Proeja: Encontros e Desencontros da EJA no Colégio Pedro II Anderson José Lisboa Baptista Universidade Federal Fluminense – Programa de Pós-Graduação em Educação - RJ Agência Financiadora: CAPES Eixo: Pesquisa, Políticas Públicas e Direito à Educação Categoria: Comunicação O presente texto é fruto de pesquisa realizada para dissertação de mestrado, defendida em fevereiro de 2014 no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense: “Alunos da EJA em escolas com tradição de excelência: Uma análise do Proeja no Colégio Pedro II”, na qual estudei o encontro entre alunos da educação de jovens e adultos (EJA) e o Colégio Pedro II (CPII). Localizado no estado do Rio de Janeiro, o CPII foi criado no século XIX. Destaca-se na História da educação no Brasil como primeiro colégio laico, humanitário e propedêutico do país. Teve em seus quadros docente e discente figuras bastante conhecidas no cenário nacional e acumulou historicamente o status de escola de excelência. Na dissertação foi possível refletir sobre o processo de entrada do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja) nessa instituição. Assim como, destacar características, experiências e perspectivas de sujeitos ali inseridos, além de tecer uma análise da realidade do Programa no CPII enquanto política educacional. A pesquisa teve como objeto principal de análise os alunos do Proeja no CPII. O objetivo foi a partir da perspectiva desses sujeitos, refletir sobre o Programa na instituição, investigando principalmente os resultados do encontro de realidades tão distintas: o CPII e a EJA. Quando considero a distinção entre as realidades do CPII enquanto instituição de excelência e a da educação de jovens e adultos, não o faço a partir da perspectiva de que ali seja um não lugar para esta modalidade de ensino. Mas, considerando a configuração que se consolidou historicamente, na qual tais escolas contam com um rígido modelo de seleção e por isso, abrigam estereótipos de alunos padrões, que se distingue em muitos aspectos daqueles que costumam compor os quadros da EJA. Uma das hipóteses que fundamentaram o trabalho foi a de que este encontro de realidades “distintas” pode ajudar na reflexão sobre os rumos da EJA atual. A metodologia utilizada foi a de uma pesquisa qualitativa, sem contudo, abrir mão de dados quantitativos, que em muitos casos possibilitaram um olhar mais apurado para o objeto. Neste caso, além de revisão bibliográfica, pesquisa de documentos e legislações, trabalhei com entrevistas, a partir de uma abordagem biográfica, que também se enquadra no que Guerra (2006, p.18), chama de “entrevista compreensiva”. Seja qual for o método a ensaiar, nas entrevistas compreensivas os sujeitos tomam estatutos de informadores privilegiados, uma postura muito diferente da dos entrevistados nos métodos de pesquisa mais cartesianos, que são reduzidos à posição de informadores objetivos. [...] Claro que se trata de atores situados em contextos de ação concretos, e a atenção à criação de significações pelos atores (sense making) – centro de interesse das problemáticas interpretativas – remete para uma dimensão social fundamental que corresponde à relação entre perspectivas dos atores e os contextos nos quais eles se encontram implicados. Os sujeitos entrevistados foram: alunos, egressos, professores, gestores e funcionários. A partir das informações levantadas na dissertação apresentarei aqui apenas algumas considerações de alguns dos entrevistados. Entre os teóricos que fundamentaram algumas das análises da pesquisa estão: Pierre Bourdieu (2008; 2012), Danilo Martuccelli (2007; 2010), Paulo Freire (2006; 2008) etc. Além de autores como: Jane Paiva (2009), Maria Margarida Machado (2009), Sérgio Haddad (2006), entre outros, que foram fundamentais na empreitada da pesquisa e contribuem especialmente com o recorte temático aqui proposto. Sendo assim, apresento neste artigo apenas algumas das discussões que se evidenciaram na dissertação. Divido-o em duas seções. Primeiro faço um breve resgate histórico conceitual da EJA em sua configuração contemporânea enquanto modalidade de ensino da educação básica, e apresento, dentro deste contexto, o Proeja e suas propostas. Em seguida apresento a discussão sobre a EJA especificamente no CPII a partir do Proeja. Um breve panorama do Proeja no contexto da EJA contemporânea O tema educação aparece na nossa Carta Constitucional de 1988 como um direito social, que deve ser assegurado a todos pelo Estado e pela família. Um dos princípios para aplicação deste direito aparece no artigo 206, inciso I: “igualdade de condições para o acesso e permanência na escola”. A simples necessidade de uma modalidade de ensino voltada para um público que não desfrutou do direito do acesso ou da permanência na escola, por quaisquer que sejam os motivos, nos leva a inferir que tal direito tem sido negado. Desta forma, essa modalidade assume implicitamente o papel de garantir que tal negação não seja perpetuada. Conforme aponta Paiva (2009, p.61), o direito à educação é uma construção social, desta forma o acesso ao conhecimento é um “bem cultural simbólico das civilizações”. Sendo assim, “ter acesso a esse bem constitui o direito e, por oposição, não ter acesso, o não direito, traduzido como exclusão/apartação, por não ser direito natural, mas construção social”. No caso específico do público da EJA, podemos falar em direito negado. Na década de 1990, a discussão da EJA como garantia de direito ganha uma força extra. Fruto da V Conferência Internacional de Educação de Jovens e Adultos (V Confitea), realizada em 1997, a Declaração de Hamburgo afirma que “a educação de adultos, dentro desse contexto, torna-se mais que um direito: é a chave para o século XXI; é tanto consequência do exercício da cidadania como condição para uma plena participação na sociedade. Paiva (2009, p. 67) destaca que um dos aspectos fundamentais do texto da Declaração está no fato da educação ser reafirmada como “mais que um direito”. Segundo a autora, a concepção do direito à educação esteve ausente em algumas conferências anteriores, mas reapareceu na década de 1990, recuperando, “(...) lugar de relevo em acordos em torno do meio ambiente, das mulheres, das populações, dos assentamentos humanos etc.”. Machado (2009, p.18), ao discutir as principais políticas para educação de jovens e adultos a partir da instituição da LDBEN o faz com a ressalva de que não devemos reduzi-la a questão da escolarização. Reconhecer a educação como direito significa entender que o mesmo está além da realidade escolar e deve se ampliar à “produção do conhecimento que se dá no mundo da cultura e do trabalho nos diversos espaços do convívio social, em que jovens e adultos seguem constituindo-se como sujeitos”. Segundo Paiva (2009, p.67), a partir de então, a EJA pode ser pensada como “processo de longo prazo”, no qual “o aprendizado acontece durante a vida inteira”. Isso significa que pensar a EJA como direito nos dias de hoje implica considerar que a apreensão plena deste direito deve se relacionar diretamente com a questão do trabalho. Pelo menos dois aspectos são fundamentais para pensarmos a EJA contemporânea: o primeiro é de que ela se enquadra em uma perspectiva mais ampla da educação como direito. Isso significa de que não se tratar mais de mera assistência, ou ações de caridade voltadas para atender indivíduos que não concluíram a formação escolar na idade certa. Significa que se a educação é um direito de todos, deve ser assegurado pelo Estado, inclusive para jovens e adultos. E mais, este direito não se restringe apenas a formação escolar. Ele deve ser assegurado também na perspectiva de uma formação ao longo da vida. (PAIVA, 2009) O segundo aspecto está no fato de que a EJA atualmente é uma modalidade de ensino da educação básica. Isto significa na prática que estamos diante de especificidades que precisam ser consideras e respeitadas em todas as ações voltadas para ela. Sejam estas de cunho pedagógico, curricular ou político e administrativo. Com a proposta de integrar a educação profissional com a EJA, o Proeja foi criado no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A sua implantação foi no ano de 2005 a partir do Decreto nº 5.478/05. Todavia, no ano de 2006, esse decreto foi revogado e substituído pelo Decreto nº 5.840/06, que ampliou o atendimento do Programa, incluindo o ensino fundamental além de acrescentar novas instituições, entre elas as Redes Municipais e Estaduais, Sistema S e o CPII. O Programa nasceu em um contexto em que a Educação Profissional passava por uma reestruturação e a Educação de Jovens e Adultos emergia com certo destaque no governo do presidente Lula. Dentro deste cenário, ele assumiu algumas características importantes no quadro da educação nacional. A primeira foi a forma como o Programa foi gestado na sua reformulação em 2006, que culminou no Decreto nº 5.840/2006. Foi um processo que contou com a participação de distintos atores interessados no Programa. Outro diferencial do Proeja foi ter promovido a associação da Educação Profissional com a EJA. Embora não tenha sido o primeiro programa a fazer isto, o faz a partir da proposta de um currículo integrado. Esta integração aparece de forma bem clara no Documento Base do Proeja (Brasil, 2007a, p. 41): [...] o que se pretende é uma integração epistemológica, de conteúdos, de metodologias e de práticas educativas. Refere-se a uma integração teoriaprática, entre o saber e o saber-fazer. Em relação ao currículo, pode ser traduzido em termos de integração entre uma formação humana mais geral, uma formação para o ensino médio e para a formação profissional. A proposta do currículo integrado é alinhada no Programa com o conceito de politecnia, que surge no documento a partir da lógica do trabalho como princípio educativo. De certa forma, este fato evidência, na proposta, pelo menos em relação ao Proeja Ensino Médio (Proeja Médio), um rompimento com a lógica de formação de mão de obra exclusivamente para o mercado. No texto do Documento Base do Proeja Médio, há uma clara opção epistemológica, que certamente é fruto dos diálogos estabelecidos com os diversos atores que participaram dos grupos de trabalho que elaboraram o referido Documento Base. Em relação a isso, Moura e Pinheiro (2009, p. 93) ressaltam uma “referência explícita desse Documento ao trabalho como princípio educativo e à integração entre trabalho, ciência e tecnologia e cultura”. [...] a concepção de uma política, cujo objetivo da formação está fundamentado na integração de trabalho, ciência, técnica, tecnologia, humanismo e cultura geral, pode contribuir para o enriquecimento científico, cultural, político e profissional das populações, pela indissociabilidade dessas dimensões no mundo real. Ademais, essas dimensões estão estreitamente vinculadas às condições necessárias ao efetivo exercício da cidadania. (BRASIL, 2007, p. 35) È importante destacar que a concepção do trabalho como princípio educativo já vem sendo exposta no cenário educacional brasileiro há algum tempo por autores do campo trabalho e educação. Esses autores partem geralmente da dimensão ontológica dos conceitos de trabalho e educação para pensar o trabalho como princípio educativo. Isso implica romper com a concepção que relaciona trabalho a emprego, a salário, e que propõe uma formação limitada ao suprimento de mão de obra para o mercado. Ou seja, significa uma opção distinta ao modelo que converteu tanto o trabalho, como a ciência e tecnologia em mercadoria, em elementos de lucro em detrimento do valor de uso que os mesmos deveriam ter para sociedade como um todo. Não se trata apenas de uma “técnica didática ou metodológica no processo de aprendizagem, mas sim um princípio ético-político” (FRIGOTTO, 2012. p. 60). A reformulação do Programa estabelecida no Decreto nº 5.840/06 também estabeleceu o atendimento ao Ensino Fundamental, através de cursos de Formação Inicial e Continuada (Proeja- FIC), todavia esta pesquisa é voltada apenas para o Ensino Médio. No Proeja Médio, os alunos obtém no final do curso, além do Ensino Médio, a formação técnica. Proeja: A EJA no CPII O Colégio Pedro II está entre as instituições que oferecem o Proeja Médio, no Rio de Janeiro. Ele foi assumido na instituição, no segundo semestre de 2006 nos seguintes campi: Centro, Engenho Novo II e Realengo II. O campus Tijuca II, passou a oferecer o Programa a partir de 2007. Começou com o Curso Técnico em Manutenção e Suporte em Informática. Em 2007, iniciou-se o Curso Técnico em Manutenção Automotiva, realizado em parceria com o CEFET (Unidade Maria da Graça). Neste caso específico, o Colégio Pedro II é responsável pela parte propedêutica, enquanto que o CEFET pelo curso técnico. Em 2010, o Proeja do CPII passou a oferecer também o Técnico em Administração. Entre os fatores que despertaram o interesse pela pesquisa se realizar no CPII, está o de que, ao chegar na instituição o Programa a colocou diante de duas realidades: a educação profissional e a EJA. A educação profissional já era oferecida mas, diferentemente de outras instituições que abrigaram o Programa, como os Institutos Federais, por exemplo, esta nunca foi a principal linha de atuação do Colégio. Um exemplo disso é que entre os anos de 2009 e 2012, ele teve um número próximo de 14.300, alunos matriculados no Ensino Médio Regular e apenas 2.600, aproximadamente, no Ensino Médio Técnico. No caso da EJA, o CPII nunca havia trabalhado com esta modalidade de ensino. Esta experiência começou em 2006 com o Proeja. Vejamos então alguns aspectos que podemos chamar de encontros e desencontros oriundos desta vivência. Dentro da perspectiva aqui proposta vou considerar como encontro aquilo que está de acordo com o que foi sinteticamente destacado acima como característica fundamental na EJA contemporânea: a EJA como direito e como modalidade de ensino da educação básica. E consequentemente chamo de desencontro aquilo que aparece de forma contrária a esta concepção. Entretanto, ratifico que estão sendo levantadas neste artigo, apenas algumas das discussões decorrentes da pesquisa, o que significa que há outros aspectos além dos aqui privilegiados. Ao proporcionar o encontro da EJA com uma instituição como o CPII, o Proeja, consequentemente proporcionou o encontro de sujeitos, em muitos casos marcados por interrupções em suas trajetórias escolares, com uma instituição socialmente reconhecida pela excelência, e detentora de grande sentido simbólico. Neste caso muitos dos sujeitos entrevistados declararam o fato de estarem estudando no CPII, como um grande privilégio, como resgate de autoestima. Em muitos casos, trata-se de sujeitos marcados pela exclusão e/ ou fracasso no sistema escolar. A fala de uma das alunas entrevistadas evidencia bem esta questão, ela tem 45 anos e está no primeiro ano. Segundo ela, muitas pessoas a desencorajaram quando expressou a intenção de estudar no CPII. Todavia, o fato de ter conseguido entrar na instituição a faz se sentir orgulhosa se si mesma. Quando sujeitos que vivem o estigma social da ausência do diploma escolar tem assegurado o direito de estudar em uma instituição como o CPII, se sentem resgatados. É o que pode ser percebido na fala de um egresso de 36 anos, formado no curso Técnico de Manutenção de Computadores, quando faz a seguinte afirmação: “Eu me sinto pelo Proeja, não só pelo Pedro II... eu me sinto resgatado. É o que eu te falei, eu me sentia perdido e me sinto no meu lugar, graças a este curso”. Entre estes encontros da EJA com o CPII, me deparei com duas questões bem importantes no que se refere a esfera institucional. A primeira delas está no funcionamento noturno da biblioteca em todos os dias da semana, que passou a ocorrer para atender os alunos do Proeja, inclusive por reivindicação deles mesmos. Deparei-me, inclusive, com alunos que se tornaram frequentadores assíduos este importante setor. Outro fator é o do jantar que é oferecido aos alunos do Proeja. Como funcionários fizeram questão de relatar, trata-se de uma alimentação de qualidade preparada exclusivamente para os alunos do Proeja. Tanto o funcionamento da biblioteca no turno da noite, quanto a preparação de um jantar específico e de qualidade parecem ser coisas óbvias. Todavia, infelizmente, esta não é uma realidade muito comum na EJA de uma forma geral. Percebemos no contato com os sujeitos que o encontro dessas realidades é um dos fatores fundamentais para manutenção de muitos deles no curso. No caso do jantar, não há dúvida de que é um elemento essencial para os alunos depois de intensas jornadas de trabalho. Reconhecer a especificidade do público da EJA abrange também questões como esta. Isso faz com que haja necessidade de uma adaptação da estrutura da instituição que pelo que constatamos na pesquisa, ocorre em algumas áreas do Colégio, porém não acontece em todas. Neste caso, a fala de uma gestora, diretora do Proeja no campus pesquisado, apontou que tem dificuldades administrativas, uma vez que a estrutura do Colégio, que foi toda pensada para atender os turnos diurnos, não se adaptou para a EJA. Desta forma, alguns setores importantes da instituição não funcionam à noite e isto dificulta e atrasa algumas ações importantes. Surge com isso uma indagação. Falamos em encontros entre as realidades da EJA e do CPII, mas será que este encontro foi capaz de disponibilizar a esta modalidade de ensino apenas o espaço físico ou também o lugar social da instituição? Alguns dos gestores e funcionários entrevistados foram categóricos em afirmar nas entrevistas que existem diferenças entre o que acontece no CPII diurno e no noturno. Para eles é como se existissem duas instituições diferentes. Como profissionais da casa eles identificam um tratamento bastante diferenciado dispensado ao Proeja dentro do CPII. Neste caso seria como se a EJA estivesse ali, mas não desfrutasse ainda de toda estrutura e características existentes na instituição. Afinal, trata-se de uma modalidade de ensino que não corrobora com a visibilidade social da instituição como colégio de excelência. Uma fala que me chamou a atenção, neste sentido foi a de um gestor, que atuou diretamente na implantação do Programa no Colégio, inclusive com algumas iniciativas bem interessantes. Ele foi o primeiro sujeito entrevistado e contribuiu bastante com a realização da pesquisa. Ao ser perguntado se o CPII em algum outro momento tinha trabalhado com a EJA, respondeu que a instituição nunca trabalhou com a EJA e que continua não trabalhando, uma vez que no momento atua com o Proeja. Ou seja, ele aponta a EJA e o Proeja como situações distintas e destaca que a instituição trabalha apenas com o Proeja. Seria esta uma dificuldade inconsciente de assumir que o CPII atua com o público da EJA? Ou será que se trata apenas de desconhecimento? Infiro que não seja mera questão de desconhecimento, uma vez que ele teve inclusive a oportunidade de realizar a sua dissertação de mestrado sobre o Proeja. Todavia, penso que também tal distinção não seja formulada por ele de forma consciente. Mesmo porque, este gestor, também foi professor no Programa e relatou que em suas aulas buscava o tempo todo métodos diferenciados para atender o público em questão. Tais encontros e desencontros da EJA enquanto direito e modalidade de ensino da educação básica em uma instituição de excelência do CPII evidenciam que tais relações dialéticas estão presentes constantemente na implementação de políticas educacionais. Neste caso, o diálogo com sujeitos envolvidos no processo é fator fundamental para uma reflexão sobre o que de fato tais políticas proporcionam na prática. Considerações Finais: Não podemos negar que tivemos importantes avanços na EJA, do ponto de vista de reconhecimento legal. Algumas políticas se materializam através de programas, que em casos como o do Proeja, expõem em suas propostas alguns desses avanços. Todavia, assim como parte de determinado processo histórico e social, a implementação de uma política é composta por continuidades e rupturas. É justamente neste sentido que pude observar na pesquisa encontros e desencontros da EJA enquanto direito e modalidade de ensino no CPII, através do Proeja. Avanços que em princípio podem parecer pequenos não o são se considerarmos o “não-lugar” que foi dispensado a esta modalidade de ensino a longo da história da educação brasileira. Contudo, isso não pode representar um contentamento com “migalhas”, mas sim como estágio de um caminho que aponta para a busca da consolidação plena de um direito que foi árdua e legitimamente conquistado no plano legal da EJA enquanto modalidade de ensino da educação básica. Referências: BRASIL. Constituição Federal da República do Brasil de 1988. 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