MOVIMENTO REPÚBLICA DE EMAÚS CENTRO DE DEFESA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO PARÁ RELATÓRIO DE MONITORAMENTO DA EXECUÇÃO DE MEDIDAS SÓCIO-EDUCATIVAS NO ESTADO DO PARÁ, REALIZADO NO PERÍODO DE SETEMBRO/OUTUBRO 2009 Belém – PA 2009 EQUIPE CEDECA EMAÚS Ana Celina Bentes Hamoy – Advogada Bruno Guimarães Medeiros Garcia – Advogado Eliani de Souza Neves – Assistente Social Karina Gama de Faria – Assistente Social Tatiane Moraes - Pedagoga Waldize Portal – Educadora Social Giselle Bentes Hamoy – Estagiária de Direito EQUIPE DEFENSORIA PÚBLICA Alira Menezes – Defensora Pública Nádia Bentes – Defensora Pública 2 I. RELATÓRIO DE VISITAS CENTRO DE INTERNAÇÃO ALMIRANTE BARROSO – CIAB. O Centro de Internação Almirante Barroso – CIAB - abriga adolescentes em cumprimento de medida sócioeducativa de internação. Visitamos esta unidade no dia 10 de setembro de 2009, momento em que havia 35 (trinta e cinco) internos. Entrevistamos a gerente e 08 (oito) adolescentes. 1.1. Quadro de funcionários Função Assistente social Advogado Psicólogo Pedagogo Psiquiatra Médico Enfermeiro Professor (SEDUC) Monitor Dentista Prof. Ed. Física Outros * Quantidade 06 05 01 01 04 21 140 02 02 23 Periodicidade 8h às 14h / 14h às 20h 8h às 14h / 14h às 20h 8h diárias Dois dias na semana Plantão 12h /12h Manhã/Tarde/Noite Plantão de 12h/48h Manhã / 8h às 12h - *Arte-educador (03), administrador (01), agente administrativo (04), cozinheira (06), agente de portaria (06) e CIEPAS (03). 1.2. Estrutura Física do Centro Em relação ao espaço físico a gerente informou que não é um espaço adequado. Conta com as seguintes dependências: portaria, auditório, sala da gerência, sala dos técnicos, sala de atendimento das famílias, sala de atendimento individual, sala do pedagógico, sala de oficinas, enfermaria, consultório odontológico, sala da monitoria, quadra de esporte, 19 quartos/celas (somente 09 estão funcionando). 1.3. O Atendimento Em relação ao atendimento a gerente informou que o acolhimento é feito com a exposição do funcionamento do Centro, o regimento interno e sobre a medida. Às terças-feiras é feito o atendimento para a elaboração do PIA( Plano Individual de Atendimento) e a partir daí é que se começa o atendimento. São 20 (vinte) 3 adolescentes por técnico. Atualmente cada técnico está atendendo 07 (sete) adolescentes. O acompanhamento familiar individual e coletivo é realizado a partir de estudo de casos. Esse atendimento é feito quinzenalmente. É realizado um almoço com as famílias, às quartas-feiras, momento em que os familiares têm a possibilidade de visitar os quartos/celas dos adolescentes. Também tem sido feito um trabalho de orientação às famílias para a retirada de documentos. Ressaltou que oito famílias já receberam cheque-moradia. A gerente considera que o acompanhamento psicossocial tem alcançado seu objetivo, já se visualiza uma postura mais humanizada. Antes os adolescentes ficavam muito tempo sem atendimento técnico, mas depois que se organizaram os meninos são atendidos pelo menos de dois em dois dias. Informou que houve um momento de reunião entre representantes de técnicos, monitores, família e adolescentes para a organização do Projeto Político Pedagógico (PPP). No entanto, esse tipo de reunião não é sistemático. Há reuniões quinzenais com os profissionais que atuam na unidade. Disse, também, que estão iniciando uma tentativa de organizar um momento em que os meninos possam fazer suas reivindicações. Em relação à proposta pedagógica relatou que ainda está em sistematização, mas já tem um quadro de atividades. Todos os adolescentes estão freqüentando a escola. Um dos internos está sendo profissionalizado, realizando estágio remunerado no Tribunal de Contas do Município. Construíram parcerias para buscar profissionalização. Para incluir adolescentes em atividades externas utilizam os seguintes critérios: não ter histórico de fuga, ter um tempo considerável na unidade, ter histórico de bom comportamento a partir da avaliação do técnico. No caso do adolescente não se identificar com as opções oferecidas pela unidade é dada a oportunidade de sugestão por outra atividade. Tem-se tentado fazer um redimensionamento para outra atividade a partir do número de vagas. Ao ser internado o adolescente passa por uma avaliação médica. No acolhimento eles passam por uma observação da enfermaria que pode ou não encaminhar ao médico. Estão com problemas no atendimento odontológico devido reforma no consultório. E por conta disso os meninos estão recebendo atendimento externo. 4 Em caso de adolescentes portadores de necessidades especiais encaminham ao CAT, pois já tiveram casos de transtornos e hiperatividade. Informou que um dos internos toma medicamento controlado. Quando ocorre a presença de adolescentes usuários de drogas encaminham para receber atendimento por meio da SESPA. Na ocorrência de urgência médica noturna, e caso não haja enfermeiro de plantão, o menino é encaminhado para o Pronto Socorro Municipal ou Posto de Saúde. A dieta alimentar dos adolescentes é planejada por nutricionista, que vai à unidade uma vez por semana (quintas-feiras) dar orientação. A gerente relatou que os meninos recebem orientações sobre seus direitos e responsabilidades durante o acolhimento. No entanto, revelou que nem todos têm noção de seus direitos. Os profissionais também têm trabalhado com eles temas como sexualidade, DST’s e etc. Informou, ainda que assumiu a gerência há três meses e que no primeiro mês ocorreram tumultos, mas ultimamente isto não tem ocorrido. Quando ocorrem reclamações de violências físicas e/ou verbais é feito procedimento na DATA ou se for caso de abstinência vai para atendimento especializado. Nesses casos aplicam-se sanções, as quais estão em construção, mas geralmente ficam em contenção. No caso de fuga informou que o prazo de cumprimento da medida continua. Por fim, destacou as principais dificuldades que a instituição enfrenta atualmente: estrutura física, a demora no retorno dos pareceres dos processos (falta de resposta), redimensionamento da FUNCAP, ausência de recursos. 1.4. N° 01 02 03 04 05 06 07 08 IDADE 16 17 15 17 17 17 16 15 Relação dos adolescentes entrevistados INFRAÇÃO 121 c/c 14, II 121 c/c 14 § 2º 157 § 2°, I 157 § 2°, I, II 157 155 157 § 2°, I, II 121 § 2°, III e IV ÓRGÃO ENC. Comarca de Ananindeua Comarca de Anajás Juizado Capital Centro Integrado Juizado Capital Comarca de Salinas Juizado Capital Comarca de Breves ENTRADA 27/06/2009 26/08/2009 24/05/2009 17/07/2009 08/08/2009 31/08/2009 18/08/2009 26/08/20 09 SIT. ESCOLAR 4ª Etapa 3ª Etapa 1ª Etapa 2 ª Etapa 2ª Etapa 3ª Série 5ª Série 3ª Série 5 1.5. Entrevista com os Adolescentes Nesta unidade foram entrevistados 08 (oito) adolescentes. E de uma maneira geral os entrevistados informaram que foram bem recebidos e que são envolvidos nas atividades profissionalizantes. Dos entrevistados 07 (sete) tiveram a oportunidade de optar sobre quais atividades gostariam de participar. Todos informaram que têm contato com a família e a duração das visitas é de uma hora. Três entrevistados informaram que estão tomando medicamentos (antiinflamatórios e analgésicos). Em relação ao atendimento médico disseram que este é precário e que não são atendidos em suas solicitações. Nenhum dos entrevistados recebeu qualquer tipo de formação sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Quando perguntamos se existe violência na unidade os adolescentes responderam que sim, violência física praticada tanto por monitores quanto por outros adolescentes com os quais dividem o quarto. Em relação às condições físicas dos alojamentos informaram que são precárias: falta água, a descarga do vaso sanitário não funciona, vaso sanitário quebrado, chuveiro quebrado, ralo entupido, não tem luz, é muito pequeno, faz muito calor, tem muita sujeira, é fedorento. Em média dividem o alojamento com 05 (cinco) adolescentes. Os adolescentes responderam negativamente quando perguntamos se tem o direito de falar pessoalmente com o promotor, se podem escrever para as autoridades do Estado, se já solicitaram falar pessoalmente com o seu advogado, se são informados sobre a situação processual. Quando perguntamos se consideram que são tratados com respeito e dignidade 06 (seis) responderam que sim e 02 (dois) não. Quanto ao material necessário para a higiene pessoal informaram que recebem, porém não o suficiente. Caso cometam alguma irregularidade ficam de contenção de 10 a 15 dias, sem recreação, sem poder sair do quarto. Um dos adolescentes informou que caso alguém cometa uma irregularidade grave fica isolado, em um “QC” sozinho (em baixo da escada). Todos disseram que recebem 05 (cinco) refeições diárias. Também relataram que estas são muito ruins: alimento mal cozido e salgado, toda noite o lanche é mingau de arroz ou fubá, comida de dias anteriores. Um dos adolescentes informou que às vezes nos finais de semana os técnicos e a gerente fazem coleta com seu próprio 6 dinheiro para comprar um lanche diferenciado. Outro disse que, na maioria das vezes, é servido somente carne e que ele não gosta. Todos os entrevistados informaram que bebem água todas às vezes que tem sede e que são os monitores que levam para eles. No entanto, um dos entrevistados disse que em alguns plantões a oferta de água é mais escassa. Em relação aos técnicos responderam que esses são legais, tratam bem, procuram ajudar os adolescentes. Já os monitores disseram que são razoáveis, uns são legais, conversam e dão conselhos. Outros tratam mal, falam gritando, são ignorantes com os adolescentes. Ao perguntarmos sobre o que eles acham deste centro de internação 06 (seis) responderam que consideram o espaço ruim e que ele não ajuda a melhorar suas vidas, não traz benefícios. Dois consideram o espaço bom, que os ajuda a refletir e que mostra muita coisa boa. Finalizando perguntamos o que eles acham que pode melhorar na unidade para ajudar os adolescentes enquanto estão cumprindo a medida. As respostas foram: ter mais remédios na enfermaria, melhorar a comida, mais tempo para as aulas, ter mais professores, mais tempo para banho de sol, não ficar o dia inteiro no quarto por causa do calor, melhorar o atendimento, melhorar as condições do quarto, ter mais atividades no Apoena, mais atividades de lazer, curso de desenho, curso de informática. E para depois que saírem da unidade sugeriram que a FUNCAP matricule os adolescentes na escola, providenciem os documentos pessoais e encaminhem para cursos profissionalizantes e empregos. 1.6. Considerações A unidade, apesar de irregularidades ainda graves detectadas, está em melhores condições do que no monitoramento de 2008. Pode-se constatar que diminuiu o número de internos e que o atendimento técnico tem hoje uma melhor reposta dos adolescentes. No entanto irregularidades graves ainda são constatadas e sem que sejam visualizadas alternativas para mudança. Primeiro, o espaço físico continua sem condições de cumprimento da medida. Há um grave problema de higiene e insalubridade que não só transforma a vida daqueles que estão internados em um verdadeiro desafio para sobreviver, como também, não possibilita com que os trabalhadores da unidade tenham condições mínimas de realizar qualquer proposta que tenha como fundamento uma pedagogia de respeito a dignidade humana. 7 A falta de recursos pedagógicos, como também de materiais para o desenvolvimento de atividades foi detectado ainda nessa visita, os próprios adolescentes reconheceram que existe momentos em que os funcionários fazem coleta até mesmo para proporcionar aos adolescentes algumas melhorias no atendimento. Infelizmente a falta de uma proposta pedagógica ainda é um dos desafios que a unidade não conseguiu vencer. Foi verificado que a permanência dos adolescentes dentro dos quarto/celas sem atividades ainda é uma freqüência, o que gera não só grande desconforto por ficarem em um espaço pequeno muito quente e com muito mau cheiro mais também tira da medida socioeducativa toda a sua importância e o princípio que é o norteamento pedagógico. Foi observado que apesar de terem diminuído as rebeliões ou tumultos, ainda são recorrentes, e sempre da necessidade de estrutura física e pedagógica que possibilite a execução da medida socioeducativa de internação. Deve-se ressaltar, que na fala dos adolescentes ouve um reconhecimento com relação à melhor postura da gerência e que muitas vezes as rebeliões ocorrem estimuladas por alguns monitores que agem de forma agressiva e até incentivam os tumultos, mas não se tem como deixar de reconhecer, apesar de não justificar atitudes violentas, que os servidores/ras trabalham sobre forte tensão, pois além de não terem condições mínimas de trabalho, ainda têm que ser muito criativos/vas para tentar minimizar a falta de condições matérias para a execução da Medida socieoeducativa. Quanto à educação formal, constatou-se que ainda é muito precária, pois não só o espaço físico é inadequado, como há uma ausência de matérias pedagógicos para a atividade educacional, a impressão que se teve é de que ocorre como mera exigência legal. Os relatos de violência dentro da unidade ainda foram muito presentes. Notou-se muita tensão nos adolescentes que demonstraram medo na fala e na possibilidade de denuncia sempre falando para a equipe ficar atenta para que não fosse ouvido por servidores da unidade. Esse fato deixou a equipe preocupada com a situação de possível represália aos adolescentes entrevistados, portanto tomou-se a iniciativa de não identificar os adolescentes abordados pela equipe do CEDECA e da DEFENSORIA. Enfim, o que também chamou atenção da equipe é que quando se pergunta se são tratados com dignidade e respeito, respondem que sim, mas afirmam que vivem em condições insalubres, com falta de higiene, com ocorrência de violência etc, isso nos leva a refletir de que esses adolescentes não conseguem perceber o que significa 8 dignidade que sua relação com o mundo do respeito e dos direitos é bastante relativizada e até mesmo desconhecida. II. CENTRO DE INTERNAÇÃO PROVISÓRIA – CIAM O CIAM abriga adolescentes em cumprimento de internação provisória. Visitamos esta unidade no dia 09 de setembro de 2009, momento em que havia 87 (oitenta e sete) internos. Entrevistamos a gerente e 14 (quatorze) adolescentes. 2.1. Quadro de funcionários Função Assistente social Advogado Psicólogo Pedagogo Psiquiatra Médico Enfermeiro Professor (SEDUC) Monitor Dentista Prof. Ed. Física Outros * Quantidade 05 05 03 01 21 86 01 34 Periodicidade 7h/dia mais plantão 7h/dia mais plantão 7h/dia mais plantão Uma vez por semana Manhã/Tarde/Noite Plantão de 12h/48h e diaristas - *Agente de portaria (13), almoxarifado (03), gerente (01), técnicos de enfermagem (05), cozinheiras (07), assistente administrativo (03), agente de limpeza (02). Também contam com 02 policiais do CIEPAS. 2.2. Estrutura Física do Centro A unidade conta com as seguintes dependências: portaria, administrativo, cozinha, cautela, almoxarifado, refeitório dos servidores, 02 salas de aula, sala de oficina, sala de atendimento, quadra de esportes, enfermagem, salas da monitoria feminina e masculina. As alas A e B possuem dois lados, contendo 10 alojamentos cada ala (os maiores para 03 adolescentes e os menores para 01). 2.3. O Atendimento O atendimento é feito por equipes de técnicos que atendem de 15 a 20 adolescentes. É realizado atendimento inicial, quando o adolescente chega é feita a abordagem pedagógica, onde se faz a exposição de como funciona a medida, a instituição e a situação de seu processo. Caso o adolescente esteja acompanhado da mãe esta acompanha toda a abordagem inicial. 9 Semanalmente ocorre o almoço familiar, onde há a participação da família na elaboração da alimentação. A gerente informou que o acompanhamento psicossocial está conseguindo mais avanços com as famílias. Relatou que a entristece a volta dos adolescentes à unidade. Os técnicos têm incentivado a LA. Estes sentem dificuldades na realização do trabalho porque tem que acompanhar as audiências, dificultando a garantia do atendimento individualizado de cada adolescente na unidade. A super lotação também ocasiona a sobrecarga dos técnicos. Semanalmente ocorrem assembléias entre os monitores, adolescentes e técnicos. O foco é a gestão interna do espaço. Ainda há dificuldade com a cultura da participação. Com os técnicos há reuniões mensalmente e com os monitores semanalmente por plantão. A gerente informou que atualmente estão ocorrendo às seguintes atividades pedagógicas: sala de aula, panificação, educação física, biscuit e irá começar curso de biojóia. Utiliza instrumental técnico de motivação denominado “Sexta Cultural”, uma atividade potencializada com a família, companheira etc. para os meninos que estiverem na ala em que não houve indisciplina. Considera esta atividade como um estímulo a não indisciplina. As atividades externas que participam são as audiências, médico e no Apoena. Também destacou que as alternativas de atividades são poucas, no entanto na maioria das vezes os meninos gostam das alternativas que lhes são dadas. Todos os adolescentes encontram-se estudando. Desde a chegada à unidade o menino é logo inserido na escola. Não há ensino médio na unidade, caso ocorra de um adolescente está neste nível ele é incluído na 4ª etapa e a escolarização dele se dará por meio de temas geradores e não com o ensino formal. O Projeto Político Pedagógico da unidade está em processo de implementação. Em relação ao atendimento médico a gerente relatou que semanalmente o médico visita a unidade para atender os internos. Caso haja situações de emergência a técnica de enfermagem encaminha para a rede de serviços. Para atendimento odontológico encaminha para o Posto de Saúde da Marambaia. Em caso de urgência médica noturna há encaminhamento para a rede de serviços. Ainda não ocorreram situações de adolescentes portadores de necessidades especiais. Houve um caso em que o interno apresentava sintomas de doença mental e a equipe encaminhou para receber atendimento especializado. 10 A dieta alimentar dos meninos é planejada por nutricionista da FUNCAP, semanalmente caso o alimento seja não perecível e semanalmente se for perecível. Quando perguntamos a gerente se os adolescentes recebem formações sobre o ECA ela nos disse que na abordagem inicial ele são informados sobre o funcionamento da unidade e seus direitos. Há uma jornada pedagógica mensal onde existem informações sobre medidas sócio-educativas. Em relação à ocorrência de rebelião nos informou que a última ocorreu no dia 09/08/2009 e que nesta não havia reivindicações claras. Disse, ainda, que os meninos reclamam de violência de monitores e policiais. Há uma reclamação de que os policiais filmam os adolescentes. Relatou também que no regimento interno prevê a contenção dos adolescentes como forma de punição caso desrespeitem as normas. Deu exemplo de dano ao patrimônio. Questionamos sobre como se verifica se realmente o menino danificou o patrimônio e a gerente respondeu que se baseiam por fichas que cada monitor preenche em seu plantão sobre o comportamento dos meninos, pois ainda não há câmeras de filmagem. No caso de fuga o prazo de cumprimento da medida sempre continua. Ao final, solicitamos que a gerente destacasse as principais dificuldades que a instituição enfrenta atualmente: falta de servidores (o motivo é a constante saída de monitores e técnicos para atividades externas); falta de material pedagógico para as atividades; falta de atividades físico-pedagógicas; falta de vigilância interna (câmeras); dificuldades com a Comarca de Salinas e Marituba (nunca acatam as sugestões da equipe e atrasam as sentenças). 11 2.4. Relação dos adolescentes entrevistados N° 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 IDADE 12 17 17 17 17 17 17 17 17 15 17 14 15 17 INFRAÇÃO Art. 157 Art. 157 Art. 157 Art. 157 Art. 157 Art. 157 Art. 121 Art. 155 Art. 157 Art. 157 Art. 157 Art. 157 Art. 157 Art. 157 § 3° ÓRGÃO ENC. Juizado de Icoaraci Juizado da Capital Fórum Mosqueiro Juizado da Capital Juizado da Capital Fórum Mosqueiro Polícia Civil Juizado da Capital Juizado da Capital CIAA CIAA Comarca de Salinas CIAA Fórum Mosqueiro ENTRADA 04/08/2009 10/08/2009 03/08/2009 12/08/2009 31/07/2009 03/08/2009 03/09/2009 31/07/2009 20/08/2009 07/08/2009 Sem informação 04/08/2009 26/08/2009 31/08/2009 SIT. ESCOLAR 4ª Série 4ª Série 5ª Série 2ª Serie Não está estudando 3ª Etapa Não está estudando Não está estudando 3ª Etapa Não está estudando Sem informação Não está estudando 1ª Série EM 2ª E tapa 2.5. Entrevista com os Adolescentes Nesta unidade foram entrevistados 14 (quatorze) adolescentes. Eles relataram que foram relativamente bem recebidos, mas informam que sentem falta da liberdade. Nove dos entrevistados estão estudando e cinco não estão. Nas entrevistas também se verificou que 09 não participam das atividades, ficam dentro do quarto. Relataram, ainda, que não tem a oportunidade de escolher quais atividades desejam participar. Os que disseram que estão participando de atividades citam o futebol e sessões de vídeo. Dos entrevistados 04 relataram não ter contato com a família. Os outros (10) mantém contato com seus familiares semanalmente por meio de visitas com duração de 2 horas. Cinco adolescentes disseram que tomam remédios (antiinflamatórios e analgésicos). Dois relataram que desejam fazer tratamento antidrogas e nove não fazem uso de nenhuma medicação. Quanto ao atendimento médico disseram que não são logo atendidos quando necessitam e para receber o atendimento tem que fazer muito barulho. Durante a noite é mais difícil ainda. Em relação à formação sobre o ECA informaram que não receberam, mas revelam que gostariam de saber mais sobre seus direitos. 12 A maioria dos entrevistados disse que recebem violência física e psicológica dos monitores, de outros adolescentes e de policiais. Apenas dois relataram que não presenciar cenas de violência dentro da unidade. Em relação aos alojamentos os relatos foram de que as instalações físicas são precárias, não há privacidade para fazer as necessidades, faltam colchões, tem muita sujeira, faz muito calor, é escuro, tem rato. Em média cada interno divide o quarto com mais 05 adolescentes. A maioria disse que desconhece o direito de falar com o promotor e com seu advogado; 05 consideram que são tratados com respeito e dignidade; 11 disseram que não podem escrever para as autoridades do Estado; 02 não recebem os materiais necessários para a higiene pessoal; 02 já ficaram incomunicáveis. Quanto às punições que recebem caso cometam alguma irregularidade destacaram a contenção, na qual o interno fica no quarto sem poder participar das atividades de 05 a 10 dias. Em relação ao número de refeições diárias relataram que recebem cinco. Dois dos entrevistados revelaram que já ficaram sem receber alimentação (quando foram para audiência e ao médico). Doze dos entrevistados consideram a alimentação ruim (mal temperada e mal cozida). Dois relataram ser boa. A água que consomem é do chuveiro. O atendimento prestado pelos técnicos foi considerado satisfatório. Em relação aos monitores disseram que a maioria é agressiva e até utilizam barras de ferro para agredir os adolescentes. Em relação ao que acham do centro 13 responderam negativamente, dizendo que não é um lugar bom, espaço que cauda revolta, onde é tratado pior do que lá fora, a higiene é precária, correm o risco de pegar doença devido à presença de ratos, acontece muita violência, ficam ociosos no quarto. Por outro lado alguns disseram que é um espaço que serve para refletir sobre sua situação e não voltar a cometer novos atos inflacionais. Por fim fizeram sugestões sobre o que pode melhorar para ajudar os adolescentes: melhorar o preparo dos monitores, melhorar as instalações físicas, melhorar a alimentação, mais material de higiene, mais atividades recreativas e atendimento médico. 2.6. Considerações 13 A situação nesta unidade revela um contexto extremamente tenso e degradante, em razão da superlotação, bem como pela insatisfação tanto para os adolescentes, em virtude das diversas violações de direitos fundamentais, mas também para o corpo funcional que não possui condições adequadas para desenvolver um trabalho de qualidade, seja pela insuficiência de pessoal, sobrecarregando os técnicos até mesmo para realizar deslocamento do adolescente do alojamento para a sala de atendimento, pois não há monitores suficientes, seja pela falta de material pedagógico necessário ao desenvolvimento uma proposta com fundamento no respeito à direitos. Além disso, a deficiência de suporte logístico-operacional (veículos, pessoal) dificulta bastante os encaminhamentos para a rede de atendimento, principalmente nas questões relacionadas à saúde. Percebe-se que a equipe técnica possui grande interesse em realizar um trabalho qualificado, mas se encontra limitada pelas dificuldades conjunturais da instituição (FUNCAP) que não tem recebido o apoio governamental necessário, na perspectiva de Política Pública. Apesar desse contexto violador das normativas nacionais e internacionais (violência, péssimas condições dos alojamentos, insuficiência de atividades, especialmente escolarização e profissionalização, fragilidade no atendimento à saúde, entre outras), um aspecto que suscita uma séria reflexão, diz respeito à resposta positiva dos adolescentes quanto à pergunta de serem tratado com dignidade e respeito, o que evidencia uma contradição, a qual se fundamenta na falta de entendimento para aqueles rapazes sobre o verdadeiro significado “do que é digno e respeitoso” , tratando-se de uma constatação lamentável que reflete uma certa “naturalização da violação de direitos” na visão dos ofendidos, os quais não conseguem perceber o nível de gravidade da violência que sofrem. O que impressiona mais ainda é que na fala dos adolescentes a um forte destaque para as condições indignas dos alojamentos, inclusive com relatos de terem que conviver com ratos e insetos dentro do quarto/celas, sem nada poderem fazer. A tensão na unidade é visível, pois a superlotação no momento da visita deixava tensa não só a gerência e os outros servidores, como também os adolescentes demonstravam inconformismo com tudo o que estavam passando. Por fim, não se pode deixar de observar que sem uma opção política em querer garantir direitos e implantar as determinações do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, além de tudo o que já prevê a legislação, não se pode dizer que está dentro de parâmetros necessários de respeito aos direito humanos de crianças, adolescentes e servidores. 14 III. UNIDADE DE INTERNAÇÃO DO TELÉGRAFO O Centro abriga adolescentes em cumprimento de internação. Visitamos esta unidade no dia 10 de setembro de 2009, momento em que havia 12 (doze) internos. Entrevistamos três técnicas da unidade, pois a gerente não se encontrava no momento, e 03 (três) adolescentes. 3.1. Quadro de funcionários Função Assistente social Advogado Psicólogo Pedagogo Psiquiatra Médico Técnico de Enfermagem Professor (SEDUC) Monitor Dentista Prof. Ed. Física Outros * Quantidade 02 01 01 01 06 39 01 12 Periodicidade 6h / 7h 6h / 7h 6h / 7h 8h às 14 h Manhã e tarde Plantão 12h por 48h - *Cozinheira (03), motorista (02), administrativo (04), professor educação artística e música (01), professor de arte e música (02). 3.2. Estrutura Física do Centro A unidade conta com as seguintes dependências: sala de atendimento, uma sala de aula, uma sala que é adaptada, local para esporte, 04 quartos/celas. Na unidade não há um monitoramento de segurança (Ausência de câmeras de segurança). 3.3. O Atendimento Na acolhida são expostos ao adolescente os procedimentos e normas institucionais. Os internos recebem no mínimo dois atendimentos por semana. Há problemas no acompanhamento familiar por causa do transporte. Assim, faz-se o atendimento na própria unidade. Além disso, há o almoço com as famílias e os responsáveis também acompanham os adolescentes em consulta médica. As próprias famílias buscam o atendimento, assim como os internos. Segundo as entrevistadas isto demonstra que o acompanhamento psicossocial tem dado 15 retorno. Ressaltaram que o PIA (Plano Individual de Atendimento) está começando a ser feito. Há reuniões mensais entre família, adolescentes e equipe. Semanalmente ocorrem reuniões entre técnicos e monitores. Mensalmente tem assembléia com os adolescentes. Em relação à formação sobre ECA para os monitores, as técnicas informaram que ocorrem, porém há resistência. Disseram que eles não tiveram formação antes de iniciar o trabalho na unidade. Quanto às atividades pedagógicas realizadas atualmente as entrevistadas disseram que há atividades esportivas e culturais (externamente); mensalmente há no Apoena um momento de culminância das atividades realizadas nos centros; e atividades artesanais. Todos os internos estão freqüentando a escola, mas não há oportunidade de profissionalização. Quando o adolescente não se identifica com as opções de atividades buscam-se alternativas dentro da própria unidade. Para inserir os adolescentes em atividades externas ou passar o final de semana com a família utiliza-se como critério o cumprimento das regras e o interesse do jovem. Quando o adolescente chega à unidade há uma avaliação de sua saúde pelo setor de enfermagem. O atendimento médico e odontológico é feito na rede de serviços. E no momento em que recebem adolescentes portadores de necessidades especiais encaminham ao CATS. Nos casos de urgência médica noturna encaminham para atendimento no Pronto Socorro Municipal. A dieta alimentar dos meninos é feita por nutricionista e a alimentação vem da Unidade de Val-de-Cans. Perguntamos se os adolescentes recebem orientações sobre o ECA e as técnicas responderam que sim, na sala de aula. Informaram também que ocorreu um motim há 30dias e que a motivação deste foi o interesse de fuga. Disseram que recebem dos adolescentes reclamações de violência física e nesses casos faz-se ocorrência e exame de corpo de delito, além de atendimento técnico. Em relação às punições disseram que há contenção e transferência para outra unidade. Mas não há privação da sala de aula. Por fim, elencaram as principais dificuldades que a instituição enfrenta atualmente: falta de condições materiais para o trabalho; falta de transporte; a rotatividade dos adolescentes, o que dificulta a avaliação; espaço fisco inadequado; e falta de estímulo. 16 3.4. Relação dos adolescentes entrevistados N° IDADE INFRAÇÃO ÓRGÃO ENC. ENTRADA 01 17 Art. 157 § 2º, II Comarca de Barcarena 18/08/2009 02 16 Art. 157, § 2º, I e II c/c Art. 14 Juizado da Capital 05/08/2009 03 18 Art. 14 da 10.826/03 e Art. 157 Comarca de Castanhal 22/07/2009 SIT. ESCOLAR 3ª Etapa 4ª Série 1ª Etapa 3.5. Entrevista com os Adolescentes Os entrevistados relataram que foram bem recebidos ao chegarem à unidade. Os três estão estudando e dois recebem profissionalização (fuxico e brinquedo de miriti). Além da profissionalização recebem educação física e atividades de lazer música e banho de piscina. Todos têm contato com os familiares, apenas um não recebe visita porque sua família reside em Barcarena. Um informou que toma remédio diariamente para dormir e se acalmar. Em relação ao atendimento médico um dos adolescentes informou que nunca precisou de atendimento médico e por isso não soube informar como esse serviço é prestado. Os outros dois disseram que o atendimento é difícil, pois não tem transporte para levar, nem enfermeira. Um deles passou mal à noite e ouviu dos monitores que ele deveria esperar amanhecer para ser atendido. Dos entrevistados somente um disse ter recebido formação sobre o ECA. Quanto à ocorrência de violência na unidade informaram que existe. Dois monitores (“Bola” e Railan) batem nos adolescentes, inclusive com pedaço de pau. Um dos entrevistados estava com um ferimento na testa e disse que o monitor ”Bola” o tinha agredido. Também relataram que há violência psicológica, pois os policiais entram na unidade e os chamam de ratos. Sobre as condições físicas dos alojamentos dois disseram que o espaço é ruim, muito pequeno. Cada entrevistado divide o quarto com 02, 04 e 05 adolescentes. Os três entrevistados informaram que desconhecem sua situação processual, não tem o direito de falar pessoalmente com o promotor e não solicitaram falar com o advogado ou defensor público. Todos informaram receber materiais necessários para higiene pessoal e que nunca ficaram incomunicáveis. Caso cometam alguma irregularidade recebem como punição a contenção e ameaça de voltar para o CIAB. 17 Recebem cinco refeições diárias, as quais 02 relataram ser de qualidade ruim. Quanto o consumo de água disseram que bebem todas às vezes que tem sede, pois tem bebedouro nas dependências. Os entrevistados consideram os técnicos como bons profissionais, pois conversam e tratam bem. São atendidas duas vezes por semana. Já os monitores consideraram razoáveis. Alguns não gostam de levar as coisas para os adolescentes e o monitor “Bola” agrediu um dos internos. Em relação ao que acham do espaço e se ele trás benefícios as suas vidas os adolescentes responderam que só é bom a escolarização e o futebol às sextas-feiras no Apoena. Outro informou que esta unidade é melhor em relação o CIAB e que está tendo a oportunidade de refletir sobre o que vai fazer quando sair. Por fim, ressaltaram que gostariam de receber mais qualificação profissional, de ter mais atividades como, por exemplo, a exibição de filmes e a garantia de trabalho quando terminarem de cumprir a medida. 3.6. Considerações. Observou-se que a unidade é totalmente imprópria para a execução da Medida socioeducativa. Não tem como ser possível o desenvolvimento de uma proposta pedagógica em um espaço com característica carcerária tão forte e repressora. Não existe nem espaço para o funcionamento administrativo da unidade, o que se viu foram servidores aglutinados em um espaço físico muito pequeno; e adolescentes vivendo em condições indignas. Os Quarto/celas com um mau cheiro muito forte, escuro, com um forte calor que só essas condições já são suficientes para dizer que vivem em condições de “forte tortura emocional”. Não tem como conceber um gestor público que permite que seres humanos vivam em condições tão precárias e indignas e, pior, sobre a proteção do estado. No relato dos adolescentes observou que consideram um castigo muito grande ter ir para o CIAB, pois a experiência que tiveram quando passaram por lá foi muito pior ainda do que a que vivem hoje, o que confirma o analisado pela equipe a quando da visita na naquela unidade. O atendimento ao direito a saúde na unidade é bastante prejudicado pela ausência de estrutura que possibilite a equipe técnica conduzir os adolescentes à rede de saúde, os próprios adolescentes entrevistados afirmaram que se passam mal, têm que esperar bastante para serem atendidos e que se isso ocorre à noite, o atendimento fica somente para o amanhecer do dia. Essa situação demonstra o que a própria 18 equipe técnica já afirmava que a ausência de equipamentos, de estrutura para o desenvolvimento da medida, impossibilita com que muitas vezes façam o mínimo necessário. Verificou-se ainda que a profissionalização é mais um dos desafios, até o que é considerado pelos adolescentes como profissionalizante, são atividades de arte educação, importantes sim para o desenvolvimento pedagógico dos adolescentes, mas que não podem ser inseridas como profissionalizantes de acordo com a normativas que orientam o tema. Deve-se reconhecer o esforço da equipe técnica em buscar alternativas para a realização de atividades mínimas para que os adolescentes não fiquem tão ociosos, mas não foi percebida uma proposta que oriente a condução da medida de forma a buscar resultados exitosos na socioeducação dos internos. Enfim, a unidade não tem condições de funcionamento, precisa-se romper com essa prática de execução da medida socioeducativa em espaços “provisórios eternos” onde são feitas “arrumações” e “reformas”, como se para esse público, qualquer coisa possa ser feita, porque se trata de “cidadão menor”. Deve-se exigir que as normativas nacionais e internacionais sejam cumpridas e que o a violação que um adolescente possa ter cometido em um ato infracional, não seja legitimadora para práticas ilegais e desumanas pelo Estado. IV. RELATÓRIO DE VISITAS CENTRO DE INTERNAÇÃO – MARABÁ O centro de internação de Marabá abriga adolescentes em cumprimento de internação provisória e sentenciados. Visitamos esta unidade no dia 15 de setembro de 2009, momento em que havia 44 (quarenta e quatro) internos. Entrevistamos a gerente e 09 (nove) adolescentes. 4.1. Quadro de funcionários Função Assistente social Advogado Psicólogo Pedagogo Psiquiatra Médico Enfermeiro (técnico) Professor Monitor Dentista Quantidade 02 02 01 02 03 31 - Periodicidade 05 dias semanais/01 plantão mensal 05 dias semanais/01 plantão mensal 05 dias semanais/01 plantão mensal 2° feira à sábado 2° feira à 6° feira Plantonista (12 x 48) e diaristas (06 horas) 19 Prof. Ed. Física Outros (área administrativa) 30 2° Feira à domingo 4.2. Estrutura Física do Centro A unidade conta com as seguintes dependências: uma sala para administração, 03 salas para atendimento técnico, sala para os professores, sala para a gerência, 02 depósitos de alimentos e material de higiene, enfermaria, cozinha, sala dos monitores, recepção, 02 sala de aula, sala de motorista, sala de revista, alojamento dos policiais, sala para panificação, quadra esportiva, 12 alojamentos, 02 salas multiuso, 02 salas de monitoria, refeitório, 02 áreas para banho de sol. 4.3. O Atendimento A gerente informa que o atendimento aos adolescentes é feito de forma individual, em grupo ou com os familiares. O acompanhamento com os familiares é realizado através de visitas domiciliares e reuniões que ocorrem mensalmente. Cada técnico se responsabiliza por metade dos adolescentes (ressalta que quando têm técnicos). O pedagogo faz o atendimento de todos os adolescentes e que cada adolescente é atendido em no máximo duas vezes ao mês. A gerente afirma acreditar que o acompanhamento psicossocial dado pelos técnicos ao adolescente alcança seu objetivo, tendo em vista que, através deste trabalho pode-se avaliar a evolução dos adolescentes. Afirma que existem reuniões semanais com a equipe técnica e com os demais servidores a reunião é mensal, a assembléia com adolescentes também é mensal, ressalta ainda que, a equipe técnica participa de todas as reuniões. Em relação à capacitação e formação do ECA para os monitores, afirma que a maior dificuldade encontrada hoje é a rotatividade dos monitores que são contratados, em virtude da ausência de concurso. Os monitores não são todos capacitados, dos 31 da unidade, somente 08 fizeram capacitação, e esclarece que entende que é muito pouco. Afirma ainda que infelizmente, existem ainda muitos monitores que não contribuem para a reeducação dos adolescentes. Em relação às atividades pedagógicas e a escola explana que até o momento 08 adolescentes participam de alguma atividade externa. Internamente tem como atividades pedagógicas filmes, jogos, atividades em datas comemorativas, horta, 20 artesanato e religiosidade. Todos os internos freqüentam a escola normal, e não há oportunidade de profissionalização. Em relação aos critérios para inserir o adolescente em atividades externas e passar o fim de semana com a família, informa que os critérios em relação às atividades externas são definidas em assembléia com os adolescentes, e através de avaliação da equipe técnica; em relação a passar os fins de semana com a família afirma que não existe ainda no centro esta possibilidade, e que a visita é feita na unidade. Em relação a parcerias, em caso do adolescente não se identificar com as atividades oferecidas pelo centro afirma que, estão tentando parceiras para efetivar outras oportunidades. No momento só conseguiram parceria com a EMATER no projeto da horta e com uma associação de moradores para as oficinas de artesanato. Em relação à avaliação médica e odontológica do adolescente no momento da internação afirma que, o adolescente não passa por avaliação médico em órgão oficial. Passam pela avaliação do técnico de enfermagem, que só manda para órgão oficial se houver necessidade. Quando há necessidade deste atendimento os adolescentes são enviados para a rede. Em caso de adolescentes portadores de necessidades especiais, afirma que nunca houve essa necessidade, pois, nunca recebeu um adolescente especial, caso aconteça vão procurar uma forma de resolver. No caso de urgência médica noturna afirma que levam o adolescente para o hospital no carro da unidade ou em ambulância, dependendo do caso. Em relação à formação do ECA dada aos adolescentes afirma que, estes não recebem formação, e que para alguns é dada de forma individualizada pelos técnicos . Afirma ainda, que já houve 05 (cinco) rebeliões no centro e as principais reivindicações foram, saída da internação, a busca da liberdade e que nunca fizeram reivindicação acerca de alimentação, estrutura e etc. A respeito de violências físicas e ou psicológicas, que por ventura os adolescentes venham a sofrer, há o encaminhamento para os procedimentos legais, bem como são realizados os procedimentos administrativos. Acerca de punições que existam no regimento interno da unidade, quais seriam essas punições, qual a mais aplicada e se os adolescentes têm conhecimento destas, a gerente é categórica em afirmar que, não há regimento interno na unidade. Perguntada se em caso de fuga o prazo de cumprimento da medida continua ou é reiniciado respondeu que, o prazo continua quando o adolescente retorna. 21 Em relação às dificuldades que a instituição enfrenta respondeu que é a rotatividade dos servidores, a falta de capacitação para os servidores, precariedade na estrutura física do prédio, a falta de oferta de cursos profissionalizantes. 4.4. Relação dos adolescentes entrevistados N° 01 IDADE 13 02 14 03 18 04 14 INFRAÇÃO Crime contra patrimônio público Art.122 CPB (participação) Art.122 CPB c/c latrocínio Art. 121 CPB ÓRGÃO ENC. Casa de passagem de Parauapebas Juiz da infância e juventude de Marabá Juiz de infância de Jaccundá Juiz de Conceição do Araguaia Delegacia de Conceição do araguaia Delegacia de Marabá 05 16 Art.157 CPB 06 16 Art. 137 CPB 07 19 Art.157 CPB 08 17 Art.157 CPB Juiz através do conselho tutelar juiz 09 15 Furto Juiz ENTRADA 12/08/2009 SIT. ESCOLAR 3° série 26/10/2007 4° série 12/02/2008 8° série 18/02/2008 2° série 06/03/2009 2° série 06/03/2009 Não está estudando 6° série 22/11/2007 28/08/2009 Sem informação Não está estudando 1° série 4.5. Entrevista com os adolescentes Os adolescentes referem que foram bem recebidos, porém sentem-se inseguros, e sentem falta da família, inclusive um adolescente afirma que foi espancado pelos adolescentes da unidade. Em relação à profissionalização dos 09 entrevistados somente 03 estão envolvidos na atividade da horta, não tem profissionalização de fato, como forma de atividade, relatam que eventualmente jogam bola e não podem escolher a atividade. Em relação à visita familiar afirmam que o direito existe, um inclusive falou que houve um período em que ficou sem falar com a família por que os adolescentes estavam fazendo confusão, mas em regra, recebem visita ou fazem contato por telefone. Em relação a remédios, dos entrevistados, apenas um não toma, os outros todos relatam tomar algum tipo de medicação e um inclusive toma calmante prescrito por psiquiatra para que fique calmo. 22 Em relação a atendimento médico, afirmam que se for durante o dia são atendidos, e os que já precisaram de atendimento noturno, tiveram que esperar amanhecer caso não houvesse transporte, e em alguns casos relatam que levaram para o hospital. Em relação à formação do ECA nenhum recebeu informação específica, e 05 adolescentes manifestaram ter interesse em saber a respeito, 04 adolescentes afirmaram não ter interesse no ECA. Em relação à violência, os adolescentes em sua totalidade afirmam sofrer algum tipo, sendo relatada a utilização de spray de pimenta por parte da PM, houve casos de passarem fezes na cara de adolescentes, afirmam também que parte dos monitores pratica este tipo de violência; além disso, há utilização dentro do centro de tiros de borracha, cassetetes, barra de ferro, dentre outras formas de violação dos direitos humanos. Todos são incisivos em afirmar que os alojamentos são ruins, não possuem nenhuma forma de higiene, o fedor é insuportável, muitos objetos de higiene básica como o vaso sanitário, quando não estão quebrados, estão entupidos. A questão do calor é muito comentada, tendo em vista, a falta de ventilação do centro, chuveiros estão entupidos, e não há lençóis. Um afirma que fala pessoalmente com o promotor, 01 afirma que se quiser pode escrever para as autoridades do Estado, 01 já solicitou conversar com seu advogado, 04 afirmam que recebem informações acerca da sua situação processual, 07 afirmam que são tratados com respeito e dignidade, 08 afirmam que recebem material para higiene, no entanto a maioria afirma estar insatisfeito com a falta de hastes flexíveis, aparelho de barba dentre outros, 06 afirmam que possuem local comum para guardar seus objetos pessoais, ou seja, um para todos que se encontram num mesmo alojamento, 03 afirmam já terem ficado incomunicáveis, um inclusive dizendo que o colocaram sozinho em uma sala porque havia brigado com um monitor. Em relação à punição afirmam que tem o “mofo”, que é uma sala escura em que ficam por determinado período cumprindo a punição, e tem também a contenção que é de 10 a 15 dias dependendo da atitude do adolescente. Em relação à alimentação afirmam que recebem 05 refeições diárias, 04 afirmam que é boa a alimentação e 05 afirmam que é ruim, uns dizem que é pouca a porção, que o feijão é duro, o leite as vezes vem sem açúcar . 23 Em relação à água 02 afirmam que a água é racionada por horário que a noite é muito difícil conseguir, e 07 afirmam que conseguem água a hora que quiserem basta pedir. Em relação ao atendimento pelos técnicos, 08 adolescentes afirmam que é bom, o único problema seria a demora para conseguir atendimento, o que vem causando insatisfação nos adolescentes. Em relação aos monitores afirmam que existem alguns que são bons, que dialogam com os adolescentes, que ajudam, no entanto, existem os monitores que são violentos que só resolvem os desentendimentos no grito, e na pior das hipóteses com agressões verbais. A grande maioria afirma que o centro é ruim, principalmente as instalações físicas, incluindo o alojamento, o espaço físico do alojamento precisa ser melhorado, o único benefício que vêem é a questão do arrependimento, a possibilidade que tem de mudar de vida, de estudar, para assim ajudar os familiares. Em relação à melhoria que a internação poderia ter, está no aspecto das instalações necessitarem de reforma urgente, além de uma profissionalização para que se encaminhe os adolescentes ao mercado de trabalho, atendimento médico, e aumentar a recreação. 4.6. Considerações: Resta evidente um contexto de violações gravíssimas, seja por motivo da péssima estrutura da unidade, principalmente quanto às instalações hidro - sanitárias, seja pela insuficiência de pessoal (monitores, técnicos e professores), de suporte logístico operacional (equipamentos, automóvel e etc.), bem como pela inexistência de uma proposta pedagógica definida e deficiência de parcerias. Todos estes aspectos dificultam ainda mais a tarefa dos trabalhadores lotados na unidade e a eficiência da aplicação da medida para o adolescente, inclusive pela ociosidade, em virtude da insuficiência de atividades, principalmente no aspecto da profissionalização. A realidade violadora implica em desrespeito à normativa internacional(Regras de Riad, de Beijing, CDC e etc.), e também aos marcos legais de nosso país pertinentes à garantia de direitos fundamentais de adolescentes (Estatuto da Criança e do Adolescente, SINASE, Constituição da República), representando algumas situações um lamentável retrocesso, como é o caso da criação de “espaços de tortura e degradação” o chamado “mofo”, além da “contenção”, todos como forma de punição dentro de um processo que deveria ter um caráter predominantemente pedagógico. 24 A superlotação da unidade e inadequação do espaço, são aspectos que acabam repercutindo outro problema: grande quantidade de adolescentes de 12 e 13 anos dividindo o mesmo alojamento com jovens de 18 anos, em flagrante afronta ao que dispõe o ECA e as Normas Internacionais. Ressalta-se que a maioria dos adolescentes internados, não residem em Marabá, são provenientes de outros municípios, pois a unidade atende uma demanda equivalente a 37 cidades da região Sudeste do Estado, inviabilizando qualquer aplicação de uma diretriz básica do Sinase, qual seja a municipalização das medidas socioeducativas, e obviamente prejudicando a garantia um direito fundamental do adolescente que se refere à Convivência Familiar. Outro aspecto preocupante é o que relata um adolescente que diz tomar remédios (“para ficar calmo”), é o que tem sido chamado por alguns especialistas de “contenção química”, representando uma preocupação com o direito à saúde, na perspectiva de acesso a uma política pública, implicando ainda em dissonância com o disposto na Portaria 647/2008 do Ministério da Saúde que trata a questão da saúde para os adolescentes em cumprimento de MSE como um atendimento integral. E para finalizar uma das preocupações da equipe que visitou a unidade é que está é uma das mais “novas” unidades construídas e com recursos federais, mais que desde sua inauguração ficou evidente as péssimas condições sanitárias do então “prédio novo” e que, infelizmente, assim permanece, importando risco a saúde dos adolescentes e de todos os servidores que trabalham naquele local. Até quando isso irá acontecer sem que nenhuma autoridade tome providencia para que obras como essa não sejam inauguradas e os gestores sejam obrigados e fazer as adequações necessárias para um funcionamento digno e saudável a todos? V. RELATÓRIO DE VISITA À UNIDADE DE INTERNAÇÃO DE VAL-DE-CANS A Unidade de Internação de Val-de-Cans - abriga adolescentes em cumprimento de medida sócioeducativa de internação. Visitamos esta unidade no dia 18 de setembro de 2009, momento em que havia 20 (vinte) internos. Entrevistamos a gerente e 04 (quatro) adolescentes. 5.1. Quadro de funcionários Função Assistente social Advogado Quantidade 02 - Periodicidade seg. à sex. – plantão aos sábados 25 Psicólogo Pedagogo Psiquiatra Médico Enfermeiro (técnicos) Professor (SEDUC) Monitor Dentista Prof. Ed. Física Outros* 02 02 03 Aprox. 45 12 seg. à sex. – plantão aos sábados seg. à sex. – plantão aos sábados 12h/12h plantão 12h/36h plantão - *Agente de portaria (06), e agente de artes práticas (06). Durante o dia ficam 01(um) ou 02(dois) policiais pertencentes ao CIEPAS. 5.2. Estrutura Física do Centro Em relação ao espaço físico a gerente informou que o espaço conta com as seguintes dependências: 01(uma) sala técnica, 02 (duas) salas de aula, sendo que há mais 02 (duas) salas de aula que estão em construção, sala de guarnição, cozinha, administração, gerência, 03 (três) banheiros, 10 (dez) alojamentos, sala de monitoria e área do refeitório. 5.3. O Atendimento O atendimento técnico é diário. O acompanhamento domiciliar consiste nas visitas e reuniões quinzenais com as famílias. Cada trio (Assistente Social, Psicólogo e Pedagogo) atendem 10 (dez) adolescentes. Segundo a gerente, o acompanhamento psicossocial tem conseguido avançar muito, já é possível permitir a convivência familiar, e o índice de fugas é mínimo. Existem reuniões entre os grupos (técnicos e monitores) e (técnicos e famílias). De acordo com a gerente desta Unidade 08(oito) educadores receberam capacitação somente na formação continuada que durou 04(quatro) meses. Em parte essas formações contribuem, pois alguns são colaboradores, outros não. Ao chegar à Unidade o adolescente passa por uma avaliação de sua saúde com a técnica de enfermagem que avalia e tentam encaminhar as demandas externas para a rede de atendimento à saúde. Em caso de urgência médica noturna aciona-se a Sede da FUNCAP, o SAMU ou os bombeiros (quartel mais próximo da Unidade). 26 A dieta alimentar dos internos é fornecida pela Sede da FUNCAP, pois lá têm nutricionista. Nos casos de adolescentes portadores de necessidades especiais, a gerente relatou que não houve casos de portadores de necessidades especiais físicas, porém há casos de patologias mentais, onde 07 (sete) adolescentes que estão passando por tratamento no Centro de Cuidados à Dependentes Químicos – CCDQ. Internamente unidade dispõe das seguintes atividades pedagógicas: salas de aula (convênio com a SEDUC – Ensino Fundamental), oficinas (miriti, biscuit, fuxico) e capoeira. Ainda não há cursos de profissionalização. Quando os adolescentes não se identificam com as opções oferecidas pela unidade procura-se verificar o que o adolescente quer realizar, dentro das possibilidades que a Unidade possa ofertar. A gerência ressaltou ainda que as parcerias estão bem difíceis, mas estão “correndo atrás”. Para inserir os adolescentes em atividades externas são adotados os seguintes critérios: quando o adolescente já está na fase conclusiva (quando vislumbra a possibilidade de progredir para Medida Sócio-Educativa de Semiliberdade ou a extinção do processo); e também para a visita familiar, porém anteriormente a realização dessa atividade externa, o adolescente terá que passar por uma avaliação psicológica. As Técnicas procuram fornecer informações sobre o ECA individualmente, de acordo com o ato infracional cometido por cada adolescente. Durante a gestão desta gerência não houve nenhum tipo de rebelião na Unidade. A gerente relatou que alguns adolescentes reclamam de violências físicas dentro da unidade, e quando o interno quer, é encaminhado para procedimento policial no Centre de Perícias Renato Chaves e para a DATA. Quando ocorre fugas, só se reinicia o cumprimento da Medida Sócio-Educatica se o adolescente vem da fuga com novo ato infracional, e nos demais casos a idéia é aproveitar o tempo anterior. O Regimento Interno é antigo no Projeto Político Pedagógico da Unidade, e já existe um regimento específico da FUNCAP que está sendo trabalhado na Unidade. Em casos de desrespeito as normas eles podem receber punições, tais como: contenção, com a perda do direito à recreação e finais de semana. Por fim a maior dificuldade ressaltada pela gerência é o espaço, visto que o local era uma delegacia antiga, e devido a isso a estrutura física dificulta o trabalho pedagógico. A equipe também não é a ideal, mas na maior parte é boa. 27 5.4. Relação dos adolescentes entrevistados Nº 01 02 03 04 IDADE 12 16 17 17 INFRAÇÃO Art. 155 CPB Art. 155 CPB Art. 121 CPB Art. 121 CPB ÓRGÃO ENC. CIAM/CJM/Val de Caes Polícia Civil/CIAB Juizado de Cametá Juizado da Capital ENTRADA 31/08/09 10/08/09 19/05/09 30/06/09 SIT. ESCOLAR 1ªEtapa 2ª Etapa 6ª Série 1ª Etapa 5.5. Entrevista com os Adolescentes Nesta unidade foram entrevistados 04 (quatro) adolescentes. E de uma maneira geral os entrevistados relatam que foram bem recebidos, e sentem-se mal apenas por estar com a liberdade tolida. No quesito profissionalização, nenhum recebe. Em relação às atividades, os adolescentes realizam curso de Biscuit, assistem filmes, e dentre outras, podem escolher. Em relação à visita familiar, apenas 01 (um) entrevistado afirma não receber visita, os outros mantêm contato semanal de uma hora, inclusive há um relato de um entrevistado que disse que sai uma vez na semana para almoçar na casa do pastor e volta posteriormente. Em relação ao atendimento médico, dizem que demora em necessidades noturnas, e um entrevistado disse que se insistir muito levam para o hospital, outro diz que não há este atendimento, pois não há transporte para esta condução. Ao quesito formação do ECA, informaram que nunca souberam desta formação, sendo que dois entrevistados afirmaram não ter interesse em saber sobre o tema. Os entrevistados afirmam que existe violência no Centro, e que parte tanto dos adolescentes, quanto por parte de alguns monitores. Em relação aos alojamentos, os adolescentes relataram que é muito ruim, e um entrevistado, inclusive relatou que dorme no chão, onde passa ratos, e existe um alojamento que não possui área de iluminação solar. Um dos entrevistados já solicitou falar com seu advogado, e três são tratados com respeito e dignidade, desde que não provoquem ninguém. Quanto aos objetos de higiene, os entrevistados afirmaram que não é suficiente. A punição em caso de cometimento de irregularidade no interior da Unidade é a contenção. 28 No que se refere às refeições, os entrevistados relataram que recebem 05(cinco) refeições diárias e nunca ficaram sem comer, com referência a qualidade da comida servida da Unidade, apenas um adolescente avaliou como sendo boa, os outros são incisivos em dizer que é ruim. Em relação à água, três entrevistados afirmaram que sempre recebem água, sendo que outro entrevistado diz que a água é da torneira, e dificilmente os adolescentes recebem água durante a madrugada. No que tange as técnicas, os entrevistado ressaltaram que existem algumas que são boas e outras ruins, mas no geral são boas. Em referência aos monitores são razoáveis, existe alguns que exageram, e fazem coisas com raiva. Com relação ao centro de internação é razoável, e traz benefício no sentido da educação, e para a melhoria deveria ter mais profissionalização, e também melhorar a questão dos materiais de higiene pessoal. 5.6. Considerações: Não dá para tolerar mais uma vez que um espaço que era uma antiga delegacia e que nem para isso servia mais, ser então, utilizado para um centro de internamento. Ora o que se pode esperar de um espaço como esse? Que seja adequado ao atendimento de adolescentes aquém se atribui a prática de ato infracional? É realmente tolerar muito a violação do mínimo necessário para que esses meninos tenham possibilidade de passar por um processo de oportunize experiências para a construção de um novo projeto de vida. Os relatos dos adolescentes são claros em afirmar que vivem em local em “ parceria” com ratos e outros animais peçonhentos, pois caso façam um mínimo de reclamação isso pode resultar em violência. Será que é digno viver dessa forma? Por que isso é tolerado? Não se está vivendo um contexto de abandono? Perguntas como essas são um desafio para toda a sociedade. O que se deve esperar desses adolescentes quando saírem desse centro de internamento, que sejam pessoas melhores porque sofreram? A quem culpar então? Aos servidores que lutam para manter um mínimo de sanidade para conduzir um atendimento sem condições? Ou a uma ausência de políticas de garantia de direitos que respeite a dignidade humana que respeite Crianças e adolescentes como sujeitos de direitos? 29 Os relatos de violência na unidade são freqüentes e se observou que os adolescentes estavam muito tensos, com certo temor em dar declarações para a equipe. Deve-se destacar que era visível o esforço da equipe técnica em tentar buscar alternativas para desenvolver atividades com os adolescentes mesmo dentro daquele espaço. É necessário que os relatos de violência sejam apurados com o rigor que se exige em situações como essas, pois nada justifica com que esses meninos ainda sejam submetidos a mais violência do que já são por viverem em espaços tão degradantes. É bom ressaltar que os adolescentes não generalizam quanto aos atos de violência que ocorrem na unidade, destacam que esses são atos que ocorrem por parte de alguns adolescentes, de alguns monitores de policiais militares, mas que precisam com que a Gerência da unidade tome todas as precauções necessárias e remeta providencie com que tudo seja apurado e os responsáveis punidos. VI. RELATÓRIO DE VISITA AO CENTRO DE INTERNAÇÃO JOVEM MASCULINO CIJAM. O Centro de Internação Jovem Adulto Masculino – CIJAM, abriga jovens em cumprimento de medida sócioeducativa de internação. Visitamos esta unidade no dia 17 de setembro de 2009, momento em que havia 51 (cinqüenta e um) internos. Entrevistamos um técnico (psicólogo) e 10 (dez) adolescentes. 6.1. Quadro de funcionários Função Assistente social Advogado Psicólogo Pedagogo Psiquiatra Médico Enfermeiro (técnico) Professor (SEDUC) Monitor Dentista Prof. Ed. Física Outros* Quantidade 04 03 03 01 02 Aprox. 45 06 Periodicidade seg. à sex. – plantão aos domingos seg. à sex. – plantão aos domingos seg. à sex. – plantão aos domingos diariamente 12h/12h (turnos alternados) 12h/36h plantão - *Agentes de artes práticas (cozinha e limpeza). 30 No quadro de segurança ficam 02(dois) inspetores de segurança ou 02(dois) policiais militares na área externa do Centro. 6.2. Estrutura Física do Centro Em relação ao espaço físico, o técnico informou que o espaço conta com as seguintes dependências: portaria, administração, 03 (três) salas dos técnicos, gerência, secretaria, enfermaria, 02 (duas) salas de aula, 28 alojamentos. 6.3. O Atendimento O atendimento técnico é realizado conforme a necessidade do adolescente. Em média um técnico atende 17 (dezessete) adolescentes. O acompanhamento familiar é feito nas reuniões com a família (semanal) e em visitas domiciliares sempre que possível. Segundo o técnico, o acompanhamento psicossocial tem conseguido avançar, às vezes sim, às vezes não, pois trabalhar com jovem e adulto é muito trabalhoso e difícil. Os jovens trazem muitas histórias que não é possível trabalhar tudo. O atendimento é comprometido pelas limitações do espaço e da dinâmica do trabalho. Existem reuniões às quartas-feiras com as famílias, as quintas-feiras com os técnicos, e não há reuniões com os adolescentes. De acordo com o psicólogo entrevistado, não há uma capacitação real para os profissionais que ingressam na Instituição. Ao longo do trabalho há mini cursos e palestras. Alguns monitores, por disposição própria, contribuem para a reeducação. Ao chegar à Unidade o adolescente passa por uma avaliação inicial que é realizada pelo médico do Centro, que encaminha o interno, quando há necessidade, para a rede especializada externa. Atendimento odotonlógico é feito no posto de águas lindas. Em caso de urgência médica noturna aciona-se a Sede da FUNCAP para mandar o motorista. Segundo o técnico entrevistado, nunca vem nutricionista no Centro, e ressaltam que a SEDE tem um nutricionista, mas nunca viu este cardápio. Nos casos de adolescentes portadores de necessidades especiais, o técnico relatou que nunca houve um caso. Internamente o Centro dispõe das seguintes atividades pedagógicas: curso de pintura, percussão, teatro, violão, visitas e passeios. No anexo ao Centro, há ensino 31 médio e fundamental. Não há cursos de profissionalização. Dentro da Unidade também funciona a panificação. Quando os adolescentes não se identificam com as opções oferecidas pela unidade, dificilmente existe a busca de outras opções, visto que as parcerias estão muito difíceis. Alguns monitores tomam a iniciativa de trazer a música para dentro do Centro. Para inserir os adolescentes em atividades externas são adotados os seguintes critérios: a partir das fases do atendimento (cada mês corresponde uma fase), geralmente a partir do terceiro mês os internos podem começar a sair. Em épocas específicas os jovens podem passar o dia com a família. As dúvidas sobre o ECA são fornecidas nos atendimentos. Os jovens que estão no CIJAM vêm de outras Unidades e em tese já receberam tais informações. Segundo o técnico entrevistado, nunca houve nenhum tipo de rebelião na Unidade. O técnico relatou que dificilmente os jovens reclamam. Acredita que há uma “Lei do silêncio”. E quando os jovens dominam os agressores (por duas vezes) é feito o afastamento. Não há um regimento interno, o que existe na Unidade são normas e procedimentos, e também uma progressão nas alas (C – solitária, B, A), sendo que a ala C é para observação do jovem que chega. A sanção mais aplicada é contenção de três à cinco dias. Ressaltou ainda, que todos os internos têm conhecimento das normas. Nos casos de fuga dos internos o prazo da Medida Sócio-educativa que lhe foi aplicada é reiniciado. Por fim a maior dificuldade ressaltada pelo técnico são questões estruturais, pois o prédio é ruim e inadequado, e também há dificuldades em relação aos servidores (qualitativo e quantitativo). 6.4. Relação dos adolescentes entrevistados Nº 01 02 IDADE 18a 18a 03 20a INFRAÇÃO Art. 157 CPB Art. 157§ 3º CPB Art. 157 CPB ÓRGÃO ENC. Juizado da Capital Juizado da Capital ENTRADA 17/08/09 05/09/09 SIT. ESCOLAR 3ª Etapa Não está estudando Icoaraci 27/05/09 2ª Etapa 32 04 05 06 07 08 09 10 20a 18a 18a 18a 18a 18a 18a Art. 121 CPB Art. 155 CPB Art. 157 CPB MBA Art. 121 CPB Art. 121 CPB Art. 157 CPB Senador Porfírio Icoaraci Juizado da Capital Marabá Augusto Correa Juizado da Capital Ananideua 02/06/09 08/06/09 16/02/09 06/11/08 15/06/09 14/03/09 05/06/09 2ª Série 6ª Série 3ª Série 3ª Etapa 4ª Série 2ª Etapa 3ª Etapa 6.5. Entrevista com os Adolescentes Nesta unidade foram entrevistados 10 (dez) adolescentes. Em relação ao recebimento 03 entrevistados relataram que chegaram e foram direto para um alojamento isolado, sendo que dormiram na “pedra”, e os outros relataram que foram bem recebidos. Dentre os 10 jovens entrevistados apenas 01 foi três vezes para o curso de panificação, sendo que, o restante nunca teve contato com a profissionalização. Em relação às atividades realizadas, apenas 02 jovens entrevistados afirmaram não realizar nenhum tipo de atividade, os outros relataram, trabalhar na horta, praticam futebol e capoeira, e apenas 01 entrevistado afirmou que os internos podem escolher as atividades desenvolvidas pelo Centro. Em relação ao contato com a família, o direito existe, e quando o contato não é pessoalmente, os internos podem realizar contato telefônico com seus familiares, que se dá uma vez por semana, porém alguns entrevistados relataram que este contato se dá de 15 em 15 dias em média com o período de uma hora. Em relação à utilização de medicamentos, apenas 01 dos entrevistados afirmou que está fazendo uso de medicação para dor de dente, no entanto, fez uso deste medicamento apenas por um dia. Em relação ao atendimento médico, os entrevistados informaram que demora muito, inclusive 03 jovens relatam está necessitando deste atendimento, e não receberam o atendimento. Declararam ainda que durante à noite não existe atendimento médico. Quanto a formação do ECA, nenhum dos entrevistados receberam orientações a esse respeito, e apenas um declarou não ter interesse sobre este assunto, e os demais manifestaram-se positivamente pelo conhecimento deste tema. Em relação à violência, apenas 02 afirmaram que não existe violência no interior do Centro, os outros afirmam que a violência é constante por todos os meios e de todas as partes, inclusive por parte dos monitores. 33 Em referência ao alojamento, os entrevistados relataram desconforto, principalmente no que tange a falta de luz, inclusive alguns declararam haver goteiras em seus alojamentos. Dos entrevistados, 03 afirmaram já terem ficado incomunicáveis, sendo que 02 declaram ter ficado sem tomar banho. A maioria dos entrevistados relatou serem tratados com respeito e dignidade. Dentre os entrevistados, 09 receberam material para higienização, e um disse que o material é fedorento. Em relação a punição declararam que ficam de contenção de dez à quinze dias, além de haver um anexo que é uma cela onde os internos ficam só e é fétido, insuportável. Afirmam receber 05 refeições diárias e nunca ficaram sem se alimentar, e 02 entrevistados declararam que a comida é boa, os outros são taxativos em dizer que a alimentação é ruim, e contém cabelo, e que inclusive, já receberam comida azeda. No que se refere à ingestão de água, dentre os entrevistados, 03 informaram que é difícil beber água, tendo até que realizar manifestações para terem o direito de tomar água quando desejam. Outros entrevistados relatam que tomam água com ferrugem. A maioria dos entrevistados afirmou que são bem atendidos pelos técnicos, porém houve 01 entrevistado que relatou ser julgado pelo técnico, por isso ressaltou que não gosta do atendimento técnico. Em relação aos monitores, a maioria dos entrevistados acha razoável o comportamento dos monitores com os adolescentes, porém 01 entrevistado informou que os monitores os tratam com respeito, mas o restante dos entrevistados ressaltou ainda que os monitores batem e gritam com os internos. Em relação à Unidade, a maioria dos entrevistados não gosta e não vêem benefícios na mesma, tanto em relação à estrutura física, quanto em relação às atividades. Quanto à melhoria da Unidade, os entrevistados dizem que gostariam de receber mais cursos de profissionalização, sendo que 01 entrevistado ressaltou não gostar da gerente, visto que ela beneficia uns internos em detrimento dos outros. 6.6. Considerações. 34 Não diferenciando dos outros centros de internamento as condições físicas estruturais são muito ruins, e isso é uma afirmação não só dos adolescentes mais também da equipe técnica do local. Notou-se que as atividades realizadas são muito poucas e sem um direcionamento que conduza a uma resposta dos adolescentes, a ociosidade é muito presente e o número de adolescentes no centro, no momento da visita também era muito elevado para o espaço. A insalubridade, dificuldades no fornecimento de água até mesmo para beber, e uma alimentação com indicativos de pouca higiene, também foram reclamações muito presentes no relato dos adolescentes. Há de se destacar que como esse centro faz atendimento de jovens, as dificuldades são ainda maiores, pois a ausência de uma proposta que leve em consideração essa especificidade só agrava as condições de violência no local, algo denunciado como um dos grandes problemas pelos adolescentes. Além do relato feito pelos adolescentes de ausência de sol e ventilação nos alojamentos, isso é agravado pelas condições climáticas de Belém, com temperaturas que chegam a trinta e cinco graus e uma forte umidade. Enfim, é necessário que seja analisado tudo o que o Estado do Pará quer com o atendimento de seus adolescentes, se vai ou não cumprir com as diretrizes e normas nacionais e internacionais, se quer “produzir” mais violência, ou se quer gerar dignidade e respeito? Só assim se pode construir um novo diálogo onde se buscará resultados na execução na execução da medida de internação. VII. CENTRO SÓCIOEDUCATIVO DO BAIXO AMAZONAS - CESEBA O Centro abriga adolescentes em cumprimento de internação e internação provisória. Visitamos esta unidade no dia 15 de setembro de 2009, momento em que havia 38 (trinta e oito) internos. Entrevistamos o gerente e 08 (oito) adolescentes. 7.1. Quadro de funcionários Função Assistente social Advogado Psicólogo Pedagogo Psiquiatra Médico Técnico de Quantidade 04 01 02 02 Periodicidade Segunda a sexta e plantões Segunda a sexta Segunda a sexta Segunda a sexta (um pela manhã 35 Enfermagem Professor (SEMED) Monitor Dentista Prof. Ed. Física Outros * 02 52 06 e outro pela tarde) Segunda a sexta Diaristas e Plantão 12h por 48h - *Cozinheiro, agentes de portaria de limpeza, 02 mediadores (inspetor de segurança), coordenador de secretaria, coordenador de manutenção. A unidade conta, ainda com dois policiais militares, os quais ficam fora da unidade. 7.2. Estrutura Física do Centro A unidade conta com as seguintes dependências: portaria, quadra de esportes, cozinha, lavanderia, 12 quartos, sala de atendimento, enfermaria, sala da monitoria, mini auditório e duas salas de aula. 7.3. O Atendimento O atendimento é feito de acordo com cronograma. Um técnico é responsável por atender em média 08 adolescentes. Cada assistente social atende de 04 a 08 adolescentes e o psicólogo atende todos, pois é apenas um. Além do atendimento individual ocorrem atendimentos em grupo, por meio de dinâmicas. É feito também atendimento à família, inclusive por meio de visita domiciliar. O gerente relatou acreditar que o acompanhamento psicossocial dado pelos técnicos tem alcançado seu objetivo. O próprio relacionamento dos adolescentes com os técnicos ficou mais próximo. Relatou, ainda, que existem reuniões entre técnicos, monitores, família e adolescentes. As reuniões da equipe técnica ocorrem todas as quintas-feiras. A reunião geral é bimestral (ficam fora família e adolescentes) e as assembléias com os internos são bimestrais. Ocorre almoço com as famílias em datas comemorativas, por exemplo, Dia dos Pais. Em relação à formação dos monitores informou que estes receberam uma semana de estudos sobre o ECA e SINASE. Houve um estágio inicial. Revelou acreditar que parte dos monitores é engajada no trabalho. Sobre as atividades pedagógicas destacou as que estão ocorrendo atualmente: salas de aula, visitas (museu, zoológico, escola da floresta), informática (parceria com a SEDUC). Atividade de profissionalização apenas a horta. A escola funciona na própria unidade (somente o Ensino Fundamenta). Os que estão no Ensino Médio tiveram que parar de estudar. Os que não são atendidos pela educação na unidade 36 estão inscritos no Núcleo Avançado do Ensino Supletivo (NAES), mas somente a partir dos 18 anos. Para o adolescente participar de atividades externas é utilizado como critério à observação do comportamento. O jovem é avaliado. Ressaltou que atualmente em torno de 13 adolescentes saem para convivência familiar, de segunda a sexta. Em casos que o interno não se identifique com as opções de atividades oferecidas pela unidade é dada a oportunidade sugestão e se buscam parcerias. Disse que um adolescente está treinando fora da unidade em um clube amador para o Campeonato Santareno. No atendimento inicial é feita avaliação pela equipe da unidade e quem conduz o adolescente até a unidade somente é liberado após essa avaliação. O atendimento médico e odontológico é feito pela rede de serviços. O gerente nos relatou que nunca houve caso de adolescente portador de necessidades especiais. Mas que um adolescente com transtornos mentais foi encaminhado à Belém para atendimento especializado. Em casos de urgência médica noturna se o motorista não estiver na unidade chama-se a ambulância. A dieta alimentar dos internos não é planejada por nutricionista. A FUNCAP encaminha para a unidade e esta faz as adequações de acordo com as peculiaridades locais. Em relação a formações a cerca do ECA aos meninos o gerente informou que nas assembléias (bimestrais) discuti-se com eles sobre direitos e deveres. Alguns adolescentes pedem o estatuto e são atendidos. Sobre a ocorrência de rebeliões disse que não ocorreram durante os sete meses que assumiu a gerência. No entanto, recebe reclamações de violências cometidas por funcionários da unidade. Nestes casos a providência tomada é pedir a saída do funcionário, o que efetivamente já ocorreu e o advogado da FUNCAP informou que será aberto PAD para verificar a situação. O Regimento Interno é geral e nele não estão previstas sanções. Existe um documento denominado “Normas disciplinares no atendimento sócio educativo” que é utilizado. Este documento foi trabalhado com os adolescentes que estavam na unidade à época. Disse que não é mais utilizado o espaço de contenção, agora o adolescente que transgride as normas fica sem determinadas atividades, restrito ao seu quarto. Informou, também, que em caso de fuga o prazo de cumprimento da medida continua, não é reiniciado. 37 Ao final da entrevista o gerente destacou que a falta de alguns materiais (toalhas, por exemplo) está entre as dificuldades que a instituição enfrenta atualmente. Porém, a maior dificuldade é lidar com os servidores. 7.4. Relação dos adolescentes entrevistados N° 01 IDADE 15 02 03 04 05 06 16 16 17 17 17 07 18 08 16 INFRAÇÃO ÓRGÃO ENC. Art. 157 § 2º I e II Comarca de Medicilândia e 3º, II e 211 Art.: 157, § 3º. Comarca de Juruti Art. 157 § 2º I e II Comarca de Óbidos Art. 155 Comarca de Almerin Art.: 157, § 3º. Comarca de Altamira Art. 121Art. 14, II Comarca de Almerin do CP Art. 121 Comarca de Óbidos Art. 121 Comarca de Monte Alegre ENTRADA 12/04/2008 SIT. ESCOLAR 3ª Etapa 19/02/2009 12/12/2008 30/08/2009 06/04/2008 26/08/2009 3ª Etapa 3ª Etapa Não está estudando 3ª Etapa 3ª Etapa 01/03/2008 3ª Etapa 27/08/2009 Não está estudando 7.5. Entrevista com os Adolescentes Em relação ao recebimento na unidade e ao sentimento que sentiram ao entrar na unidade foram unânimes afirmando que foram bem recebidos, alguns sentiram medo, um afirma ter sentido raiva por estar lá, na maioria o sentimento unânime é a tristeza. Quanto à questão da profissionalização são incisivos em afirmar que não a recebem. Em relação às atividades que praticam todos fazem alguma, dentre elas, jogar futebol, artesanato, filmes, relatam com muita incidência a participação da UEPA (Universidade Estadual do Pará) que fazem recreação junto aos adolescentes, 05 afirmam que podem escolher as atividades. Em relação ao contato com a família, importante ressaltar que é insatisfatório, devido as distâncias entre as cidades,tendo em vista que, os meninos são de outras localidades, 02 afirmam não ter nenhum tipo de contato com a família, 01 diz que uma vez por mês recebe uma visita, com a duração de uma hora, 02 afirmam que fazem contato por telefone quando necessário, em média uma vez por semana, 02 afirmam que já passaram o dia fora da unidade com a família e retornaram no fim do dia. Quanto a questão de remédios, todos afirmam que não tomam remédio, um diz que só toma analgésico caso tenha alguma dor, e um relata que não toma e que nunca foi avaliado por um médico. 38 Em relação ao atendimento médico, 03 afirmam que demora e que para ser atendido tem que insistir, os outros afirmam que primeiro levam para a enfermaria e caso seja grave levam ao hospital, em relação ao atendimento noturno um adolescente afirmou que dão um remédio e no outro dia, caso necessário levam ao hospital. Quanto á formação acerca do ECA 02 afirmam que receberam a formação na assembléia dos adolescentes, e um afirma não concordar com a medida, pois, ela está muito fechada. Um afirma não ter interesse em saber nada acerca dos seus direitos, 05 afirmam ter interesse em receber a formação. Quanto a questão da violência 01 afirma não haver, 01 afirma que antes da entrada deste gerente os PMs entravam no centro e batiam nos adolescentes, no entanto, este fato não ocorre mais, 01 afirma existir violência por parte dos monitores, e os outros afirmam que a violência existe, só que é por parte dos adolescentes, um afirma inclusive que já foi agredido. Em relação aos quartos, afirmam que é limpo, pois, eles mesmo fazem a limpeza, é pequeno, e o maior problema é a falta de ventilação, o que causa um calor insuportável, dividem o quarto com em média com 03 adolescentes. Nenhum dos adolescentes já falou com o promotor, apenas 02 afirmam saber que podem escrever para qualquer pessoa do Estado, apenas 02 já solicitaram falar com seu advogado, 05 afirmam que são informados acerca da situação processual, 06 afirmam que são tratados com respeito e dignidade, todos afirmam receber os objetos necessários para a higiene pessoal, 07 afirmam não possuírem local para guardar seus objetos pessoais, 02 afirmam que já ficaram incomunicáveis. Em relação a punições em caso de cometimento de alguma irregularidade, afirmam ficar sem recreação, contidos no quarto, só vão para a aula, os dia depende do grau da atitude, outros afirmam que vai para o CIAB. Sete afirmam que recebem 05 refeições por dia e 01 afirma que recebe 06, todos dizem que nunca ficaram sem comer, quanto à qualidade 06 afirmam que é boa, e 02 dizem que não é variada, e que o frango vem cru. Em relação à água, 07 afirmam que sempre tomam, quando querem, e 01 afirma que nem sempre é assim, pois, existem alguns monitores que tem preguiça de pegar água para os adolescentes. Em relação aos técnicos os adolescentes afirmam que são bons, conversam bem, no entanto, há uma dificuldade no atendimento que é o abarrotamento nos horários, assim fica difícil fazer o atendimento de forma mais cotidiana, demora muito para conseguir o atendimento. 39 Quanto aos monitores 05 afirmam que são legais e que conversam com os adolescentes, os outros afirmam que não são tão legais, inclusive havendo alguns que maltratam e agridem os adolescentes. Quanto ao centro de internação 05 adolescentes afirmaram que o centro é ruim, não trouxe benefícios, que é sujo, um inclusive afirma que vai sair pior do que entrou. Quanto à melhoria no centro, 01 adolescente afirma que não deveria haver algemas, outros afirmam que deveria aumentar o tempo de recreação, deveriam investir em profissionalização dos adolescentes, e deveriam colocar ventiladores nos QCs. 7.6. Considerações: Em comparação com o último monitoramento feito pelo CEDECA na unidade de Santarém, são visíveis algumas melhorias no atendimento. Não houve mais relato de violência praticada por policias, os alojamentos estavam limpos, havia atividades sendo realizadas com os adolescentes e até mesmo, a fala dos próprios meninos destacou estas melhorias. O que ainda ficou evidente é a falta de material para a realização de atividades, o que demonstra que isso é uma realidade de todos os centros de internamento, assim como, também relatos de violência praticada por adolescentes e por alguns monitores. Situações que ainda persistem são a falta de uma proposta sistematizada de atendimento que esteja de acordo com o SINASE (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo) e também a falta de espaço físico com condições de realizar a medida socioeducativa de internação. A execução de pequenas obras/consertos, com barulho de ferramentas, estressa ainda mais os internos, que padecem com o calor extremo próprio desta época do ano, agravado pela estrutura do prédio, com pouca ventilação. Ressalte-se que a unidade era anteriormente um presídio. Vimos que alguns adolescentes se movimentam dentro da unidade, fora dos quartos, executando pequenos serviços. O que assustou nos relatos foi à fala de alguns adolescentes em declarar que quando saírem da unidade sairão bem pior do que entraram, demonstrando um certo rancor por estarem passando situações de violações de direitos o que precisa ser abordado pela equipe sociopedagogica; também a humilhação que sofrem com o uso excessivo de algema vem repercutindo muito negativamente nos adolescentes, é necessário romper com está prática ilegal e cumprir o que já determina a súmula 40 vinculante Nº 11 do STF, pois esta é uma decisão que vale para todos, não só para grandes empresários ou banqueiros. Deve-se ressaltar que a decisão da gerência em não permitir mais que a PM entre no centro de internamento é uma decisão acertada, pois não só possibilitou a diminuição dos confrontos com os adolescentes, como melhor enquadra o papel dos centros de internamento de socioeducação e não de pura punição repressiva. Nota-se que na unidade tem muitos adolescentes da zona rural e com baixíssima escolaridade, tornando mais complexa a questão da oferta de cursos e profissionalização, esta última, por sinal, nos pareceu uma grande ausência no programa pedagógico da unidade. VIII. CENTRO SÓCIO-EDUCATIVO FEMININO - CESEF O Centro abriga adolescentes em cumprimento de internação e internação provisória. Visitamos esta unidade no dia 11 de setembro de 2009, momento em que havia 08 (oito) adolescentes na internação e 08 (oito) na internação provisória. Entrevistamos uma técnica da unidade (assistente social) e 04(quatro) adolescentes. 8.1. Quadro de funcionários Função Assistente social Advogado Psicólogo Pedagogo Psiquiatra Médico Técnico de Enfermagem Professor (SEDUC) Monitor Dentista Prof. Ed. Física Outros * Quantidade 03 02 01 01 02 Periodicidade Diariamente Diariamente Diariamente Uma vez por semana Plantão 12h/24h 08 39 01 34 Todos os dias Manhã/Tarde Plantão de 12h/48h Uma vez por semana - *Agente administrativo (04), motoristas (02), agentes de artes práticas, agente de portaria (07). A segurança da unidade é garantida pela Polícia Militar feminina. Ao total são 06, sendo 02 por plantão de 24h por 48h. 8.2. Estrutura Física do Centro 41 No andar superior há as seguintes dependências: sala dos técnicos, secretaria administrativa, secretaria da adolescente, sala da SEDUC, sala de atendimento, sala do pedagógico, banheiro. No térreo há sala de aula, banheiro, sala da cautela, enfermaria, cozinha, 02 salas de almoxarifado. No hall de entrada há 02 banheiros, sala de revista, sala do motorista, guarita, garagem, quarto da segurança. Na ala da custódia há um depósito, uma sala de aula, sala da monitoria, lavanderia, 04 salas de aula, 12 quartos. 8.3. O Atendimento Sobre o atendimento a técnica nos informou que primeiramente é feita abordagem inicial com a adolescente. Com as famílias são realizadas visitas domiciliares e quinzenalmente fazem-se reuniões, sendo sistemático o contato com as famílias por meio do psicólogo e do assistente social. Os técnicos buscam refletir com a adolescente sobre o ato infracional, procurando evitar a reincidência. Cada técnico é responsável pelo atendimento de 04 adolescentes. A entrevistada relatou que certamente o acompanhamento psicossocial dado pelos técnicos tem alcançado seu objetivo, porque quando se pede uma avaliação da própria adolescente ela mesma percebe uma evolução no comportamento, do modo de expressar, nas atitudes. Informou que ocorrem reuniões quinzenais com técnicos e os familiares. Há também assembléias das adolescentes, reuniões de técnicos, monitores e adolescentes. Ocorrem reuniões de estudo, só a equipe técnica e constantemente a gerente reúne com os monitores. A monitoria também faz reuniões entre eles para discutir o trabalho. Disse que os monitores recebem formação através da Escola de Governo, no entanto não recorda da última ocorrida. Alguns demonstram maior interesse e todos têm noções sobre o ECA e SINASE. Percebe que alguns entendem a finalidade maior do cumprimento da medida, o objetivo do trabalho. Outros entendem que servem apenas para reparar e fiscalizar as adolescentes. Os técnicos é a gerência trabalham para tentar mudar essa mentalidade. Quanto às atividades pedagógicas realizadas atualmente disse que há palestras temáticas; filmes; oficinas de musicalização e dança; cursos de manutenção de celular, artesanato e bombons. Há profissionalização através de atividades externas: cursos de 42 informática, estágio no TJE. Também há atividades externas de esporte, lazer e cultura no Apoena. Saída para atividades externas só é possível após uma avaliação da equipe técnica junto a adolescente, levando em consideração a percepção da medida sócioeducativa, a situação de droga, a noção de responsabilidade quanto a fuga. Passar o final de semana com a família só é possível na semiliberdade. Caso uma adolescente não se identifique com as opções de atividades oferecidas pela unidade ouvi-se sua sugestão e procura-se a Sede para verificar a possibilidade. Ao ser inserida na internação normalmente a adolescente passa por uma avaliação no setor de enfermagem e depois é avaliada pelo médico quando este comparece a unidade. As meninas também são encaminhadas para realização de exames no CESUPA, CTA, Laboratório Central e Centros de Saúde. Fazem tratamento odontológico na rede de serviços. Em casos de urgência médica noturna encaminham para os Postos de Urgência. Em casos de adolescentes portadores de necessidades especiais encaminham para atendimento especializado em entidade específica, por exemplo, na APAE. A dieta alimentar das internas é planejada por nutricionista, a qual encaminha da Sede à unidade A equipe procura esclarecer sobre o ECA. A entrevistada afirma que as meninas têm noção dos direitos que não foram atingidos pela sentença. No acolhimento é esclarecido à elas que a internação é um espaço de contenção provisória de sua liberdade visando contribuir na sua formação como cidadã. Quanto a ocorrência de rebeliões a técnica nos informou que já ocorreram mais ou menos três. As reivindicações seriam por causa da aplicação da contenção (ficar no quarto, sem participar das atividades). Informou que há reclamações de violência física cometida por educador (monitor). Nesses casos há primeiramente uma conversa, se houver reincidência encaminha-se para justificar esse procedimento. No regimento interno não há previsão de punições caso alguma adolescente cometa alguma irregularidade. Somente constam os direitos e deveres. Na unidade tem conhecimento apenas da existência de um “Termo de Obrigações”, onde estão previstas penalidade. São utilizadas as seguintes punições: perda da recreação e perda de saída para atividade externa. A mais aplicada é a primeira. 43 Em casos de fuga se a adolescente retornar até 24h a medida continua. Porém, se demorar mais de 72h só retornará com a determinação do juiz, especificando as condições da MSE. Ao final da entrevista a técnica relatou quais as principais dificuldades que a instituição enfrenta atualmente: de transporte, pois há somente um carro para tudo; precisa de mais um médico; dificuldade de vestuário para as adolescentes, em virtude das roupas serem masculinas; dificuldade de regularizar a documentação, especialmente no acesso prioritário ao serviço, assim como no atendimento à saúde na rede de serviços. 8.4. Relação dos adolescentes entrevistados N° 01 02 03 04 IDADE 14 13 16 15 INFRAÇÃO Lei 10.826/03 Art. 129 Art. 121 Art. 129 ÓRGÃO ENC. Juizado da Capital Juizado da Capital Comarca de Uruará Comarca de Gurupá ENTRADA 28/08/2009 29/08/2009 07/07/2009 12/09/2008 SIT. ESCOLAR 4ª Etapa 2ª Etapa 6ª Série 3ª Etapa 8.5. Entrevista com os Adolescentes Nesta unidade foram entrevistadas 04 adolescentes que relataram que foram bem recebidas pelos técnicos. O sentimento geral foi de tristeza por ficar longe da família. Uma relatou ter entrado em depressão e outra sentiu medo e arrependimento e outra se sentiu triste por ter sido acusada por algo que não cometeu. Todas estudam na unidade acolhedora, só não fazem a profissionalização. Em relação às atividades podem escolher e participar se tiverem vontade (não são obrigadas), as atividades relatadas foram: pintura, musicalização, teatro, artesanato, televisão/vídeo, ed. Física (expressão corporal), escola circo. Todas as entrevistadas relataram que recebem visitas de seus familiares e as visitas duram em média duas horas, sendo que 01 relatou que recebe 03 visitas mensais e que a mãe fica de manhã até a tarde. Relatam que tomam medicamentos para gripe, insônia, manchas no rosto, resfriado, cirrose hepática, vitaminas. Quando precisam de atendimento médico recebem. Caso passem mal durante a noite as meninas têm que esperar amanhecer. Em uma ocasião um monitor precisou levar a adolescente em seu próprio carro, pois não havia carro da unidade para levá-la. Quanto a formação sobre o ECA, informam que não recebem. Algumas técnicas falam dos deveres dos adolescentes. As entrevistadas relataram que gostariam de 44 saber sobre: internação, ECA, sexualidade, doenças diversas, artesanato, operadora de caixa. Em relação à violência relataram que não sofrem. Informaram que as instalações dos alojamentos estão em boas condições, são limpos diariamente, tem água, luz e banheiro. Uma relatou que faz muito calor dentro do quarto. As entrevistadas dividem o quarto com mais uma adolescente. Apenas uma das internas informou que tem direito de falar pessoalmente com o promotor. Consideram que não podem escrever para as autoridades do Estado. Três afirmaram que não solicitaram falar com advogado. Todas disseram que recebem informação sobre sua situação processual e todas consideram que são tratadas com respeito e dignidade. Caso cometam alguma irregularidade recebem como punição a contenção (isolada) ou “pega quarto” (sem recreação). Recebem 05 refeições diárias e nunca ficaram sem as mesmas. Afirmaram que a alimentação é de boa qualidade, porém uma entrevistada relatou que só servem frango e carne e às vezes é mal cozida. Todas têm acesso ao bebedouro, portanto bebem água todas as vezes que tem sede. Em relação aos técnicos e monitores relatam que são bons, tiram as dúvidas, dão conselhos, conversam e tratam bem. Somente uma relata que alguns técnicos não falam coisas adequadas. Perguntamos o que acham da unidade e responderam que o espaço é bom, serve para refletir sobre suas vidas, podem prestar mais atenção nas aulas e podem ser encaminhadas para estágio. Destacaram que algumas coisas precisam melhorar com ter uma quadra de esporte, ter psicólogo, curso de informática, mais brincadeiras, reunião uma vez por mês com as famílias, um almoço por exemplo. 8.6. Considerações: Novamente observamos que o número reduzido de socioeducandas na unidade contribui decisivamente para o desenvolvimento de um trabalho melhor qualificado, evitando uma sobrecarga no atendimento técnico, e viabilizando melhores condições de se atingir a verdadeira finalidade na aplicação da medida, conforme o parâmetro sócio – pedagógico previsto no Diploma Estatutário. 45 Além disso, as condições dos alojamentos onde ficam as adolescentes demonstram que é possível garantir direitos fundamentais, como a dignidade, mesmo num espaço de privação de liberdade, mas com salubridade, organização e humanidade. Todavia, é fundamental ressaltar um aspecto pacífico e que precisa ser melhorado quanto à estrutura física, refere-se à criação de um espaço para realização de práticas esportivas, pois não há uma quadra na referida unidade, impossibilitando a efetiva garantia do direito ao lazer, ao esporte, como estratégia educativa, contrariando a normativa nacional e global de adolescentes privados de liberdade. Outro aspecto que não podemos deixar de mencionar, refere-se às vestimentas disponibilizadas pela Instituição (FUNCAP) para a unidade, sendo atentatória à individualidade feminina, e portanto, a sua dignidade e identidade de gênero, uma vez que são obrigadas a usar roupas masculinas, pois não existe outro modelo com característica femininas, o que tem gerado grande insatisfação por parte das adolescentes, resultando num complicador a ser trabalhado pela equipe técnica da unidade, aumentando a demanda daquela com uma situação que não deveria existir, caso fosse respeitada a singularidade feminina, e não se utilizasse novamente do infeliz recurso do “improviso” para preencher deficiências institucionais, decorrentes de “lacunas conjunturais” do Poder Público que é o responsável pela administração da unidade e suprir sua necessidades básicas, pois se não houver capacidade de resolver estas, ficará inviável de solucionar questões mais complexas. Não se tem como negar que esta foi à unidade que apresentava as melhores condições de atendimento, demonstrando que é possível, sim, centros de internamento com estrutura física saudável, em condições de salubridade que possibilite respeito mínimo no atendimento. Para que isso ocorra, é necessário com que a determinação de tornar as medidas socieoeducativas políticas públicas de Estado saia do contexto do “precisa ser feito”, para o contexto do que “deve ser feito”. Vontade política e orçamentária são opções visíveis de serem conferidas quando se analisa uma política, não tem como dizer que um gestor público rompe com práticas que ferem direitos se isso não for visível em seu orçamento público e de respeito ás decisões dos órgãos coletivos, como por exemplo, os conselhos de direitos. IX. RELATÓRIO DE VISITAS CENTRO SÓCIO EDUCATIVO MASCULINO – CESEM 46 O Centro Sócio Educativo Masculino – CSEM - abriga adolescentes em cumprimento de medida sócioeducativa de internação. Visitamos esta unidade no dia 18 de setembro de 2009, momento em que havia 16 (dezesseis) internos. Entrevistamos a gerente em exercício e 03 (três) adolescentes. 9.1. Quadro de funcionários Função Assistente social Advogado Psicólogo Pedagogo Psiquiatra Médico (FUNCAP) Técnico de enfermagem Professor Monitor Dentista Prof. Ed. Física Outros * Quantidade 03 02 01 01 02 Periodicidade Diaristas (um plantão mensal para cada) Diaristas (um plantão mensal para cada) Diarista Uma vez na semana (às quintas-feiras) Plantão 12h por 48h 54 13 Plantão de 12h por 48h - *Arte educador (01), cozinheiras (06), agentes de portaria (05). Também há dois PM’s por plantão. 9.2. Estrutura Física do Centro Em relação ao espaço físico a gerente informou que conta com as seguintes dependências: guarita, portaria, salas de aula (02), sala de enfermagem, sala de computação, espaço das oficinas, cozinha em funcionamento, alojamentos (12) e em construção mais 08, com banheiros dentro. A refeição é feita fora dos alojamentos, o refeitório é improvisado. 9.3. O Atendimento Em relação ao atendimento técnico a gerente informou que ocorre semanalmente. A visita familiar é realizada todas as quartas-feiras. Existem atendimentos fora do cronograma quando surge um fato novo (gerenciamento de questões). Em média uma dupla (Assistente Social e Psicólogo) ficam com 07 ou 08 adolescentes. O acompanhamento psicossocial alcança seu objetivo, primeiro pelo número reduzido de adolescentes, segundo porque é uma unidade em que os meninos não 47 ficam “trancafiados”. A intervenção é rápida e mais próxima. Os técnicos trabalham muito com as famílias e isso é um avanço. As reuniões entre técnicos, monitores, famílias e adolescentes não acontecem com todos. As reuniões com adolescentes são em assembléias quinzenais as sextasfeiras. Entre os servidores e as famílias ocorrem geralmente aos sábados. Toda última quinta-feira do mês há reunião geral com as famílias. Os últimos monitores concursados foram os únicos que receberam formação. Quanto aos mais antigos estão recebendo uma formação continuada, mas esta ainda não contemplou a todos. Parte dos monitores contribui para a reeducação dos adolescentes. A entrevistada ressaltou que têm ocorrido alguns conflitos entre os jovens e alguns monitores que vieram do CIAB. Os critérios para inserir o adolescente em atividades externas e passar o final de semana com a família é através das fases de atendimento previsto no SINASE que já está sendo implantado. A atividade externa é na fase intermediária. Não é permitido passar o final de semana com a família. O adolescente que não se identificar com as opções oferecidas pelo Centro de Internação tem oportunidade de fazer sugestões. Os contatos com parcerias são feitos, mas a concretização destas está difícil. Os adolescentes internados não passam oficialmente por uma avaliação médica. Eles são logo atendidos pela técnica de enfermagem. O médico da FUNCAP visita a unidade, uma vez por semana. Demais atendimentos são feitos pelo SUS ou particular quando a família custeia. No Centro nunca houve situação de adolescentes portadores de necessidades especiais. Mas no caso da deficiência mental o encaminhamento é para o CATES (casos raros). Nos casos excepcionais de urgência médica noturna é acionado o plantão da SEDE que sempre corresponde, vem o motorista e o jovem é levado rapidamente ao hospital. A dieta alimentar dos adolescentes é planejada pela nutricionista da SEDE. Os adolescentes recebem orientações de estudo sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente em atendimento técnico e nas assembléias. O assunto é sempre abordado. A gerente informa que durante os dois (02) anos em que se encontra no Centro de Internação não houve nenhum tipo de rebelião. 48 As reclamações dos adolescentes com relação às violências físicas não acontecem, mas verbal sim. Estão tentando trabalhar isto nas reuniões. Se não tiver jeito outras providências serão tomadas (possível afastamento). Relatou que há um Regimento Interno antigo, o qual está em processo de reavaliação para construção de um novo, com a participação dos adolescentes. No entanto, na unidade aplicam-se sanções caso um adolescente cometa alguma irregularidade: sanção e a contenção. Ficam em geral uma noite “contidos” até a chegada do técnico pela manhã. Quando esta punição é aplicada o menino fica dentro do quarto, perde do direito de participar da recreação e atividade externa. Em casos de fuga o prazo de cumprimento da medida é reiniciado (esta questão está em discussão). As principais dificuldades que a instituição enfrenta é garantir a articulação com a rede de serviços. Tudo que conseguem é com base em relações pessoais. As instituições estão com dificuldades de interagir. Faltam condições materiais (questão estrutural). Deu um exemplo: semana passada o carro quebrou e ficou três dias sem poder levar os meninos para o curso. 9.4. Relações dos adolescentes entrevistados N° IDADE 01 16 02 16 03 15 INFRAÇÃO ÓRGÃO ENC. ENTRADA Art.157 CPB Comarca de Mosqueiro /07/2009 Art. 14 da Lei Juizado de Belém 04/08/2009 10.826/03 e Art. 155 CPB Art.157 CPB Comarca de Barcarena 30/06/2009 SIT. ESCOLAR 3ª Etapa 3ª Etapa 3ª Etapa 9.5. Entrevista com os adolescentes Nesta unidade foram entrevistados três adolescentes. Com relação a forma como foram recebidos relataram que foram bem recebidos pelos técnicos. Em relação à profissionalização 02 fazem curso de informática, um não realiza profissionalização. Todos realizam as mais diversas atividades: oficinas de artesanato, educação física, assistem televisão, futebol. Quem as escolhe é a equipe. Todos recebem visita da família com duração mínima de duas horas. Com relação a remédios 02 tomam, um toma de manhã e a noite para dor de garganta e outro toma todos os dias após o almoço para anemia. Sobre o atendimento médico afirmaram que a noite não há ocorre. 49 Em relação a formação sobre o ECA apenas um afirma que recebeu, os outros afirmaram que nunca receberam e possuem interesse. A violência existe tanto física quanto psicológica, um adolescente afirma que um monitor do CIAB invade o alojamento e agride os meninos. Todos gostam do alojamento afirmam que é limpo, possuem cama e é ventilado. Todos são informados acerca da posição processual, consideram ser tratados com respeito e dignidade, receberam objetos para higiene, possuem locais para guardar objetos. Um afirma que já ficou incomunicável. As punições segundo os adolescentes são contenções (até dois dias), no próprio alojamento e ir para unidade pior (normalmente o CIAB). Recebem duas refeições diárias. Apenas um afirma que a comida é boa, os outros dizem que é ruim, a carne é mal cozida e a quantidade é pequena. Todos afirmam que recebem água no momento que desejam. Em relação aos técnicos apenas um afirma que não gosta, pois, o atendimento demora muito. Já em relação aos monitores 02 não gostam, um pede que troque os que vieram do CIAB, e outro diz que eles fazem ameaças psicológicas. Dois gostam do centro, pois, estudam, tem a possibilidade de fazerem cursos e não ficam trancados dentro do quarto. Outro disse que não considera o lugar bom e que a única coisa boa foi o curso de informática. Sobre o que pode melhorar na unidade destacaram: conserto do campo de futebol, ter mais jogos de futebol, passeios no Apoena, mais cursos profissionalizantes. Também gostariam de receberem encaminhamento para emprego depois que terminassem de cumprir a medida. 9.6. Considerações Trata-se de uma das unidades que apresentou melhores condições, especialmente em relação aos alojamentos, inclusive porque ocorreu uma reforma recente na estrutura (administrativa e alojamentos), percebendo-se satisfação até mesmo na fala dos adolescentes. Outro ponto favorável a ser destacado diz respeito à livre circulação de alguns internos no espaço da unidade, sem qualquer algema, num ambiente bem amplo e arejado, quase inexistente nas demais unidades. Mesmo com a referida liberdade no ambiente interno do Centro, em dois anos da gestão atual, conforme informações da própria gerente não houve rebelião, ou seja, demonstrando que é possível prevalecer o caráter pedagógico sobre o punitivo e a mera contenção, sendo viabilizada, desta forma, melhores condições de aceitabilidade 50 do cumprimento da MSE, na perspectiva educativa, por parte do adolescente, e de convivência humana daquele com a equipe que trabalha na unidade, contribuindo para um avanço no aspecto relacional dos sujeitos envolvidos. Contudo, é importante ressaltar que em virtude da reforma ocorrer de maneira concomitante ao funcionamento da unidade, e utilização de espaços importantes no processo socioeducativo para canteiro de obras (como o campo de futebol), isto resulta numa limitação do acesso a direitos fundamentais como o lazer, o esporte, aliado às limitações e dificuldades(insuficiência de equipamento, pessoal e parcerias) para atividades externas e cursos, representando um significativo prejuízo no cumprimento da medida, principalmente se percebermos(conf. Normas Nacionais e Internacionais) o adolescente como sujeito de direitos na sua integralidade. É lamentável constatarmos ainda artifícios totalmente retrógados de “coação psicológica”, e para agravar, utilizando-se o envio para outra unidade(CIAB) como ameaça, isto é, alimentando-se um contexto institucional estigmatizante, manipulador e discriminatório, gerando facções e contribuindo para fragmentação do sistema socieducativo, afrontando cabalmente todas as diretrizes normativas concernentes à matéria. A preocupação com este aspecto somente se aprofunda, quando verificamos que servidores provenientes da unidade que serve de ameaça, também são motivos de violações de direitos(violências físicas e psicológicas) dentro do CESEM, restando evidente este fato nas informações prestadas por todos as pessoas entrevistadas na unidade em questão, sendo objeto de reivindicação a saída dos referidos funcionários, tamanha a insatisfação de todos com a conduta dos monitores que vieram do CIAB. Alguns aspectos aqui mencionados, evienciam algo comum a todo o sistema, a necessidade urgente de estabelecer um Plano de Formação Contínua para os trabalhadores das unidades, principalmente para os monitores ou socioeducadores, não somente pelas constantes informações de envolvimento deste grupo em episódios de violências, mas também pelo número expressivo que não recebem formação há muito tempo, e outros que recentemente foram admitidos e não possuem qualquer experiência com a especificidade do trabalho que irão desenvolver. A recomendação da citada formação que precisa ser contínua, para que não seja esporádica, por isso a importância de um planejamento, deve-se ao fato de se buscar também a construção de uma “unidade institucional” de um sistema e não apenas pessoas(algumas) comprometido com a garantia de direitos fundamentais. Aliado á formação, ressalta-se também a importância do princípio da eficiência e legalidade nos procedimentos administrativos apuratórios de violações cometidas pelos 51 servidores, a fim de que seja potencializada, na prática e não apenas no discurso, a percepção de responsabilidade dos agentes públicos quanto ao respeito das normas pátrias e internacionais de direitos humanos. X. RELATÓRIO DE VISITA AO CENTRO JUVENIL MASCULINO - CJM O Centro Juvenil Masculino – CJM, abriga adolescentes em cumprimento de medida sócio-educativa de internação. Visitamos este Centro no dia 17 de setembro de 2009, momento em que havia 16 (dezesseis) internos. Entrevistamos a gerente e 03 (três) adolescentes. 10.1. Quadro de funcionários Função Quantidade Periodicidade Assistente social 03 seg. à sex. – plantão aos sábados Advogado Psicólogo 01 seg. à sex. – plantão aos sábados Pedagogo 01 seg. à sex. – plantão aos sábados Psiquiatra Médico 01 vem às quartas-feiras Enfermeiro (técnicos) 01 Seg. à sex. (tarde) Professor (SEDUC) Monitor Aprox. 43 03 diaristas/os demais plantonistas Dentista Prof. Ed. Física Outros* 08 *Agentes de artes práticas (08), que trabalham na cozinha e limpeza. Na Unidade não há quadro de segurança. 10.2. Estrutura Física do Centro Em relação ao espaço físico a gerente informou que o espaço conta com as seguintes dependências: portaria, cozinha, enfermaria, almoxarifado, e 04 (quatro) alojamentos. 10.3. O Atendimento O atendimento técnico segundo informações da gerente é constate e o contato com os adolescentes é muito próximo. O acompanhamento com as famílias consiste nas visitas e reuniões quinzenais Segundo a gerente, o acompanhamento psicossocial tem conseguido avançar muito, já é possível permitir a convivência familiar, e o índice de fugas é mínimo. Existem reuniões entre os grupos (técnicos e monitores) e (técnicos e famílias). 52 De acordo com a gerente desta Unidade 08(oito) educadores receberam capacitação somente na formação continuada que durou 04(quatro) meses. Em parte essas formações contribuem, pois alguns são colaboradores, outros não. Ao chegar à Unidade o adolescente passa por uma avaliação de sua saúde com a técnica de enfermagem que avalia e tentam encaminhar as demandas externas para a rede de atendimento à saúde. Em caso de urgência médica noturna aciona-se a Sede da Funcap, o SAMU ou os bombeiros (quartel mais próximo da Unidade). A dieta alimentar dos internos é fornecida pela Sede da Funcap, pois lá têm nutricionista. Nos casos de adolescentes portadores de necessidades especiais, a gerente relatou que não houve casos de portadores de necessidades especiais físicas, porém há casos de patologias mentais, onde 07 (sete) adolescentes que estão passando por tratamento no Centro de Cuidados à Dependentes Químicos – CCDQ. Internamente unidade dispõe das seguintes atividades pedagógicas: salas de aula (convênio com a SEDUC – Ensino Fundamental), oficinas (miriti, biscuit, fuxico) e capoeira. Ainda não há cursos de profissionalização. Quando os adolescentes não se identificam com as opções oferecidas pela unidade procura-se verificar o que o adolescente quer realizar, dentro das possibilidades que a Unidade possa ofertar. A gerência ressaltou ainda que as parcerias estão bem difíceis, mas estão “correndo atrás”. Para inserir os adolescentes em atividades externas são adotados os seguintes critérios: quando o adolescente já está na fase conclusiva (quando vislumbra a possibilidade de progredir para Medida Sócio-Educativa de Semiliberdade ou a extinção do processo); e também para a visita familiar, porém anteriormente a realização dessa atividade externa, o adolescente terá que passar por uma avaliação psicológica. As Técnicas procuram fornecer informações sobre o ECA individualmente, de acordo com o ato infracional cometido por cada adolescente. Durante a gestão desta gerência não houve nenhum tipo de rebelião na Unidade. A gerente relatou que alguns adolescentes reclamam de violências físicas dentro da unidade, e quando o interno quer, é encaminhado para procedimento policial no Centre de Perícias Renato Chaves e para a DATA. Quando ocorre fugas, só se reinicia 53 o cumprimento da Medida Sócio-Educatica se o adolescente vem da fuga com novo ato infracional, e nos demais casos a idéia é aproveitar o tempo anterior. O Regimento Interno é antigo no Projeto Político Pedagógico da Unidade, e já existe um regimento específico da FUNCAP que está sendo trabalhado na Unidade. Em casos de desrespeito as normas eles podem receber punições, tais como: contenção, com a perda do direito à recreação e finais de semana. Por fim a maior dificuldade ressaltada pela gerência é o espaço, visto que o local era uma delegacia antiga, e devido a isso a estrutura física dificulta o trabalho pedagógico. A equipe também não é a ideal, mas na maior parte é boa. 10.4. Relação dos adolescentes entrevistados NOME 01 02 03 IDADE 15a 13a 15a INFRAÇÃO Art. 14 CPB Art. 157 CPB Art. 157 CPB ÓRGÃO ENC. Juizado da Capital Juizado da Capital Juizado da Capital ENTRADA 04/09/09 11/09/09 04/09/09 SIT. ESCOLAR 3ªEtapa 2ª Etapa l 2ª Etapa 10.5. Entrevista com os Adolescentes Nesta unidade foram entrevistados 03 adolescentes. E em relação ao recebimento, foram todos bem recebidos. Nenhum dos entrevistados recebe profissionalização, sendo que 02 adolescentes fazem pintura. Entretanto que escolhe as atividades desenvolvidas pelos internos são os técnicos. Dentre os entrevistados, 02 recebem visitas semanais dos seus familiares no período de duas horas, e 01 não tem contato com sua família. Todos relataram que não fazem uso de nenhum tipo de medicamento. Somente 01 dos entrevistados afirmou que quando necessita de atendimento é logo atendido, porém o restante foi taxativo em dizer que à noite não há atendimento, tendo que aguardar o amanhecer. Nenhum dos entrevistados recebeu formação sobre o ECA, mas manifestaram interesse em obter este conhecimento. Dentre os entrevistados, apenas 01 afirmou haver violência por parte dos monitores. Todos os adolescentes entrevistados afirmaram que o alojamento é pequeno, e que inclusive no dia da entrevista havia fugido 02 adolescentes. 54 Dentre os entrevistados, 02 afirmaram serem tratados com dignidade pelos profissionais da Unidade, e todos recebem materiais de higiene pessoal, há apenas um local para guardar seus objetos pessoais. Os entrevistados relataram que recebem cinco refeições diárias, e nunca ficaram sem receber alimentação, e em relação à qualidade da refeição é razoável, sendo que às vezes a alimentação vem crua. Em relação ao atendimento dos técnicos, os entrevistados, afirmaram que são bons, no entanto, 01 disse que é difícil dialogar com estes profissionais. Em relação aos monitores, os adolescentes afirmaram que são razoáveis, e que tem uns que por qualquer motivo aplicam a contenção nos internos. Todos os entrevistados relatam que a Unidade não proporciona benefícios, e que não é boa, e um adolescente ressalta que o Centro só é bom porque lá da para estudas, e que as regras são muito rígidas. Em relação ao que pode ser melhorado no Centro, um adolescentes não soube responder, outro disse que gostaria que melhorasse a regras, e o outro afirma que quer mais médicos na Unidade. 10.6. Considerações Muitos aspectos observados nesta unidade já foram ressaltados em considerações feitas para anteriores, como insuficiência de pessoal, falta de equipamentos e recursos para a garantia de atendimento na rede, principalmente saúde, e quando se trata do período noturno a situação complica ainda mais, pois a unidade somente poderá contar com ajuda externa(Sede da Funcap, Bombeiros ou SAMU) o que dificilmente acontece, pois na fala dos adolescentes resta claro que é preciso esperar para o dia seguinte, demonstrando a séria limitações do Estado em garantir um direito básico(saúde), gerando um grande risco à integridade física do adolescente. Ficou bastante clara a saturação do espaço para atender à demanda do atendimento, isto não significa superlotação, mas não se consegue avançar de maneira mais qualificada no trabalho socioeducativo, pois o espaço não permite ir além do que já tem sido realizado, uma vez que falta recursos para as atividades, não há salas suficientes para o atendimento técnico, especialmente para o individualizado, além da inexistência de espaço para atividades esportivas(não tem quadra), algumas oficinas precisam ser feitas no pátio central 55 que serve de área de visita, convívio, lazer, sala de televisão e a mesa de pingpong é utilizada(“improviso”) para as atividades de arte. Ao lado do prédio onde funciona a unidade existe uma nova estrutura, recentemente construída, porém ainda não foi entregue por questões burocráticas, segundo informações de uma das técnicas da unidade que acompanhou nossa visita. Mesmo sendo uma construção nova, com instalações mais dignas e amplas, contando já com uma quadra poliesportiva, infelizmente já apresenta um problema, os banheiros tem o acesso direcionado para a porta de entrada do alojamento, portanto, todos poderão observar o adolescente no sanitário ou no chuveiro, eliminando qualquer garantia do direito constitucional à privacidade/intimidade do socieducando. Salienta-se ainda um aspecto que tem norteado a realidade de muitos Centros, refere-se à deficiência ainda presente no fornecimento da alimentação, pois as reclamações de que a comida às vezes vem crua, fria, alimento duro, pouca quantidade, suscita uma análise da FUNCAP, que não se restringe a uma questão meramente alimentar, mas de direito à alimentação, bem como na perspectiva de saúde, pois a repercussão da qualidade da comida fornecida implicará também em aspecto de dignidade e integridade fisiológica. Trata-se de um dos aspectos mais simples que poderão ser resolvidos com uma interlocução mais próxima entre a equipe da unidade e adolescentes e o feedback de monitoramento do setor competente na sede da Funcap. Acreditamos também nos almoços proporcionados com a família, com os cuidados pertinentes e sensatos, além da utilização da culinária regional, uma percepção da alimentação como direito, mas também como estratégia educativa e de resgate e/ou fortalecimento dos familiares e comunitários. Salienta-se que tudo somente poderá ser melhor viabilizado com a mudança URGENTE para um local que permita superar a SATURAÇÃO do atual espaço físico da unidade. As limitações se refletem também na insuficiência de parcerias, inclusive, sendo demonstradas iniciativas pessoais para superar o quadro, porém com uma deficiência de institucionalidade, ou seja, os parceiros que existem são decorrentes de esforços isolados de alguns gestores, mas não há o estabelecimento formal e efetivo, como política pública, de uma rede comprometida e co-responsável pelo atendimento socieducativo, distante 56 portanto, das diretrizes previstas no Sinase, na CR/88, ECA, nas Resoluções do CONANDA, bem como em toda Normativa Internacional. Por fim, observamos um aspecto relacionado à garantia de saúde que é preciso ser avaliado com muita cautela, pois a informação de que os adolescentes que apresentam patologia mental são encaminhados para o centro de dependentes químicos nos causa preocupação, uma vez que poderá ferir o caráter individualizado norteador de qualquer atendimento, pelo que recomendamos sempre levar como parâmetro a Portaria 647/2008 do Ministério da Saúde, a fim de que seja viabilizada uma atenção qualificada e muito criteriosa na garantia do acesso à rede para o adolescente. XI. CONSIDERAÇÕES FINAIS O Centro de Defesa e a Defensoria pública buscam com o relatório chamar atenção dos gestores públicos, para a grave situação da medida socioeducativa de internação. Em nenhum momento o interesse é fazer denúncias vazias e descontextualizadas de uma busca por melhoria das condições de vida de toda a sociedade. Deve-se ter a coragem de admitir as limitações, mas também se deve ter coragem de assumir uma postura proativa em defesa de uma nova proposta que consiga não só colocar o Pará dentro de indicadores de respeito à direitos, mas principalmente, como o Estado que trata seus jovens com dignidade, de busca de alternativas de vida, em qualquer situação de vida na qual se encontrem. Diante dessas afirmações é que se pode resumir que as principais violações encontradas durante as visitas de monitoria nos centros de internamento foram: 1- Estruturas físicas inadequadas, insalubres, onde prevalece o calor e a umidade, o mau cheiro, transformando a vida daqueles que lá vivem em uma verdadeira luta para manter a sanidade; 2- Ausência de uma proposta pedagógica que respeite o que determina o ECA e as normativas internacionais; 3- Presença de atos de violência tanto praticada por adolescentes, como por alguns servidores; 4- Insuficiência de material pedagógico para a realização de atividades; 5- Insuficiência de materiais de higiene e limpeza, 6- Instalações sanitárias precárias, na maioria dos centros de internamento; 57 7- Servidores desmotivados e com poucas condições de exercer suas funções; 8- Adolescentes sem perspectiva de vida e não acreditando na MSE; 9- A educação formal sendo executada em condições bastante precária, com salas de aula muito quentes, com educadores sem condições de trabalho e não podendo garantir o nível de qualidade mínimo aceitável; 10- Presença da ociosidade, não garantindo atividades a todos os adolescentes; 11- Profissionalização quase que inexistente. 12- Não divisão por compleição física, ato infracional etc. como determina o ECA. Algumas melhorias, comparado com o relatório de 2008, elaborado pelo CEDECA-Emaús. 1- Atendimento mais adequado no centro de internamento de Santarém; 2- Diminuição do número de adolescentes no CIAB, melhorando as condições de lotação; 3- As atividades desenvolvidas no APOENA, apesar de ainda limitadas a um grupo muito pequeno de adolescentes, podem ser apontadas como um caminho para dar condições de lazer e completo educacional aos adolescentes; 4- Não se ter mais detectado violência policial no centro de internamento de Santarém; 5- O CESEF com um bom nível estrutural e de atividades envolvendo todas as meninas e proporcionando inter-relação com a família; 6- Melhoria no acompanhamento familiar e aproximação com os jovens; 7- Gerências das unidades bem mais receptivas ao monitoramento e não criando embaraços a equipe que realizou as visitas; XII. PROPOSTAS DO CEDECA E DEFENSORIA PÚBLICA Diante de todas as irregularidades detectadas durante a visita, o CEDECA e a Defensoria Pública apresentam como propostas urgentes para melhoria das condições de vida dos adolescentes: 1- Acabar com qualquer arranjo ou inadequação dos espaços que executam medidas de internação, com fechamento dos centros de internamento de Marabá, CIAB e Telégrafo. 58 2- Imediata elaboração e definição do projeto político pedagógico, com seu plano aprovado pelo Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente; 3- Implantação de ensino médio para atender aos adolescentes que necessitam dessa escolarização; 4- Monitoria rígida de todas as violências ocorridas nos espaços dos centros de internamento quer praticada por adolescentes, quer praticada por servidores; 5- Reforma imediata de todos os centros de internamento que estão em condições indignas de atendimento aos adolescentes; 6- Elaboração de um plano de formação e valorização dos servidores que trabalham em unidades de internamento; 7- Implantação das diretrizes do SINASE e cumprimento das resoluções dos conselhos de direitos. 8- Melhoria em todo processo de educação formal dos adolescentes. 9- Urgente implantação de instalações sanitárias na unidade de internação do município de marabá; 10- Realização de desratização em todas as unidades de internamento. 59