ELEMENTOS DE UMA PROFISSIONALIDADE EM FORMAÇÃO ENTRE LICENCIANDOS DE PEDAGOGIA CARVALHO, Maria do Rosário de Fátima de UFRN [email protected] MELO, Marileide Maria de – UFPB [email protected] Eixo Temático: Formação de Professores e profissionalização Docente Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O conhecimento das Representações Sociais (RS) sobre trabalho docente por sujeitos em construção da sua própria profissionalidade permite uma aproximação maior dos significados que perpassam essa construção, cujos conteúdos e organização embasarão decisivamente a identidade do grupo e sua prática docente como assinalam Ramalho, Núñez e Gauthier (2004). Considera-se o processo de formação docente não apenas como transmissão de conhecimentos pedagógicos, mas um processo de construção de identidades pessoais e profissionais, no seio das instituições formativas. Esta pesquisa integra o projeto: “RS de licenciandos sobre o trabalho docente”, vinculado ao Centro Internacional de Estudos em Representações Sociais, subjetividade e Educação - Fundação Carlos Chagas-SP. Parte-se das formulações sobre o fenômeno das RS, desenvolvidas por Moscovici (1978) especialmente a abordagem estrutural do Núcleo Central de Abric (1998; 2001). Utiliza-se instrumental nos estudos dessa abordagem, um amplo questionário para identificação dos sujeitos e a técnica projetiva de associação livre de palavras. A presente comunicação analisa os elementos constitutivos das representações de estudantes de cursos regulares de Pedagogia de duas instituições de ensino superior e os sentidos que destas emergem, permeando a docência a partir da evocação de quatro palavras ou expressões para cada um dos termos indutores: “dar aula” e “aluno.” A análise das evocações foi realizada a partir do software EVOC 2000, criado por Vèrgès (2000), que indica o provável núcleo central e os elementos periféricos da representação, a partir da interseção Freqüência/Ordem Média das Evocações, conforme preconiza a teoria do Núcleo Central. Os resultados destacados pelo EVOC indicam o núcleo central das representações concentrado no elemento aluno, para os dois grupos pesquisados. Assim, há uma sobreposição do elemento aluno, se tomados juntos ou separadamente, imprimindo a este elemento a função organizadora da RS em foco, fortalecida pela configuração dos demais elementos, em torno de saberes, competências, e do compromisso profissional. Palavras-Chave: Profissionalização docente. Formação. Representações Sociais. 15975 Introdução Compreendemos as representações sociais como algo comum a um conjunto social, não sendo perenes nem generalizáveis por si mesmas, podendo, ainda, apresentarem-se de modo distinto em um mesmo grupo. Os estudiosos as consideram construções altamente complexas, sempre localizadas e historicamente determinadas, constituindo-se saberes práticos, voltados para a ação e a relação com o mundo social (JODELET, 2001). Por essa condição histórica, as representações sociais estão sujeitas a constantes transformações e atualizações. Nesse sentido, a teoria do núcleo central proposta originalmente em 1976 por JeanClaude Abric, complementarmente à teoria das representações sociais, atende a proposta deste texto de mapear as regularidades e possíveis transformações que envolvem esse processo: “(...) uma representação social apresenta como característica específica a de ser organizada em torno de um núcleo central, constituindo-se em um ou mais elementos, dando-lhe significado” (ABRIC, 1998, p. 31). Segundo Sá (1996, p. 66), ao afirmar a idéia de núcleo central Abric contrapõe-se, de certa maneira, à idéia do núcleo figurativo definido pela grande teoria das representações sociais, considerando-o de difícil enquadramento na pesquisa empírica. Para ele, esse núcleo também chamado estruturante, define e empresta sentido a uma representação. De acordo com essa teoria, o núcleo central assegura-lhe duas funções básicas: a função geradora e a função organizadora da representação. A primeira diz respeito ao elemento que identifica e dá significado a outros elementos que integram a identificação de uma representação social; já a função organizadora compreende o elemento que garante o caráter de continuidade ou permanência de uma representação, unificando os elementos entre si, de maneira coerente e estável (ABRIC, 2001). A atribuição, ao núcleo central, do caráter estruturante e organizador de uma representação apóia-se na idéia de que seus elementos, originados nos valores sociais, são tradutores das normas e condutas sociais vigentes naquele grupo. Com relação à dinâmica social de atualização das representações, consideramos que estas servem para construir e interpretar a realidade social complexa, ao mesmo tempo em que são construídas pelas práticas sociais, sempre sujeitas a incessantes desmanchamentos e reconstruções. Porém, uma vez constituídas, apresentam um núcleo central perceptível pela identificação dos elementos que o compõem, representado pelo conteúdo e pela maneira como se organizam em seu interior. 15976 De acordo com a teoria do núcleo central, a mudança de um desses elementos que o compõem acarreta a transformação da própria representação. Mas, além de tenderem para o consenso, as representações podem também expressar marcas das diferenças entre grupos ou indivíduos, apontando para uma continuidade ou ruptura, com relação à situação ou ao objeto representado. As implicações teóricas que emergem de tal situação são resolvidas pelo autor da seguinte forma: “(...) toda representação possui um sistema central e, secundariamente, um sistema periférico. No primeiro, localiza-se o núcleo central, que organiza e imprime o significado e constitui-se na estrutura básica de uma representação social” (ABRIC, 1998, p.31). Frisamos que Abric (1998) não se preocupou com o caráter mutante e flexível de uma representação social, mas com seu caráter estável, organizador e permanente. Assim, todo o esforço de seu trabalho foi no sentido de delinear as razões da centralidade e a importância do núcleo central na estruturação e sentidos presentes em uma representação social. De fato, as características por ele identificadas reafirmam a relevância do seu estudo, que aponta o núcleo central como a parte da representação vinculada aos sistemas socioculturais mais amplos, presentes na memória coletiva, no habitus, nas crenças e valores, consistindo na parte comum partilhada de um grupo social, menos variável e mais vinculada à permanência das representações. Nessa perspectiva estrutural, as representações sociais possuem uma base comum que permite dizer que uma representação social é aquela e não outra. De acordo com essa opção teórica, o foco deste texto é precisamente essa centralidade, como é definida pela teoria do núcleo central, uma vez que imprime o significado de uma representação. Os Caminhos da Pesquisa Este texto tem por base uma pesquisa desenvolvida no período de 2008 a 2009, inicialmente na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em seguida, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), integrando o projeto que investiga “Representações Sociais de estudantes de licenciaturas sobre o trabalho docente”, vinculado ao Centro Internacional de Estudos em Representações Sociais e Subjetividade - Educação (CIERS-ed) da Fundação Carlos Chagas-SP. As autoras se propõem a analisar elementos constitutivos das representações dos estudantes pesquisados e os sentidos que dessas emergem, através de comparações entre 15977 elementos representacionais dos dois grupos de estudantes. A base empírica para o alcance deste objetivo são as evocações livres dos participantes, obtidas pela Técnica de Associação Livre de Palavras (TALP), segundo Abric (1998; 2001), em seguida hierarquizadas pelo software EVOC 2000, programa disponibilizado naquele ano por Vergès. O lastro teórico são as formulações originais de Moscovici (1978) sobre o fenômeno das representações sociais, e a contribuição posterior de Abric (1998; 2001) com a abordagem estrutural ao estudo das mesmas. A coleta de dados envolveu um instrumental consolidado nos estudos da teoria do núcleo central, que consistiu de um questionário para identificação dos sujeitos e o uso da técnica projetiva de evocação de palavras, ou técnica de associação livre de palavras. Reconhecida como uma estratégia adequada para acessar os elementos estruturantes de uma representação, ou seja, seu conteúdo e organização. Essa técnica consiste na proposição de um termo indutor, em relação ao qual se solicitou a evocação de quatro palavras ou expressões, a partir dos termos indutores “dar aula”- “professor” - “aluno”, compreendidos como termos mais comuns vinculados à prática docente. As palavras evocadas (quatro) a cada estímulo verbal foram registradas de acordo com a ordem em que foram emitidas. Em seguida, procedeu-se a organização dos dados, conforme a técnica referida. A palavra escolhida pelo sujeito como a mais importante, para o sentido proposto como estímulo, foi assinalada para fins de preparação do processamento dos arquivos a serem analisados. A análise das evocações foi realizada a partir do software EVOC 2000, criado pelo psicólogo suíço Pierre Vèrgès (2000) que, mediante uma série de passos de classificação e hierarquização das palavras, separa os elementos que compõem o provável núcleo central, dos elementos periféricos da representação, definidos a partir da interseção Freqüência/Ordem Média das Evocações (F/OME). O software referido apresenta a organização dos elementos (aqueles que compõem o possível núcleo central e os elementos periféricos) em gráfico constituído por um diagrama composto por quatro quadrantes a partir de dois eixos: um eixo horizontal, referente à OME e um eixo vertical ligado à freqüência intermediária das evocações. Os gráficos apresentados nesse texto descrevem o conteúdo e estruturação da representação social de trabalho docente pelos sujeitos das duas instituições envolvidas na pesquisa. No quadrante superior esquerdo encontram-se as evocações de maior freqüência e posicionadas nas primeiras ordens de evocação, sendo sempre inferior à média das evocações. 15978 Significa que a evocação que ocupa este quadrante ocorreu não apenas com uma maior freqüência, mas também de maneira mais rápida que as demais evocações. É nesse quadrante onde se encontra o provável núcleo central, cujo(s) elemento(s) não se modifica(m) a não ser que a representação seja transformada. O quadrante inferior direito é oposto ao anterior, porque os valores a ele relativos, contidos nos referidos eixos, invertem-se, constituindo-se nos elementos periféricos da representação. Em um plano intermediário, encontram-se os elementos contidos nos dois quadrantes restantes (o quadrante superior direito e o quadrante inferior esquerdo), podendo estar mais próximos tanto da esfera central quanto da esfera periférica, também denominada de periferia próxima. O universo de pesquisa é constituído de 105 estudantes dos anos iniciais do curso de licenciatura em pedagogia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e 100 da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), distribuídos nos diversos turnos diários de aulas. Os cursos são formados predominantemente por mulheres, em torno de 90% para ambos os grupos. Em relação à faixa etária, os grupos se concentram no intervalo de 20 a 23 anos perfazendo 37% do total. A maioria da população envolvida na pesquisa se considera etnicamente “parda” e no que diz respeito ao estado civil, 64% dos entrevistados se apresentam solteiros. Mais da metade dos estudantes são oriundos da rede privada de ensino, embora seus familiares estejam predominantemente em um nível econômico baixo, com renda mensal de até três salários mínimos para cerca de metade das famílias. Os pais apresentam também um nível de escolaridade baixo. Do total dos sujeitos entrevistados, cerca de 30% vêm de famílias cujos pais estudaram apenas até o 4º ano do ensino fundamental. Mesmo com baixo rendimento financeiro, 65% dos pais contribuem financeiramente para os estudos dos seus filhos, sugerindo a valorização da educação por parte dos pais. A coleta de dados se deu em dois períodos distintos: no período letivo de 2008 na UFRN e no início de 2009 na UFPB. Elementos de uma profissionalidade em formação O estudo das representações sociais assume maior relevância no campo educacional em geral, e em especial no campo da formação profissional, por permitir o acesso ao saber prático implicado na formação de sistemas de interpretação da realidade, pois, conforme a definição clássica de Jodelet (2001), as representações sociais regem nossa relação com o mundo e com os outros e organizam as comunicações e as condutas sociais. A representação social é, assim, por definição, um saber social, partilhado por um grupo, constituindo-se numa 15979 referência comum a todos, apoiando a identidade de seus membros e imprimindo sentidos à sua prática social. Com relação à docência, esta vem seguindo um caminho difícil de profissionalização¸ segundo Núñez e Ramalho (2004): esse processo iniciou-se no século XVII com uma série de transformações que ocorreram na educação, em virtude de fatores de ordem política, econômica e social. Ao longo da história, a figura do professor tem sido descrita de várias formas, correspondendo aos estágios do processo histórico de construção da docência. Os autores ainda identificam três modelos de professor: o professor leigo, o professor técnico e o professor profissional. Esses modelos, de uma ou outra forma, se relacionam com a construção da docência no Brasil. (NÚÑEZ e RAMALHO, 2004.) Para aqueles autores a profissionalização da docência deve ser entendida como um movimento ideológico, na medida em que repousa em novas representações da educação e do ser do professor no interior do sistema educativo. É um processo de socialização, de comunicação, de reconhecimento, de decisão, de negociação entre os projetos individuais e os dos grupos profissionais. Segundo os autores, a profissionalização tem dois aspectos que constituem uma unidade: um interno, denominado profissionalidade, e outro externo, o profissionalismo. O termo “profissionalidade” expressa a dimensão relativa ao conhecimento, aos saberes, técnicas e competências necessárias à atividade profissional. Já o profissionalismo é expressão da dimensão ética dos valores e normas, das relações, no grupo profissional e com outros grupos sociais; envolve autonomia face à sociedade e ao poder político, à comunidade e aos empregadores, aos outros grupos profissionais, ao público e às outras profissões ou grupos ocupacionais. Esta longa referência a raamalho, Núñez e Gauthier (2004) sintetiza o duplo aspecto da profissionalização, em suas dimensões interna (profissionalidade) e externa (profissionalismo), que servirá de base a interpretações que faremos adiante sobre os resultados das associações livres de palavras dos sujeitos pesquisados. Leitura e interpretação dos gráficos Com base nos gráficos elaborados pelo software EVOC constatou-se que o elemento aluno provavelmente encerra o núcleo central de dar aula. Para o termo indutor dar aula foram evocadas 312 palavras, sendo 137 palavras diferentes, pelo grupo de estudantes da UFPB, 15980 abrangendo 60,3% do total das evocações e considerando como freqüência mínina 5 evocações. O grupo da UFRN apresenta um quadro semelhante, com pequena variação: total de palavras citadas 289 e 135 palavras diferentes, sendo 6 a freqüência mínima considerada, abrangendo 66,0% das evocações. A ordem média das evocações (OME) do primeiro grupo correspondeu a 2,0 e a do segundo grupo a 1,9. Foi possível identificar os principais elementos da representação social em foco, segundo a maneira como esses elementos estão organizados, conforme se apresenta no gráfico seguinte: F: > = 12 OME: < 2,0 Aluno Aprender Ensinar Professor F: < 12 (23) (1,4) (15) (1,4) (15) (1,8) (23) (1,8) OME <_ 2,0 Conhecimento (10) (1,4) Conteúdo (07) (1,4) Paciência (06) (1,4) F: > 12 ome > = 2,0 Escola (16) F: < 12 OME _> 2,0 Educar (05) Estudar (06) S.de aula (10) (2,3) (2,0) (2,1) (2,2) FIGURA 1 - Evocações sobre ‘Dar Aula’ pelos estudantes de Pedagogia UFPB F: > = 12 OME: < 1,9 F: > 12 ome > = 1,9 Aluno (24) (1,6) Professor (16) (1,7) S.de aula (11) (1,8) Aprender (12) F: < 12 F: < 12 OME <_ 1,9 Conhecimento (07) (1,8) Dedicação (06) (1,8) Amor Conteúdo Ensinar Escola (2,0) OME _> 1,9 (09) (07) (09) (06) (2,3) (2,4) (2,0) (2,0) FIGURA 2 - Evocações sobre ‘Dar Aula’ pelos estudantes de Pedagogia da UFRN Com fundamento em Núñez e Ramalho (2004) entendemos nos elementos evocados os sentidos de docência segundo a tipologia de professor leigo, professor técnico e professor 15981 profissional, todas convivendo atualmente nesta representação social, em diferentes posições de proximidade e distância em relação ao Núcleo Central. Sugerimos, assim, que o imaginário social de professor leigo está subentendido nas seguintes palavras constantes do gráfico 1: aprender e paciência. No mesmo gráfico, as palavras conhecimento conteúdo e estudar pertenceriam À memória de professor técnico; já as palavras ensinar, professor, e educar corresponderiam À figura do professor profissional. No gráfico 2 identificamos as palavras aprender e amor com o imaginário do professor leigo; as palavras conhecimento e conteúdo remetem a professor técnico; as palavras professor, dedicação e ensinar trazem a memória social do perfil do professor profissional. Quanto ao núcleo central (NC) da representação, os resultados destacados pelo EVOC, apresentados nas Figuras 1 e 2 indicam o provável NC das representações concentrado no elemento aluno, para os dois grupos pesquisados. Os estudantes das distintas instituições representam de maneira comum, a tarefa docente de dar aula. Assim, há uma sobreposição do elemento aluno, para os grupos juntos ou tomados separadamente. Esse resultado confirma a formulação da teoria do núcleo central como aquele que reúne elementos que possuem uma função organizadora da representação social. Em decorrência, compreende-se que não é possível pensar em dar aula sem a presença do elemento aluno. Dessa forma, o elemento aluno dá sentido à representação social de docência ou de trabalho docente para os grupos aqui enfocados. O elemento professor divide o mesmo quadrante que contém o núcleo central da representação, contudo não ocupa o mesmo nível de importância do termo aluno, que conjugou a maior freqüência e que mais prontamente foi evocado entre todas as evocações. O próprio Abric (2003), em suas reflexões mais recentes a respeito da hierarquia presente no núcleo central, afirma que os elementos ali existentes não são iguais entre si, mas ocupam lugares distintos de importância entre eles. No primeiro gráfico (Figura 1), os referidos termos, de menor freqüência e de evocação mais tardia, se inscrevem de maneira apenas operacional e não como condição para a existência da docência. Já o mesmo quadrante do grupo da UFRN (Figura 2), se limita a descrever o espaço onde ocorre o exercício da docência. Assim, o provável núcleo central da representação de docência tende a localizar-se no elemento aluno, para ambos os grupos. Já os quadrantes considerados intermediários, cujos elementos estão mais próximos dos prováveis elementos do núcleo central, se distinguem do quadrante principal, pelas freqüências e posições que ocupam; os dois elementos contidos nos dois gráficos distintos 15982 (escola e aprender) chegam a apresentar uma freqüência superior a um dos elementos de menor freqüência do quadrante superior esquerdo, que reúne as evocações mais importantes. Porém, o maior percentual contido na OME revela que as referidas palavras não foram tão prontamente evocadas. Assim, o elemento aluno parece concentrar a representação social de docência, pela posição ocupada e pela função geradora e organizadora dos elementos concentrados mais proximamente ao referido elemento. A maior evidência localiza-se no elemento aprender, que chega a ser articulado no primeiro quadrante para o primeiro grupo descrito e no primeiro quadrante intermediário, para o segundo grupo. Os demais elementos que o circundam podem ser considerados dele decorrentes, pois ganham sentido frente a ele, como professor, ensinar, escola, sala de aula. Já o quadrante inferior direito, que congrega os elementos periféricos da representação, apresenta um maior número de evocações, no entanto a sua condição de periferia se deve a uma freqüência muito baixa, beirando a freqüência mínima definida pelo EVOC, que corresponde às evocações mais afastadas do sentido “dar aula”, ação considerada fundamental ao trabalho docente. O método utilizado possibilita a definição dos diferentes graus de centralidade que as palavras tomam, em cada conjunto de evocações. Os gráficos seguintes (Figuras 3 e 4), que representam o posicionamento do sentido de aluno para os dois grupos, novamente se unem em um sentido comum: para ambos o aluno é o aprendiz, mesmo assim sem predominância, uma vez que, embora lembradas com uma maior prontidão, apresentam modesta elevação percentual frente às demais evocações. Novamente o professor não é evocado enquanto parte da representação de aluno, em nenhum dos grupos, chegando a estar presente em ambos, mas de forma periférica. As demais evocações se situam de maneira ainda mais modesta, aproximando-se todas da freqüência mínima de 6 evocações, para os dois grupos. Aqui parece corresponder às articulações reportadas por Abric (2003) em seu trabalho, e de outros pesquisadores, no tocante a um dos tipos de relação existentes entre representações: as relações de reciprocidade, que apontam para uma correspondência entre elas no tocante à identificação do elemento funcional aprendiz, ao ato de aprender e não a um sujeito específico. 15983 F: > = 06 OME: < 2,0 Aprendiz Aula Inteligente (09) (1,5) (07) (1,4) (06) (1,8) F: < 06 OME <_ 2,0 Amigo (05) F: > 06 OME < 2,0 Aprender Estudioso Futuro Professor F: < 06 (1,6) (07) (2,4) (07) (2,0) (06) (2,0) (08) (2,3) OME _> 2,0 Curioso Educando Interesse Prova (05) (2,6) (05) (2,2) (05) (2,0) (05) (2,0) FIGURA 3 - Evocações sobre ‘Aluno’ pelos estudantes de Pedagogia UFPB F: > = 06 OME: < 2,0 Aprendiz (12) (1,6) F: > 06 ome > = 2,0 Dedicação (06) (1,3) Escola (08) (2,3) Professor (07) (2,1) Sala de Aula(08) (2,2) F: < 06 F: < 06 OME _> 2,0 OME <_ 2,0 Atenção (05) (1,8) Conhecimento (05) (1,8) Educação (05) (1,0) Amigo (05) (2,2) FIGURA 4 - Evocações sobre ‘Aluno’ pelos estudantes de Pedagogia UFRN Considerações Finais Os achados destacam que: a centralidade da representação social de dar aula é fortemente ocupada pelo elemento aluno, como se apresenta nas Fuguras 1 e 2 relativos às evocações para dar aula; esse elemento aluno funda o sentido da representação social de docência ou trabalho docente, para o grupo em foco, constituindo-se no elemento estruturante dessa representação. Importa ressaltar, neste estudo, a coincidência do mesmo núcleo comum da representação social de docência entre estudantes em formação inicial para o exercício docente nas duas instituições. Vale acrescentar que, também, não há variação significativa com relação aos demais termos complementares, razão pela qual passamos a considerar, para efeito analítico, o conjunto das evocações realizadas por todos os estudantes, das duas instituições de ensino já 15984 citadas no início desse texto. Com fundamento, pois, em Ramalho, Núñez e Gauthier (2004) sugerimos que os elementos aula, e dedicação, que compartilham o NC com o elemento aprendiz, nos remetem ao sentido do profissionalismo, visto que ambos são dimensões da ética, vocação e compromisso na prestação de um serviço social à coletividade. Com base nestes autores identifica-se também sentidos da profissionalidade em palavras menos centrais, tais como: amigo, estudioso, dedicação e educação, que remetem às competências docentes; nas palavras aula e prova, que sugerem técnicas do metier docente; visualiza-se ainda a palavra conhecimento, que indica um dos saberes necessários ao exercício docente. Como ensinou Moscovici (1978), a representação social constitui-se numa forma primordial de conhecimento, na qual é realçada a importância do senso comum para a apreensão da realidade social. Os resultados do EVOC indicam ainda que o elemento professor circunda a representação social de docência dos sujeitos em foco, mas não ocupa a centralidade de sua representação. Essa posição mais periférica do professor aponta a necessidade de aprofundamento do estudo em torno de sua importância na representação, através da perspectiva da profissionalização como um processo de desenvolvimento profissional articulado às dimensões pessoal e social, da profissionalidade e do profissionalismo, segundo Ramalho, Núñez e Gauthier (2004), no conjunto das discussões sobre razões para esse deslocamento da figura do professor como consequencia da crise dos meios de comunicação, em consonância com o processo de globalização configurado nesta década. (Fanfani, 2007). REFERÊNCIAS ABRIC, Jean Claude. Pratiques sociales et représentations. Paris, Presses Universitaires de France, 1994, p. 11-35. ABRIC, Jean-Claude. A abordagem estrutural das representações sociais. In: MOREIRA, A S. P; OLIVEIRA, D. C. de; (Orgs.). Estudos interdisciplinares de representação social. Goiânia: AB, 1998. p. 27 - 38. ABRIC, Jean-Claude. O estudo experimental das representações sociais. 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