REVISTA ÂMBITO JURÍDICO Pa?de miser?is ® Eta! Que País é este, dito abençoado por Deus e bonito por natureza? Que País é este, onde o dito fica pelo não dito e os homens se valem da desvalia intelectual de um povo para lhe perpetuarem a submissão? Que País é este, onde a miséria vai muito além da fome do estômago para habitar a mente e o espírito famintos de seus filhos? Que País é este, onde o que está ruim assim deve permanecer e o que está menos ruim deve, igualitária e tiranicamente, fazer parceria à ruindade? Que País é este, onde se nivela tudo por baixo? Que País é este, onde a esperança sempre cede passo ao compasso da desilusão? Que País é este, onde o que está acima deve cair e o que está abaixo não tem o direito de subir? Que País é este, onde se foge do enfrentamento das verdadeiras causas dos erros e se estabelecem “bodes expiatórios” como saída fictícia de crises que não causaram? Que País é este, onde a autoridade não tem autoridade, porque desautorizada por outra autoridade? Que País é este, onde os recursos destinados à educação nem sempre se destinam à instrução do povo? Que País é este, onde um Poder constituído, supondo-se mais poderoso que outro, se atribui o direito de ditar-lhe regras, alterando-lhe o destino, em prejuízo da população – disso ignorante? Que País é este, onde a dedicação e o estudo são comparados, como se no mesmo nível estivessem, com a atividade braçal, embora respeitável? Que País é este, onde se podem modificar regras do jogo no final deste? Que País é este, onde as alocuções – discursos breves, em ocasião solene – irrefletidas ganham o sensacionalismo de uma mídia despreparada à realização de seus fins? Que País é este, onde o que é garantia vira privilégio, pela incompetência ou má-fé conveniente de alguns? Que País é este, onde a força do Direito cede passo ao direito da Força? Que País é este, onde se tem uma Constituição no papel e, não raras vezes, só nele? Que País é este, onde os direitos, adquiridos ao longo do tempo e com muito suor, viram massa de manobra na mão de políticos distanciados do ideal de servir, a se servirem do povo? Que País é este, onde a indigência moral ecoa nos locais mais “altos”, donde se deveria esperar o exemplo melhor? Que País é este, onde, ao invés de se buscar a melhoria das condições de vida de quem ainda não conhece a dignidade em Vida, se busca o rebaixamento de todos, rumo à indignidade geral? Que País é este, onde se tem medo de dizer o que se pensa, sobretudo, em sendo verdade? Que País é este, onde se dinamitam as bases institucionais da sociedade inda constituída? Que País é este, onde as invasões se multiplicam, às barbas da lei, sem que nada se faça? Que País é este, onde domina a crise de autoridade? Que País é este, onde a coerência das posições pessoais é suscetível de punição? Que País é este, onde, na contramão da história, se tenciona tratar igualmente situações desiguais? Que País é este, onde se faz e desfaz, a bel-prazer, sob a complacência servil de quem tem o dever de agir? Que País é este, onde se está a ponto de acabar com os alicerces do serviço público, fundamento indiscutível da boa vivência social? Que País é este, onde as vozes dissonantes têm o tratamento da execração, próprio dos vanguardeiros de outrora? Que País é este, onde a política da conveniência pessoal se impõe ao dever do bem comum? Que País é este, onde a voz do bom senso cede ao ludíbrio da insensatez planejada? Que País é este, onde não se dá oportunidade ao povo de aprender a andar com as próprias pernas? Que País é este, onde se continua a dar o peixe, negando-se o direito de aprender a pescar? Que País é este, onde a população, insciente de seus direitos, se deixa levar, ao embalo de interesses inconfessáveis? Que País é este, onde o “pão e o circo” continuam a prevalecer? Que País é este... Este é o Brasil de hoje, onde impera a hipocrisia, mal disfarçada, a esconder a incapacidade dos governantes – de todos os níveis – de dar solução justa aos problemas que afligem o povo brasileiro. Sendo, como é, um País bonito por natureza, peçamos, mais que nunca, a bênção de Deus, para que a sociedade não se desorganize, ao sabor de atitudes precipitadas que firam de morte direitos arduamente conquistados. Que os homens de bem, deste País, unam suas forças, neste momento difícil e excruciante da vida da Nação, de molde a mitigar a miséria circunstancial entrevista em horizonte próximo.