PROJETO MADEIRA
Volta às origens
Casarão histórico da ferrovia Madeira-Mamoré
será utilizado como escritório de Santo Antônio
texto José Carlos Sá
C
onstruído pela empresa P & T Collin, em
m², do casarão se tem uma das mais belas
março de 1878, para servir de escritó-
vistas do entardecer do rio Madeira. Se-
rio da empresa que pretendia implantar a
gundo a história, nele foram realizadas
Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e resi-
diversas e tensas reuniões para buscar
dência dos dois sócios, o casarão volta a
soluções para um dos maiores desafios de
cumprir seu papel original. A Construtora
engenharia do século XIX, a construção de
Norberto Odebrecht (CNO) alugou o imó-
uma estrada de ferro em plena selva
vel, que está localizado nas proximidades
amazônica. Apesar de não ser tombado
de onde será construída a barragem da
pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Hidrelétrica de Santo Antônio, para insta-
Artístico Nacional (Iphan), o casarão tem
lar seu escritório de apoio às obras.
importância sentimental para a popula-
Foto: José Carlos Sá
Implantado em uma área de 21.477
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Revista FURNAS - Ano XXXIV - Nº 356
357 - Setembro
Outubro 2008
2008
ção de Porto Velho.
FURNAS inova em pesquisa de
PATRIMÔNIO IMOBILIÁRIO
História
A construção faz parte do
texto Bel Tostes
complexo ferroviário e foi sede
A primeira ata notarial de uma propriedade localizada no
de uma empresa boliviana
canteiro de obras da Usina de Santo Antonio é um marco na
Suaréz e Hermanos, exporta-
história de FURNAS. Com ela, a prática de registrar em cartório
dora de borracha; depois in-
- ou dar fé pública a - todo pedaço de terra com indicação de
corporado ao patrimônio do
moradores, benfeitorias e vizinhos para desapropriação de
estado de Mato Grosso, a quem
área se tornou padrão dentro da Empresa e inovou o sistema
a Vila de Santo Antônio per-
de pesquisa imobiliária do Setor Elétrico Brasileiro. Depois do
tencia até a criação do Territó-
levantamento feito para Santo Antônio, as usinas de Simplício
rio do Guaporé, em 1943. A
e Batalha, empreendimentos construídos integralmente por
partir daí não há registros dos
FURNAS, seguiram o mesmo modelo. “Obter o testemunho de
proprietários.
terceiros sobre o trabalho de campo realizado por nossa equipe
Em 1959, quando o enge-
é uma forma de dar transparência ao processo e, por conseguin-
nheiro e jornalista Manuel
te, coerência na hora das indenizações”, afirma Adelson Ferreira
Rodrigues Ferreira visitou Por-
Guimarães, do Departamento de Patrimônio Imobiliário (DPI.E).
to Velho, a convite do gover-
Para a construção de Santo Antônio foram registradas 785 atas
nador do território, o casarão
notariais, em que cada documento corresponde a uma única
era usado como um botequim,
propriedade, com a relação da existência de 932 famílias. No
propriedade de uma mulher,
canteiro de obras, os 35 terrenos que já foram desapropriados
que o autor de “Ferrovia do
tiveram 100% de negociações amigáveis.
Diabo” não anotou o nome.
Mas esse não foi o único fato inédito que o rio Madeira
Há informações de que o
imprimiu nos 51 anos de existência de FURNAS. As 64 reuniões
imóvel foi reformado por volta
participativas feitas com moradores de localidades que serão
de 1980, quando perdeu as ca-
atingidas pelas barragens também foram pioneiras em dois
racterísticas originais. Atual-
aspectos. Primeiro, porque foram realizadas com moradores à
mente, a casa que já foi a sede
jusante do reservatório – geralmente só são feitas com a
do Iate Clube de Porto Velho,
população localizada à montante –, servindo como abertura de
pertence a um empresário do
um canal de diálogo sobre futuros impactos ambientais como
ramo de papelaria, que o alu-
os que atingirão, indiretamente, a localidade de Calama. E,
gou para a CNO. 130 anos de-
segundo, porque em muitas localidades, como a de Mutum-
pois de ter sido erguido, o velho
Paraná, houve mais de um encontro. O objetivo era eliminar
casarão retorna às origens.
qualquer possibilidade de dúvida sobre as mudanças na rotina
dos ribeirinhos com a construção dos projetos no rio Madeira.
As reuniões, além de cumprir seu papel, tiveram mais um efeito
positivo: propiciaram a criação de associação de moradores.
Revista FURNAS - Ano XXXIV - Nº 357 - Outubro 2008
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