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Classificação do artigo 30 jan 2015 O Globo
LUIZ ERNESTO MAGALHÃES luiz. magalhaes@ oglobo.com. br
A ordem é reaproveitar
Estado ameaça cortar licença de grandes indústrias que não empregarem água
de reúso
Grandes empresas que fazem captação no Rio Guandu serão obrigadas a empregar água de reúso da
Cedae em seus processos de produção. Para enfrentar a crise hídrica, o governo do estado vai exigir que
indústrias de grande porte passem a empregar exclusivamente água de reúso da Cedae em sua produção.
O anúncio foi feito ontem pelo Secretário estadual do Ambiente, André Corrêa, durante reunião com
representantes do Grupo Gerdau, da ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), de Furnas
e da Fábrica Carioca de Catalisadores ( FCC), que têm instalações no Canal de São Francisco, na foz do
Guandu — do qual captam, juntas, até três metros cúbicos de água por segundo. A mesma exigência será
feita à Refinaria Duque de Caxias (Reduc), em reunião nos próximos dias. A empresa, sozinha, absorve até
dois metros cúbicos por segundo.
No caso das empresas instaladas no Canal de São Francisco, o projeto prevê a implantação de uma
adutora com 14 quilômetros de extensão até a Estação de Tratamento do Guandu, onde será captada a
água da Cedae empregada em atividades industriais, como lavagem de tanques de decantação. Em
relação à Reduc, será proposta a captação na Estação de Tratamento de Esgotos de Alegria ( Caju), que já
fornece água ao Comperj.
Corrêa disse que, numa situação de crise como a atual, as empresas não têm alternativa senão
colaborar. Se alguma indústria não concordar, terá sua licença de captação de água no Guandu cassada
pelo governo do estado, o que na prática inviabilizaria seu funcionamento.
Hoje haverá uma reunião entre técnicos das empresas instaladas no canal e da Cedae para discutir as
intervenções. Por enquanto, ainda não há estimativas de custo ou prazo para as obras. Para o secretário,
o ideal é que as empresas arquem com as despesas, para que os trabalhos sejam executados em ritmo
mais acelerado. Os custos podem ser abatidos da conta d’água.
— A prioridade é o consumo humano. As empresas têm consciência da gravidade do assunto — disse o
secretário.
VAZÃO PODE SER REDUZIDA
As empresas do canal já enfrentam dificuldades no fornecimento. Quando a maré está alta, ele é
tomado por água salgada, que não pode ser usada pela indústrias. A Cedae tenta remediar a situação
fazendo manobras, que alteram a vazão da tubulação para expulsar a água do mar do canal.
A companhia voltou a negar o risco de racionamento imediato no estado. Mas esta semana surgiu
mais um motivo de preocupação. Na quarta­feira, durante reunião que teve com a presidente Dilma
Roussseff em Brasília, o governador Luiz Fernando Pezão foi informado da intenção da Agência Nacional de
Águas (ANA) de reduzir ainda mais o volume de água repassado do Paraíba do Sul para o Guandu, via
Represa de Santa Cecília (Barra do Piraí), para preservar os níveis dos reservatórios.
A proposta da ANA, que será debatida no dia 5 de fevereiro em Brasília, numa reunião com
representantes dos governos de Rio, São Paulo e Minas Gerais, é que essa vazão seja reduzida de 145
para 110 metros cúbicos por segundo. O estado, no entanto, não concorda com o corte, por não ter a
convicção de que a Estação de Tratamento do Guandu — projetada há meio século para captar 250
metros cúbicos por segundo — teria condições de trabalhar com volumes bem mais baixos que os atuais.
Desde o início de janeiro, a vazão está nos 145 metros cúbicos por segundo. Desse total, 42 metros
cúbicos não passam pela Estação do Guandu: são desviados para abastecer cidades localizadas no Baixo
Paraíba do Sul, como Campos e Conceição de Macabu. Os 103 metros cúbicos restantes seguem para a
Estação do Guandu, que trata a água fornecida para a Região Metropolitana, incluindo a capital.
INCENTIVOS PARA A POPULAÇÃO
O subsecretário do Ambiente, Antonio da Hora, explicou que o projeto do Guandu prevê a captação da
água por gravidade, mediante a manipulação de um sistema de comportas. Ele disse que, teoricamente,
seria possível operar com um volume menor, pois atualmente o Guandu trata 47 dos 103 metros cúbicos
de água por segundo (45 para abastecer municípios e dois para atender às necessidades da Reduc). Os
outros 56 metros cúbicos são usados para ajudar a tratar a carga orgânica que chega à lagoa de captação,
vinda de cidades da Baixada Fluminense.
Mas, admitiu Antonio da Hora, uma nova redução pode não ser viável na prática:
— Os técnicos ainda estão avaliando qual margem temos para operar com um volume de vazão
menor. Existe um limite de operação sem termos risco de comprometimento estrutural do sistema de
barragens. E não sabemos se teremos essa resposta para a reunião do dia 5. Se a avaliação não tiver
terminado, vamos propor a extensão do prazo para qualquer nova redução de vazão abaixo dos 145
metros cúbicos por segundo.
Até o momento, os testes mostraram que é possível operar com 90 metros cúbicos por segundo.
Porém, se a vazão fosse reduzida a 110 metros por segundo, o que sobrasse dificilmente seria suficiente
para atender às demandas das cidades do Baixo Paraíba do Sul.
Já André Corrêa acrescentou que prepara a minuta de um projeto de lei prevendo estímulos para a
população empregar mais água de reúso. Ele, no entanto, não deu detalhes do texto. Os representantes
das empresas saíram da reunião sem dar entrevistas. As outras companhias instaladas próximas ao Canal
de São Francisco não preocupam, porque não captam água diretamente do Guandu.
— Mesmo com as empresas colaborando, faço um apelo para que a população colabore. Evite lavar
calçadas e banhos demorados. E use baldes com água na limpeza de carros — acrescentou o secretário do
Ambiente.
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