COMPARAÇÃO ENTRE MÉTODOS DE QUEBRA DE DORMÊNCIA DE SEMENTES DE Dimorphandra mollis BENTH. SUBMETIDAS A DUAS CONDIÇÕES DE LUMINOSIDADE APÓS ARMAZENAMENTO Eder Marcos da Silva1, Karina Testa1, Laís de Moraes Teixeira1, Karollyna Carvalho Maciel1 e Daniela Pereira Dias2 1 Graduandos em Engenharia Florestal da Universidade Federal de Goiás/Jataí Professora Doutora do Curso de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Goiás/Jataí, Caixa Postal 3, Jataí - Brasil ([email protected]) 2 Data de recebimento: 07/10/2011 - Data de aprovação: 14/11/2011 RESUMO Dimorphandra mollis Benth. é uma espécie florestal comumente encontrada no Cerrado, cujas sementes apresentam dormência tegumentar. O objetivo deste trabalho foi avaliar a germinação de sementes de D. mollis submetidas a diferentes tratamentos de escarificação em dois ambientes luminosos, após período de 3 anos de armazenamento. Os tratamentos testados foram escarificação física (corte no tegumento), química (imersão em ácido sulfúrico) e mecânica (lixamento de toda a semente), em condição ensolarada e sombreada. A escarificação física foi o tratamento que apresentou maior porcentagem de germinação, tanto no ambiente ensolarado quanto no sombreado. As sementes expostas ao ambiente de maior luminosidade apresentaram maior porcentagem de germinação em todos os tratamentos de quebra de dormência testados. O armazenamento não apresenta efeitos negativos na germinação de sementes de D. mollis, porém mais estudos se fazem necessários. PALAVRA-CHAVE: Escarificação, germinação, Leguminosae, luz COMPARISON OF METHODS FOR DORMANCY BREAKING OF Dimorphandra mollis Benth. SEEDS UNDER TWO LIGHT CONDITIONS AFTER STORAGE ABSTRACT Dimorphandra mollis Benth. is a commonly occurring tree species of the Cerrado, whose seeds have dormancy. The objective of the study was to evaluate germination of D. mollis seeds under the effect of storage and of methods for dormancy breaking under two light conditions, after three years of storage. Seeds receives the following pre-germinative treatmants: physical scarification (cutting the seed coat), chemistry scarification (immersion in sulfuric acid) and mechanical scarification (sanding) on sunny and shaded enviroments. Physical scarification showed the highest germinative potential in both environment. Seeds exposed to sunny environment had higher germination on breaking dormancy treatments tested. We suggest that the storage did not have negative effects on potential germinative of D. mollis seeds, but more studies are needed. KEYWORDS: Germination, light, Leguminosae, scarification ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 230 INTRODUÇÃO Dimorphandra mollis Benth. (faveiro ou fava d’anta) é uma espécie florestal pertencente à família Fabaceae com ampla e contínua dispersão por quase todo o Cerrado, apresentando moderada densidade populacional em formações primárias e secundárias (LORENZI, 1992; SILVA JÚNIOR, 2005). Possui importância econômica principalmente por sua casca produzir tanino, utilizado para curtir couro, e por extraírem de seus frutos a rutina, útil na indústria farmacêutica. Além disso, a espécie pode ser utilizada em projetos de paisagismo e recuperação de áreas degradadas (LORENZI, 1992). A produção de sementes viáveis durante todo o ano é grande, no entanto, assim como em sementes de diversas espécies tropicais, as sementes de D. mollis apresentam algum tipo de dormência que impede a germinação, mesmo em condições favoráveis (LORENZI, 1992; PIÑA-RODRIGUES & AGUIAR, 1993). Segundo BRANDÃO (2000), as sementes de D. mollis possuem dormência física, resultante da existência de um tegumento rígido que dificulta a embebição e as trocas gasosas, e consequentemente a germinação das mesmas. Geralmente a superação da dormência de espécies com esta característica é realizada por meio do rompimento da impermeabilidade do tegumento, com métodos que usam superfície abrasiva (escarificação física ou mecânica) ou soluções químicas ou água fervente (escarificação química) (SCALON et al. 2007; SANTOS et al., 2004; OLIVEIRA et al., 2008; FREITAS et al., 2009). Tratamentos de escarificação são eficientes por permitirem a entrada de água na semente, no entanto, em alguns casos, a entrada de gases ou luz é bastante necessária à germinação (METIVIER, 1986), pois a retirada do tegumento determina maior sensibilidade à luz e à temperatura e a remoção de inibidores ou promotores da germinação, influenciando o metabolismo e dormência das sementes (LOPES et al., 2006). Além da luminosidade, o armazenamento pode influenciar a germinação de sementes de D. mollis (SCALON et al. 2007, CHAVES & USBERTI, 2003). Sementes sob armazenamento adequado possuem garantia da conservação da viabilidade, sendo, porém necessário o conhecimento do comportamento das sementes em relação às condições de armazenamento a que são submetidas (CHAVES & USBERTI, 2003). O poder germinativo de D. mollis apresenta redução após diferentes períodos de armazenamento sobre refrigeração (SCALON et al., 2007) e em diferentes graus de umidade (CHAVES & USBERTI, 2003), porém ainda não existe um consenso sobre qual o melhor método de armazenamento, que mantem ou pelo menos possibilita um alto potencial germinativo de sementes de D. molis. Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi avaliar o efeito dos tipos de escarificação e das condições de luminosidade sobre a germinação de sementes de Dimorphandra mollis Benth. após três anos de armazenamento em sacos plástico em temperatura e luminosidade ambiente. METODOLOGIA O estudo foi conduzido no viveiro de mudas da Universidade Federal de Goiás – Campus Jataí, Jataí – GO, localizado a 17º52’53’’ de latitude Sul e 51º42’52’’ de longitude Oeste, com altitude de 696 m. Conforme a classificação climática de Köppen, o clima da região é classificado como Awa, tropical de savana, ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 231 mesotérmico, com chuva no verão e seca no inverno. A precipitação média anual é de 1600 mm, com temperatura média variando de 23 a 26 oC. As sementes de Dimorphandra mollis Benth. foram coletadas em julho de 2008 e armazenadas em sacos plásticos e acondicionadas em temperatura e luminosidade ambiente. O experimento foi iniciado em junho de 2011, onde foram testadas três formas de quebra de dormência por meio da escarificação física (corte do tegumento na extremidade da semente), química (imersão em ácido sulfúrico 35% durante 5 min) e mecânica (lixamento de toda a semente) e, em seguida, as sementes foram semeadas em bandejas de isopor preenchidas com o substrato Trimix. As bandejas contendo as sementes foram expostas a duas condições de luminosidade, ou seja, radiação solar plena (ambiente ensolarado) e sombreado (70% da radiação solar plena). O experimento foi irrigado diariamente e a germinação foi avaliada por 45 dias após a semeadura. Considerou-se germinação o período entre o intumescimento da semente ao alongamento do hipocótilo e liberação dos cotilédones, antes da formação do protófilo. Foram determinadas a porcentagem de germinação e a primeira contagem da germinação. O delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado em esquema fatorial de 3 (tratamentos de escarificação para quebra de dormência) x 2 (tratamentos luminosos) com 5 repetições de 6 sementes. Os dados foram submetidos a análise de variância (ANOVA) e, a diferença entre as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. RESULTADOS E DISCUSSÃO A porcentagem de germinação de Dimorphandra mollis Benth. variou entre os tratamentos e entre as condições de sombreamento (Figura 1). Em ambiente ensolarado, 63% das sementes de D. mollis germinaram quando submetidas ao tratamento de superação da dormência em que o tegumento foi cortado na extremidade da semente. Os tratamentos de quebra de dormência por meio da imersão em ácido sulfúrico e lixamento não apresentaram diferença significativa, com 30% e 27% de germinação ao final do experimento, em ambiente ensolarado. Em condição sombreada, o tratamento de superação da dormência com maior número de sementes germinadas também foi o físico (40%), seguido do mecânico (23%) e do químico (7%). OLIVEIRA et al. (2008) mostraram que entre os métodos de quebra de dormência testados, as sementes que foram escarificadas mecanicamente denotaram maior potencial germinativo. SCALON et al. (2007) mostraram que as sementes tratadas com acetona durante 20 min e incubadas a 25oC ou em casa de vagetação logo após a colheita apresenta maior poder germinativo, ou seja, a escarificação química. Por outro lado, SILVA JÚNIOR (2005) informa que a taxa de germinação varia de 30 a 70% quando as sementes são escarificadas. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 232 Figura 1 – Germinação (em %) de sementes de Dimorphandra mollis Benth. submetidas a tratamentos de superação de dormência (físico, químico e mecânico) após a semeadura em ambiente ensolarado e sombreado. O ambiente luminoso não influenciou no tratamento de quebra de dormência que utilizava a lixa (mecânico), o que não ocorreu nos outros tratamentos de quebra de dormência (físico e químico), onde a redução na luminosidade levou a redução na germinação (Figura 1). FIGLIOLA et al. (2009) indicaram que sementes de D. mollis germinam com ou sem a presença de luz, apresentando 53-60% de germinação quando a umidade do substrato é de pelo menos 60mL. O número total de sementes germinadas de D. mollis após 45 dias de observação nos permite apontar que o tratamento para quebra de dormência mais eficiente foi aquele em que houve corte do tegumento na extremidade da semente, o que chamamos de escarificação física (Figura 2). Este resultado pode ser útil para os viveiristas, por ser um método que apresenta alta percentagem de germinação em um curto período de tempo (Figura 1). Figura 2 – Número total de sementes germinadas de Dimorphandra mollis Benth. (armazenadas por três anos) após 45 dias da semeadura nos diferentes tratamentos para quebra de dormência (físico, químico e mecânico) em ambientes ensolarado (□) e sombreado (■). Cada tratamento era composto por 30 sementes. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 233 O período observado entre a semeadura e a germinação da primeira semente de D. mollis variou entre os ambientes luminosos, porém não houve diferença entre os tratamentos de dormência aplicados em dias ensolarados (Tabela 1). PACHECO et al. (2010) estudaram o efeito da temperatura e do substrato na primeira contagem da germinação de D. mollis (sete dias após a semeadura) e encontraram grande variação na porcentagem da germinação, de 0% em sementes mantidas a 25 oC em vermiculita, e de 90% no mesmo substrato porém mantidas a 30 oC. SANTOS et al. (2004), trabalhando com diferentes tratamentos para quebra de dormência de sementes de Sterculia foetida L. também encontraram grande variação entre os tratamentos na primeira contagem da germinação (0 a 60%), oito dias após a semeadura. Tabela 1 – Período entre a semeadura e a germinação da primeira semente de Dimorphandra mollis Benth. nos diferentes tratamentos para quebra de dormência (físico, químico e mecânico) em ambiente ensolarado e sombreado. Superação de dormência Ensolarado Sombreado Físico 9 dias aA 18 dias aB Químico 9 dias aA 18 dias aB Mecânico 9 dias aA 29 dias bB Médias seguidas por letras minúsculas nas colunas e maiúsculas nas linhas não diferem entre si pelo Teste de Tukey a 5% de probabilidade. Para finalizar, mais estudos se fazem necessários, sobretudo visando testar tratamentos de superação de dormência que diminuam a desuniformidade da germinação de D. mollis, além de promover sua rápida germinação mesmo após longos períodos de armazenamento. CONCLUSÕES O corte do tegumento na extremidade das sementes de D. mollis armazenadas por três anos foi o tratamento de quebra de dormência mais eficiente. Maior taxa de germinação das sementes de D. mollis acontece quando são expostas à condição ensolarada. O armazenamento não apresentou efeitos negativos na germinação em sementes de D. mollis, porém mais estudos se fazem necessários. AGRADECIMENTOS Ao Sr. Gilmar, técnico do viveiro de mudas da UFG/Jataí, pelo seu empenho em auxiliar na condução do experimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRANDÃO, M. Caatinga. In: MENDONÇA, M.P.; LINS, L.V. (Orgs.). Lista vermelha das espécies ameaçadas de extinção da flora de Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundação Biodiversitas e Fundação Zôo-Botânica de Belo Horizonte, 2000. p.75-85. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 234 CHAVES, M. M. F.; USBERTI, R. Previsão da longevidade de sementes de faveiro (Dimorphandra mollis Benth.). Revista Brasileira de Botânica, v.26, n.4, p.557-564, 2003. CREPALDI, I. C.; SANTANA, J. R. F.; LIMA, P. B. Quebra de dormência de sementes de pau-ferro (Caesalpinea Ferrea Ex Tul. – Leguminosae, Caesalpinioideae. Sitientibus, Feira de Santana, n.18 p.19-29, 1998. FERREIRA, R. A.; BOTELHO, S. A.; DAVIDE, A. C.; MALAVASI, M. M. Morfologia de frutos, sementes, plântulas e plantas jovens de Dimorphandra mollis Benth. – faveira (Leguminosae – Caesalpinioideae). Revista Brasileira de Botânica, São Paulo, v.24, n.3, p.303-309, 2001. FIGLIOLA, M. B.; AGUIAR, I. B., SILVA, A. Germinação de sementes de três espécies arbóreas brasileiras. Revista Instituto Florestal, São Paulo, v. 21, n. 1, p. 107-115, 2009. FREITAS, V. L. O.; ALVES, T. H. S.; LOPES, R. M. F.; LEMOS FILHO, J. P. L. Biometria de frutos e sementes e germinação de sementes de Dimorphandra mollis Benth. e Dimorphandra wilsonni Rizz. (Fabaceae - Caesalpinoideae). Scientia Forestalis, Piracicaba, v. 37, n. 81, p. 27-35, 2009. LOPES, J. C.; DIAS, P. C.; MACEDO, C. M. Tratamentos para acelerar a germinação e reduzir a deterioração das sementes de Ormosia nitida Vog. Revista Árvore, v.30, n.2, p.171-177, 2006. LORENZI, H. Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. São Paulo: Plantarum, 1992. v.1. METIVIER, J.R. Dormência e germinção. In: FERRI, M.G. (Coord.). Fisiologia Vegetal, São Paulo: EPU, 1986, v.2, p.343-392. OLIVEIRA, D. A.; NUNES, Y. R. F.; ROCHA, E. A.; BRAGA, R. F.; PIMENTA, M. A. S.; VELOSO, M. D. M. Potencial germinativo de sementes de fava-d’anta (Dimorphandra mollis Benth. – Fabaceae: Mimosoideae) sob diferentes procendências, data de coleta e tratamentos de escarificação. Revista Árvore, Viçosa – MG, v.32, n.6, p.1001-1009, 2008. PACHECO, M. V.; MATTEI, V. L.; MATOS, V. P.; SENA, L. H. M. Germination and vigor of Dimorphandra mollis Benth. Seeds under different temperatures and substrates. Revista Árvore, Viçosa – MG, v. 34, n. 2, 2010. PIÑA-RODRIGUES, F. C. M.; AGUIAR, I. B. Maturação e dispersão de sementes. In: AGUIAR, I. B.; PIÑA-RODRIGUES, F. C. M.; FIGLIOLIA, M. B. (Eds.). Sementes florestais tropicais. Brasília: ABRATES, 1993. p.215-274. SANTOS, T. O.; MORAIS, T. G. O.; MATOS, V. P. Escarificação mecânica em sementes de chichá (Sterculia foetida L.). Revista Árvore, v.28, n.1, p.1-6, 2004. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 235 SCALON, S. P. Q.; SCALON FILHO, H.; MUSSURY, R. M.; MACEDO, M. C.; KISSMANN, C. Potencial germinativo de sementes de Dimorphandra mollis Benth. em armazenamento, tratamentos pré-germinativos e temperatura de incubação. Cerne, Lavras, v. 13, n. 3, p. 321-328, 2007. SILVA JÚNIOR, M. C. 100 árvores do cerrado: guia de campo. Brasília, DF: Rede de Sementes do Cerrado, 2005. 278 p. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, vol.7, N.13; 2011 Pág. 236