Alteração Postural em Escolares do Colégio Classe A em Porto Velho-RO Jorge Dias de Castro Junior1 [email protected] Diogo Luiz de Almeida² Pós-graduação em Traumato-ortopedia com ênfase em terapia manual – Faculdade Ávila Resumo Os hábitos posturais de escolares devem ser observados, para que os mesmos não sofram conseqüências adversas e dolorosas em seu desenvolvimento, principalmente na vida adulta. O sustentáculo da estrutura humana é a coluna vertebral e doenças crônicas podem ocorrer por causa de desvios posturais na idade escolar por ser esta a fase da vida quando o crescimento ocorre com intensidade maior. Desvios como escoliose, hipercifose e hiperlordose são bastante comuns em estudantes com hábitos posturais errôneos, principalmente se houver histórico de problemas emocionais e/ou hereditários. O presente artigo, embasado por uma breve revisão de literatura, apresenta um estudo realizado com 37 escolares de ambos os sexos, com faixa etária dos 9 aos 11anos, estudantes do ensino fundamental de uma escola privada em Porto Velho-RO, com objetivo de verificar alguns hábitos posturais dos mesmos e a prevalência dos principais desvios posturais existentes. A análise dos dados foi realizada pelo método quantitativo e os resultados apresentados com a utilização de gráficos. Foi possível verificar que 73% da amostra apresentou algum tipo de desvio postural na coluna vertebral, sendo hiperlordose (52%), escoliose (29%) e hipercifose (19 %). Palavras-Chave: Desvios Posturais, Coluna Vertebral, Hábitos Posturais em Escolares. 1. Introdução A coluna vertebral é constituída por 33-34 vértebras e discos vertebrais. As vértebras classificam-se em 7 vértebras cervicais, 12 vértebras torácicas, 5 vértebras lombares, 5 vértebras sacrais e 4 a 5 vértebras coccígeas, formando um estojo ósseo protetor ao longo do qual passam a medula e as raízes dos nervos espinhais que dão ao esqueleto axial tanto estabilidade como flexibilidade (DANGELO & FATTINI, 2003; NETTER, 2011). A estrutura da coluna vertebral é mantida por ligamentos que percorrem seu comprimento (ligamento longitudinal, ligamento longitudinal posterior, ligamentos amarelos, ligamentos interespinhais e ligamento supra-espinhal) transmitindo a força necessária para estruturas de tecido conjuntivo, costelas e músculo. Desta forma, a coluna vertebral protege a medula e os nervos espinhais, sustenta o tronco, mantém o controle postural, amortece impactos, sustenta o peso do corpo e dá equilíbrio aos movimentos (ADAMNS et al., 1994; WATKINS, 2000). Hábitos posturais incorretos podem incorrer em desequilíbrios na estrutura da coluna vertebral, prejudicando o estilo de vida do ser humano. Por sua vez, a postura correta preservará as funções da coluna vertebral. A postura ideal é aquela que oferece o mínimo de estresse a cada articulação, proporcionando assim, um alinhamento corporal que não afetará o desempenho biomecânico e fisiológico do indivíduo (MOURA et al., 2009; SANTOS et al., 2001). Diversas adaptações do corpo humano durante a evolução do homem permitiu-lhe a adoção da postura bípede, facilitando a execução de suas habilidades para trabalhos mais específicos. No entanto, tal adoção postural mostra-se frágil e sujeita a alterações com muita facilidade. Uma 1 Pós-graduação em Traumato-Ortopedia com Ênfase em Terapias Manuais ² Fisioterapeuta, especialista em Traumato-Ortopedia, professor do Curso de Fisioterapiada FIMCA. 2 simples alteração da postura normal em que haja desequilíbrio de qualquer estrutura do corpo causa uma combinação de fatores que levam desde a consequências de desconforto até imobilidade patológica (NASCIMENTO, 2005). Na posição em pé, estática, mantida por muito tempo, pode-se observar que o indivíduo faz uma alternância na distribuição dos pesos entre os pés para diminuir a fadiga que causa nos membros inferiores. Entretanto, se permanecermos sentados durante muito tempo, os músculos modificam seu estado de tensão e a posição geral da coluna vertebral é modificada, tornando difícil resistir que as costas se curvem, necessitando de um esforço consciente, voluntário e de contração para fornecer estabilidade a partir da qual se organizem os movimentos nesta postura (MERCÚRIO, 1997; CARVALHO, 2002). No entanto, faz-se fundamental para saúde do homem, manter a postura correta, caso contrário a musculatura deixaria de fazer o que lhe cabe como suporte do peso de boa parte do corpo, sobrecarregando a coluna, que então adquire prejudiciais desvios (OLIVEIRA, 1989). Na infância e adolescência a postura encontra-se em processo de desenvolvimento, sendo neste período que a adoção de uma postura incorreta poderá ter repercussão negativa no futuro. Posturas inadequadas adotadas por crianças, em casa e na escola, levam a um desequilíbrio na musculatura do corpo, produzindo alterações posturais (CALVETE, 2004). Tendo em vista que no período escolar a velocidade do desenvolvimento corporal é grande, diversos fatores podem desencadear alterações no sistema musculoesquelético, especialmente na coluna vertebral, dentre as alterações podem ser dadas como exemplo as deformidades como: escolioses, hipercifose e hiperlordose (ALMEIDA, 2006). O presente estudo objetivou analisar as alterações posturais decorrentes de hábitos posturais incorretos em crianças e adolescente em idade escolar. Em 37 estudantes do ensino fundamental do colégio Classe A em Porto Velho-RO com idade entre 9 e 11 anos, foram verificados hábitos relacionados com o peso e condução das mochilas e posição ao sentar e a relação de tais hábitos com os desvios: escoliose, hipercifose e hiperlordose. Segundo Braccialli e Vilarta (2000) os fatores que provocam desordens na saúde postural, principalmente em adolescentes em idade escolar são: O estirão de crescimento, o levantamento de peso excessivo, modelos inadequados de mochilas, má distribuição das disciplinas na grade horária e o sedentarismo. Todos os padrões de posturas assumidos na infância formam o padrão de postura do adulto e se tornam enraizados. Por isso, é na infância que se deve promover a correção de vícios posturais, fazendo-se necessário que haja uma maior preocupação com a avaliação postural dentro do âmbito escolar, considerando ainda que a postura passou a ser vista como uma atitude de características complexas, que implicam inúmeros fatores anatomo-funcionais, psico-emotivos e socioambientais (KNOPLICH, 1958). Nesse contexto, justifica-se a relevância de estudos dos hábitos posturais de alunos, dentro e fora da escola, a fim de informá-los sobre a importância da boa postura durante as atividades diárias e orientá-los de forma preventiva através de palestras sobre a estrutura da coluna vertebral e suas principais alterações. Para embasar o presente estudo, valeu-se de uma breve revisão de literatura que aborda fatores e estudos que relacionam os problemas posturais mais comuns em escolares. 2. Revisão de literatura Kisner & Colby (1998) descrevem que a hiperlordose, problema comum em escolares, caracteriza-se por um aumento no ângulo lombossacro, acompanhado de um aumento na inclinação pélvica anterior e flexão do quadril. Este desvio é visto freqüentemente acompanhado da cifose torácica. Os músculos da região lombar são encurtados e os abdominais alongados. Quando essa posição é assumida habitualmente, um peso excessivo é lançado sobre as margens posteriores dos corpos das vértebras lombares e há uma forte tendência ao desenvolvimento de 3 escápulas abduzidas em compensação ao desvio para trás do peso corporal. Ao transportar peso, o escolar deve evitar sobrepeso e condução inapropriada. Deve-se, sempre que possível, utilizar carrinhos que o mesmo possa empurrar (uma vez que arrastar poderá provocar hiperlordose). Conforme Nissinen et al. (2000) a assimetria do corpo de adolescentes pode ser confundida com a expressão clinica da escoliose, mas, a hipercifose é o comprometimento neles evidenciado com maior frequência em adolescentes. Os escolares são principalmente afetados pela sobrecarga de mochila. Carregar peso excessivo é prejudicial para o esqueleto em pleno crescimento do adolescente, provocando hiperlordose, hipercifose ou escoliose. A musculatura que sustenta a coluna suporta em média 10% do peso corporal, passando desta faixa de peso as conseqüências certamente sobrevirão. Watkins (2000) observa que a hipercifose é caracterizada como uma deformidade antiestética e anti-funcional devido a um aumento no ângulo da cifose dorsal fisiológica, aparecendo geralmente, como consequência do aumento da lordose lombar com a finalidade de manter o equilíbrio da coluna vertebral devido ao deslocamento do seu centro de gravidade. Nos jovens o dorso curvo é sempre acompanhado e hiperlordose lombar e encurtamento importante da musculatura isquiotibial. Os fatores que interferem na postura como: fraqueza muscular e o baixo nível de reserva, traumas de um dos componentes do aparelho locomotor, hábitos de utilizar determinados objetos como bolsas relativamente pesadas e hábitos posturais, resultam frequentemente em encurtamentos ou alongamentos musculares e diminuição da força muscular, e a alteração postural torna-se natural para a criança ou adolescente em idade escolar. Trebastone (2001) afirma que a cifose é também bastante comum em escolares, sendo que o dorso curvo é considerado, para alguns autores, o primeiro estágio do problema. A cifose é caracterizada por um posicionamento cifótico dorsal, com pequena compensação cervical, mas de notável hiperlordose lombar. Cabe ressaltar que a escoliose idiopática é o tipo estrutural de escoliose mais importante. Inicia-se na infância ou na adolescência e tende a aumentar progressivamente até cessar o crescimento ósseo. Embora, às vezes provoque deformidades severas e feias, especialmente quando a região torácica é afetada. Back & Lima (2002) realizaram um estudo em 44 alunos de 1ª a 4ª do ensino de uma escola particular em Tubarão-SC, com a finalidade de analisar a prevalência de alterações posturais nos escolares, com relação ao gênero e faixa etária dos mesmos. Com auxílio de imagens fotográficas e de um software gráfico, os autores avaliaram os segmentos da cabeça, ombros, coluna, tronco, tórax, abdômen, quadril, joelhos e pés, observando que idependentemente do gênero, apresentaram uma maior incidência de inclinação de tronco para direita. No plano sagital, as meninas apresentaram uma prevalência maior de hiperlordose lombar (34,48%), e os meninos de protusão abdominal (40%). Por fim, os autores verificaram que as alterações posturais apresentaram-se em todas as idades, não havendo diferença significativa entre gênero. Resende & Sanches (2007) avaliaram os vícios posturais em 2.413 escolares da 5ª a 8ª série do Ensino Fundamental matriculados na Rede Estadual de Ensino em Maringá-PR. Os autores observaram que os desvios posturais são influenciados principalmente pela má-postura, erros na condução de mochila com sobrecarga, crescimento físico demasiado, pouco estímulo em sala de aula e falta de conhecimento de como utilizar o corpo para sentar-se e deitar-se. Conforme os autores, entre os principais fatores que podem comprometer à saúde da coluna vertebral de escolares, está na forma que os mesmos conduzem seu material escolar. Pois, em geral, a assimetria do ombro está ligada à sustentação de mochilas escolares de forma incorreta. A maneira que o sujeito transporta sua carga pode estar relacionada ao tamanho, a forma e ao peso do material escolar, o tempo transportado, o clima, terreno e as condições físicas do sujeito. Pela análise nos planos frontal em visão anterior e posterior e no plano sagital direito e esquerdo, de forma estática, posicionados atrás do simetógrafo, Rego & Scartoni (2008) observaram as alterações posturais da coluna vertebral em 47 alunos de ambos os sexos, da 5ª e da 6ª séries do Ensino Fundamental em Teresina-PI. A prevalência de desconforto mais relatado foi de dorsalgia na região da coluna vertebral pela media de tempo que ficam sentados e pelo peso excessivo das 4 mochilas. Ao sentar-se com inclinação anterior de tronco, por exemplo, o estudante forçará o disco, elevando a atividade mioelétrica, uma vez que a curvatura lombar se retifica e os músculos posteriores da coluna se contraem para agir contra o efeito de gravidade no tronco. Minghelli et al. (2009) verificaram a prevalência de alterações posturais em crianças e adolescentes em escolas do ensino básico no Algarve, por meio da avaliação postural e do teste de Adams. Conforme os pesquisadores, 80,5% dos indivíduos apresentam um ombro mais elevado, 59,5% apresentam assimetria do triângulo de Tales, 47,6% manifestam hiperlordose lombar e 62,9% revelam desvios laterais. A presença de gibosidade foi verificada em 67,8% dos alunos e um reduzido número de alunos apresentou alterações ao nível dos membros inferiores. Um dos fatores mais atenuantes a tais problemas se deu pela forma de sentar-se. Aconselha-se que estudantes escrevam em pranchetas que não arqueiam tanto a coluna. Em casa devem estudar em mesas mais altas e cadeiras mais adequadas. Na escola, quando for possível, procurar sentar-se em bancos mais adequados para escrever. Silva et al. (2011) analisaram a postura de 39 escolares do ensino fundamental (1º e 5º anos) com faixa etária dos 6 aos 12 anos em uma Escola da Rede municipal de Cruzeiro-SP, com a finalidade de identificar as diferenças posturais relacionadas com o passar dos anos no ambiente escolar. Os pesquisadores puderam notar a prevalência de escoliose em 29,4% dos alunos do 1º ano e em 59% dos alunos do 5º ano. A hiperlordose cervical foi prevalente em 11,8% dos alunos do 1º ano e em 31,8% dos alunos do 5º ano. A hipercifose torácica foi diagnosticada em 23,5% dos alunos do 1º ano e em 31,8% dos alunos do 5º ano. A alteração postural de maior prevalência foi a hiperlordose lombar, em 64,7% dos alunos do 1º ano e em 81,8% dos alunos do 5º ano. Guadagnin e Matheus (2012) analisaram os desvios posturais em 195 escolares com idade entre 10 e 15 anos em Santa Maria-RS. Entre os principais resultados apresentados pelos pesquisadores, observou-se que a hiperlordose cervical foi o menos prevalente (11,28%). Já a hipercifose torácica ocorreu em 67,18% dos escolares, a hiperlordose lombar em 64,10% e a escoliose em 64,62% dos sujeitos avaliados. Menos de 20% dos sujeitos de cada idade apresentaram a coluna alinhada. Os autores relataram ainda que grande parte das crianças e adolescentes avaliados, além de apresentar desvios posturais de coluna vertebral, não revelou apenas um desvio, mas sim toda uma postura de coluna inadequada, o que compromete mais ainda a funcionalidade do corpo. 3. Materiais e métodos O presente estudo foi realizado no Colégio Classe A, no município de Porto Velho- RO, no período de setembro de 2010. A população selecionada foi composta por escolares de ambos os sexos na faixa etária de 9 a 11 anos de idade, matriculados nos 5° ano do ensino fundamental do colégio Classe A em Porto Velho-RO. A amostra foi constituída daqueles que dentro da população apresentaram-se em todas as etapas e que entregaram o termo de consentimento livre e esclarecido assinados pelos pais ou responsáveis. Foram excluídos do estudo os escolares que apresentaram alguma deficiência física que impossibilitasse o exame, os que não desejaram participar e os que não trouxeram o consentimento livre e esclarecido assinado. Desse modo foram selecionados 69 alunos dos quais 37 deles preencheram os critérios de inclusão e trouxeram os termos de consentimento livre e esclarecido assinados pelos responsáveis. Dos 37 alunos componentes da amostra, 21 eram do sexo feminino, e 16 do sexo masculino. A escolha do ensino fundamental foi baseada no principio de que os desvios posturais acometem mais crianças e adolescentes durante o período escolar. Primeiramente, foi encaminhado um oficio a instituição Centro de Ensino Classe A (APÊNDICE E), solicitando uma prévia autorização dos alunos para participar do estudo. O primeiro momento da pesquisa refere-se à seleção da amostra, composta por alunos do Colégio Classe A. Para esclarecimento dos objetivos da pesquisa, foram realizadas duas palestras educativas, uma 5 em cada turma para todos os alunos do 5º ano, ministrada pelo pesquisador, onde foi abordada a importância de uma boa postura, estruturas da coluna, patologias mais frequentes, consequência dos hábitos posturais. Foram utilizadas figuras ilustrativas sobre posturas adequadas durante as atividades de vida diária e escolar, sempre ressaltando a importância de uma intervenção precoce. As informações foram transmitidas de forma clara e objetiva. Ao término das palestras, foram distribuídos folders explicativos que reforçaram o aprendizado sobre as posturas que devem ser adotadas nas atividades diárias. Foi também, entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), com informações detalhadas sobre a pesquisa, para que os alunos pudessem levar para casa e trazer assinados pelos pais ou responsáveis. Para coleta de dados foi utilizado um Formulário de Registros dos hábitos posturais dos alunos elaborados com base em questionários já existentes na literatura (APENDICE A), com as seguintes variáveis: idade, sexo, série, data de nascimento, peso da criança, formas de carregar a mochila, a dominância (qual a mão que mais utiliza para escrever) do escolar, postura (posição) para sentar em sala de aula em casa, prática de atividade física. O Formulário para Avaliação Postural também elaborado para presente pesquisa (APENDICE B) teve como objetivo, verificar a prevalência das alterações posturais nos alunos, através dos critérios propostos por Kendall, McCreary. Tais critérios possibilitam determinar as alterações posturais do tipo hipercifose, hiperlordose. Durante a avaliação foi aplicado o Teste de Adams para verificar a existência de gibosidade confirmando a presença de escoliose. Foi utilizada uma balança marca Welmy mod. 110 (peso Max. 150 kg), calibrada para verificar o peso e altura dos escolares e o peso das mochilas e uma fita métrica de 1,5 metros, para medir a distância do aluno até o posicionamento da câmera. Valeu-se ainda de Posturógrafo para detectar as assimetrias e os possíveis desvios posturais, marcadores de isopor para marcação dos segmentos corporais, câmera digital (Olympus Câmera Digital Olympus X-935 12 megapixels), para registrar as imagens das posturas dos escolares, e as fotos obtidas foram analisados no computador. Por fim, foi utilizado um Formulário de Controle de Peso das Mochilas (APÊNDICE C) para anotar o peso das mochilas dos alunos. Foi também entregue aos alunos o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) apresentando informações sobre a pesquisa, seu objetivo e sua importância. A coleta de dados foi realizada em duas etapas. Para a primeira etapa, os alunos foram encaminhados de dois em dois para a sala de avaliação. Foi separado grupos de meninas e meninos para evitar possíveis constrangimentos. Assim sendo, foram colhidos os dados pessoais e aplicado o questionário, houve acompanhamento por parte dos pesquisadores no decorrer da aplicação do questionário esclarecendo as prováveis dúvidas. Na segunda etapa foi realizada uma avaliação postural em uma sala com iluminação e metragens adequadas disponibilizada pela escola para que os alunos pudessem ser avaliados individualmente e fotografados. Os alunos foram posicionados no posturógrafo com vestimenta adequada para a avaliação como short ou calça colada ao corpo e top. Nessa avaliação os alunos foram orientados a ficar na posição anatômica, localização por palpação e marcação com fita e marcadores de isopor na vista anterior, na vista posterior e vista lateral com os mesmos pontos. Para o registro fotográfico, os alunos foram orientados a permanecer na postura em pé, com os braços ao longo do corpo e as palmas da mão viradas para frente e os dois pés paralelos. Os alunos foram fotografados de frente, costas e de perfil em frente ao posturógrafo. O registro da foto foi feito a 2 m de distância da parede onde o posturógrafo foi fixado e a uma altura de 1,48 m do solo. Depois foi aplicado o teste de Adams com o adolescente flexionando anteriormente a coluna, com as mãos espalmadas e juntas para observar a presença de gibosidade. Após a avaliação postural, foi verificado a altura e o peso dos alunos e das mochilas. Após a avaliação foram prestados alguns esclarecimentos sobre a melhor forma de carregar a mochila e evitar carregar peso desnecessário. Para melhor relação dos dados, as fotos foram avaliadas no computador por meio da observação do nível de assimetrias, desvios e desníveis posturais em todos aqueles que participaram do 6 estudo. Para os resultados foram utilizados os dados coletados a partir das medidas das alturas e distâncias dos segmentos corporais, e o Teste de Adams. Após a coleta de dados, todos os pais foram informados por escrito sobre as alterações posturais em seus filhos, detectada no estudo. Dada a definição da postura padrão para a coluna vertebral, qualquer desvio desta foi considerado como alteração postural. Além disso, os pais receberam orientação por escrito para procurarem o serviço de saúde do município para uma avaliação clínica mais detalhada de seu (sua) filho (a). 4. Resultados e discussão Os resultados dos dados coletados foram tabulados numa planilha de dados eletrônicos. A análise dos dados foi realizada de modo quantitativo com a utilização de gráfico. A associação entre sobrecarga da mochila e presença de desvios posturais foi testada com o Teste de QuiQuadrado 2x2. Os resultados das médias das variáveis analisadas obtidos em campo de percentuais, através do programa Microsoft Office Excel. A significância do estudo foi estipulada em 5% (P< 0,05). Os dados foram analisados no programa do SPSS 15.0. Foram convidado a participar do estudo 69 alunos, com idade entre 9 e 11 anos, matriculados no ensino fundamnetal do Colégio Classe A, do município de Porto Velho – RO. Do total, 37 correspondendo a 54%, aceitaram e receberam a autorização dos pais para serem submetidos à avaliação postural. A partir da análise dos dados coletados por meio do questionário, da avaliação postural e da pesagem das mochilas dos alunos, os resultados obtidos serão descrito abaixo. A amostra foi composta de 37 alunos. Sendo 21 adolescentes do sexo feminino e 16 do sexo masculino, com uma média de peso corporal de 39,8, desvio padrão (8,3) kg, média da altura de 1,45, desvio padrão (0,7), média de idade 10,08 desvio padrão (0,4) anos distribuídos por faixa etária, conforme demonstra o Gráfico 01. A faixa etária predominante foi de 10 anos (81%) para ambos os sexos. GRÁFICO 01: Idade dos Escolares. Fonte: Dados obtidos pelos autores. Foi escolhida essa faixa etária justamente por coincidir com o período do estirão do crescimento, pois Braccialli e Vilarta (2000) relatam que o período do estirão de crescimento parece estar correlacionado com o desenvolvimento e acentuação de desvios posturais. No entanto, na adolescência a evolução silenciosa dos desvios posturais pode levar a deformidades, que poderão ser evitadas com a detecção precoce. Em virtude do estirão de crescimento rápido, indivíduos, especialmente homens, podem parecer 7 desajeitados, e maus hábitos e alterações posturais tendem a ocorrer com mais freqüência nesta idade (KNOPLICH, 1958). Conforme o gráfico 02, o qual apresenta dados sobre o peso da mochila dos escolares, a média do peso da mochila 4,05 desvio padrão (1,5) kg, sendo que dos 37 avaliados, a maior incidência foi de alunos que transportam peso entre 2,0 a 3,9 Kg, sendo 57% da amostra, seguidos por 38% entre 4,0 a 5,9 Kg, e apenas 5% carregam a mochila entre 7,0 a 8,9 Kg. GRÁFICO 02: Peso da mochila dos escolares Fonte: Dados obtidos pelos os autores. A condução do material escolar é um dos grandes problemas enfrentados pelos alunos que transportam diariamente uma carga de 4,33 Kg até 7,60 Kg, equivalente ao material escolar em suas mochilas (BRACCIALLI & VILARTA, 2000). Os mesmos autores sugeriram que as crianças deveriam transportar, no máximo, cargas que fossem iguais à força dos grupos musculares, de acordo com a idade e com o tipo de equipamento que utilizam para o transporte de carga. Em relação, ao peso do material escolar, estima-se que uma criança ou adolescente possa carregar, desde que de forma correta, até 10% do seu peso corporal. Baseado nisto procurou-se evidenciar no gráfico 03, quantos alunos mantiveram-se abaixo do limite e acima do limite máximo aceitável de peso na condução de seu material escolar. GRÁFICO 03: Análise percentual dos alunos que transportam até 10% do peso corporal Fonte: Dados obtidos pelos os autores. 8 No presente estudo, pode-se verificar que dos 37 alunos avaliados 23 deles carregam a mochila com peso abaixo de 10% e apenas 14 estudantes transportam o material escolar acima de 10%. Levando-se em consideração que todos os participantes pesavam mais de 29 kg, passar aos 10% o peso das mochilas poderá trazer grandes prejuízos à coluna vertebral. Para Nissinen et al. (2000), carregar muito peso é um perigo para o esqueleto em pleno crescimento, pois desvios posturais como, hiperlordose, hipercifose ou escoliose são o que os estudantes podem ganhar com isso. A musculatura que sustenta a coluna aguenta até uma determinada carga (em geral 10% do peso corporal), se passar disso, as conseqüências serão: cansaço físico, comprometimento da postura e lesões. Resende & Sanches (2007) verificaram que a maioria dos problemas relacionados à saúde da coluna vertebral de jovens em crescimento se dá ainda pela maneira que os estudantes carregam a mochila. Procurou-se então, verificar a maneira com que os participantes da pesquisa conduziam suas mochilas. Os resultados foram apresentados no gráfico a seguir (Gráfico 4): GRAFICO 04: Transporte do material escolar Fonte: Dados obtidos pelos os autores Observando os resultados apresentado no gráfico 04, sobre o questionário da maneira de carregar o material escolar, 23 (62 %), dos adolescentes, relataram que carregam seus materiais em mochila com alças para dois ombros, 7 adolescentes (19%) questionados, dizem que carregam em mochila com rodinhas, 05 deles (14%), dizem que carregam os materiais em mochila com alça para apenas uns dos ombros e 02 deles (5%), levam em bolsa tiracolo. Sendo que dos alunos que carregam a mochila com peso acima de 10%, 7 alunos (50%) carregam a mochila lateralmente ao corpo. Em relação ao modo de carregar a mochila escolar, pode-se afirmar que a escoliose e a hiperlordose estão associadas ao hábito de utilizar a mochila lateralmente ao corpo, devido ao aumento da sobrecarga transportada pelos alunos O transporte de objetos pesados deverá ser evitado ao máximo, prevenindo sempre uma sobrecarga. Como alternativa podem-se empregar carrinhos, sendo preferível empurrá-los a arrastá-los, já que o arrastar provoca uma hiperlordose a qual se acrescenta um componente rotatório pelo fato de se utilizar uma das mãos. Também quanto à utilização de sacolas ou bolsas de mão será recomendada sua substituição por mochilas ou pastas (KISNER & COLBY, 1998). Foi também verificado a posição dos escolares ao sentar. Fato imprescindível em uma análise que tem como finalidade a orientação devida. Conforme verificaram Resende & Sanches (2007) a falta de conhecimento sobre a maneira correta de sentar-se é um dos fatores que propiciam a obtenção de hábitos posturais irregulares por estudantes, provocando desvios na coluna. Os 9 resultados a esta questão foram devidamente expostos no gráfico 5: GRÁFICO 05: Posição ao sentar-se Fonte: Dados obtidos pelos os autores. De acordo com o gráfico 05, dos 37 alunos avaliados, 24% levam o tronco para frente, 11% apóia as costas com pernas cruzadas, 51% apóia as costas na carteira, com os pés no chão, 11% apóia as com os pés na carteira da frente, e apenas 3% senta sobre os pés. Rego & Scartoni (2008) observam que o ato de sentar com inclinação anterior de tronco faz com que a pressão no disco e a atividades mioelétrica aumentem, pois a curvatura lombar se retifica e os músculos posteriores da coluna se contraem para agir contra o efeito de gravidade no tronco Para Minghelli et al. (2009), os estudantes permanecem sentados arqueando o corpo, o autor sugere que os estudantes que apresentam problemas de coluna (escoliose, cifose e problemas de postura) devem procurar escrever em pranchetas que não arqueiam tanto a coluna. Em casa devem estudar em mesas mais altas e cadeiras mais adequadas. Na escola, quando for possível, procurar sentar-se em bancos mais adequados para escrever. A partir da análise dos dados coletados nesta pesquisa, o gráfico 06, mostra as principais alterações da coluna vertebral da amostra pesquisada: GRÁFICO 06: Principais Alterações Posturais Fonte: Dados obtidos pelos os autores. 10 Dos 37 alunos avaliados, 27 (73%) alunos apresentaram alguma alteração postural, sendo que (52%) a hiperlordose lombar é a mais prevalente, seguida de escoliose (22.5%) e apenas (19%) apresentavam hipercifose torácica. O mesmo, também, foi observado em um estudo realizado por Silva et al. (2011) em escolares de Cruzeiro-SP, onde a alteração postural de maior prevalência também foi a hiperlordose lombar (64,7% da amostra). No entanto, a pesquisa de Guadagnin & Matheus (2012) o problema mais prevalente foi a hipercifose torácica (67,18% da amostra). Os dados obtidos no teste de Adams foram negativos para 78% dos adolescentes, e positivo para 29% dos mesmos. Tabela 01: Teste de Adams com relação à presença de gibosidade. Resulta do Teste Teste Adams positivo Teste de Adams Negativo Distribuição dos alunos Total Nº total 8 % 29 29 78 Fonte: Dados obtidos pelos os autores O presente estudo evidenciou que existe sim correlação entre os hábitos errôneos de estudantes (principalmente na condução do material escolar e postura ao sentar), com hipercifose, escoliose e principalmente hiperlordose. No entanto, devido à baixa prevalência de hipercifose, foi possível evidenciar que tais hábitos não tiveram associação significativa ao problema. 5 Conclusão O desenvolvimento desta pesquisa possibilitou a análise dos desvios posturais das crianças e adolescentes, estudantes do Colégio Classe A em Porto Velho-RO, correlacionando-os com os hábitos posturais, permitindo concluir que dos 37 escolares investigados, 27 (73%) apresentam algum tipo de desvio postural na coluna vertebral. A investigação possibilitou conhecer a prevalência dos desvios mais freqüentes, sendo que a prevalência especifica de cada desvio da coluna encontramos a hiperlordose (52%), escoliose (29%) e hipercifose (19 %). Foi possível demonstrar que a carga imposta aos escolares através do material escolar e na posição ao sentar influem significativamente em sua saúde postural, sendo a hiperlordose a principal associação, diferentemente da hipercifose e da escoliose. O resultado da pesquisa mostra que as alterações posturais como hipercifose, hiperlordose e escoliose são bastante comuns em indivíduos nessa faixa etária devido aos maus hábitos posturais. Com relação às escolioses que foram encontradas com base no teste de Adams positivo, observamos que dos 8 alunos com suspeita de escoliose, 29% apresentaram o teste positivo. Quanto aos hábitos posturais, pode-se concluir que ambos os sexos possuem hábitos posturais errôneos nas atividades de vida diária e escolares. Deve ser dada a atenção especial à saúde do escolar, já que as doenças da coluna vertebral são freqüentes nessa população, por tanto é de fundamental importância uma boa educação e a conscientização postural precoce, visto que quando as posturas defeituosas estão no inicio são suscetíveis de correção, sendo a infância o período, mas adequado para iniciar o trabalho educativo com a finalidade de potencializar as posturas adequadas. 11 Pode-se então, ressaltar a importância de avaliações posturais preventivas em escolares, com o intuito de identificar precocemente as alterações que mais acomete crianças e adolescente durante este período estudantil. Para evitar o acometimento de tal problemática, bem como prevenir as futuras gerações, sugerese que haja programas de conscientização para os alunos da escola analisada, seus pais e professores, por meio de palestras e campanhas educativas. Neste caso, a adoção de novas medidas como adequação do ambiente escolar, é primordial para a resolução ou minimização dos problemas posturais. Referências ADAMS, J. C.; HAMBLEN, D. L. Manual de ortopedia. 11 ed. São Paulo: Artes Médicas, 1994. ALMEIDA, B.T. Análise do peso corporal em relação ao peso da mochila escolar em uma escola privada do município de Tubarão SC. 2006 Monografia (universidade do Sul de Santa Catarina) BACK, C. M. Z.; LIMA, I. A. X. Fisioterapia na escola: Avaliação Postural. Revista de Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina, UNISUL, 2002. BRACCIALLI, L. M. P.; VILARTA, R. Aspectos a serem considerados na elaboração de programas de prevenção e orientação de problemas posturais. Revista Paulista de Educação Física, v.02, n.14, p. 159-171, jul/dez. 2000. CALVETE, S. Anjos. A Relação entre alteração postural e lesões esportivas em crianças e adolescentes obesos. Motriz, Rio Claro, v.10, n.2, p.67-72, mai./ago.2004. CARVALHO, M. C. T. 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