Psicopatologia do Delinquente Serial Daniel Brod Rodrigues de Sousa Grupo: Alba Maria Coura Ana Beraldo de Carvalho Juliana Prates de Melo Luisa Nogueira Guimarães Gregório Ribeiro de Miranda O texto-guia é baseado no livro “Serial Killer, louco ou cruel?”, de Ilana Casoy. A autora é formada em administração de empresas. Ela se enveredou pelo caminho do estudo dos “serial killers” por não conseguir entender de onde vem a vontade de matar, além de ter uma habilidade para a escrita. Conceito de Serial Killer São indivíduos que praticam uma série de homicídios (discute-se se o mínimo seria de dois ou de quatro), sendo que dentre uma ação e outra geralmente decorre um grande lapso temporal. As vítimas em geral não são conhecidas do assassino e são mortas sem justificativa aparente. São classificados pela polícia nas seguintes categorias: A) Visionário: trata-se de um sujeito psicótico que mata devido às suas alucinações; B) Missionário: é motivado a matar por fatores de ordem moral; C) Emotivos: matam por prazer e diversão, utilizando meios sádicos e cruéis; D) Libertinos: matam com a finalidade de se satisfazerem sexualmente, sendo que quanto mais intenso o sofrimento, maior o prazer sexual sentido pelo agente. Ciclo percorrido pelo “Serial killer” (segundo Joel Norris) 1) 2) 3) 4) 5) 6) Fase áurea: momento em que o agente começa a perder a compreensão da realidade; Fase da pesca: etapa em que se procura a vítima ideal; Fase galanteadora: quando ele passa a desdobrar as fases do assédio, da sedução e do engano da vítima; Fase da captura: em que a vítima fica sob o domínio do agente; Fase do assassinato ou Totem: momento em que o agente pratica os atos executórios; Fase da depressão: sentimento que em geral sobrevem à consumação; As vítimas As vítimas do “serial killer” são escolhidas pelo agente ao acaso ou, eventualmente, de acordo com algum estereótipo que lhe transmita algum significado simbólico Exemplo: caso de Theodore Bundy. Os “serial killers” costumam escolher vítimas de porte físico menor que o deles, e cujo desaparecimento não gere percepção imediata. As vítimas são tratadas como objetos de fantasia e há requintes de encenação nos atos executórios. A vítima é submetida a um ritual de suplícios endereçado à exaltação dos sentidos do agente. O perfil dos “serial Killers” Características comuns no período da infância: enurese em idade avançada, prática de abuso sádico de animais ou outras crianças, destruição da propriedade, piromania, devaneios diurnos, masturbação compulsiva, isolamento social, mentiras crônicas, rebeldia, pesadelos constantes, roubos, baixa auto-estima, acessos de raiva exagerados, problemas relativos ao sono, fobias, propensão a acidentes, dores de cabeça constantes, possessividade destrutiva, problemas alimentares, convulsões, automutilações, e o isolamento físico e social. A propensão ao isolamento familiar e social, que é frequente na vida de um “serial killer”, leva sua mente a produzir fantasias. Essas fantasias se tornam o centro de seu comportamento. O crime é a própria fantasia do agente planejada e executada por ele na vida real. Os “serial killers” costumam deixar “assinaturas”. Os “serial killers” tem a necessidade de mostrar às vítimas que eles estão no controle da situação. Para isso, se utilizam da violência sexual e da tortura, estabelecendo uma relação de intimidade e dominação com a vítima. Quando a vítima é mulher,é comum a ocorrência de práticas de mutilação desfeminizadoras. Exemplo: caso de Dayton leroy Rogers. Os “serial killers” tem aparência normal, mas apresentam conduta dissociada, ou seja, desenvolvem modos rotineiros de comportamento, que cedem lugar às ações bizarras dos momentos em que praticam suas investidas homicidas. Eles apresentam um “lado pacífico” muito convincente. A maioria dos “serial killers” passaram por humilhações na infância e na adolescência, geralmente praticadas por seus pais ou por colegas de escola. 93% são homens. 84% são brancos. Somente 5% são doentes mentais no momento de seus crimes. Estima-se que 82% tenham sofrido abusos sexuais, físicos e emocionais. Nos EUA, calcula-se a atuação de 35 a 500 “serial killers”, reconhecendo-se nesse país 75% dos casos do mundo. 90% tem idade entre 18 e 39 anos. 65% das vítimas são mulheres. 89% das vítimas são caucasianas. Transgressores organizados X Transgressores desorganizados Principais características dos transgressores organizados: Inteligência média para alta; Metódico e astuto; Não realizado profissionalmente; Socialmente competente; Preferência por trabalho especializado e esporádico, principalmente que enalteça sua posição de macho (policial, motorista de caminhão, etc) Sexualmente competente; Nascido em classe média-alta; Cena do crime planejada e controlada; É bem apessoado; A vítima é frequentemente estuprada e dominada através de ameaças ou instrumentos; Busca-se dificultar a investigação policial; Vive com parceiro ou é casado; Acompanha seus crimes pela mídia; Provavelmente já foi preso alguma vez por violência física ou ataque sexual; Possui, em geral, muitas multas de trânsito; Tem aproximadamente a mesma idade das vítimas; Tem o hábito de trocar de emprego e de cidade. Principais características dos transgressores desorganizados: Inteligência abaixo da média; É capturado mais rapidamente; Distúrbio psiquiátrico grave; Contato com instituição de saúde mental; Socialmente inadequado; Executam trabalhos que não exijam conhecimentos técnicos e que pressuponham pouco contato com o público; Sexualmente incompetente; Nascido em classe baixa; Cena do crime desorganizada; Temperamento ansioso durante o crime; Pratica crimes brutais com emprego extremo da violência; Espanca severamente o rosto da vítima para desfigurá-la; Geralmente pratica o ato sexual post-mortem; Pratica mutilações no rosto, genitais e seios de suas vítimas; Costuma deixar o cadáver no local do crime; Em geral é solteiro; Mora ou trabalha perto da cena do crime; Não tem interesse pelas notícias que são veiculadas pela mídia; Saiu cedo da escola; Já cometeu outros delitos de menor potencial ofensivo; Geralmente são pessoas magras; Geraldo J. Ballone distingue dois tipos de assassinos: os paranóicos e os psicopatas. Os paranóicos atuam em consequência de seus delírios ou alucinações. Os psicopatas tem uma enorme capacidade de fingir emoções e de se mostrarem sedutores para suas vítimas. Ele tem a forte convicção de que tudo lhe é permitido, se excita com o risco e com o proibido. Tem como principal objetivo humilhar a vítima para reafirmar sua autoridade e aumentar sua auto-estima. Personalidade Paranóide Bem dotado intelectualmente Desconfiado Teimoso Dissimulado Aspira o sucesso e a notoriedade Solitário Infeliz Inseguro - Baixa tolerância à frustração. Não se considera responsável pelos próprios sentimentos. Atribui responsabilidade a outros. Não aceita disciplina. Essas características tendem a se acentuar com o ingresso na vida adulta, podendo o sujeito se tornar inclusive psicótico. Em posições de autoridade não raro apresenta comportamento tirânico. Quando questionados respondem de forma agressiva e descompromissadas. Depreciam e criticam os demais. Atitude de desafio nas relações interpessoais. Insegurança é mascarada por intenso impulso de realização, o que pode levar a uma busca por realizações fora do alcance de sua capacidade inata. É muito competente, porém essa caracteristica fica prejudicada devido à sua inveja e ciúme dos outros. Paranóia Doença mental caracterizada por comportamento delirante continuado, sistematizado e coerente. Termo empregado pela primeira vez em 1863, por Kahlbaum, para designar estados persecutórios e manias de grandeza. Para Kraepelin, o termo paranóide se diferencia da paranóia pela ocorrencia da dissociação na primeira. Causas psicológicas para o surgimento da paranóia: Ambições frustradas. Necessidade de defender a personalidade contra impulsos agressivos. Sentimento de insegurança, culpa ou outros fatores geradores de ansiedade e vivencias traumáticas. Na família prevalece: Autoritarismo severo, ríspido e cruel. Normalmente um dos pais, o que é do mesmo sexo do filho, é uma pessoa dominadora e hostil que rejeita a criança. Isso gera ansiedade, sensação de inadaptação e uma auto imagem de “filho mau”. Sentimento de ódio contra o genitor. Torna litigioso o contato com seus semelhantes. Pode enxergar um agressor em todos que o cercam. Sentimento de perseguição. Idéias delirantes. Para dar o diagnostico de perturbação de personalidade paranóide,segundo o MDE- III: Penetrante e injustificada desconfiança de ser enganado, vigilância excessiva e colecionamento de injustiças, cautela, recusa em aceitar culpabilidade, dúvida crônica sobre a fidelidade dos outros, idéias de referencia estreitas; preocupadas em confirmar de tendências, excessiva preocupação com motivações ocultas e significados especiais. Evidência de hipersensibilidade: tendência a brigar e se ofender com facilidade, fazer tempestade em copo d´água, espirito litigioso, incapacidade para se moderar. Afeto limitado: natureza aparentemente fria, impassível, orgulho por ser “racional” e impassível, incapacidade de rir de si mesmo, aparente ausência de sentimentos passivos, não-sentimental, ausência de esquizofrenia. Esquizofrenia Paranóide Modalidade aguda da paranóia. Delírios Alucinações Desorganização do pensamento Agressividade emocional Acentuadas perturbações efetivas do agente. Surge normalmente após 30 anos de idade. Tendências agressivas reprimidas podem “explodir”. Irritáveis Descontentes Ressentidos Desconfiados Alguns manifestam atitude inabordável, agressiva e hostil. Retraimento amargo. Surtos de raiva. As vezes pode ocorrer ato homicida devido ao delírio persecutório. Sintomas psíquicos de 1ª ordem, descritos por Kurt Schneider: Sonorização do pensamento Audição de vozes Vivencias de influência corporal Roubo do pensamento. Divulgação do pensamento Percepção delirante de que tudo aparece feito ou imposto pelos outros(sentimentos, tendências e vontade) Quadro tende a piorar com o tempo. Alguns sintomas esquizofrênicos representam uma anulação das diferenciações adquiridas ao longo do desenvolvimento mental(primitivização): fantasias de destruição do mundo, despersonalização, delírios de grandeza, maneira arcaicas de pensar e falar, sintomas hebefrênicos e alguns sintomas catatônicos. O outro quadro possui uma maior possibilidade de recuperação: alucinações, delírios e maior parte dos comportamentos peculiares dos esquizofrênicos. Modalidade delinquencial: fanatismo ideológico e político. Periculosidade do psicopático inteligente. Personalidade Psicopática Termo polêmico (segundo Ballone) Divergências na psiquiatria, antropologia, da sociologia, do direito e da filosofia. Kraepelin em 1896: estados patológicos originários e criminosos perversos. Para Bela Szekely: instabilidade mental patológica sem transtornos manifestos e principalmente sem prejuízo das funções intelectuais. Atualmente a personalidade psicopática tem sido definida como: ausência de sentimentos afetuosos, amoralidade, impulsividade, falta de adaptação social e incorrigibilidade. Critério para diagnostico elaborado por Cleckley, Hare, Hart e Harpur: Problemas de conduta na infância. Inexistência de alucinações e delirios. Ausência de manifestações neuróticas. Impulsividade e ausência de auto-controle. Irresponsabilidade. Encanto superficial, notável inteligência e loquacidade. Egocentrismo patológico, auto-valorização e arrogância. Incapacidade de amar. Grande pobreza de reações afetivas básicas. Vida sexual impessoal, trivial e pouco integrada. Falta de sentimentos de culpa e de vergonha. Indigno de confiança, falta de empatia nas relações pessoais. Manipulação do outro com recursos enganosos. Mentiras e insinceridade. Perda específica da intuição(??) Incapacidade para seguir qualquer plano de vida. Conduta anti-social aparentemente sem nenhum arrependimento. Ameaças de suicídio raramente cumpridas. Falta de capacidade para aprender com a experiência vivida. Vários estudos mostram que no psicopata/sociopata está presente: Grave patologia do superego Síndrome do narcisismo maligno Propensão para práticas anti-sociais Exaltações egosintônicas Sadismo Tendências automutiladoras ou suicidas Sintomas da personalidade psicopática segundo Ballone: Encanto superficial e manipulação como meio de sobrevivência pessoal. Mentiras sistemáticas e comportamento fantasioso. Ausência de sentimentos afetusos. Amoralidade. Impulsividade Incorrigibilidade Falta de adaptação na família, na escola e nas agremiações sociais. Alguns autores não veem como sinônimas as noções de personalidade anti-social e personalidade psicopática. Para esses autores a personalidade antisocial é menos dissimulada e teatral que a psicopática. Os anti-sociais costumam ser mais impetuosos, contestam com mais franqueza as normais sociais. São mais explícitos e não dissimulam tanto sua índole contraventora. Estão mais associadas aos fatores de criminalidade que os psicopatas. Segundo Renato Sabbatini, 25% dos prisioneiros e entre 1 a 4% da população possuem sintomas de sociopatia. A maioria das pessoas com traços de sociopatia não realizam comportamentos delituosos, sendo perfeitamente capazes de controlarem o distúrbio, dentro dos limites da tolerabilidade social. “A personalidade anti-social manifesta-se geralmente já na infância ou adolescência” (Solomon e Patch), onde são frequentes os problemas familiares (Telford e Sawrey). “Quando esses indivíduos ingressam na vida adulta os sintomas persistem, manifestando-se através de: desavenças matrimoniais, reincidência delituosa, promiscuidade sexual, vadiagem, isolamento social, mentiras patológicas, atividades laborais desonestas e, no caso das mulheres, não raro enveredam para a prostituição e o contágio de doenças venéreas.”