Os cantores e músicos pioneiros dos discos •Na abertura do sec XX as opções vividas pelo RJ aos que pretendiam viver da música popular se restrigiam ao teatro de variedades e aos café-cantantes, para os consagrados , e ao circo, às casas de chopp e as bandas para os menos conhecidos. •O novo século, com teatros de revista, clubes de dança populares, cabarés, circos e bares na área boêmia da Lapa e os bordéis do Mangue, o chope berrante, as salas de espera dos cinemas, aliados ao intenso comércio de partituras e instrumentos musicais, propicia a expansão do entretenimento popular. •A primeira gravadora de discos do Brasil, Casa Edison, de propriedade de Frederico Figner foi fundada em 1900 pelo empresário tcheco naturalizado americano, na rua do Ouvidor no Rio de Janeiro e se dedicava a vender aparelhos sonoros (máquinas falantes), cilindros, chapas. Lá foi feito o primeiro registro fonográfico do Brasil, o lundu Isto é bom, em 1902. A chegada da indústria fonográfica no Brasil com Fred Figner criava em nosso acanhado meio musical uma nova classe : os cantores de disco. •Em 1902 entra no mercado o gramofone, com discos de cera cuja reprodução do som era feita através de uma agulha metálica presa a um diafragma de mica, que Émile Berliner lançara. Fred Figner garante para si, através de contrato com a International Zonophone Company, o direito de fabricação de chapas prensadas dos dois lados, o disco. Surgem as séries Zon-O-Phone 10.000 e X-1000 que podem ser consideradas as primeiras do disco brasileiro. Fred Figner convida os cantores Cadete (Antonio da Costa Moreira) e Bahiano (Manuel Pedro dos Santos) para gravar fonogramas brasileiros, ganhando um mil-réis por cilindro. Mais tarde o palhaço Eduardo das Neves (Dudu), famoso por seus lundus e canções, veio juntar-se à dupla. Com isso o pioneirismo foi acrescido à biografia de Fred Figner, o de profissionalizar a música popular no Brasil. O sistema de gravação era mecânico, obrigando o intérprete a cantar gritado na boca de uma enorme corneta. O “técnico de som” tinha que empurra-lo à frente pelos ombros nas notas graves, ou puxa-lo para longe, nas notas agudas. Quando gravavam bandas ou conjuntos, os músicos se amontoavam na frente da corneta. Depois da gravação, a cera era enviada para a Alemanha e voltava transformada em disco seis meses mais tarde. Nascido em 5 de dezembro de 1887, na Bahia, Manuel Pedro dos Santos, que viveria no Rio de Janeiro até sua morte em 15 de julho de 1944, ganhou fama ao se tornar cançonetista com o apelido de Bahiano. Primeiro cantor a se profissionalizar no Brasil, gravou também o primeiro disco, que substituiu os cilindros gravados, como de hábito na época, em apenas uma das faces. Especializado em modinhas e lundus, que cantava acompanhando-se ao violão, teve a chance de se tornar conhecido e ganhar lugar definitivo na história da música popular brasileira e do samba em particular, ao gravar para a Casa Edison o considerado primeiro samba levado ao disco, o Pelo telefone , em 1917. Outros grandes cantores da Casa Edison: Mario Pinheiro- que nasceu em Campos no RJ e exerceu atividade intensa no disco e no palco. Após um início penoso em circo de baixa categoria, em que tentou a profissão de palhaço, começo a gravar na Casa Edison em 1904. Realizou a primeira gravação da modinha “ Casinha pequenina”. Eduardo das Neves- (1871- 1919) o nosso artista negro de maior sucesso no início do Século. Tornou-se aos 24 anos cantor, compositor e palhaço de circo. Na classe das cantoras não há nomes a destacar. Deve-se o fato à inexistência desse tipo de atividade profissional em nossa sociedade machista do começo do séc XX. Existiam as atrizes de teatro musicado- Pepa Delgado entre outras. No Brasil, cantoras populares passaram a existir na Era do Rádio (1930- 1945). •A maioria de nossos fonogramas da fase mecanica são de música instrumental. Essa superioridade, que se inicia em 1912 com as bandas, aumenta a partir de 1914, com o crescimento dos grupos de choro. O flautista Patápio Silva foi um dos pioneiros da gravação de discos, bem como a Banda do Corpo de bombeiros, e o grupo de Chiquinha Gonzaga. Em 1917 estréia em gravações, ainda menino, Pixinguinha. • Em 1911, associando-se à Odeon, pertencente à firma holandesa Transoceanic, Figner importa o equipamento da Alemanha e instala no Brasil a primeira fábrica de discos, a Odeon, no bairro da Tijuca, Rio de Janeiro, e mantém a liderança até 1924, quando a Victor Talking Machine cria o processo de gravação elétrica. •Numa avaliação do período inicial de nossa fonografia- agosto de 1902 a junho de 1927em que vigorou o sistema de gravação mecânica (único existente na ocasião), pode-se dizer que foram lançados cerca de 7 mil discos, a maioria pelo selo Odeon. Esse acervo sonoro constitui o mais importante documento para o estudo de nossa produção musical da época. As origens do Samba O samba não existiria se não tivessem existido o Maxixe, o Lundu e as múltiplas formas de samba folclórico, praticados nas rodas de batuque. A síntese de todas essas influências deu o samba urbano carioca, gênero musical binário, sincopado, fixado por compositores populares. Após a Abolição, na área antes destinada às casas de altos funcionários do Império ou membros da burguesia comercial, contígua à região portuária carioca, afro-baianos buscam reconstruir sua comunidade de interesses e sentidos, pois no fim do século, com a expansão da cidade para a zona sul, este rico bairro entrara em decadência. Transformadas as casas em cortiços, estalagens coletivas ou pensões, ou então arrendadas por famílias baianas, cria-se uma comunidade de origem afro, liderada pelas famosas tias baianas que irão papel fundamental na configuração de nossa música popular. Essa área central será palco de uma grande mistura: baianos e cariocas, ciganos e migrantes estrangeiros, todos na mesma sorte de excluídos, e em várias formas de expressão dos seus usos e cultura que se enriquecem mutuamente, passando a ser chamada de Pequena África. Na Pequena África, localizavam-se os principais pontos em que se praticava o samba primitivo. Assim, não foi por acaso que nesse território nasceu o samba urbano da mesma forma que já antes já haviam nascido o maxixe e o samba carnavalesco. E nasceu, por assim dizer em agosto de 1916, na casa de uma das baianas , a casa da Tia Ciata. No local uma roda de batuqueiros integrada por Donga, Germano Lopes, Hilário Jovino, Sinhô entre outros, criou, em noites sucessivas, uma composição chamada de “ o roceiro” que Donga registrou com o nome de “Pelo Telefone” (samba- amaxixado). Lançada em disco pela Odeon em 1916, pelo cantor Bahiano, essa composição tornouse o primeiro samba de sucesso nacional, deflagrando o processo de popularização do gênero. No carnaval de 1917, Pelo telefone, de letra pouco preocupada com a coerência, assemelhando-se a uma colagem de melodias e textos curtos (o que remete à sua origem nas rodas de improviso), fez grande sucesso. Não foi a primeira música, em disco, a que se atribuiu o rótulo ''samba'', mas mostrou-se pioneira em ganhar as ruas. Melodia e acompanhamento aproximam Pelo telefone do maxixe. A disputa da autoria do “ Pelo Telefone” é marco ambivalente, por expressar fim/início de um modo de vida e da arte musical popular, fim/início de um tipo de sociabilidade da comunidade negra: de um lado, o fim de uma era, a da música popular como manifestação gratuita, anônima e comunitária, e início de outra, pela introdução da profissionalização do artista popular que passa a lutar pela autoria individualizada. “Pelo Telephone” caiu no gosto do povo, ganhou perenidade e transformou-se o marco zero na história do Samba urbano. O chefe da folia pelo telefone manda lhe avisar Que com alegria não se questione para se brincar O chefe da polícia pelo telefone manda lhe avisar Que na Carioca tem uma roleta para se brincar - Ai, ai, ai, Deixa as mágoas para trás ó rapaz - Ai, ai, ai, - Fica triste se é capaz, e verás Tomara que tu apanhes Pra nunca mais fazer isso Tirar o amor dos outros E depois fazer feitiço Ai se a rolinha (Sinhô, sinhô) Se embaraçou (Sinhô, sinhô) É que a avezinha (Sinhô, sinhô) Nunca sambou (Sinhô, sinhô) Porque este samba (Sinhô, sinhô) De arrepiar (Sinhô, sinhô) Põe perna bamba (Sinhô, sinhô) E faz chorar