A EDUCAÇÃO ONLINE E A FORMAÇÃO DO SUJEITO NA INCERTEZA DA TRANSIÇÃO DE PARADIGMA 9º E-TIC EDUCAÇÃO E TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO UNESA – RJ/ PPGE RIO DE JANEIRO 27 E 28 DE OUTUBRO DE 2011 Maurílio Luciano S. Luiele (Doutorando PPGE/UNESA) A primeira década do século XXI caracterizou-se por uma série de acontecimentos que sugerem uma transição conturbada para uma nova ordem global: • 11 de Setembro 2001 • Atentados terroristas aos sistemas de transporte de Madrid e Londres • Guerra no Iraque e no Afeganistão • Crise econômica mundial 2008 • Os EUA conhecem seu primeiro presidente negro da história em 2008 • Primavera árabe • Atentado terrorista na Noruega perpetrado por um europeu •O Brasil elege a primeira mulher para presidente da República, 2010 • Recessão econômica na Europa 2010/11 Convulsionaram o mundo também gigantescos desastres naturais cada vez mais frequentes alguns dos quais são já conotados com as mudanças climáticas que os cientistas vêm alertando e constituem já uma preocupação premente global. • 26 dezembro 2004 - Ilha de Sumatra, na Indonésia, é devastada por um terremoto de 8,9 graus, que causa mais de 280 mil mortes em 12 países da Ásia e da África. • Furacão Katherine , em Nova Orleãs, Agosto 2005 •Enchentes em Santa Catarina, 2009 • Tragédia do morro do Bumba, Brasil • 12 janeiro 2010 - Haiti é arrasado por um terremoto de 7 graus na escala Richter, o pior de sua história e que causa centenas de milhares de mortes. • Vários vulcões entram em erupção •Tsunami e desastre nuclear no Japão A terra treme, a sociedade se agita, a economia cambaleia e a política está impotente “O mundo atual não se pode conceber como um sistema organizado, racional. É um caos, uma vertigem em movimento. É muito difícil entender o que se passa”. Edgar Morin, 2007 INCERTEZA No meio deste turbilhão situa-se o sujeito que precisa de se ajustar ao panorama de incerteza que se instala. Assim urge capacitar o sujeito de modo a colocar-se de maneira firme e segura no centro deste turbilhão o que significa capacitá-lo a atuar como um sujeito crítico, capaz de resistir às tentações consumistas e enveredar pelo consumo consciente, socialmente incluído e não marginalizado, capaz, portanto, de absorver positivamente as amplas mudanças que se assistem. Trata-se de um sujeito inquieto, inconformado, capaz de questionar e examinar conscientemente as possibilidades que se colocam diante de si e assim posicionar-se de forma cidadã diante delas. Muitos autores registram sinais que evidenciam uma crise no paradigma de racionalidade da modernidade em larga medida responsável pelos avanços tecnológicos e sociais observados no séculos XIX e XX O MODELO DE RACIONALIDADE AINDA HEGEMÔNICO • tem a sua origem no século XVI a partir da revolução científica aplicado basicamente às ciências ditas naturais. • totalitário • nega o caráter racional a todas as formas de conhecimento que não pautarem pelos seus princípios epistemológicos e pelas suas regras metodológicas”. • admite variedade interna, mas que se distingue e defende, por via de fronteiras ostensivas e ostensivamente policiadas” de outras formas de conhecimento entendidas assim como não científicas e, portanto, irracionais • Caracteriza-se também pelo rigor, emprestado essencialmente pelas idéias matemáticas, e a objetividade assente na redução da complexidade (SANTOS, 2003, pág. 21). “somos testemunhas de uma crise nos fundamentos do conhecimento, ou seja, uma crise de natureza epistemológica, a partir do avanço da ciência ocorrido desde o século passado. É uma crise de natureza filosófica e epistemológica que emergiu da descoberta da inexistência de certeza absoluta em nosso trato com a realidade” (MORAES, 2008, pág.22) “... precisamos de uma racionalidade complexa que enfrente as contradições e a incerteza sem asfixiá-las ou desintegrá-las. Isso implica uma revolução epistemológica, uma revolução no conhecimento. Precisamos tentar repudiar a inteligência cega que nada vê além de fragmentos separados e que é incapaz de ligar as partes e o todo, o elemento e seu contexto; que é incapaz de conceber a era planetária e de apreender o problema ecológico” (MORIN, 2011, pág. 42). “... a consciência da complexidade faz-nos compreender que não poderemos nunca escapar à incerteza e que não poderemos nunca ter um saber total... estamos condenados ao pensamento inseguro, a um pensamento crivado de buracos, um pensamento que não tem nenhum fundamento absoluto de certeza. Mas somos capazes de pensar nestas condições dramáticas” (Morin, 1990) CIBERCULTUR@ Este cenário representa, pois, um grande desafio à Educação que tem grande responsabilidade em capacitar o sujeito a enfrentar os desafios colocados ao exercício da cidadania e a enfrentar a incerteza característica do nosso tempo. “realidade e mundo como totalidades, estrutural e funcionalmente enredadas também repercutem e afetam o trabalho docente, o planejamento curricular, os processos de ensino e de aprendizagem, os papeis desempenhados por alunos e professores, a dinâmica das infra-estruturas educacionais. Ao mesmo tempo ela exige novas competências e habilidades para continuar aprendendo ao longo da vida” (MORAES, 2008, pág. 25). Assiste-se ainda a resistências em buscar modelos novos em educação que sejam compatíveis com a nova realidade movediça. Privilegia-se a transmissão de um “saber fossilizado que não leva em conta a evolução rápida do mundo” quando se deveria “preparar o indivíduo para responder às necessidades pessoais e aos anseios de uma sociedade em constante transformação, aceitando desafios propostos pelo surgimento de novas tecnologias, dialogando com um mundo novo e dinâmico” através da criação de “espaços educacionais autônomos, criativos, solidários e participativos” (OLIVEIRA, 2006) O grande desafio da educação hoje é, habilitar o sujeito a “viver/conviver com as diferenças, compreender a diversidade e as adversidades, reconhecer a pluralidade e as múltiplas realidades, ter abertura, respeito e tolerância em relação às formas de pensar e de ser de cada um” que são condições fundamentais para se viver nesse novo milênio. (MORAES, 2008, pág. 25). “três grandes desafios da atualidade” que no entender de Moraes, são: • aprender a construir, a desconstruir e reconstruir conhecimento; • formar cidadãos conscientes e responsáveis; • colaborar para a evolução da consciência humana”. Visar este sujeito implica abandonar perspectivas lineares do tipo causa/efeito, fundamentos epistemológicos das práticas pedagógicas instrucionistas o que torna necessária uma “revisão nos paradigmas que prevalecem nos ambientes educacionais, sejam eles presenciais ou digitais” ressignificando-os de modos a incorporarem “referenciais teóricos que colaboram para a consolidação de uma percepção holística, global, complexa, que enfatize a dinâmica do todo e não apenas de cada parte” (MORAES, 2008, pág. 27). A Educação Online entendida como o conjunto de ações de ensino e aprendizagem ou atos de currículo mediados por interfaces digitais que potencializam práticas comunicacionais interativas e hipertextuais, abre amplas possibilidades para oferecer ao sujeito o instrumental cognitivo para se posicionar criticamente diante das grandes questões da atualidade. Interatividade é a “atitude de partilhar saberes intervindo no discurso do outro, produzindo coletivamente a mensagem, a comunicação e a aprendizagem” isto é torn possível a aprendizagem colaborativa. (SILVA, 2010). Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) “sistemas computacionais disponíveis na internet, destinados ao suporte de atividades mediadas pelas tecnologias de informação e comunicação. Permitem integrar múltiplas mídias e recursos, apresentar informações de maneira organizada, desenvolver interações entre pessoas e objetos de conhecimento, elaborar e socializar produções tendo em vista atingir determinados objetivos”. (ALMEIDA, 2003) Constituem “um espaço fecundo de significação onde seres humanos e objetos técnicos interagem potencializando a construção de conhecimento, logo a aprendizagem” (SANTOS, 2005), O DESENHO DIDÁTICO É por via do desenho didático que se torna possível o planejamento, produção e operacionalização de conteúdos e situações de aprendizagem que estruturam processos de construção de conhecimento na sala de aula online O desenho didático deve contemplar “uma intencionalidade pedagógica que garanta a educação online como obra aberta, plástica, fluída, hipertextual e interativa”, ou seja, diálogo e estrutura flexível são aspectos que devem conformar o desenho didático para assim, através dele, aproximar alunos e professores em um mesmo propósito: construir juntos o conhecimento a partir de um manancial caótico e inesgotável de informações Ao definir ambiente virtual de aprendizagem como “um espaço fecundo de significação onde seres humanos e objetos técnicos interagem potencializando a construção de conhecimento, logo a aprendizagem”, Santos, 2005, deixa claro que as bases epistemológicas que fundamentam as práticas pedagógicas na Educação Online são diferentes e inscrevem conceitos como construcionismo e interacionismo, entre outros, que pressupõem dinâmicas próprias nos processos de construção do conhecimento e conseqüente desenvolvimento da aprendizagem que acontecem nestes ambientes. “Ressignificar os paradigmas vigentes a partir de uma visão ecológica e sistêmica, na verdade, eco-sistêmica da vida” que é completamente oposta ao modelo causal tradicional instrucionista que ainda prevalece tanto em ambientes presenciais como digitais (MORAES, 2008, pág. 27) O pensamento eco-sistêmico, amparado em pressupostos como a intersubjetividade e a complexidade permite renovar as bases epistemológicas que fundamentam as ações educacionais e permite abordar a educação como “sistema aberto” o que implica “a existência de processos transformadores inerentes às interações sujeito/objeto, indivíduo/contexto. Significa que tudo é dinâmico e está em constante movimento. Nada é pré-determinado, rígido ou fixo, mas aberto às trocas, aos diferentes tipos de diálogos, às transformações e aos enriquecimentos mútuos, onde os processos são desenvolvidos gradualmente, vivenciando cada etapa, explorando novas conexões, relações e processos de autoorganização” (MORAES, 2008, pág. 41,) Os professores, por seu turno, avessos em muitos casos a operar estas tecnologias, “precisam ser formados para o uso crítico e criativo dos meios de comunicação e ultrapassar a mera racionalidade tecnológica”, para o que precisarão entender “os meios como ferramentas de comunicação e não de simples transmissão, promovendo o diálogo e a participação, para gerar e potenciar novos emissores ao invés de contribuir para o crescimento de emissores passivos” (KAPLÚN, 1999). Educação Online deve ser entendida como uma prática pedagógica que emerge em decorrência do desenvolvimento das novas tecnologias de informação e comunicação, num contexto marcado pela globalização e todas as suas contradições e como fenômeno da cibercultura. Este contexto está igualmente marcado por sintomas que evidenciam uma crise no paradigma científico da modernidade e sinais da emergência de um novo paradigma de contornos ainda indefinidos. O pensamento eco-sistêmico condensa as bases epistemológicas que fundamentam a Educação Online enquanto prática pedagógica. A formação de professores para atuar em ambientes online se reveste de importância capital A Educação Online procura assim formar o sujeito habilitado a viver/conviver com a incerteza, capaz de construir, desconstruir e reconstruir conhecimento, o sujeito/cidadão consciente e responsável e de modo geral, procura elevar a consciência da humanidade em sua fase crítica. MUITO OBRIGADO! MUITO OBRIGADO!