Artigo Original: Fitness ISSN 1519-9088 Efeito de um programa de treinamento físico desenvolvido no Espaço Bem Estar do CENPES/PETROBRAS na pressão arterial em hipertensos não-medicados Roberto Simão1 [email protected] 1 Escola de Educação Física e Desportos – Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEFD/UFRJ) Rhodes Serra1 [email protected] 2 SMS/CENPES/PETROBRAS 1 Marcos A. Albuquerque [email protected] Paulo Rebelo2 [email protected] Alexandre M. Mello1 [email protected] Simão R, Serra R, Albuquerque MA, Rebelo P, Mello AM. Efeito de um programa de treinamento físico desenvolvido no Espaço Bem Estar do CENPES/PETROBRAS na pressão arterial em hipertensos não-medicados. Fit Perf J. 2007;6(4):213-7. RESUMO: A modificação no estilo de vida tem sido recomendada para a prevenção, tratamento e controle da pressão arterial (PA). O objetivo do presente experimento foi verificar o comportamento da PA após 4 meses de treinamento no Espaço Bem Estar (EBE) CENPES/PETROBRAS, em indivíduos hipertensos não-medicados. Concluíram o experimento 57 indivíduos, sedentários há pelo menos um ano, divididos em 2 grupos: grupo treinamento (GT) e grupo controle (GC). Todos os sujeitos passaram por uma avaliação física e o GT realizou 3 sessões semanais em dias alternados, totalizando 48 sessões com duração média de 60 minutos. Inicialmente, era realizado o treinamento aeróbico, que consistia de 25 minutos entre 50 e 70% da freqüência cardíaca de reserva. O treinamento de força foi realizado em 2 séries, variando entre 8 e 12 repetições. O treinamento da flexibilidade foi realizado pelo método de alongamento estático. A PA foi aferida em repouso, por meio auscultatório pré e pós-treinamento, e os dados foram tratados pela ANOVA two-way com a utilização do post hoc de Scheffé, quando necessário (p<0,05), para comparação intra e intergrupos. O resultado intragrupo para GT demonstrou uma redução de 11,4% na PA sistólica (PAS) (p<0,05) e de 5,3% na PA diastólica (p>0,05). O GC não apresentou modificações na PA (p>0,05). Ao compararmos GC e GT, houve diferença significativa na PAS em situação de pós-treinamento, não ocorrendo o mesmo nas outras medidas. Em conclusão, o programa EBE realizado durante 4 meses promoveu redução da PA após um programa de exercícios em hipertensos não-medicados. Palavras-chave: hipertensão, pressão arterial, treinamento de força, exercícios resistidos, hipotensão. Endereço para correspondência: Universidade Federal do Rio de Janeiro - Escola de Educação Física e Desportos - Departamento de Ginástica - Av. Carlos Chagas Filho, 540 - Ilha do Fundão - 21941-590 Rio de Janeiro - RJ Data de Recebimento: Abril / 2007 Data de Aprovação: Maio / 2007 Copyright© 2007 por Colégio Brasileiro de Atividade Física Saúde e Esporte. Fit Perf J Rio de Janeiro 6 4 213-217 jul/ago 2007 213 ABSTRACT RESUMEN Effect of a physical training program developed in the Espaço Bem Estar of CENPES/PETROBRAS/PETROBRÁS in the blood pressure in no-medicated hypertense Efecto de un programa de entrenamiento físico desarrollado en el espacio bien estar del CENPES/ PETROBRAS, en la PRESIÓN ARTERIAL en hipertensos no-medicados The lifestyle modification has been recommended for the prevention, treatment and control of the blood pressure (BP). The objective of the present experiment was to verify the behavior of the BP after four months of training in the Espaço Bem Estar (EBE) of CENPES/PETROBRÁS, in no-medicated hypertense individuals. Concluded the experiment 57 individuals, sedentary for at least one year, divided in 2 groups: training group (TG) and control group (GC). All the subjects passed by a physical evaluation and TG accomplished 3 weekly sessions in alternate days, totaling 48 sessions with medium duration of 60 minutes. Initially, the aerobic training was accomplished, that consisted of 25 minutes among 50 and 70% of reservation’s heart frequency. The strength training was accomplished in 2 series, varying between 8 and 12 repetitions. The flexibility training was accomplished by the method of static prolongation. The BP was checked in rest, by auscultatory way before and post training, and the data were treated by the ANOVA two-way with the use of the Scheffé post hoc when necessary (p<0,05), for intra and intergroups comparison. The intragroup result for TG demonstrated a reduction of 11,4% in the systolic BP (SBP) (p<0,05) and of 5,3% in the diastolic BP (p>0,05). CG didn’t present modifications in the BP (p>0,05). When compared CG and TG, there was significant difference in the SBP in post-training situation, not happening the same in other measures. In conclusion, the program EBE accomplished for four months promoted reduction of the BP after a program of exercises in no-medicated hipertenses. La modificación en el estilo de vida está siendo recomendada para la prevención, tratamiento y control de la presión arterial (PA). El objetivo del presente experimento fue a verificar el comportamiento de PA tras 4 meses de entrenamiento en el Espacio Bien Estar (EBE) CENPES/PETROBRAS, en individuos hipertensos no-medicados. Concluyeron el experimento 57 individuos, sedentarios hay al menos un año, divididos en 2 grupos: grupo entrenamiento (GT) y grupo control (GC). Todos los sujetos pasaron por una evaluación física y el GT realizó 3 sesiones semanales en días alternos, totalizando 48 sesiones con duración media de 60 minutos. Inicialmente, era realizado el entrenamiento aeróbico, que consistía de 25 minutos entre 50 y 70% de la frecuencia cardiaca de reserva. El entrenamiento de fuerza fue realizado en 2 series, variando entre 8 y 12 repeticiones. El entrenamiento de la flexibilidad fue realizado por el método de estiramiento estático. La PA fue contrastada en reposo, por medio auscultatorio pre y tras-entrenamiento, y los datos habían sido tratados por la ANOVA twoway con la utilización del post hoc de Scheffé cuando necesario (p<0,05), para comparación intra e intergrupos. El resultado intragrupo para GT demostró una reducción de 11,4% en PA sistólica (PAS) (p<0,05) y de 5,3% en PA diastólica (p>0,05). El GC no presentó modificaciones en PA (p>0,05). Al comparemos GC y GT, hubo diferencia significativa en la PAS en situación de tras-entrenamiento, no ocurriendo lo mismo en las otras medidas. En conclusión, el programa EBE realizado durante 4 meses promovió reducción de PA tras un programa de ejercicios en hipertensos no-medicados. Keywords: hypertension, blood pressure, strength training, resisted exercises, hypotension. Palabras clave: hipertensión, presión arterial, entrenamiento de fuerza, ejercicios resistidos, hipotensión. INTRODUÇÃO O processo de industrialização e urbanização verificado nos últimos 50 anos fez com que a modernidade também exibisse a sua face sombria. Atualmente, a população moderna tem adotado um estilo de vida basicamente caracterizado por falta de atividade física, má alimentação, sedentarismo e estresse. A inatividade física está diretamente associada à ocorrência de uma série de distúrbios orgânicos, o que comumente têm-se denominado doenças hipocinéticas1,2. Essas doenças são enfermidades apresentadas por homens e mulheres contemporâneos, que podem se agravar muito devido ao estilo de vida sedentário, caracterizado pelo mínimo esforço físico nas atividades diárias. As principais doenças que podemos destacar, são: obesidade, hipertensão, diabetes, dislipidemia, osteoporose e doenças cardiovasculares2,3. A hipertensão arterial é classificada como a principal doença cardiovascular nas nações industrializadas. Sua exposição crônica está associada à lesão de órgãos-alvo, sendo considerada um dos principais fatores de risco para doença arterial coronariana, acidente vascular encefálico, insuficiência cardíaca, doença arterial periférica e insuficiência renal crônica1,4. No Brasil, em 1998, a prevalência de hipertensão arterial na população de adultos encontrava-se entre 15 e 20%4. A modificação no estilo de vida tem sido recomendada para a prevenção, tratamento e controle da pressão arterial (PA), 214 sendo o exercício físico um componente essencial na abordagem não-farmacológica5-7. Estudos mostram que apenas uma única sessão de exercício físico provoca redução da PA em relação aos valores pré-exercício5,8,9. Além disso, parece que a resposta crônica da hipotensão pós-exercício (HPE), resultante da exposição freqüente e regular a sessões de exercício, tem demonstrado ser mais duradoura e com maior magnitude do que uma sessão isolada de exercício4,7,10. Portanto, para que o efeito da HPE tenha importância clínica, é interessante que a mesma permaneça abaixo dos valores normais pelo maior tempo possível subseqüente ao esforço. Segundo Martins et al.6, estudos relataram redução da PA em pacientes hipertensos por períodos de 12,7 horas, 16 horas e 22 horas no pós-exercício. Contudo, ainda são relativamente escassos os estudos que investigaram de forma longitudinal a HPE após um programa de exercícios em hipertensos não-medicados. O programa Espaço e Bem Estar (EBE) de atividades físicas, desenvolvido no CENPES/PETROBRAS, é composto por programas de exercícios que contêm atividades de características aeróbica, de força e de flexibilidade, organizadas metodologicamente no mesmo padrão de treinamento, tendo como principal amostra indivíduos hipertensos. Assim, o objetivo do presente estudo foi verificar o comportamento da PA após 4 meses de treinamento no EBE em indivíduos hipertensos nãomedicados. Fit Perf J, Rio de Janeiro, 6, 4, 214, jul/ago 2007 MATERIAIS E MÉTODOS Foi utilizada balança antropométrica calibrada e adipômetro igualmente aferido. Amostra Protocolo de Treinamento A amostra inicial foi composta por 82 homens, sem quaisquer limitações funcionais para a realização dos exercícios propostos na metodologia de treinamento físico do EBE (centro de atividade física direcionada à promoção de saúde), que funciona em conjunto com a Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O estudo teve a duração de 4 meses, ocorrendo nesse período a desistência de 25 participantes. Assim, efetivamente, concluíram o experimento 57 indivíduos sedentários há pelo menos um ano. Os sujeitos foram divididos em dois grupos, sendo o grupo controle (GC) composto por 20 sujeitos (idade: 40,2±8,1 anos; massa corporal: 90,1±14,6kg; IMC: 28±4,5kg.m-2; percentual de gordura: 23,1±6,8%; relação cintura/quadril RC/Q 0,92±0,09; VO2máx: 32,3±8,8ml. kg-1.min-1) e o grupo que realizou o treinamento (GT) composto por 37 participantes (42,9±9,1 anos; 89,8±16,3kg; 29±4,7kg.m-2; 23,4±7,3 %G; 0,93±0,07 RC/Q; 33,7±9,5 ml.kg-1.min-1). Antes da coleta de dados, todos os indivíduos responderam negativamente ao questionário PAR-Q2, realizaram um processo de avaliação clinica e física, e assinaram um termo de consentimento pós-informado, conforme a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil. O estudo foi aprovado por um comitê de ética, formado por professores doutores do laboratório, com o intuito de avaliar o grau de risco e os direitos dos avaliados, conforme a necessidade de proteção dos sujeitos. O GC manteve suas atividades diárias sem a realização de exercícios físicos direcionados. Já o GT realizou o treinamento em 3 sessões semanais, realizadas em dias alternados, totalizando 48 sessões, com duração média de 60 minutos diários. Inicialmente era realizado o treinamento aeróbico que consistia de 25 minutos de atividade com intensidade entre 50 e 70% da FC de reserva. Simultaneamente, foi utilizada a escala CR-10 da percepção subjetiva de esforço (Borg CR -10). Todos os sujeitos foram caracterizados como hipertensos leves através da avaliação do médico responsável e não faziam uso de medicamentos hipotensores ou diuréticos (tabela 1). Avaliação do VO2máx Antes de iniciar o programa de exercícios no EBE, os integrantes da amostra foram inicialmente submetidos a um teste sub-máximo no protocolo de Astrand para obtenção do VO2máx. Os indivíduos foram encorajados verbalmente a permanecerem até o final do teste ou até que um dos seguintes sinais ou sintomas fosse identificado: a) fadiga voluntária; b) resposta hipertensiva ou isquêmica; c) sintomas ou sinais limitantes, conforme os critérios de interrupção descritos nas diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia para a realização de testes ergométricos; ou d) obtenção de 90% da freqüência cardíaca (FC) máxima prevista. Durante a realização do teste, a FC, a PA sistólica (PAS) e a PA diastólica (PAD) foram aferidas ao final de cada estágio do teste por meio auscultatório (Tycos – Adult Size CE 0050). Para a identificação das PAS e PAD foram identificadas as fases I e IV de Korotkoff, respectivamente. O mesmo protocolo de avaliação foi realizado após os 4 meses de treinamento. Avaliação Antropométrica Realizou-se uma avaliação pré e pós-treinamento da composição corporal, pelo protocolo de Jackson & Pollock – 7 dobras (Masculino) - com aferição das medidas antropométricas, massa corporal, estatura, circunferências corporais e dobras cutâneas1. Fit Perf J, Rio de Janeiro, 6, 4, 215, jul/ago 2007 O treinamento de força foi composto por 8 exercícios realizados em 2 séries, variando entre 8 e 12 repetições, com exceção do exercício abdominal, executado em 3 séries de 15 a 20 repetições. Quando os indivíduos ultrapassavam os maiores valores das faixas de repetições estabelecidas, as cargas eram reajustadas. O intervalo entre as séries foi estipulado entre 40 e 60s. A duração total do treinamento de força foi definida entre 20 e 25min. O treinamento da flexibilidade acontecia após o treinamento de força, em um período em torno de 10 a 15 minutos, pelo método de alongamento estático sub-limiar, para os grandes grupamentos musculares. Cada movimento foi realizado 2 vezes até o início do desconforto, quando foram sustentados por aproximadamente 20s em cada posição. Monitorização da Pressão Arterial Antes de iniciar a primeira sessão de treinamento no EBE CENPES/PETROBRAS, os sujeitos permaneceram sentados por aproximadamente 10min, quando então a PA foi aferida através do método auscultatório. Um avaliador experiente realizou as medidas de repouso, sendo que a reprodutibilidade da medida foi previamente aferida antes da realização do experimento (ICC = 0,98). Para a medida de repouso, o sujeito posicionou o braço esquerdo relaxado em uma superfície plana, à altura do ombro. A fixação do manguito no braço ocorreu com aproximadamente 2,5cm de distância entre sua extremidade inferior e a fossa antecubital. Após o manguito inflado, iniciou-se o processo de esvaziamento numa razão de 2mmHg.s-1 até se possível distinguir o primeiro e o quinto ruídos de Korotkfoff, correspondente aos valores sistólicos e diastólicos, respectivamente. Após os 4 meses de treinamento, todo o procedimento de medida da PA foi similar ao realizado na condição de pré-treinamento. No entanto, a PA foi aferida somente 72 horas após a última sessão de treinamento. Em cada indivíduo, os dados foram coletados nos mesmos horários, tanto na situação de pré quanto na de pós-treinamento, tanto no GT quanto no GC. Análise Estatística Os dados obtidos nas medidas de pré e pós-treinamento, inter e intragrupos, das PAS e PAD, do VO2, da composição corporal, da massa corporal, das circunferências corporais e das dobras cutâneas, foram tratados pela ANOVA two-way com a utilização do post hoc de Scheffé, quando necessário. Adotou-se como nível de significância, p<0,05. O programa Statistica 6.0 (Statsoft, USA) foi utilizado para os cálculos. 215 RESULTADOS Os valores médios da PAS e da PAD do GT, obtidos em estado de repouso nas situações de pré e pós-treinamento, são apresentados na tabela 1. Ocorreu uma redução de 11,4% na PAS (p<0,05) e de 5,3% na PAD (P>0,05), após os 4 meses de treinamento. A comparação intergrupos demonstrou diferença significativa somente da PAS na fase de pós-treinamento (tabela 1). O mesmo não ocorreu na PAD pré e pós-treinamento e nem na PAS em situação de pré-treinamento. pós-treinamento PAS (mmHg) 140 ± 4 124 ± 4 @ PAD (mmHg) 95 ± 4 90 ± 4 α Diferença significativa em relação à situação de pré-treinamento - @ - Diferença significativa em relação à situação de pós-treinamento no GC Os valores médios da PAS e da PAD do GC, obtidos em estado de repouso nas situações de pré e pós-avaliação nos 4 meses, são apresentados na tabela 2. Tabela 2 – Valores pré e após 4 meses no GC pré-treinamento pós-treinamento PAS (mmHg) 140 ± 4 140 ± 6 PAD (mmHg) 90 ± 4 90 ± 4 Na tabela 3 são demonstrados os valores obtidos nas duas medidas (pré e pós-treinamento) do VO2máx, da composição corporal, da massa corporal, das circunferências corporais e das dobras cutâneas do GT. Tabela 3 – Medidas do GT prétreinamento póstreinamento massa corporal (kg) 89,8 ± 16,3 87,1 ± 16,9@ % de gordura 23,4 ± 7,3 21,5 ± 6,5@ 0,93 ± 0,07 0,92 ± 0,07 33,7 ± 9,5 37 ± 8,9α@ 29 ± 4,7 28,2 ± 3,8 -1 VO2máx (ml.kg .min ) IMC (kg.m-2) α - Diferença significativa em relação à situação de pré-treinamento @ - Diferença significativa em relação à situação de pós-treinamento no GC A comparação intergrupos demonstrou diferença significativa da massa corporal, % de gordura e VO2, na fase de pós-treinamento. O mesmo não ocorreu na situação de pós-treinamento nas outras medidas verificadas. Em situação de pré-treinamento nenhuma diferença significativa foi observada em nenhuma das medidas avaliadas (tabela 3). 216 variável prétreinamento póstreinamento massa corporal (kg) 90,1 ± 14,6 89,7 ± 15,2 % de gordura 23,1 ± 6,8 23,4 ± 6,2 0,92 ± 0,09 0,92 ± 0,06 32,3 ± 8,8 32,2 ± 8,1 28 ± 4,5 28,1 ± 4,0 RC/Q -1 VO2máx (ml.kg .min ) pré-treinamento -1 Tabela 4 – Medidas do GC -1 Tabela 1 – Valores pré e pós-treinamento no GT RC/Q Na tabela 4 são demonstrados os valores obtidos nas duas medidas (pré e pós-treinamento) do VO2, da composição corporal, da massa corporal, das circunferências corporais e das dobras cutâneas do GC. -2 IMC (kg.m ) DISCUSSÃO O principal resultado obtido no presente experimento demonstra redução significativa da PAS após as 48 sessões de exercícios propostos pelo EBE, com a utilização de exercícios aeróbicos, de força e de flexibilidade, em conjunto. No entanto, na PAD as reduções não foram significativas, ocorrendo uma redução de 5,2%. Nas outras medidas, somente o VO2máx apresentou diferença significativa em relação ao pré-treinamento. Nas outras variáveis observamos decréscimos nas medidas, mas não de forma significativa. Vale ressaltar que esses decréscimos, mesmo não sendo significativos, foram positivos. Em relação ao comportamento da PA após o exercício físico, a maioria dos estudos investigaram o efeito hipotensor após o trabalho aeróbico3,4,10. Em relação a este tipo de atividade, parece que a HPE poderia ser influenciada pela massa muscular envolvida, mas não haveria influência da intensidade ou do volume de trabalho9. Já em relação ao exercício de força, poucos estudos foram direcionados à investigação da HPE5,11. Nesse sentido, têm-se informações conflitantes em relação ao comportamento da PA pós-esforço, como redução, aumento ou nenhuma alteração significativa6. Quando são combinadas as 3 atividades (aeróbica, força e flexibilidade), os dados disponíveis na literatura ainda são escassos. Em um experimento realizado por Martins et al.6, que acompanharam durante 12 horas a PA em pessoas hipertensas, medicadas e submetidas a uma sessão de exercícios de força, aeróbico e de flexibilidade, verificou-se que ao término da 8ª semana de treinamento não foram identificadas diferenças significativas em relação aos valores de repouso de ambos os grupos. Entretanto, o comportamento da PA no GT assumiu uma tendência à redução, enquanto o GC exibiu um caráter oscilatório ao longo da monitorização. Todos os sujeitos foram avaliados por monitorização ambulatorial da PA durante 12 horas em ciclos de 2 horas. Dessa maneira, a conclusão dos autores foi que um programa de exercícios parece provocar HPE, mesmo em sujeitos hipertensos medicados. Fit Perf J, Rio de Janeiro, 6, 4, 216, jul/ago 2007 Em que pesem diferenças metodológicas entre o nosso experimento e o proposto por Martins et al.6, os resultados foram muito similares. Talvez tenhamos encontrado maiores reduções na PA porque nossa amostra foi composta por hipertensos não-medicados. O fato de não usar medicamento hipotensor pode ter causado maiores benefícios fisiológicos mensuráveis, decorrentes do programa EBE. Outra diferença clara é que o nosso treinamento proposto durou 16 semanas, sendo o dobro do proposto por Martins et al.6. Essa duração mais prolongada certamente causou maiores benefícios na redução da PA e nas outras variáveis verificadas, bem como o incremento no VO2máx. Independente da atividade realizada, algumas informações ainda merecem mais estudos, como o tempo no qual a PA permanece abaixo dos valores de repouso após uma sessão de exercícios. Existem dados que relatam uma HPE variando entre poucos minutos12 e 22 horas13,14. A maioria dos estudos têm realizado mensurações por um período curto (entre 1 e 2h) após o exercício. No entanto, na maioria desses estudos, os valores da PA têm se direcionado aos valores basais após o encerramento das mensurações. A HPE teria validade clínica apenas se a hipotensão relativa fosse sustentada por duração significante e durante atividades da vida diária15. Para isso, faz-se necessário a utilização da monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA). Utilizando esse recurso, foram observadas reduções significativas da PA durante 12,7 horas em indivíduos hipertensos15. Outros dados reportam uma redução ainda mais prolongada, como 16 horas16 e 22 horas13,14. Os nossos achados, no presente experimento, mostraram que ocorreu uma redução da PA em repouso. A nossa medida, 48 horas após a última sessão, foi realizada dessa maneira para evitarmos o efeito agudo hipotensivo pós-esforço. Os sujeitos exibiram reduções clinicamente importantes da PA por um período de 48 horas após a última sessão. Em uma publicação de Simão et al.5, abordou-se que, embora o efeito hipotensivo na PA pós-esforço tem sido atribuído principalmente a uma diminuição da resistência vascular, as causas fundamentais dessas diminuições ainda não foram elucidadas. É improvável que o efeito hipotensivo pós-esforço seja resultado da termorregulação ou trocas no volume sangüíneo. Embora alguns dados sugiram diminuições na atividade do nervo eferente após o esforço, resultados contraditórios são encontrados em humanos e em ratos de laboratórios. Talvez os principais fatos relacionados a essa questão da atividade do nervo eferente sejam os barorreceptores e hormônios específicos, mas investigações futuras ainda são necessárias. Significantes evidências em estudos realizados com roedores sugerem que níveis de serotonina centrais podem influenciar no efeito hipotensivo. Porém, recentes estudos em humanos não suportam essas evidências em modelos animais. Outros fatores locais parecem mediar o efeito hipotensivo, dentre os quais os hormônios circulantes. A mensuração de hormônios com potenciais vasodilatadores, como a adrenalina, adenosina, potássio e atrial natriuréico peptídeo, foram reportados como aumentando ou se mantendo inalterados durante o efeito Fit Perf J, Rio de Janeiro, 6, 4, 217, jul/ago 2007 hipotensivo. Agentes vasoconstritores, tais como a renina, a angiotensina II e o hormônio antidiurético, foram aumentados, diminuídos ou inalterados após o esforço. Existem evidências de que o efeito hipotensivo pode perdurar por até 17 horas após o exercício. Nesse tempo, cada uma dessas substâncias, presumivelmente, retornaria aos valores de repouso. A possibilidade de nenhuma dessas substâncias serem fundamentais no efeito hipotensivo, é presumivelmente real. As alterações no óxido nítrico têm sido responsabilizadas por um efeito hipotensor. Contraditórios resultados encontrados entre os mecanismos originados no cérebro e centros de controle cardiovascular, ainda são obscuros. CONCLUSÃO Em conclusão, os nossos resultados sugerem que a intensidade e o volume de treinamento aplicados no EBE CENPES/PETROBRAS podem influenciar o efeito hipotensivo em indivíduos hipertensos não-medicados. Nesse sentido, o exercício supervisionado mostrou-se eficaz como variável interveniente para a redução da PA em repouso. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. American College of Sports Medicine. Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2003. 2. Simão R. Fisiologia e prescrição de exercícios para grupos especiais. São Paulo: Phorte; 2004. 3. Pescatello LS, Franklin BA, Fagar R, Farquhar WB, Kelley GA, Ray CA. American College of Sports Medicine position stand: exercise and hypertension. Med Sci Sports Exerc. 2004;36:533-53. 4. III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial. 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