RIOS E CIDADES: RUPTURA E RECONCILIAÇÃO
Canal típico trapezoidal
Canal típico retangular
Figura 69: Alternativas de tratamento do canal em função das áreas disponíveis e respectivas
características hidrológicas - capacidade e velocidade do canal
FONTE: LARRMP (2005, p. 39).
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Figura 70: Propostas de recuperação dos trechos canalizados à curto e longo prazo
FONTE: LARRMP (2005, p. 62 e 63).
3.2.7 Implementação
O Plano de Revitalização do Rio Los Angeles encontra-se em fase de implementação, sendo
que são estabelecidos mecanismos de revisão e readequação com o acompanhamento constante dos resultados obtidos.
Um dos destaques do plano é a preocupação de mitigar o processo de gentrificação. Trata-se
de um processo controverso que afeta a população de baixa-renda e a disponibilidade de
empregos. Ocorre quando há renovação e, conseqüentemente, aumento do valor da propriedade, expulsando a população original. Em Los Angeles, de acordo com o plano, a mudança do uso industrial para residencial ou misto pode gerar um aumento de 200 a 300%
do valor da terra.
Em caso de remoção da população para outros bairros, o plano prevê mecanismos para
atenuar o impacto social incentivando a participação da comunidade e sua interação com
o plano durante o processo de desenvolvimento. Estabelece ainda uma porcentagem das
unidades residenciais, controladas por agências e sistemas de financiamento e suporte para
desenvolvimento de programas de assistência às famílias e incentivo aos negócios (comércios e serviços).
Os principais benefícios esperados com a revitalização compreendem a assimilação da importância do rio pelas atuais e futuras gerações, entendendo-o como a espinha dorsal verde
que conecta a natureza às comunidades, e como a alma da cidade.
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3.3 O Plano de Recuperação da Orla do Rio Anacostia11
Com o intenso processo de urbanização, o rio Anacostia tornou-se uma barreira que dificultava a integração do quadrante sudoeste do Washington D.C., em relação aos demais quadrantes da capital nacional dos EUA. O plano de revitalização foi elaborado para revitalizar
o tecido urbano adjacente à orla do rio Anacostia.
Elaborado por agências locais, órgãos públicos, iniciativa privada, organizações não governamentais e a sociedade civil, o Plano aborda questões sobre: recuperação ambiental,
adequação do sistema de drenagem e tratamentos das águas pluviais, melhoria do sistema
de circulação e transporte, revitalização dos bairros, aumento da economia e do orgulho
cívico.
Há, porém, uma meta mais ambiciosa: a de fortalecer a competitividade da capital no cenário nacional e internacional.
O Plano, que está em andamento, com as propostas iniciais previstas para terminar em 2010,
vem sendo sistematicamente publicado em revistas especializadas, como referência de planejamento urbano e ambiental, sendo citado em outros estudos sobre recuperação de rios
urbanos como, por exemplo, o ERD (Ecological Riverfront Design).
3.3.1 Contextualização
Caracterização do sítio
O rio Anacostia tem aproximadamente 58 km de extensão. Nasce em Maryland, percorrendo
Washington D.C.12, capital dos EUA, e deságua no rio Potomac, na baía Chesapeake.
A bacia hidrográfica do rio Anacostia abrange uma área de 440 km² (Figuras 71 e 72), com
ecossistemas variados e habitats exuberantes. No período pré-colonial foi habitada pelos
indígenas americanos, da tribo Nacotchtank, que deram ao rio o nome de origem indígena
“Anacostia”.
A área dentro do distrito de Columbia corresponde a 98,4 km²; porém, a área de intervenção
estabelecida pelo plano é de apenas 11,4 km². Em relação ao comprimento linear total do rio
(58 km), o mesmo percorre o Distrito de Columbia por 10,9 km, sendo que, deste total, cerca
de 3 km são confinados no canal de Washington (Figuras 73 e 74).
11 A análise deste estudo de caso tem como principais referências: 1. O plano intitulado: “Anacostia Waterfront Fra-
mework Plan” (Plano de recuperação da Orla do Rio Anacostia) - Washington, EUA (2003); 2. O artigo From divider to
uniter: the nation’s capital shifts its 21st-century growth to a forgotten river, de autoria de George Hazelrig publicado
em Landscape Architecture, v. 98, n. 3, mar. 2008, e revista Landscape Architecture, v. 95, n. 6, mai. 2005.
12 Washington, DC é a capital dos Estados Unidos da América e DC é a abreviação de District of Columbia.
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Figura 71: A bacia hidrográfica do rio Anacostia e o
Washington D.C.
FONTE: Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/
Anacostia_River>. Acesso em 03 mar. 2008
Figura 72: Washington é dividido em quatro
quadrantes: noroeste, nordeste, sudeste e sudoeste,
delimitados por eixos que determinam a posição do
edifício do Capitólio
Figura 73: Bacia Hidrográfica do rio Anacostia
Fonte: “The Anacostia Waterfront Framework Plan District of Columbia, Office of Planning” (2003, p.26)
FONTE: Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/
Image:DC_satellite_image.jpg>. Acesso em 03 mar. 2008
Figura 74: Localização da área do plano de
intervenção
Fonte: “The Anacostia Waterfront Framework Plan District of Columbia, Office of Planning” (2003, p.4)
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A evolução da apropriação do rio e impactos decorrentes
No século XVII, o rio Anacostia era a principal artéria de transporte da cidade de Washington
e, também, suporte para pesca e agricultura extensiva ao longo da bacia. Navios desfrutavam de um canal navegável até o porto de Bladensburg, Maryland, agricultores encontravam terras férteis e o rio Anacostia era repleto de peixes.
Em 1799, Washington se tornou a capital do país. A cidade passou a ser a principal porta
de recepção de materiais para a construção dos novos edifícios monumentais da cidade,
incluindo o Capitólio. A prática de limpeza e corte de florestas, a agricultura do tabaco e
as atividades industriais poluíram o Anacostia. Além disso, o assoreamento foi alterando a
profundidade do rio, reduzida de 12,2 m para apenas 2,4 m, impedindo a navegação.
Com a construção do sistema de coleta de esgoto de Washington na década de 1880, o rio
Anacostia passou a receber todo o esgoto da capital em desenvolvimento. As zonas alagadas ao longo da costa se tornaram criadouros de mosquitos e focos de malária. Em 1901,
o Senado deu início ao Plano McMillan (Figura 75), permitindo construções na orla do rio
para substituir as zonas úmidas, como meio de combater doenças, melhorar as condições de
saúde pública e estabelecer áreas de parque para o crescimento da cidade.
Figura 75: Projeto para o “Mall”, Plano McMillan, 1901
Fonte: “The Anacostia Waterfront Framework Plan - District of
Columbia, Office of Planning” (2003, p.13)
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Maria Cecilia Barbieri Gorski11