Teatro de revista
Focalizando acontecimentos marcantes do ano, daí a classificação “revue de fin d’anné”,
o Teatro de revista nasceu em Paris no início do séc XX e chega ao Brasil em janeiro de
1859, mas a produção é muito pequena até 1875. Nessa primeira fase do gênero, que
tem seu apogeu com as revistas e burletas de Artur Azevedo, a linguagem é
marcada pela valorização do texto em relação à encenação, e pela crítica de
costumes abordada com versos e personagens alegóricos.
Pode-se dizer que o gênero foi, em seus tempos áureos, uma forma de espetáculo
cômico-musical em que se mesclava a sátira política e social com a exploração de um
humor livre, malicioso, e a exibição generosa da plástica das atrizes.
No decorrer dos anos 10 estréia a peça Forrobodó constituindo-se no maior fenomeno do
teatro musicado brasileiro, alcançando mais de 1500 apresentações nas inúmeras
remontagens que recebeu. Em sua trilha musical m 13 composições de Chiquinha
Gonzaga, estavam o tango Forrobodó e a canção comica Sia Zeferina que seria
transformada na modinha Lua Branca.
A grande fase do teatro de revista brasileiro viveu seus momentos mais altos
nesse final dos anos 20, quando alcançou um equilíbrio perfeito entre a graça
das cortinas cômicas e a exuberância dos quadros musicais.
Concorreu para isso a conjunção de três fatores, que seriam a atuação de
bons cômicos interpretando textos realmente espirituosos, a atração exercida
por um grupo de belas e sensuais atrizes, a exemplo de Araci Cortes, e o
aproveitamento maciço do que havia de melhor na música popular.
A chegada da década de 30, com a popularização do rádio e do cinema
falado, constituiu-se num poderoso golpe no prestígio do teatro musicado.
Então, embora tenha continuado intensa a produção das revistas, o gênero
entrou em processo de decadência, com suas vedetes sendo ofuscadas pelo
brilho de uma nova geração formada pelo rádio.
Não por acaso, essa geração seria a mesma a construir a glória e o encanto
de nossos filmes musicais, verdadeiras revistas filmadas, que começaram a
ser lançadas regularmente a partir de 1933.
Sinhô 18/09/1888
04/08/1930
Um dos mais talentosos compositores, para muitos o maior,
da primeira fase do samba carioca. Nascido no Rio de
Janeiro, filho de um pintor admirador dos grandes chorões da
época, foi estimulado pela família a estudar flauta, piano e
violão. Casou-se cedo, aos 17 anos, com a portuguesa
Henriqueta Ferreira e teve de se virar para sustentar os três
filhos. Tornou-se pianista (de ouvido), animando os bailes de
agremiações dançantes, como o Dragão Clube Universal e o
Grupo Dançante Carnavalesco Tome a Bença da Vovó.
Não perdia nenhuma roda de samba na casa da baiana Tia
Ciata, onde encontrava os também sambistas Germano
Lopes da Silva, João da Mata, Hilário Jovino Ferreira e
Donga.
Ficou surpreso quando Donga, em 1917, gravou e registrou
como sendo dele (em parceria com Mauro de Almeida) o
samba carnavalesco “Pelo Telefone”, que na casa da Tia
Ciata todos cantavam como o nome de “O Roceiro”.
Compositor nato, Sinhô, com escassos conhecimentos teóricos, ele foi, pode-se dizer, o
sistematizador intuitivo do samba- amaxixado. Quase sempre no modo maior, seus
sambas eram melodiosos, inventivo, fáceis de memorizar e marcados por um forte
sincopado herdado do maxixe.
Embora mais melodista do que poeta, fazia letras com razoável competência, misturando
versos ingênuos e pitorescos com imagens rebuscadas. Seus temas favoritos eram a
crônica do cotidiano e as agruras do amor, sempre enfatizando o dinheiro e a mulher,
principais objetos de suas preocupações na vida real.
Cultivou a fama de farrista, promovendo grandes festas em bordéis, o que não o impediu
de ganhar o nobre título de “O Rei do Samba” durante a Noite Luso-Brasileira, realizada
no Teatro da República, em 1927.
Nesta época tornou-se um dos compositores mais solicitados do teatro musicado,
figurando seus sambas na maioria das “revistas”.
Em 1928, começou a dar aulas de violão para Mário Reis, que se tornaria o seu maior
intérprete, gravando clássicos “Jura”, “Ora Vejam Só”, A Favela Vai Abaixo”, “Sabiá”, “Que
Vale a Nota Sem o Carinho da Mulher”.
Araci Cortes
Filha de um chorão e vizinha de Pixinguinha
na infância no Rio de Janeiro, adotou o
nome artístico quando foi trabalhar no teatro
de revista, nos anos 20. Foi uma das
primeiras estrelas da música brasileira, e
interpretou em primeira mão composições
de Ary Barroso, Benedito Lacerda e Assis
Valente, entre outros, se apresentando até
com os Oito Batutas, conjunto de
Pixinguinha. O primeiro disco saiu em 1925
e poucos anos depois teve enorme sucesso
com o samba "Jura", de Sinhô. Foi a
primeira estrela de revista a excursionar no
exterior, em 1933. Entre as décadas de 50 e
60 se afastou do meio artístico, voltando em
1965 no espetáculo "Rosa de Ouro", que
rendeu dois LPs. Em 1984 foram lançados
um LP e um livro comemorativos de seus 80
anos.
A voz e o Disco
O canto coloquial de Mario Reis
“ Todo mundo me pergunta se eu fiz um truque para derrubar os outros. Não foi
intencional. Eu fiz isso porque achava que a maneira certa de cantar era essa...”
Mario Reis – 1971
Até o aparecimento de Mario Reis, predominava entre nossos cantores populares
a escola do bel canto italiano. Era a época do vozeirão, dos tenores e dos
barítonos de voz empostada como Vicente Celstino e Francisco Alves.
Isso acontecia não apenas por razão de gosto ou de tradição, mas pela
impossibilidade do cantor se fazer ouvir cantando à meia-voz em recintos amplos
ou em gravações no precário sistema mecânico.
Com a chegada ao Brasil, em 1927, da gravação e amplificação eletro magnética,
com seus microfones e alto-falantes, superou-se a necessidade de se possuir voz
forte para gravar ou cantar em público. E, o primeiro brasileiro a perceber e tirar
proveito disso foi Mario Reis.
Acreditando que a maneira certa de cantar exigia uma aproximação
da língua falada- o que representava o oposto a eloquência do bel
canto- e utilizando ao máximo sua apurada musicalidade, sua dicção
impecável e seu perfeito domínio sobre o fraseado musical, Mario Reis
desenvolveu uma técnica de interpretação que revolucionou nossa
maneira de cantar.
Suas gravações passam uma impressão de extrema leveza como se
ele cantasse sorrindo. Era o canto coloquial, quase falado, que,
praticado por um jovem aristocrata, abria ao samba, então em fase de
afirmação, boas possibilidades de aceitação pela classe média e até
por parte da alta sociedade.
Mário da Silveira Reis era o seu nome
verdadeiro. Nasceu no Rio de Janeiro em
31.12.1907 e faleceu também no Rio em
5.10.1981, deixando envolto em mistério
muitas das suas decisões relacionadas com
sua passagem pela música popular brasileira.
Filho de um comerciante sócio de uma casa
de ferragens, de boa situação financeira,
passou a infância no bairro carioca da Tijuca.
Começou a estudar violão com Carlos
Lentine, e em 1926, ano em que entrou para
a Faculdade de Direito do Distrito Federal,
conheceu Sinhô na loja A Guitarra de Prata.
Passou a tomar aulas de violão com o
compositor, e este, impressionado com a
interpretação que o aluno dava a seus
sambas, convidou-o a tentar uma gravação.
Contratado pela Odeon, gravou outras músicas de Sinhô: Sabiá e Deus nos
livre do castigo das mulheres, e, em seguida, Jura e Gosto que me
enrosco, disco este que bateu recordes de vendagem, ameaçando inclusive
o prestigio de cantores famosos como Francisco Alves e Vicente Celestino.
Numa segunda etapa Mário teve a idéia de gravar em dueto com Francisco
Alves despertando a atenção pelo contraste das duas vozes, embora nestas
gravações Francisco Alves tenha procurado amoldar o seu timbre ao de Mário
Reis, como se poderá ouvir nas gravações que constam de sua Obra
Completa. Foi um sucesso. Gravaram juntos a partir de dezembro de 1930
cerca de 12 discos num total de 24 músicas.
A rigor sua carreira artística durou somente 8 anos de 1928 a 1936, com cinco
retornos esporádicos.
Mário Reis morreu aos 74 anos, mas deixou o legado de se ser o primeiro
inovador na música popular brasileira
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