursos seqüenciais em
Gestão Ambiental e 94 cursos de graduação em Engenharia Ambiental e Saneamento
Ambiental (Bacharelado).
Também na área de Florestal observou-se um grande crescimento, tendo sido encontrados 30
cursos de graduação em Engenharia Florestal, sendo que na pesquisa de Batalha et al. (2000)
foram encontrados apenas 19 cursos nesta área, sendo neste número inclusos também os
cursos de Pós-Graduação.
Na Engenharia de Pesca, levantou-se um total de 11 cursos de graduação, sendo 7 de
Engenharia de Pesca, 2 em Aqüicultura (Bacharelados), e ainda 2 cursos de Graduação
Tecnológica em Recursos Pesqueiros.
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Finalmente, para a área de Engenharia de Produção, foram encontrados 16 cursos com ênfase
ou linhas de pesquisa em Agronegócio. A criação do primeiro curso em Engenharia de
Produção Agroindustrial no Brasil ocorreu em 1993, no estado de São Paulo, na Universidade
Federal de São Carlos. Entretanto, em 2004, foram encontrados mais seis cursos de
Engenharia de Produção Agroindustrial, sendo dois no estado do Rio Grande do Sul, três no
Paraná e um em Mato Grosso. Além desses existem os cursos com ênfase, um curso de
Engenharia de Produção com ênfase no agronegócio, um com ênfase em Agroindústria ou
Confecção Industrial, opção que deve ser feita pelo acadêmico, além de cursos de Engenharia
de Produção com ênfase em Gestão Ambiental, com Habilitação em Calçados e Componentes
e ainda cinco cursos de Engenharia de Produção com disciplinas na área de agronegócios na
grade curricular.
Além desses grupos, foram ainda encaminhados questionários a alguns cursos que não se
encaixavam na classificação feita, mas que também formam alunos para atuar no sistema
agroindustrial brasileiro, como cursos de Engenharia Mecânica com ênfase em Máquinas
Agrícolas, Engenharia de Biotecnologia, Produção Industrial de Couros e Calçados,
Tecnologia Agroindustrial, entre outros.
Com relação aos cursos de Pós-graduação stricto sensu, foram identificados 4 Programas de
Pós-Graduação Multidisciplinares em Agronegócios: Dois Programas de Pós-Graduação em
Agronegócios (2 Mestrados - M, 1 Doutorado - D e 1 Mestrado Profissionalizante – F), um
Programa em Desenvolvimento Rural (M e D) e um Programa em Produção Agroindustrial
(F). Também se verificou a existência de programas de Ciências Agrárias com ênfase em
Agronegócios, programas de Pós-Graduação em Administração com linhas específicas em
Gestão de Cadeias Produtivas e em Desenvolvimento Rural, e alguns programas em
Economia e Desenvolvimento econômico com linhas em Agronegócios, além de um
Programa em Desenvolvimento Regional e Agronegócios.
Já com relação aos cursos de especialização em agronegócios, como foi feito um corte na
amostra, em virtude do grande número de cursos existentes no país, esta pesquisa não se
propôs a levantar o número total de cursos de especialização em vigor.
4. Características do perfil demandado pelo sistema agroindustrial brasileiro
Para responder a questão relativa ao perfil do profissional demandado, foram utilizadas duas
metodologias de pesquisa: uma quantitativa e outra qualitativa. A metodologia qualitativa
abrangeu o estudo de caso com 19 empresas selecionadas, com as quais foram realizadas
entrevistas. Já a quantitativa consistiu no método de pesquisa de avaliação ou survey, cuja
coleta de dados foi realizada através de questionários enviados por correio e de questionários
enviados por um link disponibilizado para este fim.
O Gráfico 1, a seguir, apresenta a análise dos diferentes tópicos de habilidades e de
conhecimentos através da atribuição da pontuação média realizada pelo conjunto de todas as
empresas atuantes no agronegócio. Este gráfico permite também comparar as pontuações
médias atribuídas a cada tópico, tanto para a pesquisa já desenvolvida em 1998 como para a
de atualização ocorrida em 2004. De um modo geral, pode-se observar que houve alguma
mudança no perfil do profissional desejado pelas empresas, já que houve uma queda sutil em
todas as médias da pesquisa atual em relação à anterior e uma alteração na hierarquia
referente à inversão entre os tópicos de Métodos Quantitativos Computacionais/Sistema de
Informação e Tecnologias de Produção. A hierarquização entre os tópicos verificada pela
pesquisa atual é a seguinte, em ordem decrescente de importância: Qualidades Pessoais,
Comunicação e Expressão, Economia e Gestão, Métodos Quantitativos Computacionais e SIs,
Tecnologias de Produção e Experiência Profissional Desejada.
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4,88
5,61
7,00
5,99
7,00
6,15
6,56
7,13
8,00
7,38
7,69
9,00
8,36
8,88
10,00
8,91
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6,00
5,00
4,00
3,00
2,00
1,00
0,00
Qualidades Pessoais
Comunicação e
Expressão
Economia e Gestão
Métodos Quantitativos
Computacionais e Sist.
de Informação
Pesquisa 1998
Tecnologias de
Produção
Experiência
Profissional Desejada
Pesquisa 2004
Fonte: Dados da pesquisa de campo.
GRÁFICO 1 – Pontuações médias atribuídas aos tópicos
Em especial, a pesquisa mostrou que as habilidades e os conhecimentos considerados como
mais importantes pelas empresas enquadram-se nos tópicos de “Qualidades Pessoais” e de
“Comunicação e Expressão”. Verifica-se assim que, nos dias atuais, as empresas esperam de
um profissional mais do que as habilidades técnicas adquiridas durante o curso superior,
esperam que seus funcionários sejam pró-ativos e participem intensamente do cotidiano da
empresa, não só na solução de problemas, mas também na visualização de novas
oportunidades de negócio. Para tanto, são muito importantes os conhecimentos e as
habilidades pessoais, como flexibilidade, iniciativa, capacidade para a tomada de decisão,
negociação, trabalho em grupo e alto padrão ético, e os relativos à capacidade de expressão e
de interação/relacionamento com outros profissionais.
Percebe-se, portanto, que as habilidades e os conhecimentos técnicos tornaram-se secundários
se comparados com as qualidades pessoais e a capacidade de se comunicar. Para as empresas
de um modo geral, as habilidades e os conhecimentos técnicos requeridos podem ser
ensinados pela própria empresa ao profissional durante o seu período de adaptação e de
integração na empresa.
No que tange à hierarquização entre os tópicos, nota-se que, em primeiro lugar, manteve-se o
tópico “Qualidades Pessoais”, sendo que este foi o único que sofreu uma redução inexpressiva
entre as médias dos dois períodos pesquisados. Isso reafirma a grande importância dada a
esses conhecimentos e essas habilidades para formar o perfil do profissional considerado ideal
pelas empresas do agronegócio. Novamente, então, esse tópico recebeu as maiores pontuações
pelos respondentes em relação aos demais tópicos, o que revela o grande interesse das
empresas em profissionais éticos, flexíveis, que saibam assumir riscos, encarar desafios e
solucionar problemas.
No segundo lugar da hierarquia, situa-se o tópico “Comunicação e Expressão”, que também
manteve a sua posição mas que sofreu uma redução ligeira de seu grau de importância,
passando de muito importante para importante. Como essa redução foi pequena, seus
conhecimentos e suas habilidades são ainda vistos como essenciais para o perfil do
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profissional, na medida em que a esfera da interação e do relacionamento interpessoal é
considerada chave pelas empresas.
No terceiro lugar, encontra-se o tópico “Economia e Gestão”, que manteve sua posição apesar
de uma leve redução de sua média. Mesmo assim, é possível afirmar que este tópico
compreende conhecimentos relacionados à gestão que são importantes para a realização das
atividades do profissional do agronegócio e, assim, funcionam como um pré-requisito para a
sua seleção. Nas entrevistas realizadas com as empresas, observou-se que elas avaliam a
capacidade do candidato em relação a esses conhecimentos a partir do renome e da
legitimidade da instituição de ensino na qual se formou.
É preciso salientar que houve uma mudança significativa em relação aos tópicos de “Métodos
Quantitativos Computacionais e SIs” e “Tecnologias de Produção”, já que inverteram suas
posições para a pesquisa atual. Assim, houve uma sobrevalorização dos conhecimentos e das
habilidades enquadrados em “Métodos Quantitativos Computacionais e SIs”,
simultaneamente à subvalorização dos enquadrados em “Tecnologias de Produção. Uma
possível causa a essa situação pode estar relacionada ao fato de que, por um lado, as
tecnologias de produção abrangem conhecimentos técnicos do campo e da indústria, que são
aplicados por profissionais técnicos especializados e não por um profissional de
gerenciamento. Estes ficam responsáveis por ter apenas uma base de conhecimentos que seja
suficiente às atividades de gestão. Por outro lado, o crescimento da importância dada aos
conhecimentos em métodos quantitativos computacionais e SIs pode estar vinculado à maior
difusão e necessidade de utilização de tecnologias de informação (TI), como softwares gerais
e específicos, e de bancos de dados pelos profissionais de gestão. Em algumas entrevistas
realizadas, foi evidenciada a necessidade de o profissional planejar o sistema de informação,
apesar de não ter a responsabilidade de implementá-lo, pois o planejamento requer uma visão
integrada de todo o sistema produtivo. Além disso, evidenciam-se os softwares de Pesquisa
Operacional dentre os específicos, já que é uma área do conhecimento que auxilia na
elaboração de planos empresariais, bem como na tomada de decisão operacional, tática e
estratégica da empresa através de técnicas de otimização e de simulação de cenários.
Em última posição da hierarquia, tem-se o tópico “Experiência Profissional Desejada”, o que
demonstra a pouca importância atribuída pelas empresas a essas habilidades. As entrevistas
possibilitaram comprovar que muitas empresas possuem meios próprios de treinamento e de
capacitação de seus recursos humanos, em função da especificidade de suas atividades e de
suas condições de trabalho. No entanto, a habilidade relativa à realização de estágios durante
a formação acadêmica foi, na quase totalidade das entrevistas, considerada um ponto muito
positivo para o perfil do profissional, na medida em que o estágio permite os contatos iniciais
com o ambiente empresarial e, de certa forma, o amadurecimento do futuro profissional
empresarial.
5. Considerações Finais
A partir da confrontação feita para cada segmento agroalimentar envolvido na pesquisa, em
relação aos cursos de ensino superior, foi possível perceber que, de maneira geral, o maior
desajuste ocorreu em relação ao item Economia e Gestão, principalmente ao avaliar os cursos
que exploram as áreas mais técnicas do agronegócio. Tal desajuste também foi mencionado
em algumas entrevistas desenvolvidas com as empresas, que observaram que recomendam
aos seus funcionários, graduados em agronomia, zootecnia e outras áreas técnicas, que façam
um curso de especialização na área de gestão, para poder compreender o agronegócio não
apenas de uma maneira técnica, mas sim, a partir de uma visão sistêmica, em que entendam o
funcionamento de todo sistema agroindustrial, e não apenas alguns macrossegmentos
restritos. Verificou-se que as empresas esperam que os profissionais utilizem-se das
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ferramentas gerenciais de maneira a compreender a dinâmica de funcionamento das cadeias
agroindustriais, de forma a torná-las mais eficientes e eficazes..
Além do desajuste em Economia e Gestão, ressaltaram-se ainda os desajustes com relação às
habilidades e conhecimentos do grupo de Qualidades Pessoais, e Métodos Quantitativos e
Sistemas de Informação, além de um preocupante desajuste em relação às habilidades de
comunicação. Tais desajustes devem ser avaliados com bastante critério, uma vez que se
observou que as empresas buscam por um perfil profissional mais generalista, em que as
habilidades pessoais e de comunicação sobressaem-se em relação às habilidades técnicas e
específicas
Observa-se que as diretrizes curriculares dos cursos de graduação que começaram a ser
aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação a partir de 2001, já ressaltavam a importância
das habilidades pessoais dos alunos, porém, apesar de a grande maioria dos projetos
pedagógicos conterem tal preocupação, de formar alunos líderes, capazes de atuar em grupo,
criativos, com capacidade para lidar com stress, com alto padrão ético, flexíveis, pouca coisa
tem mudado nas abordagens de ensino utilizadas em sala. Talvez seja a hora de o ensino
superior discutir com mais intensidade novas metodologias de ensino, que consigam
realmente despertar nos acadêmicos tais habilidades e capacidades.
Outro aspecto relevante refere-se às dificuldades em se compor currículos em que haja
equilíbrio entre os conhecimentos básicos da gestão/administração e conhecimentos afins com
as áreas técnicas. De acordo com dados levantados pela pesquisa, foi possível verificar que
uma das maiores dificuldades encontradas para a criação desses currículos em que há
necessidade de se integrar muitas disciplinas científicas, econômicas, sociais e práticas de
uma forma sistêmica, está na dificuldade em se conseguir profissionais qualificados para
atuarem na área de ensino de agronegócio. Segundo a grande maioria dos entrevistados a
oferta destes profissionais é baixa, justamente em virtude da multidisciplinaridade que é
exigida ao se abordar esta área.
Assim, é importante refletir se os cursos de ensino superior estão formando profissionais que
consigam compreender o agronegócio de maneira integrada, se as disciplinas estão sendo
abordadas realmente de maneira multidisciplinar, de forma que os mesmos consigam entender
a crescente complexidade do segmento agroindustrial, que acresceu dificuldades no
gerenciamento dos agronegócios e portanto, exige ferramentas gerenciais mais sofisticadas.
Referências
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através da educação à distância. Dissertação de Mestrado (Mestrado em Engenharia de Produção), UFSC,
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