Os comportamentos colectivos 109 Uma certeza, porém: «... é a classe inferior do Povo que mais particularmente está sujeita a estas consequências: sem meios suficientes para bem se curarem e tornando aos seus penosos trabalhos mal convalescidos, eles padecem frequentemente de recaídas de febres intermitentes, com quem finalmente se familiarizam, abandonando todos os meios de cura, ou somente procurando remédios particulares e misteriosos»114. QUADRO 42 Epidemias identificadas em Portugal no século XIX 114 Cólera Febre amarela Tifo exantemático Varíola Febre tifóide Gripe Difteria Rubéola Escarlatina Disenteria 1833, 53-55, 1865 1850, 51, 56, 57, 58 e 1860 1810-11, 48, 51, 52, 56, 59, 60, 71, 72, 81-84 e 1897 1869, 72, 76, 87, 97 e 1898 1850, 56, 61, 62, 64, 65, 75, 76, 80, 87, 93 e 1894 1801-03, 36-37, 53, 58, 62, 87, 89, 90 e 1896 1859 1862 e 1887 1858 e 1862 1864 e 1877 Com origens e efeitos diversos, as crises de mortalidade que regularmente atingiram o país durante a primeira metade de oitocentos foram alteradas em muitos dos seus aspectos a partir de então. Referimo-nos, designadamente, às causas próximas que as justificaram, à sua curta duração, que contrastava com a sua maior intensidade, e ao facto do número de vítimas, infectadas e falecidas, estar concentrado num curto espaço de tempo (algumas semanas, ou no máximo em um, dois meses), o que aumentava a percepção que as populações tinham sobre os fenómenos de sobremortalidade. Porém, as alterações verificadas entre as duas metades da centúria não obstam a que se mantivesse ou até alargasse o fosso entre os diferentes grupos sociais e os espaços envolvidos. Ao invés, quando desapareceram a partir de meados de oitocentos as grandes sobremortalidades causadas por sur114 António Jacinto Vidal, «Breve relação das moléstias, que costumão grassar em Vila Franca de Xira, e Póvos, suas causas, e tratamento; e das que particularmente grassarão no mês de Janeiro do Presente anno», in Jornal de Coimbra, vol. IV, n.º XIX (Julho,1813), pp. 219-223. Estas questões foram abordadas por João Pedro Ferro, A população portuguesa no final do Antigo Regime (1750-1815), pp. 71 e segs.